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Escolas João de Araújo Correia
N.º 27
Junho 2022
ÍNDICE 02 03 04 06 07 08 10 11 12 13 15 17 18 19 20 22 23 25
Editorial - O encontro Estela Ferreira (Des) Caminhos... Ana Paula Lopes A experiência de Deus... Pedro Miranda Verdade dorida Afonso Vale A inutilidade dos nossos dias Rui Pires Filho do Dragão Carlos Bao De um dia para o outro... Juliana Freitas Em trânsito Carla Cabral A todas as crianças do mundo... Estela Ferreira Ser feliz com tão Pouco Maria Manuela Joaquim Motivação, satisfação pessoal... Manuel Ferreira Cinco reflexões José Ferreira Borges Sem título Carlos Bao As melhores manhãs José Artur Matos Mais uma vez, o inconcebível... Conceição Dias A esperança não murcha Emília Craveiro Uma flor sob o caos A. Marcos Tavares Maria vai com as outras Turma do 11.ºA
the fallen ones 26 ToFernanda Sousa Ler, Pensar - A casa dos Avós 28 Respirar, Turmas do 6.ºAno, EB2,3 de Leitura: A Casa de Ariz 31 Roteiro Turmas do 6.ºAno, EB2,3 ficamos tristes? 33 Porque Turma do 4.º1 - CE Alagoas que é salvar o planeta? 34 OTurma do 4.º1 - CE Alameda que é uma coisa difícil? 35 OTurma do 4.º2 - CE das Alagoas a alegria? 36 DeTurmaondedo vem 4.º2 - CE da Alameda que é a guerra? 37 OTurma do 4.º3 -CE da Alameda 38 OInêsracismo Teixeira censura no mundo das artes 39 AMarta Guedes título 40 Sem Daniela Vieira futuro 41 OBeatriz Conceição mental ainda é tabu!! 42 AAnasaúde Velho Os jovens e a filosofia 43 Juliana Bernardo e xenofobia 44 Racismo Beatriz Dantas de escrita criativa 45 Oficina CE da Alameda de escrita criativa 46 Oficina CE das Alagoas 48 Holocausto Júlia Vieira
é o oxigénio da alma 49 AInêsliberdade Sequeira tóxico 50 Relacionamento Francisco Saraiva que dizem os meus olhos? 51 OMagda Soares do estudo do passado 52 AJoãoimportãncia Soares importância de estudar o passado... 53 APedro Marques 54 EuHenrique Sousa o mundo digital uma ameaça... 55 Será Margarida Fernandes mais do que a "chuva" 56 Muito Margarida Valente pessoal 57 AAnaresponsabilidade Sofia Pereira 58 Responsabilidade Mariana Leite o silêncio não habita 59 Onde João Andrade Rebelo que eu sonhei ser / Quero ser... 60 OLeonor Pereira + Beatriz Santo ser... / O que eu quero ser 61 Queria Leonor Ermida + Nuno Guimarães que eu penso ser no futuro? 62 OLetícia Gonçalves chuva 63 ACarolina Cantante terra não tem culpa 64 ALeandro Andrade
Editorial O Encontro
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m encontro de vozes que ecoam pensamentos e amigos que partilham emoções e afetos, são condicionantes para a longevidade da Pensar(es). Os encontros, estes encontros, são sempre positivos, pois permitem em simultâneo a fusão e a criação de ideias espontâneas, mas também repousadas na fundamentação e na crítica. Como nos diz Alberoni «(…) encontramo-nos com aqueles que nos completam porque cada um de nós está um pouco mais à frente, naquele setor, para aquele aspeto.» (F. Alberoni, A Amizade) Aberta e acolhedora das apetências de toda a comunidade escolar, a “nossa” revista, convida a este simulacro de humanização e autenticidade, materializada nas diferentes manifestações literárias. A Pensar(es) continuará, neste número, a ser fruto do olhar do Homem, fazendo-se pensamento, tornando-se revista. Estela Ferreira
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(Des)Caminhos… Ana Paula Lopes . Professora de Filosofia ESCT
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sta sensação de que a vida se faz pela faixa da esquerda, com os quatro piscas ligados e sempre a acelerar, acompanha-me há muito. Urgências, calendários, agendas… A vida num corre-corre, olhos postos no destino, no horário de chegada, nos prazos que se cumprem, sem tempo nem disponibilidade para apreciar a viagem. Estou exausta! Relembro o caminho percorrido. Já vai longa a viagem… Parti com a mala cheia de sonhos e uma vontade imensa de contribuir para a construção de um mundo melhor, mais livre, onde o sentido crítico e a capacidade reflexiva potenciassem escolhas devidamente esclarecidas, justas, equilibradas, um mundo mais solidário, mais humanizado. Cedo percebi que as estradas são sinuosas, a sinalização confusa e que a cada curva se encontra um obstáculo. Muitas vezes questionei para onde ia ou se deveria continuar… A cada desânimo repesquei conquistas, momentos de felicidade, pessoas ímpares que me engrandeceram. Continuei sempre. A cada dificuldade agreguei mais força, mais vontade, mais garra. Não sei bem quando começou, nem de onde veio este cansaço. Só sei que é imenso e me absorve, me rouba a força, me esvazia a vontade e torna penosa a viagem. Tempos conturbados em que o bom senso pede calma e ponderação, mas em que, paradoxalmente, se exige rapidez, se apertam prazos, se multiplicam procedimentos, se atropela
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a lei, os direitos consagrados e tudo o mais que possa limitar o ritmo alucinante que impera a cada dia. A minha mala está gasta, rompida de tantos tombos e os sonhos amarrotados. Perderam o viço e o brilho. Estão, como eu, perdidos neste turbilhão de tudo-nada inadiável, imprescindível, de valor questionável. Fernando Savater, na obra Ética para um jovem, afirma: “acredito que qualquer ética digna desse nome parte da vida e se propõe reforçá-la, tornála mais rica. (...). E interessa-me que esta vida seja uma vida boa, não uma simples sobrevivência ou um constante medo de morrer”. Já só se sobrevive nas escolas. Deixamo-nos morrer todos os dias, de cansaço, desalento, de injustiça, de maus-tratos. E, resignados à nossa condição de moribundos, esperamos ansiosamente que a morte seja consumada para que se cumpra a promessa da ressurreição, de uma nova vida para além dos muros da escola. Cá dentro ninguém tem uma vida boa. Por vezes, nem se tem vida… Um dia sonhei ser professora… como os meus, a quem devo tanto. Não esta espécie de faz-tudo. A função do professor é ensinar, ajudar os seus alunos a crescer, abrir horizontes. Exigir-se-lhes que sejam pais, psicólogos, polícias, animadores, projetistas, gestores de recursos humanos, especialistas em legislação, que efetivamente ensinem algo enquanto se afogam em papéis e burocracias é absolutamente insano. Atribuir à escola e a quem lá trabalha a responsabilidade de resolver os problemas dos quais a sociedade e outras instituições se demitem não é justo. Não é ético. Não me revejo na escola atual, nas políticas adotadas, nem consigo perceber para onde nos levam os (des)caminhos de (des)ensino que se trilham. Talvez tenha chegado a hora de reajustar o rumo, encontrar outro destino, mudar de direção.
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A experiência de Deus num mundo (dito) secularizado Pedro Miranda . Professor de EMRC
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os anos mais recentes, uma das mais reputadas teólogas contemporâneas, a brasileira Maria Clara Bingemer veio a Portugal, a Braga, falar-nos da experiência de Deus no mundo actual - em particular na Europa - por muitos considerado secularizado (ainda que as teorias da secularização estejam a merecer séria contestação e revisão). E, na sua dissertação, apontou para três crises essenciais que estaremos, nesta hora, a atravessar: crises ética, cultural e religiosa. Hoje, assinala, fala-se, constantemente, de ética, mas não daquela que acompanha a humanidade desde a Antiguidade (que propõe um sistema de valores, que configura a vida). Nas épocas pré-modernas, a moral era teológica (ou seja, a moral era Deus), sendo a fé atribuidora da virtude. O homem estava ao serviço de Deus e não da humanidade – que ficava em um segundo plano. Com a modernidade, assiste-se a uma desvinculação da moral da religião. O indivíduo passou a ser soberano e o direito, e não o dever, passou a posição preponderante. Assim, a moral moderna realça a autonomia individual, e entende o dever como se dirigindo para consigo mesmo (o dever de cada um para consigo; nomeadamente, o auto-aperfeiçoamento). O trabalho, por exemplo, deixa de ser visto como uma obrigação a exercer face a uma sociedade, mas um modo de autorrealização, de enriquecer, de fazer uma carreira interessante. Não existe uma mística do trabalho
que enobreça e implique transformar o mundo. A segunda crise, aqui apontada, é cultural. Uma crise de incerteza, insegurança. Insegurança a propósito de uma posição sólida na sociedade, ou, então, de uma identidade clara. Vivemos num tempo que já não tem mais certezas ou verdades absolutas. Um tempo em que nada é categoricamente afirmado e em que, por vezes, temos a noção de viver sob um chão movediço. Uma enorme pluralidade e diversidade ladeiam-nos (com a queda das grandes narrativas, da utopia), com uma fraca institucionalização das diferenças. Fugacidade. Maleabilidade. Tudo é passageiro (nunca estamos apegados a nenhuma vinculação para que possamos imediatamente abandonar qualquer ligação que tenhamos entretanto estabelecido). A terceira crise é religiosa. No diagnóstico da teóloga brasileira, a pós-modernidade, é certo, tem, ainda, uma sede do espiritual. Recuperou o Absoluto que os “mestres da suspeita” (Freud, Marx, Nietzsche) haviam colocado em causa, na modernidade. Mas esse Absoluto que foi resgatado não tem rosto, não tem contorno, nem a espessura da instituição. E, muitas vezes, até sem as características do Deus pessoal que o cristianismo sempre apresentou. O ser humano “está nesse estado de questão”, considera Bingemer. As pessoas não estão sem fé, nem deixam de procurar. Nos censos de 2010, no Brasil, aumentam aqueles que se dizem “sem religião”, mas isso não
ensar(es) significa que deixem de prosseguir aquela busca (mas ligando, antes, Deus a “uma força”, “uma energia”, um “fluído”; não a uma pessoa). Charles Taylor criou a categoria dos “buscadores” (não por acaso). Assim, neste contexto, Deus parece ser, curiosamente, um conceito basilar (numa época em que a religião sofre reconfigurações). Ele continua a dar sentido à vida e a colocar em crise todos os demais “sentidos”. Deus atrai, intriga e instiga. Mas, e esta é uma das perguntas fundamentais que também o Professor Alfredo Teixeira tem colocado, será que Deus é, hoje, sentido, pelos nossos contemporâneos (em particular, as gerações mais jovens) como uma necessidade, sem a qual não podem viver? Como o ar que se respira, ou a água que se bebe? Ou Deus é, antes, atualmente, percebido/experimentado como gratuidade, como estando (para os seus buscadores) na ordem do desejo (e não tanto na ordem da necessidade)? Será que, hoje, esse mistério de Deus não mobiliza mais como desejo (do que a vontade), e não se revela do reverso da história, a partir do lugar da insignificância e da vulnerabilidade (e não da razão e do conceito)? Maria Clara Bingemer convoca, então, Rahner à reflexão. Karl Rahner, jesuíta, o grande teólogo do Vaticano II, cujo pensamento revolucionou a teologia no século XX e que continua uma referência (quando se pretende discutir teologia em profundidade), pode/deve ser um dos nossos mestres no tatear por este tempo. “O Homem, quer o afirme expressamente, ou não o afirme, quer reprima esta verdade ou a deixe aflorar à superfície, achase sempre exposto, em sua existência espiritual, a um mistério santo que constitui o fundamento da sua existência. Este mistério é o mais primitivo, o mais evidente, mas, por isso, também o mais oculto e ignorado, um mistério que fala enquanto guarda silêncio, que está aí enquanto que ausente nos reduz às nossas próprias fronteiras. E tudo isso porquê? Como horizonte inexprimível e inexpressado, que abrange e sustenta sem cessar o pequeno círculo da nossa existência quotidiana, cognitiva e ativa, o conhecimento da realidade e o ato da liberdade, nós o chamamos Deus”, afirma o teólogo alemão. Uma síntese enxuta e excelente – diz Bingemer. Paulo VI escrevera na Exortação Apostólica
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Evangelii Nuntiandi que a sociedade de hoje escuta mais as testemunhas do que os mestres. E, se ouve os mestres, é porque são testemunhas. São elas que têm maior conhecimento de Deus (na sua densidade). Elas estão dilaceradas, entre o seu ideal que quer testemunhar e o indivíduo que ela sabe (que) ela é (miserável, pequeno, limitado). Dilacerada entre o mundo de que dá testemunho, e o mundo que não quer saber dessa realidade testemunhada. O homem exaltado, glorioso, da modernidade, no entanto, foi esmagado pelas ideologias totalitárias [do séc. XX: nazismo, comunismo e seus subprodutos]. O homem surgiu humilhado daqui, aparentemente sem confiança (em si), submetido à globalização, ao mercado, ao prazer. Entre o ser humano exaltado, glorificado, e o humilhado, a testemunha é um humano fragilizado, vulnerável. Alguém que desistiu, lucidamente, dos sonhos de omnipotência, mas não abdicou de sua capacidade de iniciativa. E a originalidade, e o valor inestimável da testemunha, para os seus contemporâneos e a história da humanidade é o conteúdo da sua narrativa coincidir com a sua pessoa. Por isso, a testemunha é sempre incómoda e embaraçosa. Ela traz consigo algo excessivo, o fundamento da condição humana como tal, denunciando tudo o que visa diminui-la/apoucá-la. Teologicamente, a testemunha é alguém que experimentou o Absoluto. E fez dessa experiência o princípio norteador da sua vida. A sua narrativa enxerta-se na volatilidade, na efemeridade do mundo. Fazendo da verdade a sua biografia e ousando expor-se à tentativa de uma nova lógica e de uma nova linguagem. Portador de uma verdade que não pode reduzir-se a uma opinião. Os místicos serão essas testemunhas. Como exemplo de mística, desde logo, Etty Hillesum. Os seus diários acompanhar-nos-ão até ao fim do mundo.
