vitória Ano VIII
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Nº 09
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Setembro de 2013
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
Ter fé na
vida
pensar
ARTE SACRA
ARQUIVO E MEMÓRIA
O cristão e o exercício na política
Iconografia dos vitrais
Dom Silvestre em visita pastoral
Foto: Aureliano Costa
sumário
diálogos
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PENSAR
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Espiritualidade sempre e a força da Palavra de Deus
O cristão e o exercício na política
MICRONOTÍCIAS Mapa da violência e autismo
ARTE SACRA
Iconografia dos vitrais
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ATUALIDADE
Periferias da existência
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ARQUIVO E MEMÓRIA
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IDEIAS e SUGESTÕES
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Mais caminhos, mais estradas
ACONTECE
Grito dos Excluídos e Nossa Senhora da Vitória
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SAÚDE
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Retorno da coqueluche
REPORTAGEM
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PROJETO
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ESPECIAL
Dom Silvestre em visita pastoral
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Nossa Senhora da Assunção
O perigo da cultura do descarte
PARÓQUIAS
Círculo Bíblico: Sustento da comunidade
ENTREVISTA
Suely e a emoção de ver o Papa
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Qualidade de vida para a terceira idade
Ano VIII – Edição 09 – Setembro/2013 Publicação da Arquidiocese de Vitória Editora Maria da Luz Fernandes / 3098-ES Repórter Letícia Bazet / 3032-ES Colaboradores Alessandro Gomes Dauri Batisti Gilliard Zuque Giovanna Valfré Edebrande Cavalieri Revisão de texto Yolanda Therezinha Bruzamolin Publicidade e Propaganda comercial@redeamericaes.com.br Telefone: (27) 3198-0850 Fale com a revista vitória: mitra.noticias@aves.org.br Projeto Gráfico e Editoração Comunicação Impressa (27) 3319-9062 Ilustradores
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vitória
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Bispos Auxiliares Dom Rubens Sevilha Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias
w w w. a v e s . o r g . b r
Arcebispo Metropolitano Dom Luiz Mancilha Vilela
editorial
Ter fé na vida
É
preciso acreditar na vida, é importante. Acreditar ajuda a tomar decisões, escolher posições, buscar caminhos que transformem a crença em realidade. Optar pela pessoa em vez do lucro, optar pela ética e defesa de princípios, optar pela qualidade de vida e convivência tranquila, optar pela leveza nas relações e escolher dar vazão aos sonhos certamente trará benefícios que farão do dia a dia um constante encontro com novas atitudes que “fazem bem”. A fé em Deus é um elemento que pode dar o tom aos esforços permanentes que cada um faz no seu cotidiano. Ele sempre nos suscita a fazer o bem e, fazer o bem, é a única forma de viver na alegria e na paz. Como diz o poema O Milagre da Vida, “Há duas formas para viver a sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre”.
¶ Kiko, · Gabriel
Designer Albino Portella Jane Maria Gorza Impressão Gráfica 4 Irmãos (27) 3326-1555
Maria da Luz Fernandes Editora
diálogos
Santo da Tarja Preta “O idoso vai viver a virtude da paciência e da bondade que adquiriu ao longo da prolongada existência.
Não existe aposentadoria para a vida es-
com a idade, mas não cessa o dever de fazer o
piritual. Não existe aposentadoria para a luta
bem sempre. Para o idoso há um novo modo
da vida. Todo ser humano tem que combater
de ajudar na construção do Reino. Do mesmo
o bom combate, lutar pelo bem, se esforçar
modo para o doente haverá uma nova forma
para viver segundo o Santo Evangelho, ou
de apostolado: a oração, a vida contemplativa,
seja, desejar ser um seguidor (discípulo) de
o silêncio fecundo e amoroso, o exemplo de
Jesus e, consequentemente, ser continuador
paciência, mansidão, bondade, a oferta de si
da obra de Jesus (missionário) na construção
mesmo...
do Reino de Deus.
Quanto às doenças, incluem-se também
Não existe aposentadoria da vida virtuosa:
as doenças da mente, os problemas psíquicos
nem por idade, nem por tempo de serviço, nem
e emocionais. Também esses doentes da alma
por doença. Alguém se aposenta das atividades,
devem viver segundo o Santo Evangelho. Todos
mas não se aposenta da vida cristã. O idoso vai
somos chamados por Deus para a santidade.
viver a virtude da paciência e da bondade que
No futuro teremos os santos da tarja preta. Que
adquiriu ao longo da prolongada existência.
assim seja!
O idoso deve testemunhar a sabedoria da vida. Quanto às atividades, elas podem cessar
Dom Rubens Sevilha, ocd Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
Basta a Bíblia para fundamentar a fé?
O mês de setembro no Brasil é, desde
verdade, seja preservada e difundida entre todos
muitos anos, chamado o Mês da Bíblia. ”Des-
os membros da Igreja.
conhecer a Sagrada Escritura é desconhecer a
Jesus Cristo” (São Jerônimo). A Bíblia, também
sabilidade de cuidar da integridade dos ensina-
conhecida como Sagrada Escritura, nos apre-
mentos da Bíblia e é exercido pelos bispos em
senta o amor de Deus à humanidade, nos
união com o Papa. O Magistério não está acima
ajuda a responder a seu chamado, nos ensina
da Palavra de Deus, mas sim a seu serviço, para
as verdades importantes de nossa fé cristã
ensinar o transmitido.
e nos questiona sobre como vivemos e nos
relacionamos com os outros.
ler outro livro qualquer. Aqui, a disposição in-
Nós, católicos, fundamentamos nossa fé em
terior que você tiver e a atitude que assumir
três fontes: a Bíblia, a Tradição e o Magistério da
são fundamentais. Ao rezar com a Bíblia você
Igreja, os quais se relacionam e se completam
compartilhará a experiência de muitos homens
mutuamente.
e mulheres através dos tempos. Encontrará um
Deus vivo que ama, que opta por cada um de nós
A Bíblia é a Palavra de Deus “lâmpada para
O Magistério da Igreja consiste na respon-
Sabemos que ler a Bíblia não é como
os pés, e luz para o caminho”(Sl 119,105).
e que nos chama a ser discípulos missionários,
profetas do reino.
