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Stanley Braz de Oliveira

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Jörn Seemann

Jörn Seemann

AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DA IGREJA CATÓLICA NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE TERESINA-PI

Stanley Braz de Oliveira

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Considerações Iniciais

Para conseguirmos entender o processo que envolve as relações políticas educacionais da Igreja Católica e a produção espacial urbana de Teresina, recorremos à Geo-história. Nesse sentido, fez-se uma análise da Igreja Católica como produtora espacial e gestora política no estado do Piauí e, a partir daí, compreender de onde vinha sua prática e seu poder de ação. Através de escolas confessionais, a Igreja Católica foi delimitando o espaço urbano da então planejada Teresina, não só demarcando, mas criando e educando à luz divina e se cristalizando como agente produtor espacial de extrema importância para o desenvolvimento da cidade. O que nos leva a afrmar que a educação foi sua principal técnica para esse processo. Esta análise é parte da pesquisa de Doutorado em desenvolvimento sobre a Geo-história de Teresina na perspectiva das ações da igreja católica no âmbito da educação.

A Geo-História: uma Contextualização

A relação espaço e tempo é intrínseca onde os obstáculos da natureza são superados e com isso surgem novos espaços e a necessidade de conhecer essa dicotomia tempo/espaço que vai criando subsídios para a consolidação da Geo-história como ciência, em que, para se analisar o tempo ou espaço, é necessário se relacionar os dois (SANTOS, 1980). Com o surgimento de movimentos de renovação do pensamento geográfco

no século XX, três movimentos fundamentam o pensamento Geo-histórico: a Geografa Histórica e Cultural, a Nova Geografa e a Geografa Radical ou Crítica, que deram suporte para a valorização da história nas análises dos processos espaciais.

Conforme o pensamento de Braudel (1996b), era preciso quebrar a dialética tempo/espaço, visão que recebeu apoio de Vidal de La Blach, o qual agregou sua concepção e essa aliança propiciou novas compreensões sobre espaço, haja vista a ideia de “comunicação”, que, em suas teorias torna-se fundamental para o desenvolvimento científco, cristalizando-se na sua maior temática a da “circulação”, a que são agregadas às várias concepções sobre espaço e tempo, e, defnitivamente, contribuem para a formação dessa nova ciência, a Geo-história, pois todas as contribuições que se propõem a analisar o espaço necessitarão do tempo, visto que, desde os primórdios das ciências geográfcas já se utilizava o tempo para se entender o espaço, mesmo sem uma precisão real sobre ele. Nesse sentido, várias tentativas foram feitas pela ciência no intuito de quebrar essa dicotomia tempo/espaço, mas só tivemos essa quebra com maestria em Braudel (1996b).

Essa evolução no pensamento da Geo-história torna visível que a História é uma das ciências mais próximas da Geografa, em que esta precisa daquela para entender os tempos passados para a construção do espaço, porquanto o espaço é resultante de diferentes períodos históricos. E, para conhecer o espaço, é necessário o entendimento de seu processo histórico, e esses fatos demonstram a relação intrínseca da ciência geográfca com a História, levando a várias discussões e contribuições como a do historiador Lucien Febvre que, através da Escola de Analles, fortalece a Geografa moderna e contribui para as inovações dentro do conhecimento geográfco. Assim como outros teóricos que produziram contribuições

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para a consolidação da Geo-história, dentre eles merecem destaques Jean Brunes, Augusto Longno, Carl Sauer, através da escola de Berkeley, que difundiu suas teorias sobre a História Cultural com um direcionamento aos das ações antrópicas sobre a paisagem, e que contribui também para o surgimento da Geografa Cultural, sem esquecer ainda Paul Claval, que também somou no desenvolvimento da Geo-história.

A evolução do pensamento da História, através da valorização da Geografa, dentro de suas concepções, foi fundamental para a Geo-história como ciência, a partir das teorias do historiador Vidal de La Blach, que valorizaram signifcativamente a ciência geográfca como ciência que contribui para os estudos históricos, assim cristalizando a cientifcidade da Geo-história que surge no século XXI trazendo uma renovação no pensamento da História, substituindo os relatos por análises vividas e por ações interdisciplinares entre a Geografa e a História e, dessa forma, modifcando a concepção sobre espaço-tempo.

