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José Edvar Costa de Araújo
José Edvar Costa de Araújo
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Mitos sobre o Ceará e o Ser Cearense
Existe uma cearensidade, entendido este termo como um conjunto de características, atributos e valores que caracterizam um típico indivíduo do universo físico e cultural do estado do Ceará?
Existe um Ceará profundo, compreendido como um determinado ambiente humano, como um modo de ser vinculado a certos arquétipos paisagens que possam ser considerados genuínos em comparação com outro Ceará, litorâneo ou superfcial? Existe um Ceará Moleque assinalado por um modo particular e inconfundível de interpretar e de se posicionar diante do mundo e da vida, fazendo troça da própria desgraça ou sendo capaz de zombar do estabelecido?
Talvez seja impossível defender e afrmar peremptoriamente qualquer um destes vieses interpretativos ou de outros assemelhados que circulam entre os considerados especialistas ou autoridades em algumas das áreas de conhecimento e entre pessoas comuns. No entanto, é incontestável que tais ideias circulam e fundamentam o pensamento e as ações de muita gente que pensa e que constrói o Ceará no plano factual ou imaginário.
É verdade também que estas perspectivas são fortes no plano das crenças, das ideologias e das paixões telúricas. O
1 Texto da palestra apresentada no II Simpósio Nacional de Estudos Culturais e Geoeducacionais – SINECGEO, na mesa-redonda Diálogos entre Educação, Geografa, História e Arquitetura.
que não signifca dizer que não tenham alguma legitimidade e alguma importância do ponto de vista do conhecimento sistemático; e que desempenhem um papel indiscutível na construção de uma imagem e de um perfl civilizatório, por mais que muitas vezes possa parecer absurdo ou fque ao sabor da imaginação de cada um.
Também é verdade que outras vertentes interpretativas construídas com base na lógica das ciências têm surgido e ocupado espaços. Ao lado, junto, concordando ou discordando destas primeiras vertentes, em parte ou no todo. Refro-me às contribuições que, nas décadas mais recentes, alguns dos campos de conhecimento científco têm produzido sobre o Ceará: entre eles, a sociologia, a antropologia, a educação, a geografa, a história as artes visuais e a arquitetura.
A oportunidade deste evento e desta mesa parece assim propícia para traçar algumas refexões e desenhar alguns pontos de vista sobre as possibilidades de provocar diálogos da Educação, Geografa, História e Arquitetura entre si com outras disciplinas; diálogos que têm como moldura o Ceará, o ser cearense, o construir do ser cearense.
O Ceará das Festas Comunitárias
Do meu lugar e da minha experiência tento fazer este exercício a partir de descrições e comentários que venho acumulando, ao longo de algumas décadas, sobre as festas que ocorrem em diferentes lugares do estado do Ceará, muitas vezes denominadas de festas populares pelos estudiosos dos campos da educação, da cultura e da comunicação e que, nesta oportunidade, vou chamar de festas comunitárias.
As observações e as especulações que pretendo fazer poderiam ser feitas em torno de outros eventos, mas um dos
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meus lugares e experiências na sociedade cearense tem sido o do estudo sobre as culturas populares e, neste campo, as festas comunitárias têm sido objeto de contínua observação. Além de apresentarem uma vantagem adicional: nelas estão presentes muitos outros elementos que de alguma forma podem revelar modos de ser, de fazer, de contar, de aprender e ensinar das populações e dos setores sociais do Ceará que muitas vezes estão associados às interpretações sobre a cearensidade, o Ceará profundo, o Ceará moleque e outros que tais.
Nestas festas estão presentes as histórias e as paisagens dos lugares e de seus habitantes; histórias que registram, escondem ou exageram seus feitos, virtudes e defeitos. Feitos que estão ligados ao modo de ocupar e usar os espaços, “dominando-o” ou por ele “sendo dominado”. Dominação que implica na consideração de arquiteturas naturais ou criadas e recriadas, teatros e anfteatros naturais e construídos, casas grandes e cabanas, cercas e quintais.
A partir do exame como são criadas, produzidas e consumidas; dos rituais e personagens que as envolvem com inúmeros sentidos e fnalidades; a partir dos espaços que as conformam ou dos espaços que seus fabricantes criam; a partir dos saberes e valores que são expressos, transmitidos, negados ou negociados; a partir dos modos de organização, produção e consumo de lazer e de signifcação; a partir dos modos de repousar, de se alimentar, de se vestir, de reverenciar as fguras e os panteões divinos; por todos estes e outros elementos constituintes, a festas são universos incomparáveis para compreender, observar, aprender, transmitir e arriscar interpretações e construções de sentido em relação às interpretações mencionadas no início deste texto.