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Verdade dorida Madura verdade oculta da intimidade, protegida de um estrondoso ferimento, coberta com uma camada de cimento… Escondida do mundo, dolorosa e cheia de história, como apenas uma memória que permanece no nosso fundo… Quando libertada, causa uma grande perturbação, ficando bastante apertada, não tendo nenhum tipo de compaixão. É engolida forçadamente, entrando sem vergonha nem ressentimento, como se fosse um medicamento que provoca um efeito demente. Afonso Vale . Aluno 10.º A
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A inutilidade dos nossos dias Rui Pires . Aluno do 10.º B
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azemos da nossa vida a maior das inutilidades. Não lhe damos o devido valor, não nos tratamos decentemente, não valorizamos o essencial, idolatramos a burocracia, não nos respeitamos a nós próprios. E de quem é a culpa? Não é da sociedade, que nos torna máquinas de agir conforme uma norma-padrão. Essa é apenas a desculpa que usamos para fugir aos nossos piores pensamentos. A culpa é nossa, exclusivamente nossa, porque permitimos que a sociedade nos transforme nessa máquina. Várias são as situações do nosso quotidiano nas quais nos tornamos uma perfeita inutilidade: fazemos constantemente o que os outros desejam, para lhes agradar; trabalhamos afincadamente em assuntos que nunca iremos utilizar no futuro, cometemos as maiores hipocrisias quando dizemos coisas, de forma sempre agradável e politicamente correta, para “ficar bem na fotografia”; respeitamos a burocracia, quando existem caminhos muito mais eficientes; valorizamos demasiado a capacidade de memorizar e não a de pensar. Como estudante, este último ponto é o que mais abomino. Porque é que, de uma forma geral, o sistema de ensino menospreza o pensamento crítico e o raciocínio lógico e sobrevaloriza a memorização de conceitos predefinidos? Se não inovarmos e ficarmos presos a ideias antigas, a sociedade não evolui. Não estão sempre a dizer que a função da escola é formar cidadãos que façam mover a sociedade? Então porque não
cumprem, na íntegra, o que afirmam? Ninguém fica na história por ir atrás de ideias preconcebidas, mas por arriscar ir mais além. Nessa situação, mostramos ser uma inutilidade e parecemos não nos importar com isso, pois ninguém se mostra interessado em alterar o sistema. Se a felicidade individual depende (entre outras fatores) da realização dos nossos objetivos pessoais e profissionais, então porque não arriscamos ir mais além e nos tornamos verdadeiramente úteis? Continuamos numa busca incessante por bens terrenos, mas, na verdade, não os levamos connosco para o caixão. Existem muitas pessoas que morrem sem dizer o que pensam e sem fugir ao que é culturalmente aprovado. Na verdade, morrerão na frustração e no vazio da inutilidade. É certo que é necessário ter coragem para agir e mudar o que está estabelecido. No entanto, é essa coragem e o enfrentar de consequências que dela virão que nos poderão realizar e tornar úteis, pois só quem arrisca cair consegue voar.
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Filho do Dragão Carlos Bao . Aluno do 12.º B
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vida é um inferno… Não, a vida é mais infernal que o inferno, que faz o inferno parecer um paraíso. Para os crentes cujo inferno deveras existe, ele deve residir algures no outro mundo, para mim, cuja crença na sua existência não passa de um pretexto convencional para separar o bem do mal, concebo a vida senão como um dos mais infernais dos infernos ou o inferno em si, se for um só. Afinal, o inferno é sofrimento, e viver é sofrer. E com que intuição e clareza, frequentemente as nossas consciências nos cutucam com esta verdade! Para mim, cujos olhos são contaminados e inclinam-se a olhar sempre para o mal em vez do bem, o mundo em que eu vivo encontra-se cheio de sofrimentos, todos eles disseminados segundo maneiras diferentes, por vezes impercetíveis, outrora claros como o raiar do sol. Para mim cuja crença da reencarnação parece mais fiável do que qualquer outra, vir a ser animal ou demónio, não parece ser pior que vir a ser humano, e por isso, não consigo pensar sequer que algures oculto num mundo além, resida um local a qual chamamos de inferno, não consigo, não consigo mesmo… Não consigo pensar sequer onde o inferno deveria estar a não ser na vida que vivo. Ah, a vida é um inferno, quantas vezes repeti estas palavras dentro de mim: quando caminhava pelo carreiro junto ao rio, enquanto via o crepúsculo a cair, o dia a eclipsar e a noite a surgir; quando olhava de soslaio para a felicidade dos outros
Imagem: "A rixa", de Francisco Goya
e comparava-a à minha desgraça, dizendo-me a mim mesmo que nunca iria ser feliz, mesmo tendo a felicidade deles; quando me interrogava durante noites de insónia como as almas que não a minha viviam como que embebedadas com a vida, cheias de êxtase e excitação, e sem falta, com um bem-dispor para enfrentar o amanhecer; e sobretudo naquelas imagens, talvez miragens ou alucinações, que surgiam esporadicamente defronte a mim: as engrenagens em movimento, translúcidas, de um número crescente, girando em ângulos infinitos, invadindo o espaço ao meu redor, ainda antes do meu fim. Nos passeios ao pôr do dia, lembro-me das nuvens e do céu, sempre tão ambíguas, sempre tão incertas, ora se querendo esvair para junto da noite, escurecendo em azul-centáurea, ora se embirrando obstinadas e teimosas pelo fulgor do dia, desejando o acalento das cores fogosas e
ensar(es) vivas. Eu era o horizonte, uma mera impressão imprecisa do mundo flutuante, via-o mundo sob disformes cores, traços, pinceladas indefinidas, um quadro impressionista, sem formas, apenas cores, convergindo e divergindo, sem nunca se saber o que realmente era, se um céu, se a reflexão de um lago ou se uma pintura de facto. Ah, a vida é um inferno! Suponho que tal como há pessoas que nasceram com um talento inato para se destacarem ou sobressaírem em determinada vocação ou ofício, existirão também pessoas como eu, que nasceram e vieram ao mundo totalmente desprovidas de talento algum para se saber viver. E sempre deste modo, carreguei no seio da alma, uma austera e severa ferida, a da vida de um homem que viveu estupidamente, e que morreu como estúpido. II. Assim como o dia é o refletir do rosto da noite, a realidade são a dos sonhos, e se na luz reside todo o conforto e obséquio do homem, para a noite restam as suas sombras e dissabores. Para tal, quem mergulhado em escuridão procura reconhecer a luz, olhando a estrelas de noite, e quem desperto em luminescência seduz-lhe o abismo. A jornada de um indivíduo, para um indivíduo, começa aquando do vislumbre primeiro do leite do céu, quando se ousa a fitá-lo, contemplando as fórmulas estrelares, ou quando se abdica de Apolo e se lança sobre os braços de Dionísio. Daqui se envereda o caminho único em busca de si próprio, procurando o seu destino, a harmonia, a plenitude dentro de si, conduzindo-se a um. Para além dos escombros humanos que povoam a terra da morte, muito mais adiante, num local que se expande sem limites, ultrapassando o reino dos vivos também, reside uma vasta planície desertada, florindo altas e rugosas espigas desfilando, abrindo e dando boas vindas a um único caminho que prossegue só, em sentido a um destino desconhecido. Réstias de sol descem perfurando, como lâminas afiadas de lanças de guerra, abrindo o céu em um esplendor harmonioso; o vento sopra tremeluzindo brilhantes espigas doiradas e há pássaros cantantes, com rabos em cruz e penas azuis lustra-
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das, voando de um lado para o outro; parecem ser andorinhas. Agora na lonjura, uma voa numa direção, a mesma do carreiro. A andorinha que voa no céu é indómita, seu espírito é desenleado, seu ser é de ser liberdade e nunca desanuviado; cruza as nuvens e os sóis, por terras desconhecidas e mares abismais, como aquela filha do Universo que se é tão querida e amada, e sem nunca dar por esse amar, porque se é livre e porque se é desenleada, desanuviada e liberdade, voa verdadeiramente, voa distante e voa indivídua. Agora afastadas, separadas por milhas que distam mais que os dois pontos mais longínquos do espaço, movem extraviadas sobrevoando o mesmo planeta, mas aventuram-se por venturas e desaventuras, sentindo ventos sidéricos esvoaçando, por imprecisamente, pontos infinitesimais não definidos na bússola. Será Norte ou Este? Possivelmente um Nordeste tão próximo do Norte, a qual certamente designá-lo-íamos de Norte, mas é tão certo como surpreendente, a miserável distância de uma unha no mapa, ser na verdade tão longínqua como a medida entre locos remotos em cada hemisfério do universo - as estrelas no olhar desnudo são divisadas por barreiras invisíveis. Poderá deus ao fado reger o encontro, conquanto a vontade não ceder? Afirmo serem estes sim, doces momentos de nostalgia ou lembrança, dos que separadamente do ninho se foram e se avistam novamente. O silêncio perdura um intervalo, já fora da dispersão das aves, de momento anoitece e os atros no céu celeste chovem de cometas e reluzentes estrelas. A visão perde-se com tanto fulgor incandescente, mas é belo e irresistível o cenário. É um prelúdio melífluo, um prólogo sublime, o fim de um começo, o presságio de um sonho, a iminência da aurora. Que sobre o macrocosmo se revele o microcosmo, sejamos cada uma das estrelas no éter a incandescer e a espelhar um futuro inscrito em constelações que se unem fraternalmente desvendando a imagem de uma única Humanidade entrelaçada sobre valores de amor, compaixão e paz. Que a esperança e a vontade irradiem infinitamente para todo o sempre e sejamos como constelações a delinear o Universo aureamente! Quo Vadis? Per aspera ad astra.
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De um dia para o outro tudo muda... É garantido! Juliana Freitas . Aluna do 10.º E
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uro, o tempo é tão inconstante que até custa acompanhar cada mudança. Num dia tudo é claro como a água, as amizades são para sempre, aquele “amor” é para sempre até a própria felicidade momentânea nós damos por garantida naquele momento que tudo está bem. Acho que só damos pelo tempo quando olhamos para trás e os amigos já não estão lá nos dias que nem mesmo nós próprios conseguimos lidar connosco, o amor já foi e levou o nosso amor próprio consigo, ficando apenas memoria do que foi e provavelmente não voltará. É quando tudo volta ao zero que nós recomeçamos, com novas pessoas, novos gostos e até com uma pessoa diferente dentro de nós e sinceramente acho que isso é o significado da palavra “VIVER”. Viver, é começar sozinho ou mal acompanhado e ir reconstruindo a nossa casa que no passado alguém destruiu, construir um novo espaço com pessoas de qualidade e onde nos sintamos NÓS novamente. E tudo isto é num instante porque ontem planeávamos e prometíamos como se tivéssemos tudo garantido mas hoje, olhar para trás passado 24h e está tudo diferente. Aquilo que para nós antes era um espaço seguro ou já não está lá para nos acolher ou esta completamente irreconhecível, e esse é o problema de nos fixarmos a alguém para sermos felizes.
Imagem in https://amenteemaravilhosa.com.br/
Porque nós estamos sempre aqui mas os outros, quando já não precisarem de nós ou quando arranjarem alguém melhor, vão embora...
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Em trânsito Carla Cabral . Professora de Artes Visuais
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decadência fascina-me. Compreendo-a como um fluxo, uma transmutação, parte de um ciclo, não um the end. De uma beleza às vezes feroz, às vezes voraz, outras subtil e delicada, é inerente a todas as coisas – as que respiram e as inertes, em escalas mais ou menos visíveis ao olho humano. De tecido vegetal ou animal a húmus, de rocha sólida a terra, inexoravelmente, respiração a respiração, átomo a átomo, esvaímo-nos lentamente, desvanecemo-nos até sermos outro(s). Habitamos na impermanência dos seres e das coisas, nos interstícios da matéria, da memória e do agora. Habitamos a impermanência do ser e a inquietude do tempo, até nada mais restar do que o zero e o infinito.
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A todas as crianças do mundo, que nos ensinam a ver o sol O Sol chega para todos na centelha do teu olhar sereno, quando pintas a vida às cores e corres sem pressa…feliz! O Sol chega para todos, no epicentro da tua esperança no teu rosto de amor que transcende os corações. O Sol chega para todos, porque não desistes de nós, calibras a razão e eliminas preconceitos. O Sol? És tu que o ofereces… porque é grande! E chega para todos nós! Estela Ferreira . Professora de Filosofia
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Ser feliz com tão pouco Maria Manuela Joaquim . Assistente Operacional
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conceito de felicidade varia de pessoa para pessoa excetuando a felicidade conjugal/familiar que é desejada por todos de igual forma. Há quem encontre a felicidade ao adquirir o carro, o iate, a casa dos seus sonhos, as roupas, o calçado, os acessórios de marca, a playstation e o telemóvel topo de gama etc. Há quem pense só ser feliz “se conquistar o mundo”. Nada contra estas pretensões, mas há pequenas/grandes coisas que nos podem tornar felizes. Recordo os meus tempos de criança em que em cada casal tinha vários filhos, em que as aldeias eram extremamente povoadas e onde havia alegria e uma convivência saudável. Caminhávamos para a escola, para a catequese, para o Patronato, onde nos deliciávamos com o leite que por vezes ajudávamos a dissolver, uma vez que o mesmo vinha em pó, e com o pão feito em forno de lenha pela Sr.ª Maria Rosa. No final da tarde regressávamos a casa, cantávamos, brincávamos no percurso e eramos “muito felizes”. Aos domingos juntávamo-nos para continuar as brincadeiras fazendo corridas, jogos de roda, apanhadinha, às escondidas, à patela, às caricas, salto à corda, ao pião e tantos outros jogos e éramos “muito felizes”. Para a missa e para as saídas fora da aldeia, que eram poucas, havia no máximo dois pares de calçado, peças de vestuário não abundavam como hoje, mas éramos igualmente “muito felizes”. Corríamos quando o carteiro tocava a corneta, anun-
Imagem in https://mediotejo.net/
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ciando que tinha chegado, e nós íamos ver se havia correspondência dos familiares e amigos distantes. Corríamos da mesma forma quando o sr. que vinha vender o azeite à terra, transportado pelo seu cavalo, com um cantil de cada lado e anunciava que estava próximo, (aqui era o animal que nos atraía) e sentíamo-nos igualmente “muito felizes”. A corrida atrás das galinhas das vizinhas que diariamente percorriam os caminhos da povoação, só para as ver esvoaçar, aqui uma pequena maldade, mas que divertia a criançada. Existiam poucos telefones particulares, telemóveis, nem sequer tinham sido inventados, sendo que os estabelecimentos comerciais possuíam telefones públicos e era aí que nós efetuávamos e recebíamos chamadas de familiares e amigos em que toda a vizinhança ficava a saber que nós tínhamos recebido um telefonema pois, o dono/a do comércio, chamava alto pelo destinatário para não ter que se deslocar. Televisões, poucas pessoas tinham, então procuravam-se as casas onde elas existiam e, assim em grupinho, e quase sempre sentados no chão da sala, assistíamos às séries que ainda recordo com saudade. Com todas estas limitações éramos igualmente felizes. Andávamos no jumentinho da moleira, que ia à povoação buscar o milho pra transformar em farinha, e nos deixava dar uma voltinha, outra alegria para nós criançada. Acordávamos com o cantar do galo, com o chilrear dos passarinhos. À noite contemplávamos o firmamento, contávamos as estrelas, como se fosse possível contá-las todas, nesta imensidão que é o céu, e contávamos os aviões que só se dava conta de que passavam pelas suas luzes intermitentes e, também aí, éramos muito felizes. Os anos foram passando e, as crianças de então, que como eu desfrutaram desta realidade, quase
todas seguiram caminhos opostos, uns com mais outros com menos ambições. De muitas delas perdi contacto e como tal nesta fase só posso transmitir o que eu acho imprescindível para continuarmos a ser felizes: termos um trabalho para nos autossustentarmos; uma família que nos ame e que nós amemos também “é a maior felicidade”. Fazer felizes os que nos rodeiam no seio familiar e no meio profissional,” também é uma felicidade”. Receber e retribuir logo pela manhã uma saudação amistosa, com um sorriso nos lábios, é igualmente também felicidade. Ser útil à sociedade, chegar a casa depois de mais um dia de trabalho muitas vezes desgastante, mas com sentimento de dever cumprido, isto é felicidade. Ser lembrada/o em dias especiais com um Simples” FELIZ DIA” isto é felicidade. Ter o reconhecimento pelo trabalho exercido e umas palavras amistosas como “gosto muito de si” isto é uma enorme felicidade. Vou terminar com a frase que serve de título a este meu modesto artigo “SER FELIZ COM TÃO POUCO”.
