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Revista Escolas | João de Araújo Correia
Nº 21 - Junho 2016
Índice Editorial A. Marcos Tavares Um dia quis ser rica Cândida Rosa A Eutanásia Inês Carvalho Arte e Artista João Pedro Pereira As questões da participação... Manuel Ferreira O Medo Carlos Carvalhosa Amigo da arábias Luana Fernandes A Casa Amarela Conceição Dias A Homofobia Marta Queiroz Olá, descontente Jéssica Cardoso Orion, uma constelação... Sónia Lopes Arte urbana ou vandalismo? Leonor Babo Secularizados deveras? Pedro Miranda A liberdade Gustavo Lopes Uma noite de chuva Joana Santos Eutanásia Liliana Sofia Pensamentos de um aluno ... Isabel Gonçalves Aqui no cimo desta montanha Agostinha C. Araújo As montanhas fascinam-me! Elisa Guichard Para Ti José Artur Matos A importância das emoções Ana Araújo
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O El - em busca de explicações A. Marcos Tavares O desgosto de Portugal Ana Machado O ser Humano como história Rita Correia Comenius e Erasmus+ Célia Carvalho Encontro de Dois Universos Ana Filipa Alves Talvez Fernando Fidalgo A igualdade de género Mariana Guedes Os olhos são o espelho da alma Ariana Lopes Passado Daniela Guerra Reflexões João Teixeira Cartas Francisca Costa Desculpa Gabriela Pinto As Mensageiras da Paz Maria Rita Ferreira O farol Inês Coutinho Eu não sei o que escrever... Alice Costa Igualdade Inês Marques O Amor Carlos Santana A importância dos outros... Clara Magalhães “Amigos”?! Carlota Pinto Pra onde vamos? Ana Aires
Editorial Bulent Kilic (Fofógrafo Turco) World Press Photo 2016 - 3º Prémio - Stories, Spot News
Para uma tolerância aberta e dialogante
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. As tragédias humanas que tão assiduamente nos tocam têm levantado diversos problemas. Chegam a todo o momento às fronteiras da Europa milhares de pessoas que fogem à guerra, à fome, à insegurança. Como dizia a rainha Rania da Jordânia, estas pessoas não são migrantes mas verdadeiros refugiados. Vêm para a Europa não para procurar trabalho ou para alcançar melhores condições de vida, mas para encontrar a segurança que nos seus países não têm e com a intenção de regressar, quando possível. O fundamental problema que a nós, ocidentais, se nos coloca é o da tolerância. Passa a coexistir no mesmo espaço e no mesmo tempo uma grande variedade de culturas, algumas delas com perspetivas do mundo bem diferentes. Educados no respeito pela liberdade não temos, em geral, especiais dificuldades em aceitar e respeitar tal multiculturalidade. A situação complica-se quando, numa generalização infundada, somos levados a atribuir os atentados terroristas que têm assolado a Europa e outros países da Ásia e da África aos seguidores do Islão. Embora saibamos que os atentados são da responsabilidade de uns quantos fundamentalistas e radicais, permanece sempre a dúvida de se esta pessoa que aqui chegou, com aparência de árabe ou de religião muçulmana, não será um potencial terrorista. E esta incerteza, esta dúvida, põem em causa a tolerância. 2. Surge cada vez mais premente a questão de se a tolerância não terá limites. Umberto Eco, medievalista, semiólogo e filósofo, recém-falecido, afirmava que a tolerância da intolerância implicava a definição dos limites da tolerância. Uma tolerância indiferente pode promover a separação e conduzir à segregação, ao isolamento, à estagnação. Uma tolerância aberta e dialogante não é indiferente à procura de valores que, embora diversos nas suas manifestações, traduzam um sentido universal de defesa da dignidade humana e dos valores fundamentais, plasmados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A. Marcos Tavares
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Um dia quis ser rica Um dia quis ser rica, Procurei rios e mares, Ilhas e continentes, E foi no fundo da rua, Que encontrei a maior riqueza. Eras tu, Cabelo despenteado, Roupa a agricultor, Mas eras tu. Fechava os olhos Para sonhar contigo, Fechava as mãos Para sentir as tuas, E abri o meu coração Para sentir o teu. Mas numa noite, Tudo o que achávamos perfeito Tudo aquilo que tínhamos vivido, Tudo se foi, numa noite. E foi nesse momento, Que libertei oceanos, Rios e lagos, Pois tudo tinha acabado. Cândida Rosa
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A Eutanásia Quanto vale uma vida? Inês Carvalho . Aluna
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do 10º E
pesar da grande metamorfose que o mundo atravessa, certos temas como a eutanásia são ainda tabu na sociedade atual e desencadeiam bastante controvérsia. A única certeza que temos quando nascemos é que crescemos, envelhecemos e morremos. Nada podemos fazer contra a irreversibilidade da vida humana. É o nascer para morrer. Todo este processo faz parte da nossa constituição biológica. O homem está “programado” para nascer, viver e morrer. Se fôssemos eternos não daríamos valor à vida. Mas terá ela de facto valor? A eutanásia parece negar o valor da vida. Será assim? A palavra “eutanásia”, que surgiu em 1900, é um termo de origem grega (eu + thanatos) que significa “boa morte”, ou seja, morte sem dor. A eutanásia é o ato de proporcionar a morte sem sofrimento a um paciente atingido por uma doença incurável. No seu sentido amplo, a eutanásia implica uma morte suave e indolor e, no seu sentido restrito, implica o ato de terminar a vida de uma pessoa ou ajudar no seu suicídio. A eutanásia pode ocorrer por vários motivos: por vontade do doente; porque os doentes representam uma ameaça para a sociedade (eutanásia eugénica); ou porque o tratamento da doença implica uma grande despesa (eutanásia económica). Embora em alguns países como a Bélgica, a Holanda ou a Suíça a prática da eutanásia seja legal, este é ainda hoje um tema gerador de conflitos: uns defendem o direito de o doente incurável
pôr termo à vida quando sujeito a sofrimentos físicos ou psíquicos intoleráveis. Outros, porém, não aceitam a eutanásia de forma alguma, como é o caso das ideologias religiosas Cristianismo e Judaísmo, que negam claramente esta posição por a considerarem um atentado à vida do ser humano, um verdadeiro homicídio. Dizer NÃO à eutanásia implica que ninguém tem liberdade plena de decidir pôr termo à vida, aliviando o sofrimento físico, psicológico e espiritual de um ser humano em pleno estado de incapacidade total. Quem pode dizer que determinado tipo de vida não é digno? Quem pode avaliar um determinado tipo de sofrimento como inultrapassável? Ou, então, que mensagem cultural estamos a passar se dissermos que certas vidas, certos estádios de vida, não são dignos de serem vividos? O que pensarão os que estão em idade mais avançada ou os que padecem de algum tipo de incapacitação ou, simplesmente, que são um estorvo? Como é possível consentir o «quero morrer», quando os psiquiatras procuram demover pessoas que pretendem suicidar-se? Se os futuros médicos no Juramento de Hipócrates se comprometem a defender a vida, não seria agora um paradoxo estarem dispostos a colaborar para pôr termo à vida? A campainha do alarme social tocaria estridentemente e a nossa confiança nos médicos seria completamente nula. Para todos os defensores não há um direito constitucional à morte, há, isso sim, um
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Revista Sábado . 9 Dez 2015
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direito à vida. Ao inferirmos sobre este assunto, impõem-se questões de diferente natureza: se a sociedade aceitasse a eutanásia, quais as consequências que daí poderiam advir? O doente deixaria de confiar nos profissionais de saúde e sentir-se-ia tremendamente inseguro quando tivesse de recorrer a eles? Os laços de confiança em que assenta a relação doente-médico quebrar-se-iam? Os defensores da eutanásia dizem SIM e argumentam que cada pessoa tem o direito à escolha entre viver ou morrer com dignidade quando se tem consciência de que o estado da sua enfermidade é de tal forma grave que não compensa viver em sofrimento até que a morte chegue naturalmente. Argumentam também que uma vida em estado vegetativo é “uma vida sem vida”: nenhum sentido faz continuar a mantê-la, além de que quem decide se a vida que está a viver é digna de ser vivida ou não deverá ser o próprio. Assim, se ele decide coloca-lhe um fim, a sua vontade deve ser respeitada. Voltando ao NÃO, aqueles que condenam a prática de eutanásia utilizam frequentemente o argumento religioso de que só Deus tem o direito de dar ou tirar a vida e, portanto, o médico não deve interferir neste dom sagrado. Para estes, é impensável qualquer forma de atentado à vida, seja a prática da eutanásia cometida de forma ativa (injeção letal, medicamentos em dose excessiva) ou passiva (falta de água, alimentos ou
cuidados médicos). Sendo esta uma questão tão difícil e complexa, “in dubio pro vita” (na dúvida, a favor da vida). Segundo o Código Penal, em Portugal é crime praticar a eutanásia. Qualquer médico que termine com a vida de um paciente por compaixão comete homicídio, visto que é um ato consciente e voluntário, logo tem de ser responsabilizado. O tema tem sido de tal forma polémico que recentemente os órgãos da comunicação social ainda o tornam mais arrebatador ao darem destaque às afirmações da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que referiu que existe a prática nos hospitais públicos portugueses. Mais rios de tinta, mais vozes que se levantam à volta do problema, mais averiguações e inquéritos. Ao colocarmos o problema sob o ponto de vista da moral, questionamo-nos: será que a eutanásia não irá contra a nossa consciência moral - a nossa voz interior ou juiz que nos alerta, censura, sanciona, reprime? Se agimos de acordo com ela, sentimos uma certa paz e tranquilidade; se, pelo contrário, não a tivermos em conta, sentimos remorso, inquietação, desconforto e até arrependimento ou remorso. O que sentiríamos nós se ajudássemos um amigo a pôr fim à vida? Recordemos o filme Mar Adentro, baseado na história verídica de um homem que vai lutar na justiça pelo direito a pôr fim à sua existência e ao seu sofrimento: um acidente que teve no mar na sua juventude deixou-o tetraplégico e preso
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a uma cama por longos 28 anos. Essa luta vailhe trazer problemas com a Justiça, a Igreja e até mesmo com os seus familiares. Apesar da sua convicção em pôr término à vida, duas mulheres vão ter um papel preponderante na sua luta: a advogada que o quer apoiar sua luta e uma vizinha do povoado que tentará convencê-lo de que viver vale a pena. Ele sabe que só a pessoa que o amar de verdade o ajudará a realizar essa última viagem. É, sem sombra de dúvida, um filme em defesa da eutanásia. E, a este propósito, ocorre-nos: pôr fim à vida será moralmente correto? A consciência moral não é inata, não nasce connosco. Ela vai-se adquirindo e desenvolvendo à medida que a criança vai interiorizando as noções de Bem e de Mal, as normas de comportamento. É através do contacto e interação com o outro que ela se vai construindo, que nos vamos construindo como sujeitos morais. Na nossa cultura ocidental, desde tenra idade, vamos assimilando a ideia de que a vida deve ser preservada. Como reagiria a nossa consciência se passássemos a apoiar a eutanásia, ajudando-a a pôr em prática? Ou, então, segundo o cristão, se Deus dá a vida, só Deus a pode tirar. Não haverá outra alternativa para os doentes terminais? É lícito referir que a preocupação dos familiares do doente é aliviar-lhe a dor, o sofrimento, proporcionar-lhe melhores condições de vida. No entanto, a Organização Mundial de Saúde em 2002 criou o tratamento em Cuidados Paliativos, a fim de melhor a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças que ameacem a continuidade da vida. Para tanto, é necessário avaliar e controlar de forma impecável não somente a dor, mas todos os sintomas de natureza física, social, emocional e espiritual. Uma equipe multiprofissional para ajudar o paciente a adaptar-se às mudanças de vida impostas pela doença, e promover a reflexão necessária para enfrentar tal condição de ameaça à vida para pacientes e familiares. O Estado tem o dever de criar instituições de qualidade onde os doentes sejam tratados com dignidade e com todas as condições necessárias. Não podia concluir esta minha reflexão sem deixar de perspetivar a minha opinião desfavorável à prática da eutanásia. Penso que, enquanto vivemos, deveremos tentar justificar a
vida, isto é, encontrar soluções para todos os problemas metafísicos, ultrapassar obstáculos, enfrentar desafios, concretizar sonhos, o importante é sermos felizes porque um dia deparamo-nos com o absurdo da morte, e, aí sim, daremos o último suspiro, o último olhar e o último sentimento. Termino citando alguns versos de Madre Teresa de Calcutá no seu tão memorável Hino à Vida: A vida é uma oportunidade: agarra-a. A vida é beleza: admira-a. A vida é felicidade: saboreia-a. A vida é um sonho: realiza-o. A vida é um desafio: enfrenta-o. (…) Bibliogafia e Webgrafia:
P. Vasco P .Magalhães - in Observador Pedro Vaz Patto - in Observador Pedro Afonso-in Observador
Novos Contextos -10º ano Porto Editora
http://observador.pt/opiniao/eutanasia-resposta-um-manifesto http://www.rtp.pt/play/p2233/e224685/Pros-e-Contras
http://observador.pt/2016/02/15/medicos-juristas-catolicos-pratica-da-eutanasia
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Arte e Artista Ó Arte, tanto poder Concentrado numa só obra! Tantos significados Colocados numa só palavra… Tantas imagens Comprimidas num só risco… Tanta entoação Conciliada numa só canção!
Tu que tens o poder de uma câmara, Tu que superas os melhores espelhos, Tu que aprisionas toda a essência do teu criador Nas formas que mostras num expositor. Tu que és: pensamento, Confissão, Sentimento De quem em ti apaga sofrimento…
Tu que tens o poder de um mundo, Tu que te fazes senhora do teu criador, Tu que canonizas todos os insanos Que pelo mundo te tentam imitar, Tu que abraças todos aqueles, Que usam a esperteza e o engenho, Para te imaginar E ao mundo te mostrar…
E tu, Verdadeiro Artista? Mestre da refinação. Criador da perfeição. Alma e corpo da imaginação. Tu que por veres o mundo de forma diferente És chamado de demente. Tu que crias Sem esperares regalias!
Ó Arte, espada bem afiada, Grito de assalto. Tens o poder de criar as maiores guerras Dentro das ambições dos loucos… Fiel e submissa amante Quando a inspiração te serve, Mas quando os ciúmes te dão Fazes ao criador dura prisão!
