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Imunização
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IMUNIZAÇÃO
Por Társio Alves
O tema da “imunização” emerge de toda situação que enfrentamos diante da atual pandemia do Coronavírus, sendo de notório saber que ele se tornou demasiadamente político, uma das maiores crises humanitária e sociais dos últimos tempos, que gerou uma verdadeira disputa de narrativas negacionistas, anticientificistas, de fake news, atrapalhando, confundindo toda população, levada a um total abandono.
Este ensaio surge com a provocação da disciplina Imagem Experimental Contemporânea da Universidade Católica de Pernambuco no
“Numa furada apenas 524.475 mil óbitos poderiam ser evitados”
curso MBA Cultura visual: Fotografia & Arte Latino-Americana, que discutiu as diversas possibilidades híbridas em torno da imagem.
O registro das imagens aqui apresentadas foi realizado em meados de julho de 2021, em um dos postos de vacinação do Recife. Nessa data - 04 de julho de 2021 - somavam-se mais de 558 mil os mortos pela Covid. Uma reverberação de revolta, raiva, dor, amor, esperança, alegria, e mais alguns sentimentos: empatia e solidariedade.
Mesmo usando um equipamento digital, existe uma busca por trazer imagens propositalmente indefinidas, borradas, com múltiplas exposições, tornando assim este ensaio ainda mais experimental e híbrido, problematizando a concepção convencional de imagem fixa, nítida, bem definida e na maioria das vezes em busca de uma imagem sempre ¨bonita¨. Todas essas ¨técnicas¨ citadas ocorreram ao longo dos avanços da fotografia por gerados por ¨erros¨ cometidos e/ou problemas mecânicos nas câmeras e também provocados no processo de revelação, que logo são dominados e assumidos como novas possibilidades técnicas.
As imagens poderiam ter sido feitas com qualquer outro artefato capaz de “gravar” a luz, lambe-lambe, ambrotipia, ou até mesmo em película. O que faz a gente perceber experimentos e possibilidades, como bem aborda Flusser em seu texto Filosofia da Caixa Preta: ¨Não se trata nesta revolução fundamental, de se substituir um modelo pelo outro. Trata-se de saltar de um tipo de modelo para outro (de paradigma em paradigma)¨ (Flusser, 1985, p. 40)
Podemos nos referir ao novo paradigma da fotografia que são as câmeras sem espelho, as Mirrorless. Nesse novo paradigma, temos a tela de LCD para conseguir uma fotometria com mais ¨precisão¨ e com maior facilidade e velocidade. Essas câmeras chegam a 30/fps, deixando a fotografia ainda mais automatizada, na busca por uma imagem sempre “bonita” e “perfeita”. “A disseminação de novos formatos das imagens e as sobreposições entre as formas visuais serão aqui consideradas desde a per-
spectiva das hibridizações entre as imagens fixas e as imagens em movimento, em especial as novas modalidades de temporalização das imagens surgidas com o vídeo e as tecnologias digitais”. (Fatorelli, 2013, p 08)
Poderia dizer que essa foi a intenção ao escolher uma câmera digital dslr, tentando quebrar os clichês.
Em ensaio apresentado no Fórum latino-americano de fotografia, Lissovsky apresenta as DEZ PROPOSIÇÕES SOBRE A FOTOGRAFIA DO FUTURO.
Na segunda proposição ele afirma: “Só há instantâneo fotográfico porque tempo e movimento foram dali extraídos pelo fotógrafo (‘enquanto ele espera’)”. Enquanto, na décima proposição, ele faz uma reflexão: “Na experiência moderna o fotógrafo já foi essa resistência, essa demora que se interpunha entre olho e o dedo, que investia na potência da espera como lugar de retardamento do devir instantâneo do tempo”. E continua: “Os fotógrafos contemporâneos têm outros desafios pela frente. O retardamento que se impõe não é mais à mesmice dos instantes, mas a reprodução instantânea dos clichês”.(Lissovsky, 2010, p. 2-6)
Esse talvez seja o maior problema que testemunhamos nas milhares de imagens produzidas e reproduzidas todos os dias que buscam apenas os clichês e as “curtidas” das redes sociais.
Essas são algumas reflexões a respeito da constante evolução da imagem entre novos paradigmas, formatos, experimentos que estarão sempre em movimentos híbridos. E cabe a nós nos apropriarmos das tecnologias da imagem para experimentarmos potência, mas rompendo os clichês e fugindo das imagens que apenas buscam agradar.
Obs: Todas as frases citadas que acompanham as fotografias foram extraídas a partir de uma pequena pesquisa nas publicações das redes sociais.
“Viver é um ato político. Viver no Brasil é resistir ao negacionismo”
“O dia mais feliz e esperançoso em um ano. Mainha vacinou”
“Seguimos com os protocolos: máscara, álcool e distanciamento! Vai passar...”
“Hoje não foi um dia de celebração, foi um dia de indignação e impotência. Dor pelos que se foram e todas as vidas e histórias interrompidas... Pelo Rodrigo, pelos pais, mães, filhos, netos e amigos. Muitas Vidas se perderam. Muitas.”
“O SUS salva! Ele não.”
“Uma dose de esperança”
Chorei, chorei, chorei! Ufa!”
“... Ele se foi com 45 anos de idade. Se foi poucos dias antes da data que seria sua data de vacinação...”
“Vacinar-se é um ato de respeito ao próximo e amor à vida”
“Vacina boa é vacina no braço!”
“Vacinar-se sempre é certo. Fique em casa se puder e se cuide!”
“Chegou a minha vez. Jacaré. Só tenho a agradecer”
“Que todos os brasileiros tenham essa oportunidade. Gratidão!”
“No braço, esquerdo, na resistência contra esse governo assassino. Em tempo”
“Viva o SUS, Viva a ciência, Vacina sim”
“E a cada vacina uma vitória contra a caretice e a desinformação.”
“Obrigada ao SUS e aos que lutaram para que a ciência fosse levada em conta. Ufa! A Terra é redonda.”
“Apesar de você / amanhã há de ser outro dia” (Chico Buarque)
BIBLIOGRAFIA:
FATORELLI, Antonio. Fotografia contemporânea: Entre o cinema, Vídeo e as novas mídias. Rio de Janeiro: Ed. Senac Nacional, 2013. FLUSSER, Vilem. Filosofia da caixa preta: Ensaio para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Ed. HUCITEC, 1985. LISSOVSKY, Mauricio. Dez proposições sobre a fotografia do futuro: Forúm Latino-americano de fotografia. São Paulo, UFRJ, 2010.