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Motivação, satisfação pessoal e produtividade Manuel Ferreira . Professor de Filosofia
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om a situação pandémica a questão da gestão dos trabalhadores nas organizações assumiu, quer nos serviços públicos, quer na iniciativa privada, uma maior preocupação e relevância. Em situação de crise como a atual, a complexidade e exigência das funções aumentaram, coartando muitas opções de atuação, de motivação e de satisfação pessoal e profissional. A conjuntura é inegavelmente desfavorável. O ambiente sufocante, de insegurança e de instabilidade tem gerado elevado desgaste pessoal. Com a adoção de novas modalidades de trabalho como sejam o teletrabalho, a criação de equipas em espelho, a introdução de horários desfasados e por turnos, entre outras, as relações de trabalho têm sofrido uma profunda “revolução”. Temos assistido a um isolacionismo profissional que se reflete num distanciamento entre os trabalhadores, numa diminuição do espírito de equipa e do trabalho colaborativo e numa maior dificuldade em garantir uma comunicação interna rigorosa e eficaz. É com um pano de fundo de crispação e insatisfação pessoal que hoje encontramos a generalidade dos trabalhadores. É inegável a moral baixa dos trabalhadores em virtude do volume crescente do trabalho, do grau de dificuldade, o desgosto pelo insucesso na execução dos modelos de avaliação e a desilusão pelo congelamento da progressão e das carreiras. Contudo, este contexto não é uma inevitabili-
dade. Estamos já a regressar ao trabalho presencial como prática de trabalho normal e regular e como elemento que confere dignidade e valorização ao desempenho profissional dos colaboradores. Por isso, hoje, mais do que nunca, é importante ter um plano de ação para a motivação do pessoal. Reforçar a necessidade de medidas que aumentem a motivação e a participação ativa dos trabalhadores, nomeadamente, através da sua formação permanente e de formas de organização do trabalho que lhes possibilitem pôr à prova as suas capacidades a nível do saber, do fazer e do sentir. Formas de organização do trabalho que permitam mesclar o normal exercício das tarefas com a criatividade e a inovação e onde o mérito seja premiado. Deste modo, parece-me relevante retomar a utilização de mecanismos de comunicação interna que transmitam corretamente a imagem de equidade e restaurem a confiança nas relações entre os líderes e os trabalhadores. Para além da manutenção das correntes e tradicionais reuniões formais, será de todo essencial uma certa intensificação de relacionamento informal como alavanca para incentivar a autoestima das pessoas e a capacidade, profissionalismo e espírito de grupo dos trabalhadores da instituição. A obtenção de um bom resultado e de uma produtividade adequada às expectativas do trabalhador e da instituição passa pelo fortaleci-
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mento do espírito de grupo, pela partilha de valores e experiências entre os trabalhadores, por uma identificação dos objetivos do trabalhador com os da instituição. Assim, é importante investir em visitas e reuniões de trabalho sectoriais e outras com a presença alargada de todos os trabalhadores, onde se possa realizar uma autorreflexão e autocrítica do trabalho desenvolvido, uma monotorização do conjunto de metas, objetivos, uma análise de desempenho, a auscultação de problemas e constrangimentos e a fixação de prioridades.
Considero importante a realização de reuniões no sentido de resolver problemas concretos, mas também reuniões que possibilitem alinhar valores, trocar experiências, definir linhas de ação e intensificar a construção de um espírito de grupo. Com a implementação de algumas destas sugestões, e embora não exista total consenso na literatura científica da existência de uma ligação direta entre satisfação e produtividade, é aceitável que trabalhadores que se sintam mais satisfeitos sejam mais produtivos.
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Iluminações
Cinco reflexões José Ferreira Borges . Professor de Filosofia
Andar pelas ruas da aldeia, essencialmente desertas, é correr o risco de encontrar, à direita, uma casa devoluta, meio arruinada, e, à esquerda, uma casa em construção, abandonada a meio. Em tais circunstâncias, esquerda e direita são rigorosamente permutáveis. O primeiro imóvel evoca um passado que se apaga. O segundo sugere um futuro que se obscurece. Não longe, equidistante de ambos, indisponível (como se meditasse) para transpor as fronteiras do puro agora, ergue-se um poste de eletricidade. Importa garantir iguais oportunidades no acesso à iluminação.
(Des)igualdade Pôr tudo quanto se é «Põe quanto és no mínimo que fazes», recomendava o prudentíssimo Ricardo Reis. Será tal conselho – facilmente memorizável por quem sofra de prisão de ventre – adequado a todas as situações? Melhor do que ninguém, Fernando Pessoa sabia que não: qualquer ato de fingimento exige, precisamente, não pôr tudo quanto se é naquilo que se faz. Como alternativa, poder-se-á sempre ajustar a sentença e dizer o seguinte: «Faz de conta que pões tudo quanto és no mínimo que finges.»
A outra pergunta Se, com a interrogação «Em que estás a pensar?», o propósito do Facebook é o de espreitar a mente do utilizador, quiçá penetrando-lhe a alma (se ele ainda a não vendeu no eBay), imaginemos quão frutífero não seria alternar tal pergunta com a seguinte, capaz de produzir associações súbitas e de fazer descer o indivíduo interpelado às profundezas do seu inconsciente: «Em que é que não estás a pensar?» Neste caso, por motivos óbvios, qualquer resposta levaria o espírito a entrar em contradição consigo mesmo. Contornado, porém, esse detalhe, não faltaria peixe para a rede.
Nascemos desiguais, vivemos desiguais, morremos desiguais, desigualmente nos acolhem, do outro lado da lápide, anjos abnegados, crepúsculos indefinidos ou vermes competentes. «Mas uma Igualdade cósmica subjaz a esta ilusão do plural», defende o místico, segredando a si mesmo que «somos todos Um», enquanto fecha por dentro portas e janelas, a fim de garantir, nos encontros agendados com o divino, a maior privacidade e o melhor silêncio para os exercícios metódicos que o levarão a êxtases apenas seus.
As duas tartarugas Aquiles, não obstante os pés ligeiros, foi incapaz de alcançar a tartaruga que Zenão também convocou para um dos seus famosos paradoxos. Ésquilo, reza uma versão da lenda, terá morrido na sequência da pancada da tartaruga que uma águia (confundindo a calva cabeça do dramaturgo com uma rocha) soltou das alturas, a fim de lhe quebrar a carapaça. Zenão queria provar que o movimento é ilusório. A águia forneceu-lhe um terrível contraexemplo. Aquiles saiu derrotado. Ésquilo saiu de cena. A primeira tartaruga não teve mérito. A segunda tartaruga não teve culpa. Lentamente, ambas partilham agora a mesma eternidade.
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ensar(es) São despedidas sem esvoaçar de lenços, Nem lágrimas cairão dos olhos. Bastam estes quantos abraços Que ao acalento me acolheram, De amigos, professores e funcionários, Deste edifício e recinto, Que à minha juventude memórias deram. Fui-me então anónimo e incógnito, Um de um bando, um bando de mil. Sem viver em ti ou saberem de mim, Este aluno qualquer, ainda que defunto for, Recordar-se-á. -----Ah, maldito passageiro amante, Porque paras no jardim que passas, Olhando com volúpia as flores? É por teu amor apaixonante, Que colhes os ramos, Sem dó e sem piedade? Havia crisântemos, rosas e girassóis, Malmequeres e não-me-esqueças, flores coloridas Num campo vasto e alegre. Agora, resto eu, na aragem fria, um lírio incolor, No luar da noite, ressequindo cheio de dor - a única flor. Sentia-me feliz, como uma criança, Quando ao pé de vós, meus amigos, Era um lírio, um lírio tão benigno, Tão querido e amado, neste jardim idílico. Mas cada flor colhida é sofrer como perder uma mãe, E eu perco tantas mães, como quem tem bolsos pequenos. Mas as flores mais belas, as que foram escolhidas, Serão postas, ornando jarros e vasos, Coroando entradas e ruelas; Sendo ramos enamorados Como presentes a amados, E às mais belas donzelas. Carlos Bao . Aluno do 12.ºB
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As melhores manhãs José Artur Matos . Professor de Artes Visuais
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s meus pés iluminados pela luz da manhã, salpicados de água do banho e um fio de espuma. Assim se iniciam as manhãs que são como todas as outras, com um pormenor mais ou menos relevante. Um começo. Por vezes, as manhãs adivinham o resto do dia e colocam interrogações muito particulares que definem uma linha de pensamento. Outras vezes, as manhãs, são tudo ainda por acontecer, promessa de um dia, assim, assim - são ritual do tempo que passa e da vida a acontecer leve. Nas melhores manhãs, já estamos no carro a caminho do trabalho e, de um lado ao outro, é um instante. Nas melhores manhãs as pessoas são bonitas e nós somos empáticos. Outras vezes, nas melhores manhãs, não sabemos para onde vamos e o resto do dia é ainda não saber o que nos espera. Como a vida, as melhores manhãs são surpresa e o dia é ainda longo. Depois, tudo acontece sem o nosso consentimento e às vezes sem verdade nenhuma. É a “espuma” dos dias, o desconcerto e a complexidade. Ao final da tarde, talvez alguém apareça para beber, ou talvez não! Muito provavelmente, adormeço no sofá por uns instantes, para acordar depois com a baixa luz dos dias que acabam e a gata aninhada comigo a ronronar. Nas melhores manhãs, os finais de dia não são todos iguais e deixam espaço aberto para uma noite incerta.
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Mais uma vez, o inconcebível acontece… Conceição Dias . Professora de Inglês
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ecordo o dia 24 de fevereiro de 2022 com o mesmo sentimento angustiante com que vivenciei os atentados terroristas realizados pela Al-Qaeda contra as Torres Gémeas e o Pentágono a 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América. Mais uma vez, o inconcebível acontece e a Rússia invade militarmente e em larga escala a Ucrânia, um dos países fronteiriços a sudoeste, assinalando, segundo conceituados analistas políticos e estrategas, uma escalada num conflito que remonta a 2014, quando a Rússia reclama como sua a Crimeia e vai, sucessivamente, colocando um enorme contingente bélico-militar ao longo da fronteira entre estes dois países. Porquê? Por motivos tão inofensivos como mero treino militar, alegaram, na altura, os altos dirigentes russos. Assim, a 24 de fevereiro de 2022 assisto, eu e o mundo inteiro, a este terrível e insólito facto: a guerra instala-se à porta da velha e politicamente correta Europa, a minha tão amada casa e penso que, efetivamente, este meu “lar doce lar” tem estado adormecido, quiçá dormente, senão mesmo inerte perante as evidências de quem com “não verdade” pretende justificar mentiras e legitimar o ataque feroz deferido ao povo ucraniano. Questiono-me: como é possível que em pleno século XXI, em que se “enche a boca” para falar de humanização, de direitos humanos, de democracia, de igualdade, de progresso social e civilizacional, se possa conviver com algum
Imagem: José Artur Matos
distanciamento com o drama vivido pelo povo ucraniano, um drama que poderia ter sido evitado se a velha Europa adormecida estivesse atenta aos prenúncios do que há muito se avizinhava. Tremeu o mundo e, neste sobressalto, acorda a velha Europa e as demais supremacias mundiais que agora, perante a ameaça real de uma Terceira Guerra Mundial, sentem imperioso que se travem lutas diplomáticas, que se protejam civis, que se apurem crimes de guerra, que se apliquem sanções, que se acolha refugiados e se lhes ga-
ensar(es) ranta uma nova vida, num novo pais que lhes não coube escolher mas que cabe aceitar, sob pena de perderem o pouco que lhes restou. Ninguém quer ser lembrado pelos anais da História como algo inerte, passivo, sem visão global e estratégica e, convenhamos, altamente burocrático; posto isto, vemos os governos desdobrarem-se em medidas paliativas de forma a amenizar as consequências deste crime contra a humanidade. Porquê tanto desvelo? Será que o povo ucraniano, ou outro povo qualquer, vale mais ou menos que outro? Guerra não é guerra em qualquer parte do mundo? Massacre não tem o mesmo significado em todos os continentes? Maus tratos não são maus tratos aqui e na China, por assim dizer? Gostaria imenso de acreditar que este desvelo, esta preocupação legítima, diga-se de passagem, com o povo ucraniano é genuína, é leal, não tem segundas ou terceiras intenções, mas não creio que assim seja; o mundo assiste a esta guerra entre Golias e David e sofre, sofre porque esta guerra está mais próxima de todos do que nunca e impõe-se evitar que aconteça connosco o que está a acontecer com a Ucrânia. Desculpem-me a frieza do raciocínio, o egoísmo, a fealdade e a frontalidade com que retrato a humanidade mas é um facto que a generosidade, como alguém o disse, pratica-se, não se apregoa e os “Senhores do Mundo” apregoam-na, querem vivamente que saibamos o que está a ser feito pelos desprotegidos, os estropiados, os órfãos da guerra, querem que os aplaudamos por atos
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tão altruístas e valores morais tão nobres quando nada disto seria necessário se, de facto, fosse respeitada a soberania de um povo, a democracia, o direito territorial e cultural da diversidade humana, através de mecanismos legais que punissem aqueles que nenhum aprendizado retiraram da História e que insistem em perpetuar os erros e as atrocidades cometidas num passado, não tão longínquo assim. Deveriam, na minha humilde perspetiva, antecipar monstruosidades como esta, prever situações degenerativas, travar ondas de xenofobia e comportamentos radicais que cada vez mais atropelam a convivência harmoniosa e o legítimo direito de todos e de cada um à sua pátria; não posso aceitar que povos inteiros paguem pelos erros dos seus governantes, morram por ideais torpes, disformes e egocêntricos que apenas favorecem alguns e remetem ao esquecimento as necessidades dos outros; não quero compactuar com o conformismo e a dor de mães que perdem filhos, de filhos que perdem pais porque alguém, no alto do seu trono e da sua magnitude, decide usurpar direitos e impor ideologias, confortavelmente instalado no seu castelo de luxo, remetendo para as balas e para a morte jovens e homens sem voz, sem rosto, sem vontades , sem querer, sem direito a ser enterrado com dignidade. Existirá maior COVARDIA do que esta? Não julgo, de todo, possível.
