Revista_ATLASPSICO_17

Page 1

ATLASPSICO enfermagem

Processo de morte e o morrer

psicologia

Plantão Psicológico

comportamento Gestação púbere na periferia

coaching

NÚMERO 17 | DEZEMBRO 2009

A Revista do psicólogo

Minha Missão Pessoal

2012 NO CALENDÁRIO MAIA, O MUNDO ACABARÁ EM


EXPEDIENTE REVISTA ATLASPSICO EDIÇÃO DE DEZEMBRO 2009 Brasil | Curitiba | Paraná

EDITOR-CHEFE Psicólogo Márcio Roberto Regis (CRP 08/10156)

AGRADECIMENTOS AOS AUTORES... Carlos A. Porcino (Psicólogo) Alane Ferreira Leal | Graduando em Enfermagem Alex Feliciano Teixeira | Graduando em Enfermagem Aline Soares da Silva | Graduando em Enfermagem Célia Cristina dos Santos Vieira | Graduando em Enfermagem Claudinéa Silva Araújo Carlos | Graduando em Enfermagem Claudio Silva Cerqueira | Graduando em Enfermagem Djalmira Santos da Silva | Graduando em Enfermagem Ednice Santos Silva | Graduando em Enfermagem Elisabeth Mendes da Silva | Graduando em Enfermagem Lucineide Souza | Graduando em Enfermagem Cláudia Maria Piasecki (Psicóloga) Dirlene Maria Vieira (Psicóloga) Wagner Alan Cagliumi (Psicólogo) Ana Paula Carvalho Veiga Fernandes Lima (Psicóloga) Armando Correa de Siqueira Neto (Psicólogo) Marcus Antônio Britto de Fleury Junior (Psicólogo) Ana Artigas (Psicóloga) Neli Maria Tavares (Psicóloga) Sérgio Gomes da Silva (Psicólogo) Márcio Roberto Regis (Psicólogo) ARTE E DIAGRAMAÇÃO | Márcio Roberto Regis SEJA UM COLABORADOR PARA A PRÓXIMA EDIÇÃO Encaminhe seu artigo para o email editorial@atlaspsico.com.br Um projeto do Portal de Psicologia ATLASPSICO www.atlaspsico.com.br | revista.atlaspsico.com.br Revista ATLASPSICO é uma publicação bimestral. Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. O uso de imagens e trechos dos textos somente podem ser reproduzidos com o consentimento formal do editor. ATENÇÃO: EDITORIAL ATLASPSICO INFORMA! O Portal de Psicologia ATLASPSICO NÃO ABORDA INTERNAUTAS E NEM REALIZA PUBLICIDADE NO ORKUT ou em qualquer outra rede de relacionamentos. JAMAIS repasse informações pessoais para internautas se identificando responsáveis pelo nosso projeto editorial. Em caso de dúvida, entre em contato com os endereços de email e telefone informados em nosso site no atalho contatos.atlaspsico.com.br

A Revista do Psicólogo

ATLASPSICO www.atlaspsico.com.br

© Copyright 2009 | Todos os direitos reservados | All rights reserved.


DICAS PARA APROVEITAR MELHOR SUA REVISTA ATLASPSICO! Para visualizar sua revista eletrônica de Psicologia ATLASPSICO em página dupla no no software ADOBE READER versão 8, clique no icone conforme demontrado na figura abaixo. Se mesmo realizando esses procedimentos e a Revista ATLASPSICO não ficar adequadamente configurada, siga os seguintes passos conforme a segunda imagem abaixo: no menu, clique em Visualizar, vá em Exibição da Página e em seguida clique nas três últimas opções: Duas ou mais contínuas; Mostrar espaços entre páginas; Mostrar página da capa com duas páginas ou mais. Caso você utilize uma versão menos atual, como por exemplo, as versões 7 ou inferiores, o procedimento tambem é simples: clique no menu Visualizar, em seguinda Layout da página e depois clique em continuo-frente. Prontinho! Boa leitura! OBS: para mais zoom na tela, pressione as teclas CTRL + (+) ou CTRL + (-) para menos zoom.

Arte Ilimtiada Vidros, há 45 anos no mercado, desenvolve produtos artesanais em vidros de qualidade ímpar. Algum desses produtos são compostos por Troféus de vidros personalizados para formaturas, homenagens e eventos; Porta-Diplomas; Utilidades Domésticas; Cubas para banheiros e lavabos; baleiros para sua clínica e consultório; Colagens UV; Fusing; Quadros para Formandos; Gravação em cristais; Peso de papel; Brinde em Vidros; Champanheiras; Porta-canetas; Porta-retratos; tudo isso em vidro e personalizado. Entrega para todo o Brasil! Outras informações acesse: www.arteilimitada.com.br

www.arteilimitada.com.br

Arte Ilimitada Vidros

ARTE ILIMITADA VIDROS fazendo arte em vidros há mais de 40 anos.


ÍNDICE A Revista do Psicólogo

ATLASPSICO número 17 | dezembro 2009

MATÉRIA DE CAPA 2012

32

EDITORIAL

O que você faria se só te restasse esse dia? “Corria prum shopping Center; ou pra uma academia?; Pra Esquecer que não dá tempo; Pro tempo que já se perdia?; Andava pelado na chuva?; Corria no meio da rua?; Entrava de roupa no mar? Trepava sem camisinha?”. Esse é um trecho da música “O último dia” do Paulinho Moska retrata muito bem o que muitas pessoas, possivelmente, iriam fazer se estivessem no último dia. O filme 2012 é sucessor de Independence Day e O Dia Depois de Amanhã, com fenômenos naturais catastróficos fora do controle de governos, cientistas e da população. No calendário maia, o mundo acabará exatamente no dia 21 de dezembro de 2012 sob intensas tempestades de meteoros, tsunamis atingindo grandes cidades, crateras se abrindo e engolindo seis bilhões de pessoas. O Planeta Terra torna-se completamente inabitável. Meio a tanta ficção e imaginação fértil de cineastas e boatos espalhados pela internet, parece estimular a mente inquieta de indivíduos temerosos com o apocalipse. Antes que o mundo acabe, parabenizo todos nossos autores pelos artigos aqui submetidos! Boas Festas e uma ótima leitura! Márcio Roberto Regis | CRP 08/10156

Psicólogo e editor ATLASPSICO | www.atlaspsico.com.br

4

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


COMPORTAMENTO Comportamento Alimentar

ENFERMAGEM

Uma tarefa difícil: contribuições da enfermagem frente ao processo da morte e o morrer

CLÍNICA

Serviço de Plantão Psicológico: aos clientes da área da saúde

06

34

SAÚDE

Saúde Mental ou Saúde Integral

SEXUALIDADE

Representações sociais da gravidez entre adolescentes nuligestas de uma comunidade periférica de Teresina|PI

24

REFLEXÃO

O tempo em refazer-se

13 37

34

46 38 36

COACHING

Minha Missão Pessoal

PSICOMOVIE

MILK: O Silêncio de um Lutador

COLUNA ATLASPSICO É proibido fumar!


ENFERMAGEM

UMA TARE

CONTRIBUIÇÕES DA ENFERMAGEM FRENT

E

ste trabalho é resultado de exercício de reflexão, cujo objetivo buscouno processo de morte e morrer, visto que a morte sempre foi e será um humana, suscitando questionamentos, medos, angústias, pânico, e aos cuidados de enfermagem frente ao processo de morte e o morrer op Buscando-se livros, artigos, bem como periódicos Scielo, Medline e Bire profissionais de enfermagem que já atuam no contexto hospitalar para lid e, situações de morte e morrer podem ser uma das formas mais efetivas pois, tais clientes permitem aprendermos a lidar de modo mais conscient de que está nos últimos momentos de vida. 6

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


EFA DIFÍCIL

TE AO PROCESSO DE MORTE E O MORRER

“Não é fácil lidar com a morte, mas ela espera por todos nós... Deixar de pensar na morte não a retarda ou evita. Pensar na morte pode nos ajudar a aceitá-la e a perceber que ela é uma experiência tão importante e valiosa quanto qualquer coisa”. (Philippe Ariès, 2003)

-se conhecer e tecer considerações acerca das contribuições da Enfermagem ma das poucas certezas que temos em função de sua inerência a existência entre outros, e um maior entendimento sobre o significado atribuído as ptou-se por realizar uma pesquisa bibliográfica qualitativa exploratória. eme. Os resultados apontam que existem dificuldades por acadêmicos e darem com questões em torno da temática. Desse modo, cuidar de pessoas de acelerarmos nosso processo de crescimento enquanto seres humanos, te com nossos próprios medos e a um possível entendimento dos temores

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

7


em dúvidas, a morte sempre foi e será uma S das poucas certezas que temos em função de sua inerência a existência humana. A morte sempre suscitou questionamentos, medos, angústia, pânico, horror, entre outros. No mundo ocidental ainda não há de forma oficial uma preparação ou educação para o processo de morte e o morrer. É um assunto permeado por tabus, como se em algum momento de nossas vidas não tivéssemos que enfrentar essa passagem, e não há como negála, pois é um processo que faz parte do viver. No entanto, a morte e o morrer são elementos veementemente negados o que os tornam um processo deveras obscurecido, com isso, sinalizase apenas quão ineficaz nos encontramos para enfrentá-los. É necessário considerar que o desenvolvimento humano é permeado por estágios, e que estes têm seu processo iniciado com a geração do feto, a seguir temos o nascimento, adolescência, adulto, velhice que traz consigo a finitude. Desse modo, é extremamente relevante refletir acerca dos cuidados de enfermagem frente à morte e o morrer. Pois, as complicações em função da patologia e em decorrência do processo de adoecimento são permeadas por particularidades e peculiaridades que fazem dessa etapa um momento único na vida do sujeito. Deve-se considerar ainda, que o cuidado com o paciente fora de possibilidades terapêuticas é complexo e exige por parte dos profissionais de enfermagem sensibilidade, atenção e a oferta de uma escuta sensível fazem o diferencial. Tendo em vista a carga emocional presente no cotidiano da enfermagem, considera-se importante debruçar a investigar acerca desse processo enquanto acadêmicos buscando uma aproximação com a temática uma vez que esta, quando abordada, não ocorre em forma de componente curricular formal específico, mas através de relatos de professores e/ou alunos que já desenvolvem atividades de nível técnico na área de enfermagem. Assistir ao paciente nessa etapa derradeira da vida, no sentido biológico do termo, se almeja prestar um cuidado humanizado, respeitando sempre a dor do outro. Assim, almeja-se tecer considerações e reflexões em torno da seguinte questão: quais as contribuições da enfermagem frente ao processo de morte e morrer? Apesar de o presente trabalho ter como objetivo principal investigar através da literatura acerca dos cuidados de enfermagem frente ao processo de morte e o morrer deve-se levar em consideração que o médico também faz parte desse contexto. Isso decorre, tendo em vista, a obrigatoriedade de sua presença nos momentos em que antecedem o óbito com vistas à intervenção e/ou recuperação e 8

após, para sua confirmação e/ou constatação. Nesse sentido, observa que há um despreparo por parte desse profissional para lidar com essas questões. De acordo com Mannoni (1995, p.47) [...] a morte sempre foi excluída do saber médico (a não ser em medicina legal); os médicos, portanto, não estão preparados em absoluto para ajudar os doentes terminais. Os que não trabalham em hospital, por sua vez, são menos confrontados com a morte e seu refúgio no silêncio é com frequência idêntico ao de seus colegas de hospital. A morte do paciente é o fracasso do médico e sua primeira reação inconsciente é ressentir-se deste ou fugir. A preparação desses profissionais durante a graduação para o enfretamento de situações envolvendo o cuidado no processo de morte e morrer demanda um tratamento de maneira aprofundada, considerando que é nesse momento da formação que essa discussão tenha início de forma valorizada e humanizada. Os profissionais de enfermagem, de forma especial aqueles que atuam no contexto hospitalar são mais expostos a situações que envolvem o enfretamento do processo de morte. É comum, que tais profissionais, apesar de a morte a fazer parte do seu cotidiano encontrem dificuldades em enfrentála como sendo parte do ciclo vital, e a atribuem na maioria das vezes como fracasso da terapêutica empreendida, assim como do esforço para a cura (BELLATO, et al 2007). Ainda para esta autora, em virtude dos profissionais de enfermagem vivenciarem em suas atividades de forma bastante relevante a prestação do cuidado junto aos clientes que vivenciam o processo de finitude, essa tarefa, não finaliza aí. A etapa seguinte é preparação do corpo, seja para o encaminhamento ao necretório e/ou Instituto de Medicina Legal (IML) após a constatação do óbito pelo médico. Assim, lidam nesse processo com a potencialização de sentimentos em sua maioria conflitantes, visto que sua formação acadêmica está centrada na manutenção do cuidado e preservação da vida. Ainda, nesse momento, atendem aos familiares do que cliente que “faleceu”, seja na oferta de um apoio emocional através do acolhimento e palavras de conforto e/ou quando há a necessidade de administração de medicamentos que foram prescritos, em função de apresentarem quadros ansiosos, tendo em vista do processo de perda ou enlutamento. Normalmente a doença terminal é acompanhada de ansiedade, muito embora não seja a única e principal causa. É possível que a ansiedade ocorra em função das mais diversas respostas que o organismo emita frente às inúmeras situações, inclusive de problemas orgânicos. Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


