REVISTA ARTE TRANS BAHIA 6ª EDIÇÃO

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Revista

Arte Trans Bahia Sexta edição. Junho de 2016

“Fiquei tão encantada com aquelas mulheres, que a minha mulher despertou. “


Editorial Em junho de 2015, nasceu a ideia de catalogar as artistas transformistas que conheciamos e foi neste momento que criamos o site Arte Trans Bahia: uma plataforma onde artistas da cena transformista da Bahia tivessem um espaço de fácil acesso para a divulgação e promoção das suas personagens, sua arte. Decidimos então produzir uma revista mensal que trate do mundo da arte transformista e faça o papel de guardar as informações. Nossa primeira edição saiu em janeiro. Hoje, em junho de 2016, completamos a 6ª edição, cumprindo um papel importante no cenário cultural. Nesta edição trazemos uma especial entrevista com a militante transformista, Dion Santiago, dando continuidade ao projeto “História do Transformismo Baiano.” Como entrevistadas as novatas DesiRée Beck e Mary Jane Beck. Ainda sobre os acontecimentos do mês de junho um pouco sobre Nágila GoldStar a Talento Marujo 2016. Para aquecer as turbinas, uma discussão política sobre REPRESENTATIVIDADE entre as Editoras Mariana e Edméa.

EXPEDIENTE: Arte Trans Bahia Divulgação e Exposição da Arte Transformista na Bahia. Web: Transartebahia.com E-mail: Transarte.bahia@gmail.com Telefone: 71-993228603

A Revista Arte Trans Bahia e suas colaboradoras agradecem a todas as pessoas pelo apoio e incentivo. Att, Editora Arte Trans Bahia

Diretora Geral: Edméa Barbosa Produção: Edméa Barbosa Diretora Administrativa: Mariana Figueiredo Jornalista Responsável: Manuela Simão Projeto visual: Edméa Barbosa Diagramação: Edméa Barbosa Matérias: Mariana Figueiredo Edméa Barbosa Fotógrafias Arte Trans Bahia Acervo pessoal de Dion Santiago Edição: Nº6 -Junho de 2016

Atendimento psicológico gratuito para a População LGBT

Caso deseje atendimento, pode entrar em contato com gibahpsi@gmail. com informando seu nome, telefone e o porque precisa de atendimento.


MARIANA FIGUEIREDO

Nágila GoldStar

Talento Marujo 2016 O nome dela é Ingridy Carvalho, estudante de direito, atriz e a primeira Drag King de Salvador. Com um leque de ideias invadiu o concurso Talento Marujo 2016 com o propósito de levar a faixa. Em 2015 participou do mesmo concurso e foi eliminada na prova de androginia. A marca que ficou daquele anos foi a garra de competir com atores transformistas (homens) e ser uma mulher cis (pessoa que tem sua performance ou gênero condizente com o sexo a que lhe foi designado). Em 2015 as críticas foram grandes, porém em 2016, após o trabalho de afirmação feito pela própria atriz dentro da cena, com apoio de diversos colegas e amigos, a personagem sentiu-se muito mais segura e determinada. Apesar de estar presente na cena e ser muito bem aceita, a trajetória não foi fácil, pois entre as fortes concorrentes estavam Nina Codorna e Euvira, duas das maiores expressões artisticas diferenciadas do mercado. Ingridy não participou com o seu personagem KING, mas sim com a sua queen reconhecida por Nágila Goldstar. Em meados do concurso a novata foi eliminada por não conseguir dublar a música marcada pela perfeição de Twyggi, uma das noites mais emocionantes do concurso, mas ao retornar na repescagem deu o nome e levou o título na prova final, a qual determinava: “Culturas religiosas Indiana-Hinduismo tradi-

ção religiosa com cerca de 1 bilhão de fiéis, sua grande maioria na Índia e no Nepal. Os hindus acreditam num espírito supremo cósmico adorado de muitas formas, fundamentada no culto aos Avateres (manifestações corporais) na maioria das vezes específicos , como exemplo krishna; apesar dos hindus cultuarem cerca de 330 mil divindades diferentes.”


MARIANA FIGUEIREDO

DesiRée Beck

Em terra de chefes: a personagem chegou como aperitivo e hoje é prato principal. Arte Trans Bahia – Quem é você e quanto tempo de show? Desirée Beck- Oficialmente 1 ano de show. A primeira montagem me chamava Margot e foi durante uma festa na casa de Nina, isso há 3 anos, lá teve Nina Codorna e Nikita Pentakill, que na época era Aysha Poltergeist. A gente fez uma festa celebrando o RuPaul Drags Race, dai veio a minha vontade, depois disso tive contato com Kaysha Kuttner e ela junto com Nicole Foster me produziram pra fazer o Miss Universo, onde foi a minha estreia oficial como Desirée Beck. ATB- Como foi a sensação de participar do Miss Universo? DB- Então, eu não tinha proporção na minha cabeça do que seria o Miss Universo, eu meio que fui sem saber. E foi na cara e na coragem. Quando eu cheguei lá e vi toda aquela organização, que é de Maurício e de DelRey, eu fiquei pensando: “meu Deus do céu, onde foi que eu me meti. ” Foi a primeira vez que eu coloquei de verdade um salto, pois antigamente nas brincadeira eu usava uma bota sem salto, coturno, ai quando eu botei o salto, eu vi aquela passarela, aquele holofote na minha cara... Mas aconteceu, foi uma coisa “lesgou”. O que mais ficou foi o aprendizado e depois daquilo eu tive interesse maior e daí que eu entrei no Talento Marujo 2015 e foram acontecendo as coisas. ATB- Já é atriz, ou pretende? DB- Então, não sou, mas claro que pretendo ser. No mês de setembro vai está estreando uma peça que foi a final do Talento Marujo 2015, Maria Cinderela, essa peça vai entrar em cartaz no Aliança Francesa, com todas as meninas que participaram e um grande elenco. Será uma peça infantil, um grande desafio, porque serão drag queens e drag kings, fazendo papéis um tanto quanto normativos. Maria Cinderela, por exemplo, será interpretada por Melissa Edwards,


