ATLASPSICO n.01

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ATLASPSICO

Afinal, o que é droga?

COMPORTAMENTO | Psicologia com animais

NÚMERO 01 | JULHO 2007

A Revista do psicólogo



Índice

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DEPENDÊNCIA QUÍMICA Afinal, o que é droga?

COMPORTAMENTO Psicologia com animais

7 8 12

SEXUALIDADE

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LIVROS

O Orgasmo feminino

PSICOLOGIA HOSPITALAR Do efeito iatrogênico da palavra

PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL O TrabalhaDOR e as Organizações de Trabalho

COLUNA

EXPEDIENTE

A assertividade nossa de cada dia

Revista ATLASPSICO é uma publicação trimestral. Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. O uso de imagens e trechos dos textos somente podem ser reproduzidos com o consentimento formal do editor. Out./Nov./Dez. 2004 | Reeditado em julho de 2007.

EDITOR-CHEFE Márcio Roberto Regis CRP 08/10156 editorial@atlaspsico.com.br www.atlaspsico.com.br DIREÇÃO DE ARTE Equipe ATLASPSICO

COLABORADORES Gilka Correia Alline Alves de Souza Susana Alamy João Taborda Juliana Kirchner Corrêa Jorge Sesarino


Editorial Sejam bem-vindos à Revista de Psicologia ATLASPSICO, sua mais nova fonte de conteúdo aos estudantes e profissionais de psicologia. Ao reunir artigos de profissionais renomados e notícias atualizadas do mercado procuramos divulgar cada vez mais a nossa profissão e a qualidade dos artigos científicos. Revista ATLASPSICO é uma extensão do Portal ATLASPSICO (www.atlaspsico.com.br). Nesses 4 anos de existência, o Portal de Psicologia conseguiu reunir profissionais liberais, acadêmicos da área, assistentes sociais, entre outros, em um só lugar. Revista ATLASPSICO é um projeto em expansão e aperfeiçoamento, além de estar aberto a participação de todos. Participe! Boa leitura! Psicólogo Márcio Roberto Regis CRP 08/10156

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DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Afinal, o que é droga? DEPENDE. DO PONTO DE VISTA MÉDICO, “DROGAS SÃO SUBSTÂNCIAS USADAS PARA PRODUZIR ALTERAÇÕES NAS SENSAÇÕES, NO GRAU DE CONSCIÊNCIA E NO ESTADO EMOCIONAL”, DE ACORDO COM A CARTILHA DA SECRETARIA NACIONAL ANTIDROGAS. ESSA DEFINIÇÃO INCLUI MACONHA, COCAÍNA, CRACK E HEROÍNA, ÁLCOOL E CIGARRO, E TAMBÉM CAFÉ, CHOCOLATE E MEDICAMENTOS. Do ponto de vista jurídico existem drogas ilegais, legais e de uso controlado. As drogas legais podem ser comercializadas livremente, como o álcool e o cigarro. Qualquer um pode comprar drogas lícitas, sem controle. As drogas de uso controlado são certos tipos de medicamentos, que só podem ser adquiridos nas farmácias, com receita médica. As drogas ilegais, como a maconha, a cocaína, crack e heroina, para serem adquiridas dependem do contato com o traficante e uma rede de outros atravessadores, onde todos são alvo da repressão policial. Se uma pessoa é flagrada fumando maconha é presa como usuária, porque a droga é ilegal. Será esse o caminho mais correto? Aí está a diferença entre o usuário, que é um doente, e o traficante, que comercializa um produto ilegal, visando obter altos lucros, e portanto é um contraventor. Em relação às conseqüências, não há diferença entre as diversas drogas. Todas causam dependência. A nicotina contida no cigarro, por exemplo, é a droga com grande poder de criar dependência... mas como é uma droga legal, qualquer criança pode comprar livremente.

“1,5 BILHÃO DE PESSOAS NO MUNDO SOFREM DE ALCOOLISMO” Dados da Organização Mundial de Saúde, informam que 1,5 bilhão de pessoas no mundo sofrem de alcoolismo, e 55 milhões são dependentes de drogas ilegais. Isto é, a maior incidência é de drogas legais! O usuário de drogas envolve-se em situações de risco porque para conseguir a droga tem que entrar em contato com o traficante, contrai dívidas, faz a escalada para drogas mais pesadas, perde o controle sobre o uso e pode cometer infrações e crimes. Mais cedo ou mais

“PARA FUGIR DAS DROGAS, O MELHOR CAMINHO É A INFORMAÇÃO” tarde é apanhado pela polícia e complica toda a sua vida pessoal. Muitas vezes também torna-se traficante para poder financiar o seu vício. Entre as chamadas “drogas legais”, os interesses econômicos interferem nas decisões políticas e acabam ditando as regras do jogo. Como exemplo podemos citar a proibição da propaganda das bebidas alcoólicas, que por pressões das cervejarias, conseguiu alterar a portaria governamental aumentando o teor alcoólico para a proibição, e assim permitindo a propaganda da cerveja. Alias, belas propagandas, embora de muito mau gosto, que com o objetivo de vender também ilusões, exploram e utilizam o corpo da mulher como “objeto de consumo”. É bom lembrar que cerveja é bebida alcoólica, não existe “cerveja sem álcool”... “cerveja caseira”... Todas possuem teor alcoólico, embora em menor grau. Cerveja não é refrigerante, não pode ser tomada como água. Cerveja não é diurético. A água da cerveja vai ser expelida pela urina, o álcool, em segundos chega no sangue e no cérebro. Uma das maneiras de convencer uma pessoa a fugir das drogas, isto é, prevenir o seu uso é a educação, informando sobre os efeitos e riscos das diversas substâncias. Buscar depoimentos de pessoas que já foram dependentes, também pode ser útil. Não tenha receio de buscar ajuda profissional, como uma orientação ou psicoterapia. Informe-se! Assim você pode ter respostas prontas quando surgirem os apelos para “entrar na onda” e experimentar!...

Gilka Correia CRP-08-755 Filósofa, Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e Hospitalar, Sexóloga e Mestre em Educação. Psicoterapia especializada para crianças, adolescentes e adultos: Orientação escolar, vocacional e familiar. Cursos, palestras, consultoria. Educação e Sexualidade. Dependências Químicas.

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COMPORTAMENTO

Psicologia com animais AUTORA: Alline Alves de Souza. Bacharelado em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná. alline10@terra.com.br Ao tratarmos de Psicologia com animais, devemos repensar nossa evolução. Nossa estrutura física e mental veio se modificando ao longo dos anos, até chegarmos a espécie humana atual. Muitos de nossos comportamentos se iniciaram por nossos ancestrais: os hominóides; principalmente os comportamentos básicos referentes a sobrevivência, busca de companheiros sexuais e cuidados com crianças. Por isso, através da Etologia (estudo do comportamento dos animais) costumamos fazer comparações entre os mais diversos símios e os seres humanos. Não podemos deixar de lado os animais e ficarmos somente no humano. Afinal, o homem também não é um animal? O bicho homem, tanto quanto qualquer animal, vive sob a égide da Seleção Natural. Com o aumento de convivência com animais domésticos, o homem A psicoterapia com animais neurotizou o cachorro, passando é um campo novo dentro da Psicologia que tem de ser mais este, a ser tratado como “gente”. explorado. Até confeitarias para cães abriram! Vão para o banho e tosa, com direito a massagem, acupuntura e dentista. Não podemos esquecer da fisioterapia e da hidroterapia para os “animaizinhos estressados” com grande energia. Festas de aniversário, desfile de raças e “roupas da moda”. Só falta falarem! O animal de estimação passa a ser mais um membro da família. Crianças que convivem com cachorros, trabalham melhor o afeto e também a questão do luto. A presença destes animais, diminui o nível de ansiedade, pressão sanguínea, batimentos cardíacos e até mesmo o colesterol. Mais pesquisas apontam que crianças que convivem com animais domésticos, tem organismos mais preparados para se defender de eventuais problemas de saúde. Os animais são perceptíveis ao meio. Apresentam problemas de comportamento quando suas necessidades básicas não são satisfeitas. Cães e gatos reagem emocionalmente às condições do ambiente, das pessoas e de outros bichos que nele vivem. É através das queixas sobre o comportamento do animal que o proprietário e terapeuta podem chegar à emoção que o incomoda. Comportamentos considerados em desequilíbrio como: medo, traumas, possessividade com relação ao

