Revista_ATLASPSICO_09

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ATLASPSICO

DIREITO

Os custos do assédio moral

COMPORTAMENTAL

A mídia e a influência nas mulheres pela busca pela cirurgias plásticas

CIBERCULTURA

NÚMERO 09 | AGOSTO 2008

A Revista do psicólogo

Divã Virtual: A internet como espaço psicoterapêutico

DOSSIÊ DA TECNOLOGIA


EXPEDIENTE REVISTA ATLASPSICO EDIÇÃO DE AGOSTO 2008 Brasil – Curitiba – Paraná EDITOR-CHEFE Márcio Roberto Regis (CRP 08/10156) AGRADECIMENTOS AOS PROFISSIONAIS COLABORADORES... Viviane Namur Campagna (Psicóloga) Suelen Trevisan (Jornalista UFPR) Rodrigo Batista (Jornalista UFPR) Graça Moura (Psicóloga) Adriana Zottis (Comunicação Social) Marcelo Coutinho (Sociólogo e Publicitário) Marcus Antonio Britto de Fleury Junior (Psicólogo) Robson Zanetti (Advogado) Hellyda Aparecida Kerecz Borim (Estudante de Psicologia UTP) Denise Cerqueira Leite Heller (Psicóloga) Raquel Ferreira (Jornalista Gazeta Digital) Márcio Roberto Regis (Psicólogo) DIREÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO Márcio Roberto Regis COMISSÃO AVALIADORA Márcio Roberto Regis AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Jornal Comunicação UFPR | Curitiba/PR Jornal Gazeta Digital | Cuiabá/MT SEJA UM COLABORADOR Encaminhe seu artigo para o email editorial@atlaspsico.com.br Um projeto do Portal de Psicologia ATLASPSICO www.atlaspsico.com.br | revista.atlaspsico.com.br Revista ATLASPSICO é uma publicação bimestral. Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. O uso de imagens e trechos dos textos somente podem ser reproduzidos com o consentimento formal do editor.

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A Revista do Psicólogo

ATLASPSICO

ÍNDICE

número 09 | agosto 2008

COMPORTAMENTO Com açúcar e afeto

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DIREITO

REFLEXÃO

Paciência tem limite?

Os custos do assédio moral

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MATÉRIA DE CAPA Dossiê da Tecnologia: facilidades que custam caro

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CIBERCULTURA

PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL

Como a mídia influencia mulheres na busca pela cirurgia plástica

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Divã Virtual A Internet como espaço psicoterapêutico

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PSICOSSOMÁTICA O Ser em Sí

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PSICOLOGIA E INFORMÁTICA

Excesso de Internet traz problemas físicos e psicológicos

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EDITORIAL Caros leitores, “Dossiê da Tecnologia”, matéria escrita pelo jornalista Rodrigo Batista com edição da Suelen Trevisan foi tema de uma entrevista da qual tive o prazer de participar ao Jornal Comunicação da Universidade Federal do Paraná, e por sua vez, cedida gentilmente ao Portal de Psicologia ATLASPSICO. A tecnologia se faz cada vez mais presente no nosso cotidiano, nos trazem coisas boas e ruim quando em excesso. Só agora esses excessos na utilização da internet começam a pipocar e a serem explorados nas clínicas de psicologia e áreas correlatas. Nessa primeira matéria sobre Dossiê Tecnológico, Rodrigo Batista descreve as facilidades que podem custar caro ao nosso corpo e ao nosso psicológico. Aproveitando a matéria de capa, separamos mais um artigo referente à cibercultura: Divã Virtual, a internet como espaço psicoterapêutico, da especialista em Comunicação Adriana Zottis da Faculdade Cásper Líbero. Agradeço mais uma vez pela colaboração voluntária de todos os profissionais e pelos artigos ofertados! Obrigado! Parabéns à todos os Psicólogos e Psicólogas pelo nosso mês! Sucesso à todos! Boa leitura! Márcio Roberto Regis | CRP 08/10156 | Psicólogo e editor ATLASPSICO

COLABORADORES ATLASPSICO Interessados em colaborar com artigos científicos à Revista ATLASPSICO, devem encaminhar o documento em anexo para o email editorial@atlaspsico.com.br Todos os trabalhos serão muito bem-vindos e valorizados! Obrigado à todos os Autores pela colaboração e pela ajuda em manter a qualidade ímpar desta revista! Equipe ATLASPSICO

ORAÇÃO DOS PSICÓLOGOS Senhor, Só Você conhece em profundidade a criatura humana Só Você é verdadeiro psicólogo. Contudo, Senhor, aceite-me como seu ajudante. Ensine-me as técnicas, oriente-me para não errar, E quando eu falhar - sei que isso acontecerá venha depressa, Senhor, sanar o mal que fiz. Dê-me um entranhado amor e respeito pela criatura humana. Não permite que a rotina, o cansaço torne-me frio e indiferente ao outro. Dê-me bastante humildade para aceitar meus erros, perdoa as ofensas e ajuda-me a atribuir os êxitos a Você. Que no fim de cada dia, ao fazer minha revisão, eu possa dizer em verdade: Hoje fiz tudo quando dependeu de mim para ajudar ao meu irmão. Obrigado, Senhor!

27 DE AGOSTO DIA DO PSICÓLOGO


DICAS PARA APROVEITAR MELHOR SUA REVISTA ATLASPSICO! Para visualizar sua revista eletrônica de Psicologia ATLASPSICO em página dupla no no software ADOBE READER versão 8, clique no icone conforme demontrado na figura abaixo. Se mesmo realizando esses procedimentos e a Revista ATLASPSICO não ficar adequadamente configurada, siga os seguintes passos conforme a segunda imagem abaixo: no menu, clique em Visualizar, vá em Exibição da Página e em seguida clique nas três últimas opções: Duas ou mais contínuas; Mostrar espaços entre páginas; Mostrar página da capa com duas páginas ou mais. Caso você utilize uma versão menos atual, como por exemplo, as versões 7 ou inferiores, o procedimento tambem é simples: clique no menu Visualizar, em seguinda Layout da página e depois clique em continuo-frente. Prontinho! Boa leitura! OBS: para mais zoom na tela, pressione as teclas CTRL + (+) ou CTRL + (-) para menos zoom.

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COMPORTAMENTO

O

s pais de Beatriz contam que, de repente, ela parou de comer. Antes comia bem, de tudo, os outros até comentavam. Foi por volta de seu aniversário de 6 anos, alguns meses atrás. Ela se levantava dizendo que ia assoar o nariz e cuspia a comida no banheiro. Passou a querer só líquidos. Os pais ficaram muito angustiados. Ia na casa de amigos, não comia nada. Até no McDonalds, que antes adorava, não queria mais ir. Parece desanimada com tudo. Tem uma irmã de 1 ano. Diz que não ligam mais para ela. Paulo tem 7 anos. Mudou de escola recentemente, no meio do ano. Tem problemas de obesidade. Atualmente pesa 45 Kg. É muito ansioso. Os pais estão se separando. É, segundo a mãe, uma criança fechada, não sabem como ele está lidando com a separação. É filho único. Até 5 anos tinha um peso normal para a idade, depois começou a engordar. É muito tímido, desde bebê. Essas duas crianças, trazidas ao consultório, são de classe média. Nas suas casas, há comida em abundância. Cada uma à sua maneira, mostram que comer é muito mais do que alimentar-se para sobreviver. Comer está ligado a estados emocionais, e portanto, é também uma forma de expressar e lidar com sentimentos. Comer e beber tem grande importância em nossas vidas. Quando estamos tensos, com problemas, muitas vezes nos “compensamos” na comida ou nos “desafogamos” na bebida. Quando estamos angustiados, às vezes nada “desce pela garganta”. Em muitas de nossas atividades diárias, observamos uma estreita relação, inconsciente, com a alimentação, quando, por exemplo, “engolimos um sapo”, ou “tentamos digerir” o que nos é dito. Dar comida aos outros está, na maioria das vezes, expressando nosso afeto pelas pessoas, é uma forma de oferecer amor, por isso quando estas o recusam é tão freqüente nos sentirmos ofendidos e rejeitados. É como se a rejeição fosse feita a nós, não só à comida que oferecemos. Para a criança muito pequena, a alimentação tem ainda mais importância do que para as mais velhas ou adultos. É muito comum as mães dessas crianças se sentirem irracionalmente feridas se sua comida não é devidamente degustada. As atitudes à mesa dão sinais de como se dão as relações familiares. Um dos motivos pelos quais os pais ficam tão transtornados quando o filho não come está ligado ao fato da alimentação ser uma 6

COM AÇ COM AF

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ÇÚCAR E FETO

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necessidade básica do ser humano. Portanto, se os filhos “impedem” os pais de atender a essa necessidade básica, é como se não estivessem permitindo a eles serem bons pais. Os pais se orgulham quando vêem os filhos crescendo fortes e sadios. Num nível mais inconsciente, o alimento têm uma importância que não está ligada diretamente ao seu valor nutritivo. É como se, através da comida, os pais estivessem passando para o filho seu desejo de que ele cresça saudável e feliz não só pelo bem do filho, mas pela necessidade deles de aplacarem seu receio de não serem bons pais. Essa forte relação entre comida e sentimentos inicia-se nos primórdios da vida, na primeira relação da criança com a mãe. Para o bebê recém-nascido, a boca é uma das principais fontes de sensações sobre o mundo. O ato de alimentar-se associa as atividades da boca com o contato amoroso com a mãe e outros membros da família. A primeira gratificação que a criança retira do mundo exterior é a satisfação que sente ao ser alimentada. Só uma parte dessa satisfação vêm do alívio da fome. Outra, não menos importante, vêm do prazer que o bebê experimenta quando sua boca é estimulada pelo seio materno. Também há o prazer de sentir o leite descendo pela garganta e enchendo seu estômago. Vemos daí o início da ligação comida = prazer = preenchimento. Através da boca, o bebê absorve o mundo e começa a conhecê-lo. Através da boca também manifesta seus sentimentos, antes de poder usar a fala. Vocês já repararam como um bebê pequeno, após chorar um tempo desejoso do seio da mãe (podem ser 5 minutos, que para ele são uma eternidade), quando este finalmente vem ao seu encontro o bebê o suga com voracidade ou às vezes o morde, se já tem dentes? O bebê não faz isso unicamente por ter fome, mas para expressar seus sentimentos de raiva pela mãe, que o fez esperar. Assim, sensações de natureza ao mesmo tempo destrutivas e amorosas são experimentadas em relação à mãe, e isso dá origem a profundos e perturbadores conflitos na mente da criança O bebê sente tudo intensamente, pois ainda não tem condições de relativizar suas experiências. Quando deseja o seio e este não lhe é dado, é como se o tivesse perdido para sempre, o que significa ter perdido a mãe. A época do desmame, podemos então compreender, é para o bebê uma experiência extremamente dolorosa de perda. È claro que não é possível 7


As mães também são diferentes uma das outras e tem suas próprias necessidades e receios. evitar essas perdas, que são necessárias para o desenvolvimento. Por outro lado, essas perdas podem ser amenizadas por uma mãe que tenta compreender as necessidades de seu bebê. Muitas mães, orientadas por seus pediatras, se preocupam muito mais com o desenvolvimento físico de seus bebês, quantas gramas engordou, quais alimentos comeu, do que com seu desenvolvimento psicológico. Por angústia, geralmente, evitam olhar para o bebê como um ser humano com características próprias que precisam se dar o tempo de conhecer. Os bebês são muito diferentes um dos outros. Uns são mais fáceis, mamam com tranqüilidade, sabem esperar. Outros são mais chorosos, menos tolerantes, e, às vezes, ficam tão desesperados e excitados se os fazem esperar que quando vêm o alimento não conseguem aceitá-lo. Por tudo isso seria completamente inadequado estabelecer regras a priori de como o bebê deve ser alimentado. As mães também são diferentes uma das outras e tem suas próprias necessidades e receios. Como já disse, têm medo de não serem boas mães, de não terem leite suficiente, de não saber educar seus bebês. Hoje em dia, os pais sentem que às vezes se exige muito deles, mas eu diria que não existem nem pais nem filhos perfeitos, mas pode-se ser um pai bastante bom aquele que, para além das teorias, olha para seu filho e tenta compreendelo e aceitá-lo como ele é. Voltando à questão da alimentação, percebe-se, pelo que foi dito até aqui, que quando falamos das primeiras relações do bebê com a comida estamos falando das primeiras relações do bebê com a mãe, bases da relação futura do bebê com o mundo.

