Estratégias para uma boa comunicação do doente com cancro

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Estratégias

para uma boa comunicação com o doente com cancro


ESTRATÉGIAS PARA UMA BOA COMUNICAÇÃO COM O DOENTE COM CANCRO

PRODUÇÃO EDITORIAL: © EP Health Marketing

Todos os direitos reservados.

Desenho Editorial: Christian Valdebenito Novoa

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida sem a permissão da E.P. HEALTH MARKETING.

COPYRIGHT 2014 1093_MSD_ POR_v3

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ÍNDICE O que é uma má notícia?

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Por que razão é tão difícil dar uma má notícia?

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Competências básicas para uma boa comunicação

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Fatores que dificultam a comunicação de más notícias

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Revelação do diagnóstico e discussão do prognóstico

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Técnicas para dar uma má notícia

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Mais do que dar más notícias: como ajudar os doentes em sofrimento

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Conclusões

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O que é uma má notícia? Uma má notícia é aquela que altera drástica e negativamente a própria perspetiva do doente ou dos seus familiares em relação ao seu futuro. Provoca uma perturbação emocional ou comportamental que persiste algum tempo após ser recebida a má notícia.1 A reação de um determinado doente perante uma má notícia vai depender, basicamente, da sua personalidade, crenças religiosas, apoio familiar percecionado e contexto antropológico-cultural em que vive.1

Por que razão é tão difícil dar uma má notícia? Existem muitas razões, sendo uma preocupação comum a forma como a má notícia irá afetar o doente. Os médicos não querem tirar a esperança ao doente, podem ter medo da reação da família ou de não saber como lidar com uma resposta emocional intensa por parte do doente.2 É importante comunicá-las pela ordem adequada, com o melhor ânimo possível e a serenidade necessária para não comprometer a resposta do doente.2

Competências básicas para uma boa comunicação A comunicação com o doente e a sua família implica 5 competências essenciais:3 •

Envolver o doente.

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Deduzir o que o doente entende e as suas preocupações atuais.

Educar o doente.

Abordar as emoções.

Obter a colaboração do doente e do(s) seu(s) cuidador(es).

Estas capacidades ajudam a criar harmonia; estabelecer o que os doentes sabem sobre a sua condição e a importância das suas preocupações, fornecer informações sobre a doença e o tratamento; responder às emoções com empatia, validar as suas respostas e esclarecê-las; e envolver o doente e a família no plano de tratamento.3

Fatores que dificultam a comunicação de más notícias •

FATORES SOCIOCULTURAIS

Atualmente, a juventude e a saúde são consideradas valores de primeira importância, identificados com a riqueza e o sucesso social. Quem não as tem pode sentir-se, de alguma forma, velho, doente e pobre. Seguindo esta lógica, comunicar um diagnóstico desfavorável a uma pessoa é como dizer-lhe que o seu valor social está a diminuir no “mercado” da vida.1 Este sentimento de desvalorização social pode ser ainda mais doloroso quando a má notícia envolve o risco de morrer. Por outro lado, o marketing agressivo dos sistemas de saúde, que prestigiam excessivamente a medicina de alta tecnologia, gera, entre os utentes, ex-

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petativas terapêuticas exageradas que lhes torna difícil compreender situações irreversíveis.1 Em algumas culturas, o estigma negativo associado à palavra cancro é tão forte que o uso da palavra pode ser percebido como rude, desrespeitoso e, inclusivamente, pouco formal.4 Através de um inquérito nacional realizado em Taiwan investigaram-se os fatores enigmáticos e soluções relacionadas com as barreiras familiares acerca da sinceridade para com os doentes com cancro em fase terminal. Os resultados indicaram que as famílias acreditam que é desnecessário transmitir aos doentes idosos a verdade e que os doentes podem ser mais felizes se não a souberem.4 É útil conhecer o uso da comunicação não verbal em algumas culturas e o impacto psicossocial de se ter cancro. Muitas vezes, frases como tumor maligno ou crescimento são menos tumultuosas e mais facilmente aceites.4

