O uso criativo de acervos fotográficos

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Recortes e mais recortes Em fotografia, tudo depende do recorte. No ato fotográfico, o recorte é o elemento fundamental, aquele que vai definir o enquadramento e, em consequência, a composição. Como bem lembrou a esse respeito o paradigmático fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (2004, p. 17-18): A realidade nos oferece tal abundância que devemos cortar ao vivo, simplificar, mas corta-se sempre o que é necessário cortar? É necessário alcançar, trabalhando, a consciência do que se faz. Algumas vezes, a gente tem a impressão de que tirou a fotografia mais forte e, contudo, continua a fotografar, sem poder prever com certeza como o evento continuará a desenvolver-se. Será preciso evitar metralhar, fotografar rápido e maquinalmente, sobrecarregar-se assim de esboços inúteis, que entulharão a memória e perturbarão a nitidez do conjunto. O conselho de Bresson se ajusta perfeitamente ao âmbito da curadoria e da edição de fotografias históricas; muito embora nelas o recorte seja de outra natureza, é igualmente preponderante como primeiro fator de definição do espírito da exposição ou do livro. Quando se trabalha com imagens de cunho documental e/ou histórico, existem três tipos básicos de abordagem: a temporal, a geográfica, e a autoral. A maioria das coleções de fotografia é de caráter documental, tendência que se difundiu no Brasil a partir da década de 1960, em virtude da criação do Museu da Imagem e do Som (MIS), em 3 de setembro de 1965. O modelo do MIS carioca fez grande sucesso, e logo passou a ser copiado Brasil afora (existem hoje mais de 30 outros Museus da Imagem e do Som em diferentes municípios das


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