METODOLOGIA Objetivando um maior entendimento sobre o significado atribuído as aos cuidados de enfermagem frente ao processo de morte e o morrer optou-se por realizar uma pesquisa bibliográfica exploratória de cunho qualitativo utilizando-se da análise de conteúdo para tratamento dos dados coletados. Foram selecionados livros, artigos, bem como periódicos eletrônicos nas seguintes bases de dados: Scielo, Medline e Bireme. A pesquisa bibliográfica é um método de extrema importância e eficácia em virtude de possibilitar o pesquisador a obter conhecimentos que já foram catalogados (BARROS; LEHFELD, 2004). Com isso, o conhecimento passa a ser trajetória para a consequência do ato de conhecer, onde se busca o saber teórico e prático de situações objetivas e subjetivas. Ao tempo, que a análise de conteúdo de acordo com Bauer e Gaskell (2004) visa produzir inferências de um texto focal para seu contexto social de maneira objetivada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a realização do presente trabalho foram encontrados 55 trabalhos envolvendo o processo de morte e o morrer, a enfermagem e cuidados do corpo sem vida e o enfermeiro diante do paciente fora de possibilidades terapêuticas. Após análise de seleção, optou-se por trabalhar com apenas cinco artigos, que após leitura exaustiva, com base na análise de conteúdo possibilitou a elaboração de categorias que para González-Rey (2002) é um momento imprescindível na pesquisa qualitativa, para que a análise seja realizada de forma fidedigna, coerente e transparente. Foram elaboradas as seguintes categorias de análise: o profissional de enfermagem diante da morte e o processo de morrer, espiritualidade e os cuidados de enfermagem com o corpo sem vida. O profissional de enfermagem diante da morte e o processo de morrer Esta categoria se propõe a descrever as questões encontradas no material de análise sobre a morte e o processo de morrer a partir da perspectiva de profissionais de enfermagem, em função de esses permanecerem cuidando e assistindo ao cliente durante as 24 horas de forma ininterrupta e pode ser observado a partir dos seguintes recortes: [...] Eu acho que é uma passagem, uma etapa da vida, eu acho que o nosso corpo fica e nosso espírito vai para outro lugar [...] Neste sentido, a morte como transição é a representação das crenças e convicções espirituais do ser humano. É vista como evento que ocorre com todos, num futuro, portanto supostamente desconhecido (OLIVEIRA; BRÊTAS; YAMAGUTIS, 2007, p. 388). [...] Eu só sei que é uma coisa que causa muito sofrimento, que ninguém aceita, que ninguém quer, mais. Eu não sei explicar o que é a morte. E nem também, não tenho assim, não sei se tem alguém que tem facilidade pra lidar, eu não tenho [...] não conseguem compreender o significado da morte. Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

Eles conseguem apenas constatar que se trata de um fenômeno causador de grande sofrimento, com o qual é muito difícil de lidar e que as pessoas têm dificuldades para aceitar (SHIMIZU, 2007, p. 258). [...] “O que às vezes, passa pra pessoas é que nós somos do meio, que a gente não sente, que a gente trabalha e passa por isso vê e é normal. Mas não é bem assim. Então a gente sente sim, e sofre bastante [...] Na prática, no entanto, esta representação social não é verdadeira, uma vez que os trabalhadores sofrem ao verem o sofrimento dos pacientes diante do processo de morrer e sentem intensamente quando os perdem (SHIMIZU, 2007, p. 259-260). [...] Isso é difícil. Isso é bastante difícil e da mesma forma que a gente vê, então a morte do doente, a gente vê a morte da gente. Isso pode dizer todas às vezes. Que acontece gente sempre muito, é assim, muito frio, muito como é que fala? É uma coisa muito, muito dura mesmo, triste [...] Percebe-se pelo depoimento acima que o contato constante com a morte os angustia profundamente, possivelmente porque retira as defesas criadas durante toda a vida para negar a morte (SHIMIZU, 2007, p. 259-260). Deve-se considerar que ao discorrer sobre a morte e o processo de morrer, alguns aspectos éticos devem ser observados, como por exemplo, a qualidade de vida, o respeito à autonomia ou poder de decisão da pessoa, entre outros. No ambiente hospitalar, por vezes se observa que a comunicação entre os diversos profissionais envolvidos nos cuidados com um mesmo cliente não é eficaz. Tais questões às vezes não contribuem para que o cliente tenha sua morte vivida humanamente, pois a morte no contexto hospitalar ainda é encarada como algo extremamente “[...] negativo, como o que não deveria ser, pois ela pode ser considerada uma oportunidade para a pessoa despertar e se liberar” (LELOUP, 2001 apud FERNANDES; FREITAS, 2006, p. 154). 9


Desse modo, faz parte do instinto humano mobilizar-se através de impulsos com vistas à preservação da vida, com isso ocorrerá um distanciamento da morte. Com isso, à medida que os aspectos técnicos da morte são valorizados em detrimento do humano, crescem as questões que envolvem os dilemas éticos, e podem ameaçar à defesa e à preservação da dignidade humana. Ainda, de acordo com Fernandes e Freitas (2006) o cliente tem o direito a uma morte digna, com isso, pode inclusive, solicitar para não ser submetido a determinados tratamentos, por exemplo: quando acometido por metástase e em fase final da vida. Para isso, o cliente deve estabelecer um acordo com seu médico, baseado em informações recebidas, toma a decisão e reafirma seu desejo através de um consentimento interno e esclarecido. Tais considerações devem partir do próprio paciente, após reflexões em torno de sua postura ética e respeitosa frente à própria vida. Em São Paulo, a Lei Estadual nº 10.241, de 1999, também conhecida como “Lei Covas”, aborda a autonomia do cliente, garantindo a ele o direito de “[...] consenti ou recusar, de forma livre, voluntaria e esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos a serem nele realizados”, assim como “[...] recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para prolongar a vida” e “optar pelo local de morte”. ESPIRITUALIDADE Conceituar a espiritualidade é uma tarefa complexa e o presente trabalho não tem a proposição de aprofundar-se acerca da temática, mas apenas propor reflexões em virtude da presença marcante nos artigos analisados. Desse modo, a presente categoria se propõe a apenas a descrever questões em torno da temática obtidas a partir do material de análise. No entanto, a espiritualidade apareceu apenas através da religiosidade de profissionais de enfermagem que encontram explicações para lidarem com fenômeno da morte. Por espiritualidade, de forma bastante ampla, compreende-se como sendo o propósito de vida do sujeito, de forma mais específica, sobre a força que move o ser humano adiante. Nesse aspecto, inicia-se uma busca contínua na tentativa de encontrar respostas para questões que inquietam os seres humanos, como por exemplo: Quem sou? Para onde vou? De onde vim? Qual o meu propósito neste universo? Qual é o significado da existência humana? (SÁ, 2008). De acordo com Shimizu (2007) estes profissionais procuram apoio através da religião para lidarem com a sensação de vazio ocasionada pela perda de pacientes. Essa sensação acaba dificultando 10

a elaboração do processo de luto, em virtude de presenciarem os momentos finais “[...] vivenciadas pelos pacientes terminais, quais seja: negação, ira, barganha e aceitação, conseqüentemente vivenciam alguns desses sentimentos” (p.259). Ainda segundo esta autora, a religião contribui no sentido de explicar o fenômeno da morte reforçando a idéia de que [...] a vida não é inútil e não acaba [...] religiões têm ajudado tanto a sociedade como o indivíduo, por fornecerem um enquadramento de realidade para a morte, de forma a assimilar e tornar válidas as expressões de emoção inerente ao luto [...] muitas pessoas que encontram apoio em crenças religiosas retratam a morte como uma passagem, e não o término da vida (op. cit. p. 261). Sá (2008) relata que a espiritualidade, no tocante ao profissional de saúde encontra uma estreita ligação com o sentimento de compaixão, no sentido de tentar compreender o outro e sensibilizarse frente ao sofrimento deste, como se fosse o seu próprio. Frente a esse contexto, optar pela carreira em enfermagem uma condição sine qua non é imprescindível, o gostar do ser humano. Considerase ainda, que a espiritualidade se encontra presente em nossos atos “[..] na coerência entre nossas ações e nossos pensamentos; está na (com)paixão pelo ser humano” (p. 147). Tendo em vista que o sujeito “[...] despreparado na compreensão do processo de morte e morrer pode incorrer em batalhas insanas contra a morte, praticando a distanásia e impedindo uma morte digna ao ser humano” (p.148). Os cuidados de enfermagem com o corpo sem vida A presente categoria tem como proposição tecer considerações sobre os cuidados de enfermagem prestados ao corpo sem vida, pois esta também é uma tarefa desse profissional. A preparação do corpo após a morte é outra situação que também gera angústia e sofrimento a esses trabalhadores. Compete-lhes ainda, de acordo com Shimizu (2009, p.259) “[...] após a sua morte: realizar limpeza do corpo, desligar aparelhos, retirar sondas, tamponar orifícios, vestir e transportar o corpo até a câmara mortuária. Para esta autora, os profissionais de enfermagem percebem esta tarefa como sendo uma das mais difíceis de serem realizadas, principalmente se forem de pacientes que estiveram sob seus cuidados por um longo período de tempo, como se observa, [...] O dia que eu estou na assistência com o paciente que eu perco o paciente, que eu tenho que arrumar o corpo, se eu puder fugir, eu fujo. Eu não gosto. Eu não gosto de arrumar o corpo [...] Não tem explicação. Mas eu não gosto dessa parte da Enfermagem (SHIMIZU, 2007, p. 259). Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


[...] Eu só fico deprimida quando eu levo eles lá para anatomia e tem que ser colocado na geladeira, aí eu fico muito, é a parte que mais me choca.Essa outra parte de ter que fazer todo o processo com o corpo, tudo, eu até aceito bem, só essa última parte que já me deprime um pouco (SHIMIZU, 2007, p. 259). Fidelis e Rodrigues (2008) relatam que dentre os profissionais da saúde, os de enfermagem são

os que mais se deparam com esta situação, porém, se observa que somente lidando com situações desse tipo, não os capacitam, pois os sentimentos de angústia, fuga do confronto com a situação, a identificação com o cliente e até a impotência frente à situação fazem parte de seu cotidiano. O que, por sua vez, faz-se necessário, resgatar o ser humano como sujeito das ações desse profissional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base na análise dos artigos e ao retomar objetivo principal que se propôs a investigar as contribuições da enfermagem frente ao processo de morte e o morrer, foi possível perceber que essa temática possibilita um grande desafio e oportunidades para um lindo aprendizado. Pois, de acordo com Kübler-Ross (1997) a morte é uma chance para as pessoas se reconciliarem com a própria vida. Os resultados apontam que existem dificuldades por acadêmicos e profissionais de enfermagem que já atuam no contexto hospitalar para lidarem com questões em torno da temática. Desse modo, cuidar de pessoas em situações de morte e morrer pode ser uma das formas mais efetivas de acelerarmos nosso processo de crescimento enquanto seres humanos, pois, tais clientes permitem aprendermos a lidar de modo mais consciente com nossos próprios medos e a um possível entendimento dos temores de que está nos últimos momentos de vida. Para isso, é necessário enquanto acadêmicos e futuros profissionais de saúde refletir acerca dos valores individuais e coletivos. Agindo dessa forma, possivelmente tenhamos a oportunidade de convivermos com menos angústia e ansiedade frente às experiências envolvendo que englobam essa questão. Visto que inevitavelmente, fazem e farão parte do nosso cotidiano de trabalho. Acredita-se ainda, que a inserção nos componentes curriculares dos cursos de graduação de uma disciplina que discuta as diversas maneiras de compreensão da morte e do processo de morrer, oferecida aos cursos da área de saúde, certamente possibilitaria um melhor preparo aos futuros profissionais para enfrentarem seus medos, angústias e até os dilemas existenciais. Isso é fundamental para a aceitação das limitações dos clientes fora de possibilidade terapêutica, dos familiares e das pessoas significativas que se encontrem experienciando essa situação. É de grande relevância, em horas que se pensa em agir frente a um caso em que a morte se anuncia, é necessário que a equipe de saúde reflita um pouco acerca da família do cliente sob seus cuidados. Ao pensar um pouco sobre a melhor forma de conduzir

a questão, certamente terá condições para então decidir qual a melhor forma de tratamento a ser seguida. Deve-se levar em consideração ainda, o grande empenho em olhá-lo respeitando e levandose em consideração os valores dele, não apenas com os nossos, pois eles podem não coincidir. Nesse sentido, ao enfatizar o respeito aos valores que servem de base para a vida do cliente nessa situação, contribuiremos com a humanização do cuidado. Enquanto profissionais de saúde não podemos ter como referência apenas a “nossa técnica” e o que aprendemos na academia no momento em que decisões importantes necessitam ser tomadas. Devemos ser antes de tudo, éticos, ter uma postura pessoal diante do caso, fiel aos nossos princípios, pois o nosso objeto de trabalho é o ser humano. O presente estudo não é conclusivo, mas um ponto de partida para outros, embora se almeje abranger uma representatividade maior de docentes, discentes dos cursos de graduação em enfermagem intencionados a refletirem acerca das políticas institucionais educacionais. Corroborando, com o propósito muito importante que é a valorização da dinâmica na relação profissional entre a equipe de enfermagem e o cliente. Pois, o sofrimento em virtude da doença, diversas vezes, não exige apenas um fazer prático, mas uma escuta sensível e assim a possibilidade de elaborar estratégias de enfrentamento se apresenta, cujo objetivo é de manter o equilíbrio psicoemocional da equipe, com prejuízos mínimos para o profissional. Assim sendo, as contribuições aqui apresentadas não possuem a pretensão de esgotar a reflexão acerca temática. Entretanto, é possível que as reflexões aqui suscitadas possam contribuir como estímulo para futuros estudos acerca da temática objetivando seu desenvolvimento e aprofundamento. Por fim, “[...] O profissional só consegue verdadeiramente cuidar quando consegue verdadeiramente entender o que o outro sente, sem que isso signifique sofrer o mesmo que o outro, mas compreender o drama de um sujeito doente (YAMAGUCHI e MICHELINI, 2002, p. 48)”.

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

11


REFERÊNCIAS ARIÈS, P. História da morte no ocidente. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. | BARROS, A. J. P.; LEHFELD, N. A. S. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. 15a. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. | BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 3a. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. | BELLATO, R.; ARAUJO, A. P.; FERREIRA, H. F. e RODRIGUES, P. F. A abordagem do processo do morrer e da morte feita por docentes em um curso de graduação em enfermagem. Acta Paulista de Enfermagem. [online] 2007, vol.20, n.3, pp. 255-263. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ape/v20n3/a03v20n3.pdf> Acesso em: 10/03/2009. | FIDELIS, W. M. Z.; RODRIGUES, A. B. O paciente fora de possibilidade terapêutica. In: FARAH, Olga Guilhermina Dias; SÁ, Ana Cristina. (Orgs.) Psicologia aplicada à enfermagem. São Paulo: Manole, 2008. p.126-144. | GONZALEZ-REY, F. C. Pesquisa qualitativa em psicologia: caminhos e desafios. São Paulo: Pioneira Thomson Learming, 2002. | KÜBLER-ROSS, E. A morte um amanhecer. São Paulo: Pensamento, 1997. | MANNONI, M. O nomeável e o inominável: a última palavra da vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. | OLIVEIRA, J. R.; BRÊTAS, J. R. S.; YAMAGUTIS, L. A morte e o morrer segundo representações de estudantes de enfermagem. Revista da Escola de Enfermagem da USP [online]. 2007, vol.41, n.3, pp. 386-394. Disponível em: <http://www.scielo.br/ pdf/reeusp/v41n3/07.pdf> Acesso em: 10/03/2009. | SÁ, A. C. Espiritualidade. In: FARAH, O. G. D.; ________. (Orgs.) Psicologia aplicada à enfermagem. São Paulo: Manole, 2008. p.145-155. São Paulo. Lei Estadual nº 10.241/99, - Direitos do paciente frente aos serviços de saúde. Disponível em: <www5.mp.sp.gov.br:8080/ caocivel/SaudePublica/legisla/Estadual/Lei10241.99-direitosdo paciente.doc>. Acesso em: 11/03/2009. | SHIMIZU, H. E. Como os trabalhadores de enfermagem enfrentam o processo de morrer. Revista Brasileira de Enfermagem [online]. 2007, vol.60, n.3, pp. 257-262. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v60n3/ a02.pdf>. Acesso em: 10/03/2009. | YAMAGUCHI, N. H. MICHELINI, C. A medicina e a morte. In: FRANCO, M. H. P. (Org.) Uma jornada sobre o luto: a morte e o luto sob diferentes olhares. Campinas: Livro Pleno, 2002, p. 47-54.