Tu que só depois Deste cruel mundo deixares, Recebes o devido reconhecimento Pelo trabalho de uma vida de sofrimento! Mas tem esperança Porque o dia há de chegar Em que quem agora está a duvidar No teu valor vai acreditar! João Pedro Pereira. Aluno do 10ºC
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As questões da participação… Manuel Ferreira . Professor de Filosofia
“Necessitamos de recuperar a expressão aristotélica de “Homem animal político”. Homem que vive com os outros, um ser da cidade, que não pode ignorar a sua condição de ser social (...)”
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s questões da participação ou ausência da mesma, do envolvimento das pessoas na vida comunitária, são, hoje em dia, um dos grandes desafios de toda a sociedade. O tão falado défice cívico prende-se com o afastamento das pessoas da vida pública, isto é, da vida comum ou política. Vida política que se prende com a atividade na ‘polis’ - na cidade -, em que os indivíduos devem estar conscientes e devem assumir e praticar os seus deveres e direitos para com os outros. É que ser cidadão implica assumir uma liberdade e responsabilidade pessoal e social. Pessoal, porque se trata de um compromisso com os próprios pensamentos, projetos, princípios e valores. E social, porque se trata do mesmo compromisso relativamente aos seus semelhantes. O Homem não pode nunca esquecer que é um ser de relação e que a melhor forma de se realizar é no convívio com os outros. É aqui que está o nó górdio da questão e onde o homem, enquanto cidadão, tem falhado. É elevado o desinteresse dos indivíduos face à vida pública, em geral, e à política, em particular. O diagnóstico está sobejamente realizado. Existe descrédito
generalizado no sistema político e nomeadamente no sistema político democrático. E quais as razões para esta desconfiança e indiferença? São muitas as razões apresentadas. Contudo, o que convém realçar é que não se pode ficar paralisado face a esta situação. É necessário ter uma conduta de coragem e resiliência. Isto significa não fugir, não nos desviarmos do que exige luta, conflito, confronto e projeto. Também aqueles cidadãos conscientes da sua cidadania têm de ser exemplos e contribuir, contagiando os outros para uma maior e melhor participação. A nível da organização social, é importante uma nova maneira de fazer e de se estar na política. A política e os responsáveis políticos devem estar mais ligados à realidade e às pessoas. É que, ao contrário do que se possa pensar, a eventual solução para o divórcio entre os líderes políticos e as pessoas está na política. Necessitamos de recuperar a expressão aristotélica de “Homem animal político”. Homem que vive com os outros, um ser da cidade, que não pode ignorar a sua condição de ser social, de exercer a sua participação e envolver-se na concretização de objetivos comuns, de melhorar e dar dignidade à sua vida e à dos outros.
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O Medo Medo é fraquejar É ter receio, terror Do que nos possa acontecer Do que queremos expressar. É um perigoso sentimento Que é difícil de combater. Que nos faz duvidar E nos faz refletir O medo somos nós que o criamos E que é difícil de largar É como uma droga Que entra e não sai! O medo de algum dia Estar entre a vida e a morte O medo que há nas pessoas! De uma simples palavra... O Medo! Carlos Carvalhosa. Aluno do 10ºE
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Amigo das arábias Luana Fernandes . Aluna do 12º E
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tualmente o terrorismo, na perspetiva ocidental, é visto como sendo protagonizado por pessoas do Médio Oriente que atormentam a Europa com o intuito de destruir os valores ocidentais nomeadamente a liberdade. Todos os dias, somos assolados com notícias de ações trágicas realizadas pelo Daesh. Mas será que todos conhecem a sua origem? Os principais membros do Daesh derivam da antiga rede terrorista Al-Qaeda, organização que foi criada por Bin Laden, líder da antiga célula denominada por rebeldes afegãos. Por sua vez, esta célula tinha sido criada, organizada, treinada e financiada pelos E.U.A, com o intuito de travar a expansão do comunismo. Os americanos escolheram aquele grupo por serem os únicos capazes de combater a influência comunista no Afeganistão, evitando, assim, uma intervenção direta. Outro episódio de guerra protagonizado pelos E.U.A foi a invasão do Iraque em 2004, sob o falso pretexto da existência de armas químicas em grande escala. Desta intervenção militar resultaram 160.000 mortos oficiais e aproximadamente 1000000 não oficiais. Porém, tudo isto se revelou falso, pois as únicas armas encontradas tinham sido fabricadas na América com material europeu e em número reduzido. O verdadeiro motivo desta invasão era derrubar o regime de Sadam Hussein e escolher o próximo governante,
causando assim instabilidade política, económica e social nesta região do Golfo para que o preço do petróleo baixasse. Pelo exposto pode considerar-se que a abordagem terrorista que chega todos os dias pelos media aos ocidentais deve ser objeto de um grande escrutínio de modo a conhecermos os seus verdadeiros fundamentos e percebermos quem é o verdadeiro inimigo.
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A Casa Amarela Conceição Dias . Professora de Inglês “A Casa Amarela, desbotada e carcomida, abandonada por aqueles que lhe davam alma, cor e som ressuscita, agora, das suas próprias cinzas”
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ituada no centro da cidade, no chamado centro histórico, a Casa Amarela ergue-se imponente e majestosa na sua estrutura de pedra; são 80m2 distribuídos por três andares, encaixados entre outras casas, mais ou menos da mesma época, mais ou menos dentro da mesma arquitetura, personagens do mesmo tempo, testemunhas de tantas vivências… A Casa Amarela resiste ao peso incomplacente dos anos que vai deixando as suas marcas na fachada principal, agora desbotada e carcomida, tal como crava as rugas nos rostos das pessoas deixando claro a sua tirania, o seu domínio sobre tudo e todas. Com as suas janelas em guilhotina, aos quadradinhos, a varanda estreita e comprida ao longo do último piso, as janelas que se abrem para o telhado das outras casas, por onde entravam os gatos vadios e saíamos nós, as crianças de então, para explorar telhados, casas decrépitas, para vigiar a minha avó que no tanque do nosso estimado terraço lavava a roupa, descascava feijões, costurava os “olhos”( como ela dizia) que teimavam em aparecer nas calças, por cima do joelho, nos cotovelas das camisolas, nas meias, enfim, nas suas lides diárias de dona de casa prendada, de mulher, mãe, avó, sogra querida… O telhado, por vezes traiçoeiro e escorregadio
pregava-nos partidas e não raras vezes a minha irmã, muito mais aventureira e destemida do que eu, aterrava no terraço solarengo da nossa Casa Amarela, mesmo em frente à minha avó, descoberta na sua demanda, flagrada em delito, exposta na sua traquinice de menina travessa e rebelde; uma Maria-Rapaz como tantas vezes lhe chamávamos. Voltemos à Casa Amarela, à sua porta principal ornamentada por dois rendilhados encaixes em ferro, um batente (em forma de punho) polido pela tia Arminda que energicamente o deixava luzente e dourado todos os fins-de-semana. A fechadura pesada que albergava uma chave igualmente pesada emitia um estalido sempre que se entrava ou saia de casa. Talvez por isso, quiçá, a porta da Casa Amarela nunca estivesse trancada… por ela passavam as crianças da rua que subiam a larga escadaria, de caminho ao terraço, ou mais dois lances de escadas rumo ao segundo andar não sem antes admirarem a altíssima
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claraboia que gentilmente iluminava e aquecia o percurso até ao quarto das bonecas. O quarto das bonecas era uma casa de bonecas; uma casa dentro de outra casa com as suas rotinas, risos e choros, como qualquer outra casa que se preze…. ali eramos as donas de casa, éramos os adultos que ditavam as regras, que diziam o que fazer aos mais novos, também eles transformados em bonecas, bonecas de carne e osso… nem sempre corria bem e era ver o meu irmão, de gatas, a sair devagarinho daquele domínio, à procura de refúgio , de um colo seguro… A varanda, toda ela delicadamente bordada a ferro forjado também conta histórias; lá éramos cantores a entoar os canções da Revolução do 25 de Abril, a plenos pulmões, incentivados, quiçá, pelo megafone vizinho que laboriosamente desempenhava o seu cargo de arauto da liberdade, da democracia e enchia a rua de esperança… Nó gostávamos patulamente do tema ”Somos Livres”, também conhecido como o tema ”Uma gaivota voava, voava” originalmente interpretado pela actriz Ermelinda Duarte e que celebra a liberdade almejada e finalmente conquistada pelo povo a seguir ao derrube da ditadura do Estado Novo e fim da censura pela Revolução de 25 de Abril, a dita “Revolução dos Cravos”. Ser livre de voar, de crescer, de dizer, de traçar o próprio destino, parecia-nos bem, bastante promissor…. A varanda da Casa Amarela assistiu à narração de vidas difíceis, a episódios vividos na ditadura, a piqueniques improvisados à volta de uma cesta de cerejas e pão de milho nas noites de verão enquanto se conversava com a vizinha da frente, a
Dona Antónia, separada de nós pela rua estreita e calcetada, na velha e boa tradição portuguesa. “Os vossos pais estão cá no Natal e ficam durante um bom tempo…” dizia a minha avó. A cozinha, a sala verde que merecidamente aclamou este título por estar pintada de um verde água, a casa de banho com a sua banheira de pés, o autoclismo barulhento e a gata branquinha, a “Boneca” não raras vezes flagrada sobre a sanita, a satisfazer as suas necessidades fisiológicas vivem, hoje, nas minhas memórias, juntamente com os meninos e meninas da nossa rua. A Boneca… nunca soube muito bem se essa gata bonacheirona e branquinha era nossa ou da vizinha da frente, a dona Antónia, tão à vontade ela se sentia entre estes dois mundos. Acabou por morrer na casa da vizinha, a dona Antónia que nos disse que a Boneca devia andar por ai, nos telhados das outras casas, com outros gatos e que haveria de aparecer ….um dia…. A Casa Amarela, desbotada e carcomida, abandonada por aqueles que lhe davam alma, cor e som ressuscita, agora, das suas próprias cinzas, da degradação causada pelas intempéries, da inexorável autoridade do tempo e ergue-se, magistral, com a mesma fachada, as mesmas janelas em guilhotina, a mesma caixa do correio que diz ”Cartas”, o seu batente lustroso imponente e altivo…. Fico feliz por saber que a Casa Amarela tantas vezes por mim visitada e revisitada em sonhos e lembranças já tem nova alma, cor e som e se reergue, imortal, para compilar novas histórias, tecer novas memórias, albergar novos meninos… Fico feliz.
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A Homofobia Marta Queiroz . Aluna do 12º A “…a homofobia deveria ser considerada uma forma de crime.”
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omofobia é a aversão, o ódio ou a discriminação contra homossexuais e, consequentemente, contra a homossexualidade. Significa não aceitar ou não respeitar pessoas devido à sua orientação sexual. É a palavra que dá nome ao preconceito sofrido pelos gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Atualmente, a homofobia tem aparecido na vida quotidiana nos media e a sua discussão está a tomar uma dimensão cada vez maior. Porém, a religião, o conservadorismo e o preconceito trabalham para mascarar a gravidade da homofobia. O que torna este tema mais grave é a violência que existe na decorrência do ódio e as restrições aos direitos humanos. A homofobia pode impedir pessoas de estudarem e trabalharem e limitar os seus direitos à saúde, segurança e, por isso, aos direitos humanos, apenas porque uma pessoa gosta de outra do mesmo sexo. É por isso que, na minha opinião, a homofobia deveria ser considerada uma forma de crime. Todos os valores e fundamentos difundidos na nossa sociedade, desde os antepassados, ajudam a reforçar a importância do casal heterossexual. Por isso, qualquer coisa que se afaste desse conceito não é visto como normal ou comum. Deste modo, sempre que uma determinada mi-
noria social começa a organizar-se, a ganhar voz, a exigir direitos e a combater preconceitos, confronta-se com uma reação conservadora, a reação de quem quer ver os gays apenas “enfiados” no seu mundo, e longe da realidade, confinados, assim, em mundos subterrâneos e paralelos. O problema central é o fato desta questão não se resumir apenas aos indivíduos homossexuais, ou seja, a homofobia compreende também questões da esfera pública, com a luta pelos direitos do Homem. Apesar das conquistas no campo dos direitos humanos, a homossexualidade ainda enfrenta fortes preconceitos. A legalização da união entre casais do mesmo sexo e a adoção por parte de casais homossexuais são temas ainda muito controversos e debatidos na atualidade e apesar destas legalizações, não seremos capazes de acabar com a homofobia, não seremos capazes de proteger estas pessoas, vítimas deste preconceito, já que estamos perante um problema social em crescendo.
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Olá, Descontente Porquê espelho? Não mostras aquilo que anseio... Anseio, ansiar tomou partido do amor próprio E à tristeza deu lugar. Porquê pessoas? Me julgam e deitam abaixo, sem razão aparente... Aparente, aparência permite-me entender Que aquilo que sou, seja diferente. Que razão dar à vida, quando ela não me dá para viver? Tormento devo eu ter causado Para a razão deste sofrer. Felicidade é algo que nunca vivenciei Pois sofrimento apagou tudo aquilo que envolve ser feliz. Tenho plena consciência que nunca o serei. A dor na minha vida é soberana. Lágrimas são meras amostras das cascatas que pela cara me escorrerão. À vida, direi sim ou não? A fraqueza embala-me no seu colo Amo a sensação de fraqueza, Pois faz-me sentir donzela Numa vida de camponesa.” Jéssica Santos. Aluna do 10ºE
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Orion, uma constelação fascinante Sónia Lopes . Professora de Física e Química
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á muito tempo que o homem olha o céu. Os Babilónios, há cinco mil anos, construíram edifícios para o observar. Estes eram altos para poderem estar mais perto das estrelas. Para os Egípcios as estrelas estavam no corpo da deusa Nut. No céu, o homem projetou as suas crenças. Com linhas imaginárias uniu as estrelas e viu heróis, deuses, animais míticos… Hoje em dia a ciência e a tecnologia evoluíram muito e os astrónomos perscrutam o céu com potentes telescópios. Orion é uma das 88 constelações que constituem o nosso céu. Uma constelação começou por ser uma região da esfera celeste onde as estrelas parecem desenhar figuras. Atualmente, os astrónomos, aproveitando as figuras já imaginadas, dividiram o céu em 88 regiões ou 88 constelações passando a palavra constelação a denominar uma região do céu objeto de estudo. O gigante Orion era caçador e no céu está acompanhado pelas constelações do Cão Maior e do Cão Menor, à sua direita. À esquerda está a constelação do Touro, uma das doze constelações do zodíaco. Por baixo de Orion está a constelação da lebre e por cima do Touro há um conjunto de estrelas, as Plêiades, também conhecidas por Sete Estrelo, que são as “moscas” do Touro. Para os iniciados na astronomia, a constelação de Orion é muito interessante, não só por todo o cenário que a envolve, mas também porque tem muitos pormenores astronómicos interessantes.