dono, dificuldade de aprendizagem, desânimo, impaciência, temperamento dominador, agressividade... podem ser ministrados com essências de florais que irão equilibrá-lo novamente. Ressaltamos a importância do trabalho terapêutico com os animais. Se observar no caso, um cachorro, nunca está triste ao menos que venha a adoecer, já é perceptível a mudança de seu comportamento. A compaixão dessas criaturas é um remédio inestimável! São ótimos companheiros para pessoas que sofrem da depressão. A pessoa depressiva, se obriga a levantar da cama para dar de comer a seu animalzinho e levá-lo para passear ajudando assim, na recuperação desta. Os cavalos ajudam na reabilitação de deficientes físicos, deficientes mentais, no contato com a criança autista e o prazer para deficientes visuais. Eles sabem quando você está triste ou alegre. Em hospitais se utilizam de coelhos para o acesso de crianças em tratamentos prolongados. A psicoterapia com animais é um campo novo dentro da Psicologia que tem de ser mais explorado. Inserir o trabalho multi e interdisciplinar envolvendo psicólogos, antropólogos, veterinários, fisioterapeutas e biólogos nesta relação homem x animal. Compartilhar sua vida com um animal de estimação é uma das experiências mais gratificantes que existem. O amor incondicional que recebemos nos preenche de auto-estima e de saúde. Contudo, existem pessoas que amam os animais e sabem o quanto todos tem direito à vida digna e com respeito pelas suas espécies e merecem alguém responsável para proporcionar-lhes afeto e bem-estar.

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SEXUALIDADE

O Orgasmo Feminino Existe, por vezes, a ideia errónea de que a satisfação das relações sexuais se liga invariavelmente à obrigatoriedade da ocorrência do orgasmo feminino. Este pressuposto esbarra de forma clara no desconhecimento da função sexual humana, principalmente a feminina. As relações sexuais têm sempre uma componente fisiológica que, tal como as outras funções (cardíaca, hepática, pulmonar, etc) pode não funcionar na sua plenitude, não significando, contudo, que exista qualquer tipo de problemática associado. Para além desta vertente meramente fisiológica, as relações sexuais são, ainda, influenciadas decisivamente pela componente psicológica de cada indivíduo, esta sim, desempenhando um papel preponderante na capacidade e disponibilidade de cada um em reagir sexualmente, contando-se inúmeras nuances ao nível da resposta sexual, no seio dos parâmetros considerados ajustados e comuns à maior parte dos sujeitos. Temos então, dois factores extremamente importantes a influenciar a resposta sexual humana. Na esmagadora maioria das situações, estes factores estão de tal forma interligados que se torna quase quimérico isolá-los. Uma mulher que não obtenha o orgasmo no decurso de uma relação sexual, pode, no entanto, sentir-se bem do ponto de vista sexual. O problema pode surgir quando o seu parceiro pensa que algo está errado entre eles

ou que a sua parceira tem algum problema do foro sexual. Essa ansiedade pode influenciar, também, o seu desempenho sexual, para além do da companheira, podendo estar na génese de um real problema sexual/relacional. Esta forma de abordagem do orgasmo feminino com a consequente imperiosidade da sua existência, é algo que não encaixa no conhecimento actual que possuímos no que diz respeito às respostas sexuais feminina e masculina, sendo mais notórias estas questões, ao nível do orgasmo feminino e da ereção masculina. Assim, factores como fadiga, tensão, ansiedade, entre outros, podem interferir, de forma diferente, nas respostas sexuais de ambos os sexos, dificultando ou impedindo a obtenção do orgasmo e da ereção, ou ainda, implicando a perda súbita desta última. Torna-se, também importante, salientar a crescente necessidade de informar, por forma a que as ideias errôneas ligadas à sexualidade se reduzam, contribuindo-se para que os padrões que são veículados possam ter alguma variabilidade e adequabilidade em função de cada um dos sujeitos, sem que cada um deles pense que só pode responder sexualmente da forma x ou y. O conhecimento das idiossincrasias do próprio e do(a) companheiro(a), contribuirá para que se consiga lidar de forma mais salutar com essas diferenças que, eventualmente, até podem ser estimulantes.

AUTOR João Taborda – SNP 1202 Psicólogo Clínico, Mestre em Sexologia e Prof. Universitário (Psic. Desenvolvimento; Psic. Ambiente e Coordenador de Estágios) e reside em Lisboa, Portugal.

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PSICOLOGIA HOSPITALAR

Do efeito iatrogênico

da palavra Este exemplo é baseado em um atendimento realizado por uma das minhas estagiárias, que me foi gentilmente autorizado por ela para publicação. CASO JOÃO Criança de quatro anos e seis meses de idade, internada com o diagnóstico de broncopneumonia e asma, não sendo esta sua primeira internação hospitalar. Contou com duas sessões de acompanhamento psicológico. Transcrevo os atendimentos: 1.º Encontro Quando cheguei na enfermaria percebi que J. estava sozinho e chorando muito. Fui ao seu leito e ele me pediu (chorando) para ir ao banheiro. Desci-o do leito e o levei até o banheiro. Ao sairmos de lá, ainda chorando, perguntei-lhe o que havia acontecido. J. me disse que sua mãe tinha ido embora. Coloquei-o em meu colo e disse-lhe que sua mãe tinha ido embora, mas que voltaria assim que pudesse para vê-lo. A criança foi internada hoje e estava muito assustada com tudo à sua volta. J. desceu do meu colo e puxou-me pela mão até à janela. Coloquei-o sentado e ele ficou chorando e apontando para a janela dizendo alguma coisa sobre sua mãe (eu quase não entendia o que ele falava). Teve momentos sem choro, mas, de repente, recomeçava e chamava pela sua mãe. Disse-me que queria ir embora. Eu falei que assim que ele melhorasse, ficasse bom, que poderia ir embora para a sua casa. Perguntei se era isso que ele queria e J. me disse que sim, balançando a cabeça. Falei, então, que ele tinha que tomar todos os remédios, que assim ele ficaria bom para voltar para casa. Ele acalmou-se muito depois dessa nossa conversa e continuou olhando pela janela, só que sem chorar. Despedi-me dele dizendo que precisava ver outras crianças. J. concordou gesticulando com a cabeça e disse-me que não ia mais chorar.