A partir do desmame, mãe e filho devem encontrar um novo meio de se relacionar um com o outro através da alimentação. A criança muitas vezes come para agradar a mãe, ou expressa raiva dela através da rejeição do alimento (e já vimos como a mãe é sensível a essa forma de rejeição). Voltando à Beatriz, podemos pensar que o nascimento da irmã perturbou seus sentimentos de segurança em relação a ser amada e ter um lugar na família. Através da recusa de se alimentar, mostrava sua tristeza e sua raiva dos pais, buscando chamar a atenção sobre ela (e conseguindo), comportando-se como um bebê (só ingerindo líquidos). No caso de Paulo, que tinha o problema oposto, mas o mesmo sentimento de insegurança, comer demais era uma forma de se compensar, de preencher sentimentos de carência, também de voltar a ser um bebê que só absorve o que lhe é dado, numa posição passiva, pois o mundo lhe era muito assustador. Os pais por outro lado, com pena dele e culpa por estarem se separando, acabaram reforçando sua tendência de se “preencher” através da comida. É, as relações com comida são complicadas, profundas, e permanecem pela vida afora. Na adolescência, as coisas se complicam ainda mais, pois além dos padrões familiares, o jovem tem que lidar com os padrões sociais. Hoje em dia, por exemplo, o padrão de beleza, o modelo de sucesso, é o do excessivamente magro (vejam as modelos), e a mídia nos bombardeia diariamente com dietas, regimes de celebridades, cirurgias plásticas e todo um arsenal para termos as medidas perfeitas e, finalmente, o quê? Sermos amados, é isso que buscamos a vida inteira. Mas isso já daria mais um artigo.

AUTORA

Viviane Namur Campagna CRP 06/13361 Psicóloga clínica, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da USP. Tel (011) 3872.0611 | Email: viviane@ajato.com.br.

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A seleção de artigos para edição da revista ATLASPSICO n. 10 já começou!

Para participar é fácil! Basta escrever um artigo inédito no mínimo de 1 e no máximo 15 laudas, fonte arial, verdana ou times, tamanho 12 ou 14, com seu nome, minicurriculum, e-mail para contatos. O tema é livre e deve ter relação com psicologia ou qualidade de vida, independente da sua área de atuação. Interessados em colaborar com artigos científicos à Revista ATLASPSICO, devem encaminhar o documento em anexo para o email editorial@atlaspsico.com.br

próxima edição prevista para outubro! PARTICIPE!

ATLASPSICO www.atlaspsico.com.br


MATÉRIA DE CAPA

DOSSIÊ DA TECNOLOGIA

FACILIDADES QUE CUSTAM CARO Pauta e Edição: Suelen Trevisan | Reportagem: Rodrigo Batista | Jornal Comunicação UFPR

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O Brasil é o país com maior tempo médio de uso residencial de internet, segundo dados da Nielsen/Netratings – uma das maiores empresas de medição de trafego online do mundo. A pesquisa revelou que, em março de 2008, o país atingiu a marca de 23 horas e 51 minutos médios por mês de acesso ao mundo virtual. Isso representa 1 hora e 27 minutos a mais do que fevereiro passado e 3 horas acima do índice do mesmo período de 2007. A França, segunda colocada no ranking, apresentou 21h30min. Além disso, em 2007, o país atingiu a marca de quase 40 milhões de brasileiros com acesso à internet, segundo um levantamento do Ibope. Desse total, em torno de 75% representam usuários que usam a rede mundial de computadores em casa. Ao mesmo tempo em que esses valores representam inclusão digital e crescimento econômico para o país, também são motivo de preocupação e alerta. Que o computador – ainda mais depois da consolidação da internet de banda larga – é peça-chave no modo de trabalho deste século, ninguém nega. Mas médicos alertam para os malefícios que o seu uso prolongado pode causar.

as mãos, podem transmitir doenças, afirma a microbiologista Patrícia Dalzoto. Afinal, essas peças da máquina não são limpas com a freqüência e o cuidado necessários. A poeira depositada serve como reservatório para bactérias, e os restos de alimentos que caem no local são fonte de alimento para elas. “A transmissão de doenças, desde gripe até infecções intestinais, é comum em escritórios e lan houses, locais em que as máquinas são usadas por diversas pessoas”, lembra Dalzoto. A revista Computing Which? realizou uma pesquisa em sua própria redação e obteve um resultado inesperado: muitos dos teclados tinham mais bactérias do que assentos sanitários.

CUIDADOS COM A POSTURA

Outra seqüela comum aos usuários de computador são dores ósseas, musculares e nas articulações, causadas pela má postura e por movimentos repetitivos. Segundo a fisioterapeuta Isabela Álvares dos Santos, pessoas com idade de 20 a 45 anos, trabalhadores de escritórios de informática, auditoria e contabilidade, geralmente são as que mais desenvolvem doenças. As mais comuns são tendinite, lesão por esforço repetitivo PREGUIÇA DE SE LEVANTAR (LER) e cifose. Quando não tratada, esta doença (ATÉ PARA COMER) pode evoluir para uma espondilose, o popular bicoPassar horas sentado em frente à máquina leva de-papagaio, que é uma disfunção nas vértebras. a pessoa a ficar por muito tempo sem se alimentar A fisioterapeuta recomenda que os usuários de corretamente, o que pode causar obesidade, computador regulem seus intervalos de pausa no segundo informa a nutricionista Mônica de Caldas trabalho. Além de fazer uma pausa a cada hora que dos Anjos. Normalmente, durante o processo de gastarem em frente à tela, é importante que façam digestão, o organismo seleciona os nutrientes mais alongamentos para relaxar os ossos e músculos dos importantes para absorvê-los. Quando passa muito braços e das costas. da hora da refeição, essa seleção não acontece. “Isso, aliado ao fato de que as pessoas ingerem comidas RESSECAMENTO DOS OLHOS com muitas calorias depois de tanto tempo, gera O olhar fixo no monitor também ocasiona maior absorção de gordura”, acrescenta. problemas para a visão. É o que aponta a A obesidade pode causar colesterol alto, oftalmologista Gisele Kfouri: o olho humano aumento da pressão arterial, doenças do coração e precisa piscar pelo menos a cada 13 segundos e diabetes. Mas a obesidade leva a outro problema: uma pessoa quando usa o computador diminui a procura por dietas pela internet. A nutricionista esse ritmo. A córnea (superfície do órgão de visão) critica os diversos planos alimentares que circulam fica sem lubrificação, o que ocasiona vermelhidão pela rede e que podem chegar a pessoas que sofrem e ardência. Em ambientes escuros a situação piora, com o excesso de peso. “São dietas restritivas, que pois se tem como foco de luz apenas a tela da cortam do cardápio do usuário alimentos que máquina. “Por isso é recomendável trabalhar em contém nutrientes importantes, como carboidratos. locais claros, para que haja quebrada intensidade Podem até levar a pessoa à insuficiência renal”. da luz do monitor”, afirma Kfouri. A especialista aconselha: “Pessoas que precisam ficar por várias horas trabalhando em frente ao ISOLAMENTO SOCIAL computador devem levar alimentos saudáveis e O computador, ao lado do celular, é uma das práticos para o local, como biscoitos do tipo água- tecnologias que causa dependência em alguns e-sal e frutas”. usuários, em especial aqueles com carência afetiva. Mas se alimentar em frente ao computador É o que afirma o psicólogo Márcio Roberto Régis, nem sempre é uma boa escolha. Isso porque o especialista em casos de vícios tecnológicos. “Essa teclado e o mouse, em constante contato com dependência nasce em pessoas tímidas, ansiosas Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 09 | agosto 2008

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e com dificuldades em se relacionar”. No Brasil, situações assim não possuem tanta divulgação, apesar de cada vez mais comuns. Regis comenta que pessoas tímidas e depressivas encontram na internet uma aliada, um refúgio para trocar experiências em sites de relacionamento, como Orkut, com pessoas que sofrem do mesmo mal. “Isso é bom para elas. Sabem que assim não estão sozinhas”, ressalta. Mas essa válvula de escape pode se transformar não só em um vício como em um meio de tornar a depressão e a timidez ainda mais acentuadas. “O indivíduo não aprende a lidar com suas dificuldades e a estabelecer uma vida social”, completa. Alguns desses casos se mostram ainda mais preocupantes. Certas pessoas buscam manter relacionamentos via internet com maior freqüência e intimidade do que contatos pessoais no trabalho e na escola. E mesmo os vínculos na rede não costumam sair desse meio. “Por mais que os amigos virtuais residam na mesma cidade, raramente vão agendar uma reunião ou encontro presencial”, afirma Regis. O público mais afetado pela dependência do computador são os jovens. Diferente de quem

trabalha em escritórios e que também passa horas em frente ao computador, os adolescentes têm a máquina como forma de entretenimento. As variedades de sites, comunidades e vídeos se tornam atrativo para os jovens, assim como a possibilidade de estabelecer contatos com pessoas do mundo todo. Mas o psicólogo esclarece que o mundo virtual não é o grande vilão dessa história. O principal culpado é o próprio usuário que passa horas em frente ao computador e não procura levar uma vida regrada, em que modere o tempo de acesso à rede e mantenha uma vida social no mundo offline. Isso é mais comum, no caso dos adolescentes, quando os pais não possuem o hábito de supervisionar os filhos para evitar que fiquem tanto tempo em frente ao computador. “Basta utilizar esse ótimo instrumento de comunicação a seu favor, de forma saudável”, afirma Régis. Assim como a fisioterapeuta Isabela Álvares dos Santos, todos os especialistas recomendam um número considerável de pausas durante o tempo de uso do computador, para que o organismo relaxe e assim possam se evitar problemas.

“pessoas buscam manter relacionamentos via internet com maior freqüência e intimidade do que contatos pessoais no trabalho e na escola” AUTORES

Pauta e Edição: Suelen Trevisan | Reportagem: Rodrigo Batista Entrevista publicada originalmente no Jornal Comunicação da UFPR | www.jornalcomunicacao.ufpr.br Ano XI | Curitiba, 31 de Julho de 2008 Fonte: www.jornalcomunicacao.ufpr.br:80/node/3921 Matéria cedida gentilmente pelo jornalista Rodrigo Batista e Suelen Trevisan ao Portal ATLASPSICO.

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REFLEXÃO

PACIÊNCIA TEM LIMITE?

P

ense aí numa virtude que ninguém pode fingir que tem... uns até tentam... mas, pagam um preço tão alto... Não sei se vale a pena!!!!!! Sempre gostei muito de observar... Pois é, observar ... é um hábito que sempre tive, desde a mais tenra idade. Prestar atenção nas conversas de “gente grande” eu gostava muito, também... hábito que carrego desde criança, portanto, bem antigo! Cresci ouvindo, vez em quando, adultos dizerem: “PACIÊNCIA TEM LIMITE” ...e TEM???? Aprendi, posteriormente, que paciência deve ter o tamanho justo da compreensão que nosso interlocutor necessita, portanto, não pode e não deve ser limitada, a nossa paciência... tenho experimentado os benefícios de não limitar a minha... Esta é a razão pela qual, de forma exaustiva, até, em todas as ocasiões que posso, tenho sugerido: melhor não limitar a nossa paciência...

Não limite a sua... tenha paciência, inclusive, com quem lhe agride... velada ou abertamente... quem foi que disse que revidar é melhor???? Quem disse que sua paciência deve depender da paciência do outro???? Já vi uma pessoa chamando outra de omissa, numa ocasião onde a pessoa apenas escolheu ser paciente, mais nada! Ser tolerante, compreensivo, nunca foi e nunca será omissão... até porque, a nossa paciência mede nosso estado espiritual... Não se iluda, quanto maior a evolução, maior a grandeza espiritual, e, conseqüentemente, maior a paciência, maior a tolerância... e ser tolerante, não inclui nem omissão, nem incapacidade de indignação... muito pelo contrário... Penso que vale a pena aprender a ter paciência, sempre... Uma vez adquirida, torna-se um bem valoroso... até porque quem a tem, não a perde, nunca! Nunquinha, sabia???

Graça Moura CRP 11/03068 Psicóloga formada pela Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: gracamoura4@hotmail.com fone: (89) 9405-1274

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CIBERCULTURA

DIVร VI por Adriana Zottis

A INTERNET COMO ESPA 14

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IRTUAL

AÇO PSICOTERAPÊUTICO Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 09 | agosto 2008

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A

presente pesquisa foi motivada pela busca de uma maior compreensão acerca dos fenômenos digitais e seus impactos no comportamento e na subjetividade do homem contemporâneo. Partindo deste pressuposto, buscou-se investigar alguns aspectos das profundas transformações provocadas pela revolução tecnológica nos relacionamentos humanos a partir da análise de uma prática polêmica na área da Psicologia: os atendimentos mediados por tecnologia. Em pouco mais de uma década, o mundo mergulhou - ao que tudo indica, de forma irreversível, no ciberespaço. O paradigma virtual provoca novos fenômenos econômicos, humanos e sociais, afeta as relações de trabalho, os hábitos de consumo e reinventa os relacionamentos sociais e pessoais, que ganham novas dimensões e possibilidades. Dedicamo-nos a analisar a função dos meios digitais como mediadores do diálogo e da comunicação na esfera da psicoterapia e a investigar até que ponto a Internet permite a criação e manutenção de vínculos e o estabelecimento de relacionamentos humanos. Para tanto, valemo-nos de pesquisas bibliográficas e de entrevistas com psicólogos e pacientes desta forma de tratamento, além da experiência do Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática (NPPI) da PUC-SP, que serão aqui relatadas. Cabe destacar que a psicoterapia on-line é prática ainda controversa no Brasil e não autorizada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) – que só permite sua realização a título de pesquisa, sem a cobrança de honorários. A resolução CFP nº 012/2005 reconhece como legítimo somente o atendimento psicológico mediado por computador, caracterizado por interações breves e pontuais, sem o caráter de continuidade intrínseco à psicoterapia. O tema é polêmico e divide os profissionais da área, muitos deles praticando a terapia on-line apesar das restrições impostas pelo CFP. Assim, a coleta dos dados primários esbarrou em questões de cunho ético, considerando que a maioria dos psicoterapeutas adeptos da prática não a assume publicamente. Face a esta realidade, foram ouvidos, basicamente, os profissionais que possuem sites credenciados pelo CFP para a realização do atendimento psicológico virtual. Dentre os profissionais, foi entrevistado ainda o psicólogo Oliver Zancul Prado, que em 2002 realizou a primeira - e, até o momento, única pesquisa brasileira nesta área, intitulada "Terapia via internet e relação terapêutica", dissertação de mestrado pela USP.

