O uso criativo de acervos fotográficos

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Saber vender o seu peixe Na década de 1970, ocorreu o boom moderno da fotografia, que deu ensejo ao surgimento de galerias e museus especializados, dos primeiros festivais e encontros, assim como a criação de departamentos de fotografia em importantes museus de arte mundo afora. Nesta ocasião, era corrente entre os fotógrafos a alegação de que não sabiam ou não se interessavam em explicar suas imagens, pois haviam escolhido justamente se expressar pela fotografia por não terem vocação para a expressão escrita ou verbal. Tal postura era aceita de forma tácita, como um axioma perfeitamente lógico e irrefutável. Na década de 1990 teve início um novo boom da fotografia, ou, mais precisamente, da imagem técnica, que começou a conquistar um espaço crescente no âmbito do circuito de arte até chegar à atual situação de preponderância. Já não se tratava então da fotografia feita por fotógrafos, mas da fotografia utilizada pelos artistas plásticos que, inclusive, em muitos casos, se preocupavam em ressaltar o fato de não serem fotógrafos, mas “artistas” reiterando, assim, um tipo de visão elitista que circunscrevia o fotógrafo e sua produção a um patamar inferior. Não vale a pena se estender aqui a respeito desse tipo de visão equivocada que, na verdade, mascara uma estratégia de mercado bastante clara, pois se a mesma foto for veiculada como produto de um mero fotógrafo, terá valor de venda bastante inferior ao obtido caso seja anunciada como obra de um artista. Até mesmo porque Man Ray que se expressava por meio da fotografia, do cinema, da pintura e da escultura já havia equacionado a questão em 1937, ao publicar o livro La photographie n’est pas l’art, e ao afirmar que não importava saber se a fotografia era arte ou não, pois a arte estava morta e urgia fazer algo novo. Mantendo o foco no fulcro da questão em pauta, o que interessa ressaltar é que, a partir da citada inserção da


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