AUTORES Carlos Alberto Porcino | CRP/ 03 IP 4547 Graduado pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC Salvador), aluno especial do Mestrado em Ciências Sociais – Universidade Federal da Bahia (UFBA), pós-graduando em Psicologia da Saúde – Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC Salvador) e graduando em Enfermagem na Faculdade Dom Pedro II - Salvador-BA. Voluntário do Projeto Esperança e membro do Núcleo UNIsex (Núcleo Universalidade e Diversidade Sexual). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em psicoterapia de orientação psicanalítica, psicodiagnóstico, atendimento a crianças, adolescentes e adultos. Desenvolve trabalho de redução de danos junto a população travesti em Salvador acerca dos riscos na reinvenção do corpo ao utilizarem o silicone industrial para “fazerem” ou “bombarem” o corpo. Email: carlosporcino@ig.com.br Alane Ferreira Leal | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA Alex Feliciano Teixeira | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA Aline Soares da Silva | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA Célia Cristina dos Santos Vieira | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA Claudinéa Silva Araújo Carlos | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA Claudio Silva Cerqueira | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA Djalmira Santos da Silva | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA Ednice Santos Silva | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA Elisabeth Mendes da Silva | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA Lucineide Souza | Graduando em Enfermagem – Faculdade Dom Pedro II – Salvador - BA

12

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


COMPORTAMENTO

COMPORTAMENTO ALIMENTAR Os Transtornos Alimentares (obesidade, anorexia e bulimia) sempre existiram e há muitos registros históricos sobre estas patologias. O número de portadores desses transtornos é alarmante na atualidade. Os hábitos alimentares da humanidade mudaram muito ao longo dos anos, contribuindo para um número crescente da obesidade em crianças, adultos e adolescentes. O estilo de vida repleto de atividades abriu espaço às refeições rápidas (lanches, sanduíches, frituras, etc) que são ricas em gorduras e carboidratos, mas não possuem nutrientes saudáveis ao organismo. A anorexia e a bulimia também tomaram conta do cenário do nosso cotidiano. As novelas têm retratado histórias de personagens bulímicas (comportamento de expurgar o alimento que foi ingerido) e anoréxicas (comportamento de não ingestão de alimentos), denunciando que tais transtornos podem estar atingindo qualquer pessoa, que pode estar acontecendo dentro de nossas casas, com nossos filhos, muitas vezes impelidos a esse comportamento pelo modelo estético que nos é imposto atualmente de magreza extrema. Muitas mulheres adotam dietas absurdas para conseguir um corpo perfeito. A internet é um veículo perigoso se não utilizado com cautela, pois propaga sites que fazem apologia a anorexia e a bulimia, incentivando jovens a deixarem de comer para se tornarem magras, e desta forma serem aceitas pela sociedade.

Todos esses comportamentos alimentares inadequados são muito perigosos e podem gerar uma série de problemas de saúde, inclusive levando a morte se não tratados a tempo. A obesidade dá origem à doenças cardíacas, diabetes, problemas nas articulações pelo excesso de peso, etc. A anorexia causa danos muitas vezes irreversíveis a saúde pela não ingesta de alimentos e nutrientes que são essenciais ao organismo. Os transtornos alimentares geralmente estão ligados à depressão. Devemos estar atentos ao comportamento alimentar principalmente de crianças e adolescentes que estão em fase de desenvolvimento. Ao primeiro sinal de comportamento alimentar compulsivo ou a negação em se alimentar, devemos procurar ajuda médica. O tratamento adequado é feito por uma equipe multidisciplinar formada por profissionais da medicina, nutrição e psicologia.

AUTORA Cláudia Maria Piasecki | CRP 08/10847 Psicóloga Sistêmica Terapia familiar/casal Psicologia do Emagrecimento e comportamento alimentar. Email: cmpiasecki@bol.com.br

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

13


PSICOLOGIA CLÍNICA

SERVIÇO DE PLAN

aos cli

14

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


NTÃO PSICOLÓGICO

ientes da área de saúde

Num momento em que o país assume clara direção em prol de políticas com¬prometidas com a melhoria das condições de vida da população, as políticas de saúde devem contribuir realizando sua tarefa primária de produção de saúde designada a reduzir a futura incidência de problemas de ajustamento em populações normais. O Plantão Psicológico é destinado a pessoas que se apresentam sem recursos psicológicos para lidar com suas aflições, angústias, dificuldades afetivas ou ainda situações que estejam tirando o equilíbrio momentâneo. A expressão plantão está associada a certo tipo de serviço, exercido por profissionais que se mantêm a disposição de pessoas que deles necessitem em qualquer situação de atendimentos de emergências emocionais, em períodos de tempo previamente determinados e ininterruptos. A intervenção psicológica do plantão procura compreender a vivência e “resgatar” o sujeito, a partir do oferecimento de uma escuta, que permite a explicitação do sofrimento. É uma forma de trabalho distinta das psicoterapias de longa duração e visam favorecer a manutenção da saúde mental. Devemos trabalhar na prevenção e nela concentrar nossos esforços, pois uma vez instalada a doença, ela pode tornar-se crônica e de difícil controle, causando diversos danos secundários. Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

15


ste artigo sugere a criação de um serviço E de prevenção nos casos de saúde mental, baseado na necessidade identificada de ter um

serviço de atendimento na rede pública em Curitiba (Paraná-Brasil), como o “Plantão Psicológico”, com o objetivo de escutar sentimentos e emoções do cliente que busca alívio para seu sofrimento psíquico. Atualmente no Brasil, temos poucos recursos de saúde mental disponíveis para a população, isto somado a pouca informação a respeito desse tipo de serviço. A busca de novas formas de atendimento psicológico, como os serviços oferecidos à população, resultou no desenvolvimento de práticas como o plantão psicológico. O serviço de “Plantão Psicológico” oferece atendimento psicológico priorizando acolhimento em situações de crise e esclarecimento. Não oferece psicoterapia nem acompanhamento psicológico, porém, caso seja necessário, encaminha o cliente a serviços e instituições que compõe nossa rede de saúde e de apoio social de acordo com o caso. Para Teles (2003), a competitividade da sociedade moderna, o medo constante do insucesso e de algum cataclisma estão levando a grande massa de indivíduos a distúrbios psicológicos de tal ordem, que o anormal está se tornando normal, no sentido de que o parâmetro passa a ser imensa maioria perturbada. O ser humano, assim como o animal, tem um limiar de tensão, isto é, ele só pode suportá-la até certo tempo, sem que seu sistema biopsíquico se desorganize. Entretanto, a vida moderna está colocando os indivíduos num estado permanente de tensão, cujas consequências são desastrosas, não só no sentido individual, mas também no sentido coletivo, pois as repercussões das ações das pessoas são de ordem social. A sugestão da implantação do Plantão Psicológico seria nos locais de atendimento 24 horas da Prefeitura Municipal de Curitiba nas Unidades Municipais de Saúde como Pinheirinho, Boqueirão, Cajuru, Boa Vista, CIC, Sitio Cercado, Campo Comprido, Albert Sabin (Fazendinha). Viver de modo saudável significa sentir medo, vivenciar conflitos, dúvidas, frustrações, tanto quanto as coisas positivas. O mais importante é que a pessoa sinta que está vivendo sua própria vida, assumindo a responsabilidade por seus sucessos e fracassos e aproveitando cada experiência para enriquecer seu repertório pessoal. ATENDIMENTO CLÍNICO EM CONSULTÓRIO E PLANTÃO PSICOLÓGICO Esta modalidade de “Plantão Psicológico” visa proporcionar atendimento psicológico no momento em que o sujeito necessita de um acolhimento específico e de compreensão por parte 16

de um profissional no sentido de minimizar o seu atual estado de desajuste, angústia ou sofrimento. Diferencia-se da psicoterapia por ter um caráter menos abrangente e profundo, tendo como foco o problema e não toda a vida e padrão de personalidade do cliente. A psicoterapia convencional objetiva auxiliar o indivíduo em suas dificuldades emocionais e práticas do dia-a-dia, com vistas ao conhecimento e crescimento pessoal. Em alguns casos o sujeito não apresenta um problema específico, fazendo com que o processo terapêutico seja direcionado para o autoconhecimento e desenvolvimento de suas potencialidades. Nesta modalidade de atendimento o psicoterapeuta leva em consideração o ser humano de forma integrada, com suas dimensões orgânica, psíquica, social, existencial e emocional. E o atendimento no consultório ocorre em sessões semanais com duração de 50 minutos, porém em alguns casos pode ser indicada mais de uma sessão por semana. No atendimento de casal o tempo é ampliado para 80 minutos. Observa-se o crescimento da psicologia clínica pelo âmbito institucional, onde se torna praticamente impossível repetir o modelo de consultório, no que diz respeito ao tempo de duração dos atendimentos, aos processos psicoterápicos, tipos de intervenção, modelo de abordagem e especialmente quanto aos motivos ou queixas que levam as pessoas, atualmente a procura de Serviços de Psicologia. FURIGO (2006) nos informa que sendo a psicoterapia a base da identidade profissional do psicólogo clínico, observa-se aqui também uma necessidade urgente de novas definições sendo a primeira delas em relação à demanda de uma nova clientela para a prática psicológica, bem como de uma redefinição de identidade do psicólogo clínico. Acompanhando as evoluções que ocorrem na Saúde Internacional, já em Mejias (1984), encontrou a preocupação em tomar o atendimento psicológico mais acessível e útil a uma faixa mais ampla de nossa população, evitando que se restrinja a certos grupos limitados. Manifesta-se dizendo que há uma concordância geral em que é chegada a hora de falarmos também em prevenção para a Psicologia. BEDIN (2008) fala que, com relação à Saúde Mental na atenção primária, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), aponta a importância da integralidade da atenção à saúde e constata que as equipes de Atenção Básica, cotidianamente, se deparam com problemas de saúde mental. Considera que, por sua proximidade com famílias e comunidades, essas equipes se apresentam como um recurso estratégico para o enfrentamento de diversos problemas nesta área, como o uso abusivo Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


de álcool, drogas e diversas outras formas de sofrimento psíquico. Além disso, entende que “existe um componente de sofrimento subjetivo associado a toda e qualquer doença, às vezes atuando como entrave à adesão de práticas preventivas ou de vida mais saudáveis [...] todo problema de saúde é também – e sempre – de saúde mental, e que toda saúde mental é também – e sempre – produção de saúde” (p.33). PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA Ressalta PAPARELLI e NOGUEIRA-MARTINS (2007), que a formação do psicólogo, desde a regulamentação da profissão, esteve muito aquém da necessidade social de nossas populações, deflagrando, no meio social, a indefinição da verdadeira utilidade da profissão e transformando o psicólogo em um profissional que, muitas vezes, é tomado como prescindível. Assim, reconhecese, atualmente, a necessidade de um profissional sintonizado com as demandas sociais. Com a evolução dos sistemas de saúde, o desenvolvimento farmacológico e as ciências do comportamento, assim como o abandono dos modelos institucionais, tais como hospitais, asilos, foram chamados a intervir com pessoas sem doença mental, no apoio à adaptação e às sequelas da doença.

plantonista] se coloca disponível a acolher a experiência do cliente em determinada situação, ao invés de somente enfocar o seu problema. A expressão plantão está associada a certo tipo de serviço, exercido por profissionais que se mantêm a disposição de quaisquer pessoas que deles necessitem, em períodos de tempo previamente determinados e ininterruptos. Salienta FURIGO (2006), trata-se de consenso atual, entre aqueles que tem se dedicado ao estudo e à sua prática, que o procedimento psicoterapêutico denominado “Plantão Psicológico” visa trabalhar as demandas urgentes e imediatas levantadas pelo cliente no momento de tomada de consciência de seu sofrimento psíquico. Trata-se de um atendimento emergencial, distinguindo-se, portanto, de uma psicoterapia tradicional, cujas bases e procedimentos caracterizam-se pelo estabelecimento de contexto específico: atendimento sistemático e de longo ou curto prazo com vistas a uma integração profunda e permanente da personalidade da pessoa atendida, quase sempre em momento determinado pelo terapeuta, por meio, geralmente, da utilização de um agendamento antecipado do início das sessões. De acordo com SCHMIDT (2004) o Plantão Psicológico é pensado e praticado, basicamente, como um modo de acolher e responder a demandas por ajuda psicológica. Isso significa colocar à disposição da clientela que o procura um tempo e um espaço de escuta abertos à diversidade e à pluralidade dessas demandas. É necessário, contudo, clarificar os significados que acolher e responder assumem no Plantão Psicológico. Acolher refere-se, nesse caso, a uma peculiar atenção para a experiência do cliente no momento em que procura ajuda, que inclui não apenas o que convencionalmente se entende por queixa, mas o modo como o cliente vive essa queixa, os recursos subjetivos e do entorno sociopsicológico de que dispõe para cuidar de seu sofrimento, bem como as expectativas e perspectivas que se apresentam a partir da busca de auxílio. Responder, por sua vez, associa-se a explicitação da demanda e seus possíveis desdobramentos de tal forma que, ao acolher o cliente, está-se, ao mesmo tempo, dando-lhe a oportunidade de se posicionar frente àquilo que vive e permitindo ao serviço um posicionamento em relação àquilo que pode ou não oferecer, no sentido de dar continuidade a um primeiro contato.