2.º Encontro Fui ao encontro de J., porque tinha percebido no primeiro atendi- mento uma demanda. Ele pareceu-me uma criança reprimida: fala muito baixo, tem vergonha de pedir e falar das coisas que quer, quase não olha para cima... Assim que cheguei, J. sorriu e deu-me um “oi” balançando com as mãos. Ele estava sentado na cadeirinha, brincando de carrinho com outras crianças da enfermaria. Ao aproximar-me perguntei-lhe como estava e ele disse-me que estava bem, que tinha tomado todos os remédios e aí me perguntou “minha mãe vem me buscar?” (sic) Nessa hora, percebi que no meu atendimento anterior, uma intervenção que fiz não tinha sido adequada, uma vez que tinha se lembrado da minha fala que dizia que quando ele ficasse bom sua mãe viria buscá-lo. Como ele achava que já estava bom, com certeza queria saber, então, quando ela viria. Respondi-lhe que não sabia, mas que eu estava feliz em saber que ele estava melhorando a cada dia. Pergunto-lhe se ele queria brincar e ele me disse que sim. Disse-lhe que ia buscar uns brinquedos para ele e que já voltava. Fui buscar a família das girafinhas, porque queria trabalhar com J. a questão da separação dele da sua família. Quando voltei, J. estava à minha espera. Brincou um pouco com as girafas, mas quando comecei a contar uma estória sobre a família das girafas, ele disse-me que queria brincar de carrinho. Tentei insistir mais um pouco, mas ele não quis. Não queria nem conversar, só brincar de carrinho com os outros meninos. Não tive uma boa resposta nesses dois atendimentos com o J. A intervenção inadequada que fiz no primeiro contato, refletiu sobre o segundo de duas formas: uma, na fala dele a respeito da minha intervenção e outra, na minha maneira de conduzir o atendimento: já não estava mais à vontade e sentia-me insegura ao seu lado. Por isso encerrei o atendimento, mas J. ainda sorria para mim ao me despedir.

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PSICOLOGIA HOSPITALAR Analisemos os atendimentos: 1. “Coloquei-o em meu colo e disse-lhe que sua mãe tinha ido embora, mas que voltaria, assim que pudesse para vê-lo”, reflete uma tentativa paliativa de consolo, sem ter elementos suficientes para afirmar que ela voltaria para vê-lo. 2. Quando a estagiária coloca para a criança que “assim que ele melhorasse, ficasse bom, que poderia ir embora para a sua casa”, reforçando a sua fala em “falei que ele tinha que tomar todos os remédios, que assim ele ficaria bom para voltar para casa”, em primeiro lugar, assume um papel que não lhe cabe: o de determinar que tome os remédios, colocando-os como elementos mágicos e curadores e, em segundo lugar, “promete” a alta hospitalar caso “melhore”, sem ter elementos suficientes para tal conclusão, desconsidera a capacidade da criança de auto-julgamento do seu estado de saúde, não relevando a forma como pode ser percebida esta melhora por ela. 3. “Ele acalmou-se muito depois dessa nossa conversa e continuou olhando pela janela, só que sem chorar.” – O objetivo da estagiária é atingido (que a criança parasse de chorar, de sofrer), a custo de uma promessa feita, não da elaboração do fato. 4. “Ao aproximar-me, perguntei-lhe como estava e ele disse-me que estava bem, que tinha tomado todos os remédios e aí me perguntou “minha mãe vem me buscar?” (sic). Nesta colocação, fica clara a cobrança da promessa que havia sido feita e o efeito negativo da mesma passa a ser esperado, uma vez que o estar bem para criança não representa necessariamente o estar bem clinicamente. A promessa não pode ser cumprida pela estagiária, o que lhe dá um feed-back da situação (“nessa hora, percebi que no meu atendimento anterior, uma intervenção que fiz não tinha sido adequada, uma vez que tinha se lembrado da minha fala que dizia que quando ele ficasse bom sua mãe viria buscá-lo. Como ele achava que já estava bom, com certeza, queria saber, então, quando ela viria”) e a deixa insegura, e, tentando contornar a situação, diz que “estava feliz em saber que ele estava melhorando a cada dia”, talvez, numa tentativa de fazê-lo perceber que ainda não estava suficientemente bom. 5. Tenta ainda trabalhar a questão da separação da mãe, percebida como um ponto focal merecedor de atenção e elaboração. Vai buscar uma família de girafas. “Brincou um pouco com as girafas, mas quando comecei a contar uma estória sobre a família das girafas, ele disse-me que queria brincar de carrinho. Tentei insistir mais um pouco, mas ele não quis. Não queria nem conversar, só brincar de carrinho com os outros meninos.” Neste momento, podemos notar a presença de elemento ansiogênico da estagiária, pois ela conta a estória e quando a criança se identifica e resiste, ela ainda insiste. 6. A estagiária percebe seus erros: “não tive uma boa resposta nesses dois atendimentos com o J. A intervenção inadequada que fiz no primeiro contato, refletiu sobre o segundo de duas formas: uma, na fala dele a respeito da minha intervenção e outra, na minha maneira de conduzir o atendimento: já não estava mais à vontade e sentia-me insegura ao seu lado.” E ainda tenta se confortar quando coloca que: “mas J. ainda sorria para mim ao me despedir”, ou seja, podemos entender como: não foi uma intervenção tão maléfica assim; ou ainda: ele perdoou-me, ou ainda: ele compreendeu-me..., por isso “ainda sorria para mim”. Ou mesmo porque, inconscientemente, compreendeu o significado de “ainda estar melhorando”. Os malefícios das suas intervenções podem ter sido maiores e mais acentuados, mas não temos elementos concretos que pos- sam confirmar nossas hipóteses, no entanto, podemos fazer inferências que nos sirvam para reflexões e posteriores acertos. Pois a criança pode entender com sua fala que tomar todos os remédios a fará melhorar, o que pode desencadear um comportamento compulsivo de tomar remédios sem a vigilância da mãe, em todos os momentos em que não se sentir bem, pretendendo evitar a internação e assegurar que esteja em casa. Neste caso, teríamos, com clareza, um efeito iatrogênico da sua fala. Iatrogenia significa, transcrito do Aurélio Eletrônico “alteração patológica provocada no paciente por tratamento de qualquer tipo: ‘um dos capítulos mais importantes da ciência médica atual é a iatrogenia, que cuida dos males provocados pela ação do médico, ou pelo tratamento por este prescrito’.” (Clementino Fraga Filho, ap. Carlos Drummond de Andrade, Jornal do Bra-sil, 2.8.1980).” No entanto, devemos levar em consideração que a iatrogenia resulta da ação que tem a intenção de salvar, de ajudar e de curar, mas que vem a causar efeitos colaterais muitas vezes inesperados e em outras já previsíveis, pelos quais se faz a opção, como nos casos dos medicamentos (iatrofarmacogenia), entendendo-se que os efeitos positivos possam superar os seus malefícios. AUTORA: Susana Alamy CRPMG 6956. Psicóloga Clínica e HospitalarEspecialista em Psicologia Hospitalar.