A Tradição se origina na Palavra de Deus
confiada aos apóstolos e transmitida a seus sucessores para que, guiados pelo Espírito da
“Ao rezar com a Bíblia você compartilhará a experiência de muitos homens e mulheres através dos tempos.
Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
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Atualidade
POR UMA ESPIRITUALIDADE DA
INCLUSÃO N
ão poucas vezes temos lido e ouvido de pessoas entendidas que vivemos atualmente numa cultura do descarte. Numa sociedade da cultura do descarte vale apenas aquilo que dá lucro, que produz. Neste sentido logo aparecem aos nossos olhos os sinais de descarte. Que sinais são estes? Ora, é o idoso desamparado; ora, é a mãe aflita nos corredores ou à porta de um hospital esperando um atendimento que não acontece; ora, é um enfermo que está na fila de um hospital à espera de internação. O descarte acontece também entre os países desenvolvidos e os que estão na penúria. A era do conhecimento serve o descarte das pessoas, dos países e até dos continentes. Não sei se você já observou um
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lixão nas grandes cidades. Lá estão os objetos descartados sendo procurados por pessoas descartadas da sociedade. Não é minha intenção desenvolver este assunto na sua completude. Considero estas observações que faço agora como uma provocação. Acredito que a prática do descarte que presenciamos em nossa sociedade não pode ser vista por uma pessoa de bem como algo normal nas relações humanas e em nossas opções de vida. É, sim, antes, um desafio e um apelo à pessoa de fé cristã. Assumir o fato do descarte das pessoas como algo normal fere
a consciência cristã. O cristão não pode aceitar simplesmente o fato do descarte, precisa pensá-lo como algo a ser superado com atitudes contrárias à cultura do descarte e seguindo o que ensina o Evangelho de Jesus Cristo. A supremacia do lucro a todo o custo não faz parte da opção cristã. As atitudes de Jesus no seu caminhar com os discípulos em direção a Jerusalém mostram-nos que as pessoas não podem ser descartadas. Os leprosos eram apedrejados pela sociedade porque as pessoas temiam contrair a mesma doença. Jesus os acolhia e lhes
dava vida e esperança além de incluí-los na sociedade. Jesus propõe o exemplo do Samaritano. Ao encontrar alguém ferido e abandonado após um assalto trata-o com carinho, leva-o a uma hospedaria, paga para que cuidem dele e promete voltar para sanar outras despesas que sejam necessárias ao tratamento. Um descartado que foi incluído! Há pouco tempo o Santo Padre, o Papa Francisco, falou aos jovens que precisam ir ‘contra a corrente’. Precisamos trabalhar em favor de uma cultura da comunhão. Acredito que esta fala vem bem a propósito dian-
O que estamos fazendo de nós mesmos?
Vivemos em meio a uma acelerada produção de bens materiais e imateriais e, consequentemente, em meio a um processo acelerado de consumo e de descartabilidade. Mais do que “ter objetos”, produz um desejo de “ter”. O consumo coloca-se mais no campo do desejo e de sua satisfação, mais numa perspectiva volátil do que numa perspectiva de permanência ou de duração. Quando o desejo de consumo é maior do que o desejo de manutenção do que foi consumido, produz a descartabilidade. Para que se faça um incessante processo de consumo é
preciso que se faça um incessante processo de descarte. Assim, o consumo se distancia absolutamente do campo da necessidade. Não se consome aquilo de que se precisa, consome-se aquilo que nos desperta um desejo, que nos inspira uma aspiração, o que nos projeta numa irrealidade, numa bolha de sucesso e “perfeição”. Porém, como diz o filósofo Luíz Orlandi, vivemos um paradoxo, pois “nunca se viveu tão sistemático, cotidiano e envolvente sucateamento da humanidade”. Leila Domingues Machado Professora do Departamento de Psicologia da UFES
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Atualidade
te de uma cultura do descarte. Quem é descartável hoje? São os idosos, são os analfabetos, são os embriões no seio materno... Todos que não dão lucro! Ora, nesse mês de setembro quando voltamos nossa atenção especial para tomarmos consciência da importância da Sagrada Escritura em nossa vida de fé, a cultura do descarte torna-se um grande obstáculo e desafio à cultura da comunhão. Eu diria, ainda, que está na hora de, em nossas orações e atitudes práticas, cultivarmos a espiritualidade da inclusão em vista de uma cultura da comunhão. Isto começa em nossa pessoa, em nosso coração, em nossas famílias, no coração de nossa família. Os Círculos Bíblicos são um instrumento indispensável e valioso para o cultivo da espiritualidade da inclusão. Além disso, e naquele momento do Círculo Bíblico, dá-se o encontro de dois livros, o Livro da Vida e o Livro da Sagrada Escritura que ilumina a nossa vida. A batalha contra o egoísmo e a via de descarte do outro só será vencida pela batalha do Amor que Jesus nos ensinou e nos
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ordenou que praticássemos seguindo os seus passos e unidos ao seu Coração. A Batalha do Amor é a batalha da inclusão, a espiritualidade da inclusão que faz crescer entre nós a cultura da Comunhão. Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc Arcebispo Metropolitano
pensar
O PAPEL DO POLÍTICO CRISTÃO
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a República, todos os cidadãos são políticos. Somos políticos mesmo quando não nos envolvemos com a política, pois, quando nos afastamos, entregamos a outros a responsabilidade de zelar por um bem que é nosso. Na democracia representativa o poder é exercido por representantes, teoricamente em nome do povo. Alguns se dedicam integralmente à política, recebendo mandato popular para atuar nos poderes legislativos e executivos. Esses são os que comumente se chamam de “os políticos”. Mas o que se deve esperar de um político cristão? A primeira coisa que devemos ter em mente é que a coisa mais fácil do mundo é alguém se dizer cristão. Noventa por cento dos brasileiros o são. Portanto, nenhum diferencial se deve esperar da exposição pública da religiosidade particular. O segundo aspecto é que compreender o que é ser cristão parece, ao contrário, a coisa mais difícil do mundo. A quantidade de valores que se podem defender
em nome do cristianismo é tão grande que apenas a designação religiosa não diz muita coisa a respeito do que significa um político ser cristão. Assim, os cristãos precisam ter claro quais são os valores essenciais do Evangelho, para depois defendê-los como valores que podem ser defendidos na política para toda a sociedade. Não se trata da imposição de normas religiosas ao conjunto da sociedade, mas da defesa de valores que podem ser universalizados e aceitos, inclusive por quem é de religião diferente, ou mesmo por quem não professa nenhuma religião. O que vai caracterizar a ação do político cristão é sua capacidade de viver os princípios evangélicos em qualquer dimensão da vida, sendo a política apenas uma delas. O mandato concedido a um político não é um mandato religioso. Se alguém for contratar um motorista, vai querer saber se ele sabe dirigir e não se ele frequenta a sua igreja. Da mesma forma, o que se deve esperar de um polí-
“O que vai caracterizar a ação do político cristão é sua capacidade de viver os princípios evangélicos em qualquer dimensão da vida, sendo a política apenas uma delas. tico cristão é a sua capacidade de representar a população que o elegeu e vincular o exercício de seu mandato ao grande projeto comum a todos os cristãos: o Reino de Deus. Sendo este um projeto para todos, espera-se do político cristão que seja um representante de todos, capaz de ouvir e defender a todos e não um representante de uma doutrina religiosa em particular. Maurício Abdalla Professor de Filosofia da Ufes
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micronotícias
Brilhante A história de uma mãe que decidiu retirar o filho autista da educação especial e criar um sistema pedagógico para auxiliar o seu desenvolvimento virou livro.