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A Esperança não murcha Vivemos no fio condutor da conturbação A agitação inquieta vem com a cor da morte O mundo baila ao som estridente da guerra Respira-se cinza. As palavras frias e mortíferas explodem num ritmo galopante Tantas, tantas, que enchemos o dicionário da simbologia bélica. Vivemos o jogo dicotómico dos sentimentos Ó divindades celestiais! Fechem os clarinetes dos conflitos humanos. Abram alas para desenrolarmos a passadeira da Paz. Nós, somos uns dos outros! Inundem os corações humanos com a alegria Inundem os corações humanos com Amor, Afastem os anti-heróis e deem lugar aos heróis. Deixem em paz florescerem as árvores Deixem em paz chilrear o passarinho Deixem em paz a erva nascer nos canteiros Deixem o guerreiro sorrir Deixem sentir as indizíveis emoções das coisas simples. Deixem passar serenamente a transitoriedade da vida humana, Deixem a inexorabilidade temporal seguir tranquilamente. Deixem o crente fazer a prece da esperança Deixem os astros selar o calor humano Deixem sentir os corpos sem o perigo de contágio. Deixem rebolar o inocente na relva da liberdade. Deixem saborear placidamente o silêncio e olhar o infinito. Deixem os sonhos nas asas da Esperança, Deixem emergir o AMOR, Deixem emergir a PAZ. Emília Craveiro . Professora de Português
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Uma flor sob o caos A Marcos Tavares . Professor de Filosofia
«Um Estado […] é uma sociedade de homens sobre a qual ninguém, mais que ela mesma, tem que mandar e dispor. Nenhum Estado deve interferir, através da força, na constituição e no governo de outro» (Kant, Para a Paz Perpétua) «Entendo a tua loucura, meu bom moço, a tua perplexidade diante do poder que te nasceu nas mãos. Mas como não aprendeste que é mais forte criar uma flor do que destruir um império? [..] Um tirano só é grande aos olhos do cobarde. Tenho pena de ti...» (Vergílio Ferreira, Aparição) «No meio do caos, a beleza pode resistir» ( J. Tolentino Mendonça, O que é amar um país) 1. Olhar triste, voz embargada, rapaz dos seus vinte e tal anos: «primeiro, invadiram o nosso país, não satisfeitos, bombardeiam as nossas cidades e destroem as nossas casas; depois, massacram o nosso povo. Pensava que eram gente como nós, quase irmãos. Não, não eram gente como nós. Eram desumanos.» - Soluçando, lágrimas a sulcarem-lhe o rosto, idosa acima dos setenta: «deixem-nos sossegados; o que eu queria era morrer em paz». - No meio desta destruição, um sinal de esperança: um casal de jovens, ambos soldados, celebra o seu casamento no meio dos destroços e sob o som das sirenes, anunciadoras do perigo de bombardea-
Imagem: José Artur Matos
mentos. Uma esperança trágica: três dias depois, o noivo caía baleado, quando tentava abrir caminho para refugiados civis. Como escreveu T. Snyder (Terra Negra), «a cidadania só é significativa quando reciprocamente reconhecida; ao destruir a civitas vizinha (…) está a destruir-se o princípio da cidadania. Como pode um povo estabelecido num país ver a sua história violentamente apagada? Por que razão, estranhos matam estranhos? Por que razão, vizinhos matam vizinhos?»
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Há ocasiões em que somos levados a desconfiar da grandeza moral da condição humana. Mas talvez nem seja de esperar tal moralidade. Nietzsche e Freud, mestres da suspeita, viram-no bem. Estamos «para além do bem e do mal», como refere um, e condicionados pelas pulsões invencíveis do Id, como diz o outro. 2. Depois da invasão imposta à Ucrânia, a Europa (e o mundo) nunca mais será o que pensava ser: um lugar seguro, de democracia inviolável, de paz duradoura. Cairemos no desespero, sem alternativas nem horizontes, ou renovaremos a esperança, sabendo que o caminho a percorrer é longo e duro? Urge repensar a Europa. Urge redimensionar o sonho de que nasceu. Nasceu de uma tragédia, como bem alertou Ursula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia; tem de ressurgir mais unida de outra tragédia, de qualquer tragédia. Há que encontrar algo de positivo no meio da destruição, da dor, do sofrimento. Não podemos ficar prisioneiros do presente. Viver o tempo, como diria José Tolentino Mendonça, não tanto como chrónos, mas mais como kairós. Não tanto como o tempo da calamidade (Crónos comeu os próprios filhos) mas sobretudo como o tempo da graça. A melhor forma de enfrentar qualquer catástrofe é a união. «Até as bactérias quando são ameaçadas com antibiótico, unem-se todas com sistemas de comunicação para saberem como se vão defender» (António Sarmento, diretor do serviço de Doenças Infeciosas do Hospital de S. João). Repare-se: O confinamento na pandemia Covid
era cada um em sua casa; o confinamento na guerra é todos juntos, ainda que em subterrâneos. 3. O velho sonho de Kant, da Paz Perpétua, parece não passar de uma utopia. Não há dúvida de que o estado de paz é fruto de uma tarefa árdua e complicada. Mas a utopia, longe de ser uma alienação, um sonho inútil porque impossível, pode, deve, transformar-se numa força dinâmica de energia e de construção. Como canta JM. Serrat, "Sin Utopía, la vida sería un ensayo general para la muerte”. A utopia, como imaginação criadora, é luz que aponta o caminho. Como desafio, lança-nos no futuro. Na ideia de J. Moltmann, a utopia é antecipação de um estado futuro, desejado, que, por comparação com a situação presente, oferece uma vida mais nobre, mais livre e mais humana. Falta-nos compreender que só existe dignidade na criação e não na destruição, em dar a vida e não em provocar a morte. Na Aparição, Carolino, «o Bexiguinha», embriagado pelo poder de matar, de destruir com as suas próprias mãos, julga-se Deus, e não compreende que é mais fácil destruir um império do que criar uma flor. 4. Pela esperança, como esforçados construtores da Paz, é possível acreditar que, no seio das ruínas trágicas da destruição, pode sempre erguer-se uma flor que perfume e eleve a alma humana. Sob o caos, uma flor que inebria e dá beleza. Num tempo em que o mundo parece desabar, é talvez a oportunidade de elevar o espírito para causas verdadeiramente nobres, ultrapassando as necessidades que nos oprimem.
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Maria vai com as outras Turma do 11.º A
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o dia a dia, a nossa falta de reflexão sobre o que fazemos e porque o fazemos, leva a que sejamos pessoas autómatas, uma espécie de “Maria Vai Com As Outras”. Seguimos as modas, imitamos os outros… Isto dá-nos uma sensação ilusória de liberdade. Achamos que tomamos decisões livremente, quando na realidade somos condicionados pelo que os outros fazem, pelo que os outros dizem, os sítios que frequentam, as roupas que usam, os programas que veem e até na nossa linguagem, que é bué esquisita para os mais velhos, mas ultra mega cool para os mais jovens. Quando tomamos consciência daquilo que realmente nos rodeia, libertamo-nos do automatismo, afinal não somos robots, e tornamo-nos autónomos, questionando tudo à nossa volta. Descobrimos que afinal sabemos tão pouco sobre o que julgávamos saber muito, e tornamo-nos senhores do nosso destino, fazemos o que queremos em consciência. (Atividade realizada no âmbito da disciplina de Filosofia)
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To the fallen ones Fernanda Sousa . Professora de Inglês
To all of those who are still today forced to fight for peace. To all of their children lost on the way. 8:00 8:01 8:02
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he hands of time were in motion and so were the ones of men. Anna Maria was counting the minutes for her eighth birthday and the promise made of a first golden ring. One day left and counting… One day left and, without knowing, she would lose it all… That Thursday morning had started like countless others. Her father, a school teacher, woke up early, drank his much needed coffee and left the house with a morning kiss to his daughter and wife. Somehow, they all knew times had changed but they tried to dismiss that eerie feeling whenever a car drove by or when running feet could be heard. Anna was seven and seemed even younger with those curly raven locks of hair and soulful hazel eyes. She had been a miracle her parents had longed hoped but didn’t expect anymore. An angel. She often asked questions, as most children do, but lately these questions were left unanswered. At each question, her parents looked for the right words, for a hidden meaning they themselves had not yet grasped. When they did not know what to say, with unflinching eyes,
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they lied. It was all they could do. Night came. The last one they would share together. The sun sprang its first golden rays touching Anna’s bedroom window like a touch of God, like
ensar(es) a sign, a moment forever burnt in her mother’s eyes when she went to wake Anna up. She carefully placed a birthday ring on Anna’s finger and they both smiled looking at the engraved message: To Anna with love. By then darkness was upon them but it was still minutes away from it. The blissfulness of the unknown… They heard the noise first. Cars being haphazardly parked. Muffled voices from below. The sound of running boots hammering on the ground as heavily as their own hearts. They stood frozen, wishing this would be a normal day, wishing it was not their turn. The answer came swiftly with deafening bangs on the door. It was now. With harsh moves, they were forced to leave. A new house would be found for them. Grabbing what they were allowed, they were sent to the meeting point. Others would follow too. That 4th of August was not going as planned. No birthday cake, no family, just anguish and uncertainty. Tall, grayish dressing men pointed their way towards the others. Their suitcases torn apart, their pride crushed to the ground. Dark and shameful were these days later described but back then they couldn’t have guessed. Anna was scared. Not because she knew what was happening but because she drank the fear she saw in her mother’s eyes. She touched her new ring, hoping against hope, it could magi-
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cally take them all back home. A train was now waiting for them. A train to nowhere. She looked around and the eyes were all the same regardless names and faces. They were anxious, wondering eyes. In no time, she was grasping her mother’s skirt, trying to hold on, to breathe in that hot, train wagon. ”It won’t be long, dear, don’t worry”- her mother said. Yes, indeed. It wouldn’t. Fighting the utter silence, her mother whispered a birthday song. The train finally came to a stop. Anna could almost guess the cerulean sky up above, the breeze of fresh air she so desperately wanted. The only thing she couldn’t have guessed was the place she was. As the doors opened and people teetering descended, Anna made an effort to read the strange words in front of her: Konzentrationslager Auschwitz When that shameful day ended, 4th of August 1944, a Friday, all that was left was a golden ring of a girl named Anna.
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O projeto “Respirar, Ler Pensar” resultou da candidatura das Bibliotecas do Agrupamento à iniciativa (re) ler com a biblioteca da Rede de Bibliotecas Escolares. Neste contexto, as turmas do 6.ºano leram “A Casa de Ariz” de Mónica Baldaque e escreveram textos inspirados na leitura e na visita à casa, onde também desenharam os lugares mais emblemáticos. Seleção de textos e ilustrações resultantes do Roteiro de Leitura “A Casa de Ariz”.
Respirar, Ler, Pensar… A Casa dos Avós Turmas do 6.º ano, EB2,3 de Peso da Régua
INSPIRAÇÃO: A CASA DE ARIZ, de Mónica Baldaque Laura tinha medo da noite naquela casa. Mas era um medo bom, que a fazia aninhar-se na cama, voltada para a parede, fechar os olhos, e deixar-se embalar pelas companhias da noite, o silêncio e os sons discretos. Quando acordava, os medos desapareciam, e Laura não podia acreditar na felicidade de estar ali. As manhãs eram alegres e movimentadas. Tomava o pequeno-almoço na cama, e ouvia uns e outros a entrar na cozinha. A avó dava ordens com voz alterada, atendia compradores, destinava o almoço, dava instruções à costureira, a Zulmira, que desfazia, lavava e voltava a fazer os colchões de lã com perícia inigualável. TRANSPIRAÇÃO: 1. Eu e a minha avó temos uma grande ligação. Lembro-me de quando ainda era uma pequena criancinha e brincava com ela com as bonecas que lá havia, era tão divertido! Ou de quando estávamos a fazer a massa para uma bola e ela dizia sempre que eu não estava a fazer aquilo direito e depois mostrava-me como se fazia. Eu costumava decorar as bolas com os restos de massa e fazia corações ou círculos, não conseguia fazer mais
Imagem de Pedro Costa, 6.º1
nada, mas a verdade é que também não sou um chefe de 5 estrelas! Memórias, penso quais serão as próximas... Margarida Carvalho, 6.º6
ensar(es) 2. Era eu pequenina quando vivi uma experiência hilariante na aldeia dos meus avós. Vivia lá um menino, que era três dias mais velho do que eu. Chamava-se João Pedro. Era um verdadeiro miúdo do campo. Sabia tudo sobre agricultura e animais. Muitas vezes, usava expressões para se referir a animais ou a outras coisas, que eu não entendia. Ele também tocava muito bem acordeão, principalmente, músicas populares. Apesar de eu viver numa cidade, não deixava de querer aprender sobre as coisas que se passavam na aldeia. Certo dia, eu e o João Pedro decidimos ir ter com o meu avô ao campo. Pelo caminho, corremos, brincamos com paus, observamos formigas nos carreiros, borboletas a esvoaçar e os passarinhos a voar perto de nós. Mas, o mais impressionante foi quando passamos por uns cavalos que tranquilamente pastavam num lameiro murado. Ele começou a relinchar e os cavalos vieram a correr até ao muro e responderam-lhe! Parecia que se estavam a cumprimentar. Pedi-lhe, de imediato, para me ensinar a falar com cavalos e após várias tentativas, lá consegui que os cavalos me respondessem. Sempre que vou a casa dos meus avós, tenho sempre aventuras para contar e relembrar.