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aos navegantes, um porto seguro

ATENDIMENTOS ONLINE

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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

O TrabalhaDOR e as Organizaçõ

um olhar psicanalítico O PRESENTE ARTIGO PROVÉM DE PESQUISA BIBLIOGRÁFICA E OBJETIVA A REFLEXÃO SOBRE COMO O TRABALHADOR ESTRUTURA-SE NAS ORGANIZAÇÕES DE TRABALHO. REFLETE SOBRE O SUJEITO QUE RENUNCIA ÀS PULSÕES A FIM DE GARANTIR A SOBREVIVÊNCIA EM SOCIEDADE; CONSIDERA O TRABALHO UMA MEDIDA PALIATIVA QUE SE DÁ PELA VIA DA SUBLIMAÇÃO PARA SUPORTARMOS A VIDA QUE NOS PROPORCIONA SOFRIMENTOS, DECEPÇÕES E TAREFAS IMPOSSÍVEIS. ATRAVÉS DA IDENTIFICAÇÃO, ATRELADA AO DESEJO DE RECONHECIMENTO, O SUJEITO PRENDE-SE ÀS ORGANIZAÇÕES DE TRABALHO E ESTAS DEIXAM MARCAS. COM SEUS SISTEMAS CULTURAL, SIMBÓLICO E IMAGINÁRIO ENVOLVEM O SUJEITO. PRETENDE-SE LANÇAR UM OLHAR PSICANALÍTICO PAUTADO NA CONCEPÇÃO DE QUE O INCONSCIENTE INFLUENCIA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO, UTILIZANDO PARA ISTO A METÁFORA DAS PRISÕES PSÍQUICAS DE GARETH MORGAN, O ESTUDO DE EUGÈNE ENRIQUEZ SOBRE AS SETE INSTÂNCIAS DA ANÁLISE DAS ORGANIZAÇÕES E A OBRA DE SCHIRATO QUE ESTABELECE A RELAÇÃO ENTRE A ORGANIZAÇÃO E O IMAGINÁRIO DO TRABALHADOR ATRAVÉS DO FEITIÇO DAS ORGANIZAÇÕES. A Organização de que falamos a dor da renúncia pulsional, necessária à vida em soA Organização de que se fala é a Organização de ciedade. trabalho definida como Empresa, caracterizada pela É interessante pensar as organizações de trabalho com produção e distribuição de bens e prestação de servi- base na contradição, como propõe SCHIRATO (2002): ços, tendo em vista o indivíduo motor, o trabalhador. LAPASSADE (1989), psicossociólogo estudioso das InsA instituição é abstrata, feita por e para pessoas contituições, vem diferenciar grupos, organizações e insti- cretas; é perpétua, ou pelo menos ambiciona a perpetuidatuições, considerados os três níveis do sistema social. de, feita por e para pessoas efêmeras; é jurídica, feita por e Enquanto os grupos são as unidades base do sistema para pessoas físicas; é de todos que com ela convivem e não social, as organizações são consideradas “o grupo dos é de ninguém; é frágil, depende dos que a sustentam e progrupos” e são regidas por normas próprias mete abrigo para os que a ela se submetem; é que fazem a mediação entre a base (socie- 1. Pulsão visionária, antevê o futuro para garantir a pródade civil) e o Estado. Já as instituições são Pressão ou força que pria sobrevivência e a sobrevivência dos seus e um sistema de normas que estruturam o gru- faz o organismo tenopera cegamente no presente, em nome da impo social, que tem força de lei para regu- der para um objetivo e parcialidade, do impessoal; exige criatividade lar o convívio social e o seu funcionamento suprimir um estado de constante de pensamentos e atitudes, submetensão. LAPLANCHE, (p.14–15). tendo tal criatividade exigida aos pressupostos O termo Organização tem pelo menos Jean. Vocabulário de eleitos e conservados como adequados; pratica duas significações: por um lado designa o Psicanálise. 4ª ed. São o culto da entrega e da fidelidade a seus memato organizador que é exercido nas institui- Paulo: Martins Fontes, bros, gerando a cultura de permanência e da ções e, por outro lado, se refere realidades 2000. (p.235). pertinência e rapidamente promove desenlaces sociais, sendo a Organização Social um conem nome da renovação, enfim, coloca-se como junto formado por partes que cooperam, uma 2. MARI, J. de. O divina (prepotente), recrutando, admitindo e coletividade instituída com vistas a objetos Paraíso Verde. Revista organizando mortais, pessoas humanas que a definidos, tais como a produção (empresa in- GUIA EXAME 2002 deusificam e praticam a fé no absoluto, no industrial), a distribuição de bens (empresa co- – 100 melhores questionável, no eterno (p.23-24). mercial) e a formação de homens (instituição empresas para você trabalhar. Editora educativa) (p.101). De que homem falamos? O trabalhador. O presente artigo surgiu primeiramente Abril: São Paulo, 2002. A contradição acima apresentada reme(p.48-49). dos questionamentos: te-nos ao que MORGAN (1996) vem afirmar Por que o ser humano se sujeita ao traquanto às organizações vistas na perspectibalho? Como as instituições de trabalho, Organizações, va de metáfora das prisões psíquicas onde os seres hulidam com o Ser humano? E culmina na reflexão sobre manos tem uma inclinação toda especial para cair nas

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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

ões de Trabalho

os colaboradores podem fazer perguntas e dar sugestões para a alta administração e receber as respostas. O diretor relatou que até aquele momento não havia recebido nenhum e-mail de sugestão, somente de agradecimentos. Outro fator digno de interesse é quanto a formulação dos dez mandamentos da empresa, isso pela curiosa relação de provável identificação com preceitos religiosos. E agora, como é esta relação? A Organização citada foi considerada como uma das “melhores para se trabalhar”, e sabe-se que a realidade atual da maioria das empresas ainda está atrelada às noções mecanicistas, onde a frase que as resume seria “você é pago para fazer, e não para pensar”. Trata-se de uma idéia justificável se buscarmos o cerne do conceito de organização, que segundo MORGAN (1996) provém do grego organon, que significa ferramenta ou instrumento, conceito surgido na época da Revolução Industrial, onde com o advento das máquinas as pessoas não tiveram outra escolha, senão a adaptação.