Na publicação “Brilhante: A inspiradora história de uma mãe e seu filho gênio e autista”, Kristine Barnett conta como foi a luta para educar o filho autista, contrariando a opinião dos profissionais e do marido. Em uma creche montada na garagem de sua casa, ela conseguiu estimular o desenvolvimento intelectual da criança, o qual aprendeu cálculo matemático sozinho e, aos nove anos, começou a desenvolver uma teoria original em astrofísica que, para os acadêmicos da área, um dia pode levá-lo ao prêmio Nobel.
Hambúrguer instantâneo Um novo jeito de comer hambúrguer foi criado por um americano. Na invenção, apresentada em
uma feira de comidas em Nova York, o pão é substituído por uma espécie de macarrão compactado. O criador da iguaria é um apaixonado por ramen, uma espécie de macarrão tradicional no Japão, semelhante aos macarrões instantâneos existentes no Brasil. Após uma viagem ao Japão, onde visitou 21 cidades e experimentou mais de 55 pratos desse tipo de macarrão, ele largou seu emprego de programador e mudou-se para o Japão para trabalhar em um restaurante em Tokyo e aprender novas receitas.
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Minutos de leitura Uma pesquisa realizada pelo IBGE destacou que o brasileiro gasta apenas seis minutos diários com a leitura. Nas idades de
plena necessidade de informação, entre 10 e 24 anos, esse tempo diminui: são três minutos de “dedicação”. Já entre os mais velhos, com 60 anos ou mais, o tempo dedicado à leitura é de 12 minutos. Comparando com os Estados Unidos, onde a leitura ocupa 31 minutos nos dias de semana e 37 minutos nos fins de semana, o Brasil pode ser considerado um país com índice de leitura muito baixo.
Onde fui roubado Dois estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) desenvolveram o projeto de uma rede social colaborativa, que tem o objetivo de mapear, através de
informações de usuários deixadas no site que hospeda a ferramenta, os locais onde foram registradas ocorrências policiais, como roubo ou furto de objetos. No site, o usuário seleciona o Estado e a cidade onde houve a ocorrência e deixa registrada a sua denúncia com o dia, local, horários, pertences levados e uma breve descrição sobre o que aconteceu. O site é www.ondefuiroubado.com.br
Chinês fácil Aprender a falar chinês tornou-se uma gostosa brincadeira com o método criado pela empreendedora chinesa Shaolan Hsueh. Moradora de Londres, ela percebeu a dificuldade de ensinar caracteres chineses para os seus filhos, e criou o “Chineasy”, que utiliza ilustrações divertidas para o aprendizado da leitura. A partir de um bloco de ilustrações, o aluno já pode construir novas palavras e frases. Com os 200 caracteres mais utilizados, uma pessoa é capaz de compreender cerca de 40% da literatura chinesa básica. No site chineasy. org é possível conhecer um pouco mais sobre o trabalho.
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entrevista
“eu queria que o tempo Advogada, servidora pública federal há 30 anos, pós-graduada em administração pública. Educação e prática religiosa na Igreja Batista até os 20 anos. Afastou-se após a reação de alguns membros da Igreja quando se separou após um casamento que não deu certo, Maria Suely Pinheiro se emocionou com a figura do Papa no Rio de Janeiro.
vitória - Com seu afastamen-
to da Igreja Batista, como você avalia a religião e as Igrejas hoje? Suely - As pessoas sentem a necessidade de buscar a verdade, de buscar algum alívio interior, então eu penso que é ali que elas estão buscando, na religião. Hoje eu não tenho religião, não frequento igreja, vou quando sou convidada para um casamento, ou a uma missa de sétimo dia, mas todos os dias eu faço minha oração, de manhã, de tarde, de noite, às vezes durante o dia. Eu estou sempre buscando a Deus porque só assim eu acho que a gente pode se sentir mais leve, com o espírito mais preparado para o dia a dia e para as lutas,
“Só que nesse passear, não deu para não assistir, não ficar, não querer também ir atrás do Papa, sabe? E foi isso!