O QUE É “PLANTÃO PSICOLÓGICO”? O Plantão Psicológico se destaca como uma modalidade alternativa de atendimento psicológico, de caráter breve e individual que visa, em uma ou até quatro sessões, orientar e auxiliar na resolução de dificuldades focadas em questões emergenciais e que nem sempre precisam de acompanhamento prolongado. O cliente busca o psicólogo plantonista no momento da crise afetiva, familiar, profissional ou do sentido do viver; nos distúrbios afetivos, de comportamento, profissionais em crise ou aposentando-se, distúrbios familiares, de aprendizado, sexuais, de relações sociais. É útil nos momentos de superação da desestrutura emocional causada por períodos de doenças, nos distúrbios psicológicos por estresse, nos momentos de decisão pessoal, separações matrimoniais, lutos e pânico; pois é um pronto-socorro psicológico para dar sentido à angústia imediata que emerge em certos momentos da vida; um alívio pontual daquilo que se apresenta em situações de crise pessoal. MAHFOUD (1987) enfatiza que o plantão A quem se destina o atendimento do psicológico é um tipo de intervenção psicológica, plantão psicológico? que acolhe a pessoa no exato momento de sua Relata LOPES (2003), que todos nós temos necessidade, ajudando-a a lidar melhor com problemas com familiares, amigos, enfim, com seus recursos e limites, ‘na medida em que [o a sociedade, é bom que saibamos de que forma Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

17


resolver as dificuldades das relações humanas. De que maneira lidar melhor com nossas emoções, nossos medos, nossas inseguranças, nossas raivas, sentimentos esses, muitas vezes, responsáveis pelos transtornos? O serviço procura sanar diferentes solicitações de ajuda, destinado a pessoas que buscam um atendimento de apoio emergencial, destina-se a crianças, adolescentes e adultos e tem como objetivo dar apoio psicológico emergencial e proporcionar acolhimento em situações de crise como: tomadas de decisão, luto, ou qualquer outra situação que tire o equilíbrio momentâneo, tais como situações de perda, crises existenciais específicas e outras situações que impliquem num desconforto que dificulte o convívio familiar, profissional e social. Para obter um atendimento, o cliente pode comparecer diretamente no dia do plantão, pois o espaço é para a pessoa trazer o aspecto que mais lhe interessa – pode ser um mal estar, um Conjugal| Por ex., noivado, casamento, discórdia. Parental| Por ex., nascimento de um filho, dificuldades com a criança. Ocupacional| Por ex., trabalho, escola, lar. Financeiro| Legal| Por ex., detenção, julgamento, sentença judicial ou prisão. Desenvolvimento| menopausa.

Por

ex.,

puberdade,

Mostrou BARTZ (1997), que embora o plantão seja uma alternativa para provocar transformações saudáveis nas pessoas que o procuram, levandoas a conseguir melhora e soluções para suas dificuldades, há limites para as possibilidades de ajuda no plantão, pois, existem muitas situações onde não se aplica. Por exemplo, nos casos de pessoas em surto psicótico, de neuróticos graves, em crise aguda, com profundo comprometimento de personalidade; de deficientes mentais; de deficientes da fala ou auditivos (surdos-mudos); de pessoas com sequelas de doenças graves, como AVC ou outras, cujas lesões ou perturbações não permitem o fluxo das capacidades básicas que o plantão necessita - a fala, o raciocínio, a criatividade, etc. Ainda assim, mesmo não atendendo diretamente,

18

desejo de compreender melhor alguma coisa, uma preocupação com o futuro. Diferente do que ocorre em outros tratamentos como a terapia, onde cada sessão normalmente tem uma hora, o tempo de duração da consulta no plantão varia muito, e quando finalizada, o retorno será de acordo com o interesse do cliente. As pessoas que procuram o plantão estão vivendo questões e problemas que surgiram naquele momento como algo que chegou ao limite e precisa de cuidado, ou ainda estão passando por mudanças drásticas que os levam a procurar alguma orientação para poder reencontrar-se com seu equilíbrio anterior. Quando a pessoa não está psiquiatricamente doente, mas precisando de ajuda devido a problemas que segundo relata em seu livro, FLAHERTY, CHANNON e DAVIS (1990) Os tipos de estressores psicossociais são:

Doença física ou ferimento| Por ex., acidente, aborto, cirurgia. Fatores familiares| Por ex., relacionamento abusivo ou hostil para o filho (paciente). Outros fatores pessoais| problemas com amigos ou doença de amigos. Outros fatores psicossociais| Por ex., estupro, enchentes, etc.

o plantão pode aplicar-se no sentido de orientar os acompanhantes ou responsáveis, em direção aos tratamentos adequados e viáveis para os casos em questão. OBJETIVO DO PLANTÃO PSICOLÓGICO O objetivo do atendimento plantão psicológico é a prevenção em saúde mental que consiste em diminuir o aparecimento dos transtornos mentais. A prevenção baseia-se nos princípios de saúde pública, sendo dividida em primária, secundária e terciária. O objetivo da prevenção primária é evitar o aparecimento de uma doença ou transtorno mental, reduzindo, assim, sua incidência. O psicólogo oferece uma escuta significativa que, compartilha o problema enfrentado, permitindo

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


que a pessoa se reorganize, vislumbre alternativas, tome (novas) iniciativas; ou seja, não fique presa ao seu problema, não reduza toda a sua vida àquele problema. LOPES (2003) destaca: Quando a mente humana não encontra soluções para seus conflitos, tem como fuga das energias psíquicas, os sintomas de ansiedade, fobias, somatizações, etc. Acredito que, caso a mente esteja saudável, em paz e equilibrada, o “gatilho” não é acionado, ou seja, se estou bem comigo mesmo, com minhas emoções e com as relações sociais, o surgimento de muitos transtornos e psicopatologias se restringe, e muito, porque, para que um transtorno se manifeste, é necessário, em princípio, que vários fatores estejam agindo em conjunto, mas o aspecto emocional é vital para o aparecimento das doenças. O plantão consiste em um atendimento focado no problema apresentado que pode durar mais de um atendimento, e é encerrado quando a pessoa se considera satisfeita com a ajuda dada ao seu problema, sente-se mais tranquila com relação à dificuldade emergente. Consideram LACERDA, GUZZO e LOBO (2005), que a prevenção enquanto modelo de trabalho, originou-se na saúde pública e foi organizada em três níveis (Goldston, 1980): Prevenção Primária| ações dirigidas a grupos amplos, tomadas antes de uma doença se estabelecer e possuem um caráter educativo maior do que os outros níveis; Prevenção secundária| ocorre após a identificação de fatores de risco e busca evitar que o problema se torne crônico, por meio de diagnóstico e intervenção precoces; Prevenção terciária| o mais específico de todos os níveis e busca reabilitar ou minimizar os efeitos de uma doença já instalada.

Deve-se notar que esta diferenciação é parecida com a diferenciação feita pelo Instituto de Medicina dos EUA para intervenções na saúde mental (Muñoz, Mzarek & Haggerty, 1996), em que são introduzidos os seguintes conceitos: Prevenção| intervenção antes do início de uma desordem psicológica; Tratamento| identificação de casos e disponibilização de serviços de saúde mental; Manutenção| ações que buscam minimizar danos e oferecer serviços de reabilitação, após a desordem se instalar. Albee (1996), define desordem mental como desajustamentos aprendidos, socialmente adquiridos, ligados às experiências estressoras que resultam em comportamentos desaprovados socialmente. Esta concepção liga-se a duas produções anteriores do autor. A primeira é uma revisão bibliográfica produzida em coautoria com Kessler que é finalizada com a seguinte consideração: “Em cada lugar que olhamos e cada pesquisa examinada sugeriram que as maiores fontes de pressão/tensão e angústia humana geralmente envolvem alguma forma de poder excessivo” (Kessler & Albee, 1980). A partir desta conclusão, Albee (1981) considera inaceitável procurar deficiências internas ao indivíduo quando existem situações em que há evidências de fontes de opressão. O que, para autor, conduz à necessidade de adotar um modelo de aprendizagem social, posteriormente, expresso na seguinte fórmula (Albee, 1984): fatores orgânicos + pressão/tensão (stress) + exploração

Incidência de = psicopatologia habilidades de enfrentamento + autoestima + suporte

Esta fórmula aparece com a convicção de que esforços de prevenção, quando separados Enfatizam Durlak e Wells (1997) que a prevenção da ação política e da busca por igualdade social, primária é uma “intervenção intencionalmente dissociavam-se dos questionamentos que levaram designada a reduzir a futura incidência de à constituição dos movimentos prevencionistas. problemas de ajustamento em populações normais, Assim, o seu principal objetivo é proporcionar assim como a promoção do funcionamento mental auxílio rápido e eficaz às pessoas com dificuldades saudável”. emocionais e psicológicas.

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

19


O encontro com o terapeuta pode ocorrer no período de uma hora ou, quando necessário, se estender um pouco mais, além de não exigir retorno. Há casos em que o sujeito pode sentir a necessidade de novos encontros, que podem ocorrer sob esta mesma modalidade – plantão psicológico –, ou com o engajamento em um processo psicoterapêutico clínico convencional. Ressalta PAPARELLI e NOGUEIRA-MARTINS (2007) o atendimento no serviço ocorre em três fases: Primeira sessão| Acolhimento da demanda, numa entrevista inicial, para detecção da queixa e dos elementos trazidos pelo paciente. Acompanhamento| Processo de intervenções de tempo limitado, com um limite máximo de três sessões. Desfecho| Momento de encerramento do processo, que poderá resultar no encaminhamento a outras instâncias internas ou externas. CHAVENSA e HENRIQUES (2008) se referem que o Plantão Psicológico é um tipo de intervenção psicológica que acolhe a pessoa no exato momento de sua necessidade, ajudando-a a lidar melhor com seus recursos e limites. O ser humano de nossos dias vem vivendo uma realidade que, progressivamente e quase que inevitavelmente, causa-lhe um estado de tensão, de desgaste de seu organismo como um todo. Os estados de depressão, de pânico, estresse, angústia, insegurança, medo, ansiedade e tantos outros produzidos pelo modo de vida de nossas cidades e grupos sociais vêm se mostrando, a cada dia, mais intensos e frequentes. CARNEIRO (2008) cita que as pessoas que passaram por uma experiência traumática (perda de um ente querido, abuso sexual, sequestro, assalto, catástrofe) tem risco aumentado para uma série de sintomas e doenças, como ansiedade, depressão, transtorno de estresse agudo e pós-traumático, síndrome do pânico, insônia, distúrbios alimentares, enxaquecas, dores inespecíficas, problemas de pele, distúrbios gastrintestinais, oscilações de pressão, desmaios, abuso de álcool/drogas. Há ainda a terrível sensação de não estar seguro, de que o mundo é um lugar muito perigoso e incontrolável, que as pessoas não são dignas de confiança, levando ao retraimento social, problemas no trabalho e conflitos familiares, podendo evoluir inclusive para o suicídio.

20

Para MAHFOUD in ROSENBERG (1987) este serviço é um tipo de intervenção psicológica, que acolhe a pessoa no exato momento de sua necessidade, ajudando-a a lidar melhor com seus recursos e limites, ‘na medida em que [o plantonista] se coloca disponível a acolher a experiência do cliente em determinada situação, ao invés de enfocar o seu problema [...] A expressão plantão está associada a certo tipo de serviço, exercido por profissionais que se mantêm à disposição de quaisquer pessoas que deles necessitem, em períodos de tempo previamente determinados e ininterruptos. FRANCHETI (2009) dentre as poucas certezas que a vida nos proporciona, uma das que tenho certeza, tanto na minha vida pessoal quanto profissional, é que “em qualquer situação de desequilíbrio, de descontrole, de crise de uma pessoa, o que ela busca primeiramente é encontrar outra pessoa. Alguém com quem possa estabelecer um contato real, profundo, acolhedor. Uma mão estendida com a qual possa dividir o peso de sua carga, possivelmente demasiado pesada para ser carregada apenas por ela naquele momento. O mais importante ali, naquele instante, é a possibilidade da pessoa que busca ajuda se sentir acompanhado, sair de um ‘estar só”. O trabalho no Plantão Psicológico se caracteriza pela ênfase no atendimento imediato, ou seja, numa terapia em busca de soluções (aqui - agora) e orientada para o futuro no sentido de satisfazer a(s) necessidade(s) da pessoa que procura o serviço. Assim, o serviço do plantão psicológico proporciona ao cliente: Ajuda no reconhecimento de problemas ou conflitos ainda não identificados; Ajuda na busca de soluções à problemática apresentada; Apoio em situação de isolamento social, “não ter com quem compartilhar”; Orientação e esclarecimento sobre as emoções e afetos humanos. COMO UTILIZAR ESTE SERVIÇO? A sugestão é que o atendimento seria todos os dias por um período de 24 horas ininterruptas e o cliente procuraria diretamente as Unidades Municipais de Saúde 24 horas como Pinheirinho, Boqueirão, Cajuru, Boa Vista, CIC, Sitio Cercado, Campo Comprido, Albert Sabin (Fazendinha) não sendo necessário marcar horário previamente.