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FATORES DO DOENTE

Muitos doentes assumem com total naturalidade doenças ou deficiências que para nós seriam muito difíceis de suportar.1

Um aspeto importante a ter em conta no momento de informar é a idade do doente. Os idosos com menor capacidade para assimilar informação complexa tendem, muitas vezes, a interpretar erradamente as mensagens transmitidas pelo médico.1 A investigação indica que as doentes mais velhas com cancro da mama que recebem tratamento não definitivo apresentam taxas mais altas de recidiva e de mortalidade do que as outras mulheres, e que correm maior risco de receber um tratamento não definitivo.4 Existe um conjunto de “doentes problemáticos”, cujo perfil psicológico pode acarretar uma grande dificuldade não só para a comunicação de más notícias, como também para estabelecer uma relação médico-doente aceitável: o agressivo, o manipulador, o lutador, o que não coopera ou o dependente de fármacos.1

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FATORES DO MÉDICO

1. Medo de causar dor: pode levar os médicos a atitudes evasivas em relação à comunicação de diagnósticos adversos ou a minimizar perigosamente a gravidade dos mesmos.1

2. Receio do fracasso do tratamento: Este receio é uma consequência direta da ilusão de que “tudo tem cura e que há cura para tudo” gerada pelos impressionantes avanços da medicina. Por isso, muitos médicos, especialmente os mais jovens, poderão viver a ausência ou insuficiência do tratamento como um fracasso profissional.1 O receio do fracasso do tratamento pode alterar a relação com o doente e comprometer o seu grau de colaboração. A não aceitação por parte do médico da ineficácia de um tratamento pode levar à chamada obstinação terapêutica ou a experimentar outros tratamentos, experimentais ou que não se encontrem suficientemente comprovados, com o consequente risco para o doente.1

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3. Receio legal: Na sociedade atual, o doente está convencido de que tem o direito não só aos cuidados de saúde, mas também à cura, e que qualquer fracasso terapêutico é sempre devido a um erro ou negligência que merece punição criminal e ressarcimento civil.1 4. Medo de expressar as próprias emoções: Os médicos têm dificuldade em expressar os seus próprios sentimentos perante os doentes. Como a ligação empática com o doente requer o envolvimento emocional do médico, esta dificuldade atua como uma barreira de comunicação.1

Revelação do diagnóstico e discussão do prognóstico Na América do Norte e em muitos países ocidentais, pratica-se a revelação aberta total em relação à presença de um cancro, embora os médicos frequentemente não discutam o prognóstico, a menos que o doente pergunte. A relutância em revelar um prognóstico terminal com franqueza persiste no sul da Europa, nomeadamente em Itália e em Espanha.3 No entanto, para os doentes, não mencionar o diagnóstico pode dar origem a sentimentos de isolamento, ansiedade, falta de controlo, abandono psicológico, desconfiança, suspeita e um sentimento de traição.3 Por outro lado, a discussão aberta do diagnóstico reduz a incerteza, melhora a participação nas decisões sobre o tratamento, permite o acesso a apoio psicológico, promove o autocuidado e permite ao doente começar a fazer planos para o futuro.3

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Apesar de uma revelação franca poder ter uma repercussão emocional negativa a curto prazo, a maioria dos doentes adapta-se à medida que o tempo passa.3

Quando as más notícias são dadas com muito cuidado, de forma sincera e favorável, a experiência do doente durante a conversa é menos stressante.3 Foi realizado um estudo que inquiriu 497 doentes com cancro sobre a sua experiência ao receber o diagnóstico. Os fatores preditivos significativos de satisfação dos doentes com a conversa incluíram sentir o interesse pessoal do médico, conseguir compreender a informação transmitida, receber a informação num ambiente adequado (consultório do médico) e dispor de mais tempo para processar a informação.3 Num estudo com 351 doentes que sofriam de qualquer tipo de cancro, foram determinadas as preferências de comunicação dos doentes ao receber as más notícias sobre um diagnóstico inicial ou a recidiva do cancro. Os elementos que os doentes consideraram mais importantes foram os seguintes:3 •

Que o médico estivesse atualizado sobre as últimas investigações sobre o cancro do doente.