armadilhas criadas por eles mesmos, dando a entender que esta relação contraditória é base do humano, criando as organizações para submeter-se a elas (p.205). Esta relação envolve, como aborda HANNAH ARENDT (1997), um homem com um passado histórico onde as relações de trabalho modificaram-se. E como ENRIQUEZ (1997) esclarece, um homem que continua enfrentando um processo civilizatório, sujeito que não existe fora do campo social e que acha-se constantemente dividido entre a expressão de seu próprio desejo (reconhecimento de seu desejo) e a necessidade de identificar-se com o outro (desejo de reconhecimento) (p. 95). Em “O Futuro de uma Ilusão” FREUD (1927) considera que todo indivíduo é vir- 3. Homo faber tualmente inimigo da civilização, embora ARENDT (1993) disAnalisando o conceito de Trabalho suponha que esta seja de interesse humano tingue o homo faber ARENDT (1993) possibilita-nos uma viuniversal. Aponta que o homem não é es- e o animal laborans. são da compreensão do trabalho em nospontaneamente amante do trabalho e por Homo faber é o que sa sociedade moderna. A autora realiza um civilização compreende tudo aquilo em que fabrica e dependente resgate da Antiguidade onde as atividades a vida humana se elevou acima de sua condi- de instrumentos; e humanas fundamentais eram o labor, o tração animal e difere da vida dos animais, que o animal laborans balho e a ação. apresenta dois aspectos: inclui todo o conhe- é o que está sujeito cimento e capacidade que o homem adquiriu às necessidades da O labor é a atividade que corresponde com o fim de controlar as forças da nature- natureza. ao processo biológico do corpo humano (...); za e extrair a riqueza desta para a satisfação o trabalho é a atividade que contra o próprio das necessidades humanas; e inclui todos 4. FREUD considera indivíduo, seus regulamentos, instituições e os regulamentos necessários para ajustar as como fundamento ordens dirigem-se à essa tarefa (FREUD, O relações dos homens uns com os outros e, da vida comunitária Futuro de uma Ilusão, 1927). A renúncia pulespecialmente, a distribuição da riqueza dis- a compulsão para o sional é coletiva, em prol da sociedade, e as trabalho e o poder do ponível. (O Futuro de uma Ilusão, 1927). organizações de trabalho fazem esta função A relação aqui estudada entre o sujeito amor (Mal-Estar na de lei e de provedora do coletivo. social e o sujeito considerado pela psicanálise Civilização, 1930) e e a organização de trabalho estará pautada que o afeto é o que Um olhar para uma organização na renúncia pulsional, sendo que a pulsão1, liga as idéias no nível Presenciando a palestra do diretor da por causa de obstáculos externos – obediên- inconsciente. melhor empresa para se trabalhar segundo a cia ao princípio de realidade - conduziria a revista Exame2, sobre os programas de quauma tensão insuportável se não fosse possível reduzir lidade de vida oferecidos aos seus colaboradores (edusua intensidade com deslocamentos de energia (FREUD, cação, alimentação, auxílio médico, transporte, partiMoisés e o Monoteísmo, 1939). Assim, o trabalho é con- cipação nos lucros, rádio, mural e telão que informam siderado uma medida paliativa na função de evitar do sobre a empresa, intra e internet, atividades culturais, sofrimento (desprazer). creche, auxílio maternidade, casamento e funeral, eliminação do cartão ponto, abertura da comunicação entre “O homem civilizado trocou uma parcela de suas presidente e colaboradores, etc), questionamo-nos sopossibilidades de felicidade por uma parcela de segu- bre o que a empresa realmente oferecia. A primeira imrança” (O Mal-Estar na Civilização, 1930). pressão, compartilhada com os profissionais da área de recursos humanos ali presentes, foi de espanto - “Existe Tendo em vista que a civilização tem de se defender uma empresa assim?”. tor quando falou do programa “se eu fosse presidenO notável proveio das palavras proferidas pelo direte”, canal de comunicação direta via e-mail, onde todos corresponde ao artificialismo da existência humana, que

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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL produz um mundo “artificial” de coisas (...); a ação, única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria (...) (p.15). O labor referia-se ao trabalho pela sobrevivência e era restrito à oikia (casa), fazendo parte da esfera privada, no sentido de ser “privado de”: o homem submetido às necessidades da natureza. O produto da labuta era perecível, como o alimento por exemplo. Como trabalho eram consideradas as atividades que resultassem em produtos ou bens de consumo não perecíveis, os que permanecem no mundo. Era uma atividade considerada como não fútil, dominada pela relação meio e fim, sinônima de fabricação. A ação fazia parte da esfera pública (polis) e consistia em privilégio de alguns, os cidadãos. Tinha como significado a dignificação do homem (virtudes) e era espaço do discurso caracterizado pela atividade espontânea e ilimitada. Com o advento da sociedade moderna a ação perdeu seu significado original e passou a ser confundida com o conceito de trabalho da Antiguidade. Assim, a ação perde o sentido ligado à virtude e identifica-se com a noção de ação como atividade finalista (trabalho). A ação torna-se um fazer. O fabricar, antes considerado trabalho, ligado à idéia de domínio sobre as coisas, adquire o domínio sobre os homens numa relação impositiva de uma vontade sobre outra vontade como meio para atingir os fins da paz, segurança, bem-estar, etc. Com o advento da Era Moderna os significados das coisas foram instrumentalizado. Surgiu com ela o homo faber3. A esfera pública, que na antiguidade era a esfera do homem político, passa a ser a esfera do mercado e a troca de produtos passa a ser a principal atividade política. Assim, os homens passaram a ser julgados não como pessoas, mas como seres que agem, que falam e julgam como produtores, segundo a utilidade de seus produtos. O espaço de comunicação do homo faber tornou-se alienante, excluindo o próprio homem, pois este passou a mostrar-se através de seu produto. Ainda na Era Moderna ocorreu a progressiva absorção da idéia de trabalho (produtividade) pela idéia de labor (necessidade de sobrevivência), surgindo a sociedade de consumo onde o centro não é mais o mundo construído pelo homem, mas a mera necessidade de sobrevivência. Então, o homem voltado para sua própria sobrevivência não é capaz de dar sentido a outras coisas e as pessoas tornam-se descartáveis. O homem é julgado pela função que exerce no processo de trabalho e por sua produção social. Os ideais do homo faber, fabricante do mundo, que são a permanência, a estabilidade e a durabilidade, foram sacrificados em benefício da abundância, que é o ideal do animal laborans. Vivemos numa sociedade de operários, porque somente o labor, com sua inerente fertilidade, tem possibilidade de produzir a abundân-

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cia; e transformamos o trabalho em labor (...) (ARENDT, 1993, p.138). A partir disso, os detentores de empregos passaram a requerer do trabalhador uma função automática, como se o indivíduo fosse afogado pelo processo vital da espécie e a única atitude exigida deste fosse o abandono de sua individualidade (p.335). ARENDT (1993) capacita-nos a verificar que o trabalho, antes considerado como durável e permanente no mundo, hoje assume a forma de labor e está diretamente ligado à questão da necessidade, da sobrevivência atrelada ao consumo. DEJOURS (1992), teórico que estuda as relações de trabalho e a saúde mental, afirma que a organização de trabalho, concebida como um serviço especializado da empresa, estranho aos trabalhadores, choca-se frontalmente com a vida mental e, mais precisamente, com a esfera das aspirações, das motivações e dos desejos (p.51-52). As Organizações como Prisões Psíquicas A Prisão Psíquica consiste na metáfora criada por MORGAN (1996, p. 24) a fim de compreender as organizações de trabalho e utiliza de conceitos psicanalíticos para explicar as relações de trabalho. Considera que os seres humanos possuem uma inclinação toda especial para caírem nas armadilhas criadas por eles mesmos (p.205). As Organizações vistas como Prisões Psíquicas remontam a origem da idéia de Prisão Psíquica na República de Platão, a “Alegoria da Caverna” onde Sócrates explora a idéia de que a caverna representa o mundo das aparências, enquanto a viagem ao seu exterior a conquista do conhecimento. A analogia ao Mito da Caverna tem a função de explicar que as pessoas no dia-a-dia são enganadas por ilusões, já que o modo pelo qual compreendem a realidade é limitado e imperfeito (p. 206). MORGAN (1997) refere que a concepção de Freud sobre a civilização é interessante porque enfatiza o relacionamento de repressão psíquica, cultural e inconsciente; e que sugere a busca de um sentido oculto da cultura organizacional nas inquietações e interesses inconscientes daqueles que a criam e a mantêm. Provavelmente movido por esta idéia o autor realizou um estudo biográfico da vida de Frederick Taylor – Pai da Administração Científica – referindo-se a este como um homem preocupado com o controle e de caráter obsessivo-compulsivo. Conclui que toda a teoria da Administração Científica foi produto das lutas interiores de uma personalidade perturbada e neurótica, e que os esforços de Taylor para controlar e organizar o mundo foram tentativas de controlar e organizar a si próprio. Comprova desta forma as organizações como sexualidade reprimida (p.210-212). Este autor ainda descreve a relação existente entre as organizações, a morte e a imortalidade, explicita que