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL E O PLANTÃO PSICOLÓGICO Como FURIGO (2006) considera que o como modelo de intervenção utilizado desponta como uma grande esperança de agilização e dinamização dos serviços clínicos prestados pela Psicologia, vindo a contribuir com uma gama maior de recursos que esta Ciência pode colocar a serviço de quem dela precisa dentro da área de saúde. Segundo PAPARELLI e NOGUEIRA-MARTINS (2007): a tríade saúde mental X Psicologia X saúde pública sugere a necessidade de ampliar a esfera do trabalho psicológico, não como uma prática coercitiva e de controle, para a qual só se retorna quando todas as demais práticas já falharam. É função do psicólogo humanizar sua prática, desfazer sua imagem estereotipada, esclarecer e divulgar seu trabalho e, com isso, favorecer o rompimento do preconceito. Da mesma forma, é sua função desmitificar a doença mental e ampliar a visão da saúde mental. Para isso, o psicólogo há que buscar e sanar suas deficiências teóricas e técnicas na atuação e prática diária do profissional, repensando-as. Esse movimento de questionamentos dos serviços em saúde mental, que colocam em xeque as “intervenções terapêuticas”, tendo como foco a luta contra toda e qualquer forma de opressão e massificação subjetiva, transformando os próprios saberes e práticas dos profissionais. A Organização Mundial da Saúde (1948) é uma agência especializada em saúde e subordinada à Organização das Nações Unidas. Segundo sua constituição, a OMS tem por objetivo desenvolver ao máximo possível o nível de saúde de todos os povos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a saúde é definida nesse mesmo documento como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social e não consistindo somente da ausência de uma doença ou enfermidade”. FURIGO (2006) relata que os profissionais de saúde, comprometidos com a questão da saúde mental, precisam reconhecer seu papel político, e exercitar a análise e crítica da realidade. A demanda por cuidados de saúde nem sempre é explicita. Uma das formas subjetivas de expressão dessa demanda é a procura pelas receitas. De acordo com Zieguelmann (2005) é cultural o fato de quando a pessoa não se sente bem, procurar remédios. A tendência de medicalização da sociedade é fomentada pela indústria farmacêutica e geralmente transforma os temas psicológicos em temas somáticos, atribuindo a “problemas dos nervos”. Estes problemas aparentemente se resolvem nas consultas rápidas e se encaixam com o desejo da pessoa em resolver “magicamente” Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

as ansiedades e as dificuldades emocionais sem confrontá-las abertamente. Prossegue, afirmando que essa medicalização acaba por “entorpecer” os problemas sociais e psicológicos da população. Finalmente, devemos entender que a realidade que clama por intervenção humana além da técnica e política imediata e da qual não podemos nos desviar, refere-se ao fato de que em inúmeras regiões brasileiras já não são mais as doenças infecciosas os maiores problemas sanitários. As doenças crônico-degenerativas e as mentais representam o maior fardo social e econômico, segundo os estudos da Organização Mundial de Saúde (ZIEGELMANN,205). Num país com a dimensão, a diversidade e as características socioeconômicas do Brasil, não se pode esperar uma resposta homogênea e uniforme aos inúmeros e variados problemas de saúde mental. SERVIÇOS DISPONIVEIS PARA A COMUNIDADE Como exemplo de um trabalho existente hoje em Curitiba, temos o Centro de Valorização a Vida (CVV) que é um programa de prevenção do suicídio que valoriza a vida, pois atende pessoas oferecendo apoio emocional em momentos difíceis, facilitando o desabafo e aliviando o sofrimento, com a finalidade de neutralizar idéias autodestrutivas e prevenir o suicídio. A entidade está espalhada por todo Brasil e no ano passado, o CVV recebeu 1.120.226 ligações em todo o território nacional. Além desta ação de Atendimento via telefone, 24 horas por dia, o Plantão Psicológico seria uma conquista para a população e para os profissionais da área, tendo em vista que o atendimento com o psicólogo aconteceria pessoalmente. O filme “A ponte” Golden Gate (2006) é um documentário que nos mostra que a “ponte” corta a baía de São Francisco, um dos maiores pontos turísticos dos EUA. O que poucos sabem é que o local não atrai somente turistas, mas também suicidas. Em 2004, Eric Steel e sua equipe filmou dois pontos da ponte, durante o dia, registrando os últimos momentos de mais de vinte pessoas e impedindo mais algumas de cometer suicídio. O filme também conta com depoimentos de amigos e familiares dessas pessoas. Palavras de um rapaz que presenciou sobre o suicídio de uma pessoa “pensei em como aquela pessoa estava se sentindo, no grau mais baixo de todos com a sua vida, obviamente”. Outro relato “O que leva alguém a ultrapassar os limites? É como uma dor qualquer, quando se torna insuportável... fazemos qualquer coisa... você sabe ninguém saberia pelo que estaria passando”. Suicídio é um ato consciente de aniquilação autoinduzida, o suicídio representa a saída para um problema que está causando um intenso sofrimento. 21


Em seu dossiê “Morte Voluntária”, CARDOSO (2009) relata que cerca de 1 milhão de pessoas morrem por ano em decorrência do suicídio. Ou seja, perde-se mais vida com suicídio anualmente do que em todas as guerras e homicídios no mundo. Ainda segundo a OMS, se a prevenção não passar a ser encarada seriamente, esta fatalidade pode chegar a 1,5 milhões em 2020 e de 10 a 20 vezes mais em termos de tentativas.

Para OUTEIRAL há mais suicídios no mundo do que imaginamos, mas não são suicídios parciais. Muita gente destrói “as mais belas porções de si mesmo”, e não sua vida. Eis tudo. O homem que põe termo à vida não é culpado de deformação própria. Destruir-se por inteiro, de um só golpe, é respeitar mais seu imortal do que seria mutilá-lo em vida, das suas mais nobres faculdades e aspirações. “G.Flaubert (1821-1880).

ENCAMINHAMENTO O plantonista, baseado em seu conhecimento profissional, sabe que tipo de tratamento o cliente necessita, sugerindo a atividade adequada, que poderá ser psicoterapia, orientação vocacional e profissional, cursos, ou mesmo a utilização de serviços de outros profissionais ou públicos. Em geral, as pessoas são encaminhadas de acordo com suas necessidades, na medida em que, o plantão possui nos seus arquivos conhecimento de diversos serviços oferecidos à comunidade, como por exemplo: proteção policial da Delegacia da Mulher; atendimento social do SESC, oferecendo cursos e vivências para idades específicas, como terceira idade, adolescentes; ajuda institucional de associações para tratamento de Drogadição, como Alcoólatras Anônimos; SOS Criança; Defensoria Pública; Juizado de Pequenas Causas, etc. Enquanto isto não acontece, o plantonista continua acompanhando a pessoa, coordenando o início das providências e tratamentos planejados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Considero importante que o “Plantão Psicológico” torne-se uma prática em expansão, uma tentativa de alcançar um maior número de pessoas em atendimentos psicológicos clínicos. Este modelo de Intervenção é uma grande esperança de agilização e dinamização dos serviços clínicos prestados pela Psicologia, vindo a contribuir com uma gama maior de recursos que esta Ciência pode colocar a serviço de quem dela precisa dentro da área da Saúde. A proposta não é de um serviço para “emergências psiquiátricas”, mas sim como um serviço de acolhida e amparo, recebendo a pessoa no momento que apresentam algum tipo de sofrimento psicossocial, fornecendo escuta, aceitação e empatia, sem que necessariamente a intensidade desta dificuldade tivesse atingido um ponto crítico que representasse ameaça iminente à sua integridade ou a de outros. Desta forma, objetiva promover ao cliente sentido e significado as suas vivências face às crises que enfrenta em sua vida. O cliente poderá procurar o plantão sempre que surgir uma nova e diferente demanda, porém é necessário que as pessoas saibam da existência e da disponibilidade desse serviço. Observa-se uma enorme demanda reprimida: pessoas que passaram

22

por algum evento traumático e continuam sofrendo, achando simplesmente que isso é normal. E vão reduzindo suas vidas cada vez mais, reféns do medo, da insônia, da depressão e de uma série de outros sintomas e doenças. Devemos trabalhar na prevenção e nela concentrar nossos esforços, pois uma vez instalada a doença, ela pode tornarse crônica e de difícil controle, causando diversos danos secundários. É menos dispendioso em termos econômicos e emocionais colocar profissionais de prevenção (antes e durante a ocorrência) em campo do que tratar doenças/comportamentos desadaptativos já instalados. Cabe ao poder público o compromisso e a responsabilidade de implantar, no âmbito do Sistema Único de Saúde, uma política de saúde mental que possa garantir a população o serviço de Plantão Psicológico nas Unidade de Saúde 24 horas. Por essa razão, sempre respeitando a complexidade do sofrimento mental e das formas de se lidar com ele, é preciso pensar em soluções que possam ser abrangentes e multiplicadas. Este estudo é para conscientizar a população e autoridades a respeito da necessidade de se implantar este serviço de atendimento permanente às pessoas portadoras de sofrimento psíquico.

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Artigo | BARTZ, Sebaldo. Plantão Psicológico: atendimento criativo à demanda de emergência. V Encontro Estadual de ClínicasEscola. Caderno de Resumos, São Paulo, Universidade São Judas, 1997, p.69. .Disponível no endereço: http://www.aetern.us/article68. html. | BEDIN, Dulce Maria, Dra. Helena Beatriz K. Scarparo (orientadora). Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Integralidade no SUS e Saúde Mental III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS. 2008. Faculdade de Psicologia, PUCRS. http://www.pucrs. br/edipucrs/online/IIImostra/Psicologia/61318%20-%20DULCE%20MARIA%20BEDIN.pdf | CHAVESA, Priscila Barros, HENRIQUES, Wilma Magaldi. Plantão Psicológico: De frente com o inesperado. 2008. Psychological duty: Face to face with the unexpected one. Disponível no endereço: www2.pucpr.br/reol/index.php/PA?dd1=2006&dd99=pdf | LACERDA JUNIOR, Fernando, GUZZO, Raquel Souza LOBO. Pontifícia Universidade Católica de Campinas Prevenção primária: análise de um movimento e possibilidades para o Brasil. Interação em Psicologia, Curitiba, jul./dez. 2005, (9) 2, p. 239-249 | PAPARELLI, Rosélia Bezerra e NOGUEIRA-MARTINS, Maria Cezira Fantini. Psicólogos em formação: vivências e demandas em plantão psicológico. Psicol. cienc. prof. [online]. mar. 2007, vol.27, no.1 [citado 09 Junio 2009], p.64-79. Disponible en la World Wide Web: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1414-98932007000100006&lng=es&nrm=iso>. ISSN 1414-9893. | MAHFOUD, Miguel. ROSENBERG, R.L. A vivência de um desafio: Plantão Psicológico. In Rosenberg, R.L. (org.), Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa, E.P.U., São Paulo, 1987, pp.75-83.| SCHMIDT, Maria Luisa Sandoval. Plantão psicológico, universidade pública e política de saúde mental. Estud. psicol. (Campinas), dez. 2004, vol.21, no.3, p.173-192. ISSN 0103-166X. Disponível no endereço: http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/epc/v21n3/ v21n3a03.pdf Entrevista | CARNEIRO, Sarah. Entrevista: Desastres: perdas e conseqüências por Giovanna Sampaio. Jornal Diário do Nordeste. 2008. Editora Disponível no endereço: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=543763. | FRANCHETI, Marcos Aurélio de Oliveira. Psicólogo. Entrevista. 2009. Disponível em: http://www.gada.org.br/asp/servicos_psico.asp Filme | A PONTE. Título Original: The Bridge. Gênero: Documentário. Tempo de Duração: 93 minutos. Ano de Lançamento (Inglaterra): 2006. Site Oficial: www.thebridge-themovie.com. Estúdio: First Stripe Productions / RCA / Easy There Tiger Productions. Distribuição: IFC Films . Direção: Eric Steel. Produção: Eric Steel. Música: Alex Heffes. Fotografia: Peter Baldwin e Peter McCandless.Edição: Sabine Krayenbühl Livros | FLAHERTY, Joseph A., CHANNON Robert A. e DAVIS John. Psiquiatria: diagnostico e tratamento: trad. De Dayse Batista – Porto Alegre: Artes Médicas, 1990, pg19. | LOPES, Haroldo. Pronto- Socorro Psicológico. São Paulo: Elevação, 2003. pg.103 e 104. | TELES, Maria Luiza Silveira Teles. O que é psicologia – São Paulo: Brasiliense, 2003 – (Coleção primeiros passos: 222). Pg. 61,62 Revista | CARDOSO. Lilian. Dossiê Morte Voluntária. Revista Ciência & Vida - Psique. Ano IV nº 38 , pg.4 e 7. 2009. São Paulo. Editora Escala. | OUTEIRAL, Jose. Dossiê Comentários sobre a ideação suicida, tentativas de suicídio e suicídios. Revista Ciência & Vida Psique. Ano IV nº 38 , pg.10. 2009. São Paulo. Editora Escala. Tese de doutorado | FURIGO, Regina Célia Paganini Lourenço. Tese. “Plantão psicológico: uma contribuição da clínica junguiana à atenção psicológica na saúde”. PUC/Campinas, 2006. Orientadora: Vera Engler Cury. Disponível no endereço: http://www. bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=121.

AUTORES Dirlene Maria Vieira | CRP 08/11787 Psicóloga, Hipnoterapeuta, Especialização Saúde Mental: Prevenção, Promoção. E-mail: psicologia.dirlene@hotmail.com Orientador Prof. Wagner Alan Cagliumi | Professor da disciplina de Metodologia Científica do curso de Pósgraduação no IBPEX.

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

23


SEXUALIDADE

REPR

DA GRAVI

DE UMA C

24

Revista de Psicologia ATLASPSICO nยบ 17 | dez 2009


RESENTAÇÕES SOCIAIS

IDEZ ENTRE ADOLESCENTES NULIGESTAS

COMUNIDADE PERIFÉRICA DE TERESINA|PI

O

presente trabalho trata-se de um artigo elaborado a partir da monografia de final de curso de graduação em Psicologia a qual abordou as representações sociais que adolescentes nulígestas

de uma comunidade periférica de Teresina-PI têm sobre a gravidez. Dessa forma, essa pesquisa foi realizada na Vila Meio Norte e os critérios de escolha dos participantes foram: ser do sexo feminino, moradoras da Vila Meio Norte, com idades entre 10 a 19 anos e nulígestas. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, com 05 (cinco) participantes e o procedimento de análise se deu através da análise de conteúdo. De acordo com o conteúdo apurado verificou-se que a gravidez adolescente nesse segmento social não é percebida como indesejada e/ou precoce, assim como, geralmente, é colocada na literatura. Tal concepção tão enfatizada no discurso literário aparece no discurso das entrevistadas de forma consciente, porém superficial, onde se demonstra, através principalmente de elementos inconscientes, o desejo oculto da maternidade, uma vez que a mesma carrega consigo importantes valores como formação familiar, vivência da sexualidade, aquisição da idade adulta e valorização social enquanto mulher.

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

25


A

companhando uma tendência internacional, a gravidez na adolescência no Brasil vem assumindo, o status de problema social para o qual converge a atenção dos poderes públicos, organismos nacionais e internacionais e da sociedade civil. Tal status apóia-se, sobretudo, nos riscos físicos, psicológicos e sociais advindos dessa modalidade de gravidez. Por isso, essa pesquisa, que vem a ser um trabalho de conclusão de curso, teve como objetivo geral ampliar o entendimento sobre as representações sociais da gravidez entre adolescentes nulígestas de uma comunidade periférica do Piauí. Para tanto se fez necessário um embasamento teórico - sobretudo a luz das abordagens psicológicas sócio-histórica e psicanalítica - envolvendo a adolescência e suas características, mas também o estudo sobre as representações sociais.

REFERENCIAL TEÓRICO A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a adolescência corresponde ao período da vida que vai dos 10 aos 19 anos. Sendo que, de acordo com Coates (2003), pode ainda ser dividido em três etapas que correspondem a: etapa inicial (dos 10 aos 14 anos); etapa intermediaria ou média (dos 14 aos 17 anos) e tardia ou final (dos 17 aos 19 anos). Esse período da vida é fortemente vinculado à questões fisiológicas como a sexualidade, no entanto Ozella (2003) lembra que apesar dessa tendência, a formação do indivíduo não deve ser apreciada como uma história linear e unilateral, onde somente os aspectos fisiológicos e intrapsíquicos delineiam essa trajetória.