A sua cintura é desenhada por três estrelas denominadas Três-Marias ou Três Reis Magos. Por cima destas encontram-se duas estrelas que serão os ombros e um pouco mais acima, a meio, uma outra estrela, a cabeça. Abaixo das Três-Marias outras duas estrelas marcam a posição dos pés. No ombro esquerdo está a estrela Betelgeuse e, se olharmos com atenção, verificamos que é de cor vermelha. Na realidade é uma gigante vermelha, uma estrela velha. No fim da vida as estrelas expandem-se e arrefecem adquirindo uma tonalidade vermelha.
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A estrela do pé direito é Rigel, uma estrela de cor azul. É uma estrela jovem e, por isso, muito quente e azul. As cores das estrelas são observáveis a olho nu. Vão do vermelho ao azul passando pelo laranja, amarelo e branco. A sua cor dá-nos indicações da temperatura e da sua idade. Quando observamos o céu as estrelas parecem estar todas no mesmo plano, como se uma manta cobrisse a Terra mas estivesse desgastada e cada buraquinho fosse uma estrela. Na verdade estão afastadas de nós a distâncias bem diferentes. Mesmo as estrelas que fazem parte de uma constelação estão a diferentes distâncias. A Betelgeuse encontra-se a 420 anos-luz de nós e a Rigel a mais do dobro, 1050 anos-luz. O anoluz é a distância que a luz percorre num ano. E ela desloca-se à velocidade de 300 000 km/s, isto é, a cada segundo, a cada pi do relógio, a luz está 300 000 km à frente. Isto para explicar que um ano luz corresponde aproximadamente a 10 biliões de quilómetros, 10 000 000 000 000 km (ou 10 x 1012 km). Dizer que Betelgeuse está a 420 anos-luz de nós significa que a sua luz demora 420 anos a cá chegar. Então, a luz que vemos agora é a luz que saiu
de lá há 420 anos atrás. Nós estamos hoje a vê-la como ela era há 420 anos atrás. Por isso se diz que quando olhamos para o universo estamos a olhar para o passado. E Betelgeuse está a morrer. Quando der o seu último suspiro, quando libertar o seu último raio de luz este demorará 420 anos a cá chegar o que significa que durante 420 anos nós ainda estaremos a ver a estrela e ela já não existe. Muitas das estrelas que vemos são apenas “fantasmas” de estrelas que já existiram. Se traçarmos uma linha a unir as Três-Marias e a prolongarmos para a esquerda encontraremos a estrela mais brilhante do céu, a estrela Sírios. Ela faz parte da constelação do Cão Maior. É a sua estrela alfa (a estrela alfa é a estrela mais brilhante de uma constelação). Sírios é a estrela mais brilhante do céu, mas não é a mais próxima. A estrela mais próxima chama-se Próxima Centauro, está a 4,3 anos-luz de nós e não é visível a olho nu porque é muito ténue. A estrela Sírios está a 8,8 anos-luz de distância. Por baixo da cintura do Orion observa-se uma névoa, a Nebulosa de Orion, um berçário de estrelas a 768 anos-luz de nós. É uma nuvem de gases e poeiras onde estão a nascer estrelas. A luz
ensar(es) que de lá emana provém de estrelas acabadinhas de nascer. O nascimento de Orion está envolto em mistério. Para uns é filho de Hirieu, um mortal, viúvo e sem filhos a quem os deuses concederam este descendente como prémio da sua hospitalidade. Para outros é filho de Posídon com Euríale (uma das filhas do rei Minos). Segundo esta versão, o deus dos mares teria dado ao filho o poder de caminhar sobre as águas. Orion cresceu tanto que podia caminhar com os pés no fundo do mar e a cabeça fora de água. O seu maior prazer era caçar acompanhado do seu cão Sírio. Apaixonou-se pelas Plêiades (as sete filhas de Atlas e Plêione) e perseguiu-as durante cinco anos. Foram salvas pela intervenção de Zeus (o rei dos deuses) que as transformou em pombas e as elevou ao céu. Casou-se com Side, que, por se gabar que era mais bonita do que Hera (mulher de Zeus), foi por esta precipitada no Tártaro. Entretanto, viajou para a ilha de Quios e apaixonou-se pela filha do rei, Mérope. Como o pai se opôs ao casamento e louco de amores, irrompeu pelo quarto e tomou-a. Para se vingar e rei cegou-o. Disposto a recuperar a visão, Orion consultou um oráculo. A resposta que obteve foi positiva, mas teria que viajar para leste e virar os olhos em direção a Hélio, o Sol, no local onde este se ergue do oceano. Orion iniciou então uma epopeia e Hélio restituiu-lhe a visão. Entretando Eos, a aurora, apaixonou-se pelo gigante e foi correspondida. Ainda hoje continua a enrubescer com a recordação dessa paixão, o que explica a cor do céu ao amanhecer. Mas decidido a vingar-se de Enópion, pai de Mérope, persegue-os até Creta onde encontra Artemis, a deusa da caça, que o convence a desistir da vingança e a ficar com ela a caçar em Creta. Apolo, que conhecia a relação que Orion tivera com Eos e receoso que sua irmã Artemis também não resistisse aos seus encantos, vai ter com Geia (deusa da Terra) e conta-lhe que o gigante anda a matar os animais da Terra. Para o castigar Geia manda um escorpião. Este con-
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segue espetar o seu ferrão em Orion, mas Orion, antes de morrer, desfere ao escorpião um golpe de morte. Zeus ao ver a injustiça que tinha sido cometida eleva os dois ao céu e põe um de cada lado. Orion e Escorpião (constelação do zodíaco) são dois inimigos mortais e nunca se encontram no céu. Quando observamos um não conseguimos observar o outro. Já os Sumérios, ao olhar o céu, viam na constelação o seu herói Gilgamesh, um gigante com peripécias parecidas com as de Orion. Mas não se distraiam com todas estas observações, é que a Terra rodopia no sentido contrário aos ponteiros do relógio a uma velocidade de aproximadamente 250 m/s (à nossa latitude) e as estrelas desaparecem sob a linha do horizonte à mesma velocidade. Rapidamente a constelação de Orion desaparecerá. Resta o consolo de haver outras constelações igualmente interessantes para observar e a possibilidade de poder voltar a ver Orion no dia seguinte.
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Arte Urbana ou Vandalismo? Leonor Babo . Aluna do 10º F
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grafite é um tema que despoleta múltiplas opiniões, algumas muito contraditórias. Enquanto uns defendem que é uma forma de liberdade artística, outros consideram que é um ato de vandalismo e de destruição de património urbano. As suas origens remontam à arte rupestre da préhistória, adquirindo em certos períodos artísticos e históricos uma grande importância como no antigo Egito e na Roma Imperial. Recentemente, o tema regressou às primeiras páginas dos meios de comunicação na sequência do trágico acidente ocorrido nos caminhos-de-ferro da área metropolitana do Porto, que ocasionou a morte de três jovens. A arte urbana, “Street Art”, que nas suas origens foi prioritariamente um meio de contestação social e política da juventude dos subúrbios das grandes cidades, acabou, nas duas últimas décadas, por ser considerada um manifesto artístico expresso em espaços públicos. Os artistas de maior renome obtiveram notoriedade e as suas obras acabaram por ser protegidas como património urbano. Artistas como o inglês Banksyi , cuja identidade ainda é desconhecida, e o português Vhils, “tag” de Alexandre Farto, são hoje respeitados em todo o mundo e as suas obras, quando o seu suporte o permitia, acabaram nas mais i Sobre Banksy e as origens da “Street Art”, sugiro o visionamento do documentário “Exit Through The Gift Shop”.
importantes galerias do mundo, sendo objeto de desejo nas casas de leilão de arte mais conceituadas. Apesar da arte urbana ser habitualmente associada ao grafite, é muito mais vasta, incluindo expressões como as estátuas vivas, as performance de rua, “flash mobs”, entre outras, o que torna esta arte numa das formas mais eficazes de atrair visitantes. A partir dos anos 60, pela ação criativa de nomes como Keith Haring e Jean Michel Basquiat, a comunidade artística começou a olhar para estas novas formas de expressão
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artística com mais atenção. Quando aplicada em suportes autorizados e reservados para o efeito, acaba por, quer pela sua beleza, quer por conceder qualidade estética a edifícios danificados, beneficiar o património urbano e contribuir para o usufruto artístico de um público mais alargado. O preconceito demonstrado com este tipo de arte criou a impossibilidade de distinguir grafite do puro ato de vandalismo. Contudo, existe uma diferença bastante notória entre os dois, pois o primeiro é arte, enquanto o segundo é contaminação visual e, essencialmente um ato destrutivo. Quando o grafite é utilizado como meio de comunicação entre criminosos, como um mero ato de escrever em paredes, muros e monumentos, insultar e/ou protestar, arruína os edifícios, é ilegal e nefasto, por isso, acredito que esteja a “profanar” a verdadeira arte urbana. Esta, a arte criada para entretenimento, diminui a monotonia das cidades e, em muitos casos, dinamiza o turismo. A cidade do Porto já dispõe de um “Roteiro da Arte Urbana” e de visitas guiadas organizadas pela própria Câmara Municipal.
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Concluindo, apoio a punição de todos aqueles que praticam o vandalismo, pela sua inutilidade e destruição do que é belo ou monumental, pela sua poluição visual e pela sua perigosidade. No entanto, considero que a arte urbana deveria ser mais apreciada, porque pode contribuir para embelezar o espaço urbano, entreter e motivar a população para a fruição artística.
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Secularizados deveras? Pedro Miranda . Professor de EMRC “Poderemos observar que se (…) a remissão para a secularização, em nossas sociedades, tende a referir-se a uma (suposta) “abolição da fé”, todo sentido faz, inversamente, propormos uma secularização crente.”
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ma afirmação peremptória, sem matizes ou ambiguidades, da secularização como fenómeno inequivocamente instalado (nomeadamente, hoje, a Ocidente) tende, em realidade, a negligenciar uma consideração outra de perspectiva: a que nos remete para a perenidade do religioso, do sagrado no – entre o – humano. Neste sentido, dificilmente a chamada “morte de Deus” seria susceptível de exaurir a dimensão crente da pessoa humana – homo credens, por definição, pois – pelo que, mais do que falar em secularização, devemos atentar, antes, na deslocação do sagrado para âmbitos até aqui considerados profanosi . Da ciência às ideologias, passando pela economia, o partido, a nação, a natureza, o desporto ou os media, várias são as novas sedes sacralizadas. E, todavia, radicalmente, nenhuma delas, outrossim, alcança substituir o Deus da confiança, o “exterior fundamento do sujeito”; a modernidade, sempre à procura de um (novo) deus que substituísse Aquele, instituiu, então, novos horizontes de divindade. Em uma palavra, não se secularizou, afinal, a cultura. Será, porventura, i Cf. João DUQUE, Ambiguidades da secularização entre modernidade e pós-modernidade, Cultura e Comunicação, nº11, 2011, 19-35.
aparentemente, de maneira paradoxal, a partir da tradição bíblica – para a qual/segundo a qual, só Deus é santo -, que a crítica a esta não secularização pode adquirir força substantiva e operar com pertinência. Só no interior de uma mundividência em que o Deus transcendente - simultaneamente presente (maxime, na minha relação ética com o outro) e transcendente (na autonomia conferida ao humano) à história (humana) -, abre espaço para a “mundanização do mundo”, a recusa de falsas divinizações – incluindo os desejos de cada um encontra respaldo; em rigor, só o Deus transcen-
ensar(es) dente garante a secularidade do demais; Deus é fundamento da secularizaçãoii. De modo esquemático, poderemos, assim, observar que se, não raramente, a remissão para a secularização, em nossas sociedades, tende a referir-se a uma (suposta) “abolição da fé”, todo sentido faz, inversamente, propormos uma secularização crente. Ela implica, reitere-se, a aceitação de que só Deus é santo; tudo o resto, não é Deus – mas criatura sua. E o Criador, no respeito absoluto pela autonomia do que é criado, na liberdade que dá ao mundo, abre espaço para uma correcta leitura/interpretação da relação Deus/ mundo. Mais: “se a ‘morte de Deus’, na cultura ocidental, implica o reconhecimento claro desta relação entre mundo e Deus, entre humanidade e divindade, então ela é simbolicamente condição positiva de vivência correcta da fé cristã. Mas só na medida em que assim for”iii. Tal não significa, bem entendido, que Deus não possa manifestar-se no mundo; sem embargo, cremo-Lo presente, mas por adjectivação derivada da sua referência à origem primeira (sem intervenção directa ou imediata, qual deus ex machina). Em suma, terá sido uma específica cosmovisão – aquela que encontramos manifestada na Bíblia – a dar expressão à experiência de um mundo ou realidade especificamente seculares (e isto por distinção face à origem divina de tudo). De acordo com J.B.Metz, a vexata quaestio do nosso tempo não é, já, desta sorte, a presença ou ausência do religioso, mas, bem mais, a construção do religioso sem Deus – o Deus bíblico – na medida em que tal compromete o refreamento das ambições do “Homem superior” (nietzscheano), pois que o Deus de Jesus Cristo – e a sua memória – promoveria a igualdade entre os humanos, a fraternidade, a simpatia para com as vítimas inocentes (e ignoradas/ esquecidas). Neste contexto, pois, “a mais tremenda ‘morte de Deus’ (…) coincide com a ‘morte do humano’iv.” Se a valorização do mundo encontrava fundamento na sua relação com o “sagrado fundamental”, Deus, o que o processo moderno de secularização ii Ibidem, 29. iii Ibidem, 24. iv Ibidem, 27.
