“O passado vai tá sempre na frente do presente”: museus indígenas em rede, etnografia em processo 1
Alexandre Oliveira Gomes* Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
O meu pai é rei na terra1 O meu pai é rei no mar (2x) Ando com os mensageiros Foi meu pai quem me mandou (2x) Eu sou índio, eu sou guerreiro Eu sou índio curador (2x)
(Toré entoado na abertura do IV Encontro Paulista Questões Indígenas e Museus) Na manhã do dia 30 de junho de 2015, iniciávamos as atividades do IV Encontro Paulista Questões Indígenas e Museus, no auditório do Museu Histórico Pedagógico Índia Vanuíre, na cidade de Tupã, região do oeste paulista. No ano anterior, havíamos comparecido à terceira edição do evento – uma comitiva representando os processos museológicos entre populações indígenas no Nordeste – com três pessoas2 e, àquele momento, estávamos presentes com quatro participantes: além de mim e Suzenalson Santos, Ronaldo França de Siqueira (Museu Kapinawá, Buíque, PE) e Heraldo Alves, o Preá (Museu Indígena JenipapoKanindé, Aquiraz, CE), todos eles gestores de museus indígenas entre seus povos e importantes lideranças no debate sobre museus indígenas em seus estados.
e organizadoras, convidou os indígenas para conduzirem um momento ritual. Aos três representantes do Nordeste, reuniram-se lideranças dos povos da região, os Kaingang, Krenak, Terena e Guarani, que atenderam ao convite, formando um semicírculo defronte ao público. Sob o ritmo das maracas, entoaram alguns cânticos, o primeiro dos quais serve de epígrafe a este texto. Meses antes, em dezembro de 2014, havíamos recebido d. Dirce Jorge Lipu Pereira (povo Kaingang, SP) na condição de palestrante, no II Encontro de Museus Indígenas em Pernambuco,3 no Recife e, em maio de 2015, sua filha, Lucilene de Melo, havia estado conosco no I Fórum de Museus Indígenas do Brasil, na aldeia Sítio Fernandes, dos Kanindé, em Aratuba, CE.4 Após a palestra de encerramento da programação do primeiro dia deste último encontro, ministrada pela professora Marília, o pajé Barbosa, do povo Pitaguary, CE, direcionou-se à mesa, retirou a palestrante de sua cadeira, sentou-se e proferiu comentários sobre diversos acontecimentos do dia de atividades e as questões tratadas pela professora, à moda de um “encantado-debatedor”.
1. O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq. (processo 141309/2014-8).
3. No dia 5 de dezembro de 2014, d. Dirce participou do painel “Curadoria compartilhada entre-olhares: experiências e desafios para a gestão de acervos”, com Marília Xavier (USP), Renato Athias (UFPE), Wilke Melo (Nepe-UFPE), Nilvania Barros (Ufam), Cláudia Lopez (Museu Paraense Emílio Goeldi-MPEG), João Paulo Vieira (Ibram) e Heraldo Alves (Museu indígena Jenipapo-Kanindé).
2. Estivemos com o professor Suzenalson da Silva Santos, coordenador pedagógico do Museu dos Kanindé (Aratuba, CE), representando os museus indígenas no Ceará, e o antropólogo Wilke Torres de Melo, do povo Fulni-ô (Águas Belas, PE), representando os processos museológicos indígenas em Pernambuco.
4. No dia 16 de maio de 2015, Lucilene participou da “1ª Sessão de trocas de experiências entre museus indígenas”, com o Cacique João Venâncio (Tremembé, CE), Ronaldo Siqueira, Heraldo Alves (Museu Indígena Jenipapo Kanindé, CE), Fabricio Narciso Karipuna (Museu Indígena Kuahí, AP) e Rosa Veras (Museu Indígena Potiguara, CE).
Como abertura do encontro, a professora Marília Xavier Cury, uma das idealizadoras
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