vitória Ano VIII
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
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Nº 12
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Dezembro de 2013
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Tecnologia em ĂĄudio para sua igreja!
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vitória Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
Ano VIII – Edição 12 – Dezembro/2013 Publicação da Arquidiocese de Vitória
Diálogos
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atualidade
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Pensar O Natal e a Caravana Atuação política em 2013
Micronotícias
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Entrevista
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Vantagem de ser bilíngue Jeanine educa pela arte
Arte Sacra
O lugar da palavra
Mundo Litúrgico O Tempo Litúrgico tem raízes na história
Espiritualidade
Otimismo ou esperança
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prática do saber Cesta de basquete com som e bip
Aspas Especial
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A Palavra se fez carne
Arcebispo Metropolitano Dom Luiz Mancilha Vilela
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Projeto
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Instituto Verde Vida
Comunidade de comunidades
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ideias
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Caminhos da Bíblia
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Reflexões
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Arquivo e Memória
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Ensinamentos
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Jesus Menino
No olhar do Emanuel a descoberta da fraternidade
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Reportagem
Mostre-me sua fé sem obras...
Ex rudis
A graça do tempo Dom Scortegagna em visita aos presidiários
A cura pela oração nos documentos da Igreja
Cultura Capixaba Cortada, puxada, fincada e retirada do Mastro
Acontece
Destaques do mês de dezembro
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Bispos Auxiliares Dom Rubens Sevilha Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Editora Maria da Luz Fernandes / 3098-ES Repórter Letícia Bazet / 3032-ES Colaboradores Alessandro Gomes Dauri Batisti Gilliard Zuque Giovanna Valfré Edebrande Cavalieri Vander Silva Revisão de texto Yolanda Therezinha Bruzamolin Publicidade e Propaganda comercial@redeamericaes.com.br Telefone: (27) 3198-0850 Fale com a revista vitória: mitra.noticias@aves.org.br Projeto Gráfico e Editoração Comunicação Impressa (27) 3319-9062 Ilustradores Kiko Designer Albino Portella Impressão Gráfica 4 Irmãos (27) 3326-1555
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fale com a gente
editorial
O Natal nos faz agir
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sta edição quer oferecer ao leitor a possibilidade de olhar o Natal pela perspectiva da fé. O Natal nos faz fraternos, esperançosos, otimistas, solidários, criativos, comprometidos, místicos e espirituais. Sim, o clima de festa, as luzes, a música convidam-nos a olhar para dentro de nós e para o mundo com outro olhar e esse movimento para dentro e para fora é que faz a diferença que todos percebem e querem perpetuar. O Natal nos faz agir. Deus vem até nós e pede-nos uma resposta. Aos leitores desejamos saúde e paz. Aos colaboradores alegria e amor. A todos um feliz natal e um ano de bênçãos de Deus! Maria da Luz Fernandes Editora
Foto: Heberson Barbosa
pensar
Heloisa Monjardim Artista Plรกstica
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O Natal e a Caravana
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ezembro chegou. O imaginário do cristão católico evoca o grande Evento do Natal do Senhor. É festa. Famílias se encontram. Crianças brincam com os seus presentes. Tudo sugere ternura. Um desejo sincero de paz e esperança de vida nova. A realidade da sociedade, neste mundo plural, nas perguntas e valores que defende, não contém todo o imaginário do cristão. A vida de todos os dias traz insegurança, medo, inconformidade e indignação. Mortes estúpidas. Quebradeiras no meio de reinvidicações sérias e justas. Políticos preocupados com o futuro nas próximas eleições. Essa realidade não é uma experiência paralela que não se
“Para acolher Jesus será preciso desaprender muita coisa e assimilar valores que ainda não foram assimilados e muito menos cultivados.”
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mistura na vida do dia a dia. O imaginário cristão está no meio da dura realidade da vida de todos os cidadãos. Em todos há um desejo sincero de paz, de amor. Todos aspiram por valores que afaguem os corações humanos. Por isso, acredito que o mês de Dezembro, especialmente, seja um tempo precioso. Um tempo para meditar na Caravana de Jesus! O forte anúncio desta caravana, presente no meio de uma dura realidade, convida-nos a uma verdadeira avaliação de quem somos, como vivemos e para onde vamos. A vida é dura, penosa. Por quê? Para que? Por que tanto sofrimento e tantas lágrimas? Talvez estas perguntas tenham uma resposta convincente diante do Evento do Natal do Senhor. A fé abre-nos um novo horizonte, o horizonte do Reino! Celebramos este evento a partir de nossa fé na pessoa de Jesus Cristo. Para acolhê-lo será preciso desaprender muita coisa e assimilar valores que ainda não foram assimilados e muito menos
cultivados. O Evento do Natal nos faz um desafio: Contemplemos a Caravana de Jesus! Não é simples. Que mundo Ele encontrou em Belém quando se fez presente no meio de nós? Um mundo onde não havia propriamente lugar para Ele. A Casa de Davi seguramente não seria a sua casa, pois ali, quem reinava era Herodes. Uma casa, onde a ambição pelo poder e a riqueza imperavam. A casa da família de Davi espelhava a ambição, o poder do mais forte sobre o mais fraco e, consequentemente, todos os contravalores que uma família deve evitar. Uma casa de poder e honras, embora estivesse sob o jugo do poder do Império Romano. Jerusalém era a cidade mais importante do ponto de vista eco-
nômico, do ponto de vista do poder. Belém era uma cidade pequena. Não era considerada como importante, não chamava a atenção para si. Era uma cidade sem poder e sem estrutura. No tempo do recenseamento contava com poucas hospedarias e todas estavam ocupadas, sem espaço para a Caravana de Jesus. José e Maria vinham de Nazaré. Eram forasteiros. Maria estava grávida de Jesus. Procuraram algum lugar nas hospedarias e não encontraram. O Rei que deveria vir ao mundo não encontrou lugar na sociedade de seu tempo para um nascimento digno de um rei. O Natal do Senhor, a quem chamamos de “Rei”, ensinou-nos um novo significado do que é “rei e reinado”. Um rei sem poder e
poderoso! Um reinado sem lugar, reinando e convocando para o lugar de seu reino. Um lugar onde o poder está no despojamento e na simplicidade. Um lugar onde o poder é Amor. Um lugar onde as pessoas amam e são amadas. Não há espaço para o ódio, a avareza. A ternura une os corações. O menino é livre e chama os adultos a tornarem-se crianças. Um lugar onde a Morte é derrotada pela Vida. É Natal que culmina na Páscoa! Vitória do pequeno, vitória do fraco, vitória daquele que não tem lugar. Feliz Natal, amigo! Seja qual for o lugar em que você se encontra, Jesus nos convida para a sua caravana de Amor. Feliz Natal! Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. Arcebispo Metropolitano de Vitória ES
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Atualidade
O ano da
medição de
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no que não é de eleição, como é o caso de 2013, costuma chamar pouca atenção do eleitor menos atento. Mas isso não significa que o mercado político não esteja em ebulição. Estamos no ano da preparação eleitoral e também da medição de forças entre as várias lideranças do Estado. O governador Renato Casagrande foi eleito num palanque com 17 partidos. Em 2013, entretanto, viu aliados pularem do seu barco. A ordem para a sua equipe foi a de colocar o pé no acelerador e mostrar serviço. Investimento bilionário tem sido garantido, mas sobre este governo
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sempre pairou uma impressão de falta de agilidade na execução de projetos. O objetivo, portanto, era reverter essa imagem e apresentar a proposta de grandes obras, como BRT (o corredor exclusivo de ônibus) e a Quarta Ponte – que só serão concluídos depois deste mandato. Investimentos na segurança foram feitos, os índices melhoram um pouco, mas este continua sendo um calo desta gestão, já que a sensação de insegurança persiste. A proposta desde o início também foi de governar para o social, reduzir a pobreza. Aliar isso ao desenvolvimento e à execução de grandes projetos continua sendo um desafio.