Considero necessário, antes de ir adiante, esclarecer o uso da expressão festas comunitárias. Desde certo tempo ob-
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servo que a expressão festa popular não corresponde mais ao modo pelo qual meu olhar capta estes eventos socioculturais.
O uso dos termos cultura popular ou festa popular inúmeras vezes tem produzido interpretações dicotômicas, como se fosse possível operar uma separação defnitiva entre os elementos próprios ou de uso de uma e de outra classe social, geralmente classifcadas como a elite e o povo. A observação e a experiência vivida tem mostrado que tais elementos se misturam. E atualmente esta mistura não diz respeito apenas ao que vem de classes sociais distintas, mas também das gerações distintas e de muitos outros sujeitos coletivos que tem surgido no cenário social.
De modo que as festas originadas há bastante tempo, fora do circuito da indústria cultural, são cada vez mais oportunidades de manifestações de um tipo de arranjo comunitário: em que a expressão e a criação de signifcados envolvem a participação de diversos segmentos e sujeitos sociais, provocando intensas relações de convergência e divergência, de semelhanças e diferenças, de disputas, acordos e confitos. Neste intenso movimento de sociabilidade estão implícitas relações entre conhecimentos, saberes e práticas surgidas em contextos passados e conhecimentos, saberes e práticas originadas em contextos contemporâneos, e cujo estudo e compreensão transitam por campos e disciplinas como a pedagogia, a geografa, a história e a arquitetura e outras áreas não incluídas no título desta mesa.
Da minha experiência pessoal de observação e estudo selecionei algumas festividades para iniciar alguma refexão perceptiva e especulativa. Diversas: pelos sujeitos sociais e as motivações que as sustentam ao longo de um determinado período; pelos desdobramentos e evoluções nas formas de organização e de diálogo com o público, considerando os tempos
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passados e os dias atuais; os espaços naturais em que se realizam e que infuenciam suas formas de existência e mudanças; os espaços construídos para sua realização tradicional ou incorporação de novos signifcados.
Em termos do estado do Ceará são festas associadas a algum tipo de relação com o domínio do sagrado ou do sobrenatural, mas fundadas em diferentes relações com os ditos domínios; localizadas em regiões naturais e culturais que em sua diversidade expressam a multiplicidade que se oculta por trás da convenção de um Ceará aparentemente homogêneo: ocorrem em municípios litorâneos, sertanejos ou serranos; em pequenas localidades interioranas, em cidades médias ou na metrópole capital. Independentemente das relações que estabelecem com o cotidiano e com o sagrado, da região onde acontecem, de serem grandes ou pequenas, de serem comunitárias ou massifcadas, recentes ou muito antigas, atraem pessoas de todos os lugares e simultaneamente são acontecimentos locais e universais.
y Os caretas de Jardim
Jardim, sede do município do mesmo nome, está localizada no cimo da chapada do Araripe, fronteira com o estado de Pernambuco, fazendo limites com os municípios cearenses de Barbalha, Missão Velha, Porteiras e Jati e com o município pernambucano de Serrita. Em certas localidades rurais, brincam os moradores ao dizer que uma parte de suas casas está em Pernambuco e outra no Ceará; de acordo com as descrições bem-humoradas, até as águas das chuvas aí se dividem; caindo de um dos lados dos telhados correm para o Ceará, caindo do outro, correm para Pernambuco.
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Anualmente acontece no município de Jardim, disseminada por todas as localidades rurais e urbanas, centralizada na sede do município, a Festa dos Caretas. No artigo A Festa dos Caretas – parte II, publicado no dia 2 de abril de 1991 no jornal O POVO destaquei a hipótese segundo a qual “os acontecimentos que hoje formam a Festa dos Caretas reúnem três elementos da tradição popular: os caretas, o roubo durante a Semana Santa e a malhação do Judas”.
Em outra passagem do texto afrmava que “ganhando adeptos e enfrentando oposições, a Festa dos Caretas faz concessões ao mesmo tempo em que cria as condições para a transgressão nos limites sociais aceitáveis. Uma das concessões foi o fm do saque ao sítio do Judas pouco antes da sua derrubada. Este era um dos momentos de maior violência e causa potencial de confitos. Em compensação, a organização da festa, atualmente soba a responsabilidade da Sociação dos Karetas de Jardim – SKJ, dá total assistência aos caretas que são perseguidos por causa dos “roubos” de perus, galinhas, feijão, cana e outros alimentos que servem de alimentação para os brincantes”.
Bem próximo da cidade de Jardim, embaixo, no sopé da chapada do Araripe, está Barbalha, cujo calendário religioso e civil destaca no mês de junho a Festa Santo Antônio, Padroeiro do município por imposição do catolicismo quando este considerava toda a população como parte da comunidade católica.