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Outra barreira, e esta de maior abrangência, foi a identificação de pacientes de terapia e/ou de atendimento psicológico on-line para a aplicação dos questionários. Por motivos de sigilo e de ética profissional, nenhum dos psicólogos ouvidos se dispôs a intermediar o envio das perguntas a seus pacientes - ainda que seus nomes e contatos não fossem revelados, pois a interferência poderia afetar o tratamento. O caminho encontrado, então, foi a própria Internet. As buscas foram realizadas no Orkut, entre os meses de setembro e outubro de 2006, naquelas comunidades que aparentemente possuíam alguma relação com o tema. Foram postados vários scraps a participantes das comunidades Terapia On-Line, Psicologia na Virtualidade, Divã Virtual, Eu Faço Terapia, e Daí?, Terapia Breve On-Line, Divã Orkutiano, Divã Orkutiano Anônimo, Temas Emergentes na Psicologia, entre outras, solicitando auxílio para a realização da pesquisa. Das cerca de 60 mensagens enviadas, cinco pessoas que realizam ou já realizaram algum tipo de tratamento on-line prontificaram-se a responder as perguntas e um terapeuta dispôs-se a intermediar o envio do questionário para seus pacientes, dos quais três retornaram-no respondido. O 9º entrevistado foi contatado por intermédio de um psicoterapeuta presencial que, em função do paciente ter mudado para outro Estado, passou a valer-se da Internet como alternativa para prosseguir o atendimento. Considerando que esta pesquisa foi motivada pela busca de uma maior compreensão acerca da comunicação e dos relacionamentos humanos no ciberespaço, todas as fontes - com exceção do NPPI, foram contatadas via Internet, também como forma de medir a receptividade e a interação possíveis neste meio. A abordagem das entrevistas foi pautada por dois focos: a viabilidade da construção de vínculos e relacionamentos mediados por tecnologia e as possibilidades/restrições da comunicação humana neste ambiente. Nossa intenção é refletir sobre os processos de comunicação que permeiam o ambiente virtual e suas peculiaridades. É possível trabalhar no universo virtual questões vinculadas aos relacionamentos, emoções e sentimentos humanos? Até que ponto a internet pode aproximar pessoas e possibilitar a criação de vínculos? Esperamos que esta leitura possa trazer algumas respostas a estas questões.

A COMUNICAÇÃO E A INTERNET

Ao reproduzir a estrutura da mente humana, que funciona através de conexões em redes, a Internet

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substitui os modelos lineares de comunicação herdados da sociedade industrial. Os usuários do mundo digital são também geradores de conteúdo, influenciadores da opinião pública. Neste cenário, não há poder centralizador. Governos, mídia e corporações deixam de ser os detentores do monopólio da fala. O discurso uníssono é substituído por um coro de múltiplas vozes. Segundo Castells, “a comunicação consciente (linguagem humana) é o que faz a especificidade biológica da espécie humana. Como nossa prática é baseada na comunicação, a internet transforma o modo como nos comunicamos, nossas vidas são profundamente afetadas por essa nova tecnologia da comunicação. Por outro lado, ao usá-la de muitas maneiras, nós transformamos a própria internet. Um novo padrão sócio-técnico emerge dessa interação”. (2003, p. 10). A Era da Informação trouxe consigo um revolucionário ambiente de comunicação que perpassa todos os domínios da vida em sociedade. Michael Dertouzos define a essência da força gigantesca que multiplica por milhões a possibilidade de alcance eletrônico como “proximidade eletrônica”. Essa proximidade, segundo ele, “alterará o modo como interagimos uns com os outros, a estrutura de classes da sociedade, os aspectos tribais da cultura, a cooperação internacional, a interferência dos governos e até o papel das nações”. (DERTOUZOS, 1998, p. 344). Especificamente no que se refere à comunicação, os meios digitais rompem com a lógica da difusão de massa, onde o receptor é um mero agente passivo, que consome informação de forma “submissa” e descontextualizada. Conforme Pierre Lévy, “o ciberespaço dissolve a pragmática da comunicação (...) Ele nos leva, de fato, à situação existente antes da escrita – mas em outra escala e outra órbita – na medida em que a interconexão e o dinamismo em tempo real das memórias on-line tornam novamente possíveis, para os parceiros da comunicação, compartilhar o mesmo contexto, o mesmo imenso hipertexto vivo”. (2003, p. 118). A estrutura de redes do universo digital inaugura o fim da verticalidade imposta pelos meios massivos de comunicação, abrindo espaço para o compartilhamento de idéias, opiniões e sentimentos, permitindo a participação ativa de todos os envolvidos no processo comunicacional, sem limitação de tempo e espaço. De acordo com Manuel Castells, a Internet é uma tecnologia da liberdade, e “os valores da liberdade individual e da comunicação aberta tornaram-se supremos (...) A Internet tornou-se a alavanca na transição para uma nova forma de sociedade – a sociedade em rede...”. (2003, p. 8).

A Internet tornou-se a alavanca na transição para uma nova forma de sociedade... a sociedade em rede. ESTABELECENDO RELAÇÕES TERAPÊUTICAS NO CIBERESPAÇO

A trajetória da tecnologia anda de mãos dadas com a evolução humana. Interpenetram-se homem e máquina no andar da história, desde a invenção da roda até a estrada de silício. Como diz Clemente Nobrega em seu livro “Supermentes – do Big Bang à Era Digital”, “inovação sempre foi e sempre será definida por formas novas de comunicação que começam a fluir quando alguma tecnologia torna isso possível. Tecnologias criando continuamente novas mentes”. (2001, p. 15). “No caso da Informática, uma aparentemente paradoxal aproximação com a Psicologia selou-se desde o início das pesquisas que conceberam os primeiros computadores. Segundo o pesquisador da história da informática Philippe Breton, os cientistas desejavam construir máquinas que reproduzissem os processos lógico-formais do pensamento humano a partir de dados que lhes eram fornecidos por psicólogos cognitivos e outros especialistas. Ele menciona que o objetivo era o de dotar qualquer computador com a capacidade de funcionar como ‘um modelo reduzido do cérebro humano’ (...). Duas décadas mais tarde, em 1966, a austeridade desses objetivos era temporariamente quebrada por uma curiosa tentativa de reproduzir capacidades humanas. Neste ano, Joseph Weinzenbaum e Kenneth Colby - psicoterapeutas e pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MT) apresentavam um programa que simulava uma relação psicoterápica. Batizado com o nome de "ELIZA"; ele não tinha, porém, qualquer finalidade terapêutica. Havia sido criado com o propósito de tornar evidentes as limitações das pesquisas em inteligência artificial”. (COSTA; LEITÃO, 2006). Como nos mostra a própria história, o encontro da Psicologia com a Informática não é um fato novo, antes uma união indissociável, visto que o objetivo último da máquina é servir ao homem. E, para tanto, é preciso compreendê-lo. A união da psicologia clínica com as tecnologias digitais resultou na psicoterapia on-line, introduzida pelos americanos nos anos 1980, quando também foram desenvolvidas as tecnologias utilizadas por essa terapia, tornando-se alvo de interesse de profissionais de vários países. No Brasil, esta inusitada modalidade da psicologia clínica ganhou adeptos

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em meados de 1996, quando já era encontrado um número expressivo de divulgações de psicoterapeutas e sites que ofereciam serviços psicológicos via web. (SANTOS, 2004, p.p. 157, 158). Iniciava-se aí uma prática que dividiria a classe "psi", visto que a migração das tradicionais sessões em consultório para um ambiente desconhecido gerava insegurança e desestabilizava um contexto até então "dominado" pelos profissionais da área. Mas a despeito desta resistência, as peculiaridades do meio digital, a quebra de parâmetros de tempo e espaço e a possibilidade de interação sem a necessidade de presença física começaram a seduzir cada vez mais pessoas, não só as que passaram a buscar atendimento psicológico profissional, mas também aquelas para quem a Internet tornou-se uma via de relacionamentos os mais diversos. Dados do Ibope mostram que duas das atividades mais procuradas - e que mais vêm crescendo na Internet brasileira, são o e-mail e as mensagens instantâneas, o que aponta uma tendência para o uso dos canais on-line que possibilitam interação humana. Fato curioso, e importante mencionar aqui, é que muitas das comunidades pesquisadas no Orkut com denominações que remetem à psicoterapia virtual não dizem respeito à relação psicoterapeuta x paciente. Consideram que a simples troca de mensagens e comunicação virtual entre seus integrantes cumpriria uma função terapêutica. Em seu site www.psyberterapia.com.br, o psicólogo Marcelo Salgado, especialista em psicologia social e psico-informática, publica vasto material intitulado “O que é psicoterapia on-line”, onde elenca uma série de pontos que colaboram para o esclarecimento da prática. Destacamos aqui aqueles considerados de maior relevância para a abordagem deste trabalho e, conseqüentemente, para sua melhor compreensão.

A psicoterapia on-line é uma metapsicoterapia narrativa baseada em texto, hipertexto (linguagem HTML, dentre outras linguagens eletrônicas) e contexto. Ela tem influências da teoria dos cyborgs, da psicanálise, do cognitivismo, da dinâmica de grupo, da psicologia da comunicação, da psicologia social, da filosofia da mente, da filosofia da linguagem, da lógica, teoria dos jogos, da física quântica, da cibernética e telemática. A escrita também está carregada de símbolos importantes ao processo psicanalítico. Para Marcelo Salgado, o ciberespaço é um lugar ultra-psicológico. “Se o homem digital é um ser de relação (...) e se, ao mesmo tempo, ele é o sujeito e o objeto do estudo da psicologia on-line, seguese que qualquer sistema ou código só será real se sujeito, também ele, a esta transitoriedade que é própria da humanidade à procura de seu destino e significação”. De acordo com ele, a Internet não deve ser mitificada, mas entendida como uma revolução técnica e cultural de grandes proporções em andamento. Alguns dos pontos elencados sobre a terapia on-line, encontrados no site Psyberterapia, são os seguintes:

a Internet não deve ser mitificada, mas entendida como uma revolução técnica e cultural de grandes proporções em andamento.

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O encontro psicoterápico on-line é mais fácil que o encontro "cara a cara” para clientes indecisos, fóbicos, preconceituosos sobre serviços de Psicologia, obesos mórbidos, pessoas com deficiências motoras e os "muito resistentes".

A psicoterapia on-line não tem "um pai". Ela é resultado de uma "pan-espermia" intelectual do mundo virtual.

O encontro psicoterápico on-line pode formar uma base de segurança e informação para um posterior encontro "cara a cara" entre o cliente e um(a) psicólogo(a). Não necessariamente o(a) mesmo(a) que fez o atendimento via Internet.

Pela Internet são possíveis encontros virtuais com um(a) psicólogo(a) através de e-mail, chats e videoconferência (cara a cara). A técnica mais utilizada é o aconselhamento via e-mail.