De olho na sucessão, PR e PMDB romperam com Casagrande neste 2013. Liderado pelo senador Magno Malta, o PR se prepara para construir um palanque adversário ao do governador, que deve tentar a reeleição. Por conta dessa ruptura, o PR perdeu militantes, que preferiram ficar do lado da atual gestão a entrar no palanque do senador gospel – liderança que, segundo as pesquisas, não pode ter seu tamanho político desprezado. O PMDB, por sua vez, aposta no nome do senador Ricardo Ferraço para disputar a cadeira de Casagrande, mas a estratégia de lançar o ex-governador Paulo Hartung não é descartada. Foi o próprio Hartung quem juntou forças ao redor de Casagrande em 2010. Mas em política tudo muda o tempo todo. Casagrande nunca foi do grupo político do ex-governador
forças e o PMDB nunca se sentiu prestigiado o suficiente neste governo – que é de continuidade, mas tem colaboradores que renegam o passado de estabilidade financeira e de gestão que herdaram. O resultado foi que o PMDB passou a criticar o governo. O partido precisava arrumar um motivo para a ruptura e a bandeira encontrada foi a seguinte: problema de gestão, de falta de continuidade administrativa – palavras de Ricardo Ferraço. O problema é que o partido rompeu com o governo e as lideranças e colaboradores da Assembleia, não. O secretário de Transportes continua sendo uma indicação do PMDB. A base na Assembleia permanece dando apoio a Casagrande. Faltou combinar, portanto, com a base antes
“Os protestos deste ano foram variados, mas tiveram em comum o grito contra a corrupção. Alguma repercussão desse movimento pode vir nas urnas
de sair atirando. No meio do caminho ainda tem o PSDB. O tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas disputou a eleição com Casagrande em 2010, mas o socialista abriu espaço para ele em sua gestão após a derrota na campanha pela Prefeitura de Vitória. Tempos depois, Luiz Paulo deixou o cargo técnico e lançou o ex-prefeito Guerino Balestrassi ao Palácio Anchieta. A luta por espaço em 2014 é legítima. Até porque o cenário
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nacional também estimula isso. Casagrande é do mesmo PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Se Campos for candidato a presidente, haverá uma ruptura natural com o PT de Dilma Rousseff. Por isso o PT local também começou o debate sobre se apoia ou não a gestão de Casagrande. Para manter aliados no mesmo barco, o governador tem sinalizado neutralidade no palanque presidencial, mas algum impacto na sua ampla base essa articulação nacional deve trazer. O PSDB também se move em função do palanque nacional para Aécio. Como o PMDB é parceiro do PT nacional, pode haver uma aproximação local
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entre esses dois partidos – embora a verticalização das alianças não esteja valendo para o próximo pleito. A construção desses apoios também vai passar pela disputa ao Senado. O PT tem interesse em garantir uma vaga para João Coser. O PMDB pode lançar Paulo Hartung para essa cadeira. O PR atraiu o delegado Fabiano Contarato para a legenda justamente para tentar emplacar um novato para o Senado. A disputa ao governo também envolve acordos para esses espaços. A partir desses acordos, rupturas de agora podem se transformar em alianças amanhã. 2013 foi, portanto, o ano
dessa movimentação política, de preparar terreno para 2014. Até abril os principais lances políticos vão acontecer: costura de alianças, consolidação ou não de candidaturas. Os recados de 2013 nas ruas também não devem ser desprezados. A eleição de 2012 já havia mostrado que o eleitor estava interessado no novo. O desgate do modelo político tradicional explica, em parte – porque há outros fatores envolvidos –, as eleições de Juninho (PPS) em Cariacica, Rodney Miranda (DEM) em Vila Velha e Luciano Rezende (PPS) em Vitória. Em 2013 veio a onda de protestos nas ruas e esse desejo de mudança ficou mais evidente. Os protestos foram variados, mas tiveram em comum o grito contra a corrupção e a impunidade. Alguma repercussão desse movimento pode vir nas urnas. Mas antes da eleição de 2014 ainda há a Copa do Mundo no Brasil. Se geralmente o eleitor só se preocupa com a política depois dos jogos, esse comportamente deve ficar ainda mais acentuado com os jogos acontecendo no nosso território. O que esperamos é que aconteçam boas escolhas e que a política cumpra seu papel de transformação social. E que os eleitos cumpram o que prometem quando estão no palanque. Andreia Lopes é jornalista e editora executiva de A Gazeta
micronotícias
Terceira idade conectada Em um período de seis anos (2005-2011) o número de pessoas com mais de 50 anos com acesso regular à internet aumentou mais de 200%. E nas redes sociais esse
público passou a investir mais tempo. Um estudo mostrou que no último ano, a presença das pessoas consideradas da terceira idade nas redes sociais dobrou em relação a utilização da Internet de forma geral. Para eles, esse espaço aproxima o contato com familiares e empresas, e ainda é um meio de entretenimento, devido a presença de jogos online. O grupo utiliza ainda serviços como portais de notícias e viagens, email e sites de banco e e-commerce para manter-se conectado.
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Capixaba nos EUA O aluno do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), João Marcos Preato Deolindo, foi o único capixaba selecionado para participar do programa Jovens Embaixadores, nos EUA, para uma viagem de três semanas. O intercâmbio é oferecido
anualmente pela Embaixada americana a uma média de 35 alunos da rede pública de todo o Brasil. Durante a primeira semana do intercâmbio, os vencedores das bolsas visitam a capital americana, Washington, e seus principais monumentos. Participam de reuniões em organizações dos setores público e privado, visitam escolas e projetos sociais e participam de um curso sobre liderança e empreendedorismo jovem. Depois, os jovens são divididos em subgrupos e cada um deles viaja para um estado diferente nos Estados Unidos, onde são hospedados por uma família americana, assistem aulas e interagem com jovens da sua idade, participam de atividades sociais e culturais na comunidade e fazem apresentações sobre o Brasil.
Ovo inteligente Para enfrentar o desafio de reduzir as contas de energia de sua casa, um americano solucionou o próprio problema criando o “Energy Egg”.
O ovo inteligente detecta a presença de pessoas no ambiente, e caso não tenha ninguém, o dispositivo desativa automaticamente todos os aparelhos eletrônicos que não estejam em uso. A invenção está sendo comercializada pela empresa TreeGreen, de Glasgow, na Escócia.
Menos sódio, mais saúde Laticínios, embutidos e refeições prontas irão diminuir em 68% o teor de sódio da sua composição. A iniciativa faz parte do quarto acordo firmado entre
o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, para a redução de sódio nos alimentos industrializados. Na lista constam alimentos como empanados, hambúrgueres, linguiça, presunto, requeijão e salsichas. O acordo, firmado em 2001, prevê a redução gradativa dos teores do mineral de produtos industrializados, até 2020. Em cada fase, uma classe de produtos alimentícios é incorporada. O cálculo é que 28 mil toneladas de sódio sejam retiradas do mercado até 2020.
A vantagem de ser bilíngue Pesquisadores do Reino Unido e da Índia descobriram que falar mais de uma língua ajuda a retardar em até cinco anos o surgimento de demência, mostrando-se mais eficiente do que o uso de medicamentos. Os pesquisadores
acreditam que as trocas entre diferentes sons,
palavras, conceitos, estruturas gramaticais e normas sociais que os falantes de duas ou mais línguas diferentes precisam fazer acabam sendo uma forma natural de treinamento do cérebro, fornecendo uma espécie de “reserva cognitiva” que tende a ser mais eficaz do que qualquer treino artificial, como jogos e outros exercícios.
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entrevista Vander Silva
Viver pela Arte,
Educar pela Arte Algumas pessoas perseguem uma vida artística, a arte-educadora Jeanine Pacheco Moreira Barbosa, encontrou-se no meio dela.
vitória - Em que consiste o
seu trabalho? Jeanine - Através da Humanizarte Assessoria Educacional procuro desenvolver grupos e pessoas através da arte, o que é bastante valioso no mundo de hoje. As empresas buscam qualidades nos funcionários que vão além do
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ganho material, pois muitos dos embates que acontecem dentro de uma empresa é porque não há diálogo e não sabem partilhar o que sabem. Às vezes a pessoa atende mal o cliente porque é mal humorada, não sabe se relacionar. Aí entra o meu trabalho com ferramentas, formações e
cursos que trazem embutidos os valores necessários. vitória - Qual o papel da arte
nisto?