Que o médico informasse o doente sobre as melhores opções de tratamento e dedicasse tempo para responder a todas as perguntas do doente.

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Que o médico fosse franco relativamente à gravidade da doença.

Que o médico usasse uma linguagem clara e simples, desse a notícia diretamente e concentrasse toda a atenção no doente.

É importante para o médico conhecer a perspetiva do doente sobre a sua doença, porque torna possível corrigir crenças incorretas em benefício do doente.

Técnicas para dar uma má notícia •

TÉCNICA SPIKES

Um grupo de oncologistas, liderados por Walter F. Baile e Robert Buckman, tiveram a ideia de implementar um protocolo para a comunicação de más notícias em medicina. Tendo por base tanto inquéritos como a sua própria experiência, elaboraram um protocolo de atuação, de 6 passos chamado SPIKES (sigla em inglês), com o objetivo de orientar com sucesso o médico na sua entrevista com o doente.1,3 Cada passo deve ser concluído antes de passar ao seguinte.1

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S

1 (Setting up)

– Preparar a entrevista3

Reveja todos os detalhes da história clínica e confirme o diagnóstico revendo todos os exames realizados. Leve a informação consigo para a entrevista caso seja necessário esclarecer algum ponto da mesma com o doente. Prepare mentalmente o que tem a dizer e a forma de o dizer. Disponha de um local privado e desligue o telemóvel para dar a sensação de privacidade.1 A maioria dos doentes deseja estar acompanhada por determinados familiares, nestas situações. Pergunte ao doente se quer vir acompanhado por algum familiar e, em caso afirmativo, peça-lhe que escolha um ou dois. Certifique-se do tipo de parentesco existente entre o doente e os familiares presentes.1 Sente-se e convide o grupo a sentar-se. Estar sentado relaxa o binómio doente-familiar, e com este gesto transmite a sensação de que não há pressa, favorecendo um ambiente de interesse e respeito.1 Inicie a entrevista com um cumprimento e, se não conhecer pessoalmente o doente, apresente-se. Tente iniciar a conversa com uma piada inocente para “quebrar o gelo”. O humor melhora a comunicação reduzindo a tensão e aliviando a ansiedade.1

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2 P

– Avaliar a perceção que o doente tem da situação médica3

(Patient’s Perception)

Comece a entrevista com uma pergunta franca do tipo: o que é que lhe disseram do seu problema até hoje?, ou então: está preocupado(a) com o que lhe está a acontecer?1 Ocasionalmente um doente, ou um pai ou mãe se o doente for uma criança, pode mostrar-se silencioso, abatido e incapaz de responder.1 Tente desbloquear a situação incentivando um diálogo que lhe permita averiguar o que o(a) angustia. Muitas vezes é um mal-entendido ou um assunto secundário ou logístico que pode ser resolvido (por exemplo, se deve ligar a uma filha que se encontra no estrangeiro).1 Identifique algum familiar ausente em quem o doente confia para ajudar a resolver a sua inibição.1 Se não for eficaz e o doente continuar silencioso, considere adiar a entrevista e avalie a hipótese de solicitar apoio psicológico.1

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3 I

(Patient’s Invitation) – Ser

te a explicar3

convidado pelo doen-

Nesta fase, trata-se de definir qual o grau de informação que o doente tem sobre o que lhe está a acontecer.1 Embora a maioria dos doentes queira conhecer todos os detalhes da sua doença e prognóstico, outros não mostram qualquer interesse e irão apresentar comportamentos típicos de evitação. Isto não deverá preocupá-lo, porque é um direito do doente de recusar receber informação e que é considerado um mecanismo de defesa psicologicamente compreensível.1 Seguem-se alguns exemplos de perguntas para completar o objetivo deste passo:1 •

O que quer saber sobre a sua doença?

Gostaria que lhe desse todos os detalhes do seu processo? Em caso contrário, há alguém a quem prefere que eu dê esses detalhes?