O encontro psicoterápico on-line permite a gravação de todas a mensagens verbais via e-mail, chat e videoconferência. Isto é muito importante porque nem sempre o

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nosso inconsciente e a memória dão save do pesquisas, trabalhos de ensino e serviços junto a jeito que a razão comanda. O inconsciente outras instituições da área. tem sua próprias leis. Assim, em 1997, a equipe passou à elaboração e implantação de uma versão experimental da O encontro psicoterápico on-line reduz primeira homepage da Clínica Psicológica da impedimentos físicos e geográficos. Quebra PUC-SP. A partir daí, novas ampliações e projetos paradigmas da psicologia tradicional do foram sendo adotados, dando origem ao Núcleo século XX sobre o conceito de setting de Pesquisas em Psicologia e Informática (NPPI), terapêutico. inserido como um dos serviços multidisciplinares da clínica. No Brasil, os estudos na área da psicoterapia onFoi em 1999, quando a Internet começou a ser line ainda são tímidos. Poucos são os pesquisadores usada em maior escala no país, que os pedidos de que se dedicam a investigar este novo campo da ajuda psicológica, relatos de problemas pessoais prática psicológica. e solicitações de orientação pelo computador O Núcleo de Pesquisas em Psicologia e começaram a chegar pelo endereço on-line da Informática (NPPI) da PUC-SP é a única instituição clínica. O fato causou surpresa aos profissionais, do país que dedica-se ao atendimento psicológico já que a idéia inicial era apenas, no âmbito dos on-line em caráter de pesquisa, de forma sistemática atendimentos psicológicos, divulgar as consultas e contínua, desde 1999. É esta experiência presenciais. acumulada ao longo de oito anos que passamos a Como as demandas não paravam de crescer, a relatar a seguir. clínica entendeu que era o momento de instituir um serviço específico para o atendimento psicológico UMA VISÃO DA EXPERIÊNCIA on-line, tarefa que foi absorvida pelo NPPI. Foi ESTRUTURADA NO PROCESSO DE nesta época também que o Conselho Federal de ATENDIMENTO PSICOLÓGICO Psicologia (CFP) despertou interesse pelo tema e MEDIADO POR TECNOLOGIA passou a disciplinar a prática no país. No final de 1995, os professores da Clínica Passados oito anos, o NPPI segue como único Escola Ana Maria Poppovic, da PUC-SP, deram projeto duradouro do meio acadêmico brasileiro início a um projeto de informatização da clínica, a realizar atendimentos on-line para o público. a fim de incrementar o relacionamento com a Os acessos são feitos pela página www.pucsp.br/ comunidade acadêmica e divulgar a edição on-line clinica, por meio da qual é possível enviar e-mails do “Boletim Clínico”. Os resultados da iniciativa diretamente à equipe de psicólogos. mostraram-se mais efetivos do que o esperado, A orientação psicológica mediada por amplificando o diálogo não só junto à comunidade computador caracteriza-se pela brevidade do acadêmica, mas também aproximando a clínica dos atendimento, geralmente utilizada para resolver públicos externos e auxiliando na divulgação de problemas específicos, ao contrário da psicoterapia, que pressupõe um trabalho de longo prazo a partir da construção do vínculo terapêutico1. Os atendimentos realizados pelos profissionais do NPPI limitam-se, em média, à troca de três e-mails entre paciente e psicólogo. Quando o paciente solicita a ampliação destes contatos ou quando o caso mostra-se mais grave, há a proposição de que ele procure uma terapia presencial. 1

A literatura descreve que a relação terapêutica forma-se no início da terapia (presencial), por volta da terceira ou quarta sessão de psicoterapia.

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Os pedidos de auxílio mais recorrentes concentram-se nos seguintes temas: Sexualidade, aí incluídas questões amplas que vão desde a homossexualidade até adolescentes buscando esclarecer dúvidas sobre a primeira relação sexual. Traição virtual. Depressão e psiquiátricos.

outros

transtornos

Síndromes de diversas ordens. EVOLUÇÃO DOS CASOS DE ORIENTAÇÃO O NPPI realiza em média 30 atendimentos por mês. Este é o volume suportado pela equipe de oito psicólogos que trabalham às segundas e quintas-feiras - das 16h às 18h ou das 14h às 20h, conforme a demanda. Não existem levantamentos sistematizados quanto ao perfil do público. Os dados disponíveis têm por base apenas aquelas pessoas que, espontaneamente, informam idade, sexo e procedência. Sabe-se, a partir daí, que o universo é bastante heterogêneo. Homens e mulheres se equiparam em faixas etárias que oscilam de 20 a 30 anos e de 55 a 60 anos (dados de 2002). São atendidas pessoas de todos os estados brasileiros, mas é de São Paulo que provém o maior volume de solicitações. Também são atendidos brasileiros residentes no exterior - em países como Japão, Holanda e África, e pessoas de outras nacionalidades onde o idioma é o português. EVOLUÇÃO DAS COMUNICAÇÕES COM A CLÍNICA Além dos atendimentos on-line, o site da clínica também é utilizado como ferramenta de comunicação com o meio acadêmico e públicos externos. Ele disponibiliza grande volume de conteúdo sobre Psicologia, informa sobre cursos na área, mantém um cadastro de psicoterapeutas presenciais e atende a solicitações de bibliografia especializada, dentre outras informações. Brevemente relatados o histórico e a estrutura em que se dá o trabalho do NPPI, passamos a analisar as questões diretamente vinculadas ao foco desta pesquisa, no que se refere aos padrões de comunicação no meio digital e aos relacionamentos on-line. OS VÍNCULOS POSSÍVEIS Em oito anos de atendimento on-line, os psicólogos do NPPI são categóricos ao 20

afirmar que “nada há de comprovado na área”. Partindo deste pressuposto, têm-se que a construção do conhecimento no âmbito da Psicologia mediada por computador se dá inversamente proporcional à velocidade com que avançam os domínios do universo digital e suas influências sobre a subjetividade humana. "É tudo muito novo, é por meio da experiência que vamos estabelecer as bases deste tipo de atendimento. Não há pesquisa suficiente, é tudo muito empírico. Primeiro estamos vivendo para poder construir os caminhos", diz a psicóloga Andréa Nolf, 36 anos, e desde 2005, integrante da equipe do NPPI. Deste empírico, a única coisa real diz respeito ao vínculo que as pessoas criam com os profissionais do Núcleo. Conforme Andréa, muitas delas escrevem agradecidas contando a solução de seus problemas ou retornam, meses e até mesmo anos depois, buscando ajuda para outras aflições e lembrando das questões que as motivaram, tempos antes, a procurar ajuda. Este é o único feedback do tratamento, já que o NPPI não tem conhecimento do perfil das pessoas que buscam ajuda. "Se elas tivessem que se identificar não seria tão espontâneo. As pessoas não se abririam tanto, pois normalmente os relatos são muito fortes, muito íntimos", afirma Andréa. Ela acredita no estabelecimento do vínculo terapêutico mesmo em orientações focadas e breves, mas ressalta que quando a interação passa a indicar um apego maior, é recomendada a terapia presencial. "É uma ferramenta poderosa, que permite uma libertação maior do que o paciente sente”. Como na terapia presencial, ela propicia que a pessoa pare e olhe para ela mesma, permite a reflexão que desperta algo nela", avalia Andréa.

*O NPPI não dispõe de números sistematizados após o ano de 2002.

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as máquinas tecnológicas de informação e de comunicação operam no núcleo da subjetividade humana 2

Ato falho é, segundo a psicanálise, o engano involuntário no falar ou no escrever que revela uma intenção inconsciente. É a forma de transação com que o indivíduo expressa, contra a sua vontade e em forma desfigurada, o que queria ocultar ou calar.

Vale mencionar aqui a simbiose do humano e do artificial como influenciadora da subjetividade. “Guatari apontava que as “produções semióticas dos mass media, da informática, da telemática, da robótica etc. não podem ser tomadas fora da subjetividade psicológica, pois as máquinas tecnológicas de informação e de comunicação operam no núcleo da subjetividade humana, não apenas no seio das suas memórias, da sua inteligência, mas também da sua sensibilidade, dos seus afetos, dos seus fantasmas inconscientes”. (CARVALHO, 2000, p. 27). A MENSAGEM, O MEIO, A INTERPRETAÇÃO Uma das principais críticas ao atendimento psicológico mediado por computador diz respeito à ausência da linguagem corporal, o que impediria a percepção dos elementos subjacentes à fala e limitaria as possibilidades de comunicação entre terapeuta e paciente. É importante lembrar, neste ponto, que alguns dos casos mais famosos de Sigmund Freud – como o do pequeno Hans, foram realizados baseandose exclusivamente no texto escrito. Jung também realizou várias análises por meio de cartas. O psicólogo Erick Itakura, 30 anos, há seis integrante da equipe do NPPI, recorda ainda que antes da Internet a orientação psicológica baseada em texto já era realizada pela mídia impressa. “Era a chamada Psicologia de Revista, onde o leitor enviava uma carta para o psicólogo, relatando algum problema pontual, e depois tinha sua resposta publicada”. A psicóloga Rosa Maria Farah, coordenadora do NPPI, acredita que, na verdade, a orientação por computador é muito mais rica do que parece para o leigo - que a considera uma forma fria, distante, sem calor humano. “Ao fazermos, percebemos o quanto de quente e de emotivo existe nas entrelinhas. O não-dito muitas vezes também é uma forma de dizer, de expressar. Também aí se comunica de forma intensa. Mas o profissional precisa desenvolver uma percepção específica”, destaca ela. É esta nova “percepção” que os psicólogos do NPPI estão aprendendo a desenvolver. De acordo com Rosa, o grupo ainda está descobrindo como ler as mensagens, que devem ser decodificadas de uma forma totalmente diferente do e-mail de um amigo ou de uma propaganda, por exemplo. Quando há palavras erradas, o grupo

questiona se foi somente um erro de digitação ou se foi um ato falho2. “Ou seja, segue-se a conduta de leitura de uma terapia presencial, onde a pessoa também está limitada pela linguagem. A lógica é a mesma, o que muda é o meio", explica Rosa. O grupo desenvolveu ao longo do tempo alguns parâmetros para nortear a interpretação dos conteúdos, como seguem: Tom de voz - tentar perceber o que a pessoa expressa sem interferir na mensagem. Análise de termos e modo como o sujeito usa palavras e frases Impressões que o texto evoca (sentimentos e emoção que transmite). Subjetividade como instrumento e risco (evitar interpretações, mas reconhecer emoções). Até chegar a uma resposta, os e-mails normalmente são debatidos por todos os psicólogos do grupo que, dependendo do caso, podem ficar até uma semana discutindo qual a melhor forma de abordagem ao problema. Cada um expressa aquilo que percebeu da mensagem e, a partir daí, o grupo tenta buscar um entendimento mais verdadeiro da mensagem. Há e-mails breves, mas também aqueles com quatro páginas ou mais. Um elemento dificultador é a falta de intimidade do psicólogo com o ambiente on-line. Acostumado a trabalhar face-a-face, ele precisa treinar novas habilidades para atuar em um meio que lhe é “antinatural”. “Vamos criando ou recriando a forma pela qual a pessoa quer nos dizer algo. Pegamos os e-mails e tentamos compreendê-los através da percepção. Se naquele texto a pessoa passou angústia ou não, se passou desespero ou não. Tentamos perceber nas entrelinhas e aí questionamos o que ela está querendo transmitir", diz Erick. O padrão de resposta visa primeiro acolher o sofrimento psíquico da pessoa. Depois, o grupo parte para o questionamento, tentando buscar os elementos que necessitam ser clareados. No atendimento assincrônico (por e-mail) a comunicação acontece de forma totalmente

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diversa da simultaneidade de uma consulta facea-face, onde paciente e terapeuta compartilham o tempo presente. É uma outra velocidade, para a qual ainda faltam ferramentas de interpretação. O assincronismo estabelece um novo padrão de reflexão para o qual ainda não existe uma técnica. "É o que estamos inventando aqui", destaca Erick. Ele diz que, com o passar do tempo, afinase a percepção e passa-se a enxergar coisas antes imperceptíveis. É importante mencionar que todo texto carrega em si elementos de seu produtor e remete a interpretações, juízos e sentimentos naquele que lê. A interação se dá em nível distinto da presença, mas nem por isso a mensagem perde sua força. Podemos aí traçar um paralelo com a literatura e a poesia, guardadas as proporções, a fim de ilustrar o alcance da linguagem escrita. Segundo Paulo Annunziata Lopes, “o poema vem então mostrar que um texto escrito pode emocionar o leitor, mesmo que ele esteja distanciado espacialmente e/ou temporalmente do autor (...) ele pode suscitar estados de ânimo diversos, uma vez que a linguagem escrita é amplamente explorada e que, como nos mostra a reflexão de Bachelard (1993) sobre a poesia, também a palavra escrita nos fala e nos toca”. (2004, p. 135). O jornalista e psicólogo Ruy Barbosa, em seu artigo “Escrever é terapêutico” (Revista Viver, ano 06, n 66), contribui para uma compreensão do valor da escrita nos processos de catarse. “Você está deprimido, confuso. Senta-se diante da folha em branco, ou da tela do computador. E escreve: “Estou confuso”. Ótimo. Tomou consciência da confusão. Até esse momento, você apenas sofria a confusão, mas ainda não a tinha definido. O estado de confusão ainda não tinha passado pelo filtro dos pensamentos que temos de atravessar no ato de escrever. Ao escrever sobre sentimentos nós os pensamos, ficamos mais em contato com eles. Podemos aceitálos. Percebê-los melhor, eventualmente associálos a suas causas, os significados interiores de que eles resultam. Elaborá-los. Às vezes eles se diluem, dando espaço a sentimentos mais profundos, que os primeiros apenas disfarçavam. Uma tristeza inicial dá lugar a uma raiva – ou, supreendentemente, a uma alegria”. RELAÇÃO TERAPÊUTICA VIRTUAL, UMA POSSIBILIDADE REAL Em 2002, o psicólogo Oliver Zancul Prado apresentou os primeiros resultados científicos, no Brasil, sobre a psicoterapia on-line. Em sua dissertação de mestrado pela USP - “Terapia via Internet e Relação Terapêutica”, ele avaliou ser possível o estabelecimento de relações terapêuticas3 3

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no ambiente digital. Nas conclusões de sua pesquisa ele aponta: “o atendimento psicológico via Internet mostrou possuir grande potencial... A relação terapêutica formou-se e manteve-se com características semelhantes às descritas na literatura, mostrando que via Internet e por meio de formas de comunicação assíncronas é possível estabelecer um clima agradável e produtivo entre terapeutas e clientes”. A pesquisa contou com 15 psicólogos e 53 pacientes voluntários. Cada tratamento foi feito em 15 semanas e cada profissional atendeu a um certo número de pacientes, conforme a própria disponibilidade. É importante destacar que o meio utilizado no estudo foi o fórum, onde as mensagens ficam expostas e podem ser acessadas e respondidas a qualquer momento, independente de quando tenham sido postadas. Oliver acredita que se foi possível fazer terapia por meio de um instrumento tão distante da relação pessoal, provavelmente também será possível realizá-la com chat. No entanto, ele é cauteloso quanto à generalização dos resultados e acredita que pesquisas posteriores são necessárias para a sua consolidação, visto que a amostra de participantes não é considerada representativa da população. Recomenda também estudos que possam verificar as diferenças entre a terapia via Internet nas diversas formas de comunicação eletrônica existentes e para que tipo de problemas elas mostram-se mais úteis. “As características avaliadas são os resultados do instrumento utilizado. Verificamos questões mais técnicas sobre o instrumento, onde o importante foi averigüar que obtivemos os mesmos resultados que se obtêm em terapias tradicionais”, afirma. Quanto à comunicação via texto, ele diz que nos serviços via Internet a quantidade de coisas que o psicólogo escreve tem um valor maior do que a quantidade de coisas que ele fala em uma terapia face-a-face. “Mostra que provavelmente o psicólogo precisa escrever e sistematizar as coisas de uma maneira diferente”. Por isto, ele acredita que a habilidade em ler e escrever (não de maneira literária, mas como expressão no ambiente on-line) deve ser um pré-requisito tanto para psicólogo como para cliente.