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para as intempéries, para tudo que está aí hoje. vitória - Você estava no Rio
de Janeiro durante a Jornada Mundial da Juventude. Como foi a sua reação? Suely - Olha, eu fui pro Rio de Janeiro a trabalho, nós fomos dar reforço para o INSS do Rio de Janeiro. E lá chegando coincidiu com a semana que estava acontecendo a Jornada. Nós fomos para trabalhar na Baixada Fluminense, só que devido ao grande movimento, nós não conseguíamos lugar pra ficar, então alugamos um conjugado em Copacabana, e tudo veio a calhar. Todos os dias nós saíamos bem cedo, 6h da manhã, e íamos de metrô, passando por 22 estações até chegar ao destino. Da mesma forma ao final do dia. Todos os dias íamos com aquela galerona de jovens, na maior alegria, na maior felicidade, que me impressionou demais. Eles vinham cantando dentro do metrô, tudo aquilo que se fala do Rio, aquele medo, aquelas coisas de assalto, não se via ninguém com uma cara de ‘tô com medo, o que é isso’. No metrô era a maior tranquilidade, a juventude, várias
línguas, era espanhol, polonês, francês, inglês, italiano, muito interessante. Choveu muito e teve a mudança para Copacabana e eu vi que fosse pra onde fosse, eles estavam tranquilos. vitória - Você percebia que
nada desanimava aquele público? Suely - Nada, nada, nada. Aquilo que me impressionou. Teve um dia que choveu mais forte e estava muito frio e as pessoas estavam ali, inclusive acampadas, na noite da vigília eles esticaram lá, eu pensei que eles fossem embora.
vitória - E esse clima con-
tagiava?
Suely - Sim, sim, sim. Era con-
tagiante.
vitória - Você avalia que esse movimento de fé é importante para a juventude no momento atual? Suely - Sim. A juventude hoje é alienada, nós vemos aí a questão das drogas. Hoje os traficantes estão aí na porta das escolas, estão dentro da escola, e se a gente facilitar, estão até dentro do trabalho. E se o jovem tem
tivesse parado” essa fé, se ele vai estar convicto de que é aquilo ali, ele não vai se deixar levar. vitória - Você acha que o jovem precisa buscar mais a Deus? Suely - Eu diferencio Igreja de Deus, porque na verdade o que eu queria esclarecer é o seguinte: que eu creio em Deus, eu não sou adepta às religiões, apesar de respeitar todas. Depois daquilo que eu vi lá... tinha 3,5 milhões de pessoas? Tinha mais! Não sei se eu poderia dizer que está faltando buscar Deus. vitória - Talvez esteja faltan-
do estímulo? Suely - Olha, não sei responder a essa pergunta. Porque veja só, foi feito um chamado e eles foram. Quando os protestantes fazem, eles também vão. Não sei se seria o chamado, talvez a forma como se chama, para quê se chama, e depois que chama, o que é dito pra eles.
o movimento. Só que nesse passear, não deu para não assistir, não ficar, não querer também ir atrás do Papa, sabe? E foi isso! vitória - Vocês foram juntas
atrás, seguindo a multidão? O Papa passava ali na Avenida Atlântica pra ir celebrar a missa no Leme. Então, quando eu sabia o horário que ele ia passar, eu já procurava descer um pouco antes, 1h antes para poder pegar um bom lugar. E aí eu me surpreendi dando tchau para ele, sabe? Coisas que para mim não são normais (risos). Normalmente se o Papa ia para o sul, eu ia para o norte, mas aquilo me contagiou e ele também... respondia o tchau de todo mundo. Um dos dias eu falei assim: o segredo é pegar uma criança (risos).
Suely -
vitória - Você tomou a deci-
são de descer do prédio onde estava para ver o Papa? Suely - Na verdade, do apartamento dava pra gente ver. Mas minhas colegas são católicas e elas falaram: vamos lá, nós vamos para a missa, você vai Suely? Então eu disse que ia descer para passear na praia e ver
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Vou arranjar uma criança aqui que aí ele desce! vitória - Você queria chamar a atenção dele? Suely - Ah queria! Foi incrível! E assim, pelo menos do que eu vi, de onde eu estive, dos lugares aonde eu estive, o povo muito educado. Mas essa da criança... eu olhava e todo mundo estava agarrado com as suas (risos). vitória - A que você atribuiu
isso? Ao clima do momento? Suely - O Papa é uma pessoa
“E eu queria que o tempo tivesse parado ali, naquele momento, porque foi uma sensação de plenitude, aquela energia, uma energia boa.
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muito carismática, o João Paulo II também era carismático, mas esse é um sujeito humilde, ele procura praticar aquilo que diz. Então isso é importante. Assim, coisas pequenas que podem passar desapercebido, mas teve uma coisa que eu acho que passou até na televisão. Tinha uma senhorinha, quando ele foi na Tijuca, ela estava debruçada ali naquelas cercas dando tchauzinho pra ele, e ele mandou parar o papamóvel, desceu para ir falar com ela. Então aquilo ali para mim foi de arrepiar. vitória - Qual foi a sensação
ali? Você atribui isso ao carisma dele? Suely - Eu acho o seguinte, ele é um espírito altamente iluminado. E por ser iluminado, ele ilumina todas essas questões. Ele é humilde; o que ele fala, ele pratica; ele abriu mão da segurança, como ele mesmo falou, ninguém morre de véspera. Eu só posso resumir que ele é um espírito altamente iluminado. É um dom.
vitória - Você chegou a frequentar algum momento celebrativo? Suely - Sim, eu assisti à Oração do Angelus, depois eu fui assistir em casa pela televisão a missa dele... aí teve a Via Crucis, que foi lindíssima e eu assisti. Foi maravilhoso! vitória - A Via Crucis foi
o momento mais comovente? Foi muito comovente, mas é tão difícil dizer o que foi menos ou mais comovente na vinda desse Papa. Não sei se eu estou entusiasmada demais, mas a passagem dele, o sorriso dele, ele descer, cada gesto, em cada momento de cada evento que ali aconteceu. Não dá para dizer se foi mais ou se foi menos, foi tudo muito grandioso.
Suely -
vitória - Como você avalia a
questão da fé naquele momento lá? A sua fé. Suely - Pra mim foi muito importante, eu tive momentos muito bons, foi um bom momento até mesmo para o meu trabalho. Foram duas semanas assim. No domingo fomos ao Centro do Rio. Não tinha ônibus, não tinha táxi, não tinha nada, mas nós fomos e a juventude estava toda voltando. Uma coisa linda ver aquele povo todo passando embaixo daquele viaduto, que sai do Leme até o Botafogo. E eu queria que o tempo tivesse parado ali, naquele momento, porque foi uma sensação de plenitude, aquela energia, uma energia boa.
arte sacra
ICONOGRAFIA Dos VITRAIS “As janelas envidraçadas que estão nas igrejas e pelas quais (...) se transmite a claridade do sol, significam as Santas Escrituras, que afastam de nós o mal, enquanto nos iluminam” (Pierre de Roissy, Chartres, 1200).
