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1.3.1 O Quartel Tabatinguera
Imagem 24: Quartel de Guarda Cívica da Capital (1907)
Fonte: http://www.saopauloinfoco.com.br/o-quarteltabatinguera/ - Acesso em junho 2020.
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Imagem 25: Quartel Tabatinguera atualmente
Fonte: Foto de própria autoria. De acordo com a ficha de tombamento feita pelo CONDEPHAAT:
“O prédio é datado de 1842, foi sede da chácara do Fonseca até 1859, quando a Fazenda Provincial o adquiriu, para ser instalado o Seminário das Educandas. Em 1862 foi transferido para aquele prédio o Hospício dos Alienados, que lá permaneceu até 1903. Em 1906 ali foi instalado um quartel, que atualmente mantém uma parte do Batalhão de Guardas da Segunda Região Militar do II Exército.”
Como citado na ficha de tombamento e, também, segundo Julia (2019), o Quartel passou por vários usos desde a sua fundação. iniciado como Chácara do Fonseca, pertencente ao cirurgião Domingos da Fonseca Leitão, foi posteriormente adquirido pela Fazenda Providência em 1859 para ser transformado no Seminário das Educandas, que ficou por pouco tempo ocupando o local por conta de estar localizado as margens do Rio Tamanduateí, já que a umidade trazida pelas águas e as más condições de saneamento da época tornavam as condições mais propícias ao surgimento de doenças contagiosas e consequentemente, adoecendo as moças ali residentes. A época ainda o rio também era frequentado por inúmeras embarcações dominadas por figuras masculinas, que acabavam por se distrair pela existência do
seminário e interagiam com as educandas.
Posteriormente, em 1862, o edifício tornou-se o Hospício dos Alienados, contradizendo os motivos do abandono do local pelo Seminário das Educandas, porém segundo medidas políticas médicas da época o local, muito bem arejado, era recomendado para a instalação de hospitais. Já em 1870, ainda como residência para o hospital, o edifício passou por uma grande reforma de ampliação, objetivando essa a criação de uma nova ala para a separação de pacientes especiais.
Conforme observa-se na figura abaixo (Imagem 26) o edifício era formado por um único corpo de aspecto colonial, com planta retangular e dois pavimentos, construído em taipa de pilão e alvenaria de tijolos. Posteriormente foi construído um corpo lateral (Imagem 27 e imagem 28 ), e depois desse um outro na face oposta ao primeiro, como mostrado na Imagem 29, formando um “U”, aberto para as margens do Rio Tamanduateí.
Imagem 26: Planta da capital da província de São Paulo (1877).
Fonte: Arquivo Histórico Municipal, 1877.
Imagem 27: Planta da Cidade de São Paulo (1881).
Fonte: Arquivo Histórico Municipal, 1881.
Imagem 28: Planta da Capital do Estado de São Paulo (1890) .
Fonte: Arquivo Histórico Municipal, 1890.
Fonte: Arquivo Histórico Municipal, 1897. Fonte: Centro Integrado de Apoio Patrimonial da Polícia Militar
Imagem 29: Planta Geral da Capital de São Paulo (1897) Em 1903, devido aos problemas de insalubridade, o local deixar de ser Hospício, transferindo os pacientes para Juquerí, onde atualmente é Franco da Rocha, e o edifício passar a ser do Estado. Seu uso mudou novamente, agora para abrigar o almoxarifado da Secretaria da Justiça e Quartel de Guarda Cívica da Capital. Para isso, alguns anos depois, assim como demonstrado pela Imagem , uma nova construção foi realizada no local, transformando o existente pátio aberto para as margens do rio a um grande retângulo com um pátio fechado central.
Imagem 30: Guarda civica no Quartel, 1905.
Ao analisar o processo de tombamento do edifício, é dito que essa nova construção não se integra perfeitamente às demais, quebrando totalmente a harmonia do conjunto, e sendo construída em alvenaria de tijolos.
Já no ano de 1964, o edifício altera o seu uso pela quarta vez, e transforma-se no 7º Batalhão Cia de Guardas. Vale destacar aqui que, quando o edifício alterou seu uso de almoxarifado para Batalhão, a sua coloração em marcante tom bege que dava característica a construção do local, advinda esta do cal utilizado que era retirado das margens do Rio Tamanduateí, foi alterada para branco e azul, perdendo algumas de suas características originais.
Em 1970, ano este da abertura do processo de tombamento do edifício pelo CONDEPHAAT, muda-se para 2º Batalhão de Guardas. Mais uma vez, assim como ocorrido anteriormente, o edifício original recebe novos anexos conforme demonstrado na imagem abaixo (Imagem 31) para se adaptar aos seus diferentes usos.