“Você está deprimido diante da tela do com “Estou confu Tomou consciênc

No estudo realizado por Prado foi verificado que a partir da 5ª semana de terapia a relação terapêutica havia se formado e manteve-se estável no decorrer das 15 semanas de terapia (observados os grupos como um todo).

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Oliver não acredita que a relação on-line exigirá o desenvolvimento de novas teorias terapêuticas, mas sim a formulação de técnicas e métodos específicos. Neste ponto, a evolução no Brasil anda a passos lentos. Os pesquisadores não estão sensíveis a esta questão e não há novas pesquisas na área. “No exterior é um pouco diferente, em alguns países, pesquisas estão sendo conduzidas. Os apontamentos mais importantes é que os resultados caminham em uma direção mais de sucesso do que de fracasso”, informa ele. Ele destaca que o contexto profissional e científico no Brasil não se alterou significativamente nos últimos quatro anos, até porque nenhuma outra pesquisa na área foi realizada. “O que mudou e está mudando é que a temática, tanto da psicoterapia on-line quanto da questão on-line mais geral está definitivamente em pauta na vida das pessoas”.

ASPECTOS EMPÍRICOS DA TERAPIA ON-LINE

Apesar de vir ganhando espaço nos últimos anos, o atendimento psicológico mediado por tecnologia ainda é incipiente e carente de pesquisas no Brasil. O percentual de profissionais que atua na área é bastante reduzido e não há uma formação específica para os meios on-line, com exceção de uma disciplina instituída em 2003 pelo curso de Psicologia da PUC-SP, intitulada “Psicologia e Informática – O psicólogo diante das Novas Tecnologias”. A carência generalizada de informações sinaliza as dificuldades de “controle” da prática psicológica no incontrolável universo digital. O próprio Conselho Federal de Psicologia (CFP) - responsável pela regulamentação e fiscalização do atendimento no Brasil, não possui dados sobre o perfil dos profissionais que estariam trabalhando nos meios on-line. Até setembro de 2006, havia dez sites autorizados pelo CFP a prestar serviços psicológicos por computador. Mas não existem estatísticas sobre o número de endereços não credenciados que oferecem serviços na web. Muitos psicólogos que enfrentaram problemas com o CFP hospedaram seus sites em provedores nos Estados Unidos ou em outros países, evitando assim a fiscalização. Há também o caso de psiquiatras que passaram a atender on-line e, sobre estes, o CFP não tem qualquer ingerência.

o, confuso. Senta-se mputador. E escreve: uso”. Ótimo! cia da confusão.

Debruçamo-nos agora sobre a análise das opiniões de psicólogos e pacientes acerca do processo terapêutico mediado por computador. Três dos quatro profissionais ouvidos têm seus sites credenciados pelo CFP para realizar atendimentos on-line breves. A quarta psicóloga, por não possuir autorização, não terá seu nome revelado - será identificada pelas iniciais MH. São diversos os motivos que levaram os profissionais entrevistados a utilizar a web como meio de atendimento psicológico. Paulo de Tarso, 49 anos, iniciou o trabalho em junho de 2004, considerando a intensificação do uso da Internet como espaço para o estabelecimento de relacionamentos afetivos. “As relações via Internet vêm se tornando cada vez mais corriqueiras e intensas. Meu interesse nesta abordagem decorre da crença de que nós, psicólogos, devemos estar onde as relações acontecem”, afirma. Márcio Roberto Regis, 30 anos, colocou seu serviço de orientações online no ar em fevereiro de 2005, motivado pela demanda de brasileiros residentes no Japão que não tinham acesso aos serviços psicológicos no continente asiático. “Recebia muitos e-mails solicitando o atendimento on-line. A internet tornou-se uma grande aliada da psicologia neste contexto”, acredita. Luiz Naporano, 40 anos, acredita que a web é um canal efetivo para a divulgação da ciência e para orientações iniciais às pessoas que recorrem à Internet pedindo auxílio. “Aviso ao usuário, desde o começo, que o número de orientações é limitado, pois acredito na importância da presença na relação terapêutica”, frisa. No que se refere ao estabelecimento da relação terapêutica no ambiente on-line, a maioria defende que a mediação por computador não interfere na criação de vínculos. A Internet seria apenas mais um ambiente de convergência e encontro, com suas peculiaridades de comunicação. Os limites para o relacionamento, quando existem, seriam impostos exclusivamente pelas pessoas envolvidas – terapeuta e/ou paciente. Ou seja, o limitador não seria a máquina, mas o próprio homem. “Cada contexto estabelece parâmetros de relacionamento. Face-a-face, telefone, carta, e-mail são apenas contatos humanos parametrizados pelo contexto em que ocorrem. As relações humanas, inclusive as com fins psicoterapêuticos, podem se dar em qualquer contexto”, analisa Tarso. MH destaca que o paciente que se dispõe a fazer terapia em consultório e não assume um compromisso – faltando às sessões, chegando atrasado, falando de assuntos superficiais – também está se furtando de estabelecer uma relação séria. “Para mim, o meio não modifica o processo de terapia. O que conta é o envolvimento, e o fato de

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se estar on-line ou face-a-face não tem nenhuma influência sobre isto”, acredita MH. Regis também entende que os relacionamentos reais estão e são reproduzidos na vida on-line. “Quando me plugo à rede mundial de computadores, não sinto que estou conectado a máquinas e sim interligado por pessoas. Os vínculos virtuais são adaptados e aprendidos. Aprendemos a nos relacionar virtualmente”, afirma. Já Naporano é mais cético quanto à viabilidade dos relacionamentos on-line. Para ele, não há como reproduzir por meio digital um encontro face-aface. “Concebo a relação digital como um veículo moderno da velocidade das informações, que serve apenas como meio de comunicação, aproximação, primeiros contatos, mas não para estabelecer uma relação analítica mais duradoura”. Ele avalia que, por mais que o ser humano desenvolva tecnologia, nada poderá substituir a relação humana direta, presencial. O processo comunicacional no ambiente online foi o segundo principal foco das entrevistas. Neste item, também há uma tendência a observar as limitações da comunicação via web como as limitações próprias da linguagem humana em qualquer nível. Diz Tarso: “Lacan nos assinala, sabiamente, que a estrutura do inconsciente é a

estrutura da linguagem. Tal estrutura se expressa em qualquer forma de comunicação. Sabemos que as comunicações guardam sempre o “ruído” de nossas personalidades, conflitos e defesas que dela fazem parte”. Ele prossegue dizendo que a “tradução” do discurso do interlocutor e a fina percepção das entrelinhas faz parte da “escuta terapêutica” em qualquer meio. “A comunicação acontece além da linguagem e, muitas vezes, apesar dela. A compreensão vai também muitas vezes além do entendimento formal”, fala Tarso. Para Regis, o fato do atendimento ser on-line não significa que apresente maiores ou menores dificuldades de interpretação das mensagens. “Na vida real também existem problemas de compreensão e ruídos na comunicação. O que confunde não é a escrita, mas os pensamentos e o sofrimento psíquico que são conflitantes”, aponta. MH acredita que a única restrição diz respeito às pessoas com dificuldades para expressar emoções via texto. Neste caso, ela dá preferência ao trabalho com auxílio do microfone. Naporano avalia que a comunicação escrita mascara e dificulta em grande escala a expressão do paciente e a compreensão do terapeuta. Os prós e os contras da terapia virtual, segundo os entrevistados:

PRÓS Fazer aproximar-se de uma possibilidade de atendimento, pessoas com dificuldades para estabelecer relações pessoais. Atendimento a clientes que não conseguem sair de casa por algum tipo de transtorno ou fobia. Pessoas que apresentam problemas em relação às habilidades sociais, como timidez, insegurança, agressividade, passividade. Pessoas com dificuldades de acesso a atendimento psicológico presencial – moradores de cidades do interior ou brasileiros no exterior. Baixa exposição do cliente, o que atenuaria a resistência. Quebra de barreiras físicas e culturais.

CONTRAS Ausência de dados visuais, corporais, informações não-verbais. No caso do atendimento sincrônico (chats, msn), a interrupção da sessão por problemas de conexão. Questões éticas relacionadas à seriedade, competência e fiscalização dos profissionais que atendem on-line 24

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NO DIVÃ VIRTUAL Nove pacientes do atendimento psicológico online responderam ao questionário sob a condição de não revelarem seus nomes. Deste modo, não sabemos a identidade destas pessoas, a não ser os dados relativos a idade, sexo, escolaridade e profissão, que nenhuma negou-se a informar. Todos possuem nível superior e são usuários freqüentes da Internet – passam, em média, de quatro a 11 horas diárias on-line. Três são do sexo masculino e quatro do sexo feminino, com idades que variam de 18 a 50 anos. Assim como no caso dos psicólogos, a abordagem também teve como foco a análise de suas percepções acerca do processo de comunicação via on-line e da qualidade da relação terapêutica neste ambiente. Sete dos pacientes avaliam que a comunicação mediada por computador é tão eficiente quanto a presencial. Somente dois acreditam que o meio online impõe barreiras à comunicação. Seis entendem que o computador não é um limitador da relação terapêutica. Três acham que os vínculos são prejudicados no meio digital. A experiência dos pacientes de atendimento psicológico mediado por computador parece confirmar a visão da maioria dos profissionais ouvidos, de que o computador não representaria uma barreira ao relacionamento e não interferiria na condução do trabalho terapêutico. Muitos mencionam inclusive maior desenvoltura na comunicação pelo texto escrito, o que traria mais liberdade para dizer coisas que, face-a-face, seria constrangedor. A maior parte também avalia que o meio on-line permite intimidade e proximidade com o terapeuta. Revelam ainda que, além das trocas com o terapeuta, o próprio ato de escrever funcionaria como um exercício de auto-conhecimento. Abaixo, transcrevemos um breve resumo das respostas dos entrevistados. “A terapia virtual funciona exatamente como a real. Escrever, pra mim, já é uma terapia. Por estar protegida pela tela, as pessoas se soltam mais e falam de assuntos que sentiriam vergonha de falar na frente de outra pessoa. O que eu sentia era falta de falar com alguém e isso tenho na terapia virtual”. Jornalista, 25 anos. “A experiência pelo computador me trouxe o mesmo conforto que pessoalmente. Senti confiança e dedicação como se fosse pessoal. Via Internet me

completou o suficiente. Pude abrir meus problemas rapidamente e com eficiência e tive a sensação de paz e conforto. Acho mais fácil me comunicar por texto, nos sentimos mais seguros e podemos pensar um pouco mais e entender melhor”. Estagiária de Direito, 18 anos. “Falta do olhar, isso é imprescindível, afeto de perceber a expressão do outro. A terapia online dá um suporte e não um tratamento. Se bem que, para pessoas que têm dificuldade em mostrar seu “eu”, seja um grande instrumento de trabalho. Não sinto nenhuma dificuldade na comunicação, acho positivo tanto a leitura como o treino da expressão de sentimentos. Já obtive vários insights desenvolvendo uma idéia. O que se escreve é bem mais real e verdadeiro do que sentimos. Quando se começa a falar sobre afetos a atenção desvia para a fala e perdemos a nitidez. Mas se não conhecemos aquele com quem falamos não existe uma relação afetiva”. Professora e estudante de psicologia, 50 anos. “A terapia on-line ajuda na desinibição e, aos poucos, na perda da timidez. Em nenhum momento sinto dificuldades de expor o que sinto ou o que estou presenciando. O diálogo é mais aberto, mais sincero, mais puro, mais objetivo e centralizado, sem fugir do foco”. Bancário, 27 anos. “Prefiro a presencial, por me sentir mais à vontade para comentar e receber as observações do terapeuta. Na comunicação, geralmente as dúvidas são na minha cabeça. Para mim é super limitador, pois o olhar, a fala e a maneira de conduzir as sessões me estimulam a prosseguir minha transformação e auto-conhecimento. Comunicação on-line é precária”. Bióloga, 32 anos. “Pareceu-me muito mais fácil “viajar” na transferência sem ver a cara do profissional e também para ele pareceu-me ser bem mais fácil explorar mal entendidos recíprocos. O resultado para minha vida pareceu ser bem decisivo. Penso que a escrita dificulta a expressão, mas facilita a exposição. Acredito que isso pode acelerar muito o processo, o que certamente não é do agrado da maioria dos psicanalistas. O relevante do psicanalista não é o que ele diz, mas o quanto aquilo que ele diz surpreende. Penso que o meio on-line interfere, e muito, na relação terapêutica, mas não necessariamente de modo negativo”. Assistente jurídico e ex-psicanalista, 38 anos.