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também improvisado e uma colmeia. Tenho várias recordações deste sítio, a comida deliciosa, os encontros de família, ajudar a minha avó no jardim e à noite descansar ao lado dela e da minha irmã enquanto víamos novelas pirosas. Um dia destes, voltarei àquele lugar que me transporta para outro mundo… nostálgico e delicioso! Constança Teixeira, 6.º6 4. Quando eu era mais pequeno, lembro-me de estar sentado com a minha querida velhinha na varanda a ver o vaidoso e atrevido rio Douro. Por vezes, um helicóptero dos bombeiros sobrevoava-o para encher o seu recipiente de água e ir apagar os fogos. Até hoje, não consigo esquecer essa imagem e a preocupação da minha avó, nesses momentos, imaginando quem estaria a sofrer com a invasão daquele monstro infernal. Gosto de passar o tempo livre em casa da minha avó Rosinha, pois por vezes em cada álbum que revemos, há sempre uma história para contar e é uma oportunidade para eu ficar a conhecer mais e melhor a história da minha família.
Ana Rocha, 6.º6
David Carvalhosa, 6.º2
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Eu já não vou muito à casa da minha avó materna, na aldeia de Tões, mas quando era mais pequena, costumava lá ir nas férias e nas festas. Ficava lá a dormir durante uma semana ou duas e depois voltava para a minha casa. Aquela grande casa divide-se em duas: a parte velha, onde a minha mãe cresceu, sempre fria, mas com memórias espalhadas por todo o lado; e a parte nova, um pouco mais moderna e sempre solarenga, onde encontrava alegria nas coisinhas e cacarecos que cada divisão tinha. No rés-do-chão, há uma entrada espaçosa com muitas fotos de bebés e parentes afastados. Ao lado, existe uma cozinha improvisada e a garagem com acesso a um enorme jardim, cheio de plantas de todo o tipo, um baloiço velho, um galinheiro
Os meus avós, são das pessoas mais importantes na minha vida. Eu tenho três avós, dois paternos e a minha avó materna. O meu outro avô “dormiu com os anjos”. A minha avó materna chama-se Júlia. Vivo com ela na mesma casa em que ela nasceu. E esta senhora já tem 67 anos. Às vezes, ela aborrece-se comigo por demorar muito para me levantar da cama, em dias de escola. Mas tirando isso, ela é bastante atenciosa. A casa tem dois andares, onze divisões e um quintal. Mal entro em casa, deparo-me com várias orquídeas pelo exterior da casa. Mais uns passos em frente, e mais orquídeas! Ao lado da porta da cozinha, uma escada. Em cada degrau há uma flor diferente. Sempre digo que todas as flores que existem lá, dão para metade de um jardim botânico!
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Os meus avós paternos, eu não os consigo descrever tão bem, porque já não os vejo há algum tempo. A única coisa que eu sei deles, e que é mais recente, foi que, em maio de 2021 a minha avó teve um AVC. Felizmente, ela sobreviveu, mas ficou sem andar e sem conseguir falar. Ao longo do tempo ela foi recuperando. Quanto à sua aparência física, lembro-me que ela tem cabelo crespo, um tom de pele escuro, uns óculos vermelhos e olhos castanhos pequenos e puxados. Recordo-me que ela fazia uns pastéis salgados triangulares chamados chamuças … e fazia-as com muita frequência. Uma delícia! Sempre que eu ia de férias com o meu pai, ela fazia-as especialmente por eu estar lá. Uma vez, estava de férias com o meu pai, mais uma vez, e a avó cozinhou-as e levou-as para um piquenique em família. Eu e a minha prima, que curiosamente é um dia mais velha que eu, experimentamos uma chamuça picante, mas se eu soubesse que era tão forte, nem tinha encostado a língua. Esta é a memória que eu recordo melhor, e sem dúvida que esse momento foi um dos mais divertidos da minha vida. Carolina Vaz, 6.º1
6. A casa da minha avó situa-se perto do rio Douro, no 3.º andar de um prédio de “meia-idade”. A vista da varanda é muito bonita pois conseguimos ver o rio Douro e os socalcos coloridos com um verde forte e bonito na primavera. Eu adorava dormir naquele lugar! Sentia-me aconchegado e acarinhado pelos meus avós. Mesmo sendo um apartamento, a casa tem dois andares, um terraço coberto de flores coloridas e também um sótão. Uma memória que tenho daquela casa é o barulho de uma porta de madeira, que à noite era preciso colocar-lhe fita-cola para não fazer ruído. Outra memória são as suas escadas que davam acesso ao 2.º andar, onde eu estava sempre a brincar. Adorava e adoro a casa da minha avó porque, ainda hoje, me faz reviver memórias dos primeiros anos de infância e a memória que tenho de mim mesmo. Manuel Ferreira, 6.º2
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Roteiro de Leitura: A Casa de Ariz, de Mónica Baldaque Turmas do 6.º ano, EB2,3 de Peso da Régua
Gostei muito de ir à Casa de Ariz porque é uma casa grande e bonita. Tem um campo grande com muitas árvores. Também tem um tanque e uma mina. Gostei de fazer aquela recolha de objetos do chão e de sentir as sensações da natureza e de ver os animais. A minha parte preferida da visita foi quando fomos desenhar uma parte qualquer da casa à nossa escolha. Helena Pereira 6.1 A visita para mim foi muito boa, apesar do calor que estava. Foi bom ter ido à Casa de Ariz, vimos coisas incríveis. Soube bem desenhar ao ar livre! Vimos um cão que estava a ralhar connosco, vimos galinhas, um ganso e peixes. Quando vimos aquela piscina só nos apeteceu ir lá para dentro. A casa é linda e grande e a dona da casa era muito simpática. Apanhamos folhas e outras coisas interessantes do chão. Tinha lá flores lindas. Foi muito bom ter ido lá! Ana Nascimento, 6.1 Ontem, eu e a minha turma fomos visitar a Casa de Ariz.
Imagens de José Artur Matos
Foi bom passear com a turma e com os professores, visitar uma casa enorme, onde viveu a escritora, e ficar a saber histórias que lá aconteceram. Foi tão bom fechar os olhos e sentir o vento, os
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passarinhos e sentir as formigas a subir pelas nossas pernas. A atividade de que mais gostei, foi desenhar o que nós quiséssemos da parte exterior da casa. Foi tão bom! Luana Pereira,6.1 Eu gostei de visitar a Casa de Ariz e fiquei com vontade de saber mais. Quando fomos ver a mina, nem sei como a galinha não teve medo de entrar lá, devia estar cheio de bichos, coitado de quem foi buscar a galinha. E subimos ainda mais, vimos um cão preto, não muito grande, nem muito pequeno, mas uma coisa que eu percebi, é que ele já estava acostumado com visitas. E quando os meus amigos viram um ganso, começaram a chamá-lo e a imitá-lo, mas quando ele se aproximou, ficaram todos com medo e fugiram. Mas tínhamos de ir embora. Ficamos com pena, mas tinha de ser. Despedi-me da senhora, despedi-me da casa e fomos embora. Pedro Pinto, 6.1 Na visita de estudo, senti-me livre e bem, pois aquela casa tinha várias espécies de plantas, e era grande, feita de xisto. O espaço de fora era muito espaçoso. Havia limoeiros e um laranjal e várias outras árvores de fruto. Também havia alguns animais, umas galinhas e um ganso, e um baloiço de madeira e uma piscina. Gostei de lá ir porque estava na natureza e foi divertido. Valentina Poiares, 6.1 Ontem, fomos à Casa de Ariz, onde se passam a maior parte das histórias do livro ” A folha do limoeiro”. Estar lá foi uma experiência muito boa, pois descobrimos coisas que nunca tínhamos visto, como existir uma mina numa casa. Senti-me como se estivesse num conto de fadas.
Cada canto, uma obra-prima. Cada som, cada cheiro eram tão bons de ouvir e de cheirar. Era tudo tão inspirador. Poderia ficar lá só a apreciar o mais pequeno detalhe. Carolina Vaz, 6.1 Eu gostei da visita à Casa de Ariz, mas o melhor foi desenhar e pintar, porque aprendi novas formas de o fazer, por exemplo, pintar com uma laranja. Uma coisa que eu queria fazer, era explorar a casa por dentro, mas não foi possível. Estava muito calor e apetecia-me ir para a piscina ou abrir uma laranja e espremer o sumo para a minha boca. Rodrigo Gouveia, 6.1 Para mim, a visita foi muito boa, porque é sempre muito bom conhecer novos lugares. Gostei muito de andar na natureza, mas tinha lá muitas plantas e quando a minha perna tocava em alguma, dava muita comichão. Devia ser alergia. Eu desenhei um lugar onde tinha um vaso de flores vermelhas, um banco, uma janela e na parede tinha uma planta com flores roxas. Adorei ir lá, queria ir outra vez! Beatriz Trindade, 6.1 A visita de estudo foi muito divertida, gostei quando fomos fazer uma atividade de desenhar. Foi uma caminhada grande, mas eu gostei de ir à Casa. Tinha galinhas, um ganso que metia medo, tinha também um cão. Eu desenhei uma das folhas e o tanque. Adorei desenhar o tanque e a folha. Escolhi esses dois porque a Laura bebia água do tanque por uma folha de limoeiro. Eu adorei estar na Casa de Ariz. Tiago Carvalho, 6.1
ensar(es) Eu é que sei! é um programa da Rádio Comercial que traduz o mundo visto pelas crianças. Para tal é-lhes apresentado um conjunto de perguntas. Nas páginas que se seguem alunos do primeiro ciclo respondem a diferentes questões
Porque ficamos tristes? Turma do 4.º 1 do Centro Escolar das Alagoas
Por causa de alguma coisa que não queríamos que acontecesse Porque sentimos falta de alguém Porque nos magoam Porque estamos sozinhos Porque por vezes estragam os sentimentos do coração Porque estamos sós ou cometemos um erro na nossa vida Porque algo nos bate no coração Porque temos saudades Porque alguma coisa corre mal e ficamos arrependidos Porque estamos sensíveis e o nosso corpo chora Porque ouvimos algo de que não gostamos Por causa de alguma coisa que não temos
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O que é salvar o planeta? Turma do 4.º1 do Centro Escolar da Alameda
É uma ajuda para as pessoas É reciclar e não deitar lixo para os mares É uma coisa que devemos fazer, porque é uma coisa boa É não deitar coisas ao mar, ao chão e não estragar a água É ajudar os animais e as plantas É salvar a terra É acabar com o aquecimento global e deixar de poluir É limpar o mundo, não sujar o mundo É reciclar, não deitar lixo para o chão e reutilizar É bom para mim salvar o planeta para não morrerem tantas pessoas, para protegermos a vida das outras pessoas e dos animais e as águas não ficarem poluídas É tipo não podermos deitar lixo para o chão e para os mares, poupar água e ajudar os animais É ajudar o planeta, não cortar árvores e não deitar fogo às matas É ajudarmo-nos uns aos outros e tornar a sociedade melhor É não deitar lixo para os lagos e para os mares e não poluir as águas É não poluir, não deitar coisas para a sanita que não sejam adequadas É não utilizar muita coisa de plástico e usar mais cartão É ajudar, não gastar água, deitar o lixo nos contentores, não deixar as torneiras “acesas” e não gastar muito papel
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O que é uma coisa difícil? Turma do 4.º 2 do Centro Escolar das Alagoas
Uma coisa difícil penso que é morrer Uma coisa difícil é o que não se faz muito rápido Uma coisa difícil é quando nós queremos ajudar essa pessoa e ela não quer Uma coisa difícil é o que não está ao nosso alcance Uma coisa difícil é o que é complicado, mais ou menos impossível para as crianças Uma coisa difícil é mentir às pessoas de que gosto muito Uma coisa difícil são coisas que custam muito a fazer Uma coisa difícil é ter medo de que as minhas amigas se separem de mim Uma coisa difícil é correr muitas voltas muito rápido Uma coisa difícil é tentarmos, mas não conseguirmos Uma coisa difícil é viver sozinho e triste
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De onde vem a alegria? Turma do 4.º 2 do Centro Escolar da Alameda
A alegria vem de dar risadas com coisas engraçadas A alegria é o que me causa felicidade A alegria vem dos sorrisos Fico alegre quando como uma sobremesa deliciosa Alegria é quando o meu pai faz coceguinhas na minha barriga A alegria vem de imitar o macaquinho A alegria vem de jogar à bola A alegria vem dos sentimentos, coisas felizes Alegria é ouvir anedotas A alegria vem da amizade e da bondade A alegria vem dos momentos felizes quando algo de bom acontece Vem de uns “tubos” que se forem em excesso provocam gargalhadas A alegria vem das crianças que são um “mundo” de diversão A alegria vem das surpresas agradáveis A alegria vem do ressonar do meu cão
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O que é a guerra?
Turma do 4.º 3 do Centro Escolar da Alameda
É um conjunto de dois países a lutarem e a destruírem cidades, o país e a matarem pessoas É uma coisa horrível É a confusão É uma coisa que não deve acontecer. Estraga a nossa vida, as crianças ficam sem comida, não têm brinquedos e estão a viver na miséria É uma coisa inútil É uma coisa má É onde não há paz É desnecessária É uma injustiça para os Ucranianos É luta, pessoas que não se entendem É na guerra se perdem famílias, pais e filhos que vão para a guerra É uma coisa que aleija muito as pessoas e onde podem morrer algumas É os soldados a lutar. É porrada É muito má É as lutas e as armas são muito más É uma coisa má, que mata muitas pessoas É quando dois países não estão felizes entre si e começam uma guerra É má e estúpida É má e perigosa, má para as pessoas, as crianças mais novas e as mães É um inferno
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O racismo Inês Teixeira . Aluna do 10.º E
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tualmente, somos rodeados por diversos problemas sociais entre eles o racismo. Damos o nome de racismo ao preconceito perante outras raças ou etnias. Mas será isto correto? Não, não se deve julgar ou maltratar alguém só porque tem outra cor de pele, outra cultura, outros costumes só porque não são “semelhantes a nós”, devemos sim respeitá-los porque afinal, nós não iriamos gostar se fossem eles a fazer ao contrário. Contudo, muitas pessoas continuam a ter os seus pensamentos racistas queimando casas, matando pessoas negras. Podendo dar o exemplo de um caso nos Estados Unidos, onde um agente da polícia espancou até à morte um homem negro. Naquela altura surgiram, tanto nas ruas como na internet, revoltas populares contra o sucedido, por exemplo o lema «Black Lives Matter», porém, este foi facilmente esquecido. Para concluir, o racismo é um tema grave demais para ser esquecido.