Imagem 30: Mapa SARA BRASIL SA (1930).
Fonte: GeoSampa, 2016. Imagem 31: Mapa GEGRAN, 1973.
Fonte: GEGRAN.
No ano de 1992 torna-se nova sede para o Batalhão da Polícia de Choque do Estado, que ali permaneceu até 1996. Após esta data o local não apresentou mais uso específico para nenhum de seus edifícios ou anexos construídos no decorrer dos anos, até que em 2012, a Secretário da Segurança Pública cedeu parte do terreno para a ONG Nova Glicério, que ali construiu uma sede para estimular a prática de esportes e atividades recreativas em jovens e crianças da região e conseguir afastá-los da criminalidade.
Imagem 32: A esquerda da foto, Quartel Tabatinguera, e a direita, campo e sede da Comunidade Nova Glicério
Fonte: Google Earth. Cento e vinte e oito anos após a sua construção, no ano de 1970 quando o local abrigava o 2º Batalhão de Guardas, foi iniciado o processo de tombamento do edifício do Quartel, com o objetivo de ali se instalar o Museu Militar de São Paulo, assim como a Fábrica da Cultura.
No processo de tombamento nº 21740/1891, existe um relatório de visita datado do ano de 1968 dizendo que, pela localização próxima ao centro da cidade de São Paulo, as dimensões de suas salas, corredores e pela impressão de nobreza da edificação como um todo, o prédio, uma vez que devidamente restaurado, serviria para a instalação de um ou mais museus de história, folclore e tradições de São Paulo. O processo pontua também a carência de museus na cidade de São Paulo naquele determinado momento e utiliza a justificativa de suprir essa falta para alterar o uso do edifício para público cultural. Atualmente o processo de tombamento do edifício já foi finalizado pela CONDEPHAAT e o mesmo possui nível de proteção total (N1) estando sob controle e preservação do governo do Estado de São Paulo.
Em 2012, o então governador do estado Geraldo Alckmin, anunciou a retomada do projeto de recuperação do quartel para se tornar um com-
plexo cultural, com o Museu da PM e uma Fábrica de Cultural, mas nada saiu de fato do papel. A ideia da criação do museu foi abandonada quando, em 2013, iniciou-se uma licitação para restauro do Quartel, por meio do Centro Integrado de Apoio Patrimonial da Polícia Militar (CIAP), com o objetivo de instalar ali a Sede do 45º Batalhão da Polícia Militar, assim como um Centro de Treinamento para os militares.
Por diversos anos houveram inúmeras tentativas das mais diversas frentes para se dar um novo uso ao local, que atualmente contando desde 1996 totalizam 24 anos sem uso, porém que nunca avançaram e se consolidaram, isso mostra, em partes, o descuidado não somente com a preservação da manutenção estrutural do edifício, que é um dos prédios mais antigos da cidade e está atualmente se desintegrando aos poucos, mas também o descuidado e desinteresse geral com a preservação e manutenção da história da cidade.
Em 2014 o CIAP contratou o Estúdio Sabará para realizar um estudo no edifício para execução do restauro, identificando patologias e materiais por meio de prospecções, levantamento fotográfico entre outros meios de detecção. Diferente do que se imaginava anteriormente, e também do processo de tombamento do CONDEPHAAT que afirmava que os edifícios foram feitos em taipa de pilão, e somente a última construção, fechando o conjunto que tinha um formato em “U”, era de alvenaria de tijolos, o levantamento feito constatou que poucas paredes são de taipas, tendo o edifício a mistura de diversas técnicas como taipa de mão e adobe, mas a maioria de suas paredes, principalmente as externas, são de alvenaria autoportante, e não taipa de pilão como mencionada no documento do tombo.
Imagem 33: Estado atual de conservação.
Fonte: Foto de própria autoria.
Imagem 34: Entrada presente na via local da Avenida do estado
Imagem 35: Fachada externa, via local da Avenida do Estado
Fonte: CIAP, 2010.
Fonte: CIAP, 2010. Diariamente um grande número de pessoas passam pelo local e observam o cenário de degradação e ruínas, a região por sua grande potencialidade de abrigar um eventual “circuito cultural” representando a imagem da cidade por conta dos equipamentos culturais já presente no local está abandonada e vai se perder aos poucos ainda que seja um local tombado e de riqueza histórica imensa.
Imagem 36: Pátio interno já tomado pela vegetação
Fonte: CIAP, 2010.
Imagem 37: Ruinas dos edifícios anexos
Fonte: Foto de própria autoria.
Imagem 38: Pátio interno
Fonte: CIAP, 2010.