Mas foi dentro da Escola de Analles citada anteriormente que a Geo-história ganha sua valorização científca através de Lucien Febvre, Henry Berr, Mac Bloch e de seu maior contribuidor, Fernand Braudel, pois, foi a partir da criação do tema “tempo de longa duração” que ele propõe a ruptura com a História Tradicional, levando-nos a ver as múltiplas temporalidades do tempo, superando o simplismo e o linearismo fragmentado da história tradicional. Segundo Santos (1996), essa percepção de Braudel cria arranjos de infuências nas mais diversas ciências, desde as sociais às naturais e até mesmo podendo ser entendida como o processo de colonização da Geografa.

Braudel, como citado anteriormente, dá à História e à Geografa várias contribuições. Para ele, a interdisciplinarida-

de servirá para entender a complexidade do passado e seus isolamentos, criando a essência de totalidade dos fatos. A sua produção clássica, O Mediterrâneo, consiste na sua primeira contribuição para a Geo-história, quando lança a concepção de “longa duração”, proporcionando uma nova visão de tempo, que era limitada ao pensamento de tempo breve. Para Braudel (1996b), o curto prazo e o longo prazo coexistem e são inseparáveis, com isso ele agrega à Geografa uma nova visão de ver o espaço não somente no presente, mas também no passado, desconcentrando a Geografa das formas espaciais atuais, para se começar a ver o passado e a trajetória das ações no espaço, ligando a Geografa com a noção de longa duração de tempo.

As contribuições para a Geo-história ao longo de seu desenvolvimento servirão de suporte parao entendimento das contribuições das ações educacionais da Igreja Católica para a produção do espaço urbano teresinense, pois só será possível a busca da evolução espacial através de uma análise dos fatos ao longo do tempo. Como a exemplifcar esta produção científca que faz uma análise dos primórdios da produção espacial piauiense para entender a sua atualidade.

A Igreja Católica e o Território Piauiense

O Piauí, que tem a sua produção territorial ligada à atividade pecuária, construiu uma cultura sertaneja entrelaçada pela religiosidade e pelos vaqueiros que representam a historicidade da produção do território piauiense. A maior parte das cidades piauienses foi criada a partir da atividade pecuária, que produziu as grandes fazendas que posteriormente originaram as primeiras cidades, organizando a estrutura político-administrativa.

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O calendário festivo religioso ligado à fgura do vaqueiro, fato que está relacionado com a atividade pecuária que desbravou o território piauiense, cristalizando-o como província PIAUHY em 1758, explicita a hegemonia religiosa da igreja católica no território piauiense e contribui para o surgimento das primeiras vilas e, posteriormente, as primeiras cidades, tendo sua organização espacial formada pela cidade de Oeiras e as vilas de Valença, Marvão, Campo Maior, São João da Parnaíba, Nossa Senhora do Livramento do Parnaguá e Jerumenha, como ilustra a imagem a seguir.

Nesse contexto, a Igreja Católica participou ativamente na produção espacial do Piauí, tornando-o território propício para a divulgação da fé proposta por ela. Nessa perspectiva, a maioria das vilas que posteriormente vieram a tornar-se cidades, tem nomes ligados à Igreja Católica, e as que não têm essa explícita relação, foram cristalizadas festividades religiosas que construíram a cultura do Piauí atrelada a ela, acompanhando o desenvolvimento

populacional, disseminando o catolicismo popular e obtendo adesão signifcante da população piauiense da época. Embora não existisse uma articulação considerável entre as fazendas, vilas e cidades, a igreja produzia novenas nas fazendas condicionadas às festas em homenagem aos santos, que se tornariam os padroeiros das futuras cidades. Posteriormente, esses santos seriam os companheiros mais próximos aos féis, proporcionando-lhes uma ligação com o sobrenatural, construindo uma religiosidade vertical (BAKKER, 1974).

Era visível a junção entre igreja e Estado, na qual a primeira atendia as cerimônias políticas, excluindo desses momentos os menos favorecidos, que só se integrariam nas novenas, festividades cristãs que favoreciam uma maior aproximação, mas com visível segregação entre os detentores de poderes políticos e administrativos. Todavia, era necessário estar no meio de todos os féis, visto que era através da religiosidade que a igreja mantinha o seu prestígio e poder na sociedade, usado para produzir as cidades piauienses.

Como no período colonial a relação poder e religiosidade permanece ativa, visto que algumas cidades vão se tornando polo de desenvolvimento, consequentemente, a igreja dá maior importância a elas, estruturando sua administração de acordo com a importância da cidade e com as regionais administrativas do território piauiense, possibilitando assim o seu crescimento, a organização do Estado e da própria Igreja. Nesse sentido, a organização da Igreja fez comandos estratégicos, instalando em cada cidade polo de desenvolvimento uma diocese para cultivar e distribuir a religiosidade católica, o que contribuiu signifcativamente para a construção espacial do estado do Piauí.