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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL ao identificar-se com a organização o homem encontrar significado e permanência, faz do seu papel sua realidade e; o estabelecimento de objetivos pessoais e organizacionais reafirmam sua confiança no futuro. As pessoas utilizam mitos, rituais e modelos detalhados de envolvimento para defenderem-se contra a consciência da sua fragilidade (p.219 – 220). A Organização em Análise ENRIQUEZ (1997) demonstra de forma mais aprofundada a psicanálise ao enfatizar que seu trabalho é constituído de uma reflexão e que não pode ser de maneira alguma uma psicanálise do poder e das Instituições. Diz ainda da originalidade de Freud ao construir uma ciência do singular, apesar de suas leis gerais, e que esta não pode ser exercida senão numa relação de indivíduo para indivíduo. Convenhamos, refletir é muito diferente de exercer. Este autor tem a concepção geral da Organização como Sistemas Cultural, Simbólico e Imaginário que coexistem. É um sistema cultural porque oferece uma cultura, normas e valores que orientam a conduta, porque estabelece papéis a cumprir, fornece hábitos de pensamento e ação em prol da coletividade. É simbólico porque não pode viver se não segregar um ou mais mitos unificadores, que viverão na memória coletiva e não pode viver sem instituir ritos de iniciação e passagem, sem firmar heróis. Assim, a organização se oferece ao trabalhador como objeto a interiorizar e a fazer viver; desenvolve um controle afetivo4 e intelectual. È um sistema imaginário porque sem este o simbólico e o cultural teriam dificuldades em estabelecerem-se (p.33-34). Ressalta que as organizações tem opção entre duas formas de imaginário: enganador e motor. O Imaginário enganador seria aquele que tenta prender os indivíduos nas armadilhas de seus próprios desejos narcisistas, no fantasma de onipotência ou carência de amor, a organização “protege” o indivíduo do risco de quebra de sua identidade. Já o imaginário motor, teria mais benefícios por apostar no imaginário criativo, sem que o trabalhador sinta-se reprimido por regras imperativas. Porém, refere que este é dificilmente suportável por favorecer a criatividade, a capacidade de questionar e transgredir tudo; é um desafio às regras que regem as organizações (p.36). ENRIQUEZ faz a análise das organizações através de sete instâncias. Na Instância mítica diz não haver sociedade sem um discurso inaugural e a ausência desse traduz um mundo da animalidade e não o da civilidade. O mito fala da origem das coisas, estrutura o mundo e as pessoas, é dito ainda em duas formas: afetiva - visa à fascinação, ao enfeitaçamento e que congrega a comunidade em torno da narrativa provocando nela uma identificação com os protagonistas, é pois, o criador do vínculo social; e intelectual - exprime uma forma simbólica concreta que permite aos homens pensar com

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uma mesma coerência, a natureza e a sociedade. Porém, o mito, conservador por excelência, fecha os indivíduos, impedindo-os de tomar consciência daquilo que está acontecendo entre eles e o mundo. A angústia é suprimida pelo mito, pois transforma a angústia pessoal em um problema coletivo, permite a cada um se aceitar como indivíduo pulsional e indivíduo social ao mesmo tempo; viver no mito é se refugiar no calor da comunidade, da ilusão comunicada, da idealização mistificadora, da alienação consentida. A Instância social-histórica diz que em nossa sociedade moderna o apelo ao mito não basta e que as sociedades são regidas pela resposta única - a ideologia, esta tem por função principal “polir o social” a fim de lhe dar a homogeneidade requerida; pertence à ordem do visível e representável, expressa e mascara ao mesmo tempo a realidade. A Instância Institucional busca a estruturação estável das relações sociais, mascara conflitos para fazer surgir a harmonia e renuncia às pulsões egoístas para chegar às pulsões altruístas canalizando a agressividade. O homem presente nas instituições não pode viver nelas senão na aceitação do sistema das leis e das proibições, graças à elas o homem adquire identidade social, o que o autoriza ser reconhecido pelo outro. A Instância Organizacional diz que uma instituição não existe fora das organizações concretas que ela produz e dá sentido. A instituição é lugar do político e da tentativa de regulação global. A organização é o lugar das relações de forças cotidianas, das lutas implícitas e explícitas e das estratégias. Não existe organização sem estruturação e todas lutam contra o caos desorganizador, lutam para se defender das pulsões de destruição, tentam canalizar a pulsão da vida unicamente para o trabalho produtivo. As organizações utilizam métodos racionais com o objetivo de dominar as incertezas, tornar o futuro mais previsível e retirar-lhe sua carga de ansiedade. As organizações são o lugar privilegiado da compulsão a repetição (uma das formas da pulsão de morte) e da manifestação de condutas perversas de tipo sadomasoquista, que são as únicas a serem adequadas a um mundo criado para funcionar segundo um modelo determinado e não segundo um processo vivo (p.87) Já a Instância Grupal destaca o conflito entre o reconhecimento do desejo e o desejo de reconhecimento (identificação). Sobre o reconhecimento do desejo ENRIQUEZ expressa: As pessoas querem se fazer amar ou pelo menos não serem rejeitadas, se fazem parte de um grupo, não é apenas porque quer concretizar um projeto coletivo, é também, porque ela pensa que é com essas pessoas e não com outras, graças a esse imaginário comum e não graças a um outro, que ela poderá chegar a tornar reconhecível seu desejo na sua originalidade e especificidade, ser insubstituível. Cada pessoa irá tentar prender a outra na rede de seus próprios desejos, mani-