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pareceu pretender anular foi este carácter mediador – do mundo para o Deus transcendente -, instalando, em alternativa, uma secularização idolátrica do imanente, com absolutização do mundo na sua factualidade. Não obstante, em leitura radicalmente diversa desta, poderemos questionar-nos, com Jean-Paul Willaime, se não estaremos, na verdade, a viver um novo tempo, o da radicalização da modernidade – não o da superação desta e, portanto, não pós-modernidade -, o da “secularização ao quadrado (a secularização elevada a dois)”v, no qual a desmitologização, a secularização não incide, já, sobre o religioso, mas recai nas próprias instituições que haviam presidido à secularização ou tomado o lugar do sagrado (isto é, na vez do religioso). A ideologia, os partidos, a nação, por exemplo, seriam, desta forma, vítimas do processo anteriormente passado com o religioso. “Os desencantadores são desencantados”vi, por fim, e, de novo, a religião mostra proporcionar um acervo de recursos, identitários e éticos, que explicam muita da sua perenidade. Se é certo que a Ocidente, cada vez mais, as sociedades são pós-cristãs, com a separação do Cristianismo a fazer-se não apenas com o Estado, mas, ainda, e provavelmente de modo mais importante, com a ambiência circundante - o fim da cristianitude -, não menos relevante é compreender como no seio de sociedades em que o pluralismo extremado - que dificulta de sobremaneira a construção do “eu” -, grupos de jovens, e menos jovens, qualificados (em França, abaixo dos 45 anos, a maioria dos crentes é composta por pessoas com qualificação escolar superior) forjam pequenos sub-conjuntos identitários, em que o sentido e orientação é proporcionado pela vinculação cristã - a heresia do séc.XXI não é, como no passado recente, a heterodoxia, mas a ortodoxia. De aí que “ser religioso hoje é um não conformismo”vii. v Jean-Paul WILLAIME, As condições socioculturais da religião na ultramodernidade contemporânea, in Anselmo BORGE, Deus ainda…, 29. vi Ibidem, 30. vii Ibidem, 44. De acordo com o autor, nos nossos dias “participa-se em” muito mais do que “pertence-se a”. E, neste contexto, o excluído de hoje é aquele que se fixa nalgum lugar, que resiste à mudança permanente. O religioso pode ser protecção, abrigo seguro – de leitura do mundo e vivência nele – e não, apenas, limitador de uma qualquer emancipação.
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Gustavo Lopes . Aluno do 10º B “Liberdade é apenas uma definição atribuída pelo Homem e que varia de pessoa para pessoa.”
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os dias de hoje, o Homem é servo da sua própria liberdade, pois essa liberdade de que dispõe é uma liberdade limitada. Liberdade é apenas uma definição atribuída pelo Homem e que varia de pessoa para pessoa, face às características distintas que cada individuo apresenta, como a idade, a opinião, a crença, a condição física, entre outras. Tomando como exemplo a idade, quanto mais jovens, achamos que a liberdade é a capacidade de fazer tudo aquilo que queremos, sem quaisquer condicionalismos. Já na idade mais adulta, a palavra liberdade inclui também as regras e os deveres. Existem também condições éticas ou físicas que impossibilitam uma pessoa de ser livre. Um individuo fisicamente debilitado não será capaz de fazer certas coisas, como por exemplo correr, se tiver as pernas amputadas. Também uma pessoa, na sua plena consciência, não irá matar outro ser só porque lhe apetece, ou por mero capricho. Isto leva-nos a tirar uma simples conclusão: de fato, a liberdade existe, no entanto, nunca puramente, pois, desde tenra idade, aprendemos costumes, normas, tradições, leis e, por vezes, uma maneira de pensar, ser e sentir que nos condicionam. Assim, a liberdade é sempre definida tendo em conta o outro(s) e a responsabilidade.
Nadir Keval
A Liberdade
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Uma noite de chuva Estou em casa sem fazer nada Abro a porta para ir dar uma volta Reparo que está a chover E lembro-me de questionar: - Porque chove? Será que chove porque O céu está triste? Será que chove porque O céu está irritado com gases Gases poluentes que mandamos para o céu? Porque será que chove? Eu gostava de saber Gostava de conseguir Falar com o céu, Com as estrelas, com a lua… Gostava de estar ao pé deles, Gostava de ver o que veem, Gostava de saber o que sentem Nesta noite de chuva…
Joana Santos. Aluna do 8ºB
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Eutanásia Liliana Sofia . Aluna do 10º E “…um caminho consciente, que reflete uma escolha informada e deliberada, que traduz o fim de uma vida em que quem morre não perde o poder de ser digno até ao fim.”
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ara começar, creio ser importante explicar inequivocamente o que é a eutanásia. A palavra eutanásia deriva da expressão grega euthanatos, onde eu significa bom e thanatos, morte. Numa definição puramente etimológica, é a morte boa, a morte calma, a morte piedosa e humanitária. A eutanásia é a acção deliberada de causar ou apressar a morte de um doente. Este tema já vem a ser debatido desde há muitos séculos atrás, contudo continua a ser controverso e chocante, uma vez que interfere com princípios éticos, religiosos e jurídicos. Esta escolha, no entanto, tem de ser muito bem deliberada e nunca irreflectida, tanto que as componentes biológicas, sociais, culturais, económicas e psicológicas devem ser avaliadas, contextualizadas e pensadas, de forma a assegurar a verdadeira autonomia do indivíduo, fazendo com que se apresente a impossibilidade de arrependimento. A eutanásia é uma opção a ter em conta quando o doente quer acabar com o sofrimento de que é vítima, sem que haja tratamento reversível ou quando a doença é extremamente prolongada e dolorosa, sem boas perspectivas futuras. Apre-
sentando desde já o meu ponto de vista, causar directamente uma morte sem dor de modo a acabar com o sofrimento de vítimas de doenças incuráveis ou desgastantes, é, sem dúvida, uma opção, senão a única, a ter em conta. Noutras palavras, é matar sob a alegação de um sentimento de compaixão. A eutanásia, como o aborto legal, é um método em que matar ou morrer representa uma solução. Contudo, permitir que uma pessoa morra quando o curso da doença é irreversível e a morte é obviamente iminente não é eutanásia. Se o doente estiver lúcido e em condições de se expressar, essa escolha cabe-lhe apenas a ele. Os pacientes têm a liberdade de recusar tratamentos médicos que não lhes trarão cura nem alívio para o sofrimento. Mas quando o doente não está em condições de falar por si mesmo, a família tem o direito de recusar tratamentos que não terão nenhum benefício para impedir o andamento da doença. Também não se trata de eutanásia quando, para permitir uma morte natural, os médicos param os tratamentos, que não trazem qualquer melhoria e só adiam temporariamente a morte inevitável.. O grande filósofo alemão do século XVIII, Emmanuel Kant, era contrário à eutanásia e dizia: “O homem não pode ter poder para dispor da sua vida.”. No entanto, na actualidade, a eutanásia goza de um grande apoio popular e do apoio de muitos filósofos contemporâneos. Aqueles que defenderam a admissibilidade moral da eutanásia
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apresentaram como principais razões a seu favor a misericórdia para com os pacientes que sofrem de doenças das quais não há esperança de recuperação e que provocam grande padecimento. Eu acredito que esse seja um caminho para evitar a dor e o sofrimento de pessoas em fase terminal ou sem qualidade de vida, um caminho consciente, que reflete uma escolha informada e deliberada, que traduz o fim de uma vida em que quem morre não perde o poder de ser digno até ao fim. São raciocínios que participam na defesa da autonomia absoluta de cada ser individual, na liberdade que temos, que assenta e se traduz nas escolhas que temos o direito de fazer.
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Muitas pessoas entendem esta escolha como uma maneira de desistir, mas penso que deve ser entendida como uma ato de coragem. Com este ato é possível acabar não só com o sofrimento da própria vítima, mas também com o sofrimento dos seus familiares, já que estes assistem a todo o doloroso processo do seu semelhante, do definhar, do lento caminhar para a morte, restando sempre uma esperança no fundo de cada um, que na maioria das vezes se torna em mágoa e desilusão, prolongando o sofrimento. Assim, entendo este acto como uma grande prova de coragem e de altruísmo.
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Pensamentos de um aluno frustrado Isabel Gonçalves . Aluna do 12º B “Fecho os olhos e sinto à minha volta. Vejo cálculos, conceitos, definições, métodos, quadros que brilham ofuscantemente. Oiço um zunido que se tornou constante há mais tempo do que me sinto confortável a admitir. Apercebo-me do martelo furioso que se abate sobre o crânio. Não cheiro nada, não penso em mais nada – senão em tudo o que se me apresenta potencial causa de frustração.”
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im, é essa a palavra. Qual melhor para designar o falhanço consecutivo da perseguição que algo que, pior do que se fôssemos nós a definir, nos é imposto, que sabemos que na verdade não parte da nossa iniciativa? Que melhor vocábulo para o desespero por uma fuga à persistente tentativa de penetração das letras e números que perfilam em nosso redor? E assim que desejo agarrar no tempo e esticá-lo até ao limite, cresce uma fúria de mim própria por ter sucumbido ao ditado. Apetece-me despedaçar o “encher-despejar”, correr por uma planície de algodão gelado e bradar: Lixe-se isto tudo! Aulas. Levada pela ilusão de querer aprender, fomentada durante anos pela máxima “é o teu dever”, preparo o cérebro para receber os novos “ensinamentos”. Gosto de pensar que fico atónita com perguntas como: “Como é o teste? Não faça muito difícil… Vai sair no teste? Se não sair, não vale a pena”. Mas quem estou eu a enganar? Todos somos encaminhados para as provas de
suposta avaliação, única e exclusivamente. É um ciclo vicioso, repara: Decora (para quê perceber? O livro já tem os resumos feitos, as fórmulas concretizadas, as teorias postuladas) – estuda (equivalente a encher o saco de patranhas memorizadas); pede testes emprestados (nunca se sabe se é igual!) – faz o teu teste (é testado o quê, afinal?) – lamenta o teste (oh pá, não tinha mais que despejar…) e prepara-te, porque o pior dos teus problemas persegue-te como uma sombra: o dia da rotulação. Para tudo suceder uma vez mais. É para a média. É a reputação e avaliação dos professores. No entanto, será classificar e rotular os integrantes da, usando as palavras hilariantes do nosso primeiro-ministro, “salsicha educativa”, o objetivo do sistema de ensino? Afirmamos que os bons alunos sabem muito, contudo o conceito tem-se obviamente deturpado. Assim, empregá-lo-ei com essa conotação: após o esticão mental da ansiedade aliada à mente que transborda de conhecimento, como uma arca repleta de ar sob pressão e mal fechada, o bom aluno convence-se do seu saber, é felicitado, orgulha-se, é invejado. Sinceramente, não sei porquê. Todos estamos sujeitos ao mesmo sistema. Depois do toque aliviador da campainha, lá se suportou, nem sei como, mais um dia onde a salsicha é unânime quando comenta que a melhor parte foram os intervalos das aulas. Na verdade, inspirar o odor familiar do ar livre já sabe a puro,
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mesmo que não o seja. Depois de quase sete horas da habitual atividade, conto as que me restam. A motivação que tento acender em mim quando me deparo com “estudar” é nula. Reflito: irá o que ouvi hoje fornecer-me instrumentos que usarei no futuro? “O que queres ser quando fores grande” é a pior questão que pode ser colocada a um aluno. Ensinar é fornecer as bases, edificar os alicerces para o desenvolvimento de algo melhor; acreditava que essa era a função de uma escola e, na teoria, ainda o é. Mas tenho vindo a descobrir que o tempo empregue na memorização das bases para a prova iminente não nos deixa espaço de manobra. Para além disso, quem se sentirá empenhado em continuar a empurrar atabalhoadamente ar para o baú, dia e noite, sem o poder analisar, moldar o cinzento do fumo, pintar a cor inexistente, argumentá-lo, ri-lo, vivêlo, criar a misteriosa neblina e condensá-la em fonte, mais ou menos límpida, mas que dá de beber? Não sou máquina. E só a maneira como o disse já me desmente. Chegamos ao ponto de nos ensinarem a pensar. Leiam e releiam: ensinar a pensar. Alguém me pode apontar onde, nessas três palavrinhas, está
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implícito “liberdade de pensamento?” É que a mim soa-me a uma formatação destinada a criar mentes semelhantes, uma geração semelhante, destinada a perpetuar os erros das gerações anteriores, deixando espaço nenhum para a mudança e melhoria daquilo que devemos proteger e construir. Afinal, perceber é crucial para aprender. Tempo para perceber, tempo para aprender. Tempo para aprender com os erros, tempo para aprender com a vida. Tempo para perceber a vida. Tempo para partilhar o baú, os erros e a vida. Sentar na beira de um ribeiro murmurante, sucumbir ao encantamento das chamas, sentir a terra, suavemente a água, a frescura das ervas, o perfume, o riso, o amor, na pele, no ser. E sobretudo manter esse desejo de viver, estar consciente de que todas as perspetivas contam e, sabendo que nenhuma estará absolutamente certa, é fundamental o envolvimento de todos. E que faço eu? Talvez as ideias não passem disso mesmo, efémeras numa folha de papel. Agora, sei-a a aproximar-se: a frustração.
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Aqui, no cimo desta montanha Agostinha C. Araújo . Professora de Português e Lit. Portuguesa “Toda a minha vida tem sido um caminho para a totalidade, um esforço para recolher esses pedaços de mim, um esforço para encontrar a paz da missão concluída, a tranquilidade do descanso merecido.”