O que lhe interessa saber sobre o procedimento a que vai ser submetido(a)?

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4 K

(Giving Knowledge) – Fornecer ao doente conhecimentos e informação3

Utilize uma linguagem simples e adequada ao nível intelectual e cultural do doente. Antes de referir o diagnóstico deve usar uma frase de introdução, do género: “Temo que a sua evolução não tenha sido a que esperávamos”. Isto dará tempo ao doente para se preparar para o choque e irá aliviar o impacto emocional da má notícia.1 Evite utilizar terminologia técnica, eufemismos ou gíria médica, muitas vezes mal interpretada pelo doente. Por exemplo, use “defesa” em vez de “imunidade” ou diga: “o seu pai está ligado a um aparelho que o ajuda a respirar”, em vez de: “o seu pai está a ser submetido a ventilação mecânica”.1 Dê a informação em pequenas quantidades para dar tempo ao recetor de as assimilar. Faça pausas entre as frases para permitir fluir as emoções do doente e da família.1 Confirme, ao longo da conversa, o grau de compreensão perguntando aos interlocutores se o entenderam. Se ficar com dúvidas, solicite com cuidado que lhe expliquem pelas suas próprias palavras o que é que entenderam.1 Não use, em hipótese alguma, argumentos do tipo “se fosse meu pai, não o ligaria a nenhum aparelho”, porque, para além de ser um raciocínio não científico, supõe uma coerção ilícita que apenas acentua o medo e a confusão no familiar.1

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5 E

(Patient’s Emotions) – Ter em conta as emoções do doente com respostas empáticas3

Perante um diagnóstico desfavorável são expectáveis diferentes tipos de reação: explosão emocional, raiva, incredulidade, abatimento, etc. Perante uma determinada resposta do doente/familiares, o médico deve colocar a si próprio as seguintes questões:1 a) A reação do(s) doente/familiares é socialmente aceitável? Chorar é uma reação socialmente aceite, mas ameaçar o próprio médico ou partir coisas, não são. Face a uma reação não aceitável deve manter a calma e incentivar o doente ou familiar, com a maior firmeza possível, a controlar-se devidamente. Evite responder, por seu lado, com agressividade, pois esta apenas irá piorar os ânimos e será utilizada pelos oponentes para justificar retrospetivamente os seus insultos ou ameaças iniciais.1 b) A reação é uma forma de adaptação para o doente? Ou seja, a reação está a ajudar a aliviar ou a ultrapassar o problema (é parte da solução) ou não está a ajudar a ultrapassar a situação (a reação é um novo problema acrescentado).1 c) A reação é modificável? Se a reação emocional do doente estiver a aumentar o grau de ansiedade do mesmo, existe alguma intervenção que possa ajudar?1 d) A forma mais eficaz de neutralizar as reações dos doentes é oferecendo apoio e solidariedade através de uma resposta empática.1

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Uma típica resposta empática compreende 4 etapas:1 I.

Tente identificar a emoção principal que domina o doente dando-lhe atenção cuidadosa.1

II. Se o doente estiver silencioso ou perturbado pergunte-lhe diretamente como se sente: “que acha do que acabei de lhe dizer?”1 III. Aproxime-se fisicamente do doente e, se possível, toque-lhe no braço ou na mão. Faça um comentário para lhe transmitir que os seus sentimentos e reações são legítimos e comprensíveis. Use um comentário solidário, do género: “não se preocupe, entendo os seus sentimentos. A sua reação é natural”.1 IV. Deixe passar tempo suficiente para que o doente expresse livremente os seus sentimentos e emoções.1 Tenha por perto lenços descartáveis que são uma cortesia muito prática. Aproveite esta etapa para recolher informação dos seus receios ou preocupações concretas, que lhe serão muito úteis para “negociar” com o doente o plano de tratamento a seguir.1 Até que uma emoção desapareça, será difícil falar de outros temas. Se a emoção não diminuir brevemente, é útil continuar a dar respostas empáticas até que o doente se acalme. Pode ser uma forma de mostrar apoio dar uma resposta empática seguida de uma declaração de validação. Isto irá permitir ao doente saber que os seus sentimentos são legítimos.5 Em seguida, serão apresentados alguns exemplos de respostas empáticas, exploratórias e de validação:5