e o príncipe vai ser interpretado pela maravilhosa Carol Sena do Cabaret Drag King. ATB- Enxerga todos os integrantes da Haus Of Gloom como profissionais, atores? DB- Sim, inclusive a Haus of Gloom, a gente não vê apenas como artistas de palco. A gente quer uma inserção da nossa arte, para fotos, editoriais, musicais, como é o caso de Nikita Pentakill, que apesar de não aparecer muito nos palcos por questão do tempo, pois trabalha à noite, mas é uma pessoa presente nos flyers os quais todos são feitos por ela, nos bastidores e até quando tem alguma foto a Nikita Pentakill tá la. E ela tem uma personagem, inclusive muito bacana que ela pode ser explorada, a coisa da bandida. Além dela eu acho que todos da Haus of Gloom tem muita coisa a oferecer. ATB- Quanto a Desirée, qual a maior dificuldade em estar e se manter na cena com apenas um ano e estourada? DB- Sabe aquela coisa do vício? Então, a drag queen foi um vício para mim. Eu entrei “vou fazer esse concurso e não faço mais”. Aí foi começando a aparecer outras coisas e eu queria defender minha personagem, eu estava querendo tá em todos os lugares, é uma coisa que Valerie falava muito e eu ouvia sempre “quem não é visto não é lembrado” E eu meio que fui... Fazia muitos eventos, até gratuitamente. Muita gente criticava “ah, você fazendo grátis vai puxar para baixo todo o movimento que as drags tão fazendo pela questão da valorização”. Eu entendo isso, só q eu precisava mostrar, as pessoas precisavam me conhecer e até hoje sim eu tenho essa superexposição, mas hoje eu defendo sim a questão do cachê que apesar de ser pouco, é presente. Eu defendo sim que todo o trabalho que a gente faz tem que ser recompensado. ATB- Quando vocês chegaram houveram muitas críticas e muitos diziam que vocês queriam roubar a cena, fazendo uma comparação com a história da década de 80 e 90, o que você consegue ver de diferença hoje? DB- Eu acho que não existe uma comparação, apesar de existir comparação. Vou explicar. A época que Dion Santyago, Bagageryer e

todas as outras apareciam, era uma época mais escassa de informação, de ferramentas. Hoje nós temos o youtube,por exemplo, temos a facilidade maior de inclusive encontrar produtos. Talvez isso seja a diferença, estamos na lacuna onde todo mundo é informatizado, todo mundo tem como pesquisar, comprar pela internet. É uma questão do acesso mais fácil às coisas; por exemplo Aimée Lumière, eu, temos uma fonte muito forte de pesquisa, eu acho que as pessoas gostam de pesquisa. Antigamente as pessoas como Bagageryer tinham que ir mais no cru mesmo, elas tinham que refazer a cena, elas tinham que criar a cena, e no final das contas eram e são grandes divas. Respeito bastante todas as drags da geração de 80 e 90, assim como a de 2000 as quais fazem parte Valerie Orara’h, Rainha Loulou, que são pessoas que me inspiram, que eu gosto de assistir o show.


No desfile de Rainha Loulou, quando Bagageryer entrou ao palco eu chorei de verdade, a forma, a naturalidade como ela chega no palco, como ela é sensível, como ela sabe de tudo é um encanto. Dividir camarim com ela também foi muito bom, me emocionou muito. Outra é “Eneuris Star” arrasa muito em dublagem, ela é meu maior ícone de drag queen, artista transformista. E elas fazem questão de bater na tecla de ator transformista. Eu ainda não entendo muito bem a diferença entre drag queen e artista transformista. Mas é isso, eu tenho o maior respeito por elas, inclusive são as pessoas que mais me inspiram, apesar de pesquisar muito no youtube o que toda essa nova geração está colocando, eu ainda me mostro firme em querer que a minha dublagem esteja muito bem-feita, olhar se está tudo certo em meu figurino. Essa é uma preocupação que elas, as transformistas de 80, 90 e 2000 tinham bastante. ATB- Desiree Beck, qual a sensação de ver pessoas que te acompanharam desde o início do talento, da festa na casa de Nina e de ver o seu crescimento, qual a sua sensação quanto a público? DB- Eu ainda sou um pouco tímida. Juro, sou muito, muito, muito tímida. Inclusive o Âncora do Marujo que me colocou como pauta, que me ajudou inclusive a está conversando com você aqui agora, antigamente eu gaguejava muito, antigamente eu tropeçava muito, as palavras me faltavam e hoje ter essa interação com público me ajudou, é aí que entra a ajuda do público, afinal me ajudou a ser mais segura comigo. Então é isso, eu acho que vai ficar cada vez melhor. Eu ainda não estou uma personagem pronta, tem muita coisa que eu tenho a aprender e com certeza vai ser o público que vai me incentivar a fazer isso, a procurar mais, pesquisar mais e mostrar coisas novas. Sou grata a quem me acompanha, a quem me vê. ATB- A disputa na Sauna Planetário 11? DB- Foram três noites, o time de Valerie contra o time Scarleth. A primeira eliminatória eu enfrentei Petra Péron, na semifinal que enfrentei Yanna Steffens, e a final enfrentei Alehan-