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qui, no cimo desta montanha azul, ao amanhecer, olho a planície e vejo páginas de mim a esvoaçar, espalhadas pelo vento. Aqui, neste deserto profundo, olho a vastidão de areia e vejo a minha vida. Vejo pedaços de mim dispersos pelo vento, perdidos no tempo, a esvoaçar pelo espaço. Vem-me à memória Camões, “poeta pelo mundo em pedaços repartido”, como alguém lhe chamou. Sinto-me Camões na pele, nos músculos, nos ossos. Sinto-me pelo mundo e pela história em pedaços repartido. Estou aqui, mas anseio em simultâneo estar ali, sou eu, mas desejo viver várias vidas ao mesmo tempo, em simultâneo tomar várias direções. Toda a minha vida tem sido um caminho para a totalidade, um esforço para recolher esses pedaços de mim, um esforço para encontrar a paz da missão concluída, a tranquilidade do descanso merecido. E sempre a minar-me um sentimento de “medo sem ter culpa”, um sentimento que, por vezes, faz uma lágrima grossa e quente deslizar, rápida, pelo meu rosto. Se me olho ao espelho, esta é a imagem que ele me devolve: um homem maduro, forte, queimado pelo sol, de mãos abertas, de coração gener-
oso. Sim, estou de bem com a vida, sou calmo, sensível, ousado, prezo a amizade e a tolerância, mas os meus olhos são tristes e têm uma expressão séria. Adoro desafios e sonhar, sempre sonhar e realizar novos projetos. E os outros? Que imagem os outros captam de mim? Algumas pessoas chamam-me louco, outras acham-me cruel, volúvel, egoísta, e algumas, poucas, acreditam que sou meigo e encantador. E eu sou tudo aquilo que elas pensam que eu sou, mais aquilo que eu penso que sou, um espelho que, desastradamente, em certo momento, quebrou em pedaços pequenos e que reflete a realidade de vários ângulos, um caleidoscópio de cores e formas em constante mutação. De forma desajeitada, tosca talvez, procuro deixar marcas no mundo, uma impressão digital de mim aqui, outra ali, outra mais adiante… pistas de mim para me encontrar. Acredito na eternidade. A eternidade são os meus filhos: a bela, o bondoso e o justo. Nós os quatro somos a totalidade. Mas continuo incompleto, eles crescerão e voarão para longe. As mulheres que tive, que colecionei, uma após outra, e até as que amei, fizeram parte do meu sonho. Amei algumas vezes, mas já esqueci as circunstâncias, os nomes, os rostos, os cheiros e os sabores. Às vezes pergunto-me: seria mesmo amor ou teria sido apenas o amor do amor? A sedução da caçada, a torre cercada, estrategicamente, pacientemente, a conquista! Logo depois
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esse sentimento já gasto, já cansado, sem novidade, sem sentido, vazio. O que fiz na vida… O que sonhei… O que pensei… O que senti… Os sítios que visitei… Os erros que cometi… No computador, retroceder é o meu comando preferido. Em qualquer momento me posso arrepender de uma ação e retroceder, reparar o dano, corrigir. Pudesse ser assim na vida! Pudesse haver um retroceder ou até uma tecla delete para os nossos erros! Estou no fundo de um poço profundo. Escuro, húmido e profundo, nas entranhas da terra. Uma friagem acaricia-me estranhamente o corpo, chega-me aos ossos e sinto a boca seca, tenho sede. Estou no meu âmago, no meu centro, na coro-
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la de mim. Vejo-me. Encontro um punhado de areia, folhas secas, remoinhos, pedaços. São fotos de mim que esvoaçam, um álbum de memórias, infância, perdas, vitórias, conquistas, emoções gastas, um cansaço, uma inquietação na alma. Memórias, lembranças, fragmentos dispersos, sono agitado, inquietude… Esta inquietude que me corrói, que torna menos claro o meu olhar… Quero fazê-lo? Que me trará isso? Quem serei quando o fizer? Que me impede de o fazer? Que tenho de fazer para que isso aconteça?... Perguntas que ajudam, mas que não me guiam no labirinto de mim. As perguntas profundas, subcutâneas, definitivas, permanecem sem resposta. Aqui e agora. Mas eu sou amanhã e quero estar ali, de preferência sempre ali. Inquietude, linha infinita, imensidão, dispersão… sem fim.
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As Montanhas Fascinam-me! Elisa Guichard . Professora de Geografia “…quando olho para uma Montanha sinto Paz, Força, Segurança, Liberdade e, sobretudo, Respeito”
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enho saudades do mar”, “gostava de me sentar numa esplanada em frente ao mar”, “que cheirinho a maresia”, “como é bonito o pôr-do-sol no mar”. Ver o mar é, para muitos, extremamente desejável, relaxante e o cheiro a maresia muito agradável. Não digo o contrário, mas prefiro a Montanha. Não são exclusivamente as raízes serranas, transmontanas e beirãs, a ditar esta preferência. Se nunca andaram de avião imaginem uma viagem a 5000 metros de altitude. Saindo de uma cidade costeira, vamos deixando o litoral para trás e começamos a sobrevoar o mar: uma imensidão de água, azul, verde ou cinzenta, dependendo da tonalidade do céu; alguma espuma que denuncia a existência de ondas; um ou outro barquito e… mais nada. A monotonia é tal que, passado pouco tempo, já desistimos de olhar cá para baixo e estamos entretidos com as diversões oferecidas pela companhia aérea nas costas do banco da frente. De vez em quando vamos olhando cá para baixo, mas continua tudo igual. De repente avista-se terra e uma cordilheira montanhosa vai-se erguendo ao longe: já se conseguem ver picos brancos de neve, numa massa rochosa ondulada. À medida que nos aproximamos conseguimos ver lagos que mais parecem espelhos de água; ro-
chas arredondadas, com arestas, ou em blocos, de tonalidades diferentes e que refletem melhor ou pior a luz do Sol; vegetação, rasteira nas zonas mais altas e arbórea nas zonas mais profundas; o verde das pastagens alterna com fiadas de casas dispersas, ou enfileiradas ao longo das estradas. Nesta altura gostaríamos de ser pássaros para poder baixar um pouco e ver as cores das plantas que, qual tapete, cobrem as vertentes montanhosas: verdes, azuis, brancas, amarelas, lilazes, … Paramos o filme que estávamos a ver ou o jogo que estávamos quase a acabar, a paisagem prende a nossa atenção. Pois é… foi a Montanha que teve sempre a minha preferência. Quando olho para o Mar sinto Paz mas, dentro dele, Fragilidade e Insegurança; quando olho para uma Montanha também sinto Paz mas, sobretudo, Força, Segurança, Liberdade e, mais, Respeito. Já imaginaram a força que foi necessária para elevar das profundezas do Mar, ou da crusta terrestre, semelhantes massas rochosas?
S. Luís do Maranhão, Brasil
Suiça
Inhaca, Moçambique
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Para Ti José Artur Matos . Professor de Artes Visuais
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iquei-me sempre pelas meias palavras, nas frases esquivas, nos olhares discretos e julgo que não te disse tudo que havia para dizer. Parece que me morreste no preciso momento em que já ia desistindo de ti e tu de ti mesmo. No oportuno tempo em que parecia já não valer a pena. Em que o teu corpo estava a desistir, as tuas mãos estavam inchadas das transfusões, a tua pele alva como a de uma boneca de porcelana, as muitas escaras de tanto te roçares nos lençóis, os pensos de morfina e outras drogas que eu nem conheço. Nos últimos tempos pediste que não me fosse embora, uma e outra vez, que chamasse os enfermeiros para te mudarem de posição. Não imaginas como eu anoitecia a descer o elevador, como anoitecia no percurso até ao carro e no caminho até casa. Como me culpava por te esquecer na tua dolorosa reclusão, por levar a minha vida de todos os dias. Como me culpava por não ser capaz de te visitar todos os dias. Quando estava contigo evitei tocar-te quase sempre, enquanto via pela porta semicerrada do quarto, em frente, as carícias que outros faziam. Invejei-os de alguma forma, mas fiquei imóvel, agarrado às apps do smartphone, para disfarçar o desconforto. Nós nunca fomos de carícias, sempre evitamos essas lamechices, sempre fomos daqueles que nada dizem, daqueles que apenas trocam olhares fugazes como dois perfeitos desconhecidos. Mesmo assim julgo que sempre
nos compreendemos como ninguém. No outro dia vi uma foto antiga, talvez dos anos 70, em que estavas com o Sr. Francisco, o “Rei dos Bigodes” e transportavam um caneco à cabeça. Ao fundo estava a Tia Isabel, acabada de chegar de Angola. Bela e desempoeirada, tal e qual a Claudia Cardinale, num filme de Fellini. Tenho olhado a foto repetidamente, inquieto com aquele teu sorriso de que já não me lembro. Um sorriso puro. Aqueles de que me lembro nunca foram assim, sempre me pareceu que já transportavam o peso do tempo, pareciam uma despedida, pareciam sempre tristes ainda que fossem sorrisos. Pior do que isso, nos últimos tempos, às vezes, já nem eram sorrisos, mas apenas uma ligeira contorção muscular na face. Sempre me pareceste triste e algo resignado. Sempre o atribuí ao fatídico dia 26 de Agosto de 1986, tinha eu acabado de fazer 18 anos. Embora não esteja certo, julgo que esse dia nos transformou a todos e nos colocou no rosto um semblante algo melancólico-depressivo que ficou para a vida. Nunca foste perfeito e sabias ser mau como ninguém. Sei muito bem como foste mau para pessoas que eu muito amei. Em nossa casa sempre houve segredos, as portas estavam sempre fechadas, mas as paredes eram de madeira e para os ouvidos foi sempre tudo bastante claro. Devo a essas paredes a compreensão do caráter mais íntimo de cada um dos que ali viviam, a nossa pequena família. Devo a essas finas e promíscuas
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paredes uma boa parte daquilo que sou e o meu interesse pela psicologia humana. Devo a essa falta de privacidade uma parte da construção do meu caráter. Para além das coisas boas que construímos nessas condições, cedo me dei conta que transportava comigo o mesmo tipo de maldade que nessa altura encontrei em ti, aquela maldade que sempre aplicamos àqueles que mais amamos. Uma estranha forma de amar, que julgo ter herdado de ti e de que não me orgulho. Mas nem tudo foi mau. Também partilho de ti a capacidade de contemplação, a espantosa se-
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gurança com que agarramos a vida pelos cornos, a genuína humildade que sempre nos ficou tão bem. O gosto pela terra e pelo trabalho árduo. O imenso respeito por todos aqueles que trabalham para nós. A seriedade e a autenticidade relacional para com aqueles com quem nos cruzamos. Nem tudo foi mau, mas partiste e deixaste-me órfão, deixaste-me algo perdido. Agora já não tenho ninguém para culpar quando algo não me corre de feição, já não tenho ninguém onde depositar a culpa. Tu sabes do que eu estou a falar, sempre nos compreendemos como ninguém.
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A importância das emoções Ana Araújo . Aluna do 12ºE “A expressão das emoções desencadeia, junto de quem está presente, reações que poderão suscitar novas emoções.”
A
s emoções têm sido um tema de muitas pesquisas ao longo dos últimos anos, e o seu estudo vem-se tornando importante devido à necessidade cada vez maior de compreender e controlar as atuais patologias associadas ao aspeto emocional. Por ser um tema presente e marcante na vida humana, esse assunto sofreu um grande avanço nos últimos anos e seu estudo constitui um domínio particularmente interessante nas áreas sociais e humanas. A psicologia diz que o ser humano traz ao nascer algumas emoções básicas como o medo, a tristeza, a raiva e a alegria. Todas elas têm uma função importante na nossa vida, principalmente no que diz respeito à sobrevivência da espécie. As emoções são processos desencadeados por um acontecimento, pessoa, situação, que é objeto de uma avaliação cognitiva nem sempre consciente. A emoção é uma experiência subjetiva que pode ser acompanhada por reações orgânicas, de mímicas, gestos, movimentos e expressões vocais. Pode traduzir-se por uma tendência para a ação, como, por exemplo, a fuga, no caso do medo. As expressões das emoções desencadeiam, junto de quem está presente, reações que poderão suscitar novas emoções.
O estudo das emoções tem sido um assunto apaixonante e envolvente, apresenta diversas reflexões, que apontam a emoção numa interação relacional humana, ou seja, das emoções como processo adaptativo da pessoa ao ambiente, bem como um processo adaptativo do homem aos contextos dinâmicos sociais. As emoções foram ignoradas por muito tempo até mesmo por filósofos e pesquisadores das ciências em detrimento da razão ou do pensamento lógico. Elas eram consideradas processos menos importantes, primitivos e até mesmo indicadores patológicos. O estudo das emoções é muito importante em relação à nossa sobrevivência enquanto seres humanos. Se não mantivermos as nossas emoções bem estruturadas, as nossas possibilidades de sobrevivência ficam bem reduzidas. Somos seres com uma biologia elaborada e de emoções bem refinadas como o altruísmo, a solidariedade e a compaixão. Mas é imprescindível que essas atividades emocionais sejam harmonizadas e equilibradas com o uso da racionalidade e do pensamento analítico e investigativo. Cultivando a tolerância e respeitando as diferenças individuais, a fim de termos um convívio pacífico, teremos todas as oportunidades possíveis para sobreviver em épocas tão difíceis quanto as que nos aguardam no futuro.