o computador não representaria uma barreira ao relacionamento e não interferiria na condução do trabalho terapêutico. Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 09 | agosto 2008

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“Até em conversas com amigos, muitas vezes, perde-se a sensibilidade e você sempre pode mascarar seu conteúdo. Mas acredito plenamente que os meios digitais limitam a relação terapêutica. Falta de contato, de intimidade, dificuldade de compreender o que o outro escreve, dificuldade de criar vínculo e de aderir ao tratamento”. Psicóloga, 33 anos. “Me parece mais fácil o tratamento on-line, me sinto mais reservada, posso chorar e soltar as emoções. Escrever é uma terapia para mim, quando escrevo tenho a chance de repensar no que estou contando, revejo a situação e chego a algumas conclusões”. Publicitária, 26 anos. “O vínculo com o terapeuta no meio on-line é muito mais superficial. Quanto à comunicação, não pecebo muita diferença, isso depende da vivência que se tem no mundo virtual e de como se encara este tipo de interação. Já senti necessidade de manter contato pessoal com o terapeuta e esse foi um dos motivos da minha primeira tentativa, como paciente, ter falhado”. Psicólogo, 28 anos. Os relatos nos levam a supor que a maior parte dos entrevistados desenvolveu suficiente intimidade com os meios on-line para sentir-se tão à vontade relacionando-se virtualmente quanto presencialmente. O vínculo com o terapeuta também demonstrou ser, para a maioria, algo que se estabelece naturalmente no ambiente digital. Revelam ainda, com poucas exceções, alto grau

CONCLUSÃO

Ao longo deste estudo procuramos analisar a viabilidade dos relacionamentos no ambiente digital e as configurações humanas e sociais daí decorrentes como paradigma de uma nova ordem em curso. Ordem esta que estaria afetando os padrões sócio-culturais contemporâneos nas suas mais diversas instâncias - senão já na atualidade, num futuro muito próximo e de forma cada vez mais decisiva. Tanto os teóricos pesquisados quanto as fontes ouvidas nos convidam a refletir sobre as transformações psicossociológicas em andamento. Apesar da divergência de opiniões sobre as implicações da Internet na sociedade e na subjetividade humana - apocalípticas por um lado e entusiásticas por outro, prevalece uma certeza em meio a este embate: depois de mergulhar no universo digital o homem jamais será o mesmo. Cabe-nos questionar: quem é este homem que está se moldando a partir da tecnologia da informação? Como comunicar-se com os públicos que emergem deste caldo informacional? Em que medida alterase o comportamento humano diante dos meios digitais? 26

de satisfação com o método e com a forma de comunicação via texto. Interessante observar que a maioria das respostas vai ao encontro tanto da percepção da maior parte dos psicólogos ouvidos quanto da pesquisa de Oliver Zancul Prado e dos estudos desenvolvidos pelo NPPI, no tocante à possibilidade da troca de “calor humano” no ciberespaço. Um item constante no glossário do livro “Psicologia e Informática – o ser humano diante das novas tecnologias”, nos parece esclarecedor, do ponto de vista psicológico, sobre a dicotomia real x virtual. “Vida real, aqui definida como realidade psíquica, é toda a vida do sujeito, o que engloba os aspectos virtuais e presenciais da sua existência. Jung (1973) aponta que existe uma realidade psíquica tão inflexível e insuperável quanto o mundo exterior, tão útil e cheia de recursos quanto a externa. Portanto, tanto a vida virtual como presencial são reais para o sujeito, uma vez que ambas têm grande repercussão na afetividade. (FARAH, 2004, p. 228). Longe de pretender trazer quaisquer elementos conclusivos sobre o tema, considerando sua complexidade e as limitações metodológicas deste estudo, lançamos aqui apenas algumas análises empíricas e um olhar um pouco mais apurado acerca das sensações e do avanço das experiências humanas no campo das relações digitais. Concluímos que o meio digital não seria tão “artificial” e hostil às relações humanas quanto costumamos pensar. Se por um lado a máquina pode ser entendida como uma “barreira” às relações, por outro ela também pode ser encarada como mais uma ponte a aproximar pessoas, onde o espaço do conhecimento configura-se também como o espaço para uma nova forma de convivência. Como nos diz Ciro Marcondes Filho em seu artigo “Haverá Vida Após a Internet?”: “ela é indicador de uma tendência: como sintetizador da sociedade real, espaço eletrônico de imersão no mundo, ela viabiliza – pela primeira vez na história da civilização – a supressão do mundo real-material”. (2006). As especificidades deste espaço virtual estariam sendo “assimiladas” ao longo da última década pelos internautas que são, ao mesmo tempo, criadores e criaturas de um ambiente que se abre para interações em um nível de sintonia até então insuspeito. Nos últimos dez anos, engatinhamos pelo inacreditável pavimento de silício. Em breve, estaremos erguendo o corpo e transitando eretos por esta estrada que se expande em todas as direções. Muda a realidade, mudam as mentes e as habilidades que nos permitem lidar com ela.

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Assim, a tendência que se desenha é de contínuo arrefecimento da perplexidade diante das relações humanas mediadas por tecnologia. Vale lembrar que a maior parte das fontes ouvidas para esta pesquisa foi propositalmente contatada pela Internet, como método para medir a receptividade das pessoas aos contatos virtuais. Surpreendeu a postura amistosa e a atenção dispensada às mensagens enviadas pelo Orkut e por e-mail. Dos inúmeros contatos realizados, poucas foram as pessoas que não retornaram. Afora aqueles que prontamente responderam às questões e ainda se dispuseram a esclarecer dúvidas, a maior parte dos destinatários - ainda que não pudesse contribuir diretamente com o trabalho (por não ser paciente nem profissional de atendimento psicológico online) retornou para desejar boa sorte, para indicar fontes de pesquisa ou para oferecer contatos de amigos que poderiam ajudar (algumas destas mensagens podem ser pesquisadas nos anexos). Estabeleceu-se, tão-somente pelos meios on-line, um profícuo canal de diálogo e interação com estas

pessoas, sem as quais esta pesquisa não teria sido possível. Com base nos resultados desta experiência, ousamos supor uma predisposição empática e solidária a perpassar as comunidades virtuais e as pessoas que trafegam pelo ciberespaço. Diante de tal cenário poderíamos dizer que os meios digitais representam um potencial veículo a ser explorado na área da comunicação e dos relacionamentos. O desafio que se impõe é o desenvolvimento de soluções compatíveis com este meio diverso, desordenado e em constante mutação. Cabe-nos buscar um maior entendimento deste universo e do “espírito” do ciberespaço, a fim de despir-nos de preconceitos e de velhas fórmulas que não se ajustam à fluidez do ambiente on-line e às peculiaridades das relações aí estabelecidas. Os estudos na área, como já pontuamos, ainda são insuficientes e merecem múltiplas e aprofundadas investigações. As novas “fórmulas”, assim, continuam suspensas na virtualidade, aguardando por ser inventadas.

BIBLIOGRAFIA CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. DERTOUZOS, M. O que será: como o novo mundo da informação transformará nossas vidas. São Paulo: Cia. Das Letras, 1997. FARAH, Rosa Maria (org.). Psicologia e Informática: desenvolvimentos e progressos. São Paulo: Oficina do Livro, 2004. FARAH, Rosa (org.). Psicologia e informática: o ser humano diante das novas tecnologias. São Paulo: Oficina do Livro, 2004. LÉVY, Pierre. Cibercultura, 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2003. NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria; LEITÃO, Carla Faria. Psicologia Clínica e Informática: por que esta inusitada aproximação?. Artigo - site www.puc-rio.com.br NOBREGA, Clemente. Supermentes: do Big Bang à era digital. São Paulo: Negócio, 2001. SAYEG, Elisa (org.). Psicologia e Informática: interfaces e desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

AUTORES Adriana Zottis | Trabalho realizado para a disciplina ‘Comunicação e Negócios na Era Digital’, do curso de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, Prof. Dr. Marcelo Coutinho. São Paulo/SP | E-mail: adriana.zottis@ccee.org.br Prof. Dr. Marcelo Coutinho Doutor em Sociologia (USP), bacharel em Publicidade (USP) e Administração (FGV, é diretor-executivo do IBOPE Inteligência, empresa de consultoria e análise de mercado do Grupo IBOPE, e colunista de Tecnologia e Sociedade no site IDGNow. Na Cásper Líbero dá aulas no Mestrado de Mídia, Opinião Pública e Processo Político, e no Lato Sensu, Comunicação e Negócios na Era Digital. www.facasper.com.br

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Flagramos seu momento

de transformAç ORIENTAÇÕES PSICOLÓGICAS

ONLINE

Certa vez, um homem pediu a Deus uma flor... e uma borboleta. Mas Deus lhe deu um cacto... e uma lagarta. O homem ficou triste pois não entendeu o porque do seu pedido vir errado. Daí pensou: também, com tanta gente para atender... E resolveu não questionar. Passado algum tempo, o homem foi verificar o pedido que deixara esquecido. Para sua surpresa, do espinhoso e feio cacto havia nascido a mais bela das flores. E a horrível lagarta transformara-se em uma belíssima borboleta. Portal de Psicologia ATLASPSICO é o 1º site do Estado do Paraná e o 6º do Brasil credenciado pelo Conselho Federal de Psicologia à prática das orientações psicológicas online. O principal objetivo é atender brasileiros residentes no exterior e não tenham acesso ao serviço de psicologia. A utilização de softwares de mensagens intantâneas, assim como o Live Messenger, Skype, ICQ, Yahoo! Messenger e Google Talk, são facilitadores às prestações de serviços psicológicos online devido a agilidade e eficiência na comunicação entre cliente-psicólogo. Desfrute da Psicologia Online e desvende seu momento de transformAção. Outras informações, acesse: online.atlaspsico.com.br


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PSICOSSOMÁTICA

H

á a narrativa, onde Jesus sobe ao monte, passando nesse local quarenta dias a base de um rígido jejum. Deparando-se com as intempéries mais contundentes estavam o frio, os medos gerando alterações neuropsicofisiológicas que poderiam tê-lo feito aceitar a facilidade quanto aos impérios e riquezas imediatas que foram oferecidas, mas, ELE, em nome do seu amor próprio, advindo de sua causa, simplesmente assumiu suas escolhas rechaçando veementemente a superficialidade que se esvai nos prazeres temporários e miseráveis implícitos nas estruturas do poder e das riquezas, mesmo envolto na mais árida solidão, mergulhado em seus questionamentos que certamente o angustiavam, porém, estabeleciam reorganização em meio ao caos de pensamentos, sentimentos e emoções. Desde a sua vida intra-uterina, diante da estrutura castradora de uma sociedade não menos hipócrita que a existente hoje, sentiu através da angústia de sua mãe, ainda noiva e gestante, envolta ao medo em ser levada para fora da cidade e apedrejada conforme a “lei”, alterações oriundas da estrutura social imposta e manifesta no corpo de uma grávida, que transmitia todos seus sentimentos àquele feto que crescia no contexto da perseguição, exclusão, das dúvidas e do medo. Os estados emocionais, através das alterações neuropsicoendócrinas, desencadeiam complexas alterações químicas em todo sistema nervoso, que, conseqüentemente, irá atuar sobre o sistema endócrino liberando substâncias que percorrem todo corpo e, obviamente, chegará até o feto desencadeando alterações a nível perceptuais e fisiológicos. Quantas vezes, diante do perigo ou do próprio medo, essa jovem grávida teve um elevado aumento

na secreção de noradrenalina, para em seguida liberar adrenalina e posteriormente, cortisol, sofrendo assim, modificações neuropsicoendócrinas e fisiológicas que contribuem para eliciar processos de stress, melancolia, depressão e etc. Essas alterações ficam apenas para quem carrega um feto em seu corpo, isentando o fruto de seu ventre dos dissabores aos quais o mesmo é o veículo de vida e morte, prazer e desprazer para quem ali está temporariamente? Basta que os interessados recorram aos recentes estudos relacionados à vida emocional do feto e de sua mãe que comprovam justamente a relação entre os mesmos. Imaginemos uma adolescente de 16 anos, 2008 anos atrás, imersa nas dores transcritas nas pedras que vitimou muitas mulheres, ver-se, diante da proximidade de um ato elevadamente perverso que “esconde” secretos desejos por detrás da truculência dos arremessadores de pedras. O que e como ela se sentiu, quais eram seus pensamentos desencadeados através dos processos emocionais e quais eram as alterações sentidas em si? Quantas vezes, em meio a sua solidão foi assaltada por taquicardias, vômitos, cansaço e tantas outras alterações psicossomáticas; quantas vezes o choro não contido se estabeleceu, quantas vezes teve vontade de desaparecer? Quem compartilhava todas essas situações? Quem estava mais próximo, senão aquele mergulhado no líquido amniótico, envolto pela placenta, abrigado por seu corpo e “conectado” a tudo que se passava com essa moça? Quanta tristeza e dor essa jovem grávida sentiu ao abandonar sua terra para reconquistar a liberdade, mesmo que ela estivesse no Egito, entretanto, assim como José, não seu marido, mas o filho de Jacó, lá era o local mais seguro em meio a tantas incertezas.