É
motivo de maravilhamento entrar em uma igreja com vitrais. A luz filtrada pelos vidros multicoloridos, as ilustrações, o ambiente convidativo ao silêncio e à oração, são sinais do efeito provocado pelo seu uso. Eles conferem ao ambiente, tanto uma maior espiritualidade quanto imponência. Os vitrais surgiram no Oriente, em torno do século X e floresceram na Europa durante a Idade Média. Amplamente utilizados nas construções das igrejas e catedrais, sobretudo durante o gótico, logo se tornaram recurso didático para catequese a uma população iletrada. Como parte do projeto iconográfico da igreja, isto é, do
conjunto de representações simbólicas, os vitrais trazem ainda cenas ou personagens das Sagradas Escrituras e da vida dos santos. Sua fabricação exige técnica e arte. Inicialmente, o chumbo derretido foi usado como elemento de ligação entre os diversos pedaços de vidros coloridos. Hoje, com novas técnicas de fabricação, seu uso é muito mais difundido, estando presente em muitas construções. No Brasil é necessário importar vidros coloridos e há poucas indústrias. Aqui, os vitrais são ainda considerados caros. Muito importantes no contexto do espaço celebrativo, estão unidos ao conjunto da iconografia, onde o artista, a partir do
Catedral Chartres, na França
projeto de arquitetura define o trabalho artístico a ser executado na igreja, desenvolvendo uma caminhada simbólica, bíblica e teológica em vista do Mistério celebrado na liturgia. Na expectativa da instalação dos novos vitrais da Catedral de Vitória, desenvolvidos em linguagem adequada ao tempo atual e em harmonia com os existentes, ouçamos São Bernardo: “como o esplendor do sol atravessa o vidro sem quebrar e penetra na sua solidez com sua impalpável sutileza, assim o Verbo de Deus, luz do Pai, penetra na morada da Virgem e sai de seio intacto”. Raquel Tonini, membro da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese de Vitória e Grupo de Reflexão do Setor Espaço Celebrativo da Comissão Litúrgica da CNBB
Setembro/2013 Igreja Dom Bosco, em Brasília
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Foto: Aureliano Costa
Paróquias
Paróquia Nossa Senhora da Assunção
A
assunção da Virgem Maria aos céus foi proclamada um dogma de fé pelo papa Pio XII, em 1950, como recompensa de suas obras, dos seus sofrimentos, penitências e virtudes. Não só a alma, também o corpo da Virgem Santíssima fez a entrada solene no céu. Ela, que durante a vida terrestre desempenhou um papel todo singular entre as criaturas humanas, com o dia da assunção começou a ocupar um lugar no céu que a distingue de todos os seus habitantes.
Anchieta - Centro w A Parรณquia tem 37 comunidades w Pรกroco: Padre Jose Acrizio Vale Sales w Vigรกrios paroquiais: Padre Vanildo Pereira da Silva Filho
e Padre Firmino Costa Martins w Criada em 1759 pelo bispo da Diocese de Niterรณi, Dom Frei Antonio do Desterro Malheiro, e pelo coadjutor Dom Vicente da Gamal Leรฃo.
Reportagem
Círculos bíblico Preservando o contato com as famílias, a oração e a caridade, os Círculos Bíblicos mantêm vivos os princípios cristãos e a vida em comunidade.
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icos N
o livro Sinal do Reino no Presente e no Futuro, o autor, Dom Luiz Mancilha Vilela, afirma que na base de uma Comunidade Eclesial está o Círculo Bíblico. A experiência da vida de fé em pequenas comunidades é a volta às fontes do cristianismo, quando os discípulos de Jesus se reuniam nas casas para celebrar. É a Palavra de Deus que une fé e vida. Os Círculos Bíblicos (cerca de mil, distribuídos nas 70 paróquias), que acontecem em toda a Arquidiocese de Vitória, comprovam que essa experiência atende aos desejos e necessidades dos cristãos hoje: estar perto, compartilhar, fortalecer. Os encontros começam com a realização dos Conselhinhos, pequenos grupos que refletiam sobre o Concílio Vaticano II. A partir daí, continuaram a encontrar-se para rezar com a
Palavra de Deus e confrontar a própria realidade com ela. Os Círculos Bíblicos ganham força neste contexto. O Vigário Geral, padre Ivo Amorim, ressalta que “eles têm por finalidade criar esse alicerce cristão mais sólido, de modo que as pessoas se reúnam para meditar a Palavra e também criar laços de humanidade, fraternidade e solidariedade. Tudo isso é decorrência da Palavra de Deus que está sendo meditada, com método simples, popular, ao alcance de qualquer fiel”. A fé e a vida, a oração e a ação solidária, aliando o caráter missionário com as atividades sociais, são o que vivenciam os 10 Círculos Bíblicos da Comunidade Santo Antônio, na paróquia Bom Pastor, em Campo Grande. Os encontros semanais são realizados em revezamento nas re-
“Os Círculos Bíblicos estão no coração da vida de uma comunidade. Padre Ivo
sidências dos participantes. Como gesto concreto, os grupos, em cada reunião, fazem sorteios. O resultado serve para auxiliar os mais necessitados e o trabalho da Pastoral da Saúde. Conhecendo a comunidade, os membros sabem quem precisa de remédios ou outro auxílio. Desenvolvem, ainda, o Recicl’Amor. O objetivo do projeto é despertar a consciência ambiental e reverter o resultado em obras sociais. Pelo bairro há pontos de coleta de materiais plásticos, que são vendidos. O dinheiro também é revertido em ajuda a quem precisa. Os grupos, fundados há mais de 30 anos por Monsenhor Rômulo, receberam o nome de Evangelho no Lar. “Esses grupos são a base, porque com eles se vai até as famílias, senta, conversa, conhece as pessoas. Os textos bíblicos ajudam a despertar algo bom nelas. Eu amo isso aqui”, contou Aurora Marchetti, coordenadora dos grupos na comunidade Santo Antônio. Para Aurora, a união da comunidade fortalece o Evangelho no Lar, que tem o papel de ligar a fé com a vida. “Nós estamos ali com a Palavra de Deus, e também nos colocamos a serviço do próximo, ajudando, de acordo com a nossa realidade. Cada
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pequena ação que realizamos nos encontros, estamos ajudando alguém, comprando um remédio, pagando um exame, atos de amor com o próximo”. Os encontros acontecem seja qual for o número de pessoas presentes. “A cada semana, dez famílias são visitadas, e isso se multiplica em reflexão e oração. Quando percebemos que o grupo está enfraquecendo, nós vamos lá, damos uma força, resgatamos, e então, ele se fortalece novamente. Os grupos são feitos de pessoas que possuem suas fraquezas, mas não podemos nos abater”, disse Aurora. A sensação de estar em família e a proximidade com os membros do grupo motiva a continuar na caminhada. “Aqui eu me sinto bem, o grupo é unido e estamos juntos há muito tempo. Quando eu não venho faz muita falta. O Evangelho no Lar é uma família que desempenha bem
