Direitos indígenas no museu: novos procedimentos para uma nova política: a gestão de acervos....

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Política, representação e diálogo nos Museus da Civilização: Primeiros Povos e museologia indígena no Québec Jean Tanguay Responsável pela pesquisa, Les Musées de la Civilization Hoje em dia, o Québec conta com cerca de 90 mil indígenas distribuídos em 11 nações distintas: os Waban-Aki, os Anishinabeg, os Atikamekw Nehirowisiwok, os Eeyou (Cris), os Hurons-Wendat, os Innus, os Inuíte, os Wolastoqiyik (Malécites), os Mi’gmaq, os Kanien’kehà:ka (Mahowks) e os Naskapis. Antes de discutir a relação que os Musées de la Civilization [Museus da Civilização] têm estabelecido com esses povos por intermédio da museologia, parece-me importante traçar brevemente suas trajetórias históricas para que possam conhecer um pouco mais dessas outras realidades dos indígenas norte-americanos.

e habitado por populações já enraizadas, apresentando características culturais variadas. Muito rapidamente, esses primeiros ocupantes irão explorar os recursos regionais e saber beneficiarse das matérias-primas locais, mantendo um modo de vida baseado na caça, na pesca, na colheita e, finalmente, nas atividades agrícolas. O comércio também não foi introduzido com o contato entre o Velho e o Novo Mundo. Redes de troca anteriores ao contato existem de fato. Com a colonização do território e o aumento da população, tradições de formação de alianças animam rapidamente as relações entre esses primeiros povos, assim como os conflitos que ganharam forma bem antes do século XVI. Em resumo, o europeu não criou o Québec, um território indígena rico e diversificado há milênios.

Recapitulação histórica Como todos sabem, a história dos indígenas do Québec não se inicia com a chegada dos europeus no século XVI. Na verdade, quando se verificam esses primeiros contatos, culturas haviam migrado, se desenvolvido e se espalhado em todas as regiões do território por mais de 11 mil anos. Liberado de suas geleiras e de seus mares pósglaciais, o território quebequense tornara-se hospitaleiro para diversos grupos mais ou menos numerosos vindos essencialmente dos estados do Maine (É-U), do Ontário e das Províncias Marítimas do Canadá. Esse período histórico de vários milênios, qualificado de “pré-história” – o que nos levaria a pensar em uma ausência de história antes da chegada dos europeus – pertence, portanto, à trama histórica mais longa e ainda muito pouco conhecida da história do Québec. Estamos diante de um território habitável

E chegaram as primeiras ilhas flutuantes: os primeiros contatos e as primeiras alianças Há mais de 400 anos, os primeiros ocupantes do Québec testemunharam novas migrações de povos oriundos de outro continente. Normandos, bascos, franceses, holandeses e ingleses navegaram, todos com o desejo de explorar os recursos e muitas vezes de descobrir novas terras com riquezas diversas. Os pescadores de bacalhau e os caçadores de baleias, que foram os primeiros a tomar conhecimento da natureza do continente, carregaram os porões de seus navios com os primeiros bens necessários para adquirir as peles dos primeiros ocupantes. Procurando uma nova passagem para a Ásia, os franceses descobriram um continente com numerosos povos espalhados em um vasto território. Os mandatários oficiais do rei estabeleceram, por vezes de forma desajeitada,

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