Imagem: Mladen Antonov/AFP via Getty Images
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A censura no mundo das artes Marta Guedes . Aluna do 11.º A
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m ditaduras como Cuba ou em governos como o Irão, há artistas que são diariamente alvo de todo o tipo de censura e de todo o tipo de gente que os tentam reprimir a todo o custo. Quer seja dentro da pintura, da música, da dança ou mesmo do cinema. A designação do termo arte vem do latim Ars, que significa técnica e/ou habilidade. É definida como ‘’uma atividade que manifesta a estética visual desenvolvida por artistas que se baseiam nas suas próprias emoções. Geralmente a arte é um reflexo da época e cultura vivida’’. O movimento artístico é algo muito subjetivo e abstrato e é desenvolvido sobretudo com o intuito de ilustrar o pensamento do artista e os seus sentimentos através de diversos meios. É a capacidade de conseguir interpretar a vida e os seus acontecimentos com uma maior sensibilidade e os transmitir em forma de pintura, música, escultura, etc. Os artistas são pessoas extremamente criativas e liberdade é algo essencial no processo de criação. Fala-se muito atualmente em liberdade de expressão, mas então porque ainda persiste em tantos países a censura nos vários tipos de arte? As mulheres iranianas e afegãs são um caso concreto de vítimas de atentados à liberdade artística. No Irão, as mulheres não podem cantar. Aos homens é permitido criar música, mas passam por um processo muito complexo antes de serem autorizados a compartilhá-la.
Ilustração: Caio Borges
A maioria dos países onde isto acontece têm ainda governos repressivos que têm ideais mais conservadoras e que usam a censura para silenciar artistas independentes. Há imensas tentativas de fechar espaços dedicados à arte e muitas exposições são arruinadas porque qualquer coisa pode estar sujeito a virar uma apologia ao crime, quer seja por questões políticas ou até religiosas. Não obstante, existem também países que valorizam muito a arte como é o caso de França que investe muito no setor cultural. Se este comportamento fosse adotado pelos restantes países, os valores de diversidade, pluralidade, respeito e tolerância seriam ensinados e incutidos às pessoas e a liberdade de expressão seria, assim, o maior foco a seguir.
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A menina de olhos brancos Era temida por todos Vivia numa casa enorme Paredes e janelas de couro A menina de olhos brancos Despedir-se da sua vida queria Até que apareceu o salvador Dizendo que não a temia A menina de olhos brancos Sem acreditar ficou E o que os outros viam temor O salvador via esplendor A menina de olhos brancos Temida pelo vazio de seus olhos Passou agora a admira-los Vendo luz em si própria Daniela Vieira . Aluna 11.º A
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O Futuro Beatriz Conceição . Aluna do 11.º A
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lá! Sou a Beatriz, uma aluna do 11.°ano, do curso de Ciências e Tecnologias, a meio do ensino secundário. Neste momento sinto-me invadida por múltiplos sentimentos e vários são os pensamentos que se acercam de mim. "Estou ansiosa que isto acabe!", é o maior deles todos. São três anos cruciais na vida de qualquer adolescente, três anos a sermos moldados, três anos de procura de quem somos Serão, muito provavelmente, os anos mais importantes na formação de um ser humano e, assim, tendo tamanha importância, não lhes podemos subtrair os sentimentos que lhes estão associados: dor, tristeza, alegria, amor, confusão, muita confusão. Nestes três anos somos coagidos pela sociedade a escolhermos o que queremos para a vida, tornámo-nos adultos e sentimos um peso, será isto a responsabilidade?! Procuramos, ainda que induzidos por fatores socioculturais, a escolhemos aquilo que nos apraz fazer no futuro, conjugado com bons salários (será que esta dupla é assim tão fácil de conjugar?!), procurando segurança económica do futuro. Esta pressão que nos é imposta faz-me uma tremenda confusão: Porque é que a vida de um adolescente, que acabou de fazer a sua primeira escolha tem de ficar enclausurada num percurso de três anos?
E se me arrepender?…terei a penalização de voltar ao 10º ano?? É certo que temos de ter testes de validação objetiva mas não deveríamos apostar numa formação mais cívica, de contacto com o outro e as instituições que nos servem? É muito importante saber mas é igualmente importante o saber fazer. Se a escola não se volta para fora de si torna-se obsoleta, pois um saber para esquecer a curto prazo (testes e exames) deve ser complementado por uma aprendizagem eficaz (saber + fazer = verdadeira cidadania). Neste momento sinto-me bombardeada por múltiplos sentimentos e vários são os pensamentos que se acercam de mim: Como é suposto eu não ter dias maus? Como é suposto esquecer tudo o que se passa dentro de mim, sendo que estou na fase de aprender a lidar comigo? SABERMOS RESOLVER MAL EQUAÇÕES E SABERMOS MAL QUEM SÃO OS INDUTIVISTAS É O QUE REALMENTE IMPORTA.
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A saúde mental ainda é tabu!! Ana Velho . Aluna do 11.º A
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magine que em conversa com um amigo, não muito próximo, mas o suficiente para se considerar amigo, lhe pergunta “E então? Estás bem?”. Ora, nós fazemos esta questão com tanta naturalidade e descontração que não estamos realmente interessados na resposta, até porque certamente será um “Sim.”. Mas, neste caso, a resposta foi um “Não.”. Consegue-se imaginar nesta situação? A resposta foi tão inesperada que nos sentimos constrangidos, embaraçados. Quando fizemos a pergunta queríamos realmente saber o estado do nosso amigo? Ou estávamos apenas a seguir um protocolo social? As perguntas “Estás bem?” ou “Como estás?” são rotineiras, desvalorizadas e as suas respostas não lhes ficam atrás, especialmente se as duas pessoas não forem próximas e íntimas. Por isso, considero que devemos ter consciência da ousadia de querermos saber se alguém está bem, pois não sendo um interesse solidário e construtivo, pode afundar ainda mais a pessoa no âmago da sua tristeza e solidão. Se a pessoa que está ao nosso lado escolhe confidenciar-nos a sua alma e aquilo que dela desconhece e a confunde, cabe-nos a responsabilidade da disponibilidade circunstancial e emotiva para a ouvir e o comprometimento para juntos procurar um caminho e não a apenas a atirar para o cárcere do “Não te preocupes que vai ficar tudo bem.”. As doenças mentais acompanham o ser humano desde que há registos. Enquanto que há uns
séculos se utilizavam tratamentos “choque”, choques elétricos, entre outros, igualmente radicais, como camisas de força e a força da “vergonha” de não se saberem comportar como os outros, os normais - os pacientes eram considerados aberrações. Hoje vão-se dando pequenos passos no sentido do reconhecimento das doenças mentais para o bom funcionamento da sociedade Apesar da ajuda disponível, incluindo fármacos, psicoterapia ou métodos não convencionais como hipnoterapia, ter aumentado, poucas são as pessoas que conseguem confessar ao outro “Eu tenho um problema e preciso de ajuda!”. Mesmo que já usufruam dessa ajuda, têm vergonha de o admitir, medo de juízos persecutórios por parte dos seus pares ou devido a algum traço de personalidade que já de si lhe dificulte o processo de socialização. É necessário, então que se compreenda que nenhum de nós está imune a este tipo de vicissitudes. Somos todos seres humanos, diferentes, é certo, mas com a mesma matriz racional e necessidade convivencial. Os nossos problemas não são únicos e existe muita gente que também se revê neles e/ou pode com estes aprender. A disponibilidade de ouvir o outro, sem minorar ou menosprezar a sua circunstância, abandonar o preconceito e interiorizar a saúde mental como inerente ao ser humano são alguns princípios de que devemos tomar consciência para nos avaliarmos, também a nós. Como vai a tua saúde mental?
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Os jovens e a Filosofia Juliana Bernardo . Aluna do 11.º A
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Filosofia é muito ousada e curiosa, pois procura entender tudo o que existe no mundo, entretendo-se na criação concetual e no esgrimir de argumentos! E chama a isso AMOR!! Ela é, literalmente, o "amor pela sabedoria". Filosofia. Filosofar. Filosofar sobre a filosofia. Muitos jovens, olham para esta disciplina, com algum desinteresse, e são poucos aqueles que pretendem aprofundar os seus conhecimentos. Se questionarmos uma turma de 9°ano, por exemplo, se sabem o que é a filosofia, de certo que dirão é uma seca, e muitos deles até desconhecem a existência de tal disciplina. Estas respostas, na minha visão, são obtidas também em alunos que frequentam a disciplina, contudo, os jovens ainda não descobriram que a Filosofia nos dá inúmeras ferramentas, tais como a auto reflexão e a crítica, o poder questionar e argumentar as nossas próprias opiniões e as dos outros, claro está! Uma ferramenta essencial para a vida escolar, e para vida em geral. Na minha opinião, a Filosofia deveria ser introduzida mais cedo no percurso escolar dos jovens, de certo que podem refutar este meu ponto de vista dizendo que são muito crianças, ainda sem grande maturidade, mas de «pequenino se torce o pepino» e é quando investimos na mais tenra idade que colhemos mais cedo os bons frutos, isto é, teremos melhores cidadãos, que saberão o benefício de recorrer à dúvida e, com isso tornar-
Imagem de PhilipToledano
se-ão mais recetivos a perspetivas, encarando-as como complementares e não concorrente, as desigualdades seriam banidas, e, por conseguinte, iriam ter comportamentos mais tolerantes. Como diz Platão, para tentar mover o mundo o primeiro passo será mover-se a si mesmo.
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Racismo e Xenofobia Beatriz Dantas . Aluna do 10.º E
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acismo e xenofobia. Dois atos de ódio, que acontecem porque uma pessoa se acha superior a outra por conta de simples características, neste caso, cor de pele e país de origem. Ambos os atos estão errados e isso devia ser óbvio para todos, pois em pleno século XXI, todo o tipo de etneias e cores encontram-se espalhadas pelo mundo. E mesmo que isso não acontecesse estamos em um mundo multicultural e dentro da lei, são todos livres para viverem uma vida normal sem serem excluídos, insultado ou até mesmo mortos por conta de características que lhes são inatas, que por algum motivo não agrada a «supremacia branca». O mundo tem aberto os olhos para o quão ridículo isto é, e felizmente, ambos os atos são punidos por lei. Por mais que eu ache que não existe justificação para tais atos, e que todos aqueles que cometem tais crismes devem sofrer as devidas consequências, também conseguimos nos por no lugar da pessoa. Ao longo da história, as pessoas brancas de classes altas sempre foram vistas como «superiores», e infelizmente este estereotipo foi se arrastando com o passar dos anos e muita gente ainda vê isso como uma verdade absoluta, e não é! Fica bastante óbvia a minha opinião e infelizmente não é uma opinião universal, pois todos nos sabemos que ainda há quem sofra com este
Imagem: banco de imagens do Canvas/Divulgação
tipo de preconceitos. Que racismo e xenofobia são errados isso é facto, e por mais que haja pessoas que ainda cometem tal crime, hoje em pleno 2022, é ridículo achar que qualquer motivo suporta tal ato de atrocidade. VIVEMOS NUM MUNDO LIVRE! DEIXEMOS TODOS SEREM LIVRES!
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Oficina de Escrita Criativa Centro Escolar da Alameda
O QUE É A VIDA? A vida é ter amor e alegria. A vida é tipo um sonho só que maior. A vida é estudar, ir para a escola e brincar. A vida é importante para as pessoas, os animais e as plantas. A vida é aprender com os erros. A vida é bela, maravilhosa, deve ser bem vivida porque só vivemos uma vez. A vida é uma coisa boa mas às vezes é difícil. A vida é alegria, tristeza, ter amigos e família. A vida é a liberdade. A vida é uma rosa, um amor e uma festa. A vida é uma experiência única. A vida é aquilo que nos faz nascer até morrer e serve para conseguirmos fazer o que nos apetece. A vida é o que nos faz estar neste mundo e nos deixa aproveitar os momentos com quem amamos. A vida é amor, alegria, felicidade, medo, choro, tristeza. A vida é amarmo-nos e amar os outros, ser amigo de todos e não deixar ninguém de parte. Eu amo a vida. A vida é o amor, os nossos familiares e amigos, a nossa professora e o Benfica… A vida é o amor, a diversão, a minha família e o S.C. Régua.
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Oficina de Escrita Criativa Centro Escolar das Alagoas O QUE É A VIDA? A vida é amigos, pais e professores, a vida é a felicidade e o amor, a alegria e a determinação. A vida é brincar com os meus amigos, divertir-me à grande. A vida é flores, é natureza, o sol. A vida é a história das pessoas. A vida é viver, crescer e aprender. A vida é o mundo que Deus criou. A vida é o coração a bater pum… pum… a vida é deixar voar a imaginação, criar formas com legos… A vida é liberdade e onde podemos viver os nossos sonhos. A vida é realizar sonhos que sempre quisemos alcançar e aproveitar ao máximo a vida. A vida é uma forma de aprendermos com os nossos erros e saber que ninguém e nada é perfeito e que por mais iguais que sejamos toda a gente é única. A vida é uma fonte de conhecimento, é a alegria que nos dá, é a vontade de viver.