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o papel de evangelizar”, disse Isaura Maria Rezende. Para Josefina Buselli a união é a maior motivação. “É importante, pois nos incentiva em tudo. Nós procuramos passar pra frente o que refletimos aqui. Sou apaixonada pelo Evangelho no Lar. Saio daqui mais leve. Chego com preocupações e volto pra casa transformada”. Aos 91 anos, o senhor Ramiro já percorreu uma longa caminhada de serviço à Igreja. Hoje, de cama, recebe os cuidados e atenção dos membros do grupo, e reza junto quando o encontro acontece em sua casa. “Nós devemos seguir o caminho de Jesus, pois Ele nos diz: ‘Venha a mim, bata à porta, ela abrirá e eu vos atenderei’. Eu já bati à porta e fui servido, li muito a Bíblia e ajudei muitas pessoas”, contou. Na história dos Círculos Bíblicos da Comunidade Santo Antônio, chama atenção como
eles se fortaleceram. Os grupos começaram a se encontrar nas casas por necessidade. Não existia um templo para a comunidade, mas os grupos sentiram necessidade de construí-lo, para terem acesso aos sacramentos e outros serviços religiosos. Depois que organizaram a comunidade, perceberam que a falta de contato nas famílias deixara uma lacuna. Voltaram, então, ao encontro nas casas e fazem esforço permanente para envolver aqueles que não participam. De acordo com Padre Ivo Amorim, os Círculos Bíblicos fizeram, e ainda fazem nascer muitas comunidades: “eles estão no coração da vida de uma comunidade, são importantes, necessários e merecem todo o nosso apoio e incentivo. A vida de um Círculo Bíblico depende de animação, tem que ter pessoas que gostam, são entusiasmadas para a proposta”, concluiu.
especial
PERIFERIAS EXISTENCIAIS
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sta expressão foi usada pelo Cardeal Bergoglio antes do Conclave que o elegeu como Papa Francisco, cujo texto foi publicado no site da Igreja Católica em Cuba. Naquele momento, ele sugeria que o Papa a ser escolhido deveria ajudar a Igreja a “sair de si mesma para as periferias existenciais”. Era, também, uma crítica a um perfil de “Igreja mundana que vive em si, de si e para si”, sendo referência de si mesma. E, depois de eleito, novamente faz este apelo ao Colégio de Cardeais que o escolheu. Na Jornada Mundial da Juventude, ocorrida no Rio de Janeiro, novamente este mesmo chamado é destinado à Igreja representada pelos jovens do mundo inteiro. Quais são as periferias existenciais a que se destina a missão da Igreja atual? A miséria atinge a espiritualidade, o sentido de existir. Como foi bonito ver e sentir a presença de 3,8 milhões de jovens em Copacabana sendo saciados em sua fome e sede
de Infinito! O exemplo do Papa Francisco que rompe as barreiras da própria segurança, abrindo mão de carros fechados, blindados, é sinal da urgência da Igreja em sair de si mesma e ir ao encontro das pessoas. O mundo atual tem sentido o drama do crescimento das periferias geográficas das grandes cidades, dos grandes centros econômicos, e dos espaços de poder. Nestas periferias habitam os esquecidos da era atual, os excluídos. A dor, a fome e a injustiça são as marcas maiores da vida de tantos seres humanos que vivem na fronteira de sua humanidade. O Papa inclui ainda nesta periferia as pessoas que vivem num dos mundos mais desconhecidos da razão humana, pois os valores desta mesma razão estão sob risco de serem perdidos definitivamente. Nem parecem mais seres humanos, pois vivem dos restos de alimentos encontrados nos lixões das grandes cidades ou estão reunidos no submundo
das drogas, dormindo ao relento nos cantos sombrios de bairros abandonados, formando uma subumanidade. Como Francisco de Assis, a Igreja nos convoca para tirarmos as roupas do comodismo, do medo, do conforto em que nos instalamos e irmos para as periferias mais abandonadas. Para muitos, o encontro com o Amor de Deus não está no horizonte de suas vidas, pois já ultrapassaram a soleira da habitação humana e vivem na incerteza da hora seguinte. Neles nem mais se ouve o “grito”, pois nem mais sensibilidade pela exclusão lhes toca. São, nos tempos atuais, os leprosos da época de Jesus. O Espírito nos convoca para irmos a todas as periferias humanas rompendo a zona de conforto marcada pela prática de ritos e devoções, encontros entre nós mesmos. Edebrande Cavalieri Doutor em Filosofia
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ARQUIVO E MEMÓRIA
VISITA PASTORAL em SÃO PEDRO
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m agosto de 1985 Dom Silvestre Scandian, hoje Arcebispo Emérito de Vitória, fez a primeira visita pastoral ao Bairro São Pedro. O terreno, um grande manguezal, abrigou famílias de sem tetos e pessoas empobrecidas, que invadiram o local. Após a invasão, o bairro foi aterrado com o lixo. Na época, o jornalista Amylton de Almeida, falecido em 1995, produziu um documentário cha-
mado “Lugar de Toda Pobreza”. É essa realidade que Dom Silvestre vê ao visitar o lugar, que contava com a presença do padre Gianni Bartesaghi, missionário Comboniano, falecido em 1991. O destaque dessa visita foi a aproximação do então Arcebispo com as crianças do lugar. Ao avaliar essa visita,
Dom Silvestre percebeu que padre Gianni e o povo estavam muito felizes com o equilíbrio do trabalho, que abrangia não só a dimensão religiosa, mas também a sociopolítica. Disse ainda que apesar da extrema pobreza, o povo tinha grandes valores e alegrias, e que o sinal de salvação se manifestava na união e animação do povo, no conhecimento da Bíblia, nas visitas aos doentes e na luta dos moradores. Na ocasião, o Arcebispo escreveu uma pauta de reivindicações e apresentou à Prefeitura de Vitória. Hoje o bairro São Pedro encontra-se urbanizado, melhorias que se iniciaram com a visita do Papa João Paulo II em 1991. Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc
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projeto
Qualidade de vida para a terceira idade Projeto Digna Idade resgata a vontade de viver e transforma vida de idosas, favorecendo a convivência através de oficinas de artesanato e confraternizações.