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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL festar no real seus fantasmas de onipotência e negar a A autora lança questionamentos a respeito da dor castração (...) (p.95). da demissão, observando o quanto é árduo é para os O indivíduo não exprime apenas seu desejo próprio trabalhadores serem dispensados. Aprofundou-se nas leinum grupo, quer igualmente ser reconhecido como um turas de ENRIQUEZ sobre os sistemas imaginários que dos membros do grupo. Para que haja reconhecimento permeiam as relações humanas dentro das organizações. recíproco, devem se identificar uns com os outros, coloO feitiço das organizações é o espaço ocupado pelo car um mesmo objeto de amor (causa) em lugar do seu imaginário, cujo conteúdo foge do controle racional e ideal de eu. torna-se às vezes determinante na forma de comportaQuanto à Instância Individual afirma que as orga- mento dos indivíduos. Denuncia o perigo da personanizações não podem impedir a existência de desviantes lidade do indivíduo estar fundida com a identidade da e marginais, mas elas preferirão sempre os loucos pelo organização. Percebe que as intenções e promessas do poder, os hipernormais, os indivíduos submissos, salvo discurso das políticas de Recursos Humanos são perverquando elas estão criando. Neste momento pelo contrá- sas, já que o indivíduo é desapropriado de sua vida pesrio, elas têm geralmente necessidade de pessoas desejo- soal e é explorado não só em sua força de trabalho, mas sas de chegar à autonomia (p.122). também em sua afetividade, lazer e em toda sua agenda A última das instância referidas por ENRIQUEZ é a pessoal. Segundo SCHIRATO o trabalhador torna-se: Instância Pulsional, que atravessa todas as Infantilizado e inseguro, não lhe restam 5. Clivagem outras instâncias. muitas esperanças e perspectivas fora da Expressão usada por Nesta fala ainda que: empresa-pátria-mãe, que ao pedir-lhe fideliOs mecanismos que me parecem com- Freud para designar um dade e disponibilidade total, coloca-o como portar as conseqüências mais perigosas para fenômeno muito particinsubstituível, reforçador da cultura da casa, a organização são não o recalque, mas a ular - em geral opera no devoto e importante acima de qualquer susnegação e a exclusão (...) a negação (meca- fetichismo e nas psicoses peita. Seu sobrenome é acrescido de mais nismo de defesa que consiste na recusa de – coexistência no ego de um nome, o da empresa, que lhe empresta a reconhecer a realidade de uma percepção duas atitudes psíquicas categoria de cidadão de primeira linha, distraumatizante)...as organizações suportam para com a realidade tinto dos demais cidadãos de seu bairro, de mal a idéia de que poderiam viver sob a exterior. Uma leva em sua cidade (2002, p.17). ameaça de uma castração (...) a negação é conta a realidade, a Nesta fusão são grandes os prejuízos: também acompanhada pelo reconhecimen- outra nega a realidade o trabalhador perde a capacidade de planeto da coisa negada. (...) Na organização, o em causa e coloca em jar a própria vida, dirigir seu destino e ser, tempo e a morte serão ao mesmo tempo seu lugar uma produção ao longo de sua existência mais do que um negados e aceitos. Mas a força da negação do desejo (LAPLANCHE, trabalhador, uma pessoa em sua plenituserá tanta, e a clivagem5 da realidade de 2001, p.65). de; perde a organização, quando o vínculo tal modo importante, que tudo que pode torna-se pseudo-familiar; as relações torlembrar a organização que ela é mortal e falível será nam-se domésticas e a preocupação com a qualidade do com muita freqüência rejeitado. A realidade então não trabalho e a reciclagem de pessoal tornam-se secundáserá jamais percebida pelo que ela é (p.127). rias. Considera a necessidade de resgate da primazia do ENRIQUEZ refere que as organizações assumem humano, na construção de uma sociedade mais justa. também a pulsão de destruição, pulsão de morte6, na Como já citado na introdução do presente artigo, medida em que impedem a atividade simbólica, pois o SCHIRATO aborda as organizações, apontando em esque é excluído do simbólico reaparece no real, na forma pecial, as contradições existentes na relação trabalhador de imprevisível e com freqüência catastrófico. Assim, a e organização de trabalho. A organização como instipulsão de morte está presente de maneira importante tuição abstrata, que ambiciona a perpetuidade, que denas organizações (p.127). pende dos que a constituem, os trabalhadores, pessoas concretas e efêmeras que submetem-se à elas. OrganiO Feitiço das Organizações zações que colocam-se como divinas, recrutando e adSCHIRATO (2002) acredita que as instituições po- mitindo os mortais. dem ser mais humanas. As organizações empresariais SCHIRATO acrescenta à nossa leitura da organizapodem e devem procurar a felicidade do homem em ção que esta está baseada em intenções e promessas sua qualidade de vida, no conforto da alta tecnologia, que forjam uma pseudo-realidade que vem a impedir no dinheiro como instrumento de aquisição de bens de qualquer pretensão de avaliação racional e minimaconsumo que facilitam a vida, na oportunidade de ex- mente objetiva das relações que cria. Tanto a segurança plorar esse mundo maravilhoso, desfrutar a natureza, do emprego quanto o abandono do desemprego estão ter acesso à cultura, obter erudição pelo conhecimento, muito mais no imaginário do trabalhador do que nos conquistar a paz e viver em paz. fatos reais (p.54.)

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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL Cita MONIER (1976) ao dizer que a maioria dos hoAs grandes empresas utilizam-se dos mitos jusmens prefere a escravidão na segurança ao risco de inde- tamente porque é também uma forma de suprimir a pendência, frase que ilustra de outra forma o que FREUD angústia, transformam a angústia pessoal em um pro(1930) coloca como: “O homem civilizado trocou uma blema coletivo. Permite assim, que cada um aceite-se parcela de suas possibilidades de felicidade por uma par- como indivíduo pulsional e indivíduo social ao mesmo cela de segurança.” (O Mal-Estar na Civilização, 1930). tempo. A questão da relação do trabalhador com a orTrabalhaDOR – aquele que carrega a DOR em seu ganização de trabalho é que ele pode refugiar-se na nome A vida, tal qual a encontramos, é árdua demais comunidade, alienar-se. para nós; proporciona-nos muitos sofrimentos, decepEntão torna-se fácil correlacionar o por quê dos ções e tarefas impossíveis. A fim de suportá-las não colaboradores da empresa referida ao início do artigo, podemos dispensar as medidas paliativas (Mal-Estar na não opinarem e somente agradecerem por trabalharem Civilização, 1930). em uma organização tão boa, a melhor; e não maniFREUD (1930) coloca que o sofrimento nos ameaça festarem-se no programa “se eu fosse presidente”, sima partir de Três direções: o próprio corpo, fadado à de- plesmente porque não o são e nem pretendem ser. O cadência; o mundo externo, que pode voltar-se contra imaginário enganador forja uma pseudo-realidade que nós com forças de destruição e; o relacionamento com é vivenciada pelos trabalhadores com muito orgulho. os outros, colocado como talvez sendo a fonte do so- Afinal, fazem parte de uma das melhores empresas para frimento mais penoso. A defesa imediata contra este se trabalhar. sofrimento seria o isolamento, porém que o melhor caO que um olhar psicanalítico pode nos proporciominho a tomarmos é o de tornarmo-nos membros da nar quando voltado para as relações de trabalho, sobre comunidade humana. o que estrutura o sujeito, é um olhar mais profundo que Sendo a resposta o sujeitar-se ao princípio de rea- vai além da superfície, além da compreensão explorador/ lidade. explorado. Ambos, organização e trabalhador, saem gaA meta de satisfação não é abandonada, mas ga- nhando na relação, mesmo que isto signifique sair perrante certa proteção contra o sofrimento. Assim, o tra- dendo. Pois, se considerarmos que a adaptação, a aliebalho é considerado como medida paliativa, satisfação nação, movem os indivíduos na direção na manutenção substitutiva, ilusão em contraste com a realidade. do sintoma, na direção da repetição, da homogeinização, As pessoas são enganadas por ilusões, as intenções passamos a considerar que a pulsão de morte está fore promessas forjam uma pseudo-realidade, enfeitiçam temente presente, uma forte tendência à estagnação. O o trabalhador. O enlaçamento entre trabalhador e or- que não impede que através da reflexão constante, suas ganização de trabalho ocorre pela via do imaginário, conseqüências não possam ser amenizadas, na busca seja ele enganador (prende os indivíduos nas armadi- para manterem-se vivas. lhas de seus próprios desejos narcisistas) ou A organização estrutura o social, provê motor (beneficia o potencial criativo) para o indivíduo e dá a este um lugar de signifi6. Pulsão de morte proteger o indivíduo contra a quebra de cação, dá sentido e permanência. A pulsão de morte é sua identidade, profere identidade, dá ao A renúncia é dolorida, mas não está concebida por Freud indivíduo um sistema de normas e valores, atrelada somente ao trabalho, está na amcomo uma compulsão à fornece um mito original com a capacidade plidão da estrutura da vida em sociedade. repetição, e tendência à de estruturar a luta contra o caos desorO ser humano se sujeita ao trabalho por ser redução das tensões ao ganizador, retira as incertezas tornando o esta uma das formas de canalizar a pulsãoestado zero (ENRIQUEZ, mundo previsível. energia que antes do processo civilizatório 1997, p. 125). A relação entre a organização de traera estritamente sexual ligada ao ser animal balho e o trabalhador sempre será uma re– e com isto garante um certo retorno de lação de dor. Terá em si o peso de uma renúncia pulsio- seu investimento (libido – força de trabalho), a satisnal em prol da vida em sociedade. fação adiada que chega ou não pela via do reconheciO que talvez tenha sido um agravante na dor do mento. humano, em hipótese, pode ainda estar atrelado à mudança no conceito de trabalho, uma mudança subjetiva AUTORES sobre a necessidade do trabalho. Hoje temos um ho- Juliana Kirchner Corrêa – CRP 08/10.003 mem que labora, que com o advento das relações indusTrabalho de Conclusão de Curso de Psicologia da Universitriais tornou-se consumista e consumível. O prazer no consumo, que antes com o trabalho referia-se a coisas dade Tuiuti do Paraná – 2003. kirchner_ju@hotmail.com duráveis agora, atrelado ao labor, adquiriu a caracterís- Jorge Sesarino tica de descartabilidade. Não há espaço para o durável, Professor do Curso de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná, supervisor na confecção do presente artigo científico. o consumo é veloz.