A arte tem esta capacidade de religar as pessoas com o que é mais sagrado, a essência humana. Aqui no Brasil
Jeanine -
a contação de histórias tem um caráter lúdico, não um aspecto de formação do ser humano. Em Portugal conheci a linha de estudo ‘Contos que Curam’ na qual é trabalhada a formação do ser humano através da contação de histórias, assim procuram curar a alma através da vivência. Com esta experiência formei a ‘Encantaconto’, uma companhia de contação de histórias. Através dos contos buscamos, com as metáforas da vida, passar os conceitos e questões de relacionamento. Acredito que os contos e a arte têm a capacidade de mover alguma coisa em algumas pessoas e estas procuram, dentro delas mesmas, a motivação. Primeiro pensei em atuar com as crianças, mas foram surgindo várias oportunidades de trabalhar com o público adulto também. vitória - O seu trabalho atinge ou modifica o seu ser? Jeanine - As pessoas me dizem que quando falo sobre isto fico com um brilho no olhar, sou motivada pelo que eu faço, eu amo o que faço. Eu faço o que eu acredito, deixei a sala de aula para trabalhar por conta própria, com os riscos que isto representa, para me entregar de corpo e alma. vitória - Sua primeira formação
foi magistério e depois optou por estudar Artes Visuais. O que a fez seguir esta licenciatura? Jeanine - Como disse Beethoven uma vez: “Foi só a arte que me salvou”. Desde criança tinha inclinação para o canto e ao mesmo tempo dizia para a minha mãe que queria ser profes-
“Acredito que os contos e a arte têm a capacidade de mover alguma coisa em algumas pessoas e estas procuram, dentro delas mesmas, a motivação
sora, então antes da artista existia a educadora que sempre esteve presente e nunca vai morrer. Quando me formei no magistério vi que tinha habilidade para cantar, eu era elogiada pela minha voz bonita e comecei a levá-la para os hospitais. Eu morava no Rio de Janeiro e fazia visitas no hospital de hansenianos e em outros locais nos quais eu tocava violão e cantava. Depois fui dar aulas no Ciep, no Rio de Janeiro, que era um local onde estudavam vários jovens em situações de risco. Eu sentia uma certa dificuldade em dialogar com os alunos que eram muito de fora da minha realidade, tinham problemas com as drogas, eram agressivos e tudo isto me assustava. Mas eu sentia que eles tinham uma musicalização muito presente, tocavam pagode e cantavam. Um dia tive a ideia de levar um violão e antes mesmo de pedir silêncio comecei a tocar e a cantar. Com isto obtive a atenção dos alunos e aí percebi que me expressava melhor por meio da arte, que foi meu canal de comunicação com eles. A turma ficou bem envolvida comigo e chegamos até a ganhar um festival de teatro. Mesmo sem ter formação em artes comecei a trabalhar música com os alunos. Era uma experiência gratificante, e através da arte desenvolvemos vários trabalhos. vitória - Quando veio a necessidade de formação? Jeanine - Quando mudei para Vitória em 1993, dei aula durante três anos na Fundação Bradesco e 10 anos no Marista, onde depois de um ano me queriam como professora de música. Eles acreditaram em mim e fui bus-
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entrevista
tive que aprender sobre figurino, iluminação e sonoplastia. Muitas pessoas me ajudaram neste período.
Arte não é só talento, tem o lado humano, saber se relacionar. Pode ser bom, mas tem que ser dedicado e disciplinado” car a minha formação. Larguei o curso de Pedagogia, chorei muito por isso, mas tinha fé que Deus reservava para mim algo melhor. Prestei vestibular para Artes Visuais da UFES e, apesar do receio pelo tempo sem estudar, passei em segundo lugar. Na minha primeira aula já senti que estava no lugar certo. Daquele dia em diante sabia que minha vida era viver pela arte e educar pela arte e daí em diante fui só me especializando e o que o diploma não me deu a vida me ensinou. Com o ‘Encantaconto’
vitória - Como foi a opção de
sair da escola e criar a própria empresa? Jeanine - Foram 25 anos de magistério e cresci muito com esta experiência, mas em alguns momentos dentro da escola eu me sentia amarrada. Sei que o mundo precisa de regras, mas eu queria fazer mais. vitória - Foi uma escolha
difícil?
Jeanine - Obtive bastante apoio
do meu marido e filhos. A estrutura familiar tem que ser boa, porque tem mês que entra dinheiro e no outro não consigo contribuir financeiramente em casa, mas Deus é bom e no outro mês ganho o suficiente para repor o dinheiro do anterior. Mas, com o apoio dos meus filhos Thainá e Lucas e do meu marido Luciano, tenho a estrutura que preciso.
vitória - Então para a arte
o que faço.
vitória - Trabalhar com arte
vaidoso por natureza. Como trabalha com isto? Jeanine - Procuro ficar longe disso e não me sinto afetada pela vaidade, mas lido com muitos
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Jeanine - Sim, sempre presente independente do credo. Procuro o ser humano antes de tudo. Gosto de harmonia, sem brigas.
vitória - E a motivação?
vitória - Dizem que o ator é
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vitória - Espiritualidade?
não basta o talento? Arte não é só talento, tem o lado humano, saber se relacionar. Pode ser bom, mas tem que ser dedicado e disciplinado.
Jeanine - Sou motivada por amar
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artistas vaidosos que contrato. Procuro tratar todos com igualdade e respeito. Existem atores maravilhosos, mas que não sabem se relacionar em grupo. Sou pelo diálogo, às vezes fico chateada, magoada, mas não consigo ser a ditadora, portanto escolho muito bem com quem vou trabalhar. Procuro trabalhar com pessoas que se importam com as outras e que saibam de suas obrigações. Em casa com meus filhos é assim, todos têm suas tarefas e são cobrados por elas, acredito que assim eles desenvolverão autonomia. Todos têm que conciliar trabalho, estudo e família.
Jeanine -
compensa? Jeanine - Financeiramente se recebe menos, mas se comparar com a realização pessoal que tenho hoje, compensa a falta de dinheiro. Não ganho rios de dinheiro, mas sou feliz.
arte sacra
O LUGAR DA PALAVRA “Portanto, ó Israel, ouve e cuida de pôr em prática o que será bom para ti (...). Ouve, ó Israel: Iahweh nosso Deus é o único Iahweh!”. (Deut 6,3)
A
Palavra tem papel fundamental para a comunidade judaica. A sinagoga, lugar da reunião do povo judeu fora doTemplo, traz no centro do seu espaço físico uma espécie de estrado de madeira mais alto e fechado, o Bema, onde os livros sagrados são lidos e os salmos e refrões meditativos cantados. Herdeiros da liturgia judaica, somos povo da escuta, reunidos em torno das mesas da Palavra e da Eucaristia, onde Cristo, o Verbo do Pai, nos fala quando as Sagradas Escrituras são lidas. Para conhecer Jesus é preciso conhecer a Bíblia Sagrada como disse São Jerônimo e, o próprio Jesus afirmou: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8, 21). Hoje nossas igrejas reservam um lugar especial para o Livro Sagrado. O ambão, estante especial onde são colocados o Evangeliário e Lecionário, fica
próximo ao altar porque é neste que se centraliza o mistério que celebramos na Eucaristia e, é para ele que voltamos nosso olhar durante as celebrações. Juntas, as mesas da Eucaristia e da Palavra, concentram e congregam os participantes da liturgia. O ambão, portanto, deve ser único, colocado em destaque de tal forma que facilite a visibilidade e a escuta. A Palavra proclamada deve suscitar nos
Santuário de Fátima na Serra: Ambão em mármore branco apicoado e polido
Sinagoga Judaica O ‘Bema’ no centro do espaço
ouvintes uma atitude de resposta. Por isso, Ela deve ser anunciada com dignidade, seja por parte de quem anuncia, seja pelo local onde está colocada. Os materiais para construí-lo devem ser nobres e, de preferência, naturais, como a pedra e a madeira, segundo orientações do Missal Romano. Sua estrutura seja estável e traduza uma unidade de forma e material com o altar e a cadeira da presidência, com o objetivo de ajudar a exprimir seu significado litúrgico. O ambão é o lugar para onde se volta a atenção dos fiéis durante a Liturgia da Palavra. Raquel Tonini, membro da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese de Vitória e Grupo de Reflexão do Setor Espaço Celebrativo da Comissão Litúrgica da CNBB
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Mundo litúrgico
o
Tempo
LITÚRGICO
ENRAIZADO NA C
omeço citando a teóloga liturgista Ione Buyst: “Nossa vida transcorre num emaranhado de ritmos e tempos da vida de cada um de nós, os ritmos e tempos da natureza, os ritmos e tempos da vida em sociedade etc. Nascemos, crescemos, passamos por todas as etapas da vida, e sabemos que um dia, implacavelmente, a morte nos colherá. A respiração e as batidas do nosso coração acusam que estamos vivos. O nascente e o poente, as fases da lua, a alternância das estações, etc. determinam em boa parte nossas atividades e nossos relacionamentos... A vida em sociedade também tem seus ritmos e tempos: trabalho... e descanso, festa ou lazer; eleições etc. O ritmo e o rumo da história nos interpelam: Para onde vamos? Quem conduz a história? Será tudo puro acaso? Os pobres estarão condenados a sofrer para sempre? Tem sentido lutar por melhores condições de vida e por um mundo mais humano? Qual o sentido de nosso caminhar histórico
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pessoal e coletivo? E o cosmo, com o movimento de planetas, estrelas, poeira cósmica? De onde vem e qual o seu destino?” (Mistério celebrado: memória e compromisso II. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 105-106).
