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2.3 CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS
2.3.1 Materiais
O edifício já existente no local não pode sofrer relevantes alterações materiais por conta do grau máximo de tombamento que o protege, visto isso buscou-se retomar a conexão do mesmo com o seu aspecto histórico de maior característica, a arquitetura colonial, para isso manteve-se as suas janelas e portas originais e recuperou-se a coloração branca e azul típica das construções da época nas partes internas e externas do edifício. Ainda, seguindo as diretrizes da Carta de Veneza quanto ao contraste entre a parte tombada e a parte restaurada de uma edificaçação, no local da construção removida no edifício, implantou-se um corredor com ampla abertura em vidro U-Glass fazendo contraponto as fracionadas aberturas da porção principal da construção. Esse corredor em U-glass acaba tornando-se uma espécie de ponto de referência para a Avenida, e durante a noite, se torna uma grande laterna.
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Imagem 46: Referência para U-glass
Fonte: ArchDaily, 2018.
A conexão com a identidade histórica local da cidade de São Paulo foi o ponto inicial de decisão para a materialidade do edifício anexo. O foco principal era de resgatar as primeiras formas de construções coloniais da região usando o sistema construtivo de taipa de pilão.
Utilizou-se como referencial as casas coloniais/bandeiristas e suas características ainda que, mesmo para suportar estruturas não tão pesadas como as coberturas de madeira, as suas paredes autoportantes tivessem um espessura considerável, demonstrando a resistência e durabilidade do material e fazendo jus até o
momento ao caminho seguido tanto pelo aspecto de recuperação histórica quanto pela resistência do material. No momento em que o programa do edifício apresentou a necessidade da utilização de mais de um pavimento na edificação o uso se tornou inviável pela limitação do material e da técnica construtiva em ser utilizada com altura, visto a necessidade do aumento da espessura das paredes de sustentação para que essa aguentasse as cargas dos níveis superior assim como as estruturas de apoio que estavam por vir.
Visado superar a barreira da sustentação do material utilizou-se uma técnica inovadora, já utilizada na Austrália, onde aos usuais materiais da taipa se adicionava cimento na mistura, dando ao material a estabilidade necessária para construir mais de um pavimento com paredes mais esbeltas, além de permitir vãos livres de dimensões maiores com a ajuda de barras de ferros internas e ainda dando o mesmo acabamento encontrado no material original, destacando os tons de terra utilizado para o preparo das taipas.
Imagem 47: Formas metálicas usadas na fabricaão das paredes contemporâneas, diferente das formas de madeira usadas na técnica tradicional
Fonte: Rodrigo Rocha, 2015.
Além de trazer a taipa como uma forma de referência das construções passadas, mas de uma forma contemporânea, o uso do mesmo ajuda em questões como material mais econômico, resistência, assim como o isolamento termoacústico, principalmente pela localidade no meio do nó viário, servindo de barreira sonora para dentro do edifício.
No edifício anexo, buscando seguir um perfil construtivo singular conectado a rusticidade da taipa porém realizando uma contraposição menos
imponente, optou-se pela utilização de amplas aberturas em painéis de vidro U-Glass na principal área de circulação do local, o átrio central que conecta todos os pavimentos, assim como aberturas menores nos demais pavimentos, aproveitando o caráter naturalista presente trazido pelo material construtivo utilizado, tendo um grande aproveitamento da iluminação natural presente no local e diminuindo consideravelmente a necessidade de iluminação elétrica.
Ainda, ao longo de suas paredes, foram feitos rasgos verticais permitindo a entrada de ventilação e luz, que foram dispostos no sentido vertical fazendo um contraponto ao formato horizontal do edifício e criando pontos de contraste na fachada do mesmo, eliminando o caráter de um grande bloco fechado.
Imagem 48: Referência de rasgos verticais na fachada
Fonte: Archdaily, 2013.
2.3.2 Estruturas
Como citado no item 2.1.1, o edifício tombado não poder sofrer mudanças significativas, pois seu nível de tombamento é de preservação total (Nível 1). Contudo, devido ao longo período sem receber o cuidado necessário para sua manutenção e as condições de abandono e diversas
patologias que se instalaram no edifício se tornou extremamente delicado recuperar o seu uso sem a necessidade de uma intervenção no mesmo.
Com o intuito de preservar e recuperar o mesmo foi utilizado como parâmetro a Carta de Veneza de 1964, em especial o Artigo 10º que afirma: Quando as técnicas tradicionais se revelarem inadequadas, a consolidação do monumento pode ser assegurada com o emprego de técnicas modernas de conservação e construção cuja eficácia tenha sido demonstrada por dados científicos e comprovada pela experiência.
Atualmente, diversos componentes do edifício, como o piso e o forro de madeira (imagem 47), se encontram em estado de total degradação, com partes faltantes, além de cupins e umidade, levando o mesmo a não suporta mais sua estabilidade, sendo assim optou-se por remover o piso existente, e substitui-lo por uma laje nova de Steel Deck, principalmente por ser uma laje leve, mas também pensando em assegurar o não descarregamento de cargas nas delicadas paredes internas e externas do edifício pois a laje se apoiara em vigas e pilares metálicos. Os pilares foram alocados com uma distância média de 10 cm da construção existente para em caso de dilatação do material, os pilares não empurrem as paredes. Conforme citado anteriormente, também no mesmo item 2.1.1., decidiu-se pela remoção do volume adicionado posteriormente a construção original que descaracterizava o seu aspecto histórico por conta da utilização de materiais diferentes dos utilizados na construção original. Tendo em vista a recuperação da unicidade da construção e após a recuperação do mesmo foi realizada uma nova construção no local para ser um ponto de articulação entre os dois braços do edifício tombado utilizando-se alvenaria e estruturas metálicas, mantendo uma aparência leve que não contrastasse tanto com a edificação
Imagem 49: Estado de conservação do piso
Fonte: CIAP, 2010.
histórica já existente, mas que percebesse que é uma construção posterior. Como vedação, na abertura em frente ao Rio Tamanduateí, foi utilizado U-Glass, pensando na iluminação natural que este trará para dentro do ambiente e dado enfoque especial na referência que a mesma se tornará ao anoitecer, por ser totalmente iluminada na parte interna contrastando com o ambiente exterior de iluminação mais fraca, se tornando ponto de referência para quem passa nos arredores da construção.
Imagem 50: Isométrica explodida - edifício histórico
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020. No novo edifício anexo através da utilização da taipa de pilão, método e material de construção autoportante favorecido ainda pela adição de concreto a mistura, foi possível alcançar uma diagramação de ambientes abertos com praticamente nenhuma interferência de pilares, seja nas salas ou no grande átrio central aberto a todos os pavimentos do edifício. A sustentação do edifício é complementada com o uso de vigas metálicas posicionadas de forma a interferir sempre o menos possível na questão estética dos ambientes.
Imagem 51: Isométrica explodida - edifício proposto
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.
Para as passarelas de ligação entre o edifício histórico e o anexo, optou-se por criar uma estrutura de material metálico, sem o uso de alvenaria, para que o mesmo pudesse permanecer neutro realizando o papel somente de um elemento de conexão entre as construções existentes, porém sem interferir no perfil e nas características de nenhum dos dois edifícios. Estruturalmente, as vigas das passarelas estão engastadas no edifício anexo, onde se há conhecimento da capacidade de carga suportada, porém na extremidade do edifício tombado optou-se por engastar as vigas em pilares metálicos localizados na praça de ligação entre os edifícios próximos a parede externa do mesmo porém sem realizar qualquer contato, evitando que qualquer carga adicional fosse acrescentada a estrutura existente.