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O EI – em busca de explicações A. Marcos Tavares . Professor de Filosofia “Há que lutar contra o medo castrador e contra a tendência de se querer manietar a liberdade em nome da segurança”
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. Juridicamente, um Estado apresenta como elementos fundamentais constitutivos o território, o povo e o poder político. O Estado Islâmico (EI) não é um verdadeiro Estado: não tem território reconhecido (estende-se por grande parte da Síria e do Iraque); não tem população (os povos que habitam o território que usurpa não são governados mas controlados). Tem força para impor a sua lei (calcula-se que conte com cerca de 30.000 membros armados, metade dos quais provenientes de outras regiões) mas é uma lei brutal, não reconhecida internacionalmente. 2. Os territórios que ocupa pertencem a estados enfraquecidos e divididos pelas intervenções militares de países ocidentais, designadamente USA, Inglaterra e França. Não é sem razão que se diz que o primeiro responsável pelo terror do EI é o Ocidente: para enfraquecer os governos daqueles países do Médio Oriente, armou grupos que no terreno os combatiam. É também bastante óbvio que o EI tem o apoio disfarçado de países sunitas como a Arábia Saudita e o Qatar, talvez mesmo da Turquia que, às claras, compra o petróleo que o EI extrai dos territórios que ocupa e que é uma das suas princi-
pais fontes de sustentação. 3. O que me motivou a escrever este texto não foi, todavia, o entendimento jurídico do denominado EI. Quero, aqui, sobretudo, procurar as razões, os motivos que estarão na base da adesão ao EI de tantos jovens já nascidos e criados em países ocidentais, com destaque para a Bélgica e a França. E neste país sobretudo jovens mulheres. O ser humano age sempre em função de determinadas necessidades. Na sua pirâmide hierárquica, Maslow estabelece no terceiro nível as necessidades sociais de afiliação e de pertença. Este sen-
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tido de pertença vem ao encontro de uma outra necessidade fundamental do ser humano que é sentir-se seguro. A segurança, procuram-na muitos jovens na pertença e na afiliação a grupos (desde juventudes partidárias e claques de futebol até grupos mais ou menos marginais). O que diferencia estes grupos não é a génese psicológica, que é muito semelhante, mas os fins. O que diferencia estes grupos são os ideais que perseguem. Se os ideais forem nobres, dignos, também os atos individuais o serão. Se os grupos optarem pela violência, todos os membros serão violentos. Sabe-se, pela dinâmica dos grupos, que em grupos massificados como estes, o indivíduo adquire uma nova identidade – a identidade do grupo, e age em função dos ditames e dos interesses do grupo ou de quem o comanda. No seio do grupo, deste tipo de grupos, como que se perde a capacidade pessoal de reflexão e de crítica. Faz-se em grupo o que individualmente se não faria. O fanatismo e o radicalismo são resultantes dessa pertença forte ao grupo e da ausência de motivações pessoais. 4. Assim sendo, não se pode lutar contra o EI como se de um exército convencional se tratasse. Os seus membros não são soldados convencionais. Eles atuam normalmente em pequenos grupos (em células por vezes adormecidas mas que a qualquer momento podem ser ativadas) no meio da multidão, confundindo-se com ela. Não têm receio da morte e estão prontos a, com a sua, provocar a de centenas ou milhares de pessoas inocentes. Determinados salpicos de promessas religiosas quanto ao destino dos «mártires» fazem o resto. 5. Um dos grandes aliados do EI é o medo. O medo que infunde com o terror manieta a ação e corrói a liberdade. São exemplos a proibição, por parte do governo francês, das manifestações em Paris, no âmbito da 21.ª Cimeira do Clima da ONU (COP21), no final do mês de novembro de 2015, e o estado de sítio que durante bastante tempo foi decretado em Bruxelas, após os atentados de 22 de março de 2016. Há que lutar com todas as forças contra este medo castrador e contra esta tendência de se
querer manietar a liberdade em nome da segurança. A este propósito, numa entrevista a um jornal espanhol, o filósofo granadino José António Pérez Tapias insistiu que não podemos deixar que o medo nos tolha e que os valores fundamentais devem continuar a ser defendidos sem receio de atentados. Na equação segurança – defesa da liberdade, o mesmo pensador insistiu que esta não pode ser anulada em favor daquela. A necessidade de segurança não deve anular a liberdade mas potenciá-la; a segurança e a defesa da liberdade não são alheias uma à outra: devem-se uma à outra (Cf. argumentosptapias.blogspot.pt). Claro que a situação é complexa e requer políticas que contemplem simultaneamente medidas de segurança e medidas de salvaguarda das liberdades. Não podemos ver essas duas questões como antagónicas, que nos colocam um dilema excludente. Devemos, sim, manter a segurança, aprofundando as liberdades. Uma coisa é terrivelmente certa: deixarmos de lutar pelos valores fundamentais, paralisados pelo medo, seria o maior triunfo do EI e representaria o colapso da justiça, da liberdade, da solidariedade e da dignidade humana.
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O desgosto de Portugal Portugal tão glorioso, tão maravilhoso. Monumentos esplêndidos construídos. Livros outrora publicados. Luxo, dinheiro, fama. Portugal tão triste, tão depressivo. Monumentos esplêndidos destruídos. Livros outrora esquecidos. Pobreza, falta de dinheiro, fama. Portugal tão vitorioso, tão amado. Guerras ganhas. Terras conquistadas. Povo orgulhoso. Portugal tão fraco, tão odiado. Guerras desperdiçadas. Terras perdidas. Povo envergonhado. Oh, Portugal! Porque permitiste que Feitos tão grandes se fizessem Para que, depois, Feitos tão grandes se desvanecessem?
Ana Machado. Aluna do 12º B
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O ser humano: história em construção Rita Correia . Aluna do 12ºD
A história pessoal Cada pessoa acumula um conjunto de experiências vividas com os outros: pais, irmãos, amigos, etc. Estas experiências marcam cada um de nós, tornando-nos únicos e distintos de todos os outros. Cada ser humano tem uma história pessoal, uma história de vida que o individualiza. Reconhecemo-nos como humanos, fazemos parte de uma cultura, de uma sociedade e temos uma história de vida que marca a nossa identidade pessoal. O mundo em que cada um se insere não é apenas seu: os seres humanos tornam-se humanos no seio das relações sociais. Em cada momento estamos face ao mundo no qual participamos e onde encontramos formas de conhecer os outros e de nos conhecermos a nós próprios.
Automat, Edward Hopper
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pesar da influência mútua e fundamental dos aspetos biológicos e dos aspetos socioculturais, o que nos tornamos, a cada momento, nunca é completamente determinado: nem pelo que somos em termos biológicos, nem pelo que nos rodeia em termos socioculturais. Para que se possa ter em conta a autonomia e a autodeterminação dos seres humanos, tem de se rejeitar a possibilidade de qualquer determinismo radical, seja este biológico ou sociocultural.
A importância dos significados A nossa identidade é o produto de uma articulação entre fatores internos e externos entre aquilo que nos acontece objetivamente e o significado subjetivo que se atribui a essas experiências. Com este processo de auto organização desenha-se a nossa história pessoal. A história pessoal é uma narrativa organizada pelo individuo e irá desempenhar um papel importante na forma como as experiências futuras serão vividas pelo mesmo. Cada um de nós vive e organiza de um modo singular esses diferentes episódios, em função dos significados que subjetivamente lhes atribui. Este processo leva-nos a caracterizar o mesmo com uma certa autonomia. Nesta auto-organização intervém o passado, o
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Leandro Nunes
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presente e o futuro. Assim, mais do que uma simples adaptação ao nosso meio natural e social, desempenhamos um papel ativo nesse processo, contribuindo com a nossa ação para modificar o mundo em que vivemos adaptando-os às nossas necessidades. Significa então que a nossa história pessoal tende a invadir o nosso quotidiano e a refletir-se no espaço cultural e físico onde nos movemos. Este processo proporciona-nos um determinado conjunto de experiências que depois de serem vividas subjetivamente passam a fazer parte da nossa história pessoal e que contribuem para a formação da nossa identidade.
Em suma, o facto de estarmos inseridos num meio social faz com que este tenha um papel importante na construção psicológica, social e moral do nosso EU. Os seres humanos adaptam-se ao seu ambiente natural e social transformando-o, e vão simultaneamente construir a individualidade numa auto-organização permanente através da qual se inscreve na sua história pessoal a forma como vivenciaram subjetivamente as suas experiências mais marcantes.
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A minha experiência no Comenius e Erasmus + Célia Carvalho . Aluna do 12ºD “Só tenho a agradecer aos professores integrantes destes dois enriquecedores projetos, pois foi graças a eles que a minha mentalidade mudou, as minhas ideias evoluíram, o meu espirito critico ficou muito mais desenvolvido e o meu coração mais cheio.”
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rimeiramente gostava de referir que participei em dois projetos semelhantes: ‘Comenius’ e ‘Erasmus +’. O tema do primeiro relacionou-se com as tradições (a nível gastronómico, musical, cultural etc) dos países que fizeram parte – Portugal, Polónia, Hungria, Itália, Grécia e Turquia -, decorreu deste 2012 a 2014. O segundo incide sobre sustentabilidade presente em casa país participante – Portugal, Itália, Hungria, Polónia, Turquia, Grécia e Alemanha -, com o prazo até 2017. Ambos oferecem um leque de oportunidades aos alunos integrantes, tais como o desenvolvimento da língua inglesa, mobilidades aos países, comunicação com os alunos estrangeiros, melhor aceitação das diferenças e da pluriculturalidade, Quanto ao ‘Comenius’, fui uma das primeiras alunas a agarrar o projeto de braços abertos. Inscrevi-me, participei em todas as iniciativas, trabalhei e consegui agregar-me ao primeiro grupo que se deslocou na primeira mobilidade com destino à Polónia. Dia 23 de fevereiro de 2013 despedira-me da minha família para dar inicio a uma viagem inesquecível. Foi o dia mais entusiasmante da minha vida: para além de ser a
primeira vez que passava uma semana longe dos meus pais, foi a primeira vez que andei de avião. Eu, três colegas e três professores embarcamos naquela que foi a melhor aventura. Falando do país, fiquei com uma boa impressão da Polónia. Ao nível gastronómico existem muitas diferenças para melhor, apurei o meu paladar e gostei. Ao nível cultural, esta nação tem uma história muito rica e foi-me possível conhecê-la melhor. Com 15 anos iniciei uma nova etapa da minha vida. Uma etapa que nunca pensei alcançar. Passado uma semana fiquei com uma maneira de pensar totalmente diferente. Lidámos com realidades distantes da de Portugal, lidámos com novas religiões, com novas politicas, com novas ideias, com novas culturas, com novas pessoas. Modernizei o
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meu pensamento. Relativamente ao ‘Erasmus +’, já sabia o que me esperava. Todavia, não foi por isso que não me empenhei de igual forma. Pelo contrário, estava num campo que dominava e trabalhei até que consegui participar noutra mobilidade. Desta vez o país mudara. Era Grécia o meu rumo. Dia 18 de Novembro de 2015 eu, três colegas e duas professoras iniciávamos uma nova jornada. Na Grécia chocou-me a cidade de Atenas: uma cidade escura, grafitada, poluída. Mas não foi nessa urbe que passamos a semana, foi na aldeia de Pteleos. E dela só tenho maravilhas para contar. A família que me acolheu era unida e fizeram de mim filha. Não sabiam falar inglês, por isso falamos com gestos e conseguimos integrar temas de conversa diversos tais como economia, politica, religião, etc. Já com 18 anos, fui com um olhar diferente sobre a sociedade e foi assim que consegui verificar pormenorizadamente as diversidades. Criei amizade com uma rapariga turca, com quem falei de religião. Tivemos, portanto, discussões saudáveis sobre este aspeto. Mudei totalmente a minha opinião. Não que eu fosse con-
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tra tal, mas percebi que tinha ideias muito erradas e que me levavam diretamente ao erro que muita gente cai: critica-la. Agora respeito-a no seu cerne. Para além da religião, consegui entender a economia do país e até mesmo lidar com ela, uma vez que a ‘minha’ família me informou e me deu as opiniões pessoais de cada membro. Quanto à gastronomia, o meu paladar adotou por completo aquele queijo, aqueles legumes, aquele vinho com mel e limão! Só tenho a agradecer aos professores integrantes destes dois enriquecedores projetos, pois foi graças a eles que a minha mentalidade mudou, as minhas ideias evoluíram, o meu espirito critico ficou muito mais desenvolvido e o meu coração mais cheio. Foi graças aos professores que comecei a tomar iniciativas, a querer fazer mais pela sociedade, a aprender a respeitar as diferentes pessoas que nos rodeiam, a aceitar a sociedade como uma só. Apoio este tipo de projetos e apelo aos meus colegas que se desafiem a eles próprios, que metam mãos ao trabalho e iniciem uma nova jornada: a jornada da descoberta.
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Encontro de Dois Universos Ana Filipa Alves . Aluna do 10º AS “Nós, os surdos, precisamos de continuar a lutar para que a nossa cultura, identidade e língua sejam respeitadas.”
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u frequento uma escola modelo para a educação de alunos surdos. Nesta escola, tenho acesso a intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (LGP) que facilitam a comunicação com os ouvintes. Tenho também apoios personalizados que me permitem reforçar as aprendizagens. Uma parte dos professores já está sensibilizada para a surdez, resultado do contacto diário com alunos surdos e de algumas ações de formação. É muito positiva a existência de professores de LGP, pois possibilitam-nos o desenvolvimento e aperfeiçoamento de LGP, a nossa primeira língua. É pena que esta disciplina ainda não seja uma oferta curricular para alunos ouvintes, o que facilitaria a interação entre surdos e ouvintes. E se, no futuro, as pessoas surdas fossem em maior número do que as ouvintes? Talvez então compreendessem melhor as dificuldades da comunidade surda. Os ouvintes já estão sensibilizados para as outras deficiências, o que não se passa em relação à surdez. Nós, os surdos, precisamos de continuar a lutar para que a nossa cultura, identidade e língua sejam respeitadas. Espero que as pessoas ouvintes, ao lerem este artigo, compreendam o que eu penso. Peço que não critiquem os surdos porque, no passado, fomos
muito mal compreendidos, gozados, rotulados de “burros”, o que muito nos magoou. É bom que se ponha fim a este sofrimento.
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Talvez Talvez não tenhas dormido nua para me ofereceres o teu corpo como uma rosa se oferece à primavera, Talvez não tenhas encontrado em teus pensamentos as jónicas formas dos meus ombros para te segurares à vida como a lua se segura à noite, Talvez não tenhas procurado no meu peito o colo do teu rosto com a mesma ânsia com que uma barca se faz o mar, Talvez não tenhas sentido nas linhas das minhas mãos o poder do sincrético carinho com o mesmo destino com que uma abelha beija a flor, Talvez não tenhas visto no meu sorriso a viva linguagem do amor com a mesma força com que o vento abraça o mar, Talvez nem sequer te tenhas lembrado de mim... E eu... Talvez nada tenha dormido com receio de não sonhar contigo!... Fernando Fidalgo
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A igualdade de género Mariana Guedes . Aluna do 12º B “A minha identidade não se define pela capacidade de aderir ao pressuposto correto nem deveria ser influenciada pelos estereótipos impostos pela sociedade ou pelo facto de não me enquadrar nos padrões pré-estabelecidos.”