gurada uma passarela no local, ela exclamou aliviada: “Graças a Deus!”. Ela não disse “graças ao prefeito ou ao governador”. Ela disse “graças a Deus”. Ela atribuiu a obra a Deus. No Novo Testamento, com o advento de Jesus Cristo, o Filho de Deus feito um de nós, visivelmente engajado na história humana, podemos sentir como é de fato a presença ativa do Eterno nos acontecimentos humanos. Tanto é que “já não somos nós que vivemos, mas é Cristo que vive em nós” (Gl 2,20). Assim, nosso tempo e, nele, todas as nossas atividades estão permeadas deste Eterno. Por isso, amo o que proclamamos na missa de Natal: “Deus..., no momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos” (Prefácio III do Natal).
história Na tradição bíblica do Antigo Testamento, o ritmo e o rumo da história é visto como totalmente permeado pela presença ativa de Deus na história. O tempo é visto como marcado pelas intervenções gratuitas do Senhor na história do seu povo. Todos os acontecimentos significativos da vida do povo são referidos a esse Deus. Como a história da dona Aparecida, hoje, que viu sua filha e muitas outras pessoas serem atropeladas ao atravessarem a movimentada via próxima à sua casa. No dia em que foi inau-
Usamos a expressão “tempo litúrgico”, “ano litúrgico”. Por que “litúrgico”? Tem a ver com “liturgia” que, na língua grega, significa “prestação de serviço”. Isso mesmo: Se você está prestando um serviço (voluntário ou remunerado) à comunidade ou a uma pessoa, em grego se diria que você está fazendo uma “liturgia”. Ora, para nós cristãos, Deus, em Cristo e no Espírito Santo, é o nosso maior “prestador de serviço”, isto é, o realizador da mais perfeita “liturgia”: Ele salvou e continua salvando em meio a toda história de luta por qualidade de vida. Nosso tempo está todo permeado da eterna “liturgia” de Deus. Por isso, ao tempo em que celebramos este mistério damos precisamente o nome de “tempo litúrgico”.
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM Instituto Teológico Franciscano, Petrópolis/RJ
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espiritualidade
EU ESPERANCEIO, TU ESPERANCEIAS...
O
nosso querido Papa Francisco tem feito uma interessante distinção entre otimismo e esperança. Segundo ele, o otimismo é algo humano e a esperança é divina. Portanto, o otimismo, sendo simplesmente humano, tem seus limites. A esperança sendo divina participa da infinitude da eternidade. Não há limites para a esperança. O símbolo da virtude da esperança é a âncora. Mais do que conquistar algo, a esperança refere-se à segurança. Podemos então nos perguntar: onde coloquei a minha âncora? Onde minha vida está ancorada? De fato, parece que algumas pessoas estão literalmente desancoradas. A vida delas não tem rumo. Caminham ao léu e justificam-se dando o nome de liberdade ao que na realidade chama-se insanidade ou irresponsabilidade. O cristão e as pessoas boas têm uma âncora. Onde sua vida está ancorada? Feliz aquele que estiver ancorado em Deus. Aconteça o que
acontecer, ao longo da existência, ele sempre repetirá como o Jó sofredor: “Deus deu, Deus tirou. Bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1, 21). Infelizmente alguns ancoram a sua existência no dinheiro, outros na beleza, outros na inteligência, no poder, no prazer... Mas, essa âncora dá somente uma falsa sensação de segurança e logo se desprende, deixando a pobre alma sentindo-se solta e perdida no mar da vida. E nem sempre o mar está calmo. No mar agitado, elas fatalmente se desesperam. O cristão sabe que “a esperança é como âncora para a nossa vida. Ela é segura e fir-
me, é penetrante até o outro lado da cortina...” (Hb 6,19). Nas coisas humanas temos acesso somente do começo até à metade das coisas. Desconhecemos o final. Não sabemos como as coisas terminarão. Aqui entra a esperança cristã: Tudo sempre terminará em Deus. Portanto, tudo sempre terminará bem. Deus é o princípio (o meio) e o fim de toda a realidade. Por isso a esperança daquele que crê é inabalável, pois não se apoia no esforço pessoal ou nos resultados humanos, mas se apoia na Força de Deus. Assim sendo, para quem tem fé, o sucesso ou fracasso pertencem a Deus e não aos homens. Só Deus sabe o que, de fato, é um sucesso ou fracasso para nós. Infelizmente, na nossa miopia espiritual vivemos ao sabor dos nossos medíocres e mesquinhos sucessos ou fracassos. Coloquemos no Senhor a nossa esperança. Dom Rubens Sevilha, ocd Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
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comunidade de comunidades
Ele está no meio O
dia 25 de dezembro sempre é aguardado com grande expectativa por todos nós. É dia de Natal. Celebramos o nascimento de Jesus Cristo, Luz do Mundo e Senhor das Nações. Em todas as igrejas e em nossas casas, orações, enfeites e a troca de presentes deixam claro que se trata de uma noite especial. Entretanto, para algumas comunidades da Arquidiocese de Vitória, o Natal tem uma motivação a mais: elas receberam o nome “Jesus Menino” ou “Menino Jesus’. A maioria delas não surgiram nesta data, mas por decisão da comunidade tem o Cristo, enquanto menino, como “padroeiro”. Sônia Rosa Nunes que participa da comunidade de Sertão-
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-Velho, pertencente a Paróquia de São João Batista, na zona rural de Cariacica, relata que é uma sensação diferente ter o Menino Jesus como padroeiro. “Muitas pessoas no Natal festejam com suas famílias, nós aqui celebramos em comunidade. Fazemos Vigília até a meia-noite e Ceia partilhada na noite de Natal”. E se não bastasse a expectativa para a grande noite, ela contou que o Advento é de muito trabalho na comunidade. Todos se envolvem nos preparativos. “Muitas pessoas que moravam aqui quando novas e hoje moram na cidade, voltam no Natal para celebrar com quem ficou aqui. A lembrança da data é vivida de maneira muito forte em nossos corações”, conta. Sônia resumiu como uma
dádiva a comunidade ter o nome de Menino Jesus. “Vivemos muitas dificuldades, mas Ele, enquanto menino é como uma semente, sempre um novo nascimento, um recomeço. Ele cresce, mas sempre fica criança em nossos corações”, finalizou. Dificuldades também existem na CEB Menino Jesus, em Lagoa de Carapebus, na Serra, mas para Fátima Figueira, coordenadora da comunidade, ter Jesus como modelo de vida é um estímulo para superá-las. “Buscamos celebrar e viver o dia a dia da nossa comunidade com simplicidade, humildade e na acolhida, assim como Jesus”. Ele veio para mudar a história. Na noite de seu nascimento, brilhou mais forte a estrela que indicou aos reis magos a direção
de nós para o esperado encontro, em Belém. E é esta estrela que também guia até hoje a Comunidade Jesus Menino, em Campo Grande que preparou uma novidade para os festejos deste ano. “Este ano a novena não será nas casas das famílias, mas na igreja, com missa todos os dias”, contou a coordenadora dos Ministros de Eucaristia na comunidade, Nilda Aparecida da Silva. Ela classificou a identificação da Igreja de “Jesus Menino” como o maior presente que a comunidade poderia ter. “Queremos crescer em graça e sabedoria junto com Jesus, mas que Ele continue sempre criança no meio de nós.”
