D ÁR O5 MINDELACT 2O22 www.mindelact.org M i n d e l a c t , 2 8 a n o s d e h i s t ó r i a q u e r e v o l u c i o n o u o t e a t r o e m C a b o V e r d e . N e s t e m o m e n t o , s ó t e m o s s a u d a d e s d o f u t u r o !
Caso do Vestido Fotografia de @Queila Fernandes
Na atual conjuntura histórica em que, perplexos, assistimos a uma recrudescência, um pouco por todo o mundo, de movimentos extremistas e radicais e o Brasil, após as eleições presidenciais, revela se um pais dividido entre, por um lado, a salvaguarda da democracia e da liberdade e, por outro lado, a massificação do discurso fascista, o espetáculo “ Caso do vestido” veio atualizar a necessidade de haver uma análise crítica e desconstruidora das heranças esclavagistas e coloniais que ainda persistem alimentando o solo do inconsciente coletivo de sociedades como a brasileira ou a caboverdiana.
Inspirada no poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade, a peça teatral O caso do vestido da retoma e corporiza o pensamento da socióloga moçambicana Sheila Kahn que afirma que “pensar em balizas cronológicas entre o colonial e o pós-colonial conduz a moradas epistemológicas erróneas, induzindo nos no erro de pensar que, historicamente, o colonial, como um episodio que marcou o itinerário identitário e ontológico de tantos indivíduos, é já pretérito”.
Para entender os mecanismos culturais e mentais através do quais ocorre a perpetuação no tempo das heranças coloniais, é imperativo tornar inteligível a interação dialética que, segundo Aníbal Quijano, existe entre a Colonialidade do Poder( a ocupação e exploração comerciais forçadas) e a Colonialidade do Ser, entendida com um processo de anulação progressiva da identidade do outro através de uma pluralidade de procedimentos, dos quais destacamos o epistemicídio( que consiste na destruição sistemática de conhecimentos produzidos por grupos sociais considerados subalternos e subordinados, com via para manter a subordinação e a relação de dominação).
Por Érico Medina
Coletivo Capemga
CASO DO VESTIDO
PALCO 2
Para entender os mecanismos culturais e mentais através do quais ocorre a perpetuação no tempo das heranças coloniais, é imperativo tornar inteligível a interação dialética que, segundo Aníbal Quijano, existe entre a Colonialidade do Poder( a ocupação e exploração comerciais forçadas) e a Colonialidade do Ser, entendida com um processo de anulação progressiva da identidade do outro através de uma pluralidade de procedimentos, dos quais destacamos o epistemicídio( que consiste na destruição sistemática de conhecimentos produzidos por grupos sociais considerados subalternos e subordinados, com via para manter a subordinação e a relação de dominação).
O caso do vestido assume se como uma crítica feroz contra a atualização no tempo da coloniadade do ser por intermédio da introjeção de heranças coloniais, tais. como o Patriarcado, a subalternização do feminino, a naturalização da poligamia masculina informal, a homofobia, a matrifocalidade das configurações familiares e o défice na assunção da figura paterna.
Mas trata se de uma crítica consubstanciada numa voz que, a pesar do reconhecimento da sua legitimidade em nomear a violência e o medo (“Minhas filhas, escutai palavras de minha boca”), vacila ante o espectro internalizado do potencial propulsor da sua despersonalização e do seu silenciamento (“Minha filhas, boca presa. Vosso pai evém chegando”).
Ao dramatizar a oscilação pendular entre a denuncia e o silenciamento acima referida, O caso do vestido traduz, de forma brilhante, uma das principais questões com que se debate as sociedades pós-escravocratas: como desconstruir uma posição de oprimido/subordinado, forjada externamente, sem reproduzir a linguagem do opressor.
Pensemos no enquadramento. Vemos dois atores brancos e dois atores negros na cena O texto é em inglês. O inglês do ator branco é um inglês urbano, de calão, muito fundo e de difícil compreensão, mesmo para quem domina a língua. O inglês dela é perfeito. O inglês dos atores negros é excelente também, principalmente do ator que é protagonista do espetáculo, mas percebe se que não é a língua materna, nem de um nem de outro. E ficamos espantados quando somos informados que os dois atores negros são caboverdianos, da ilha do Maio, provavelmente a mais isolada ilha de Cabo Verde. E a verdade é que, olhando o palco, percebemos que estão atuando no Palco 1 do Mindelact, o maior evento de artes performativas da África Ocidental, integrados num projeto internacional, com sede em Londres, fundado por eles próprios, no país de acolhimento. Por vezes, a arte do palco é o que mais importa. Mas não neste caso, embora eu tenha considerado o espetáculo bastante competente, em termos de dramaturgia, interpretação e gestão dos ritmos e energias, no decorrer das cenas.
PALCO 1
O projeto chama se Teatro Internacional de Cabo Verde e vieram com uma proposta de encenação de “Naked Soldiers” em associação com a Companhia de Teatro Ka Zimba Theatre, coletivo de Mark Norfolk, com um diretor e dramaturgo negro, inglês, premiado internacionalmente, que é também o autor do texto. Claro que com estas características singulares, o espetáculo teria que trazer à tona temáticas que se fazem hoje presentes e, diria, urgentes.
Teatro
NAKED SOLDIERS
Internacional de Cabo Verde & Ka Zimba Theatre
Por João Branco
A questão da emigração, mormente, a emigração clandestina originária de África, com todo o condão de tragédia humanitária que carrega consigo, é o fio condutor da história. Sabemos que por cada um que chega ao destino final, vários outros morrem no Atlântico ou no Mediterrâneo, a imagem da criança morta nas areias de uma praia europeia martela nos na cabeça e olhando para o palco, tomamos consciência da ousadia deste projeto anglo-crioulo e só podemos aplaudir de pé. A análise do teatro puro e duro é, neste caso particular, um elemento secundário.
AplausosTICAVE
OBRIGADO!
F I C H A T É C N I C A
Érico Medina
Articulista convidado
Queila Fernandes
fotografia
João Branco
Articulista
Caplan Neves
Coordenação, edição e paginação
Mindelact 2022
Festival Internacional de Teatro do Mindelo
NOVEMBRO 2022
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