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ualquer pessoa que tome a decisão de abrir os olhos e refletir um pouco acerca das realidades do nosso mundo pode notar que a nossa sociedade tem como base um sistema de desigualdades. Isto pode basear-se na raça, na religião, no estatuto profissional, na sexualidade e em quaisquer outras dimensões do ser humano. Apesar de me sentir incapaz de transmitir a relevância deste tão frágil e importante tema, decidi aproveitar esta oportunidade e usufruir da liberdade de escolha de assunto para expressar e defender muito sucintamente o meu ponto de vista sobre a maneira como as mulheres são tratadas na atualidade e na grande controvérsia em relação à igualdade de géneros. Desde o nascimento até à morte somos alvo de julgamento de quem nos rodeia e é-nos sempre impingida uma certa pressão para agirmos e pensarmos de acordo com o convencional. Algo que fuja ao comum, ao normal e ao que a nossa comunidade está habituada é visto como objeto de rebeldia e dificilmente bem aceite. Uma mulher que não saiba cozinhar, uma mulher que diga asneiras, uma mulher que fume e beba recorrentemente, uma mulher que não ligue muito
às aparências, por exemplo, provavelmente já foi questionada e possivelmente corrigida por causa do modo como age – “Uma menina não pode fazer isso” ; “Se queres ser uma mulher, não podes dizer essas coisas”; “Tens de mudar ou nunca irás arranjar namorado”. Eu própria já ouvi muitas destas expressões, que, porém, são fruto de intelectualidades conservadoras e tradicionais que eu considero incrivelmente irritantes. A minha identidade não se define pela capacidade de aderir ao pressuposto correto nem deveria ser influenciada pelos estereótipos impostos pela sociedade ou pelo facto de não me enquadrar nos padrões pré-estabelecidos. Não deveríamos ser vitimas do criticismo nem obrigados socialmente a cumprir com as imposições do pensamento alheio para evitar sermos julgados. Uma mulher com uma vida sexual ativa, uma mulher que goste de sexo nos dias de hoje e o diga com convicção é vista como alguém que não tem respeito próprio e chega até a ser posto em causa o seu valor, algo que não se verifica com tanta frequência no sexo masculino. Cada vez acredito mais que uma mulher confiante e à vontade consigo mesma intimida os homens. A liberdade feminina ofende e desestabiliza a mente frágil e preconceituosa e por isso é que há pessoas que se esforçam tanto para que isso não aconteça. A posição que eu tomo acerca deste assunto não é unicamente minha, visto que 2016 tem sido
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mundialmente um ano revolucionário e muito produtivo na defesa dos direitos das mulheres e na igualdade entre sexos, havendo movimentos feministas por todo o globo. Devo ainda acrescentar o meu desagrado pela necessidade de criar um conceito para esta mesma contestação, sendo que o termo “feminismo” não deveria ser necessário pois, a meu ver, é algo tão simples quanto o “senso comum”. Crescemos a ser ensinadas a passar despercebidas, a não dar nas vistas, a vestirmo-nos de forma modesta e que desperte pouca atenção, somos ensinadas a temer e a restringir os nossos gostos e vontades para não sermos alvo de olhares, comentários ou até mesmo assédio físico, quando seria muito mais sensato e racional ensinar o sexo masculino a respeitar, cuidar e tratar toda a gente da mesma maneira. Como se estivéssemos submissas ao desejo dos outros, como se tivéssemos de mudar para agradar a alguém para além de nós mesmas. É preciso ter bem presente que o corpo de uma mulher, o corpo de qualquer um, pertence somente a ele mesmo, logo torna-se completamente responsável pelo seu destino, pelo que deveria ser isento de observações ofensivas e repugnantes. Somos todos pessoas, todos iguais, ou pelo menos essa é a essência que o feminismo ainda está a
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tentar alcançar. Há mulheres diretoras muito importantes, embora não muitas. Há mulheres que têm papéis importantes na política, embora não muitas. Mas estes pequenos avanços só são reais no papel, porque a intimidação e a submissão estarão sempre presentes. O trabalho só estará terminado quando a igualdade permanecer no ar que respiramos, nas ruas em que andamos e nas casas em que vivemos. A diversidade de pensamentos e opiniões é o que torna a convivência com diferentes pessoas interessante, no entanto, quando os valores incutidos geração após geração culminam no desrespeito de qualquer outro ser vivo, eu reprovo esse mesmo modo de pensar. Encontramo-nos em pleno século XXI e considero deprimente e frustrante o facto de assuntos como estes ainda serem polémica e alvo de discussão. É tempo de esquecer tudo aquilo que nos foi forçado pelos nossos pais, escolas, comunidades, religião e governo. É tempo de evoluir e deixar os preconceitos e as mentalidades retrógradas no passado. Somos todos humanos. Todos iguais. “Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas.”
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«Os olhos são o espelho da alma» Ariana Lopes . Aluna do 8º B “A comunicação (…)pode ser feita só através do olhar”
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udo começa com o olhar... Os olhos mostram-nos como é a alma de alguém. Quando nos sentimos atraídos por uma pessoa, para onde olhamos em primeiro lugar? Para os olhos. Tudo começa assim, olhos nos olhos. Se observarmos o brilho do olhar de alguém, conseguimos ver-lhe a alma e o que ela realmente sente: felicidade, amor… E, se essa pessoa não se sentir muito bem nesse dia, somos capazes de perceber que o seu olhar mudou, ficou diferente. A comunicação entre os humanos pode ser feita só através do olhar. Pessoas que se amam, ao olharem uma para a outra, mostram que realmente se amam, mesmo sem usar palavras. A expressão “um olhar vale mais do que mil palavras” diz tudo sobre o olhar. Através dele, conseguimos perceber o que os outros nos querem dizer, apenas pela forma como olham para nós. Concluindo, os nossos olhos são a porta de entrada para a nossa alma. Um simples olhar pode mudar tudo o que sentimos, apenas em segundos.
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Passado Tudo o que eu passei é relembrado, Em minha mente encontram-se memórias do Passado. Momentos bons e momentos maus não os esqueço, Viver a vida sempre terá um preço. Quantas vezes me encontrei a chorar Só por saber que não irei reviver Aqueles tempos em que não tinha medo de sonhar Porque ainda não sabia o que era perder. Muita gente diz para esquecer o passado E viver o dia de hoje inacabado. Se não pensasse no que se passou tudo era diferente Mas sem passado não existiria o presente. É certo que o passado não podemos mudar O que está feito está e não há volta a dar Mas há memórias que nunca podemos esquecer Porque há memórias que nos darão força para viver. Daniela Guerra. Aluna do 10ºE
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Reflexões João Carlos Teixeira . Escola Secundária da Sé, Lamego
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i, há tempos, no livro “As histórias que me ensinaram a viver” de Jorge Bucay, a história de um elefante que, desde o seu nascimento, viveu num circo, acorrentado a uma estaca presa no chão. Se de início se esforçava para se libertar, em pouco tempo se resignou à sorte de ficar preso, resultado das tentativas frustradas. Após ler esta história, questionei-me sobre a forma como o elefante, podendo ser livre, assumiu que seria incapaz de se libertar das correntes que o prendem e aceitou viver para o resto da sua vida preso ao frágil poste, quando comparado com a sua força. A verdade é que é impossível ouvir uma história como esta – aparentemente sobre elefantes – e não nos questionarmos: então e nós? Não estaremos também presos às nossas convenções diárias, às nossas rotinas limitadas, por acharmos que não temos capacidade para uma vida melhor que a nossa? Não estaremos velhos demais, demasiado conformados com o mundo que nos rodeia e, por isso, não questionamos aquilo que deve ser questionado, tal como a criança que foi ao circo teve a capacidade de fazer? E nós, homens, seres racionais, inteligentes, pensadores… Somos assim tão incomparáveis com o elefante, ou será que temos bem mais em comum com ele do que aquilo que somos capazes de reparar? A verdade é que também nós não temos a plena noção que somos os guias da nossa vida, e que a nossa vontade tem mais força do
que aquilo que jamais imaginámos ser capazes de fazer. Quando somos crianças curiosas para com o mundo onde vivemos, e dizemos constantemente “porquê?”, “porquê?”, “porquê?”, e fundamentalmente sonhamos e nos imaginamos em futuros que ninguém acredita que possamos vir a ter, estamos ao fim ao cabo a tentar libertar-nos das correntes que nos prendem ao poste daquilo que pensamos ser o “destino pré-definido”. E depois? Crescemos, tornamo-nos fortes o suficiente para nos desamarrarmos, e já não o desejamos fazer. Não será irónico? Todos os grandes sonhos que nos guiavam em criança e que nos davam a capacidade para seguirmos o nosso próprio caminho (e não me refiro ao caminho que achamos que devemos seguir, mas sim ao caminho que realmente queremos seguir) desaparecem. E é realmente triste passar uma vida a receber aplausos e ovações por aquilo de bom que fazemos, como o elefante nas suas atuações de circo, aplausos esses que nos dão a ideia que estamos no lugar certo, e que aparentemente nos fazem esquecer dos outros possíveis caminhos que poderíamos seguir, porque estamos “muito bem assim”. Os sonhos são adiados, o caminho que poderíamos seguir com toda a nossa garra e paixão é adiado, e adiado, até que é tarde demais para voltar a colocá-lo na nossa lista de objectivos. E ficamos, por isso, conformados, felizes mas tristes, acompanhados mas sós. A nossa incapacidade de fugir à rotina prende-nos ao lo-
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cal do costume. A incapacidade de negar aquilo que os outros guardam para nós, a incapacidade de correr em direcção aos abismos sem medo de cair, a incapacidade de pegar numa linda rosa sem medo de nos picarmos nos espinhos, a incapacidade de auto-afirmação. Todos estes pequenos gestos limitam as nossas escolhas, bloqueiam as possibilidades que poderiam derivar da nossa vida. A sociedade, estripadora de sonhos, cria-nos à sua imagem e semelhança, e portanto crescemos incapazes de a questionar, achando nós que todos os que não têm medo de fugir às suas rotinas são loucos. E agora eu digo: serão eles os loucos, que apesar de por vezes não o conseguirem, procuram a felicidade a todo o custo? Ou seremos nós os loucos, que optamos pelo caminho mais fácil, onde não é necessário ter o trabalho de imaginar uma vida “livre” nem o trabalho para nos “desamarrarmos das correntes” que nos prendem? Quem é mais louco, pergunto eu: o “louco” que sabe que esta é a única vida que tem e por isso não tem medo de pisar o risco, ou o “normal” que tem medo de escrever fora da linha, que vive preso à opressão, que vive calado com medo de errar? Após toda esta reflexão, resta-me dizer: se queres
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viver, vive! Mas não adies a vida para amanhã, porque esse dia pode não chegar. Se queres seguir o teu caminho, segue-o, mas não o abandones por ser o caminho mais difícil de percorrer. Não tenhas medo de negar aquilo que os outros esperam de ti, de usar os teus próprios passos para alcançares as metas que desejares. Só assim poderás viver sem arrependimentos, sabendo que és feliz e que não vives frustrado por nunca teres tentado. Tenta! Vive! Não negues a felicidade! “Não sei para onde vou Sei que não vou por aí” José Régio
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Cartas... Francisca Costa . Aluna do 12º E “o que antes eram cartas hoje são SMS, não têm o mesmo valor ou sentido…“
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ltimamente tenho estado a pensar em cartas, aquelas cartas escritas à mão, longas, onde os mais puros sentimentos eram expostos, e por vezes um pouco cómicas, e como é triste ninguém mais as escrever. Retrocedo ao passado, onde a tecnologia era praticamente desconhecida, onde as cartas tinham mais sentido, cartas essas cujo tema central era o amor. Eram escritas com prazer e não por obrigação, tornavam o amor mais sentido e vívido, entregavam-se por completo fazendo valer a pena lê-las e guardá-las. O carinho com que eram feitas e mesmo a sua simplicidade e originalidade tornavam-nas especiais, apesar de parecerem tão desesperados para se perderem loucamente no amor, tudo isso as tornava muito mais significativas pondo sempre o amor acima de tudo independentemente das consequências e talvez ‘’só quem nunca amou é ridículo e provavelmente o amor seja a melhor forma de ser ridículo ‘’. Regressando agora ao presente, pergunto-me se ainda haverá alguém que seja tão devoto a este tipo de cartas, e chego à conclusão de que estas se encontram apagadas, o que é triste. Hoje o amor é meramente uma palavra, não necessariamente sentida por todos; o que antes eram cartas hoje são SMS, não têm o mesmo valor ou sentido,
essas sim ridicularizam a verdadeira essência do amor e não são tão espontâneas quanto deveriam ser. Provavelmente o dia em que a as cartas ganham temporariamente vida é no conceituado Dia dos Namorados e mesmo essas não significam o mesmo, pois deveriam ser escritas sempre e não só por causa de uma simples ocasião pois o amor não se comemora somente num dia mas todos os 365 dias. O facto de ninguém as escrever não significa que não deveriam ser escritas; o facto de ninguém as ler não significa que não deveriam ser lidas e com isto ir-se-ão tornando numa lenda, a lenda chegará a mito. Com o passar dos anos talvez alguém recorde a lenda e o mito e as procure tornar realidade.
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Desculpa Arrependo-me de um dia ter discutido, do que te falei… Senti raiva Ódio…. sentimentos que logo passaram. Mas… O que mais queria… A tua amizade Será difícil de recuperar. Magoei-te profundamente… Sei que fui eu que errei.. Ao não confiar… Não te ouvir…. E agora? Já me arrependi! Mas não há formas fáceis de explicar De pedir que esqueças. Apenas…desculpa.
Gabriela Pinto. Aluna do 8ºC
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As Mensageiras da Paz Sei que o mundo está em guerra Sei que há falta de compreensão Mas são elas que nos vão ajudar A fazer nascer a união.
São as crianças que vão mudar O bater dos nossos corações Vão alterar o rumo da história Criar laços e paixões.
Elas, com a voz mais crente Elas, com a voz mais indefesa Sim, são as crianças Que vão fazer a diferença.
Criança sou eu, és tu Somos cada um de nós Vamo-nos unir a elas Fazer ouvir a sua voz.
Mas é preciso ouvi-las É preciso dar-lhes atenção Deixá-las falar até ao fim Escutar o seu coração.
Assim, viveremos bem Assim, viveremos em unidade Todos de mãos dadas Encontraremos a felicidade!