Comunidades Jesus Menino Área Benevente Paróquia de São Pedro – Samambaia, Muquiçaba Área Cariacica-Viana: Paróquia de São João Batista – Sertão-Velho, Cariacica-Sede Paróquia Virgem Maria – Nova Brasilia Paróquia do Bom Pastor – Campo Grande Área Serra Paróquia de Nossa Senhora da Penha – Lagoa de Carapebus Paróquia São Paulo Apóstolo – Maringá Área Serrana Paróquia de São Sebastião do Alto Guandu – Afonso Cláudio Área Vila Velha Paróquia Santa Mãe de Deus – Santa Mônica
Gilliard Zuque
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Reportagem Maria da Luz Fernandes Letícia Bazet
Mostre-me a sua O
mês de dezembro e a proximidade do Natal faz surgir nas pessoas, para além de crenças religiosas, sentimentos de bem e desejos de paz. Pode-se mesmo dizer que o Natal traz à sociedade a vontade de acreditar no ser humano. Esse sentimento coletivo que paira no ar e se repete a cada ano é mais uma vivência que compreensão. É fé, no sentido comum da palavra que significa acreditar em algo ou alguém. Mas quando a mesma palavra é usada no sentido re-
“Tudo que é feito de coração aberto é manifestação de fé.” Wilson Nunes professor de teatro
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fé sem obras... ligioso adquire outra dimensão. Ter fé cristã significa acreditar na Palavra de Deus, na pessoa e nos ensinamentos de Jesus Cristo e na doutrina da Igreja. Por isso, pessoa de fé, no sentido religioso, é aquela que acredita em Deus a partir da perspectiva de uma religião e vive na esperança porque como diz a carta aos Hebreus (11,1) “a fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um modo de conhecer realidades que não se vêem”. Iniciamos o Ano da Fé em 11 de outubro de 2012 ouvindo o apelo do Papa emérito, Bento XVI, para repetirmos a cada dia com convicção: creio Senhor, reafirmando as verdades do Credo católico. Convicção e identidade sintetizam o pensamento do Papa ao propor este tempo de reflexão. Encerramos em 23 de novembro ouvindo o Papa Francisco dizer aos ca-
tecúmenos que o Ano da Fé continua porque cada cristão precisa responder diariamente ao convite de Jesus que o chama a ser discípulo e o envia a anunciar o Evangelho e dar testemunho com a vida e a alegria da fé. Neste contexto de preparação ao Natal e continuidade do Ano da Fé, a Revista Vitória ouviu como as pessoas definem e vivem a fé. Sebastião Gomes, voluntário, começou dizendo que “não acredita muito na teoria da fé” e acrescentou “se você acredita que aquilo que pratica pode ser bom para o outro é uma manifestação de fé. O meu trabalho voluntário no CVV, Centro de Valorização da Vida, e Especialistas do Riso, é uma manifestação de fé porque eu acredito que o ser humano pode se reconstruir. E quando a gente acredita no outro também é uma manifesta-
ção de fé. Acreditar no outro é ter fé que o outro pode superar suas dificuldades. Então essa é a minha crença, essa é a minha fé”. Realmente definir fé não é simples ou fácil, porque vivência é difícil de explicar. Mas a fé compreende-se pelo testemunho, pelo sentimento de bem, de caridade, de amor. Fátima Guerra, membro da Fraternidade e Vida, diz que fé é Deus, acreditar na vida, em Maria e acha que algumas pessoas têm fé, mesmo sem cultivá-la ou vivê-la, mas também não entende fé sem ação e lembra a influência dos franciscanos na juventude. “Quando os jovens queriam ficar em atividades na igreja, os franciscanos diziam: vamos para as praças, se a gente não for, vai a droga e a violência”. Nilda Sartório, militante política, diz que ter fé é acreditar em Deus, em si mesmo e nas pessoas, e não
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Reportagem
esquecer os valores e crenças seja onde for o lugar de trabalho e de convivência. Para Wilson Nunes, professor de teatro, tudo que é feito de coração aberto é manifestação de fé. Ele diz que embora nascido em família católica, hoje não pratica nenhuma religião, mas gosta do rito e rituais católicos e em qualquer lugar do mundo sempre procura uma igreja
“Vamos para as praças, se a gente não for, vai a droga e a violência.” Fátima Guerra membro da Fraternidade e Vida
como forma de expressão de fé. Para ele a fé é individual porque “habita no coração da pessoa”. Zezé Roque, funcionária pública e, como ela se auto-define, ambientalista, entende fé como algo que a gente mostra com a vida e exemplifica “eu sou ambientalista, então, vou trabalhar de ônibus, trabalho com reciclagem, separo lixo...eu manifesto minha fé em obras, com atitude”. Luiz Carlos Barreto, aposentado, fez uma promessa de ir ao Convento da Penha e todo final de semana vai lá pedir a Deus e a Nossa Senhora que nada abale a sua fé, porque para ele ter fé é acreditar que vai acontecer, que a vida é um milagre e que rezar é conversar com Deus. Quando conversamos com
as pessoas sobre fé, assunto que não está nas pautas diárias, percebemos como a frase de São Tiago (2,17) “a fé sem obras é morta” está presente no entendimento quer elas saibam ou não de sua existência. A fé manifesta-se no jeito de viver, na prática, no comprometimento, na aplicação de valores, enfim “eu não consigo dissociar fé e vida”, como diz Zezé ou “rezar é muito bom, mas o Reino de Deus só vai acontecer se nós construirmos esse Reino, nós somos as pernas e os braços da Igreja”, como discorreu Fátima. Cada um tem seu jeito próprio de entender e viver a fé. Wilson, para cada peça de teatro que dirige, escolhe um santo para padrinho. A imagem do santo é colocada na bilheteria, e nos camarins são distribuídos santinhos com a oração. Antes do espetáculo a primeira música a tocar é a do santo, depois a sequência fica por conta dos sonoplastas. Uma forma de manifestar a própria fé e divulgar para o elenco e público a tradição e devoção. Wilson e todos os outros personagens com quem conversamos falaram que em suas vidas a fé está no agir. Ao mesmo tempo, porém, falam de oração, de conversar com Deus, de tra-
dição religiosa, da influência da família, da herança que carregam, das experiências que fizeram em grupos e comunidades eclesiais, mas no final admitem que a fé é maior e está acima da religião. “Tem pessoas que manifestam a fé com a caridade ao próximo. Não participam de nada de Igreja, mas fazem uma obra social com muito amor e Deus é amor”, concluiu Zezé buscando explicação para a própria compreensão de fé e vida. Enquanto procuravam palavras e frases para confirmar essa ideia comum de que fé é maior que religião e muito além de pertença a este ou aquele grupo, Fátima chamou isso de maturidade na fé. “Quando eu comecei no grupo de oração, o que estava fora daquilo, estava errado, era pecado...ao amadurecer na fé você vai aceitando que existem outras e muitas formas de viver a fé, você vai aceitando as pessoas e as coisas sem ficar julgando, questionando se estão de acordo com a sua crença ou não, isso é amadurecer na fé”. A fé de cada um só faz sentido quando posta, compartilhada na comunidade. Sim, a experiência é individual, pessoal. A vivência é do jeito de
cada um, conforme a etapa da vida, mas ela só é perceptível na vida da comunidade. O voluntariado, a atividade social, o cuidado com o meio ambiente são o resultado de valores talvez herdados, mas cultivados e que se tornaram propriedade pessoal para serem vividos em comum. O que move a ação que nasce da fé é a crença no Deus que transforma os corações, que promove valores, que chama para a missa e para a missão, como disse Fátima. Não importa qual o lugar da missão, o importante é que ela nasce de convicções que quando arraigadas são expressão de fé, farol na tempestade, alento nos momentos de fraqueza e alimento nas horas de dúvida. “Ter fé para mim é acreditar nas pessoas. Todos nós somos seres políticos, mas para nós que somos vinculados a algum partido político e escolhemos a gestão pública, o nosso compromisso na transformação social não é apenas técnico, mas de nos sensibilizarmos com a realidade e contribuirmos com alguma forma de mudança dessa realidade. Eu acredito que meus valores estão muito arraigados e onde eu for vou manifestar minha fé”, disse Nilda afirmando que precisa exercitá-los diariamente
“Se você acredita que aquilo que pratica pode ser bom para o outro é uma manifestação de fé.” Sebastião Gomes voluntário
nos desafios que surgem. Fé é a vivência, a experiência e a prática daquilo que cada um acredita. Nesse caso, os nossos entrevistados confirmam e vivem na compreensão do que acredita o Apóstolo Tiago. “Alguém poderia dizer ainda: ‘você tem fé, e eu tenho as obras. Pois bem! Mostre-me a sua fé sem as obras, e eu, com as minhas obras, lhe mostrarei a minha fé’”(Tg 2, 18).
