Direitos indígenas no museu: novos procedimentos para uma nova política: a gestão de acervos....

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Museu Kaingang, Krenak e Terena: o problema da temática do concreto na exposição indígena museográfica Niminon Suzel Pinheiro* Centro Universitário de Rio Preto (Unirp)

A capacidade visual é muito mais ampla do que aquelas transmitidas e/ou assimiladas pelos outros sentidos.

João Gomes Filho, 2000 Acredito que despertar os sentidos é um dos objetivos dos museus. O sentido que a visão pode despertar, dentre todos, tem importância especial na contemporaneidade pois por meio dela somos capazes de sensibilizar outros sentidos numa multiplicidade de perspectivas. Como captar na exposição museográfica a intensidade da vida? Esse problema me intrigou desde que conheci os índios Krenak de Vanuíre, em 1987. Nessa época eles haviam construído o “museuzinho”, que era espaço de estada obrigatória para se começar a entender a memória indígena Krenak em Vanuíre. Estada porque não era um lugar de passagem, mas de absorção pela contemplação de uma história de vida singular. O interesse pela temática indígena museográfica se acentuou com a pesquisa e construção do Museu Trilha “Picada das Mulheres”, museu a céu aberto construído por Deolinda Pedro e Neusa Umbelino, com ajuda de um homem. O trabalho era duro, mas a ideia da possibilidade de comunicação entre indígenas e não indígenas deu força e a temática indígena se concretizou na trilha que, com as duas mulheres, recriava a vida do índio na mata. As experiências de convívio com os indígenas das Terras Indígenas (T.I.) Icatu (Braúna, SP), Vanuíre (Arco Íris, SP), Apucaraninha (Londrina, PR), principalmente, mas também as cinco Terras Indígenas na área Kopenoti – Nimuendaju (Avaí, SP) e as Tupi-Guarani do litoral e de Barão de Antonina (Barão de Antonina, SP), se mostraram profícuas na compreensão do interesse e da

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importância da construção de museus indígenas. As exposições museográficas indígenas podem ser escoras de ideias, de sistemas, de habilidades próprios de cada etnia. Nelas se tecem histórias e processos vivenciados pelos indígenas numa comunicação basicamente visual, tangível e oral. Esses elementos se concretizam em círculos, vibrações, movimentos orgânicos, pesquisas viscerais, curas xamânicas, mitos escatológicos, aparições espirituais e retóricas circulares. Por conta desse último ponto, a retórica circular, é imprescindível que os guias e condutores dos visitantes pela exposição sejam das comunidades que estão sendo representadas pela exposição. Se possível, pessoas que participaram da sua criação. Em 2015, durante o processo dos trabalhos na Mesa temática “Indígenas nos Museus: as visões da cultura”, IV Encontro Paulista Questões Indígenas e Museus (Tupã, jul. 2015), à tarde, quarta apresentação, e após palestra instigante do pesquisador e doutorando indígena Josué Carvalho, nos reunimos diante da assistência. Formávamos um grupo de 23 indígenas das T.I. Icatu, Vanuíre, Kopenoti e Nimuendaju. A experiência que se seguiu foi emocionante e ilustrativa. Por meio dela foi possível conhecer aspectos próprios da relação emocional dos indígenas com os objetos e ideias expostos por eles. Foi possível presenciar a manifestação das diferentes memórias, dos elementos da natureza interagindo com o cotidiano indígena, a importância das ações políticas para a continuidade da vida indígena no seu cotidiano, inserida na sociedade capitalista.


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