Santo Antonio e o pau da bandeira
Escrevia no mesmo ano de 1991 que a Festa de Santo Antônio padroeiro de Barbalha se multiplica em festas, cada uma com sua face própria; esferas distintas no conjunto das relações da comunidade, inter-relacionadas pela história pas-
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sada e pelo destino futuro: a festa religiosa, a festa social e a do pau da bandeira.
A festa religiosa está indissoluvelmente ligada ao surgimento da povoação, conforme o testemunho dos estudiosos Marchet Callou e Napoleão Tavares Neves, ancorados aos estudos de outros tantos historiadores regionais. A povoação inicial, depois município e cidade surge em redor da capelinha do sítio da Barbalha de propriedade do capitão Francisco Magalhães Barreto e Sá, que consagra seus domínios materiais e humanos ao santo padroeiro da localidade de origem em Sergipe.
A festa do Pau da Bandeira também tem origem antiga. Não havendo documentos ou informações precisas, os dois estudiosos da história local já citados concordam que as referências mais antigas ao cortejo do mastro podem estar ligadas à passagem do padre Ibiapina pela região do Cariri. O padre mestre aconselhava o hasteamento da bandeira do Santo Padroeiro nos dias de festa diante das igrejas ou das casas onde houvesse comemoração. Independentemente desta especulação, o cortejo do pau como um momento destacado da festa de Santo Antonio em Barbalha, com algumas das características atuais, tem seguramente mais de 60 anos. Esta certeza se baseia em que há mais de 60 anos a árvore vem sendo doada pelo doutor João Filgueira Teles e retirada de seu sítio São Joaquim.
A chamada festa social, onde tem lugar quermesses, leilões e em épocas mais recentes os shows e forrós, também se origina da festa religiosa. Inicialmente eram apenas as barracas no patamar e ao lado da Igreja onde aconteciam os leilões em benefício da paróquia; em torno delas os partidos, o Azul e o Encarnado, disputavam o mérito da maior arrecadação. A festa social cresceu e passou de acontecimento de natureza familiar para o parque de diversões amplo e diversifcado montado na praça Engenheiro Dória; depois agigantou-se no Par-
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que da Cidade e nos dias atuais divide-se entre a característica inicial de festa familiar ao lado da matriz e a existência de numerosas festas espalhadas por inúmeros recantos da cidade.
Os estudos sobre a Festa de Barbalha assinalam o ano de 1975 como o momento da passagem da pequena festa local marcadamente comunitária para a Festa de consumo turístico. Naquele ano o prefeito Fabriano Sampaio colocou em execução a ideia de realizar a festa social na praça ao lado da Igreja do Rosário e a ela incorporou os produtos artesanais, as comidas típicas e os grupos folclóricos. Estava iniciada a era de atenção ao potencial turístico da Festa de Santo Antônio.
São Pedro no mar do Mucuripe
Em artigo intitulado No revolto mar da vida, publicado no jornal O POVO de 4 de julho de 1991, descrevo aspectos de uma festa distante do Cariri rural: a festa de São Pedro, o pescador, típica de comunidades ribeirinhas ou praianas. “Termina o terço na Igreja de Nossa Senhora da Saúde. O Mucuripe desce para a praia. À frente, São Pedro nos ombros de velhos companheiros do mar. Em volta, o pessoal da Casa do Idoso, com suas batas azuis, e os moradores. Cantando, rezando, batendo palmas, soltando fogos, eles restauram a si próprios e ao bairro. Reconhecem em cada palmo daquele chão o trabalho e a vida de gerações. O Bráulio, com seus noventa e tantos anos, pernambucano das praias de Olinda aportado no Ceará, aponta com toda certeza o lugar onde foi sua casa e que agora é calçadão”.
“Antes da missa, selo da religião ofcial sobre o tecido da religiosidade popular, o encontro da comunidade com o Estado. Governador, Secretários, Prefeito, Parlamentares buscam a legitimação através do contato direto com a praça ou através da intermediação das lideranças formais e infor-
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mais. As autoridades reconhecem em seus discursos o valor do povo; as lideranças locais aproveitam o momento propício a compromissos e tentam acordos no sentido das aspirações sentidas. A assistência ouve os dois e aplaude. Esperança. Fé. Persistência. O que ela pensa mesmo de tudo isso?” Procissões de São Sebastião na Barra do Ceará
Na mesma cidade, em outro bairro, Barra do Ceará, caracterizado pelo encontro do rio Ceará com o Oceano Atlântico, na tarde do dia 20 de janeiro de 1990 acontece o encerramento da Festa de São Sebastião.