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Caminhos da Bíblia
No olhar do Emanuel a
descoberta da f
O Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (...) a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4 )
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tempo novo, desejado por Deus e instaurado em Cristo, é um importante elemento do pensamento de Paulo e marca profundamente a sua teologia. Tal ideia indica a vontade e o desejo de Deus de se manifestar na história do homem. Este tempo novo, inaugurado em Cristo, é um sinal visível da intervenção divina na história do homem, já que Deus, regendo e tendo em suas mãos o tempo, envia o seu Filho, nascido de uma mulher, inserido na história dos homens por meio da fragilidade da carne humana - o Deus conosco. Neste tempo da graça, o Filho de Deus feito homem garante aos homens a adoção filial que é confirmada e selada com a plenitude do Espírito Santo, através do qual o homem reconhece que pode chamar de pai o Deus que o criou. Em Cristo, Paulo reconhece o cumprimento da promessa de Deus feita a Abraão, na qual ele prometia dar à terra uma descendência e a sua bênção a todas as nações. A fé em Cristo torna-
raternidade
-se o sinal por excelência desta participação integral ao grande tesouro das bênçãos divinas. O apóstolo reconhece ainda que em Cristo ocorre uma passagem que atravessa toda a história humana, na qual fazem parte do passado o pecado e a morte, as divisões e os privilégios baseados na lei. É inaugurado um tempo novo onde pela fé em Cristo, a graça de Deus, a liberdade e a
comunhão com o Pai entram definitivamente na história humana. Assim sendo, novos laços surgem no coração da família humana, marcados pela caridade fraterna e por um forte compromisso de fé na defesa e promoção da vida, especialmente dos mais fracos, necessitados e excluídos. A Igreja celebra com alegria a presença do Emanuel, do Deus conosco que nos visita com a sua Luz e com a sua Palavra. Em seus olhos abertos contemplamos e somos acolhidos pelo infinito amor do Pai, que por meio deles abraça toda a humanidade. Nesta experiência de acolhida do Deus que se faz homem, o apóstolo Paulo vê nascer uma comunidade de discípulos e discípulas, irmãos em Cristo. Uma nova e verdadeira família de irmãos e irmãs que reconhece Deus como Pai e assume assim uma atitude
filial, um compromisso de amor, que nasce do Pai e a ele retorna, estendendo-se a todos por meio de atitudes concretas de fraternidade, missão e serviço. Para Paulo, o seu caminho de encontro com Cristo se deu durante toda a sua vida, desde o primeiro encontro, passando pela acolhida de sua missão, até chegar à entrega total de si mesmo. Sendo assim, acolher o Emanuel significa também tornar-se seu discípulo e discípula, seguir seus passos e deixar-se moldar por Ele, de modo que a Graça de Deus transforme a vida diária no lugar da fraternidade, da missão e do serviço. O Emanuel nos mostra que somos filhos e filhas de um mesmo Pai, Ele nos revela que nós somos todos irmãos! Pe. Andherson Franklin, professor de Sagrada Escritura no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura
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aspas
Cuidai da criação. Mas sobretudo cuidai das pessoas que não têm o necessário para viver. Papa Francisco, via Twitter (@pontifex_pt)
Se nos LIMITAMOS a orar pelo fim da violência no Brasil e mundo, escolhemos fazer o mais fácil. É como deixar tudo para Deus! Padre Zezinho, via Twitter (@padrezezinhoscj)
Mesas em todas as casas. Pão em todas as mesas para que as pessoas cresçam com saúde e paz. Dom Mauro Morelli, via Twitter (@dmauromorelli)
Há em todo ser humano uma tendência a cercar-se de muros, a encastelar-se, a criar uma rede de proteção. Nada mais contrário ao Seguimento de Jesus que a vida instalada e uma existência estabilizada de uma vez para sempre, tendo pontos de referência fixos, definitivos, tranquilizadores. Padre Helder Salvador via Facebook
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especial
EA
PALAVRA
SE FEz carne!
A
ssim o Evangelista João inicia o quarto Evangelho. No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus e era Deus. E este mesmo Verbo se encarnou e habitou entre nós. Este é um dos mistérios centrais da fé cristã. Nenhuma outra religião pode afirmar a encarnação de Deus. Este é um evento salvífico e não o nascimento de uma nova divindade, pois a Palavra está no início e era Deus. O nascimento de Jesus não é um fato abstrato, mas uma realidade visível. Todo o mundo pode ver, pode tocar, pode sentir. Nosso Deus é um Deus-conosco (Emmanuel). No Antigo Testamento, o povo de Israel sentia a presença de Javé na tenda, no Templo, na história concreta. Esta crença é totalmente estranha às demais religiões. Assim, o povo de Deus não precisa olhar para o alto, pois Deus habita em sua proximidade. E ele habita em carne e osso. Não é apenas um símbolo que remete à presença de Deus. Não é um mito.
Santo Tomás de Aquino afirma que, através da Encarnação, nós professamos o mistério de Fé que Deus se fez carne e com isso, o homem foi divinizado. Deus fez-se amigo dos homens. É interessante esta reflexão de Tomás de Aquino. Seu olhar é de puro otimismo pela Criação. Pela Encarnação do Verbo há uma espécie de ascensão de nossa natureza. E este processo se completa com a Ressurreição. Estão ali os mistérios centrais da fé cristã. O Natal é, assim, um convite para viver em proximidade com cada pessoa, com cada criatura. As religiões antigas localizadas no hemisfério norte festejavam este mesmo dia como culto ao Sol invicto. Era o solstício de inverno, ou seja, momento em que o sol atinge o ponto máximo de afastamento da linha do equador – que leva aos invernos rigorosos das regiões do norte do globo terrestre. A partir daí, a terra congelada volta ao movimento de aproximação
do equador fazendo ressurgir a vida. O sol não desapareceu no horizonte, por isso, é vencedor. Venceu o frio e as trevas. Tudo volta a renascer. O Natal cristão é este evento de esperança, em que a vida renasce e ressurge em sua singularidade. É o habitar em carne e osso junto a toda criação; é o acontecimento de salvação que atinge a todos. É o momento da inclusão de toda a criação na ordem salvífica. A ceia de Natal nos une através do nascimento. Não é apenas um momento de confraternização, onde a bebida e a comida farta inebriam os corações e as mentes com as ideias de consumo. O Natal deve retirar-nos do frio da indiferença e levar-nos à convivência solidária e partilhada. A salvação acontece aqui e agora, pois o Menino Deus fez-se homem para redimir toda a humanidade. Edebrande Cavalieri Doutor em Filosofia
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Projeto Letícia Bazet
Instituto Verde promove a consciência ambiental
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leo usado e plástico transformam-se em cidadania, geração de renda e inclusão social para as pessoas atendidas pelo projeto Instituto Verde Vida, no bairro Ataíde, em Vila Velha. A economia solidária é a base de desenvolvimento do projeto, que atua como Banco Comunitário e possui uma moeda própria: a moeda verde. A iniciativa nasceu com as
discussões no Fórum Permanente da Bacia Aribiri, em um trabalho de conscientização ambiental para salvar o Rio Aribiri. Com a dificuldade de trabalhar com empréstimos, o projeto passou a atuar na base da troca, e assim, existe há cinco anos. O óleo e o plástico levado para o local é pesado e o valor é revertido em moeda social, a qual serve para comprar itens de cesta básica no galpão do projeto e ainda é aceita em farmácia, açougue, papelaria, um mercado na região e até em serviço de táxi. O projeto constrói, assim, cidadãos
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Vida e inclusão social com suas ações sabão, produzido e vendido no próprio local. A renda da venda do sabão é dividida igualmente entre seus produtores, que passaram por cursos para atuar nessa área. O projeto conta com a atuação de funcionários e, sobretudo, de voluntários, a exemplo de Seu Joãozinho que é o idealizador e cabeça-guia da ação. Essas pessoas levam o seu conhecimento
prático para escolas, universidades e empresas, ministrando palestras para crianças, jovens e adultos sobre a valorização do meio ambiente, cidadania, respeito com o próximo, entre outros valores cristãos, que norteiam a iniciativa. O Instituto Verde Vida aceita doações diversas. Para mais informações, contato pelo telefone (27) 3289-6785
capazes de gerar renda, incluídos socialmente e mais conscientes para a questão ambiental. Em 2008, ano de início do projeto, foram arrecadadas 25 toneladas de plástico. Em 2012, a quantidade mais que dobrou, chegando a 56 toneladas. O plástico que chega ao Instituto é vendido para uma empresa, que o transforma em peças para a construção civil. Já o óleo tem uma parte vendida para a produção de biodiesel, e o restante para a produção de
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ideias
Ex rudis:
tornar suave o que é rude, tornar liso o que é áspero
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az-se um padre de quê? Como o professor, o ator, o advogado, e tantos outros, o padre se faz de palavras. Das que escuta, das que fala. Há sempre tantas coisas a ouvir, e ainda mais a se dizer. Fico pensando aqui. Tantas. Sempre se espera do padre umas palavras. Ah, é certo, é uma pena, nem sempre dialogamos quando falamos! Pois que nossas palavras em muitos momentos não criam ecos. Talvez porque são proferidas como expressões de coisas prontas, pesadas. Receitas que todo mundo conhece, mas que apresentamos, cheios de vaidades, como se fosse uma grande novidade para aqueles ouvidos sedentos de sentido, mas tão prontos eles mesmos de resolverem suas questões. E as minhas palavras? Bem, quisera fossem poucas, bem poucas. Sempre me senti detentor de poucas palavras e de vontades poucas de dizê-las. Talvez por isso eu goste da escrita, que é uma conversa, mas silenciosa. As coisas que eu gostaria de fato de dizer seriam frases intercaladas por silêncios longos e por barulhos do ambiente, gargalhadas de crianças, algum passarinho qualquer com seu canto, e pela voz de outros, de alguns. Distraio-me e descanso ouvindo os outros, se bem que nem sempre ouço. Enquanto falam, muitas vezes, vou embora, viajo. Mas o padre fala. Ele tem que falar. Há tantas coisas a se dizer, há tantas coisas que se pede pra dizer, há tantas coisas que eles querem ouvir, eles necessitam. Também me vou cheio dessas necessidades de palavras, outras palavras, não as minhas, mas a dos
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outros. Sou explicitamente carente de palavras. Busco-as em livros, em escutas discretas da conversa dos outros na rua, no ônibus, em lugares assim. Busco-as no cinema, na literatura, na filosofia, na Bíblia, na música, na poesia. Mas especialmente o que desejo ultimamente quando o ofício me pede pra falar – o que significa quase todo dia – é carregar as palavras de varias possíveis e novas delicadezas. Eis que me treino nesses desafios. Reporto-me às suavidades que consegui juntar em mim nas muitas palavras dos outros que li-ouvi. Minhas palavras são dos outros. Faço-me de palavras, de palavras de outros. Há sempre bons outros a se ouvir. É preciso escolher. Na
“Minhas palavras são dos outros. Faço-me de palavras, de palavras de outros. Há sempre bons outros a se ouvir. É preciso escolher.