dra Dellavega e ganhei. Foi cada dia um desafio maior, mas foi muito legal. ATB- Pretende participar de outras coisas em saunas que é um diferencial? DB- Logo quando eu cheguei na sauna eu estranhei aquele público, e a gente tinha que competir com outras pessoas. Eles olhavam para a gente e olhavam também para os rapazes que ficavam transitando, mas eu achei legal, eu acho que é mais um desafio competir atenção com outro seguimento. ATB- Atualidade, que anda fazendo? e uma frase de impacto para 2016 DB- Algumas festas, breve no tetro, pauta fixa no Âncora e o concurso Super Talento.

Para 2016 ? “ Voar, voar, subir, subir...”


EDMÉA BARBOSA

Mary Jane Beck Cantora, DJ e politizada

ATB- Quanto tempo de show e qual a primeira vez q você pisou no palco? M- Estou fazendo 8 meses e a primeira vez foi tocando, por já ser DJ aqui de Salvador. Eu me montei pela primeira vez no Hallowen do ano passado e aí... eu continuei, a primeira vez performando como drag foi na festa Shade, na Amsterdam também que é a boate que eu já toco. ATB- O que você vê da cena hoje, o que você acha? M- Comecei a acompanhar a cena transformista, as drags daqui de Salvador, quando comecei a ter o contato com as meninas da Haus of Gloom.. Desirée que me pegou pra filha, Aimée... e a partir daí eu comecei. Então dessa época pra cá eu acho que teve um boom muito grande. Eu faço uma festa também na Amsterdam e lá eu vejo que toda edição tem novas drags, tem pessoas se interessando ainda mais... então eu acho que isso é um boom pra nossa cena, uma ajuda bem legal.

Foto: Nai Dias/Face Mary Jane

Foto: Caco Júnior

ATB- Você acha que falta alguma coisa pra Drags, transformistas, DJs? M- Espaço. Principalmente em Salvador, acho que falta muito espaço pra arte drag. Eu que tenho contatos com pessoas de fora, de outros estados.. vejo que a cena de Brasília, a cena de São Paulo.. é uma cena bem ampla. Tem um movimento, tem um retorno que aqui ainda não tem pra muita gente. Então eu acho que é esse espaço maior e mais justo. ATB- Você não acha que essa problemática de cena é basicamente em todas as áreas, não só na cena transformista... mas no jazz, rap, pop..? M- Eu acho que em tempos em que tentam extinguir o Ministério da Cultura, tudo que for relacionado a cultura vai tá com uma crise. A cena musical, o teatro, a arte drag. Então a gente tá passando por um problema político e a cultura tá recebendo isso da pior forma. ATB- Você por você M- Mary Jane é o que o rapaz não tinha coragem de ser. Sempre cantei, eu sempre gostei de me apresentar, mas sempre em casa... Tinha muito medo mesmo do público e hoje em dia, depois de Mary Jane, acho que posso libertar mais essa energia. E é uma influência que tá indo na minha vida pessoal também. Academicamente falando, minhas apresentações na faculdade... minhas apresentações como DJ também, Mary Jane é um impulso, Mary Jane é um impulso...


MARIANA FIGUEIREDO

Representatividade Olha eu aqui mais uma vez para dar pitaco nas coisas. Como sempre, minhas escritas são opinativas, podendo gerar uma identificação ou aversão muito facilmente. Hoje quero falar um pouco sobre representatividade, sobre Cauã Reymond e sobre a L’Oréal Paris. Certo, trazendo um conceito bem raso do que seria a representatividade que falo nesse texto. A grosso modo ter representatividade é ter a capacidade de representar uma classe ou grupo. Ou seja, ao se falar em representar a classe LGBTTQI se deve escolher alguém da classe LGBTTQI, isso é ter representatividade. Vou começar falando do clipe “Your Armies” da cantora Bárbara Ohana. Nesse clipe há uma personagem transexual que é interpretada pelo galã, símbolo de masculinidade pra muitos, Cauã Reymond. Ele teve uma interpretação magnífica, desempenhou muito bem o seu papel de ator, mas... Aqui é que tá um problema, existe sim um ‘mas’. Assim que foi divulgado o clipe houve uma enxurrada de críticas e elogios. Compreendo os elogios e concordo com muitos deles, mas o que precisa ser debatido é exatamente a representatividade. Ao se colocar um ator cis no papel de uma pessoa trans se retira de uma pessoa trans a possibilidade de interpretar aquele papel. Sim, sei que a profissão de ator é isso, interpretar persona-gens que nem sempre se enquadram com quem você é em si, mas e por quer não vemos atrizes trans interpretando mulheres cis? Porque é mais fácil continuar o antigo modelo de representar quem não é ouvido, do que dar o espaço para que sejam. E o grande problema tá ai. Há quem diga “mas não vemos muitas atrizes trans”, mas a realidade é que não vemos essas atrizes nas grandes emissoras de TV e é justamente pela negativa desse espaço que elas não estão lá. Só que há muitas atrizes e atores trans ocupando os espaços alternativos, participando