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á 8 anos, o projeto Digna Idade resgata nos idosos a vontade de viver, estimula a interação e a convivência, e melhora a qualidade de vida entre as senhoras com idades que chegam aos 91 anos. O projeto promove todas essas transformações por meio de oficinas de artesanato, com a produção de sabonetes decorados, panos de prato, toalhas, desenhos e outros itens produzidos pelas próprias participantes, com o auxílio dos voluntários, funcionários da ArcelorMittal Cariacica, empresa responsável pela manutenção do projeto. Iniciado com um pequeno grupo de 10 idosas, que perma-
neciam ociosas enquanto aguardavam o atendimento no posto de saúde de Jardim América, em Cariacica, o projeto hoje conta com 40 participantes e seis voluntários. Ao longo da história, o projeto já beneficiou cerca de 100 idosas. Pintura, bordado, moldes, enfeites temáticos, produções em cera, entre outros materiais já foram utilizados para as produções das participantes, que levam para casa tudo o que fazem no projeto. Em 2010, a iniciativa foi reconhecida, ganhando o prêmio mundial “Performance Excellence Awards”, disputado pelas filiais da Arcelor, entre
os projetos de responsabilidade social. Para quem participa, o projeto representa renovação e a formação de uma segunda família, onde a conquista de cada uma é alegria para todas. É possível encontrar histórias de quem pouco se movimentava e, com a participação no Digna Idade, encontrou a motivação que precisava para tornar a vida mais realizada. Para participar, não há limite de idade, basta ter vontade e disposição. Procure um dos voluntários na sala do projeto, no posto de saúde de Jardim América, que se reúnem para as oficinas toda quinta-feira, de 8h às 10h.
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ideias e sugestões
Ouvi os sons da locomotiva de no rumo das montanhas
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entre tantos livros que lemos alguns especialmente ficam na lembrança. Um frequentemente me vem à memória. Um que se perde no tempo, mas sempre me traz bons sentimentos. ON THE ROAD, um clássico da literatura americana, de Jack Kerouac, da chamada geração beat, aquela que forjou a geração hippie. E, se este livro me marcou, foi pela conjunção com sua temática dos anseios por liberdade e descobrimentos de novos horizontes que estão sempre avançando sobre nossas almas. Ou seja, antes que as estradas aparecessem sob os pés dos personagens do livro, elas teciam meus passos com vários rumos possíveis, vários sonhos e muitos destinos que o Bom Deus me sugere, alguns dos quais delineiam, pelos acontecimentos e pelas minhas escolhas, a vida que
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na gratidão vou vivendo. Algumas vezes volto a certos livros que li como na necessidade de revisitar um bom amigo para um papo livre e despretensioso, mas sempre inspirador. Os livros de Jack Kerouac são assim, inspiradores, próprios para resgatar uma certa inocência no encarar a vida e os sonhos que urgentemente necessitamos para enfrentar as realidades do dia a dia. Sim, volto a eles quando sinto que se escasseiam no ar, na vida, os respingos de luz, a força revitalizadora da esperança. Volto a eles quando a alma está a me pedir mais espaços abertos ao invés de salas e reuniões, mais caminhos ao invés de ruas e avenidas abarrotadas de carros, mais abraços ao invés de celulares e dispositivos eletrônicos. Voltar aos livros de Kerouac também é como voltar à infância, à vida sorridente para
o futuro que ali se apresenta, a este desejo quase ingênuo de viver, viver, viver. Lembro-me menino quando forçava com sons guturais a garganta imitando o ronco de um motor e dirigia um velho caminhão abandonado em ferrugens e óleo derramado. Guiava-me a vida presente que era só futuro projetado na brincadeira de dirigir aquele caminhão. Tantas estradas inventei naquele volante, em abundância de imaginação e criatividade; não sei se nas estradas da vida fui capaz da mesma proeza. Os livros de Jack Kerouac também me trazem à memória a longa jornada que fiz com um amigo pelo Brasil afora, naquele desejo juvenil de ir-por-aí-pra-ver-no-que-vai-dar. Mochila nas costas, de carona, de trem, lá pelo fim dos anos 70... Livro e lembranças se juntam... Recordar é um exercício ético que fortalece
Denver e Rio Grande uivando o coração. Insensibilidade, egoísmo, desonestidade se conjugam com esquecimento. Os livros de Jack Kerouac tem esta força poética de nos recolocar nas trilhas da vida simples, da possibilidade de outros mundos para além deste estruturado no consumo e na depauperação da natureza. São livros que traduzem o espírito de uma época, mas bem traduzem também os anseios por liberdade, solidariedade e paz presentes nos corações em qualquer tempo. Olho novamente a estante. Será que Kerouac me marcará em nova leitura com desenhos de novos caminhos possíveis, com mapas a me indicar outros sítios, outras paisagens? A nova leitura me dará dicas de albergues para a esperança, de lutas sempre boas de lutar, de sentidos para a vida que vale a pena descobrir ou renovar? Sim, a vida segue, e é
preciso ir com ela, e é preciso ter fé. Bonita é a palavra sobre futuro que nos oferece Giorgio Agambem, filósofo italiano que nos ajuda a pensar os dias atuais tão marcados pelas agressividades, pela má-fé, pelas ameaças à vida e ao planeta: “Para entender o que significa a palavra ‘futuro’, é preciso, antes, entender o que significa uma outra palavra, que não estamos mais acostumados a usar, senão na esfera religiosa: a palavra ‘fé’. Sem fé ou confiança, não é possível futuro. Só há futuro se pudermos esperar ou crer em alguma coisa”. Dauri Batisti