Essa confguração espacial dá início à produção territorial do Piauí, onde já é possível ver a presença da religiosidade

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na identifcação das cidades como Nossa Senhora do Livramento e São João da Parnaíba, fato este que só foi possível devido à participação da Igreja Católica na produção espacial do Piauí, porquanto foi a primeira a reconhecer a existência deste Estado antes mesmo da Coroa Portuguesa, através da criação da freguesia de Nossa Senhora das Vitórias, que posteriormente viria a se tornar a capital da província e com uma nova denominação: Oeiras, que somente no século XIX perderia seu titulo de capital piauiense para a então planejada Teresina, que surge carregada de interesses políticos do Estado e da Igreja.

O Espaço Urbano Teresinense

A cidade de Teresina explicita o modelo capitalista de produção, surge planejada nos anos de 1822, guiada por um interesse político do Estado e da Igreja. Cristalizou-se entre dois rios, Poti e Parnaíba, com a intencionalidade de gerar economia e uma maior ligação com o interior do estado, e como isso se formou uma paisagem urbana planejada, guiada pela ideologia capitalista da classe dominante da época. Também construiu um centro comercial às margens do rio Parnaíba, com armazéns e um comércio voltado às necessidades da sociedade que, orientada pelos ditames do capitalismo (CORRÊA, 2002), movimentava a produção do espaço urbano teresinense.

É visível como os espaços urbanos agregam funções e serviços, em constante processo de mutabilidade, criando valores para o solo urbano, que se explicita a partir da inter-relação do trabalho e capital que alimentam as estratégias capitalistas, colocando o trabalhador como principal agente do espaço urbano, levando-nos a ver que o espaço é fruto de seus agentes, e que, através de seus interesses, cristalizam sím-

bolos, constroem paisagens, estruturando o contexto sócio-espacial de um determinado lugar. Em Teresina, é possível identifcar na relação tempo-espaço que dois agentes espaciais foram vitais para sua produção e organização: o Estado e a Igreja, que agregaram às suas ações, as ideologias com as ideologias capitalistas e produziram um espaço imbricado de flosofas e interesses.

Com efeito, a Igreja Católica é um agente produtor do espaço urbano de capital importância, porquanto direcionou o crescimento da cidade, fazendo de suas escolas confessionais um instrumento de educação elitista e impulsionador do crescimento espacial, limitando o espaço urbano teresinense, induzindo-nos a aceitar o papel de agente produtor da Igreja Católica, que aliou educação com produção e organização espacial, valorizando os espaços nas proximidades de suas escolas e criando uma educação de alto custo voltada para atender a elite local.

O fato de Teresina ser planejada difere de muitos outros espaços urbanos, dando a seus agentes o poder de guiar e organizar, através de estratégias políticas que originaram a cidade e foram imprescindíveis para seu desenvolvimento, desde sua criação, nos anos de 1822, fazendo-a evoluir espacialmente, direcionada pelas ações do Estado, sobretudo da Igreja, através de suas relações íntimas de poder. O potencial de polo atrativo que as capitais agregam e o seu desenvolvimento econômico e urbano transformaram Teresina em centro dinâmico e com maior facilidade de gerenciamento do restante do território estadual. Nesse sentido, a Igreja Católica participou da produção e organização do espaço teresinense de forma marcante através de seus templos, como a Igreja do Amparo, que se fxa como o marco da produção espacial urbana teresinense. Conforme imagem a seguir.

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Fonte: BRAZ, Ângela Napoleão. Estrutura urbana de Teresina no período de 1852 a 1900. [200-?]. (mimeo.), p.7.

O poder de produtor espacial da Igreja Católica permite-lhe se impor no espaço da cidade, determinando até onde ela iria, e nos momentos de perda de força, de poder ou decisão, se reorganiza e retoma o direcionamento da produção do espaço teresinense. Dessa forma, faz da Educação e das escolas confessionais instrumentos para se reorganizar como também para direcionar o crescimento da cidade:

[...] as ações da Igreja Católica [...] visam enriquecer o entendimento de como se dão e de como se organizam as relações entre poder e espaço na produção de territórios. O estudo do território na perspectiva de se conhecer melhor a história da Educação e os desdobramentos das políticas educacionais é apenas um caminho de aborda-

gem na procura sempre constante do entendimento do espaço enquanto multidimensional (VASCONCELOS JÚNIOR, 2011, p.158).