Foto : Div ulga

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de documentários, curtas, pequenas campanhas e da cena teatral, que sempre foi mais abrangente. Então a questão aqui é dar representatividade a quem tem direito e não é representado; pois, por melhor que tenha sido a atuação de Cauã, ele jamais terá a vivência que uma pessoa trans teve. Agora, ainda sobre representatividade, temos a modelo trans Valentina Sampaio como embaixadora da L’Oréal Paris. Valentina, ao lado de Grazi Massafera, Juliana Paes, Isabeli Fontana, Taís Araújo e outras famosas, foi escolhida como portavoz da marca. Isso sim é representatividade, pois dentre o time de mulheres que representam a marca, há uma mulher que representa as demais mulheres transexuais. Aqui não é um espaço que me permite explorar muito o tema, mas deixo o convite a conhecerem um pouco mais sobre representatividade e lutarem por ela. E reafirmo que concordo com cada elogio feito ao clipe de Bárbara Ohana, agradeço por levar o debate a alguns espaços, mas acho que se há alguém que pode levar e elevar o debate é uma pessoa que vivência diariamente o preconceito por ser trans.


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EDMÉA BARBOSA

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v : Di Foto

Quebra de padrões e representação

Eu discordo dela, da opinativa dessa moça ao lado. Já que é para ser opinativa, sejamos então. Representatividade significa também representar os ideais políticos de um grupo. E isso foi feito muito claramente por Cauã; Ou será que uma pessoa que luta, divulga, se envolve em projetos necessita ser LGBTQI? Quantos artistas já vestiram a camisa? Quantos produtores, cineastas, fotógrafos e artistas vivem da causa LGBTQI e nem ao menos são gays? Pois bem, então representatividade é uma questão de humanidade, dedicação, cuidado para com uma causa. Falando sobre figura, a masculinidade de Cauã foi apagada em uma maquiagem, algumas roupas e uma peruca. Olha como é frágil essa imagem de homem/mulher criada por uma sociedade. Com cabelos curtos calça jeans, barba ele é homem, com vestido, batom e cabelos ele é mulher... ...Um minuto de silêncio para captar a imagem... Quebrou a imagem do homem pegador, bonitão, forte, másculo, com apenas algumas horas de produção.

Então, precisamos entender as mensagens em diversas formas e validar estas mensagens para que as lutas continuem agregando cis, hetero, trans e outras pessoas que assim aceitem o desa-fio de representar uma minoria. Ainda fazendo uma crítica à opinativa da moça ao lado, Mariana, como jornalista posso dizer que o clipe de Cauã teve também a assertiva do marketing. Enquanto a L’oreal foi aplaudida por estampar a transexualidade de Valentina Sampaio, a produção do clipe “Your Armies” da cantora Bárbara Ohana, provocou uma enxurrada de discursos e abriu espaços para mais uma vez discu-tirmos as construções corporais a que somos normatizados. Além de atingir um número incalculável de pessoas as quais pensavam que um homem cis, hetero jamais se transformaria em uma linda mulher a ponto de olhar, seduzir e se permitir ser lindamente fêmea. Desculpem, mas a opinião ultrapassa várias barreiras e uma delas e também me contradizer e berrar, precisamos de mais representatividades, tanto de Cauãns quanto de Valentinas. Mais Valentinas, por favor!


EDMÉA EDMÉABARBOSA BARBOSA

Dion Santiago Transformista com 37 anos de carreira, cabeleireira, maquiadora, arquiteta. Se intitula gay, travesti, transexual, transgênero e transformista. Dion não fugiu à regra, na adolescência aos 14 anos, pegava os lençóis e os vestia como se fossem vestidos, colocava música e dublava, fazia de conta que era a cantora.

“Nem imaginava que existia transformista”.

Fazia parte de uma família de classe média, com cabelos na altura do ombro, frequentava a Holmes 24, Boate tida como elitizada. Em uma de suas idas à boate conheceu o mundo dos shows de transformistas e ficou encantada. Na época, a cena era comandada por divas como Peti de Buar, Dalila Blanch, Suzana Vermont, Monique Lafond, Carine Bergman e Marquezza, Saquarema Satanás (Miss Brasil 2000).