verdade só consigo lidar com as rudezas que estão em mim pelas palavras-vida dos outros. Elas me lapidam. A palavra erudição vem exatamente da tentativa de tornar suave o que é rude, de tornar liso o que é áspero. Ex rudis. Tirar fora a rudeza. E se formos ainda mais longe chegaremos à palavra rudus, que significa pedregulho. Ouço o refrão bíblico: o vosso coração de pedra se transformará em novo, em novo coração. Os padres passam por um longo processo de erudição, isso é certo. A nós, portanto, como a outros que passam por processos semelhantes, cabe uma pergunta: nos tornamos detentores e portadores dessas afabilidades-lisuras? Dauri Batisti
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prÁtica do saber Maria da Luz Fernandes
Alunos do Município de Vitória participam de teste na Feira de Tecnologia 2013
Basquete para pessoas com deficiência visual
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s instituições de educação superior desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão para atender à própria legislação que as regem. Nos projetos de pesquisa e extensão sempre surgem projetos e descobertas que beneficiam a comunidade ou têm uma aplicação prática social. O IFES, Instituto Federal do Espírito Santo, apresentou um
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projeto, na Feira de Tecnologia 2013, que pretende facilitar a vida de pessoas com deficiência visual no esporte e fez muito sucesso na feira, mesmo entre os visitantes sem deficiências físicas. A área de extensão do departamento de Educação Física, desenvolveu um equipamento de basquete que juntamente à cesta do esporte acoplou um sistema de
som que direciona a pessoa com deficiência visual no arremesso. A ideia surgiu quando a equipe se preparava para participar da feira de tecnologia. Os professores Luíz Claudio Locatelli Ventura, Claudinei Jacinto de Melo, Moacyr Cerqueira Calado, João Checon Neto, Luis Antonio da Silva e o acadêmico Vinicius Assad ‘botaram mãos à obra’, desenvolveram o pro-
Foto: Arquivo Ifes
jeto a partir da experiência que já possuem com a prestação de serviço à comunidade na prática de esportes para pessoas com deficiência visual. Foi neste grupo que o equipamento foi testado antes da apresentação na feira. Durante o desenvolvimento do projeto outras áreas de conhecimento do IFES foram envolvidas para que se chegasse ao protótipo apresentado na feira. Segundo o professor Luis Antonio a produção da tabela, aro com produção de som e bip para orientar os jogadores é apenas a primeira parte do projeto. O foco, segundo ele é o jogo que pode acontecer durante a feira no próximo ano. Para que isso se concretize é necessário cumprir a parte burocrática e registrar a patente, etapas importantes para o meio científico e para obter patrocínios. Os testes realizados até o momento confirmaram que os barulhos do ambiente externo não prejudicam a identificação
dos sons que orientam o atleta no arremesso à cesta, nem o bip que confirma o acerto. A prova maior foi durante a feira onde os testes aconteceram próximo a uma estação de luz de onde provinha um barulho ensurdecedor. A continuidade do projeto é garantida pelo comprometimento do IFES com a comunidade. “A extensão faz parte da missão do IFES que trabalha em parceria com a Prefeitura de Vitória no serviço à comunidade envolvendo as diversas áreas do conhecimento: educação física, engenharia elétrica e mecânica, proporcionado uma experiência multidisciplinar aos alunos”, afirmou Luis Antonio e frisou: “todos têm oportunidade de conviver, trocar saberes com outras áreas e conhecimento sempre faz bem”. Hoje o projeto de extensão do IFES oferece à comunidade atletismo para pessoas com deficiência visual e a ideia inicial é de que o basquete seja apre-
sentado para essa turma e proporcione-lhes uma experiência nova. Se gostarem e tendo mais uma oportunidade talvez alguns queiram trocar de modalidade. Por trás do projeto, o conceito visa proporcionar mais independência a pessoas não videntes. As pesquisas têm o foco de permitir a pessoa com deficiência visual movimentar-se de forma satisfatória. Também com esse objetivo, o professor Luíz Claudio, desenvolveu e apresentou na mesma feira de tecnologia, um direcionador de locomoção para pessoas com deficiência visual. O equipamento funciona com um controle remoto e um fone de ouvido que orienta a pessoa com deficiência para que ela consiga orientar-se no espaço físico sem precisar de guia. Fica a expectativa para aqueles que necessitam e o compromisso da equipe em continuar o projeto para viabilizá-lo e propor uma competição na próxima edição da feira tecnológica.
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reflexões
A GRAÇA DO TEMPO
Todo discípulo missionário deve assumir esta disposição de espera vigilante, numa contínua disponibilidade para a escuta do Senhor e a prática da caridade para o serviço aos irmãos.”
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ano que estamos encerrando foi certamente tempo de graça e do amor de Deus para conosco. O tempo depende do sentido que lhe damos. Olhando para o ano de 2013, como não reconhecer também, com sinceridade e profundo arrependimento, as omissões que cometemos, o bem
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que deixamos de fazer, o fechamento à presença de Deus no meio de nós! Pequenos detalhes demonstram um grande amor e não exigem muito tempo, mas nos aproximam do Senhor. O certo é termos tempo para Ele, pois Deus sempre tem tempo para nós. Ter fé é pedir perdão e também agradecer. O tempo deve ser visto e vivido dentro de uma profunda espiritualidade, principalmente agora que se aproxima a grande festa do nascimento do Senhor. Tempo de espera e preparação, pois quem espera prepara. Estamos vivendo um momento propício para refletirmos uma grande realidade, a do Senhor que veio, que vem e que virá. A Igreja nos ensina uma tríplice vinda do Senhor. Entre a primeira (nascimento) e a última (parusia) há uma vinda intermediária. Na primeira, o Senhor veio na fraqueza da carne, o evangelista João o confirma, dizendo que “a Palavra se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14), agora, vem espiritualmente manifestando o poder de sua graça; na última, virá com todo o esplendor da sua
glória. Esta vinda intermediária é, portanto, como um caminho que conduz da primeira à última. Assim, é importante lembrar que espiritualidade contém “Espírito”, e, para vivê-la, nada melhor que se deixar guiar por Ele, como fez Maria. “O Espírito Santo virá sobre você, e a força do Altíssimo a cobrirá com sua sombra”. (Lc 1,35a). Todo discípulo missionário deve assumir esta disposição de espera vigilante, numa contínua disponibilidade para a escuta do Senhor e a prática da caridade para o serviço aos irmãos. Hoje temos tempo e podemos fazê-lo, agora podemos crescer como filhos de Deus. Empenhemo-nos em fazer agora o que no final da nossa vida quereríamos ter feito ou ter sido. O que possamos fazer e realizar no tempo presente não o deixe para amanhã, porque pode ser que esse amanhã não chegue. Precisamos aceitar a realidade do tempo. Realmente, “é agora o tempo favorável, é agora o dia da salvação” (2 Cor 6, 2b). Deus sempre tem tempo para nós. Pela fé, devemos reservar um tempo para Ele. Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
ARQUIVO E MEMÓRIA
DOM LUIZ SCORTEGAGNA VISITA OS PRESOS EM VILA VELHA
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om Luiz Scortegagna, o quarto bispo do Espírito Santo participou na Penitenciária de Pedra D’ Água do evento intitulado “Páschoa do Presidiário”, em maio de 1941, junto com várias autoridades, entre elas, o interventor Federal Dr. Celso Calmon Nogueira da Gama. Nesse dia, além da Celebração Eucarística, aconteceu a solenidade de liberação condicional de cinco detentos. Ao final da soleni-
dade foi servido aos presos e autoridades farta mesa de doces e chocolates marcando o dia especial e de confraternização. A Penitenciária Pedra D’ Água, depois conhecida como IRS - Instituto de Reabilitação Social, foi construída em 1889 para funcionar como “Casa de passagem” para imigrantes italianos. Em 21 de março de 1924, o prédio foi transformado em Penitenciária do Estado. Antes, desde 1892,
Dr. Celso Camon Nogueira da Gama, Interventor Federal do Estado, com Dom Luiz Scortegagna sentado ao seu lado, preside a solenidade de entrega dos documentos de liberação condicional dos detentos
a prisão era junto ao Quartel da Polícia Militar, que existia na Praça Misael Pena, no Parque Moscoso. Na ocasião da visita de Dom Luiz Scortegagana, o prédio histórico havia sofrido as primeiras intervenções para abrigar os sentenciados.