O traçado urbano teresinense demonstra o refexo dos interesses de seus agentes. De acordo com Corrêa (2002), o espaço é um produto social, é através do uso do solo por seus agentes, que vai se organizando de acordo com os que o ocupam.

O uso reaparece em acentuado confito com a troca no espaço, pois ele implica “apropriação” e não “propriedade”. Ora, a própria apropriação implica tempo e tempos, um ritmo ou ritmos, símbolos e uma prática. Tanto mais o espaço é funcionalizado, tanto mais ele é dominado pelos “agentes” que o manipulam, tornando-o unifuncional, menos ele se presta à apropriação. Por quê? Porque ele se coloca fora do tempo vivido, aquele dos usuários, tempo diverso e complexo (LEFEBVRE, 1986, p.411-412).

As relações de poder e troca que aconteceram no espaço urbano teresinense demonstram a ligação entre os maiores agentes espaciais urbanos da cidade: a Igreja Católica e o Estado, que por muitos anos foram os principais gestores de sua produção, onde construíram espaços e se fexibilizaram quando necessário, produzindo a evolução da malha urbana da cidade através dos seus interesses capitalistas. E a igreja, a partir de suas ações educacionais, deu seu maior legado para a produção desse espaço.

As ações da Igreja Católica na produção dos espaços urbanos brasileiros em geral sempre foram discutidas e analisadas, mas as suas ações educacionais não eram visualizadas, com destaque sobretudo nas análises espaciais. Portanto, analisar a Igreja e suas ações educacionais, que unem flosofas internas aos ditames capitalistas é, para a ciência, muito importante, dada sua inovação nas análises geográfcas sobre o

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espaço urbano. Desse modo, é possível observar as dinamicidades dos agentes produtores espaciais de forma mais clara e objetiva, como a exemplifcar a seletividade espacial da Igreja Católica, refetindo interesses e decisões, que vão resultar na difusão espacial (CORRÊA, 2003), usando-a para traçar sua apropriação e controle sobre o território, construindo assim a sua territorialidade religiosa, como reforçam Rosendahl e Corrêa (2006), ao afrmarem, categoricamente que o território, por ser um conceito-chave na Geografa, é um importante instrumento de existência e reprodução do agente social que o criou e o controla. Souza (2003) ratifca-o ao dizer que “O território é, fundamentalmente, um espaço defnido por e a partir de relações de poder.” (SOUZA, 2003, p.78). Esses insights demonstram que o planejamento da Igreja se reorganiza ao usar a educação para a disseminação do catolicismo, demarcando assim seu território e se mantendo no poder, renovando sua importância dogmática e de agente produtor do espaço num entrelace de flosofas internas e ditames capitalistas.

Corroborando a discussão, Vasconcelos Júnior (2006) reforça que a reestruturação institucional da Igreja Católica em recatolizar o povo nos moldes da Igreja Católica Romana, e não mais no modelo brasileiro, era o ponto de partida das novas políticas internas da Igreja, tendo início com a laicinização do ensino público e posteriormente com as escolas confessionais, que objetivavam reeducar a sociedade, modernizá-la dentro de suas novas ideologias e costumes, e conter as escolas acatólicas ou neutras, como consta no Concílio do Vaticano I. Assim, a Igreja Católica, unindo interesses, seleciona os melhores espaços para escolha e desenvolvimento da educação confessional.

Com essas ações produtoras, Teresina trilhava seu desenvolvimento. Por seu turno, a Igreja precisava conservar

seus dogmas e, com o desmembramento das dioceses do Piauí e Maranhão, que resultou na independência da Diocese de Teresina, esta foi elevada à categoria de Arquidiocese e Província Eclesiástica do Piauí em 9 de agosto de 1952, pela Bula Quaemadmodum Insignes do papa Pio XII, sendo posteriormente denominada Arquidiocese de Teresina. A Igreja segue os planejamentos internos, e as escolas confessionais e os seminários, que objetivavam fazer uma educação à Luz Divina, produziram o espaço urbano teresinense que, por ser planejado, se tornou mais fácil de conduzir seu crescimento e conservar a orientação religiosa do povo. Em 1906, surge a primeira escola confessional, vislumbrando a manutenção dos princípios católicos, ameaçados pelos republicanos, que não queriam mais a Igreja no comando da educação, condicionando à Igreja Católica a educação confessional, que fortaleceu seu poder de agente produtor e capitalista para o direcionamento do crescimento espacial urbano da cidade e obtenção de lucros com uma educação elitizada.