“Fiquei tão encantada com aquelas mulheres, que a minha mulher despertou. Queria ser uma delas e foi aí que resolvi ir em busca. ”

Na década de 70 e 80 ainda o militarismo comandava o estado brasileiro, as transformistas e travestis sofriam perseguições e eram violentamente postas para correr de seus locais de trabalho e talvez também por este motivo as panelas se formavam. Uma novata aparecer e fazer parte da cena era algo quase impossível. Porém Dion nos contou parte do seu processo:

“Quando sai da Holmes estava encantada, resolvi fazer uma festa para meus amigos em meu

“Abrir a porta para Marina foi como se tivesse abrindo a porta para mim quando não tive” apartamento, tinha um amigo chamado Fefê (in memoriam), já queria fazer amizade com a Marquezza, ai convidei ela para fazer um show para meus convidados, paguei o cachê, e pedi que ela levasse um vestido dela para eu vestir. Ela me produziu, eu fiz o show dentro do meu apartamento e o Fefê me desafiou, dizendo que queria ver se eu tinha coragem de fazer um show na boate. Era o que eu precisava, o incentivo. Aluguei a Holmes para mim, uma única noite e montei o espetáculo. ” O fato de ter cabelos grandes facilitou as ideias de Dion, enquanto as estrelas usavam perucas longas, ela quis inovar. “Cortei meu cabe-

lo, fiz nuca batida, pintei de loiro blondor e na parte de cima deixei laranja, uma ousadia, uma drag atual há mais de 35 anos”.

Dion era a novidade, um gay que teve a ousadia de alugar o espaço e fazer um show. Pois, a boate lotou, foi um grande sucesso e daí quis invadir a cena. Chegou como estrela e isso abriu caminhos para convites em outros espaços. Como o público da holmes era o público classe A, a nova artista queria invadir o público B, e ali ela sentiu maior rejeição.

“Quando cheguei foi chegada de estrela, como não tinha amizade com elas e tudo era mui-


to fechado, precisei invadir. Naquela época não existia madrinha, tão pouco conversa, as estrelas brigavam, é triste dizer, mas naquela época a gente batia ou apanhava, ganhei muitas inimigas de camarim”.

Conseguiu fazer parte do elenco das duas maiores boates, com a fama, a preocupação era apenas com a mulher, toda a produção era para a mulher, o gay foi sumindo. “Meus lustres em casa viravam peças para brincos e a cada semana eu queria um novo figurino. ” Já em 80 viajou e ao voltar de São Paulo encontrou Marina Garlen participando de um concurso de dublagem na Matinê das 18 horas, e como contamos na nossa segunda edição na entrevista de Garlen, Dion abraçou Marina como afilhada, protegeu, cuidou e abriu espaços no palco das divas nos shows de meia noite. “Mari-

na era linda, o rosto mais bonito que já vi, sem produção e sem silicone. Ela passou a trabalhar comigo no salão de dia, a fazer show comigo nas boates e também a morar comigo, pois na época ela morava na rua. Lembro como se fosse hoje ela me dizendo “você não tem medo de eu ser uma marginal¿” aí respondi que não, que eu também era... Foi a forma de mostrar que estávamos confiando uma na outra e a nossa amizade e parceria durou 35 anos. Tive confrontos com as divas, mas eu fiz, coloquei ela no show das estrelas e com o tempo Marina criou a sua própria Diva.”

Bagageryer Spilberg, Dion Santiago e Marina Garlen Foto: Arquivo pessoal de Dion Santiago

Foto: Arquivo pessoal de Dion Santiago

Curiosidade: O nome Dion não foi uma escolha, mais sim um sorteio entre ela e mais 3 amigos. Colocaram todas as letras do alfabeto e cada um tirou uma letra, no final a combinação escreveu DION. Para um dos amigos um nome forte que não precisava sobrenome, para a diva algo estranho.

“Com o tempo fui me acostumando e passei a gostar” Em 1981 apareceu Celine Dion nas paradas musicais brasileira e a transformista brincava ao dizer que já tinha até disco. Nos contou em tom de brincadeira.


EDMÉA BARBOSA Foto: Arquivo pessoal de Dion Santiago

A vida da artista é tomada por solidariedade, o cuidado com o outro sempre foi a marca registrada. Ao ser indagada sobre o que a leva para essa humanidade, nos contou que a sua trajetória de vida a faz desta forma. Perder a mãe lhe causou muitos dramas, ficou um tempo fora dos palcos e um dia ao sonhar com a genitora ouviu o conselho de que devia voltar. Outro momento marcante foi passar dificuldades em São Paulo. “Dormi na Praça da República 3 dias sem

ter para onde ir, passei fome e não quero que ninguém passe pelo que passei, ninguém”. Quando São Paulo escurecia o medo e o desespero atormentava, então é aquela vivência que faz ter certeza de que ser solidária é a melhor forma de amenizar aquelas dores. Santiago, abriu sua casa para muitas pessoas, pessoas e artistas que hoje não falam com ela, mas ainda assim fazem parte de um processo de acolhimento e cuidado ao outro. Marina foi só a primeira, depois dela tiveram: Luz, Poly, Fabiane, Luma, Henrique, Nina Volgue, Andrezza, Tassia, Rosana, Priscila, Ottavio que morava em Portugal trouxe para o Brasil e morou com ela por 15 anos, entre muitas outras.