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Holocausto Júlia Vieira . Aluna do 10.º E
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Holocausto dá-se na Segunda Guerra Mundial caraterizando-se como um dos momentos mais cruéis na história a nível mundial, e acabou, em 1945, com o fim da mesma guerra. O início deste fenómeno resulta da forma de pensar de Hitler, pois este julgava que a crise que se estava a instalar na Alemanha emergia por causa dos Judeus e de outras etnias. Hitler começou por privar esses indivíduos de fazer coisas elementares, como por exemplo, andar de bicicleta, culminando em levar Judeus e pessoas de outras etnias para um campo de concentração. Nesses campos de concentração, obrigavam os indivíduos levados para esses espaços a vestirem um vestuário às riscas, tatuavam um número nos seus braços, ou seja, o número a que cada pessoa correspondia, pois não eram tratadas pelos seus respetivos nomes, mas sim pelo número que lhe era dado. Faziam-nas trabalhar demasiado, dando-lhes pouca comida e não possuíam casa de banho. Para além destes maus-tratos, o que era mais aterrorizante nestes campos de concentração era a forma como os torturavam. Se algum deles fizesse algo contra a vontade de quem os vigiava eram logo punidos, com a morte. Alguns deles morriam pois não suportavam as más condições, logo não conseguiam sobreviver, outros eram colocados numa câmara de gás para morrerem. Este acontecimento tão marcante na história
a nível mundial, leva-me a refletir sobre a vida, mas principalmente sobre as desigualdades que existem no mundo, devido a diferença de etnia, de cor, de raça, de religião, de género, entre muitas outras. Que este fenómeno nos leve a pensar e a refletir o quão importante é respeitar e aceitar o próximo da forma como ele é, pois só assim também nós seremos respeitados e aceites, e não importa a cor, nem a raça, nem a religião, pois somos todos seres humanos e todos com o mesmo direito: VIVER!
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A Liberdade é o oxigénio da alma Inês Sequeira . Aluna do 10.º B
“Se queres a verdadeira liberdade, deves fazer-te servo da filosofia.” (Epicuro)
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o mês de abril, surge a necessidade de refletir, um pouco mais, sobre a liberdade. Em que estado se encontra atualmente? Evoluiu, claramente. Adaptou-se e foi adaptada para esta nova e moderna realidade. Está melhor? Pior? Diferente. Ser livre é um desejo de todo o ser humano. Porém, muitas vezes, o conceito de “liberdade” é extrapolado, e alvo de grande dubiez na Humanidade. Logo, para que não restem dúvidas: a Liberdade é a sensação de estar livre e não depender de ninguém, é independência. A Liberdade é classificada pela filosofia como o poder de ter autodeterminação e autenticidade. A filosofia incentiva este pensamento e, acima de tudo, a liberdade de expressão, o que muitas vezes é motivo de conflito na nossa sociedade. No meu entender, esta situação é totalmente condenável, pois não devíamos ter receio, e não deveria ser tão difícil debater uma opinião diferente da proposta (ou imposta) pelas redes sociais ou até mesmo por outros meios de comunicação ou entidades, e também não deveríamos adotar opiniões alheias só porque sim. Devemos, efetivamente, com respeito pelo próximo, defender o nosso ponto de vista na Filosofia e na Vida. O grande enigma que transpõe toda esta questão é se o Homem é realmente livre e responsável pelos seus atos ou se é apenas um fragmento no
Imagem: Tomás Silva - Observador
Universo orientado por leis naturais. Atualmente, ainda não existe justificação para esta questão, assim como para tantas outras; mas, em breve, quem saberá? A filosofia evolui e nós devemos evoluir com ela também.
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Relacionamentos Tóxicos Francisca Saraiva . Aluna do 10.º C
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m relacionamento tóxico pode ser resumido pelo desejo de controlar o parceiro e de tê-lo apenas para si próprio. Esse comportamento surge aos poucos e vai passando dos limites, causando sofrimento e dor. Relacionamentos tóxicos, infelizmente, são muito comuns na adolescência e, normalmente, ocorrem entre uma pessoa mais velha, o controlador, e uma pessoa mais nova e mais inocente, a vítima. Este tipo de relacionamento começa como todos os outros onde tudo parece perfeito, mas com o passar do tempo vai se tornando uma verdadeira prisão. São caracterizados por frequentes crises de ciúmes, há uma constante luta pelo poder, as pessoas não conseguem ver futuro na relação, existem frequentes ameaças de término, não há confiança, existe uma dependência emocional muito grande, e por esse motivo o relacionamento continua, e as pessoas perdem a sua autoestima e acabam por desenvolver traumas. Na minha opinião estar num relacionamento tóxico é mau, mas querer sair dele e simplesmente não conseguir é pior. As vítimas acabam por perder a sua liberdade e a vida delas passa a girar à volta do controlador e simplesmente não conseguem imaginar a vida delas sem ele. Além de todo o mal destes relacionamentos, recuperar deles de facto não é uma tarefa fácil e na maior parte das vezes as pessoas negam a
Imagem Pinterest/Henn Kim
situação, e não veem o quão doentio é insistir em algo que prejudica tanto a saúde emocional, mental e física. Devemos sempre dar importância a este tipo de assunto e nunca desvalorizar a vítima e algum tipo de situação aparentemente tóxica, e sempre que possamos tentar ajudar a pessoa que está num relacionamento desses a sair dele e mostrarlhe que é a melhor coisa que ela pode fazer para ser realmente feliz.
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O que dizem os meus olhos? Magda Soares . Aluna do 10.º B
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ertamente, já todos assistimos ao programa em que esta pergunta é feita. Mas já parámos para pensar como responderíamos? Bem, para mim, a resposta é não. Penso que andamos demasiado preocupados com os afazeres relacionados com a nossa vida e nem paramos para respirar e pensar sobre este tipo de questões… A palavra “olho” deriva do latim oculus, e para muitos os olhos são considerados o espelho da alma, refletindo todo o tipo de emoções. Existem olhos que transmitem calma e segurança, outros que são capazes de provocar medo e agitação e ainda outros que são doces e gentis. São faladores silenciosos capazes de expressar aquilo que não conseguimos colocar em palavras. Com eles, somos capazes de explorar as belezas do mundo e de registar incríveis memórias que um dia nos irão fazer sorrir e relembrar os bons e velhos tempos. Penso que a resposta para a pergunta feita não é fácil e imediata, mas é algo sobre o qual todos deveríamos refletir. Os meus olhos dizem que sou feliz nas mais pequenas e simples coisas: partilhar uns bons sorrisos com os amigos, ler um livro rodeada pela natureza, escutar o som de um violino…. Dizem que quero ser uma médica bem-sucedida, que quero viajar e conhecer novas culturas, que quero criar momentos felizes com pessoas novas….
Imagem in https://osubconscientetempoder.com.br/
Dizem que me preocupo muito com o futuro e que, por vezes, não vivo o presente totalmente, com certo receio e preocupação relacionados com o amanhã. Para mim, o olhar é carregado de significados e possui um poder enorme. Desta forma, devemos perceber o que os nossos olhos dizem e interpretar o que os dos outros nos transmitem.
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A importância do estudo do passado João Soares . Aluno do 10.º A
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á muito tempo que o Homem procura saber cada vez mais sobre o seu passado. Mas será que essa procura tem alguma importância? Afinal, porque é que devemos investigar acontecimentos que ocorreram há centenas ou milhares de anos? Na minha opinião, essa busca pela nossa história é fundamental para a nossa evolução como seres racionais, visto que permite responder a várias questões acerca da Humanidade, como, por exemplo, “Como aparecemos aqui?” e “Como é que nos desenvolvemos tão rápido?”. Recorrendo ao estudo dos registos do passado, conseguimos entender melhor a nossa origem, a nossa evolução e o nosso papel no mundo, o que nos ajudará também a compreender o futuro que nos espera. Em suma, a investigação do passado é uma ferramenta para perceber o que já caminhámos e o que ainda está para vir. Outro aspeto significativo, relativamente ao estudo do passado, é que permite a descoberta de diversos erros graves cometidos pelos nossos antepassados, desde guerras violentas a crises desnecessárias. Creio que, ao termos consciência dos erros grosseiros do passado, também podemos aprender com eles e não tornar a cair na mesma armadilha. Penso que, se essa procura pela história da Humanidade for abandonada, ou a informação a seu respeito censurada, o futuro da nossa espécie estará condenado a repetir as mesmas falhas. Sendo assim, a investigação do passado é mui-
to importante, servindo como um meio para compreender as nossas origens e, possivelmente, aperfeiçoar o nosso futuro.
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A importância de estudar o passado da Humanidade Pedro Marques . Aluno do 10.º A
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á muito tempo que o passado da Humanidade é estudado pelo Homem, sendo que é importante conhecermos melhor as nossas origens e os acontecimentos do passado, alguns dos quais são únicos. Por um lado, este estudo vai permitir conhecer melhor os inúmeros acontecimentos importantes que ocorreram há milhares de anos, como, por exemplo, erupções de vulcões, terramotos, entre outros. Assim sendo, este estudo pode contribuir para diversas áreas da ciência, ajudando-nos a perceber melhor a história da humanidade e, talvez, a prever acontecimentos futuros, evitando danos significativos. Com este estudo podemos, também, aprofundar o que sabemos sobre as nossas origens e história do próprio ser humano, ou seja, como surgimos aqui na Terra, como fomos evoluindo mental e fisicamente e que obstáculos apareceram para prejudicar o nosso progresso até aos dias de hoje. Por outro lado, este tipo de investigação requer muito trabalho físico e mental, além de também ser preciso algum poder financeiro para sustentá-lo. É preciso, por exemplo, dinheiro para investir em novas tecnologias ou é necessário pagar a mão-de-obra e o seguro dos trabalhadores, pois este tipo de investigação pode resultar, por vezes, na morte dos colaboradores. Na minha opinião, é importante estudar o passado da Humanidade, pois, ao longo do tempo,
foram surgindo acontecimentos únicos e a Humanidade foi evoluindo de várias maneiras, sendo que, à medida que o tempo foi passando foram surgindo novas teorias sobre o passado e se formos analisar nenhuma delas se mantém, pois o estudo está sempre em evolução, o que o torna tão especial. Concluindo, a Humanidade tem uma história muito extensa, a qual está cheia de importantes acontecimentos quanto à Terra, quanto ao ser humano, fazendo com que este estudo seja contínuo.
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Eu Henrique Sousa . Aluno do 11.º A
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urante o nosso ciclo de vida, desde o nascimento até à morte, construímos um legado que vamos deixar irremediavelmente para trás, criamos memórias de situações que nos deixam felizes ou tristes, criamos e desenvolvemos laços com outras pessoas, uns mais superficiais, outros mais profundos e duradouros. Mas, e se tudo o que pensamos ser verdadeiro nos fosse provado ser falso? É um pensamento que me acompanhou na minha curta existência, realmente não podemos ter a certeza de nada. Não é possível controlar as emoções que sentimos, mas é possível supor o que iremos sentir numa determinada situação, é quase como se tivéssemos sido programados para saber como reagir a situações específicas e o que sentir, e quando somos surpreendidos por essas emoções ou nos sentimos culpados ou acreditar nisso parece-nos ingénuo. Por vezes temos a certeza do que é melhor para nós e são as emoções que nos impedem de o fazer. É o que nos separa dos animais irracionais, mas ao contrário destes, muitos de nós estamos dispostos a abdicar da nossa sobrevivência só pelo que sentimos por algo ou alguém. Devemos seguir os nossos sentimentos em vez da lógica? Possivelmente o mundo seria um lugar melhor sem medo, inveja, raiva… Imagem: EPFL/Blue Brain Project
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Será o mundo digital uma ameaça à nossa liberdade individual? Margarida Fernandes . Aluna do 10.º B
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omo consequência natural da evolução tecnológica, a sociedade é, atualmente, dominada pelo ambiente digital. Diariamente, recorremos a uma panóplia de plataformas digitais e redes sociais nas diferentes esferas da nossa vida, seja nas atividades académicas/laborais, nas relações humanas ou em outros domínios do nosso quotidiano. Hoje em dia, é impensável não estarmos sempre conectados e o smartphone é um equipamento absolutamente indispensável, como se fosse uma parte do nosso corpo ou da nossa mente, sem a qual não conseguimos planear e executar as nossas tarefas diárias. A nossa rotina passa, invariavelmente, por verificarmos centenas de vezes ao dia a nossa atividade no vasto mundo digital, o que, de certa forma, nos torna dependentes de uma ferramenta útil, mas extremamente viciante e escravizante. São inúmeras e inquestionáveis as vantagens que a Internet e os vários gadgets de que dispomos trouxeram à nossa vida, contudo questiono-me se essa adição não põe em causa a nossa liberdade individual. Por exemplo, a nossa pegada digital, isto é, o rasto que deixamos na web relativamente aos nossos dados pessoais, aos nossos hábitos, interesses e preferências, não poderá constituir uma devassa subtil à nossa privacidade? Pergunto também se a informação ou desinformação que nos chega vertiginosamente, a cada clique ou
notificação, não limitará a nossa capacidade para pensarmos por nós próprios, sem influências externas, ou para agirmos por conta própria. Indago ainda se, enquanto utilizadores frequentes das plataformas/redes sociais, não sofremos, em certa medida, alguns constrangimentos na nossa liberdade de escolha, já que somos subliminarmente manipulados pelos algoritmos que rastreiam o nosso comportamento, as nossas reações, as nossas emoções. Interrogo, por fim, se também a nossa liberdade de expressão não será involuntariamente censurada pela consciência que temos de que tudo aquilo que postamos no espaço cibernético é permanente. Considerando, muito embora, os inúmeros benefícios que a globalização digital trouxe à nossa sociedade, sobretudo nos dois últimos anos de pandemia, pois foi permitindo, paulatinamente, repor a normalidade possível na economia, na saúde, na educação e nas relações interpessoais, pergunto-me se, de facto, o mundo virtual não desvirtuará a nossa capacidade e liberdade de opinar, pensar e agir.
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Muito mais do que a “chuva” Margarida Valente . Aluna do 10.º B
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chuva… Algo tão simples como a queda de pequenas gotas de água, como lágrimas a escorrer… O silêncio, a melancolia e a frieza de um dia chuvoso podem, para muitos, ser algo aterrorizante. Para mim, permitem a paragem do tempo, como um refúgio onde nada nem ninguém consegue perturbar ou intrometer-se no rebuliço dos pensamentos que vagueiam na minha cabeça. A pele gélida, o tremer compulsivo e as transparentes gotas de chuva a escorrerem até às pontas dos meus inúmeros fios de cabelo fazem-me sentir viva, relembram-me do que é sentir algo de novo… Algo verdadeiro.
Imagem in https://www.accuweather.com/
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A responsabilidade pessoal Ana Sofia Pereira . Aluna do 10.º B
Somos sempre nós os responsáveis pelo que acontece na nossa vida ou estamos também sujeitos às decisões dos outros?