A festa estava anunciada para iniciar às 17 horas, embora os organizadores já estejam no local cerca de uma hora antes. O local é a praça Nova Lisboa, exatamente no entroncamento da Avenida Perimetral com a avenida Beira-Rio. Ali, fca o ponto terminal de diversas linhas de ônibus interbairros: Perimetral Messejana – Barra, Barra do Ceará – Aldeota, Barra do Ceará – Vila Betânia, Leste-Oeste, Barra – Mucuripe, além da linha que sai do bairro para o centro da cidade. É antigo ponto de convergência: pescadores e vendedores de peixe, ofcinas de construção e consertos de barcos e a antiga parada do “ônibus da verdura” na época das festas de término de curso no Clube de Regatas Barra do Ceará.
O encerramento da Festa de São Sebastião começa no ancoradouro localizado no fundo da praça, onde estão 14 barcas enfeitadas e prontas para receber as pessoas que querem ir à procissão fuvial. Dali, as barcas saem enfleiradas até o ancoradouro localizado em frente ao Clube de Regatas Barra do Ceará. Ao mesmo tempo em que o cortejo dos barcos se desloca pelo rio inicia-se a procissão terrestre pelas ruas. O carro de som da paróquia centraliza a coordenação. A irmã Leo fala pausadamente; pede fé e silêncio; orienta a formação de duas
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flas. Avisa que os integrantes da procissão de terra não podem entrar nos barcos quando se iniciar a procissão fuvial.
Festa de finados em Ocara
No universo das festas comunitárias no Ceará, entre as primeiras horas da noite do dia 1º de novembro e as primeiras horas da madrugada do dia 2, anualmente se repete na localidade de Ocara um acontecimento que desperta curiosidade. Centenas de pessoas das mais diferentes localidades, vilas, distritos e cidades, se dirigem para lá e neste intervalo de tempo que dura apenas uma noite enchem com seu movimento o largo em redor da igreja, algumas ruas vizinhas e o caminho do cemitério.
Em anotações de campo relativas ao ano de 1991 registrei que “Françui Correia, agricultor, nascido e criado na vizinha Vila São Marcos, conhecedor da festa como todos os moradores locais, mostra-se surpreendido ao enumerar de cabeça os lugares de onde o pessoal vem para a festa: Quixadá, Pacajus, Chorozinho, Serragem, Novo Horizonte, Borges, Piancó, Barreira, Redenção, Aracoiaba, Passagem Funda, Vazantes, Ideal, Lagoa de São João, Vage da Onça, Vage da Abelha, Vage Queimada, Carnaúba, Sereno de Cima, Sereno de baixo, Croatá, Córrego do Facó, Placa do Zé Pereira, Pirangi, Boa Vista, Córrego das Vacas, Curupira, Placa da Ocara, lagoa do Riacho, Lagoa do Velho, Barro, Seis Carnaúbas, mato Queimado, Foveira, Cristais, até de Fortaleza vem”.
Acrescenta o mesmo depoente que “As festas religiosas de Santo Antonio e de Nossa Senhora de Fátima defnharam. Elas também atraíam muita gente de todos os lugares em redor. Mas, aos poucos, foram diminuindo, foram fcando reduzidas às celebrações estritamente religiosas. Desapareceram as noitadas animadas, os leilões fartos. Relembra Françui: ... na década de 70, quando iniciaram as festas da Igreja
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elas foram animadas. Porque não existia diversão nenhuma e quando a “radiadora” chegava aí que botava a primeira música quem tava no roçado apanhando algodão fcava tudo doido. A festa era animada, o dinheiro que se adquiria era para gastar na festa... todo mundo rematava o que tinha. De bolo, de cabidela... e não era só rico que comia não. O pobre também participava. Agora, hoje... é arroz com farinha”.
Diálogos, Mitos, Festas e Escola: “Informal” e o “Formal”
Para as possibilidades de diálogo, o estudo das festas pode contribuir muito para a refexão acerca do ser cearense, tanto do ponto de vista dos mitos fundadores quanto do ponto de vista de mitos explicativos contemporâneos.
A refexão sobre o ser cearense se constituiu inicialmente através da literatura de fcção, dos cronistas e memorialistas; mais recentemente recebeu a contribuição dos sociólogos, folcloristas, historiadores e educadores; fliada a diferentes correntes de pensamento e apresentada como desinteressada, está vinculada a interesses concretos de setores, grupos e categorias sociais e a necessidades de posicionamento nos embates ideológicos, políticos e intelectuais.
A refexão apresentada aqui tem também um interesse defnido no âmbito da atual produção no campo da história da educação no Ceará; é rascunho de um projeto de estudo sobre a história da educação escolar na região norte do Ceará, associando a formação das redes de ensino com a educação não formal presente no contexto: identifcando nas festas comunitárias os elementos que infuenciam as demandas por escolarização, os ambientes e interesses da organização escolar, a formação dos professores, os programas de ensino e outros aspectos do universo da cultura escolar.