Empresariado e dificuldades Com a nova mulher surgindo, Dion conheceu também o lado das dificuldades, ao se assumir, ter a necessidade de sair de casa e pagar as próprias contas fez com que ela se dedicasse ao salão e aceitasse a tarefa de ser gerente na boate caverna e fazer shows lá também. Fez uma panela de shows e criava espetáculos com suas afilhadas, a cada semana inventava um personagem para uma e para outra e assim elas acabavam fazendo divas e caricatas. Roubava o público das demais casas de shows e por conta disso atrasava um ou outro para levar público aos espaços que trabalhava. Dion passou um tempo na Espanha, ao retornar decidiu que queria ter um comercio voltado ao público gay, montou então a segunda Sauna Gay de Salvador, a Paradaise. Além da sauna foi proprietária também da Holmes e fez de Marina Garlen gerente por um final de semana. “Marina

me pediu para ser a gerente da boate, mas ela era tão estourada que chegava gritando com os funcionários, a gente brigava muito e o cargo dela só durou um final de semana (risos).”

Atualmente é arquiteta e trabalha com a profissão, é casada com Carlos Santiago e acredita que a sua militância é feita desde 1978 quando frequentava as boates e passou por todos os processos que os demais gays e transformistas passaram.


HIV, amizades e perdas Em 1980 o drama era a descoberta do HIV, foram muitos amigos perdidos para as complicações da doença, dentre aqueles a Marquezza.

“Marquezza era a minha inimiga, justamente por eu ter chegado na cena como uma estrela, ela fazia questão de ser apenas profissional comigo, por 8 anos fechados. Quando dividíamos o mesmo camarim era sem trocar uma palavra e já no palco me apresentava como a “Deusa da Moda.” Eu era fã da Marquezza, por incrível que pareça o show dela me tirava de casa, era o único que eu saia para assistir, ela era engraçada, e apesar de não gostar, acabava sendo caricata. Eu ficava no meio da plateia e me acabava de rir com o show, ela sem falar comigo. Ela era estourada e eu também, mas no palco nos respeitávamos. Andrezza que era amiga dela e sabia que ela tinha contraído o HIV e me procurou. Naquela época era difícil o tratamento, os remédios eram caros e ela começou a definhar. Daí a Andrezza me falou que ela estava passando fome, nessa época ela morava na pensão de Nega, o corpo já estava abrindo em feridas, mandei um recado para saber se ela aceitaria a minha visita, mas ela não quis. Um tempinho depois ela passou na frente da boate com a cara empinada, era ousada, e peguei fui atrás dela. -Marquezza!? Ela me olhou com desdém e ... - Que é? “Com cara empinada” - Quero conversar com você, posso? Bicha, vamos parar com essa palhaçada, pois já estamos ficando velhas, já tem 8 anos que não nos falamos por besteira de camarim e você tá passando por um momento difícil e quero te ajudar, quero que você me permita. -Ajudar como? - Quero fazer um show para você, chamo as colegas, faço o show e a renda fica para você. Nessa época a boate já era de Mey Mattos e não mais de Bebeto, Apesar de Mey não gostar muito da ideia, cedeu a boate por ser numa sexta feira. Dion convidou vários artistas da cena e acredita que o temperamento explosivo da Marquezza interferiu no projeto. O show não teve

uma boa renda e de artistas apenas três compareceram, Rosana Salvattore, Fabiane Galvão e a própria Dion. Um tempo após o evento a Herpes se espalhou no corpo da Marquezza e ela piorou muito, nessa época Dion tinha a sauna, a Paradaise.

“Andrezza novamente me chamou, ao chegar no quarto ela me disse “você veio mesmo, eu tenho que admitir que quem eu pensei que viesse me ajudar, nunca veio e você foi uma surpresa para mim”.

Naquela época só tinha o AZT, o governo não dava, era muito difícil comprar, a maioria das pessoas que morreram foi devido a falta de aceso ao remédio. Dion então comprou o Zovirax, creme para herpes, o que fez o corpo da artista melhorar. Com ajuda de outros amigos, conseguiu uma médica do Hospital Português para o tratamento da carga viral e conseguiu o remédio, o AZT. Desta forma, Marquezza ia para as consultas e fazia o tratamento.

Foto: Arquivo pessoal de Dion Santiago


EDMÉA BARBOSA Um tempo depois ela ligou para Dion, era carnaval e como de costume Santiago já estava na casa de praia em Jauá. “Santi, vai fazer o quê no carnaval?” -Vou ficar aqui. -Eu posso ir para sua casa? É que já começaram a montar as barracas aqui e eu não suporto isso. - Tá certo, venha. - Você me pega aonde? - Você quer que eu te pegue aonde? -Na sereia de itapoan

Ao chegar na pedra da sereia percebi que ela não estava lá, logo depois ela me liga “Santi, cadê você criatura?”