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o teatro de marionetas, que são uns bonecos articulados, a bailarina levanta o braço, quando nós lhe puxamos a guita. O carrinho dá umas voltas, depois de lhe darmos corda. Nós não somos nem fantoches, nem brinquedos [...].» José Barata-Moura, «Os humanos são capazes de fazer a sua vida ou têm de fazer tudo por causa do seu destino?» in Trocado por Miúdos, Porto, Porto Editora, 2014, p. 23. Aposto que todos nós, em algum momento da nossa vida, já pensamos se estamos ou não de mãos atadas a outro ser, condicionados a fazer o que este propõe sem contestar. Não posso negar que também eu já pensei nesse facto, porém, hoje em dia, posso dizer que sou um pássaro a voar livremente, alguém que tem a capacidade de fazer as suas próprias escolhas, e não uma bailarina que só dança se lhe levantarem a guita. Muitas vezes, podemos ser condicionados por diversas razões que terão impacto nas nossas escolhas, como, por exemplo, uma andorinha que é livre para tomar as suas próprias decisões tem tendência a deslocar-se para países mais quentes na época do frio, ou mesmo os ursos, que têm tendência a hibernar durante os meses de inver-
no, mas, mesmo que as andorinhas e os ursos sejam condicionados pelo frio, estes ainda têm a escolha de decidir se querem ou não sobreviver. O mesmo se aplica aos humanos: nós temos o poder de escolha, de decisão. Nos dias de hoje, podemos viver uma situação que contradiz o facto de não sermos condicionados pelas decisões dos outros, por exemplo, a situação da guerra. Todos os dias ouvimos notícias sobre bombardeamentos e vemos várias famílias obrigadas a fugir, mas ainda temos a liberdade de fazer aquilo que é certo, ainda temos o poder de não nos deixarmos levar por ideias e suposições. Não somos “fantoches”, temos o poder de decidir o que é certo e o que é errado, o que é moralmente correto e incorreto. Eu digo que a guerra é um erro. Os humanos são capazes de fazer a sua própria vida, as suas escolhas, cometer erros, porque nada está destinado, nós temos o poder de escolha. Somos todos andorinhas que voam livremente, não uma bailarina que só dança de lhe levantarmos a guita.
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Responsabilidade Mariana Leite . Aluna do 10.º B
Somos sempre nós os responsáveis pelo que acontece na nossa vida ou estamos também sujeitos às decisões dos outros? «No teatro de marionetas, que são uns bonecos articulados, a bailarina levanta o braço, quando nós lhe puxamos a guita. O carrinho dá umas voltas, depois de lhe darmos corda. Nós não somos nem fantoches, nem brinquedos [...].»
José Barata-Moura, «Os humanos são capazes de fazer a sua vida ou têm de fazer tudo por causa do seu destino?» in Trocado por Miúdos, Porto, Porto Editora, 2014, p. 23.
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que acontece nas nossas vidas pode estar sujeito às decisões dos outros, mas, principlamente, depende de nós. Na minha perspetiva, em certas circunstâncias, nós não somos ”marionetas” nem “brinquedos”, como diz o autor da frase em epígrafe, pois algumas das nossas ações do quotidiano dependem inteiramente de nós. Um dos fatores que me leva a ter esta opinião é, por exemplo: o facto de eu tirar uma má nota num teste não é reponsabilidade de ninguém, a não ser minha, pois tal aconteceu por não ter gerido bem o tempo a meu favor. Muitas das vezes, quando isto acontece, podemos culpar os nossos pais, por fazerem demasiada “pressão”, mas na verdade (pelo menos no meu caso) somos nós que colocamos essa pressão em cima de nós. Creio que as consequências que isso terá dependem apenas
Imagem in https://marionetasdoporto.pt/
de nós, uma vez que fui eu que fui fazer o teste e apenas eu é que sou responsável. Por outro lado, na minha opinião, o que acontece na nossa vida também está sujeito às decisões dos outros. Por exemplo, no caso da guerra, muitos homens estão a ser chamados para ajudarem a Ucrânia, e tal decisão não depende deles, mas sim dos superiores, que os escolheram para proteger o país. Em suma, no nosso dia-a-dia temos certos acontecimentos que dependem de nós e outros que dependem de decisões que nos transcendem.
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Onde o silêncio não habita Debaixo desta Luz invisível Sentimos o eco da vida, como o sussurrar do vento nas ervas Luz que é sempre presença entre nós Como um dínamo em perpétuo funcionamento Renovando-se passo a passo Como uma extensão do corpo sem a qual não teríamos mais vida É assim o regresso saído da onda e da espuma A pedra que ganha movimento e música Sempre inquieta e acossada Engrenagem natural e vivificante Onde o silêncio não habita. João Andrade Rebelo . Professor de Filosofia
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No âmbito da iniciativa (Re) Ler da Rede de Bibliotecas Escolares, surgiu a candidatura das Bibliotecas Escolares com o projeto Respirar, Ler, Pensar. Numa das atividades do projeto foi proposto aos alunos do 8.º ano escreverem um pequeno texto subordinado ao tema: Quem sonho ser? O que quero ser no futuro? Da página 60 à 62 apresentamos uma seleção de textos escritos pelos alunos.
O que eu sonhei ser
Quero ser...
Leonor Pereira . Aluna do 8.º D
Beatriz Santo . Aluna do 8.º F
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hamo-me Leonor. Na os sonhos eram terras construídas pela nossa eu quis ser adolescente,
idade onde longínquas, imaginação, professora e
atriz. Via-os a passar, sempre em grupo, com as mochilas às costas. Os seus olhos transbordavam liberdade, as suas gargalhadas enchiam os meus ouvidos, neles eu via a busca pela felicidade. Inspiravam-me, porque em todo lado deixavam a sua marca, a sua voz. A lutar pelo nosso futuro, por um mundo melhor. Coisa que crianças não tinham permissão para fazer. Professora, que detinha o poder da sabedoria, e a capacidade de transmiti-la para dezenas. Ter uma pequena influência em cada aluno e nas suas decisões futuras. Ou a autoridade e o respeito que transmitiam e era desejada por todos nós. Queria que, algum dia, olhassem para mim com a admiração que eu olhava para os meus professores. Atriz, viver aquelas personagens, com vontades diferentes, gostos diferentes, destinos diferentes, era o meu sonho. Todas as aventuras que viviam, todas as pessoas que deixavam de ser letras e passavam a ter vida. O luxo figurado nos vestidos longos, nos fatos de alta-costura ou nas viagens por cada ponto do mundo ou a busca dos paparazzi por uma única e simples fotografia fascinavam-me.
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hamo me Beatriz. Na idade em que os sonhos, pensava eu, seriam uma questão de paciência já quis ser cantora e psicóloga. Desde pequena que sempre fui fã de música e dos cantores. Desejava ser como eles, livres, fortes e com músicas incríveis. Pelo menos era como eu pensava que eram. Estão sempre com a cabeça ocupada a pensar numa música nova e ao mesmo tempo a planear os mais de 100 concertos que vão dar. Estão sempre presos e com medo de falhar, pois sabem que assim que o fizerem vão ser atacados e julgados na internet. Queria ser como a Shakira, ela é muito linda, tem músicas incríveis, imensas qualidades e sempre foi a minha cantora favorita. Mas, assim que saí da escola primaria, essa ideia de ser cantora acabou por abandonar os meus sonhos e estive até ao oitavo ano sem saber o que queria ser no futuro. Todavia, neste momento tenho a convicção de que quero ser psicóloga. Esta profissão requer gentileza, simpatia, ser uma boa ouvinte e conselheira. Eu gostaria de poder ajudar os meus amigos, família e todos os que necessitassem do meu apoio. É esta a profissão que ambiciono ter no meu futuro, mas para isso ainda preciso de estudar muito.
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Queria ser… Leonor Ermida . Aluna do 8.º D
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meu nome é Leonor. Quando era criança queria ser guerrilheira e aventureira, as minhas referências sempre foram a Mulher Maravilha ou a Mérida. Gostava de ser um daqueles aventureiros que escalavam as mais altas montanhas, que apareciam nos filmes como heróis, gostava de ser corajosa como os agentes secretos, combater criminosos e correr riscos, no fundo acho que o que sempre quis foi passar por toda aquela adrenalina fantástica. A ideia de poder ajudar as pessoas e realizar um sonho ao mesmo tempo é indescritível, eu via como aquelas mulheres treinavam durante muito tempo para depois combaterem o mal e mostrarem ao mundo o caminho certo. Eram apenas elas, as heroínas, que me inspiravam, pois elas viviam numa época onde os homens preenchiam todos os cargos mais importantes, todos os papéis de herói, mas mesmo assim, estas mulheres lutavam contra o preconceito e no fim conseguiram mostrar ao Mundo que as mulheres também conseguem salvar o dia, salvar vidas, elas são necessárias para este grande Universo! Quando era criança estes eram os meus sonhos, e confesso que hoje em dia muitos dos meus ídolos fazem parte destas histórias heroicas.
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O que eu quero ser Nuno Guimarães . Aluno do 8.º 2
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u gostava de ser bombeiro para ajudar a população, principalmente os mais idosos, porque são aqueles que mais necessitam de ajuda e são os que, muitas vezes, estão completamente sozinhos e abandonados. Seria um bombeiro corajoso, destemido, para fazer resgates de pessoas em situações perigosas, fosse em terra ou no mar, vivendo grandes aventuras. Se abraçasse esta profissão, iria prestar os primeiros socorros em acidentes rodoviários, em quedas, em combates de incêndios florestais, incêndios urbanos, em afogamentos, desabamentos ou até mesmo em catástrofes. Além disso, adorava dar formações à população, ensinando-lhes medidas de segurança, cuidados a ter em casa para não sofrerem quedas, (principalmente os idosos), medidas para prevenir afogamentos de crianças com piscinas em casa e como prevenir incêndios. Também transportaria os doentes para irem a consultas, a tratamentos e faria a fiscalização em estabelecimentos comerciais, para fazer cumprir as leis contra incêndios. Eu vou continuar a estudar, pois quero ser um bombeiro com muitos conhecimentos.
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O que eu penso ser no futuro? Letícia Gonçalves . Aluna do 8.º 2
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u tenho pensado muito no que eu quero ser no futuro e estou indecisa entre Psicologia e Artes Visuais. Por um lado, eu quero tirar o curso de Psicologia porque, desde pequena, eu gosto de ajudar as pessoas (principalmente as crianças) através do diálogo, dos meus conselhos e através do meu silêncio, pois é muito importante sabermos ouvir os outros. No meu ponto de vista, ser psicóloga é ser alguém que gosta de ajudar as outras pessoas a lidar com os seus problemas e a saber mais sobre elas mesmas. Esta é a razão pela qual eu sempre quis aprofundar o meu conhecimento sobre as doenças mentais, perceber como podemos lidar com as pessoas que as têm, de modo a torná-las mais felizes, porque mais compreendidas. Por outro lado, gostaria de tirar o curso de Artes Visuais, porque desenhar faz-me esquecer os problemas e ficar mais calma. Ser artista é ser alguém que sabe tudo sobre artes, desenhar, pintar, etc... Desde pequena que me dizem que eu sei desenhar muito bem e que devia seguir artes, porém o apelo da psicologia é maior e considero que serei aqui mais útil à sociedade.
Imagem: Stream Indecision by boo3
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A chuva Será a chuva água? Ou lágrimas do céu? Choram os anjos a minha mágoa De perder este amor meu
Sozinha não fiquei Nesta tempestade de verão Pois a chuva chegou Para emendar meu coração.
Foste embora sem aviso Foi o vento que te levou? Pedi à chuva que te trouxesse Mas ela não te encontrou
Talvez, não seja tão mau Esta água na minha cara Pois ajuda-me a esquecer A distância que nos separa.
Aqui estamos eu e ela Unidas pela dor Nesta cidade escura Onde não chega o calor.
Já partiste meu amor Para nunca mais voltar Mas o som da chuva Ficou para me ajudar.
Também o sol me abandonou Levando toda a alegria, Apenas a chuva comigo ficou Será sempre a minha companhia.
Ela, mesmo que parta, Sei que sempre irá voltar Assim meu frágil coração Não poderá quebrar. Carolina Cantante . Aluna 12.º C
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A terra não tem culpa A terra não tem culpa das pessoas que nela habitam, pois em teor elas insultam com sua presença tão notória. Mas, a terra ri-se, não se importando, ri-se amaldiçoando, os habitantes na sua estadia, tão curta neste mundo, tão bizarra e tão cruel. Passageiros que por lá passam, acolhidos por simpatia, a tratam como uma amiga, que sabem bem, ser intemporal. A beleza que contém, escondida dos habitantes, mostrando a flor, apenas àqueles, que não adivinhando, a simplificam. Os viajantes fazem odes à terra esquecida, e encontram beleza no local mais escondido, como tal mendigo, que passa horas a pedir, enquanto foge do sentido que atravessa o seu espírito. L.A. . Ex-aluno
ensar(es) Coordenação e Redação Estela Ferreira A. Marcos Tavares Ana Paula Lopes José Artur Matos Colaboradores/Alunos Ana Sofia, Ana Velho, Beatriz Conceição, Beatriz Dantas, Carlos Bao, Carolina Cantante, Daniela Vieira, Francisca Saraiva, Henrique Sousa, Inês Sequeira, Inês Teixeira, João Soares, Júlia Vieira, Juliana Bernardo, Juliana Freitas, L.A., Magda Soares, Margarida Fernandes, Margarida Valente, Mariana Leite, Marta Guedes, Pedro Marques, Pedro Vale, Rui Pires Colaboradores/Professores Ana Paula Lopes, A. Marcos Tavares, Carla Cabral, Conceição Dias, Emília Craveiro, Estela Ferreira, Fernanda Sousa, José Artur Matos, João Andrade Rebelo, José Ferreira Borges, Manuel Ferreira, Pedro Miranda Participação Especial Centro Escolar das Alagoas Centro Escolar da Alameda EB 2,3 de Peso da Régua Convidados L.A. e Pedro Miranda Design, paginação e foto da capa José Artur Matos Agradecimentos Eva Onyshchuk Coutinho e João Macedo (na capa) Marta Pinto e José António Borges Impressão / Tiragem Tipografia Minerva - Lamego / 300 exemplares
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1999 . 2022
DOURO Património Mundial da Unesco “Douro verdejante de socalcos vinhedos, sustentam paixões de um Povo vigoroso que produz da sua terra sonhos e encantos.” António Barroso