O SER 30

Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 09 | agosto 2008


Imaginemos todas essas alterações sentidas por seu filho desde a vida intra-uterina, na mais tenra infância depois de ouvir essa história milhares de vezes durante sua vida, além de sentir no “estágio do espelho”, o olhar dos outros para si, estabelecendo uma definição própria aos sentimentos de rejeição e passando conhecer a raiz de suas angústias. Crescer fazendo o SER prevalecer em Si mesmo foi um continuo desafio a quem desde a fecundação teve o espectro da rejeição e da exclusão tão presente em sua história, entretanto, ELE, assumiu sua busca, não se deteve em lançar-se aquilo que chamavam de loucura estabelecendo a maior transformação histórica de todos os tempos.

Foi o SER em si e permitiu-se viver em si o que é muitas vezes negado: A grandiosidade. Não se limitou às severas exigências que encarceram o homem na pobreza de suas emoções compreendendo que amar o próximo era um desafio que começava nele mesmo, afinal, o que seria se não o descobrisse em seus exílios existenciais. Poderia até falar em amor e liberdade, entretanto, não conseguiria extrair o imenso prazer, nem tampouco, definir-se de forma tão abrangente, incomodando o sujeito cartesiano ao conceder para SI o pleno direito e liberdade em definir-se no “EU SOU O QUE SOU”. Quantos para definirem-se estabelecem um curriculum esteticamente e academicamente invejável, mas, sequer concebem-se como donos de si mesmos. Aquilo que detêm, encontra-se ao nível dos títulos conquistados em torno da submissão aos conceitos de uma cientificidade pobre e totalmente dispensável ao sentirem suas histórias assaltadas pelas intempéries da existência, tais como o fatídico e o falível. Assim, caminhou como um milionário pelos jardins da existência, reconhecendo os aromas agradáveis das mais belas flores e as viu com roupagens mais nobres que Salomão. Conheceu os espinhos estabelecendo que os mesmo não eram a conclusão de uma história, mas apenas, início de uma outra etapa, onde, seu papel seria muito mais intenso, portanto, não negou a consolidação do seu Eu no “EU sou”.

AUTOR

Marcus Antônio Britto de Fleury Junior CRP 09/4575 Psicólogo especialista em psicossomática. ateliedeinteligencia@gmail.com

em SI Revista de Psicologia ATLASPSICO nº 09 | agosto 2008

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2

D


27 DE AGOSTO

DIA DO PSICÓLOGO

UMA HOMENAGEM DO PORTAL DE PSICOLOGIA

ATLASPSICO www.atlaspsico.com.br


DIREITO

OS CUSTOS DO

ASSÉDIO MORAL

O assédio moral é um problema de saúde pública e seu custo é muito elevado sob o ponto de vista econômico-financeiro, para a sociedade e também possui um custo humano. O custo do assédio é suportado pelo responsável, pela sociedade e pelas pessoas que dele participam direta (vítima, testemunhas) ou indiretamente (familiares e amigos).

(Bureau international du travail). Na Europa o custo é estimado em 20 bilhões de dólares. Certamente que este custo também é elevado no Brasil. Sob o ponto de vista financeiro o responsável pelo assédio moral poderá pagar um valor muito elevado a título de indenização pelos prejuízos morais e materiais que o assediado sofrer. Os valores de indenização tem variado muito, encontramos condenações que vão de R$ 10.000,00 ECONÔMICO-FINANCEIRO (dez mil reais) a R$ 2.000.000,00 (dois milhões Sob o ponto de vista econômico seu custo é de reais), estes valores são fixados conforme o elevado porque ele faz com que trabalhos realizados entendimento de cada juiz, por isso eles são tão sejam desperdiçados, a marca de produtos e serviços variáveis. sejam afetados, a produtividade seja prejudicada, O custo econômico-financeiro é muito alto, ocorra a degradação do ambiente de trabalho, o por isso, parece que nenhum dirigente prudente o nome empresarial seja atingido, ocorra a suspensão queira pagar, para isso, é preciso que o assédio seja do contrato de trabalho, etc. prevenido antes de ser tratado. Não vimos ainda nenhuma estatística no Brasil, mais nos Estados Unidos o custo total para os SOCIAL empregadores por atos praticados no ambiente O problema não afeta somente o trabalho, de trabalho foi estimado em mais de 4 bilhões mas a sociedade que acaba contribuindo com os de dólares e as despesas para o tratamento da gastos públicos para o tratamento dos problemas depressão chegam a 44 bilhões de dólares segundo de saúde ocasionados pelo assédio, sobretudo com o BIT - International Labour Office, ligado a ONU os problemas de depressão. 38

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Sintomas HUMANO

O assédio também tem seu custo humano, pois o trabalhador começa a perder a confiança em si, na sua competência, na sua qualidade profissional, ele começa a se sentir culpado, perde a estima de si. Podemos ver na tabela acima, os problemas de saúde causados pelo assédio em entrevista realizada com 870 homens e mulheres vítimas de opressão no ambiente profissional e como cada sexo reage (em %) ao assédio. Nove alvos sobre dez de assédio apresentam um estado de estresse póstraumático, revivendo a situação passada, evitando, sofrimento significativo e ativação neurovegetativa1. Conforme vemos, o assédio moral traz um custo muito grande, porém, sua dor é invisível. As pessoas normalmente estão acostumadas somente a avaliar os danos externos, sendo difícil a avaliação do dano interno. Este dano interno é duradouro e difícil de ser curado. Vemos que existe uma preocupação com a dengue, com a febre amarela, gripe asiática, etc... porém, não estamos vemos atitudes preventivas de nossos dirigentes com relação ao assédio. Quantas pessoas são atingidas por estes males? E pelo assédio: qual o percentual? Não temos um percentual no Brasil, porém, não temos dúvidas que existem muito mais vítimas de assédio do que vítimas de dengue, fabre amarela e gripe asiática. Pelo gráfico ao lado, vemos o percentual de pessoas que são atingidas da Europa pelo assédio, no Brasil, ainda não temos pesquisa semelhante, porém, vemos que em nenhum país o número de assediados é baixo e com certeza tem mais assédio moral lá do que várias doenças. Assim, verifica-se que quanto maior o percentual de pessoas assediadas maior será o custo do assédio, logo, o melhor caminho para evitar custos com o assédio moral é trabalhar de forma preventiva.

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Crise de choro Dores generalizadas Palpitações, tremores Sentimento de inutilidade Insônia sonolência excessiva Depressão Diminuição da libido Sede de vinganca Aumento da pressão arterial Dor de cabeça Distúrbios digestivos Tonturas Idéias de suicídio Falta de apetite Falta de ar Passa a beber Tentativa de suicídio

MULHERES 100 80 80 72 69,6 60 60 50 40 40 40 22,3 16,3 13,6 10 5 -

HOMENS 80 40 40 63,6 70 15 100 51,6 33,2 15 3,2 100 2,1 30 63 18,3

Fonte: Barreto, M. Uma Jornada de Humilhações, 2000 PUC/SP

Estatistica sobre assedio moral na Europa Percentual de trabalhadores/as afetados/as 16,3%

10,2%

9,9%

9,4% 7,3% 5,5%

Reino Unido

Suécia

França

Irlanda Alemanha Espanha

4,8%

4,7%

4,2%

Bélgica

Grécia

Itália

Fonte: www.assediomoral.org

NOTA

Élisabeth Grebot, Harcèlement au travail, Paris: Éditions d’Organisation Groupe Eyrolles, 2007, p. 130. 1

Sintomas AUTOR

MULHERES

HOMENS

100 Crise de choroZanetti é advogado Robson em -Curitiba. Doctorat Droit Privé 80 Dores generalizadas Université de Paris 180 Panthéon/Sorbonne. Corso Singolo 80 40 Palpitações, tremores Università degli Studi di Milano. 72 40 Sentimento de inutilidade robsonzanetti@robsonzanetti.com.br 69,6 63,6 Insônia sonolência excessiva www.robsonzanetti.com.br 60 70 Depressão 60 15 Diminuição da libido 100 50 Sede de vinganca 51,6 40 Aumento da pressão arterial 33,2 40 Dor2008 de cabeça 39 agosto


PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL

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COMO A MÍDIA INFLUENCIA MULHERES

NA BUSCA PELA CIRURGIA PLÁSTICA A presente pesquisa teve por objetivo verificar a auto-estima em mulheres, a influência do social do padrão de beleza nestas mulheres e os motivos pelos quais elas se submetem ao procedimento da cirurgia plástica.

Hellyda Aparecida Kerecz Borim | Denise Cerqueira Leite Heller

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Para Silveira Bueno (1996) cirurgia plástica é tida como parte da medicina que trata de operações ou intervenções no corpo humano, já a palavra plástica tem como significado o “moldar, ou modificar a forma”, ou seja, a prática da cirurgia plástica é vista como a arte de reconstruir artificialmente uma parte arruinada, deformada do corpo humano. Auto estima para Branden (1997), é vista como uma necessidade fundamental para o ser humano, contendo fatores internos e externos. Entende-se por fatores internos os que residem no indivíduo ou são gerados por ele, como idéias, crenças, práticas e comportamentos. Externos são fatores que vem do meio ambiente: mensagens verbais, ou não verbais que nos são transmitidas e as experiências produzidas pelos pais, professores, pelas pessoas a nossa volta, pelas organizações e pela cultura. Para Schilder (1980, citado por BENEDETTO, FORGIONE e ALVES, 2002 p. 86), auto-imagem é “...a figuração de nosso corpo formada em nossa mente”, ou seja, é a imagem que temos de nosso corpo e como o percebemos, já o autor Roland Barthes (1982, citado por NOVAES e VILHENA 2003 p.18) acredita que a imagem corporal é uma resultante da influência que o ambiente exerce sobre o sujeito, nesse processo as representações corporais estão em constante transformação e com suas próprias palavras diz que“meu corpo é para mim mesmo a imagem que eu creio que o outro tem deste corpo”. Partiu-se das seguintes hipóteses: 1- O padrão de beleza estética fortemente imposto pela mídia favorece as mulheres residentes em Curitiba a buscarem cirurgia plástica para tentarem se encaixar neste padrão estético. 2- O padrão de estética imposto pela sociedade aliada a baixa autoestima potencializa a procura por cirurgias plásticas por estas mulheres. 3- A relação com o parceiro influência Na busca e a realização do procedimento da cirurgia plástica Participaram desta pesquisa 100 mulheres com idade variando entre 20 à 50 anos de duas clínicas especializadas em cirurgia plástica da cidade de Curitiba-PR. Foram utilizados como

instrumentos um questionário elaborado pelas pesquisadoras contendo 10 perguntas fechadas em escala do tipo Likert de quatro pontos e o teste de auto-estima Rosemberg/UNIFESP-EPM (2001), na versão brasileira adaptada e validada, tratandose de uma escala do tipo Likert de 5 pontos, contendo 10 itens, destinada à avaliação da autoestima. Os instrumentos foram distribuídos nas clínicas e aplicados pela secretária enquanto os clientes aguardavam a consulta, os mesmos foram recolhidos após 4 meses para correção e análise dos dados, utilizando o gabarito para o teste Rosemberg/UNIFESP-EPM (2001), o programa SPSS ® versão 16, para cálculos das análises descritivas e de Correlação e o programa Microsoft Excel ® para adequadação das tabelas e gráficos resultantes da tabulação . Os resultados obtidos mostram que o companheiro exerce uma influência sobre as mulheres através de suas sugestões, fazendo com que as mesmas procurem o recurso da cirurgia plástica. Esta influência encontra-se diretamente relacionada com a expectativa de melhorar o relacionamento com o companheiro e o desejo de sentir-se mais à vontade na relação sexual. Na Tabela I estão disponíveis os dados obtidos do cruzamento das variáveis na correlação de Pearson, onde a motivação apresentada pela mulher na procura do recurso da cirurgia plástica quando decorrente da sugestão do companheiro está aliada ao desejo da melhora desse relacionamento, tendo um coeficiente (r = 0,572), o mesmo ocorre quando a mulher é motivada pela sugestão do companheiro, porém tem como expectativa sentir-se mais à vontade na relação sexual gerou um coeficiente (r = 0,420). O terceiro e último cruzamento corresponde as duas expectativas: a melhora no relacionamento e o de sentir-se mais à vontade na relação sexual com o companheiro .Este dado apresentou um coeficiente (r = 0,714), indicando uma maior correlação entre as duas variáveis. Todos os cruzamentos apresentaram uma significância de (0,001) o que os torna válidos e dignos de atenção.

o companheiro exerce uma influência sobre as mulheres através de suas sugestões, fazendo com que as mesmas procurem o recurso da cirurgia plástica. 42

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TABELA II - CORRELAÇÃO DE PEARSON ENTRE ALGUMAS CARACTERÍSTICAS AVALIADAS, REFERENTES A AUTOIMAGEM - 2008

TABELA I – CORRELAÇÃO DE PEARSON DA PROCURA DO RECURSO DA CIRURGIA PLÁSTICA E A RELAÇÃO COM OCOMPANHEIRO - 2008 Motivação decorrente da sugestão do companheiro

Melhora no relacionamento com o companheiro

Sentir-se mais à vontade na relação sexual

1

,572**

,420**

0,001

0,001

1

,714**

Motivação decorrente da sugestão do companheiro

Pearson

Melhora no relacionamento com o companheiro

Pearson

,572**

Sig.