As Ações Educacionais da Igreja Católica e as Contribuições para a Produção Espacial Urbana de Teresina-PI

Com a necessidade de manter-se em destaque, a Igreja Católica concretiza suas ações com a instalação das escolas confessionais em 1906. Por intermédio do Bispo Dom Joaquim Almeida são chamadas ao Piauí as irmãs Catarina de Sena, para instalar uma escola voltada para a educação feminina, que dessa forma colabora com a evolução social e espacial de Teresina. Essa escola denominou-se Colégio Sagrado Coração de Jesus – Colégio das Irmãs, que, após cristalizar sua ideologia, se instala na avenida Frei Serafm, uma das principais vias de fuxos da cidade da época e da atualidade,

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mostrando assim o poder de produção espacial e conservação dos dogmas da Igreja Católica, visto que a escola servia de limite espacial da cidade no sentido centro-norte.

Posteriormente este limite estabelecido pelo Colégio das Irmãs foi substituído por mais uma ação educacional da Igreja Católica, o Seminário Arquidiocesano Paulo VI, nas proximidades do rio Poti, limite que até então era o limite espacial da cidade, sendo superado após a construção da ponte Presidente Juscelino Kubitschek nos anos de 1959. Onde inicialmente possuía uma estrutura de madeira, com a evolução espacial e econômica de Teresina, ergue-se em seu lugar uma estrutura de concreto ligando defnitivamente o centro da cidade à zona leste, até então isolada pelo limite natural do rio Poty. Paralelo à criação do “Colégio das Irmãs” e o seminário, tivemos o Colégio e Seminário Diocesano delimitando o espaço urbano da cidade no sentido sul, que, após passar por vários momentos de difculdades, em 1º de fevereiro de 1925, com a denominação de “Colégio São Francisco de Sales”, reabre cristalizando mais uma ação educacional e de produção espacial da Igreja Católica, desenvolvendo a cidade no sentido centro-sul e, com isso, explicitando a sua ação de agente produtora no espaço urbano teresinense.

1ª Construção Fonte: www.facebook.com.br 2ª Construção Fonte: www.facebook.com.br

Após o rompimento da barreira natural, o rio Poty, a cidade inicia um desenvolvimento no sentido leste, surgindo bairros, rompendo os limites urbanos até então delimitados, e com isso a Igreja Católica reorganiza o seu território criando a “Escola Agrícola Santo Afonso” e, com ela, um símbolo e um novo limite espacial urbano em Teresina. E assim Teresina foi se construindo e reconstruindo, tendo na igreja um agente absolutamente signifcativo para sua atual confguração espacial, carregada de simbologias, formas e historicidades construídas através das políticas internas daquela instituição religiosa, sem abrir mão da educação, um de seus maiores instrumentos de produção espacial.

Considerações Finais

A Geo-história, através de sua visão científca, permite-nos entender a dicotomia tempo-espaço produzida pelas ações da Igreja Católica, agente produtora do espaço urbano de Teresina. Nesse contexto é que a Igreja, sempre lado a lado com o Estado, fez dos seus templos um símbolo clássico de que ali havia uma organização espacial. A análise sobre essa relação nos deu sustentabilidade para identifcar como a Igre-

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ja Católica interferiu nesse ambiente, tendo em vista que a sua evolução espacial sempre caminhou pari passu com as ações educacionais daquela instituição religiosa, a qual foi instituindo os fxos e símbolos que direcionaram a cidade em sua malha urbana por muito tempo, sobretudo através do “Colégio Sagrado Coração de Jesus” (Colégio das Irmãs) e do “Colégio Diocesano”, ou do “Colégio Santo Afonso”. Nesse sentido, a Igreja Católica agiu ativamente, delimitando espacialmente os espaços urbanos de Teresina, cristalizando e perpetuando seu poder nos pontos estratégicos da cidade.

A Igreja Católica e as escolas confessionais por meio do paradigma “educar à Luz Divina” conseguiram agregar ao mesmo tempo educação com planejamento espacial, direcionando e limitando o crescimento urbano da nossa cidade. Assim, fca evidente a interferência da Igreja Católica como agente espacial, que utilizou a educação como sua principal aliada nesse processo, a fm de construir uma cartografa que deixasse a sua marca no espaço e na história da cidade, explicitando o poder do sistema educacional como instrumento agregador e produtor de um espaço.

Referências Bibliográfcas

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