Direitos indígenas no museu: novos procedimentos para uma nova política: a gestão de acervos....

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A Curadoria da Coleção Asurini do Xingu no Weltmuseum Wien Fabíola Andréa Silva* Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo (MAE-USP)

Os Asurini do Xingu são falantes de uma língua da família Tupi-Guarani. Eles se autodenominam awa ete, “gente (humanos) de verdade”, mas ao mesmo tempo, adotaram o nome Asurini que lhes foi atribuído desde, pelo menos, o final do século XIX, devido à pintura vermelha dos seus cabelos e corpos produzida com urucum. A definição específica de Asurini do Xingu surgiu após o primeiro contato oficial, no início dos anos 1970, para distingui-los dos Asurini do Trocará ou Asurini do Tocantins, também conhecidos como AkuáwaAsurini ou, simplesmente, Akuáwa, que estiveram em evidência desde a década de 1960. Atualmente, os Asurini do Xingu vivem na T.I. Koatinemo, na Amazônia Oriental, nas aldeias Kwatinemu e Itaaka, às margens do rio Xingu, no Pará. Essa terra foi declarada de posse indígena, na década de 1990, e tem 387.834 hectares distribuídos pelos municípios de Altamira e Senador José Porfírio (Mapa 1).

A ocupação territorial dos Asurini na região do baixo-médio rio Xingu Mapa 1 – Mapa de localização da Terra Indígena Koatinemo.

A história sobre a ocupação territorial desse povo na região do baixo-médio Xingu foi narrada por Anton Lukesch (1976), Berta Ribeiro (1982) e Regina Polo Müller (1990) pela pesquisa de fontes históricas e orais, desde os anos 1970. Nos últimos anos, ela vem sendo retomada por mim mediante pesquisa arqueológica colaborativa, que tem o objetivo de compreender a história de ocupação da T.I. Koatinemo a partir da memória dos Asurini e da localização dos seus antigos assentamentos às margens dos igarapés Piranhaquara e Ipiaçava (Silva et al., 2011; Silva, 2013).

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A memória e o conhecimento dos mais velhos sobre a sua trajetória nessas terras do médiobaixo curso do rio Xingu abrangem em torno de cinco décadas antes do seu encontro com a expedição liderada por Anton Lukesch, em maio de 1971. Segundo eles, sua ocupação definitiva, na década de 1970, da área que abrange a T.I. Koatinemo, especialmente nas proximidades do igarapé Ipiaçava, ocorreu após um longo ciclo de mobilidade que, em grande parte, foi motivada pelos ataques de populações indígenas inimigas.


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