É importante considerar essa colocação, pois não há como negligenciar a influência de aspectos A partir desse estudo foi realizada então da sociedade contemporânea na construção da uma pesquisa em campo (na vila Meio-Norte em identidade e, segundo Papalia (2000), é durante Teresina-PI) onde, através de entrevistas semi- o período da adolescência que se inicia essa estruturadas com 5 (cinco) adolescentes, foi coletado construção. o conteúdo para a análise. Com isso, objetivou-se verificar o modo como as participantes constroem Para Santos e Silva (2008) a crescente expansão um conjunto de saberes (representações) no tocante dos meios de comunicação e globalização, e as a gravidez, que passam a expressar sua identidade consequentes mudanças na relação tempo-espaço individual e ajudam a constituir a identidade do influenciam e alteram o autoconceito das pessoas. seu grupo social. Dessa forma, observa-se que a alta difusão de novos padrões, sobretudo, o estético e o comportamental Sendo assim, para a analise do material podem trazer consequências na atual configuração coletado, foram considerados tanto os elementos do feminino e masculino, já que essa configuração conscientes revelados nas entrevistas, mas também é, em parte, modelada pelas representações. os inconscientes através, sobretudo, da consideração dos aspectos sociais e históricos envolvidos nessa Nesse sentido, nota-se que as construções e construção. reapresentações de gênero são essenciais para dar sentido aos comportamentos sexuais e reprodutivos, Com a consciência da fraca eficácia dos inclusive uma eventual gravidez e parentalidade na programas sócio-educacionais dirigidos para a adolescência. (Heilborn et al. 2002) educação sexual e planejamento familiar, somada a preocupação com os prejuízos decorrentes Diante dessas colocações é pertinente ressaltar a do tornar-se mãe ainda na adolescência para a influência familiar como elemento de fundamental menina, para o bebê e para a sociedade como um importância para o aprendizado e reprodução de todo, espera-se, com esse trabalho, contribuir para gênero bem como o valor do meio social para esse a construção de propostas práticas que possibilitem aprendizado e reprodução comportamental. a otimização dos programas sociais dirigidos a essa problemática.

influência familiar é o elemento de fundamental importância para o aprendizado e reprodução de gênero bem como o valor do meio social para esse aprendizado e reprodução comportamental. 26

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


METODOLOGIA Em virtude dos objetivos almejados foi utilizado o tipo de pesquisa qualitativa que, para Minayo (1994), é ideal para se trabalhar com um universo de significados, crenças, valores e atitudes das pessoas.

o termo de consentimento livre e esclarecido (documento que expressa o compromisso de cumprimento de cada uma das exigências definidas na Resolução CNS 196/96) autorizando a realização e publicação de entrevistas.

A pesquisa foi realizada na Vila Meio Norte em Teresina-PI. A escolha dessa comunidade se deu principalmente, em virtude do seu caráter de classificação social (classe social baixa).

As entrevistas foram do tipo semi-estruturadas, ou seja, foram feitas perguntas abertas norteadoras seguindo um roteiro preestabelecido. Nesse sentido, tais entrevistas foram realizadas no domicílio das participantes, seguindo horários previamente Os critérios de escolha dos participantes agendados. consistiram em residir na Vila Meio Norte, ser adolescente (10 a 19 anos), do sexo feminino e Para analisar as informações coletadas foi nunca ter engravidado (nulígestas). utilizado o método de análise de conteúdo, sendo assim, procederam-se, a partir das gravações de Dessa forma essa pesquisa contou com a áudio, as transcrições do material e em seguida participação de 5 (cinco) adolescentes as quais, processou-se sua análise. em acordo com seus responsáveis legais, assinaram

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos nesse trabalho são fruto de perguntas que tinham como objetivo não só captar os elementos conscientes que constituem a representação sobre a gravidez por parte das voluntárias, mas também e especialmente, o acesso aos elementos inconscientes contidos na fala das mesmas aos quais também compões as representações sociais. De acordo análise do material apurado foi possível dividir o conteúdo em quatro categorias, sendo elas: A FORMAÇÃO DE UMA NOVA FAMÍLIA Não é difícil verificar, especialmente em comunidades periféricas como a Vila Meio Norte no Piauí traços da estrutura familiar patriarcal. Para Giddens (2000) essa estrutura familiar é marcada por aspectos como a diferença entre os sexos e a rígida hierarquia, o que pode comprometer o relacionamento aberto na família bem como o desenvolvimento das figuras menos favorecidas na escala da hierarquia familiar (mulheres e crianças). Apesar disso, observou-se, durante as entrevistas, que em famílias onde houve a falência no modelo patriarcal tradicional, uma campanha por parte, especialmente da figura patriarca substituta (mãeprovedora), para o retorno ao antigo modelo seja na geração vigente ou nas próximas. [...] O que ela passou ela não quer que a gente passe também. Daí ela diz que a gente tem que caçar um homem bom, um homem que ajude que trabalhe (Entrevista 5 – 18 anos) Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

Essa fala, por exemplo, reproduz a frustração da mãe da participante diante do modelo familiar atual, onde ela é a chefe e provedora da família, mas representa, sobretudo, o desejo e orientação ao regresso ao modelo patriarcal. A partir do conteúdo das entrevistas observouse também que, de certo modo, a gravidez, nesse segmento social está, muitas vezes, associada à formação de uma família, sendo esta caracterizada como uma unidade econômica, assim como se pode perceber na seguinte fala: [...] a gente tamos cuidando deles aí mais na frente eles que tão cuidando da gente. Aí eu acho que a gente tem criar mesmo (entrevista 1 – 14 anos). Sendo assim observa-se que apesar das transformações sociais correntes envolvendo a concepção de família, o contexto social em que as adolescentes participantes dessa pesquisa estão inseridas torna compreensível o posicionamento das mesmas diante da sua concepção de gravidez, pois num meio social onde a entidade familiar ainda representa uma unidade econômica e o modelo patriarcal ainda indica o modelo familiar ideal, muitas vezes, a idéia da gravidez pode surgir representada pela promessa da aquisição de mais um membro para uma estrutura familiar já existente ou da formação de uma família.

27


A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE Nas famílias visitadas ficaram evidentes traços de comportamentos que sustentam o modelo familiar patriarcal, como, por exemplo, a inexistência ou deficiência na forma de diálogo entre os membros familiares. Essa deficiência é enfatizada quando o assunto é sexualidade.

A AQUISIÇÃO DA IDADE ADULTA Na literatura, de modo geral, a gravidez na adolescência está associada ao desperdício de oportunidades sociais, uma vez que dependendo das condições de sobrevivência, tende a favorecer o abandono escolar, ou pelo menos, sua interrupção.

Durante as entrevistas foi comum a ausência de palavras, por parte das entrevistadas, quando a pergunta abordava a sexualidade, o que denotava em parte a timidez ou recalque, mas também o desconhecimento frente ao tema. Diante disso a maioria das respostas se resumia a informações educativas sobre DST e/ou gravidez.

Nessa pesquisa essa perspectiva se confirma na visão das adolescentes, pois quando questionadas sobre o significado da gravidez, antes de qualquer outro argumento, o primeiro mencionado geralmente gira em torno das dificuldades que esta pode trazer para a vida da mulher, sobretudo antes da finalização da carreira escolar.

Tais respostas evidenciaram que por um lado o acesso as informações educativas está sendo processado (ainda que deficientemente e na maioria das vezes, somente através da escola). Entretanto, na fase da adolescência é comum que, apesar da curiosidade por parte do adolescente acerca da sexualidade, a sua exploração possa vir acompanhada de culpa, e/ou, da negação das consequências da atividade sexual (COATES, 2003).

O significado... eu acho assim, que você tem que engravidar sim, mas não engravidar quando ta estudando, tem que esperar terminar os estudos. Engravidar estudando não da certo. Eu acho que atrapalha o estudo! (Entrevista 2 – 14 anos).

Como se vê nessa fala, a idéia da gravidez chega até mesmo a ser rejeitada para a vida atual, sendo idealizada para o futuro, após a concretização da carreira profissional, quando idealmente já Diante disso restou a dúvida se as informações se almeja ter condições financeiras propícias ao educativas aprendidas, especialmente na escola, sustento da família, assim como o alcance do estão sendo vivenciadas, uma vez que a experiência sucesso profissional. com sexualidade é tida como tabu e transmitida dessa maneira por parte da família, o que de um Diante desse tipo de resposta é importante lado pode dificultar essa vivência de forma saudável, considerar a realidade social em que as voluntárias responsável e sem culpas para o adolescente, e do estão inseridas, sendo elas moradoras da periferia de outro reforçar a negação das consequências (uma Teresina – PI, estudantes da rede pública de ensino, vez que os pais também estão de certa forma, e, pertencentes à classe social baixa. Diante desse negando a sua sexualidade). contexto fica o questionamento: até que ponto, em condições menos favorecidas socialmente de [...] Ela explica porque agora não, ela diz só existência, pode-se sustentar um ideal promovido depois e olha lá. É isso, ela explica que não é o pelas classes mais favorecidas? certo. (Entrevista 5 – 18 anos). Com isso, nota-se, sobretudo quando se Nessa fala fica evidente o bloqueio no compara as respostas sobre planos para o futuro diálogo entre mãe e filha, bem como a tentativa, com as respostas sobre o significado da gravidez, por parte da mãe de negar ou pelo menos adiar certo nível de idealização da carreira profissional, a sexualidade da filha. Com isso, presumi-se que através da qual, almeja-se uma vida perfeita e sem na adolescência o apelo psicofiosiológico ao sexo problemas, uma ilusão de vida infantil, enquanto associado à convivência em um ambiente repressor a gravidez carrega consigo a representação do especialmente no que diz respeito à sexualidade, começo de uma vida difícil, onde se terá que pode favorecer ao escape do recalque a desculpa enfrentar alguns obstáculos, ou em outras palavras, da formação familiar para a vivência sem culpa a aquisição da idade adulta. Esse contraste pode ser da sexualidade, através do casamento e/ou da percebido nas seguintes falas (A primeira sobre a gravidez. carreira profissional e a segunda sobre gravidez):

28

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


Ah eu quero fazer cursos de inglês, informática... A AQUISIÇÃO DA FEMINILIDADE essas coisas. Também morar junto com minha Apesar das correntes mudanças nos padrões família, ajudar a mãe (Entrevista 3 – 14 anos). dos papeis feminino, para as participantes dessa pesquisa, a gravidez ainda representa uma forte Eu acho legal, eu não acho ruim não! Só é ruim relação com a aquisição da identidade feminina. porque ela vai ter que bater cabeça e isso é uma Ou seja, mesmo adquirindo o direito de incorporar coisa que prejudica muito (Entrevista 1 -14 anos). novos papeis dentro da sociedade, a capacidade de prover uma criança aparece no conteúdo das Frente a essa questão, percebe-se que o entrevistas relatado como o algo a mais que as discurso sócio-educativo sobre os problemas tornam especiais. advindos de uma gravidez adolescente, sobretudo os problemas sociais, está impregnado sim na fala Simboliza... graça de Deus, né? Porque não é das entrevistadas, no entanto observa-se também, todas que podem ter... que podem ter filhos e eu a ambigüidade em relação à realização dos planos acho que para muitas significa isso mesmo, né? profissionais almejados, pois, se de modo geral, (Entrevista 4 – 19 anos). observou-se a negação de sua própria condição social como empecilho à profissão almejada, alguns No caso das participantes, observa-se um elementos da fala da participante denota certa contexto propiciador à valorização do tornadecepção ou constatação do provável futuro que se mãe, uma vez que no, percurso narcisista a aguarda. feminino, as alternativas propostas atualmente como substituição do filho-falo - como a carreira Sei lá, eu já planejei tanta coisa. Já planejei e profissional - não são consideradas naturalmente desplanejei. (Entrevista 1 – 14 anos). acessíveis para a classe social a que pertencem (classe social baixa) assim como são para as demais Por que talvez eu não vou ter recursos, né? classes sociais. Para ser o que eu queria... o que talvez eu pudesse ser (Entrevista 4 – 19 anos). Com isso, verifica-se o ciclo vicioso em que estão encerradas as pessoas pertencentes à classe social Percebe-se, dessa maneira, que a ideologia menos favorecida: uma classe onde há uma maior liberal encontra-se fixada, sobretudo, na superfície dificuldade ao acesso aos direitos sociais (como da personalidade das adolescentes, o que pode estudo e trabalho) e onde se valoriza o modelo ser reflexo das informações educativas, mas que patriarcal, a adolescente acaba por introjetar os o contraste dessas informações com a realidade valores comuns a esse contexto seguindo a trajetória social não as deixam penetrar para um campo mais que suas escolhas objetais determinam e fazendo profundo ao ponto de ser de fato vivenciada. com que se reproduza, quase que invariavelmente, o ciclo menina-mãe-mulher. Nesse sentido, Dadoorian (2002) reforça a importância do meio social para a determinação CONCLUSÃO do papel feminino na sociedade, observando que Com as mudanças sociais, sobretudo no que diz há, na classe social baixa, uma valorização da respeito ao papel da mulher dentro da sociedade, a maternidade onde ser mãe equivale a assumir uma adolescência, faixa etária antes compreendida como mudança do status social, de menina para mulher. ideal para a formação da família, hoje é vista como ideal para a preparação profissional. Entretanto, há Tal rito de passagem parece estar sendo de se considerar que tal ideal é cultivado e propagado substituído, sobretudo, na classe média e alta, pela pelas classes sociais dominantes, as quais tendem a aquisição da identidade profissional, no entanto, considerar esse ideal como universal. para a classe menos favorecida, onde, segundo Sousa e Brandão (2008), prevalecem o difícil acesso A partir das entrevistas, verificou-se que aos direitos básicos de cidadania (como educação esse valor parece ter alcançado as adolescentes e emprego), essa substituição é dificultada, entre de classe baixa, no entanto, esse alcance se dá outros motivos, pela própria realidade econômica e de forma superficial uma vez que, apesar da social das famílias. implantação do discurso sócio-educativo referente

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

29


à sexualidade e profissionalização (que se da através de diversos vetores midiáticos, mas que é percebido conscientemente pelas adolescentes, especialmente através da educação escolar) essa realidade dificilmente pode ser vivenciada por elas em virtude de sua própria condição social. Sob essa óptica, a profissionalização sede lugar à gravidez, que surge como elemento representativo da aquisição da idade adulta, bem como da identidade feminina - já que, em função das dificuldades socioeconômicas, escapa a mulher de classe baixa, a alternativa de entrada na vida adulta e valorização social através da maternidade. Outro aspecto desse modelo familiar identificado através das entrevistas foi o relacionamento hierárquico entre os familiares, o que dificulta o relacionamento familiar, e, sobretudo, a troca de informações transgeracionais. Sobre esse aspecto verificou-se a tendência ao repasse de conselhos ditatoriais, especialmente em relação à sexualidade, que muitas vezes contrastam com os valores socialmente vigentes, o que dificulta a vivência da sexualidade de forma saudável e responsável, uma vez que propicia a negação de suas consequências através do recalque.