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DECLARAÇÕES EMPÁTICAS

PERGUNTAS EXPLORATÓRIAS

VALIDAÇÃO DE RESPOSTAS

“Consigo perceber “Que quer dizer com como isto é desagra- isso?” dável para si”

“Consigo entender como se sente”

“Não estava à espera de ouvir isto”

“Fale-me mais sobre isso”

“Suponho que outra pessoa teria a mesma reação”

“Sei que esta não é uma boa notícia para si”

“Poderia explicar-me “Tem todos os o que quer dizer?” motivos para pensar dessa forma”

“Lamento ter que lhe “Está assustado(a)?” “Sim, percebeu muidizer isto” to bem por que razão vai fazer o exame”

“Isto também é mui- “Poderá dizer-me o(a) to difícil para mim” que o preocupa?”

“Parece que já pensou muito bem nisto”

“Eu também estava à espera de um resultado melhor”

“Muitos outros doentes tiveram uma resposta parecida”

“Agora, diz que está preocupado(a) com os seus filhos. Fale-me mais sobre isso”

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S

6 (Strategy and Summary) –

Estratégia e resumo3

Neste ponto da entrevista o doente geralmente sente-se desanimado, confuso e muito preocupado com a sua esperança de vida.1 Os dois objetivos fundamentais desta etapa são: demonstrar ao doente que está do lado dele e elaborar, com a cumplicidade do doente, um plano de tratamento a seguir. Para isso tenha em consideração os seguintes aspetos:1 •

Se o doente pergunta pelo seu prognóstico, dê-lhe uma esperança realista. É muito importante assegurar-lhe que os sintomas podem ser aliviados de forma eficaz.1

Tenha sempre em consideração as opiniões e pontos de vista do doente e dos seus familiares. Principalmente se forem opiniões sensatas e lógicas.1

Tenha sensibilidade para discutir temas conflituosos ou íntimos com delicadeza, num ambiente de máxima privacidade.1

Explique e justifique os exames e tratamentos a realizar, especificando o desconforto que poderão causar e possíveis efeitos secundários. Organize, contando tanto quanto possível com a disponibilidade do doente, um cronograma dos exames e tratamentos. Isto irá reduzir significativamente o grau de incerteza do doente e irá garantir a sua colaboração.1

Estabeleça planos alternativos para o caso de um tratamento ou exame não dar o resultado esperado. Esta estratégia de se-

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gurança irá ajudar a construir a confiança na relação médicodoente.1 •

Tente transmitir a mensagem ao binómio doente-família que não vão ser abandonados e que está ativamente comprometido com o plano terapêutico desenhado.1

Termine fazendo um resumo final: Resuma o que foi dito durante a reunião e esclareça as dúvidas que possam ter surgido. Marque uma data para a próxima visita.1

TÉCNICA ABCDE

Outra técnica prática é a desenvolvida por Rabow e McPhee utilizando a mnemónica ABCDE:2

ATUALIZE-SE: Familiarize-se com toda a informação clínica sobre o assunto. Esteja preparado para dar, pelo menos, a informação básica sobre o prognóstico e tratamento da doença. Tenha preparado um local adequado, tranquilo e confortável, para dar a notícia. Mentalize-se de que irá dar uma má notícia. Se não tiver experiência, aconselhe-se com colegas experientes.

BASE: Crie a base da relação e ambiente adequados: Estabeleça as preferências do doente relativamente a que informação este quer receber e como a quer receber; sempre que possível pergunte também aos familiares do doente, apresente-se a todos os membros da família presentes, utilize palavras gentis antes de dar a má notícia. Assegure-se de que estará atento e disponível para qualquer esclarecimento.