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LIVROS

As Psicoses Não-Decididas da Infância: um estudo psicanalítico LEDA MARIZA FISCHER BERNARDINO Temos, finalmente, com a publicação deste livro, um documento de trabalho inestimável para o diagnóstico e tratamento psicanalítico de crianças, com o estilo de uma clínica que expõe, com a maior distinção, o grande legado de Freud: a possibilidade de a singularidade recolhida na clínica refutar hipóteses, verdades e universalizações. O instigante rigor teórico e clínico da autora permite que se dissolva o equívoco de considerar como dada uma estrutura na clínica com crianças, evidenciando que ele pode e deve ser exposto à refutação. A autora demonstra que a psicopatologia de crianças só é óbvia, fixa e transparente quando o clínico recorre ao dogmatismo ou aproveita-se de uma posição institucional que lhe permite apresentar a teoria como uma arma e, portanto, como uma resistência à própria psicanálise. O caráter de documento deste livro mostrará - a todos os que estão interrogados pela questão da estrutura na clínica com crianças - o movimento pelo qual a teoria que nos orienta é uma hipótese de trabalho que guia a direção do tratamento, sendo, como tal, passível de ser interrogada pela evidência clínica e problematizada.

NEUROPSICOLOGIA HOJE

1ª edição 2004 | 474 páginas | 55 ilustrações | Formato: 18 x 26 cm ISBN 85-367-0008-4 | Editora Artes Médicas A idéia de elaborar um livro sobre neuropsicologia surgiu pela primeira vez no final da década de 90, ouvindo as sugestões dos alunos dos cursos de especialização em neuropsicologia de nosso departamento. Havia então grande quantidade de material produzido fora do país, a maioria em inglês, pouco em espanhol, e com instrumentos padronizados para uma população diferente da nossa. Por outro lado, uma série de trabalhos nacionais de alto nível encontravam-se em andamento ou prontos para serem apresentados e discutidos por colegas da área.

O livro Neuropsicologia Hoje foi idealizado a partir de algumas metas: 1) Apresentar a neuropsicologia para alunos de graduação desejosos de uma noção geral sobre o assunto; 2) Aprofundar alguns temas, com vistas à privilegiar alunos de especialização e pós-graduação, a partir da apresentação de resultados de pesquisas realizadas por psicólogos e neurologistas abordando temas diversos (uso de drogas, traumatismo craniencefálico, doença de Parkinson, esclerose múltipla, doença de Alzheimer, entre outros); 3) Demonstrar a importância do vínculo clínica-pesquisa e da integração das áreas de saúde e educação sob aspectos práticos (diagnóstico, reabilitação) e teóricos (conceitos, definições, históricos). Cada um dos 23 capítulos foi escrito por especialistas de centros de excelência nacionais e internacionais. O livro é dividido em quatro módulos: conceitos fundamentais, neuropsicologia infantil, do adulto e do idoso. Estes módulos, além de aspectos teóricos discutem a avaliação neuropsicológica e reabilitação cognitiva de desordens neurológicas. Portanto, o livro aborda de forma abrangente, os principais momentos da evolução humana fornecendo protocolos de avaliação, estudos de casos, um rol dos testes padronizados para a população brasileira e ainda correlatos decorrentes de estudos de neuroimagem.

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COLUNA

A assertividade nossa de cada dia Existem momentos e situações em nossa vida que temos medo de dizer “não” para alguém. Quando negamos algo à alguém, o primeiro sentimento que vem em nossa mente é a culpa. (Mas eu nunca consigo dizer não para as pessoas... fico com medo de dizer não...) Essas são algumas características de uma pessoa não-assertiva. Sente-se culpada e acaba “engolindo sapo”. Outro tipo de comportamento é o tipo agressiva. Esta, por sua vez, pode distanciar as pessoas e cria inimizades, afastando os amigos para bem longe dela. Em contrapartida, a pessoa assertiva saberá dizer “não” sem sentir-se culpada e não criará inimizades. Darei três exemplos clássicos na literatura, por isso, imagine a seguinte situação: O Sr. e a Sra. A estão num restaurante de preços moderados. O Sr. A pediu um bife especial, mas quando foi servido percebeu que estava muito bem passado, ao contrário do que ele havia pedido. No comportamento Não-Assertivo, O Sr. A resmunga para a mulher a respeito do bife “queimado” e diz que não volta mais neste restaurante. Ele não diz nada ao garçom e responde “tudo legal” à sua pergunta “está tudo bem?”. A sua noite e seu jantar são altamente insatisfatórios e ele se sente culpado por não ter tomado uma atitude. A auto-estima do Sr. A e a admiração da Sra.A por ele são diminuídas pela experiência.

Já no comportamento Agressivo, O Sr. A chama o garçom à mesa e é injusto e grosseiro com ele por não ter atendido bem. A sua atitude ridiculariza o garçom e constrange a Sra. A. Ele pede e recebe outro bife mais de acordo com o que queria. Ele se sente controlando a situação, mas o embaraço da Sra. A cria atrito entre eles e estraga a noite. O garçom fica humilhado, zangado e sem jeito o resto da noite. No Assertivo, a situação seria bem diferente das anteriores. Então O Sr.A chama o garçom à sua mesa, lembra-lhe que pediu um bife especial, mostra-lhe o bife bem passado, pede-lhe educada mas firmemente que o troque por um mal passado como ele havia pedido. O garçom pede desculpa pelo erro e rapidamente o atende. O casal aprecia o jantar e o Sr. A se sente satisfeito consigo mesmo. O garçom sente-se feliz com o freguês satisfeito e o serviço adequado. Agora que observamos as diferenças entre uma pessoa com comportamento “não-assertivo”, “agressivo” e “assertivo”, venho a perguntar à você, caro(a) leitor: Fazendo uma analogia com os exemplos acima... que tipo de bife você costuma engolir? Você está satisfeito(a) com o atendimento recebido no restaurante quando sai com sua companheira(o)? Se não está, por quê não fala o que te incomoda?

AUTOR Márcio Roberto Regis CRP 08/10156 Especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade Tuiuti do Paraná. atlaspsico@atlaspsico.com.br

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