Direitos indígenas no museu: novos procedimentos para uma nova política: a gestão de acervos....

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O Museu Regional de Arqueologia de Rondônia e os desafios da diversidade cultural no presente Maurício André da Silva* Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo (MAE-USP) Nos últimos anos, cresceu o número de museus de arqueologia pelo país, assim como o de coleções arqueológicas espalhadas em diferentes tipologias de instituições. O encontro entre populações indígenas e museus antropológicos é recorrente e também um caminho possível para as instituições com acervos arqueológicos, sobretudo na região Amazônica, que possui uma rica história de longa duração, traduzida no presente de muitas formas. Este artigo1 propõe algumas reflexões baseadas no estudo de caso do Centro de Pesquisas e Museu Regional de Arqueologia de Rondônia (CPMRARO), criado em 2008 no interior do estado de Rondônia, na cidade de Presidente Médici. Esse Museu possui um acervo regional com predomínio de material arqueológico cerâmico e lítico.2 Desde 2011 duas novas exposições foram abertas ao público: a temporária e itinerante Homens e objetos na préhistória: aprendendo sobre Arqueologia, e a de longa duração Arte e Tecnologia: diversidade do patrimônio arqueológico do Centro-Leste de Rondônia, esta baseada no acervo da instituição. Ambas discutem o papel da arqueologia e o processo de ocupação local por populações no passado. 1. Esses dados estão baseados na dissertação de mestrado do mesmo autor intitulada Memórias e histórias no sudoeste amazônico: o Museu Regional de Arqueologia de Rondônia defendida no Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do MAE-USP (Silva, 2015), sob orientação do Prof. Dr. Camilo de Mello Vasconcellos. Bolsa CNPq (processo 135479/2011-8). 2. O acervo do Museu foi formado com materiais arqueológicos oriundos dos municípios vizinhos: Alta Floresta, Alto Alegre dos Parecis, Alvorada D’Oeste, Castanheiras, Cacoal, JiParaná, Ministro Andreazza, Presidente Médici, Seringueiras, São Miguel do Guaporé, São Francisco do Guaporé, Rolim de Moura, Novo Horizonte D’Oeste, Urupá, Nova Brasilândia D’Oeste e Santa Luzia D’Oeste.

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O Museu surgiu pela iniciativa dos moradores locais (migrantes), com destaque para a atuação dos professores de história da rede pública Maria Coimbra de Oliveira e José da Silva Garcia, além de outros habitantes que passaram a colecionar objetos arqueológicos encontrados em suas atividades cotidianas e a se interessar pela arqueologia. Cabe destacar que durante as aulas, muitos alunos traziam para os professores objetos encontrados em suas residências, com uma série de inquietações a respeito. Nesse sentido, a partir de uma imaginação museal (Chagas, 2008, p.47) e com apoio e orientação do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan), deram início à implementação da instituição e de ações de proteção, preservação e comunicação. A prefeitura municipal de Presidente Médici e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) também colaboraram com a consolidação do espaço.3 A criação de um museu de arqueologia na região Amazônica pode apontar caminhos para o tratamento e preservação do patrimônio arqueológico, assim como para a produção de memórias a respeito da localidade. Cria-se um potencial espaço fórum (Gonçalves, 2007; Bruno, 2000) que contribui para estimular na população o exercício da reflexão e do debate sobre seu passado e seu presente. O acervo do CPMRARO oriundo de coleções formadas por distintas curadorias dos migrantes, hoje musealizadas, possuem em sua história olhares que indicam caminhos identitários. Cada lâmina 3. Cabe destacar o papel do licenciamento ambiental no estado por meio dos endossos institucionais que viabilizaram uma série de reformas estruturais e a implementação de ações no Museu. Atualmente vários desafios são postos, relacionando a gestão e a contratação de profissionais para o desempenho pleno de suas funções.


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