- Estou aqui na pedra da sereia. -Eu não marquei com você na pedra da sereia, estou aqui na frente do shopping São Cristóvão”. – Está certo, fique aí que estou indo te buscar. Ao entrar no carro a nova amiga já dava sinais de não estar bem, não deu nenhuma palavra, ao ser indagada se estava bem, disse apenas que conversariam em casa. Já na residência, que por sinal conhecia, se repetia nas afirmações de que a casa era bonita, que parecia de novela, não lembrava quantos quartos tinha e perguntava sobre queda de energia, repetidas vezes. No dia seguinte acordou sem entender como chegou até ali. Na época uns amigos da Espanha e outros da redondeza estavam lá para passar o carnaval, além de Edvaldo (acarajé), este último tinha acabado de perder o namorado vítima da Aids. Marquezza não lembrava como tinha chegado ali e estava muito confusa, foi então que Edvaldo chamou Dion no canto e falou que os sintomas eram os mesmo do companheiro. Naquele momento era necessário levar a Marquezza para o médico, aquilo preocupou muito, pois a família dela era de São Paulo e ninguém sabia onde estavam. Dion então, disse que alugaria a casa e precisaria leva-la de volta para Salvador. Apesar de achar aquilo absurdo, entrou no carro. Dion entrou em contato com Zito e Carlos (mago das faixas) e explicou a situação. A médica confirmou que a paciente não tomava os remédios, não ia para as consultas e por este motivo o quadro se agravou, aumentando muito

a carga viral. Ficou internada no Roberto Santos, não queria mais tomar os remédios e definhou até o falecimento. “No enterro não houve reco-

nhecimento da figura que era a Marquezza, os amigos da época não compareceram, apenas eu, Bagagery e Andrezza. Ela simplesmente caiu no esquecimento. Fiz questão de contar tudo isso porque após 36 anos a população LGBT continua em apuros, não existem políticas públicas que façam campanhas diárias, as pessoas acham que viver com HIV é simples, mas não é.

O sexo seguro não é uma realidade para a maioria dos jovens, são muitos infectados, são muitos que nem sabem que estão com o vírus e muitos que estão com o vírus, tomando o coquetel e achando que estão curados. Estou contando também para que a gente tenha cuidado com o outro, se preocupe com o outro, independente das nossas brigas profissionais, precisamos ser solidários uns para com os outros. Precisamos pensar que estas pessoas necessitam de tratamento diário e que acima de tudo é preciso um cuidado especial, uma atenção para que haja uma qualidade de vida para portadores do virus. Era assim na década de 80, foi assim em 1990, em 2000 as complicações também matavam e em 2010 continuam sendo a maior problemática.

Foto: Arquivo Portal Marcellus, Site que fez a cobertura da cena transformista por muitos anos.


“Ser gay nunca foi fácil, não era fácil entrar numa escola sendo a gay, a afeminada, passar pelo portão sem ser motivo de chacota, chegar até a sala de aula e saber que sofreu toda a humilhação e que sofreria as mesmas coisas ou pior ao sair, era um dos pontos que faziam as meninas abandonarem os estudos. Muitas eram postas fora de casa e outras saiam porque não aguentavam as pressões. Encontravam a dificuldade das ruas e a facilidade no mercado sexual, na rua elas podiam se vestir como queriam, faziam sexo e recebiam por aquilo. A polícia batia, prendia, mas muitas conseguiam se sustentar dali. O problemasó crescia com o avanço do HIV, mas a sociedade não estava preocupada com aquela situação. As famílias as vezes nem sabiam onde elas viviam, como estavam e por muitas vezes era por não querer saber. Não vejo problema na prostituição, vejo problema em ela ser a única opção. Se for oferecido um curso técnico, uma profissão a uma pessoa e ela decidir por algum motivo ser uma profissional do sexo é uma opção dela, mas ela ter apenas o sexo como profissão é uma problemática social, uma condição. As mudanças que vemos é lenta, as políticas públicas não ajudam, as famílias continuam não dando apoio, pois dar apoio não é só manter a moradia, é apoiar psicologicamente também. Quando acontece a infecção de um garoto de 17 anos com o vírus HIV, por exemplo, qual o apoio psicossocial é oferecido? Quem garante que estes novos infectados estão realmente fazendo uso da medicação? E se fazem, fazem de maneira correta? A fala de Dion é o desabafo de quem vive a militância diariamente, desde 1978. E por conta da entrevista que nos deu perguntamos o motivo de não ter trilhado junto com Marina Garlen o caminho das ongs e grupos de luta em favor das causas LGBTQ.

A Diva nos revelou que discordava de muitas coisas, que reconhece o crescimento da amiga através dos grupos, mas que sempre acreditou que a militância dela é essa, a de em 1978 colocar uma peruca na cabeça, enfrentar a sociedade por quase 40 anos e principalmente buscar dar possibilidades aos que estavam perto dela, protegendo, dando abrigo, fortalecendo, cuidando e amadrinhando quem precisava, E até hoje é assim. Falando em Afilhadas perguntamos nomes de algumas felizardas: Nina Vogue, Ed Cyber, Fabiane Galvão, Jesika Brander, Tanucha Taylor, Marina Garlem, Baga, Danusia Sammer, entre outras.

“Nunca participei de nenhum concurso, nem de miss, nunca nem permitiram...”