Considerando esse aspecto juntamente com a valorização da formação familiar, observa-se que a gravidez pode representar, para as adolescentes entrevistadas, a vivência da sexualidade, uma vez que a atividade sexual fora do casamento é reprimida - e não orientada. Com isso, confirma-se a relação existente entre gravidez adolescente e perspectivas sociais, modelos familiares e aquisição da identidade feminina (aspectos, questionados nos objetivos desse trabalho). E, verifica-se ainda a relação da gravidez com a aquisição da identidade adulta, além de observar a superficialidade dos programas sócioeducativos (tanto vinculados pela mídia, quanto os transmitidos através da educação escolar), uma vez que, na prática, abordam o adolescente de forma individual (muitas vezes somente enquanto estudante), mas não enquanto membro de uma família e de uma sociedade com tantas diferenças sociais. Assim, conforme os resultados desse estudo aqui apresentados, vale questionar a eficácia desses programas de informação e ressaltar a importância da parceria família-escola-saúde para realização de um trabalho de formação, onde tanto os aspectos sociais quanto os psicológicos sejam observados e contemplados.

REFERÊNCIAS ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência Normal: um enfoque psicanalítico. 10. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981. | CALLIGARIS, C. A Adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000 | CLONINGER, S. C. Teorias da Personalidade. São Paulo: Martins Fontes, 2003. | COATES, V. Medicina dos adolescentes. 2. ed. São Paulo: Savier, 2003. | DADOORIAN, D. Gravidez na adolescência: um novo olhar. Psicologia Ciência e Profissão. Brasilia. n.1 p. 84-91, Março. 2003. | GIDDENS, A. Un mundo desbocado. Los efectos de la globalización en nuestras vidas. Capítulo 4. Madrid: Taurus, 2000. | HEILBORN, M. et al. Aproximações Socioantropológicas sobre a gravidez na adolescência. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre. Ano 8, n.17, p. 13-45, Junho. 2002. | MINAYO, M. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. | OZELLA, Sérgio. 2003. Adolescências Construídas: a visão da psicologia sócio-histórica. São Paulo: Cortez. | PAPALIA, D. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. | SANTOS, D.; SILVA, R. Sexualidade e normas de gênero em revistas para adolescentes brasileiros. Saúde e Sociedade. São Paulo. V.17. n.2, p. 22-34, Junho. 2008. Disponível em <http://www.apsp.org.br/saudesociedade/XVII_2/revista%2017.2_artigo%2002.pdf> Acesso em: 16/08/2008.| SOUSA, A.; BRANDÃO, S. Como é Ser Adolescente do Sexo Feminino na Periferia? Psicologia Ciência e Profissão. V.28, n.1, p.82-97, março. 2008. AUTORA Ana Paula Carvalho Veiga Fernandes Lima. | Graduada no curso de Psicologia pela Faculdade Integral Diferencial em 2009.CRP 11/05586 Teresina-PI. Contato: anapaulaveiga@hotmail.com

30

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


A TROCA DE CONHECIMENTO É A NOSSA ESPECIALIDADE. El@as invadem a internet Fiscalização eletrônica: opção pela vida Amor ou amores Os tempos de uma sobriedade punitva ... e muito mais...

Anorexia & Bulimia Brasil fobia: mito ou realidade Brincando em família ... e muito mais...

A Revista do Psicólogo

ATLASPSICO www.atlaspsico.com.br


MATร RIA DE CAPA

32

Revista de Psicologia ATLASPSICO nยบ 17 | dez 2009


2012 O

calendário maia prevê que no ano 2012 encerra-se um ciclo – a Era do Jaguar – com duração de 5125 anos. De acordo com tal crença, eles prenunciaram alguns cataclismos cuja finalidade é a de encerrar mais um período, a exemplo de outros ocorridos anteriormente – há estudos acerca do fulminante impacto causado pela queda de um asteróide na península de Yucatán, no México; erupções gigantescas do vulcão Toba, na Indonésia. Coincidentemente, na atualidade, vê-se considerável número de desastres naturais em variados lugares, com certa frequência. Possíveis confirmações?

respostas comportamentais se obtêm quando se confrontam estímulos apavorantes e informações genéticas que exigem sobrevivência e adaptação constantes?

É claro que o perigo não é tão iminente a ponto de se jogar tudo para cima e sair correndo, mas as datas estabelecem prazos e a contagem regressiva opera-se naturalmente na cabeça do ser humano – mesmo para os céticos, que são dotados igualmente de genes, cérebro, percepções e emoções. O frenesi ganhará terreno com a proximidade do ano previsto e muito se falará a seu respeito. Será possível que algum tipo de descontrole, ainda que inconsciente, e impulso à quebra das regras busca satisfazer o pouco tempo restante, e aplacar, ainda que autoenganadamente, o estresse que se perpetua diariamente com o avizinhamento da eventual catástrofe? A imensa capacidade imaginativa pode causar conturbações reais e exigir do seu autor resposta à altura daquilo que se provocou? A mente é tão poderosa que antecipa o mal-estar (e consequências responsivas) que somente caberiam à época e à veracidade correspondentes? A crença pode se passar por verdade antes mesmo de se operar o fato?

Prever mudanças significativas no planeta não é uma novidade, ao contrário, o seu hábito transcorre desde há muito tempo, e pode ser observado em diversas culturas, das mais antigas às contemporâneas. No Novo Testamento há um capítulo destinado a tal comunicação: o Apocalipse. O Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, versa sobre o Julgamento (52:7-9), por exemplo, além de outras religiões e doutrinas que se baseiam num futuro fatal para se organizarem e caminharem, no presente, na direção da salvação, segundo as suas diretrizes, tal como fez a civilização etrusca na península itálica, séculos antes da Era Cristã. Vale lembrar, ainda, das profecias de Nostradamus Eis algumas questões para se refletir frente ao (1503-1566) para 2012. Contudo, não se pode medo que pode se instalar a partir das influências de garantir que estes eventos ocorrerão de fato. Só o elevada estatura acerca das catastróficas previsões tempo responderá devidamente. de 2012. Como você pretende reagir doravante, ainda que as inevitáveis mudanças naturais sejam O que se analisa aqui, no entanto, não é consideradas na ponderação? a previsão em si, mas o modo como as pessoas reagem frente às possibilidades, sobretudo se elas anunciam obscuro e terrificante porvir para as suas AUTOR | Armando Correa de Siqueira Neto, vidas. Então, que comportamentos entram em cena é psicólogo (CRP 06/69637), diretor da Self Consultoria (ou se acentuam) mediante a percepção (ainda em Gestão de Pessoas, palestrante, professor e mestre que hipotética) do perigo que faz emergir rápida em Liderança pela Unisa Business School. Coautor dos e automaticamente o medo? O que o temor pode livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e desencadear na pessoa se a insegurança lhe tomar Educação 2006. conta e o desastre lhe parecer inevitável? Que E-mail: selfcursos@uol.com.br Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

33


REFLEXÃO

o tempo em

REFAZER-SE O

fascinante está justamente na condição em conspirar quanto ao declínio determinista, que apenas descreve, entretanto, não mergulha no profundo oceano existente entre a explicação e a interpretação, cujas motivações sustentam a fragilidade por detrás do discurso da fala, do pragmatismo teórico, do fundamentalismo religioso, na dialética de qualquer coisa e na manipulação. Essas coisas, aparentemente tão “bem definidas”, se despidas, expõem a mais intensa indefinição ao tratar a existência com limitação de conceitos elaborados, onde os interesses não serão seus, nem tampouco meus, entretanto, das cadeias que assumem o discurso da “liberdade e do conforto” num tempo em que a sociedade encontra-se intensamente cativa por não desafiar as ordens das vozes introjetadas pelos fundamentos denominados de “bem e de mal”, “de inferno e paraíso”, “de certo ou errado” onde podem colocálo no colo, passar as mãos em sua cabeça, olhalo nos olhos e chamá-lo de bonzinho, ou então, açoitá-lo como condenável, revelando a fúria melancólica, num rito sublimatório para livrar-se dos mais difusos sentimentos, desejando justificar de maneira tão impositiva, denunciativa e cientifica, fenômenos que, por estarem tão vivos, sobrepõemse as normas e aos valores. Fazer da fala o instrumento que garanta provar algo é possível, pois, a consciência, em sua fragilidade, principalmente na pós-contemporaneidade, é uma pequena ilha, estruturada por mecanismos de defesa, sublimações, resignificações de situações que outrora encontravam-se na latência, porém, diante de algumas circunstâncias, estruturam frágeis realidades que precisam gerar, para não levar o individuo a mais profunda fragmentação.

34

Quais são as evidências que comprovam a finalidade da consciência, principalmente, quando nos deparamos a fatos que repudiam a razão, mesmo que ela tente produzir suas estruturações lingüísticas na tentativa em transformar “a comunicação” num elemento que instaure a morte da intencionalidade que está no inconsciente? Manipular a realidade refutando o ato psíquico equivale à farsa em matar alguém e tentar esconder o corpo, jogando-o janela abaixo, apegando-se ao mero acaso que move um mundo de pessoas que por aqui também vieram sob a égide dessa mesma circunstância, mas já submetidos estão à pena do descaso, imaginando “ser apenas a ultima pá que vai remir o que é pessoal”. São os que reproduzem as etapas entre o nascer e o morrer, e nelas, aos poucos, resumem-se as funções entre o acordar e o dormir; são os que se empobrecem, justamente pelo medo em serem surpreendidos pela capacidade que tem, mas, ao longo das relações punitivas, sempre se consideram desprovidos da capacidade quanto a atingir metas e definirem resultados que fujam àqueles que poderiam desencadear a aproximação em poderem ser o que mais desejam e, não o que tanto ensaiam diante daquilo que se sentem tão cobrados. Chegará um tempo em que você compreenderá que “o importante não é o que fazem com você, mas sim, aquilo que você faz com o que fizeram com você”. Portanto, o sentido das palavras, dos olhares, dos discursos, quem os dará será você. AUTOR Marcus Antônio Britto de Fleury Junior CRP 09/4575 Psicólogo e coordenador do Atelie de Inteligência. E-mail: ateliedeinteligencia@gmail.com

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


Revista de Psicologia ATLASPSICO nยบ 17 | dez 2009

35


COACHING

MINHA MISSÃO PESSOAL quarto passo para ajudá-lo no desenvolvimento de sua carreira m todo e qualquer website que você pesquise, E é fácil encontrar a missão, os valores e a visão de uma empresa. O objetivo é deixar claro para clientes, fornecedores, parceiros e colaboradores, qual a imagem que essa empresa quer transmitir ao mercado e permite as pessoas optarem se querem compartilhar deste sonho ou deste desafio com a empresa. Desta forma confirmamos que a missão é a razão de ser da organização, é o papel que justifica a sua existência.

Tenha claro para você que a partir do momento que você desenhar uma missão pessoal e se propor a realizá-la, certamente estará caminhando para uma trilha de sucesso. Aliás, essa é um das principais características que encontramos nas pessoas de sucesso, elas sabem exatamente quem são, para que vieram e para onde estão indo.

A capacidade de ter o domínio sobre o que você quer e espera da sua vida, de direcionar seus pensamentos para o que pode conquistar, de optar Segundo Philip Kotler, uma missão bem sobre o que é destrutivo ou construtivo, são fatores estruturada atua como uma mão invisível que guia que diferenciam sucesso e fracasso. Vale lembrar as pessoas para a significância e realização. que a definição de uma missão pode funcionar como uma ferramenta altamente eficaz para se Portanto, a missão torna-se a razão da existência construir não apenas sonhos, mas a materialização da empresa, mas qual é a razão da sua existência? dos mesmos, um real objetivo de vida. Por isso Você já definiu qual é a sua missão pessoal? Afinal, saiba usar suas ferramentas e principalmente, para que você veio ao mundo? Para que você saiba vendê-las as pessoas, só assim elas poderão existe? optar se querem compartilhar deste sonho real, pois na realidade o sucesso não é inalcançável, é Enquanto não tiver resposta a essas perguntas, INEVITÁVEL! está com uma grande crise de significado e por essa razão pode estar se sentindo frustrado ou desmotivado com o que você faz hoje. AUTORA Ana Artigas | CRP 08/05494 Psicóloga, Diretora de Projetos da Tekoare Vending e Entretenimento Corporativo, Especialista em Carreira Email: ana@tekoare.com | Site: www.tekoare.com

36

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


SAÚDE

SAÚDE MENTAL OU SAÚDE INTEGRAL? tualmente, ainda são fortes os resquícios A de uma mentalidade sobre a saúde, que se baseia numa abordagem mecanicista do homem.

idiossincrasias estabelecidas demoram a mudar e nossa ciência parcial continua a separar o nosso corpo do nosso espírito, ou, podemos dizer de Mudanças de mentalidade só acontecem através nossa dimensão psicoenergética. do conhecimento e da reflexão sobre este. Assim, propõe-se aqui uma breve reflexão sobre saúde. Vivemos num contexto atual, de uma sociedade cada vez mais doente, cada vez mais as pessoas Existe, por um lado uma compreensão da precisam de algum tipo de droga para continuar medicina cada vez mais profunda da inter-relação vivendo. Se houvesse mais atenção à saúde mental, entre mente e corpo e como as emoções influenciam certamente economizaríamos muito no tratamento as doenças físicas; e, por outro lado, uma medicina de doenças físicas, pois o sintoma corporal é o meio cada vez mais preocupada em trocar as peças dessa que o corpo encontrou para falar de seus processos “máquina-homem”, para que funcione melhor, inconscientes. sem perceber que essa “máquina-homem” é uma unidade, e impedindo-o de ir ao encontro da O sintoma pode ser um guia precioso se verdadeira causa da doença. olharmos para a doença como mensagem de nossa consciência, do nosso ser interior. Temos A própria psicologia, estudou as funções que aprender a identificar e a compreender nossas humanas por muito tempo, esquecendo do próprio dores, tensões e sofrimentos. homem, do “ser” humano. Negligenciando o essencial. Embora a Psicologia humanista, a qual Assim, urge compreendermos melhor os surgiu, como um movimento de protesto, contra mecanismos psicoenergéticos que estão por trás da os modelos de caráter reducionista ou mecanicista, doença a fim de recobrar a saúde. assim como a Psicologia Transpessoal que resgata a dimensão espiritual do ser humano; ambas, O preço dessa nova mentalidade é crescer enfatizando a centralização na pessoa, nos valores e adquirir nossa responsabilidade. É a melhoria humanos e rejeitando uma psicologia mecanicista, da qualidade de vida ao resgatar a humanidade já venham a algum tempo, contribuindo com do homem, despertando consciências para o uma visão integral da saúde, do “ser” humano; reconhecimento de nossa UNIDADE.

