Direitos indígenas no museu: novos procedimentos para uma nova política: a gestão de acervos....

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Leituras visuais da criança indígena: uma abordagem para além da estética e do racismo Josué Carvalho* Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

As práticas culturais de cunho indenitário de um indivíduo ou um povo, graças ao avanço das diferentes linguagens tecnológicas, têm sido apresentadas e representadas ao mundo na velocidade da luz. Visualmente falando, basta apenas um flash seguido de alguns clicks, e upload e download são possíveis. Esse instigante universo tecnológico (fotografia, vídeo, internet) tem ganhado cada vez mais espaço no material base de etnógrafos em seus trabalhos de campo; já não é mais novidade perceber diários de campo sendo registrados diariamente na rede. Pink ressalta que: Photography, video and electronic media are becoming increasingly incorporated into the work of ethnographers: as cultural texts; as representations of ethnographic knowledge; and as sites of cultural production, social interaction and individual experience that themselves form ethnographic fieldwork locales. (Pink, 2001, p.2) É impossível negar que o uso dessas tecnologias tem contribuído para análises cada vez mais fidedignas sobre sujeitos e objetos de estudos, porém, o uso dessas mídias, uma vez lançado na rede, produz significados múltiplos, ou seja, o uso deliberado desses meios pode ser como uma faca de dois gumes. Estou me referindo grosso modo ao que se pode chamar de antropologia visual. MacDougall (1998) sugere a existência de diferentes interesses no uso da antropologia visual, seja como técnica de pesquisa, campo de estudo, ferramenta de ensino, seja também como meio de publicação ou nova forma de abordagem do conhecimento antropológico.

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Neste ensaio sinalizo o uso da tecnologia, a partir da fotografia exposta na rede (universo virtual) e com possibilidades de discussões no campo da museologia, no que se refere à representação e apresentação de crianças indígenas, uma vez que os olhares para essas crianças têm se intensificado nas diferentes áreas do conhecimento. Estudos etnográficos, advindos dos mais diferentes sentimentos e fins, ora para entender a criança indígena em seu contexto, ora pela simples procura do belo étnico.

O lugar de onde falo e as crianças Kaingang A Terra Kaingang Nonoai está situada no nordeste do Rio Grande do Sul, na divisa com o estado de Santa Catarina e a 150 quilômetros do país vizinho, a Argentina. No presente a T.I. Nonoai comporta uma população de aproximados 3 mil Kaingang, numa área de cerca de 40 mil hectares entre mata nativa e área de livre plantio, comporta quatro aldeamentos: aldeia Posto Kaingang (município de Nonoai, ao leste), aldeia Pinhalzinho (município de Planalto, ao norte), e aldeias Bananeiras 1 e 2 (pertencentes ao município de Gramado dos Loureiros, ao sul). Os Kaingang sozinhos representam cerca de 50% de toda a população dos povos de língua Jê (Tronco Macro-Jê), e estão entre os cinco povos indígenas mais populosos do Brasil. Essa língua possui cinco dialetos regionais. O Kaingang e o Xokleng formam o conjunto restrito das línguas e culturas Jê do Sul (D’Angelis, 2002). Nessa


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