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COMUNICAÇÃO: Pergunte ao doente ou aos familiares o que sabem. Fale com franqueza mas com compaixão, permita o silêncio e as lágrimas, evite a necessidade de falar para seu próprio conforto. Pergunte ao doente se entendeu e o que entendeu para se certificar que é o esperado. No final de cada visita faça um resumo e planos para o futuro.

DELIBERE com as reações do doente e da família: Responda e gira as reações emocionais estando atento ao comportamento e desenvolvimento emocional futuro do doente. Tente sempre criar empatia com o doente.

ESPERANÇA: Dê uma esperança realista ao doente; mesmo quando a cura não for realista, ofereça-lhe as opções disponíveis. Avalie como se sente o doente com as notícias. Utilize serviços interdisciplinares.

Mais do que dar más notícias: como ajudar os doentes em sofrimento Comunicar más notícias é, por vezes, visto como uma competência que os médicos podem dominar usando as palavras, o cenário e a atitude certas para comunicar informação perturbadora.6 Mais do que dar uma má notícia, os médicos também são chamados a gerir as suas consequências, uma tarefa que requer não só treino e aconselhamento de especialistas como também atenção a questões existenciais e espirituais dos doentes:6

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SOFRIMENTO E SIGNIFICADO

A pessoa no seu todo é a integração complexa de várias partes e as más notícias podem causar sofrimento em alguma dessas partes. Frequentemente, as más notícias fazem com que os doentes percam a sua identidade e desafiem o seu sentido de significado transpessoal.6 Se o médico se sente incapaz ou simplesmente não deseja lidar com a situação, o mais indicado será encaminhar o doente para outro profissional da equipa médica que se sinta mais confortável com a situação.6 A principal tarefa para o médico deverá ser entender a resposta do doente à má notícia e o significado que este lhe atribui. De facto, é a confiança possível na relação médico-doente que permite que os médicos descubram o que pode ser útil para o doente.6 Em primeiro lugar, os médicos devem simplificar e aprender a ouvir com compaixão para poderem fornecer uma reflexão emocional e validação.6

ENCONTRAR FORÇAS

A força pode ajudar a manter juntas as partes da pessoa que são afetadas por uma má notícia. Os médicos podem investigar os recursos do doente perguntando: “Quando lhe aconteceram coisas más no passado, como é que lidou com elas?” ou “Quais são as suas fontes de força ou suporte?”6 Estas perguntas irão ajudar o médico a identificar a necessidade do doente de obter recursos adicionais. Perguntar aos doentes: “A quem irão recorrer para apoio?” poderá levá-los a mobilizar os seus próprios recursos.6

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Compreendendo as forças internas do doente e o apoio social, o médico poderá aconselhar material educativo de leitura, grupos de apoio e encaminhá-lo para outros profissionais, de modo a dar força ao doente em sofrimento.6

CRESCER

Muitos dos profissionais envolvidos no trabalho de cuidados paliativos referem que o fim da vida pode ser uma oportunidade de crescimento pessoal dos doentes. Os médicos poderão perguntar: “Apesar de já não poder fazer algumas coisas, de que atividades ainda consegue usufruir?”6 Rever as experiências anteriores de crescimento na vida de um doente poderá ajudá-lo a identificar os processos através dos quais ele ou ela melhor aprende e se desenvolve. A investigação sobre o que foi possível para outros no fim da vida poderá desafiar a sensação de limitação do doente.6

ABRAÇAR O MOMENTO

As más notícias representam, muitas vezes, uma ameaça para o futuro, mas o sofrimento resultante pode ser substituído por abraçar o momento presente.6 Por exemplo, um doente pode dizer: “Embora saiba que vou ficar muito doente, hoje sinto-me suficientemente bem para desfrutar dos meus netos”. Um doente focado nos sentimentos, experiências e significado atuais poderá evitar a dor causada por pensar num futuro

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obscuro, circunscrito por um mau prognóstico. Este enfoque poderá ajudar a dissolver as barreiras e a dar origem a uma sensação de intimidade e globalidade.6