“Porque a vida é sagrada e cada momento é precioso. Ouvi os sons da locomotiva de Denver e Rio Grande uivando no rumo das montanhas. Quis seguir ainda mais longe atrás de minha estrela.” (Kerouac)
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acontece
Seminário sobre psicodependência A Pastoral da Sobriedade realiza o VI Seminário sobre psicodependência, abordando a importância da família no combate ao uso das drogas. O encontro acontece na paróquia Sagrada Família, em Jardim Camburi, no dia 15 de setembro, de 8h às 12h30. O evento terá como pa-
lestrantes o neurologista e neurofisiologista, Dr. Antônio Gabriel Abaurre, e a Drª Regina Célia Félix, especialista em psiquiatria e dependência química. As vagas são limitadas e as inscrições podem ser feitas na secretaria da Igreja, após as missas, ou pelo email: psic.dulce@hotmail.com
Grito dos Excluídos No dia 7 de setembro, pastorais e movimentos sociais, a juventude e toda a população se reúne para o 19º Grito dos Excluídos, com o tema “Vida em primeiro lugar”. A concentração será na praça do bairro Vila Nova de Colares, na Serra, a partir de 8h30. A mobilização popular, realizada anualmente no dia
da Independência do Brasil, luta pela transformação social e pelo fim das injustiças, visando à adoção de um projeto popular mais igualitário. Neste ano, os eixos de reivindicação são o mundo do trabalho, o extermínio da juventude, os povos indígenas, a violência contra a mulher, entre outros.
Casos Especiais A Pastoral Familiar da Arquidiocese de Vitória recebe nos dias 28 e 29 de setembro, o assessor nacional da Pastoral Familiar, padre Wladimir Porreca, para falar sobre os casos especiais. O encontro acontece em Ponta Formosa, dia 28, e no colégio Marista, dia 29, e é aberto para quem deseja participar. Mais informações podem ser solicitadas pelo email: pastoralfamiliarmitra@hotmail. com
Área de Vitória w Tríduo de Nossa Senhora das Dores nos dias 13,14 e 25/09 às 19h30. w Paróquia Nossa Senhora da Vitória: • Visitas diárias da Pastoral da Saúde no Hospital Central com missa na última quinta-feira do mês, às 15h. w Paróquia São Pedro Apóstolo - Grande São Pedro: • 13 a15 de setembro - Retiro dos Fortes destinado às lideranças de comunidades; aberto às demais paróquias da Área. Informações: (27) 3233-1897, na Secretaria da Paróquia. • 23 a 27 de setembro - Semana Bíblica - Centro paroquial às 19h30. w 17 de setembro - Reunião do Clero da Área Pastoral de Vitória, de 8h às 12h.
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saúde
O retorno da
Coqueluche N o Brasil, a morbidade da coqueluche já foi elevada, mas com a instituição do Programa Nacional de Imunização (PNI), em 1973, quando a vacina tríplice bacteriana DTP (difteria, tétano, coqueluche) passou a ser preconizada para crianças menores de 7 anos, houve um declínio da incidência da coqueluche. Porém, em alguns países com alta cobertura vacinal, a doença tem ressurgido. Uma das questões principais da reemergência da coqueluche é que a imunidade conferida pela vacina não é permanente, com duração de dez anos da última dose. Crianças com o esquema vacinal completo estão protegidas contra as formas graves da doença, além de não serem fontes de infecção e disseminação da bactéria. Já em crianças com o esquema vacinal
incompleto, a forma grave da doença pode ocorrer. Em 2012, os estados que apresentaram o maior número de casos confirmados foram: Espírito Santo (ES), São Paulo (SP), Rio Grande do Sul (RS), Paraná (PR), Amazonas (AM) e Santa Catarina (SC). Na tabela abaixo segue o número de casos confirmados de residentes de Vitória no primeiro semestre dos anos de 2011 a 2013. A coqueluche (tosse comprida) é uma doença infecciosa aguda, transmissível, que compromete especificamente o aparelho respiratório (traqueia e brônquios) e se caracteriza por paroxismos de tosse seca, guincho inspiratório e vômitos pós-tosse. O agente etiológico é a
Casos confirmados de coqueluche de residentes de Vitória Janeiro a Junho de 2011 a 2013 Frequencia por mês da notificação - segundo ano da notificação Ano da notificação 2011 2012 2013 Total
Jan 0 3 10 13
Fev 0 2 5 7
Mar 1 1 6 8
Abr 0 1 0 1
Mai 0 2 3 5
Fonte: SEMUS/GVS/CVE - SinanNet Vitória. Atualizado em 05/08/2013, sujeito a alterações.
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bactéria Bordetella Pertussis. A transmissão ocorre, principalmente, pelo contato direto da pessoa doente com a pessoa suscetível, através de gotículas de secreção da orofaringe eliminadas por tosse, espirro ou ao falar. A suscetibilidade é geral. O indivíduo torna-se imune nas seguintes situações: w após adquirir a doença: imunidade duradoura, mas não permanente; w após receber vacinação básica disponível nos postos de saúde (mínimo de 3 doses) com DTP para crianças abaixo de 7 anos ou acima dessa idade, e DTPa em clínicas particulares: imunidade por alguns anos. A vacinação é extremamente importante como medida de prevenção e controle da coqueluche. Também deve ser ressaltada a importância da procura aos serviços de saúde se forem observadas as manifestações que caracterizam a definição de caso suspeito de coqueluche. Tatiane Comerio, Coordenação de Vigilância Epidemiológica/Vitória e Ana Ramos, Referência Técnica em Coqueluche/Vitória