Dom Luiz Scortegagna ministra a comunhão aos detentos
Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc
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ensinamentos
A cura pela oração nos documentos da igreja
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oração pelo restabelecimento da saúde faz parte da Tradição da Igreja, desde os tempos apostólicos . O Novo Testamento apresenta diversas curas realizadas por Jesus e pelos Apóstolos, no contexto da evangelização, visando à manifestação da vitória do Reino de Deus sobre todo tipo de mal, símbolos da saúde integral do ser humano. Elas não têm caráter de espetáculos ou ritos mágico-religiosos. A Igreja considera louvável a oração para pedir a Deus a cura, e, em sua liturgia, clama ao Senhor pela saúde dos doentes, no Sacramento da Unção dos Enfermos. Porém, esclarece que as ações litúrgicas não devem colocar em primeiro plano o desejo de alcançar a cura dos doentes, desvirtuando sua finalidade de
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fato, como por exemplo, realizar a exposição da Santíssima Eucaristia somente com o objetivo de obter saúde dos doentes. Os encontros de oração com a finalidade de alcançar de Deus a cura, às vezes associados à celebrações litúrgicas, têm se multiplicado, afirmando-se inclusive a existência de um “carisma de cura”. Quanto a esta questão, a Igreja definiu orientações de caráter doutrinal e disciplinar na “Instrução sobre as orações para alcançar de Deus a cura” (14/09/2000). Em relação ao “carisma de cura”, considera arbitrário atribuí-lo a uma categoria de participantes de reuniões de oração para implorar curas a Deus, por exemplo,
aos dirigentes ou coordenadores do grupo, pois contraria o ensinamento do apóstolo Paulo sobre a questão (1Cor 12). A Igreja orienta que não se pode confundir orações livres para pedir cura não litúrgicas com as celebrações litúrgicas, e recomenda evitar o histerismo, a artificialidade, a teatralidade ou o sensacionalismo nessas reuniões. Determina que as orações de cura não devem ser inseridas na celebração da Santíssima Eucaristia, dos Sacramentos e da Liturgia das Horas, a não ser as funções para os doentes previstas nos livros litúrgicos. As celebrações de cura devem ser conduzidas num clima de serena devoção. Quem as
conduz, precisa ter prudência quando forem verificadas curas entre os presentes, recolher os testemunhos com simplicidade e precisão, e encaminhá-los para avaliação da autoridade eclesiástica competente. Vale lembrar que o Diretório Pastoral Litúrgico-Sacramental e Ministerial de nossa Arquidiocese recomenda que “Os presbíteros e as equipes de liturgia cuidem para que as Celebrações Eucarísticas não se transformem em práticas pietistas ou sincréticas, que obscureçam a centralidade do Mistério Pascal. O termo missa de cura e libertação ou outro similar não deve ser utilizado” (nº 225). Vitor Nunes Rosa Professor de Filosofia na Faesa
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cultura CAPIXABA
Fincada do mastro
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Oi que santo é aquele
Oi que santo é aquele
Que vem no andô?
Que vem na charola?
Oi que é São Binidito
Oi que é São Binidito
E Nosso Sinhô.
E Nossa Senhora.
revista vitória
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Foto: Edson Chagas
N
esse mês de dezembro teremos a tradicional procissão do Mastro de São Benedito, com festejos em vários pontos da terra capixaba. Os cortejos mais conhecidos são realizados em Serra Sede, Nova Almeida e Barra do Jucu onde podemos observar a tradição da cortada, puxada, fincada e posterior retirada do Mastro. Os preparativos para a procissão começam com a escolha de uma única e comprida árvore nos arredores da igreja, nessa empreitada é realizada a cortada do mastro. O segundo momento é conhecido como puxada do mastro aonde, ao som das bandas de congo, os homens em procissão conduzem o pesado tronco nos ombros ou assentado sobre um barco – denominado Palermo - enfeitado com fitas e bandeiras em papel de seda. A cerimônia chega a receber 50 mil devotos que seguem ao lado com velas acesas em oração ou acompanhando os grupos em cantoria, como essa:
Salvo pequenas variações, o mastro é transportado pelos devotos penitentes até a frente da igreja onde ocorre a fincada do mastro, com uma Bandeira no topo dedicada ao Bino Santo – como Benedito é afetuosamente chamado. Toda a celebração é concluída com muitos fogos de artifício. Mas o ritual não acaba aí, espera-se a semana santa para a retirada ou descida do mastro e a conclusão do festejo. Aliás, esse rito está presenta na cultura capixaba desde tempos imemoriais, isso porque, entre as primeiras leis da província, de 1835, estava aquela proibindo a puxada e levantamento de mastros, bem como, o uso de máscaras nos festejos. Por nossa sorte essa lei foi revogada em 1844. Diovani Favoretto Historiadora
vitória Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
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acontece
Natal em Família A Pastoral Operária participa no dia 16 de dezembro, às 14h, de uma Celebração Ecumênica de Natal para os internos da Penitenciária Estadual de Vila Velha IV. Há mais de 15 anos, a Pastoral junto com outras entidades realiza a solenidade, em um momento de aproximação com as diferentes religiões que estão presentes no local, e também de integração com os internos. Após a celebração acontece uma confraternização.
Estudo da Campanha A Arquidiocese de Vitória prepara, como de costume, o estudo do tema da Campanha da Fraternidade 2014, que tem como tema “Fraternidade e Tráfico Humano”. O encontro acontece no dia 7 de dezembro, de 8h às 12h, no Centro de Treinamento Dom João Batista, em Ponta Formosa. O tema será apresentado através de um painel com a presença do bispo auxiliar da
Arquidiocese, Dom Rubens Sevilha, apresentando a visão da Igreja; da professora de Antropologia da Ufes, Maria Cristina Dadalto, sobre migrações; e do agente da Polícia Federal, Eduardo de Moraes Souto, falando sobre Tráfico Humano. As inscrições devem ser feitas pelo telefone (27) 3025-6288 ou email mitra.secretariapastoral@ aves.org.br.
Encerramento do Ano da Fé Retiro para mulheres Entre os dias 13 e 15 de dezembro, acontece o Retiro de Educação Ambiental e Espiritualidade Ecológica para mulheres, organizado pelo Conselho Missionário Arquidiocesano (Comidi). O momento será de oração e vivência ecológica, visando despertar a consciência ambiental com base na reflexão da Palavra. O retiro acontece no sítio Simplesmente, em Marechal Floriano. Para mais informações e inscrições: robinsonccunha@gmail.com
A luz da fé e da esperança iluminou as ruas de Vitória no dia 23 de novembro. O encerramento do Ano da Fé na Arquidiocese de Vitória reuniu cerca de 40 mil pessoas, que seguiram em caminhada da Catedral Metropolitana até a Praça do Papa, onde foi realizada a Celebração Eucarística. Durante todo o percurso, os bispos, padres, diáconos, seminaristas e leigos cantaram e rezaram acompanhados da
imagem de Nossa Senhora da Penha. Com suas velas, o povo permaneceu em oração até o fim do evento, demonstrando a força da fé do povo capixaba.
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acontece
A onda é Jesus Para promover a fé, o amor entre as pessoas, o respeito à vida e a religiosidade, a área de Vila Velha realiza o evento católico “A onda é Jesus”, no dia 25 de janeiro, na orla de Itaparica, reunindo jovens e famílias, com a proposta de evangelizar e comunicar a Boa Nova. O evento inicia às 18h, com o show da banda capixaba formada por jovens das paróquias de Vila Velha, “Nova Prece”, e após, uma atração nacional ainda a ser confirmada. O evento acontece desde 2004 e é marcado pelo sucesso de público a cada edição. Neste ano, “A onda é Jesus” passou a fazer parte do calendário oficial de eventos do município de Vila Velha, garantindo a parceria permanente da prefeitura na sua realização. Mais informações na edição da revista Vitória de janeiro.
Celebrações de Natal A Pastoral do Menor promove o espírito natalino de fraternidade, integração e união, com celebrações de Natal em duas unidades de internação. No dia 17 de dezembro, os internos da unidade de Cariacica participam, de 14h às 17h, das atividades programadas pela pastoral. No dia 18, no mesmo horário, é a vez da unidade de Xuri celebrar o Natal.