AUTORA Neli Maria Tavares | CRP 08/01963 Psicóloga, formada pela UFPR, Psicomotricista Titular pela Sociedade Brasileira de Psicomotricidade/SBP-159, Especialista em Psicomotricidade – Educação e Terapia baseada no diálogo e na espontaneidade. Pela FUNPAR, Formação em Prática Psicomotora Educativa e Terapêutica por Bernard Aucouturier da Association Europeenne Des Ecoles de Formation a La Pratique Psychomotrice (França); Especialista em Terapia Corporal Bioenergética pela FUNPAR., Especialista em Psicologia Educacional pela FAFIG (Pr.), Especializanda em Psicologia Transpessoal pela ALUBRAT (SP). Email: psicomotricista@hotmail.com

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

37


PSICOMOVIE

O SILÊNCIO DE U

LUTADOR Em uma atuação arrebatadora, a direção de Gus Vas Sant e o roteiro de Lance Black para “Milk – a voz da igualdade” (2008) – deram ao norte-americano Sean Pean o Oscar de melhor ator em 2009. O filme foi recentemente lançado em DVD com uma série de extras.

38

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


UM

R Revista de Psicologia ATLASPSICO nยบ 17 | dez 2009

39


De acordo com a filósofa Hannah Arendt privilégios que a chamada “maioria” – heterosexista, (1906-1975), existem três condições básicas para a política, economicamente superior, cristã, branca condição humana: o labor, o trabalho e a ação. e herdeira do preconceito criado pela medicina psiquiátrica do final do século XIX. O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano, do No fim da década de 70, havia pouco tempo em nascimento à morte e refere-se à própria vida. que a homossexualidade deixara de ser considerada O trabalho é a atividade correspondente ao uma doença pela American Psychiatric Association artificialismo da existência humana produzindo um (Associação Psiquiátrica Americana - APA), porém, mundo diferente do ambiente a que pertencemos, ainda estava no imaginário social coletivo o espectro cuja condição humana é a mundanidade. Por fim, a de perversão e anormalidade decorrente dos últimos ação é a atividade que se exerce diretamente entre duzentos anos na qual ela foi microscopicamente os homens sem nenhuma mediação e corresponde à analisada pela psiquiatria, psicologia, psicanálise e, condição da “pluralidade humana”, ou seja, a nossa sobretudo, pela medicina moderna. diversidade habitando um mundo “entre iguais”. Predicativa do pensamento oitocentista na A ação humana é predicativa da história qual diagnosticou e propôs dos homens e tem suas raízes naquilo que a inúmeros modelos de cura, a autora denominou de “natalidade”. A tarefa da homossexualidade passou a “natalidade” é produzir, preparar e preservar o ser seguida e perseguida pela mundo para as futuras gerações que estão por vir, maioria das ciências da mente para os “recém chegados que vêm ao mundo na e do corpo, sendo inclusive qualidade de estranhos” dando início ao novo. Dar considerada um crime em início ao novo, para Arendt, significa que a cada alguns países e estados nortenascimento o recém chegado pode construir um americanos. mundo melhor do que aquele que foi vivido. Logo, os “recém chegados” experimentam o mundo a As chamadas “sexualidades partir da ação que por sua vez prepararão o mundo periféricas” também foram para uma nova futura geração. submetidas às agruras da moralidade cristã que ininterruptamente combateu Um bom exemplo para compreender o a prática sexual entre pessoas do mesmo sexo, pensamento de Hannah Arendt e aquilo que ela alegando que ia contra as leis da natureza, da chamou de “ação humana sobre o mundo” e família, de Deus e do estado. “natalidade” é a cinebiografia do ativista gay norte-americano Harvey Milk, morto em 1978. Em Tanto a política norte-americana quanto uma atuação arrebatadora, a direção de Gus Vas mundial, sob a tutela da família, da propriedade e Sant e o roteiro de Lance Black para “Milk – a voz do estado, e em nome de Deus, tentou impedir o da igualdade” (2008) – deram ao norte-americano acesso à cidadania de um grande contingente de Sean Pean o Oscar de melhor ator em 2009. O filme homens e mulheres que se autodenominavam gays foi recentemente lançado em DVD com uma série e lésbicas. de extras. Vale a pena conferir o documentário sobre a vida e a atividade política de um homem Quando voltamos o olhar para um país como que não cansou de tentar lutar por um mundo mais os Estados Unidos, que no final da década de 40 justo entre seus pares. matou milhares de pessoas com uma arma poderosa como a bomba atômica, submeteu milhares de Milk não foi apenas um ativista gay que lutou homens a uma guerra sem precedentes do outro pelos direitos de uma minoria na cidade de São lado do mundo no início da década de 70, no Francisco - Califórnia, onde ele foi um talentoso Vietnã, enquanto as revoluções sexual e cultural político que teve a ousadia de tentar produzir um pregavam ideais de liberdade, igualdade, paz e mundo melhor tanto para aqueles que estavam amor livre, não faz sentido compreender porque a chegando quanto para aqueles que já habitavam política norte-americana encampou uma cruzada esse mundo. Ele foi um homem que ousou ir além contra a homossexualidade através de uma lei na dos limites impostos pela crença insofismavelmente qual permitia a demissão de todos os profissionais mundana em dividir homens e mulheres a partir da educação nas escolas dos Estados Unidos que de suas preferências sexuais, impedindo que estes se assumissem ou fossem reconhecidos como gays mesmos homens e mulheres gozassem dos mesmos ou lésbicas.

A tarefa da é produzir, preservar o as futuras g estão p

40

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


Em São Francisco no final da década de 70 uma pessoa assumiu um levante contra essa lei tornando-se uma das lutas de Harvey Milk contra a imposição da “moralidade cristã” em um estado que se dizia laico através da Proposta N. 06, que suspendia a proibição do trabalho de professores homossexuais e lésbicas. Harvey Milk teve a ousadia de ser esse homem que lutou pelos “happy few”. Mais do que isso, sua contribuição no pequeno tempo em que fez parte da política norte-americana fez com que o movimento de emancipação pelos direitos de gays e lésbicas em São Francisco, nos Estados Unidos e, por que não dizer, no mundo, tenha chegado aonde chegou, não obstante o poder público ter entravado e guardado sob sete chaves algumas das reivindicações dos militantes gays e lésbicas, tais como a criminalização da violência contra homossexuais e o projeto de união civil entre homens e mulheres do mesmo sexo, como é o caso do Brasil.

Hannah Arendt pensa na contramão. Para ela, a imortalidade significa continuidade do tempo, vida sem morte na Terra e no mundo. A eternidade seria a vida isenta de morte, sem juventude ou velhice. Tanto uma quanto a outra, só pode ser alcançada pelos deuses. Para o homem comum, a mortalidade reside no fato de que somos seres biológicos, e como tais, um dia pereceremos.

No entanto, a condição de imortalidade ou eternidade dos homens reside na sua capacidade de criar coisas – feitos e obras. Por seus feitos e por suas obras, os homens podem deixar atrás de si vestígios imorredouros que serão lembrados mesmo após a sua estada no mundo dos vivos. Mas lembremos que só nos tornamos agentes no mundo através do artifício da natalidade. É a natalidade e não a mortalidade, que nos dá nossa condição de sujeitos no mundo, porque, conforme afirma Arendt, nascer é agir no mundo em que vivemos, dando início ao novo. A ação, ou a vida ativa da qual a filósofa nos fala também, é uma ação política. Por ação política entenda-se a capacidade de produzir novas possibilidades subjetivas através da atividade humana. É o artifício da natalidade O valor do sacrifício e não da mortalidade que dá aos homens a sua de Harvey Milk, mostrado condição de seres humanos. magistralmente pelas lentes de Gus Vas Sant e “encorporado” Felizmente, homens como Harvey Milk pela atuação embevecida de Sean Peen, fez com que nasceram. Felizmente, homens como Milk os homossexuais hoje possam ostentar livremente produziram, prepararam e preservaram o mundo seus direitos em vários países de cultura ocidental. para os futuros “recém chegados”, dando início ao novo. Felizmente, homens como Milk serão Também foi a obsessão de Milk na luta pelos eternos e imortais pela sua própria trajetória de direitos dos homossexuais em plena Castro Street, vida. Felizmente, homens como Milk fizeram da em São Francisco, e de lá para o mundo, que vida ativa estética da sua própria existência, e tornou a pessoa que ele foi, nem que para isso ele por esta razão homens e mulheres gays de todo o tivesse que perder amigos, amantes ou até mesmo mundo lutam pela sua condição de humanidade. a própria vida. Felizmente, o silêncio desse lutador por uma sociedade mais justa não chegou a um fim com a A nossa condição de humanos nos faz pensar sua morte, pelo contrário, ele está mais vivo do que constantemente na dessimetria entre a vida e nunca em cada “ação política” por todo aquele que a morte, achando que esta última só pode ser prepara o mundo para as futuras gerações. superada através das nossas crenças espirituais. A imortalidade ou a eternidade seria uma forma de driblar a morte em nossa pífia condição de seres humanos.

“natalidade” , preparar e mundo para gerações que por vir...

AUTOR Sergio Gomes da Silva Psicanalista em Formação pelo Circulo Brasileiro de Psicanálise – Seção Rio de Janeiro. Mestre em Saúde Coletiva pelo IMS/UERJ, Especialista em Sexualidade Humana pelo Centro de Educação/UFRJ e Especialista em Direitos Humanos pelo Depto. De Filosofia/UFPB. Psicólogo Clínico formado pela UFPB. Email: sergiogsilva@uol.com.br

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

41


SEJA UM COLABORADOR DAS DA REVISTA A

PUBLIQUE SEU A

outras info

email: editorial@a

ou acompanhe noss

cronograma.atla

ATLASP

www.atlaspsi

42

Revista de Psicologia ATLASPSICO nยบ 17 | dez 2009


S PRÓXIMAS EDIÇÕES 2010 ATLASPSICO!

ARTIGO AQUI!

ormações:

atlaspsico.com.br

so cronograma:

aspsico.com.br

PSICO

ico.com.br

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009

43


modelo 02

modelo 03

modelo 04

modelo 01

EM 2010, A REVISTA ATLASPSICO ESTARÁ COM NOVO LAYOUT E NOVOS FORMATOS DE ANÚNCIOS! FAÇA SUA RESERVA AGORA! CONFIRA!

57,15 x 122,55 milímetros

R$ 115,00 R$ 106,00*

R$ 250,00 R$ 232,50*

R$ 460,00 R$ 427,80*

R$ 230,00 R$ 213,90*

modelo 05

modelo 06

57,15 x 248,6 milímetros

modelo 07

61,27 x 118,42 milímetros

modelo 08

57,15 x 61,27 milímetros

123,17 x 179,6 milímetros

122,39 x 118,32 milímetros

61,27 x 179,6 milímetros

248,8 x 118,2 milímetros

R$ 700,00 R$ 630,00*

R$ 560,00 R$ 520,80*

R$ 350,00 R$ 315,00*

R$ 980,00 R$ 882,00*

*Compre seu anúncio publicitário até o dia 30 de dezemb de 2009 e ganhe descontos de 7%, 10% ou 15%!


bro

modelo 10

modelo 09

DUPLA 61,275 x 384,6 milímetros

modelo 13

R$ 920,00, por R$ 828,00*

DUPLA 274 x 410 milímetros

R$ 2.760,00, por R$ 2.346,00*

reservas publicitárias: editorial@atlaspsico.com.br fone: +55.41.9917.4556

modelo 12

DUPLA 57,15 x 248,6 milímetros para cada lado

R$ 1.400,00, por R$ 1.260,00*

DUPLA 248,8 x 118 milímetros para cada lado

R$ 1.960,00, por R$ 1.764,00*

modelo 14

modelo 11

R$ 750,00 R$ 675,00*

DUPLA 123,17 x 384,6 milímetros

205 x 274 milímetros

R$ 1.380,00 por R$ 1.173,00*

ATLASPSICO www.atlaspsico.com.br


COLUNA ATLASPSICO

É PROIBIDO FUMAR! P

ara quem já estava cansado de ser incomodado com fumaça de cigarro em restaurantes, barzinho e outros locais públicos, os fumantes passivos já tem motivos suficientes para comemorar e respirar em paz. Fumar em locais fechados ou abertos com grande aglomeração de pessoas está proibido. É o que garante a lei estadual paranaense do governo Roberto Requião sancionada no dia 29 de novembro desde ano. O estabelecimento que descumprir o acordo será punido em R$ 5,8 mil.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer e Secretaria Municipal da Saúde, 21% dos curitibanos possuem algum tipo de dependência química. No Brasil, 19% são fumantes. A OMS aponta o tabagismo como causador de 30% das mortes por câncer, 90% pulmonares, 25% por problemas cardíacos e outros 25% por AVC ou derrame, o que corresponde cerca de 200 mil mortes/ano só por conta dos agentes nocivos provocados pelo cigarro.

Os fumantes agora só poderão fumar em casa ou no carro quando estiverem desacompanhados Os baladeiros de plantão que gostam de curtir de menores, na rua longe de paredes, marquises e barzinhos e casas noturnas já puderam notar uma ponto de ônibus. Com isso haverá uma mudança grande diferença: a ausência daquele cheiro terrível de hábito e a diminuição no consumo do tabaco de fumaça impregnada na pele, na roupa e no devido à dificuldade em achar um fumódromo ou cabelo. Pude observar, in loco, que a lei realmente local propício ao consumo do tabaco. está sendo cumprida nos estabelecimentos da região de Curitiba e não há pessoas fumando escondidas ou resistindo às novas regras impostas Outras informações: pela lei antifumo. Os fumantes são orientados a www.curitiba.pr.gov.br/publico/noticia. acenderem o cigarro e fumarem na parte externa aspx?codigo=17513&Veja-a-%c3%adntegra-da-Leida casa, na rua. Antifumo

AUTOR

Márcio Roberto Regis | CRP 08/10156 Psicólogo Especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade Tuiuti do Paraná e MBA em Gestão Estratégica de Pessoas - RH na Faculdade OPET (em curso). E-mail: atlaspsico@atlaspsico.com.br

46

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 17 | dez 2009


NEWSLETTER ATLASPSICO receba novidades do Portal ATLASPSICO no seu email, gratuitamente! acesse: news.atlaspsico.com.br


BOAS FESTAS!

ATLASPSICO


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.