PROCURAR O SIGNIFICADO DO SEU SOFRIMENTO

O homem não é destruído pelo sofrimento, é destruído pelo sofrimento sem sentido.6 Os médicos deverão entender a forma como o doente tipifica a sua situação clínica, bem como o significado que atribui à mesma e à forma como impacta a sua vida.6 Saber que a culpa não é sua ajuda os doentes. Os doentes sentem algum conforto ao ouvir o médico dizer que a má notícia não é culpa sua. Perguntar aos doentes: “Que significa esta notícia para si?” poderá dar origem a discussões que ajudem o doente a começar a lutar pelo significado da sua doença, dando-lhe uma sensação de controlo.6 Os médicos podem facilitar a procura de significado pelo doente, encorajando-o a fazer uma análise retrospetiva da sua vida e das suas recordações. O médico poderá recomendar a elaboração de um diário ou a prática de meditação.6

PROCURAR A ACEITAÇÃO E A RECONCILIAÇÃO

Por vezes, pensar no fim da vida faz com que os doentes perdoem ou procurem o perdão dos seus entes queridos. Isto poderá proporcionar ao doente um resultado positivo inesperado da experiência da

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doença e alguns doentes até chegaram a descrever a doença como uma benção.6 Os médicos podem ajudar os doentes a considerar uma reconciliação com um ente querido distante.6 A aceitação das más notícias permite que os doentes se centrem na adaptação à sua doença em vez de lutarem contra a inevitável mortalidade.6

TRANSFORMAÇÃO

Por vezes, a doença e a perda podem ser transformadoras. Paradoxalmente, esta transformação permite aos doentes descobrir a paixão pela vida face à morte iminente.6 Os médicos poderão perguntar: “É uma pessoa espiritual?” Perguntas mais diretas incluem: “No passado, a doença alguma vez o(a) tinha mudado de forma radical?” “Se sim, como?” e “Conhece alguém que se tenha transformado de forma positiva devido à doença?”6 Embora a transformação através do sofrimento seja algo muito pessoal, o médico tem um papel na procura criativa, junto com o doente, do lado bom de uma situação má.6

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Conclusões Embora a comunicação de más notícias seja um assunto difícil e desconfortável para os médicos, existe evidência de que a utilização de uma abordagem humana e por protocolo, juntamente com a aprendizagem de determinadas competências de comunicação, poderão melhorar significativamente esta tarefa e, como resultado, o modo como o doente/família enfrentarão o duro processo de doença.1 Os médicos podem dar más notícias e controlar as suas consequências. Não têm a responsabilidade de conhecer as respostas às perguntas pessoais e existenciais dos doentes, mas são chamados a estar presentes como testemunhas do sofrimento dos seus doentes e a respeitar a vulnerabilidade criada pela má notícia.6 A atitude dos médicos e as suas competências de comunicação desempenham um papel crucial na forma como os doentes lidam com as más notícias. Os doentes e os médicos irão beneficiar se estes últimos estivem melhor preparados para esta difícil tarefa.2

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Referências 1.

García Díaz F. Comunicando malas noticias en Medicina: Recomendaciones para hacer de la necesidad virtud. Med Intensiva. 2006 Dec;30(9):452-9.

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3.

National Cancer Institute: PDQ® Communication in Cancer Care. Communication Along the Disease Trajectory. Bethesda, MD: National Cancer Institute. Date last modified <09/20/2012>. Available at: http:// www.cancer.gov/cancertopics/pdq/supportivecare/communication/ healthprofessional/page5

4.

National Cancer Institute: PDQ® Communication in Cancer Care. Factors Affecting Communication. Bethesda, MD: National Cancer Institute. Date last modified <09/20/2012>. Available at: http://www.cancer.gov/ cancertopics/pdq/supportivecare/communication/healthprofessional/ page4

5.

Baile WF, Buckman R, Lenzi R, Glober G, Beale EA, Kudelka AP. SPIKESA six-step protocol for delivering bad news: application to the patient with cancer. Oncologist. 2000;5(4):302-11.

6.

Rabow MW1, McPhee SJ. Beyond breaking bad news: how to help patients who suffer. West J Med. 1999 Oct;171(4):260-3.

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