Foto: Arquivo pessoal de Dion Santiago

Perguntamos para Dion sobre as perspectivas das gays, travestis, trangêneros da década de 80 e da atualidade quanto a família, prostituição e futuro. Ela nos respondeu da seguinte forma:


EDMÉA BARBOSA Concursos

Curiosidades:

“Nunca participei de nenhum concurso, nem de miss, nunca nem permitiram, meu lugar era a de Diva, mas sempre fui convidada para abrir ou encerrar, talvez por minha forma de trilhar. A história dos concursos na Bahia é muito longa, desde Di Paula, logo em seguida Baga, são muitos concursos que já aconteceram aqui. Fiz duas versões do Miss América, mas é muito difícil fazer ,manter concurso. A falta de apoio é muito grande, o que já não deveria ser. Por exemplo, a Baga, Bruce, Scher fazem os concursos sem apoio nenhum do governo. Baga faz o Miss Bahia Gay em teatro alugado por ela, não tem pauta aberta, não tem um local gratuito, não tem principalmente o TCAque vive de portas fechadas. O que mantém a porta fechada para a cena transformista? O que nos impede de ser cultura? O que nos separa do reconhecimento?”

-Em 2009 O GGB deu a Dion o título de Diva das Paradas na Bahia, pois em 2008 ela foi a mais de 90% das Paradas em todo Estado, como madrinha, só pela militância, como musa, como deusa. -Desfila na parada gay com seu próprio trio e na VII Parada protestou com cruzes e roupa preta contra a morte de homossexuais naquele ano. - Na musica “O Avesso” entrava no palco como homem e saia do como mulher. -Nos anos 90 participou do programa Silvio Santos do SBT - Fez shows em Boates de mulheres: Piggalli, HolliDay e Anaboan. Homens pagavam para ver mulhere e assistiam transformistas, também. - Para trabalhar nas boates passava por travestis que comandavam a Rua Chile: Rita Lee, Boca de Motor, Mirinha Satã, Terezinha Radio Patrulha, Marcia Camburão.

Fotos e fatos na mídia

Jornal Tribuna da Bahia 1987, em pauta Dion, Baga e Marina, além de shows em Vera Cruz e Mar Grande.

Jornal À Tarde 1987, em pauta Dion e Bagageryer, sendo citadas como show espetacular.


Fotos e fatos na mídia

Caderno de Cultura , Tribuna da Bahia 1990, 23 de Maio. Na fotografia Dion, Morgana, Pamella e Bagageryer. A escrita indica : “Com produção e direção do transformista Dion, amanhã às 21:30 min, no teatro Nazaré, o grande musical “uma Volta ao mundo” espetáculo de luxo, brilho e muita pluma. Atrações Bagagerie, Marquezz, Dalma, Pamella...” Algum tempo depois a nova chamada indicava que o espetáculo novamente estava em cartaz: “Mais uma vez o tetro Nazaré será palco de espetáculo transformistaO musical “Uma volta ao mundo”, produção e direção de Dion. A cenografia é de Vavau, numa homenagem às melhores noite do mundo. O espetáculo contará com as transformistas...”

Tribuna da Bahia, 1987, assunto Shows Artes e Espetáculos. Transformismo em Mar Grande, na Pousada Casarão, show prazeres da vida com artistas transformistas, Marina e Bagagerie. Direção de Guga Francisco. Ainda salienta que o valor do ingresso é a preço baixo. Coluna do Guiga Francisco, cita o acontecimento do espetáculo acima, na época a coluna do Guiga era uma plataforma de exposição da cultura.


EDMÉA BARBOSA

Fotos e fatos na mídia

Correio da Bahia 1997. O espetáculo baseado no musical Francês “Formidable”, foi montado por July de Glamour, que se mudou para a Itália e por 5 anos juntou dinheiro e bolou o espetáculo. Na mala um vestido Paco Rabane estavam entre as surpresas da noite. A emoção tomou conta e a jornalista Elaine Hazin, entre suas palavras, publicou: “Foi a primeira vez que um grupo baiano de transformistas pisou num palco de teatro, em 1997, a estreia teve glamour na medida certa ou exageradamente incorreto, como preferir: casa cheia, aplausos ininterruptos, gritinhos histéricos, a presença de personalidades do mundo gay- e de outros mundos- e um figurino chiquérrimo, calculado, segundo Jorge Marcos, a July de Glamour, idealizador e promotor do espetáculo, em cerca de RS 50Mil...” “É a realização de um sonho, justificou, ainda no camarim. Além de July e Bagagerie, “Formidable” contou com as transformistas baianas Marquezza, Dio, Lion Schneider, Tracy witney e Karine Bergman, que voltou a se apresentar depois de dez anos afastada...”


Há quem diga que a atualidade tem sido a melhor fase da mídia para com a arte transformista, porém ao receber este material que aqui foi disponibilizado, percebemos que a década de 80 foi um marco na história do transformismo nos setores jornalísticos. Apesar da quantidade reduzida de jornais, e da ausência da internet, os espetáculos encenados por artistas transformistas apareciam de vez em quando em colunas e cadernos de cultura. Na década de 90 e anos 2000 as chamadas aconteciam da mesma forma. Outro ponto a ser colocado é a presença de transformistas em teatros da cidade. Ainda não chegamos ao fio que conduz a explicação do fato, porém em nossas pesquisas identificamos que alguns grandes eventos ficaram marcados na história. A prova de que estamos falando a verdade, fica por conta dos recortes publicados e das futuras entrevistas que faremos. É notório que Dion Santiago protagonizou muitos dos espetáculos e em breve contaremos mais sobre essa história.


Atendimento psicológico gratuito para a População LGBT

Caso deseje atendimento, pode entrar em contato com gibahpsi@gmail.com informando seu nome, telefone e o porque precisa de atendimento.


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