0,001

Sentir-se mais à vontade na relação sexual

Pearson

,420**

,714**

Sig.

0,001

0,001

Sig.

SENSUAL

BONITA GORDA

Pearson

,441**

Sig.

0,001

FEIA

Pearson

,385**

Sig.

0,001

** Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).

0,001

FONTE: Dados retirados do questionário aplicado pela pesquisadora.

1

Segundo Castilho (2001) o processo da auto-imagem está em constante transformação, iniciando-se na infância, onde a criança percebe o que é valorizado e menosprezado pelo social, já a concepção de Roland Barthes (1982, citado por NOVAES e VILHENA 2003) torna-se complementar quando diz que a auto-imagem que nós temos, é a mesma que acreditamos que o outro tem de nosso corpo, demonstrando assim a importância que delegamos ao outro com relação a nosso corpo. Os dados obtidos na correlação de Pearson comprovam uma veracidade nas respostas apresentadas pelos sujeitos, constatando-se a existência de uma associação entre a gordura e a feiúra, estando de acordo com Novaes e Vilhena (2003), aonde a tolerância com a gordura vem diminuindo drasticamente, evidenciando mais a magreza e conseqüentemente valorizando cada vez mais esse atual padrão. Garboggini em (2003, citado por JORDÃO em 2005 p. 12) afirma que “a mulher só obterá sucesso profissional se for bonita e perfeita, de acordo com os padrões estabelecidos pela mídia”, está citação mostra o quanto à beleza tornou-se uma exigência na vida das mulheres. Referente à consciência dos sujeitos com relação à influência da mídia na busca por “corpos perfeitos” na tentativa de corresponder aos padrões estéticos presente no social, os resultados apresentados na figura III mostram que 52% dos sujeitos acreditam e muito na influência exercida pela mídia, o que já representa por si só uma grande porcentagem, porém se levarmos em conta que apenas 6% dos sujeitos presentes na amostra negaram a existência de qualquer tipo de influência, pode-se então dizer que ao todo 94% dos sujeitos de uma forma ou de outra percebem essa pressão vinda da mídia e do social e conseqüentemente desse exigente padrão estético.

** Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). FONTE: Dados retirados do questionário aplicado pela pesquisadora.

Os dados acima confirmaram a hipótese 3, onde acredita-se que a relação das mulheres com seus parceiros influência a busca e a realização do procedimento da cirurgia plástica, o que nos permite concordar com os autores Novaes e Vilhena (2003), os quais dizem que as imagens valorizadas na atualidade refletem em corpos super trabalhados, transpirando sensualidade e beleza, e carregam consigo o desejo sexual voltado à realização e satisfação do outro.. Para se ter uma noção prévia de como os participantes da amostragem se conceituam e qual a imagem que possuem de seus corpos, foram estipuladas algumas características como bonita, gorda, antipática entre outras que foram categorizados. A maioria dos sujeitos optou por assinalar médio e pouco, o que demonstra uma auto-imagem defasada, em decorrência da influência que o ambiente exerce sobre o sujeito. Na Tabela II encontram-se os dados obtidos da correlação de Pearson, onde se sobressaíram as variáveis Gorda x Feia que geraram um coeficiente de (r = 0,385) e das variáveis bonita x sensual obteve-se um coeficiente de (r = 0,441), nos dois casos a significância foi de (0,001) que confirmou a existência de um relacionamento positivo entre as variáveis, ou seja, as mulheres da amostra que se julgam bonitas, logo se acham sensuais ou que se sentem mais seguras para explorar e demonstrar sua sensualidade.

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FIGURA III – CONSCIÊNCIA DOS SUJEITOS COM RELAÇÃO A INFLUENCIA QUE A MÍDIA E DA SOCIEDADE EXERCEM SOBRE OS PADRÕES DE BELEZA, FAZENDO COM QUE AS PESSOAS BUSQUEM “CORPO PERFEITO” - 2008 60 52

Influência da mídia e da sociedade por corpos perfeitos

50 40 27

30 20 10 0

procura por cirurgias plásticas, porém nenhuma das mulheres dessa amostra apresentou baixa autoestima, o que invalida essa hipótese. TABELA IV - RESULTADOS DO TESTE ROSEMBERG UNIFESP- EPM (2001) - 2008 Escala Decimal

Freqüência

Percentual

20 a 30

27

27%

30 a 40

54

54%

40 a 50

19

19%

Total

100

100%

FONTE: Resultados retirados da aplicação do teste Rosemberg

15

Os resultados referentes ao Rosemberg levam a uma reflexão baseada no pensamento de Branden (1997), onde talvez os sujeitos dessa amostra não tenham clareza ou consciência a respeito de sua Médio Pouco Nada Muito auto-estima e tentem modificar o corpo, ao invés FONTE: Dados Retirados do questionário aplicado pela pesquisadora. de compreender sua demanda interna ou buscar Esse padrão estético imposto pela mídia e pelo solucionar conflitos emocionais, porém essa escolha social percebido pelos sujeitos da amostra pode ser pode ser uma saída perigosa e frustrante. caracterizado de diversas formas: por uma atualização à moda, por meio de variados cremes na tentativa CONCLUSÃO de manter-se jovem ou como no comprometimento O objetivo proposto de que o social e o padrão com o peso ideal conquistado através de exercícios, de beleza influenciam foi alcançado, já que dos alimentações saudáveis ou até mesmo através do 100 sujeitos da amostra 94% dizem acreditar recurso da cirurgia plástica. Para Castro (2001) a nessa pressão vinda do social pela busca do “corpo mídia e a indústria são dois contribuidores para esse perfeito”, quanto às motivações percebemos que a culto ao corpo, um se encarrega pela produção de sugestão do companheiro interfere na motivação inovadoras técnicas, máquinas e cremes e o outro pela procura, gerando também expectativas que pelo bombardeio desse material através dos veículos levam as mulheres a se submetem ao procedimento de comunicação, como por exemplo, propagandas da cirurgia plástica. de rádio, televisão, revistas, sites, jornais, panfletos Os resultados obtidos através do teste entre tantos outros. Rosemberg/UNIFESP-EPM (2001), não indicaram Dos resultados obtidos através do teste uma auto-estima rebaixada, porém as características Rosemberg disponibilizados na tabela IV, constatou- avaliadas com relação à auto-imagem levam a uma se uma auto-estima mediana na maioria do sujeitos reflexão e o surgimento de uma nova hipótese, da amostra, mas conforme Branden (1997), a auto- onde as mulheres da amostra naquele momento estima pode flutuar em uma escala, ou seja, durante não se encontrassem com a auto-estima rebaixada, a vida as pessoas podem vir a alterar sua auto- já que para Castilho (2001) a auto-imagem está em estima, se sentirem necessidade e se propuserem a constante transformação e para Branden (1997) a tal mudança. Apenas 19 sujeitos apresentaram uma auto-estima é uma necessidade humana, essencial auto-estima elevada como observado na tabela IV, a uma adaptação saudável, para que se possa ter confirmando-se à hipótese 1 que buscava verificar se um funcionamento ideal e à auto-satisfação. os padrões de beleza estéticos fortemente imposto Espera-se que a presente pesquisa não seja pela mídia favorece as mulheres residentes em vista como uma crítica a todos os procedimentos Curitiba a buscarem cirurgia plástica para tentarem cirúrgicos visando a estética, mas uma tentativa se encaixar neste padrão estético. de alertar as pessoas em relação à banalização do A hipótese 2 também deve ser discutida procedimento que vem ocorrendo e logo interferindo decorrente dos resultados obtidos com o teste na vida das pessoas a ponto de prejudicá-las, pois de Rosemberg, onde a proposta era de que quando acordo com Durif (1990 p.309 citado por NOVAES a mulher encontrava-se aliada a este padrão e VILHENA, 2003 p.17), a imagem que o social de estética, a baixa auto-estima potencializava impõe interfere na auto-estima e auto-imagem das significativamente, desencadeando o aumento da pessoas.

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REFERÊNCIAS

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AUTORAS

Hellyda Aparecida Kerecz Borim | Acadêmica de Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná e-mail: hellyda_kerecz@yahoo.com.br Denise Cerqueira Leite Heller | CRP 08/02794 | formada em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná, Mestre em Psicologia Experimental pela USP, pesquisadora e professora dos cursos de graduação e pós-graduação de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Psicóloga Clínica de orientação comportamental, especializada no tratamento de transtornos e obesidade. nº www.deniseheller.com 45 Revista dealimentares Psicologia ATLASPSICO 09 | agosto 2008 | deleitehell@yahoo.com.br


PSICOLOGIA E INFORMÁTICA

EXCESSO DE INTERNET traz problemas físicos e psicológicos

As consequências que a permanência prolongada na frente da tela do computador pode provocar vem rendendo assunto há algum tempo. Além do tradicional problema de visão e da tendinite há quem defenda a reclusão social que o excesso de vida virtual pode causar nos jovens, em especial nos mais tímidos. O psicólogo Márcio Roberto Regis, especialista em Psicologia Clínica Comportamental, explica que a internet por si só não traz nenhum dano aos usuários e nem mesmo na sua vida real. Porém, ele alerta que o uso prolongado e abusivo - passar dias, meses e anos na frente do computador, deixar de sair com amigos ou curtir um momento de lazer - a médio e longo prazo pode ocasionar mudanças de comportamento na vida dos adolescentes. "Jovens que eram extrovertidos na convivência com outras pessoas reais, com o tempo podem começar a apresentar comportamentos como timidez, insegurança e até falta de tolerância pra algumas situações e isolamento social". O psicólogo lembra que a utilização do computador fascina muito os jovens. A possibilidade de entretenimento, diversão e interatividade pode provocar o "esquecimento" do mundo exterior. Prova disso é que muitos jovens passam horas na frente do PC e não observam o tempo passar. "Esquecem! Quando percebem já anoiteceu, ou caso contrário, o dia já está clareando. Obviamente que a internet não é negativa, mas ela pode tornar-se caso exista uma utilização abusiva. Do ponto de vista psicológico, ficar focado demais na internet pode causar danos sim. Uma delas podem ser a depressão e a dependência tecnológica. Além desses problemas, o medo de rejeição e a necessidade de aceitação também contribui para o uso indiscriminado da internet".

Outro ponto abordado pelo especialista sobre o uso prolongado da internet é o efeito colateral em relação a saúde física e problemas nos estudos. "Os jovens começam a dormir menos para ficar mais tempo conectados à internet, dormem tarde, muitos precisam acordar cedo para ir à escola. Com isso podem apresentar baixo desempenho dentro da sala de aula, ficam sonolentos. Isso vai apresentar um déficit cognitivo, perde-se a capacidade de concentração, atenção e aprendizado. Entre esses fatores, muitos irão apresentar dores nas costas devido o longo tempo que passam sentados, dores nos braços, na cabeça, cansaço nos olhos, começam a se alimentar mal (ou se alimentam com refrigerantes e bolachas ou não comem nada para ficar mais tempo online) ou ganham peso pela falta de práticas de exercícios, começam a apresentar cansaço excessivo devido a noites mal dormidas ou porque ficaram muito tempo online e consequentemente, apresentam um sistema imunológico baixo, predispostos a qualquer tipo de doença". Para evitar qualquer tipo de saúde física ou mental não existe um tempo limite para ficar na frente do computador. Regis destaca que tempo ideal de permanência na internet é muito relativo. "Para crianças, o ideal seria estabelecer regras claras e um tempo limite para que não haja excessos. Talvez 45 minutos, uma hora. Para jovens talvez duas ou quatro horas de utilização da internet e horário regrado para ir dormir e acordar. Isso vai depender das regras que os pais impõem aos filhos, ensinando-os que eles podem utilizar a internet como forma de entretenimento, informação e trabalho, mas que tudo precisa de limites bem estabelecidos para que não haja um abuso na utilização das novas tecnologias". (RF)

AUTORA

Raquel Ferreira | Reporter do Jornal Gazeta Digital de Cuiabá/MT. Entrevista publicada originalmente no Jornal Gazeta Digital no dia 20 julho 2008. www.gazetadigital.com.br | e-mail: raquel_z79@hotmail.com Entrevista gentilmente cedida ao Portal ATLASPSICO | www.atlaspsico.com.br

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