São tão únicas Tão especiais Sempre com o brilho nos olhos Com aquelas ideias geniais. Sim, digo geniais Pois só as crianças as podem ter Coma imaginação infinita delas Que nos fazem renascer. Maria Rita Ferreira . Aluna do 8ºC
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O farol Inês Coutinho . Aluna do 8ºC
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utro dia que começa. Outro dia igual a tantos outros, outra vez a mesma rotina. O faroleiro observou a sua figura no espelho: barbas compridas e grisalhas, amareladas pelo sal e pelo sol. Pele robusta e avermelhada, graças a queimaduras que nunca chegaram a sarar. Olhos de um azul esverdeado, como um mar num dia de sol, desbotados pelo tempo. Saiu de casa. Ao longe, já se ouvia o ronco dos barcos de pesca, e já se avistava a ponta dos mastros. As peixeiras já haviam montado as suas bancas, prontas a encher de peixe fresco, acabado de apanhar. As gentes começaram a apinhar-se: as mulheres dos pescadores ansiavam o seu regresso; as criadas das grandes casas esperavam aquilo que viria a tornar-se o almoço dos patrões; os pobres tinham esperança de que sobrasse algo que as peixeiras não conseguissem vender; os rapazes novos aguardavam o momento de ajudar os velhos lobos do mar a arrastar as redes carregadas; as crianças corriam pela areia e colecionavam conchas, búzios e pedrinhas. Mas o velho faroleiro limitava-se a caminhar, a areia a infiltrar-se-lhe nas botas, as ondas a acariciar-lhe as pernas. Longe de tudo e de todos. Já se passara algum tempo desde que também ele atravessara os mares, pela madrugada, ou até mesmo quando ajudava a puxar e desenrolar as redes cheias de peixe. Observou tudo com atenção, como fazia todos os dias. O arrastar das redes, a agilidade das peixeiras, que desferiam cortes profundos e precisos pelo corpo, ainda latejante, dos peixes prateados e brilhantes,
a venda dos mesmos, e a distribuição dos restos pelos pobres. Quando tudo acabou, voltou para casa. À porta, um balde de caranguejos. De certeza ideia da jovem Madelin, pensou. Desde criança que se preocupava consigo, apesar de o demonstrar discretamente, como este gesto, quase invisível. Pegou no balde e entrou em casa, lavando e cozinhando os caranguejos, que por não serem permitidos para colocar à venda, eram quase sempre oferecidos ou deitados fora. Comeu silenciosamente. Afinal, com quem podia ele falar? Decidiu deitar-se um pouco. Apenas meia hora, pensou. Mas o conforto, o som das ondas a espremer-se contra os rochedos, negros, polidos e desgastados, ou a atirar-se e a penetrar na areia branca e macia, numa dança incansável e infinita que maravilha qualquer um, transformaram minutos em horas, e, quando o velho faroleiro acordou, já a noite caíra havia muito. Mesmo assim, levantou-se. Saiu do farol, e trancou-o, deixando a chave debaixo do tapete. Caminhou pela praia, pelos rochedos, pela areia. Deitou-se na areia fria e húmida, e observou o céu da noite. A lua, gorda e redonda, brilhava incansavelmente, e as estrelas pareciam sorrir. Fechou os olhos, e, sem aviso prévio, caiu num som profundo e eterno, sonhando com gaivotas, ondas e caranguejos.
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Eu não sei o que escrever nos meus textos livres Alice Costa . Aluna do 8ºA “A minha vida tem andado mais ou menos, isto é, nem bem nem mal. “
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omo o título indica, eu nunca sei o que escrever nos meus textos livres. Penso que a razão para esse problema é que tenho demasiada liberdade, visto que se trata de textos livres. Eu perguntei à professora se poderia fazer dos meus textos livres uma espécie de “diário” e falar sobre o que se vai passando na minha vida. Acho que a professora ou não ouviu ou não quis responder (espero que tenha sido a primeira opção). A professora bem se pode ir habituando a receber textos livres meus com este tipo de título… A minha vida tem andado mais ou menos, isto é, nem bem nem mal. Fiz o teste de Matemática e correu-me horrivelmente mal (no final, até comecei a chorar, só para mostrar o quão mal me correu), mas, para contrabalançar, ainda tenho o de Português e o de Físico-Química, nos quais espero tirar melhores notas. Há dias, tentei fazer waffles e falhei miseravelmente: estavam muito salgadas e enjoativas! Aposto que a culpa foi do bicarbonato de sódio, sempre me fez impressão usá-lo na culinária. O que é bom é que os meus crepes ficam infalivelmente deliciosos, nem precisam de chocolate (mas assim ainda ficam melhor). Ontem pedi a um amigo meu que me sugerisse
um tema para um texto livre e ele perguntou-me se eu queria que ele me escrevesse um. Sinceramente, fiquei bastante ofendida: primeiro, porque sei que ele precisa de estudar, segundo, porque gosto de ser eu a ter o mérito pelo meu trabalho. Será isto um monólogo? É que, neste texto, basicamente, sou eu a “falar” para mim mesma… mas não interessa a classificação do texto, apenas interessa que eu o entregue a tempo. Estou orgulhosa do meu Passaporte de Leitura! Achei muita engraçada a minha ideia de fazer o meu passaporte como um passaporte a sério, não
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sei como não tive esta lembrança no ano passado. Eu sei que já disse isto, mas sinto a necessidade (tenho a certeza de que é assim que se escreve esta palavra, porque a professora já nos explicou que em latim se pronuncia “nekésse”ou algo do género) de dizer novamente: eu nunca sei o que escrever nos meus textos livres (ênfase no “nunca”, por favor). Isto de não ter nada que escrever nestes textos é bastante irritante, por isso é que normalmente deixo esta tarefa para a última hora. Algures, li uma frase que dizia mais ou menos isto: “Se um problema tem uma solução, não há razão para te preocupares; se um problema não tem solução, também não há razão para te preocupares”. Gostei bastante desta frase, porque, bem, é a verdade mais verdadeira que já li e, além disso, é
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algo que se identifica comigo (visto que eu quase nunca me consigo preocupar com os problemas). Acho que vou fazer dessa frase o meu lema, e, provavelmente, também a vou ensinar aos meus filhos, quando os tiver. Uma coisa que gosto de fazer é pensar no futuro. Como será? Será que o mundo estará melhor do que no presente? Será que já não haverá guerra, fome ou pobreza? Eu quero ajudar a melhorar o mundo, por isso quero um carro elétrico e assim não estarei a usar as energias não renováveis do planeta, como o petróleo ou a gasolina. Penso que este texto já tem tamanho suficiente, por isso despeço-me. Beijos, abraços e muitos palhaços.
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Igualdade Inês Marques . Aluna do 12º B “Na maioria dos países, hoje, constitucionalmente, as mulheres usufruem de oportunidades semelhantes às dos homens."
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palavra "igualdade" tem origem no latim aequalitas, que quer dizer "aquilo que é igual", "semelhante". "Igualdade" é uma palavra que pode abordar temas como raça, crenças ou religião, orientação sexual e género. Uma simples definição é a garantia de que os indivíduos são tratados justa e igualmente, sem a existência de qualquer tipo de desvalorização. A luta pela igualdade começou há centenas de anos e continua a ser um tema muito controverso nos dias de hoje. A discussão mais antiga e mais relevante encontrada sobre a igualdade é a questão da diferença de sexo. Inicialmente, os homens foram vistos como uma identidade superior devido à sua magnitude física. Ao longo dos anos, as mulheres foram lutando contra este tratamento injusto, conseguindo conquistar enormes feitos e progressos na sociedade. Na maioria dos países, hoje, constitucionalmente, as mulheres usufruem de oportunidades semelhantes às dos homens. Mas poderemos já falar em igualdade? A maioria dos principais cargos de gestão ainda continua a ser, geralmente, ocupada por homens. É surpreendente como em países desenvolvidos, por exemplo os EUA, a mulher ganha monetaria-
mente, em média, 77% do que o homem ganha. À palavra "mulher" continuam a ser associados outros conceitos como a fragilidade ou a fraqueza. Mesmo das mulheres que trabalham é-lhes esperado que passem o tempo a cuidar das crianças e a concluir trabalhos domésticos. Há uma urgente necessidade de mudanças na perceção em relação às mulheres. Estas não podem ser privadas dos seus direitos e discriminadas pelo seu género, têm e devem ser tratadas não melhor nem pior que o homem. Devemos, portanto, pôr de parte o preconceito e defender a igualdade.
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O Amor O amor quando se revela Não se sabe revelar Sabe tão bem olhar para ela Mesmo sem saber como lhe falar. A emoção desse amor Não dá para ser contida A força desse amor Não dá para ser medida Amar como eu te amo Só uma vez na vida. Falar é difícil Por isso comunico através de ações Pois palavras sem significado Só destroem corações. Só destroem emoções Só destroem sentimentos Destroem as pessoas E apagam belos momentos. Por isso eu não falo Tenho medo de falar Pois apenas com uma palavra Tudo pode mudar. (O meu maior defeito É também minha maior virtude Muda a tua vida com o tempo Antes que ela com o tempo mude.) Carlos Santana. Aluno do 10º E
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A importância dos outros no quotidiano Clara Magalhães . Aluna do 12º B “Há uma constante dependência relativamente ao outro, desde o nascimento à morte.”
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a minha opinião, os outros exercem um papel preponderante no nosso dia-a-dia, na nossa vida. O ser humano é, natural e instintivamente, um ser gregário, isto é, um ser que vive em grupo, em sociedade. Nenhum sujeito se limita à solidão e ao isolamento, sendo que o sentido da vida humana resulta do intercâmbio e da interdependência entre várias pessoas. Por exemplo, as grandes obras humanas e espirituais são, em grande parte, de jaez coletivo, pois ninguém faz nada absolutamente sozinho. Assim, há uma constante dependência relativamente ao outro, desde o nascimento à morte. Podemos referir, a título exemplificativo, o facto de vivermos em sociedade, a necessidade dominante de construir família, e mesmo a própria vida só nos é transmitida a partir da junção de um gâmeta feminino e outro masculino, ou seja, da constante interação entre dois indivíduos. É de salientar também o estado de espírito de bem-estar, paz e calma resultante de se sentir parte integrante de um grupo. Nestas condições, é possível a partilha dos nossos sentimentos e emoções de felicidade, tristeza, fúria, paz, amor, entre outros. Esta partilha e comunicação permitem a abertura de novos horizontes, a aprendizagem de conteúdos novos e o contacto
com outras culturas, que contribuem para um desenvolvimento saudável, a nível social e individual. De facto, os especialistas do comportamento humano comprovaram que pessoas com uma boa rede social lidam melhor com os problemas e obstáculos do quotidiano e são mais sadios. Por exemplo, quando nos sentimos tristes e angustiados perante alguma dificuldade da vida, a comunicação e a partilha dos mesmos com os amigos e/ou com a família ajudam a libertar “energias negativas” e a sentirmo-nos melhor. Em suma, os seres humanos estão em contínua e constante interdependência e interação, pelo que os outros têm um papel fulcral na nossa vida.
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“Amigos” ?! Carlota Pinto . Aluna do 12º A
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que é ser Amigo? Quem são os teus amigos? Será que todos os que te rodeiam são mesmo teus amigos? Muito provavelmente, após refletires bem nestas perguntas, vais chegar à conclusão que não tens resposta para elas. A palavra amigo(a) existe, mas a busca da sua essência é interminável, pois, afinal, aquilo que todas as pessoas gostariam de ver concretizado, é o significado que o dicionário, atribui à palavra “amigo”: aquele que ajuda, que inspira simpatia, amizade ou confiança, um aliado para os bons e maus momentos. Porque é que eles não são perpétuos? Porque é que a grande maioria deles são efémeros e se perdem no tempo? Talvez o ser humano se prenda, mesmo involuntariamente, demasiado na expetativa de que o outro tem de ser um modelo perfeito, pronto a ser manipulado, inclinando-se, sempre, de forma afirmativa, aos nossos caprichos… esquecemo-nos, porém, que eles também são concebidos da mesma forma que nós, têm vontade própria e, principalmente, não dependem de nós para, também eles, serem os manipuladores e os caprichosos. Afinal esta relação de dualidade tem de ser saudável e equilibrada porque a nossa liberdade acaba quando começa a do outro. Neste caso devemos respeitar o espaço do amigo para que este se sinta no dever de o retribuir do mesmo modo.
Na verdade, vives rodeado de todo o tipo de pessoas e é inevitável! Tens de lidar com todas elas, pois é assim que funciona a sociedade e, numa ou outra situação, as pessoas simplesmente se suportam. O tempo vai passar, vais crescer, as tuas prioridades vão mudar, vais ganhar maturidade para seres capaz de distinguir quem verdadeiramente te quer bem. No entanto, no início, irás precisar de ajuda de outros mais experientes e de confiança que, com certeza, te irão indicar o melhor caminho e auxiliar no teu percurso. Acredito cada vez mais que já não existe aquela “velha amizade”, aquela que contempla o companheirismo, o altruísmo e a compaixão mas, como a vida ainda não deixou de me dar lições, fico à espera que me ensine a compreender melhor os outros e, desta forma, tentar melhorar a comunicação e o entendimento com os meus AMIGOS e com os meus outros “Amigos”. A ti, lanço-te um desafio que passa por refletires sobre as questões que te fui colocando. Espero, que consideres as minhas palavras e que penses na questão da amizade e o que ela significa realmente. Eu também o faço todos os dias na expetativa de querer ser melhor, sem perder a minha identidade e dignidade com o objetivo de fortalecer o meu carácter. Fortalece também o teu para que possas ser aquele AMIGO.
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Pra onde vamos? Ana Aires . Aluna do 12ª B “Vamos atrás de coisas que proporcionam momentos de bem-estar, uma plenitude temporária que nos distrai dos problemas.”
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nossa vida é um caminho. Um longo caminho a percorrer, sem paragens nem possibilidades de voltar atrás. Cada instante é apenas vivido de uma só forma, num só tempo e espaço. Não se sabe quando surgirá um obstáculo, qual será e o porquê. Talvez seja por isso que, muitas vezes, caminhamos à toa, sem norte, sem um objetivo. Mesmo assim, ninguém para. Então para onde vamos? Seguimos os passos do outro porque não sabemos o que fazer. Porque perdemos a capacidade de sonhar, de ir mais além. Vamos atrás de coisas que proporcionam momentos de bem-estar, uma plenitude temporária que nos distrai dos problemas. E quando acabar a distração? Voltamos ao nosso estado inicial de desorientação. É preciso definir metas. Metas que valham o nosso tempo, metas que nos concretizem, enquanto seres racionais e não apenas que nos satisfaçam as necessidades de sobrevivência, de conforto. Necessitamos de mais. O Homem necessita de mais. “Nem só de pão vive o Homem”. É necessário deixar a apatia de lado! Precisamos de uma estrela guia, que nos leve ao encontro da verdadeira felicidade, que dê sentido ao sentido da vida, que faça de nós seres realiza-
dos, seja por que caminho for, para que, quando chegarmos ao fim desta jornada, possamos dizer que não vivemos em vão.
ensar(es) Coordenação Professores de Filosofia Redação A. Marcos Tavares Manuel Ferreira José Artur Matos Colaboradores/Alunos Alice Costa, Ana Aires, Ana Araújo, Ana Alves, Ana Machado, Ariana Lopes, Carlos Carvalhosa, Carlos Santana, Carlota Pinto, Célia Carvalho, Clara Magalhães, Daniela Guerra, Francisca Costa, Gabriela Pinto, Gustavo Lopes, Inês Carvalho, Inês Coutinho, Inês Marques, Isabel Gonçalves, Jéssica Cardoso, Joana Santos, João Pedro Pereira, João Teixeira, Leonor Babo, Liliana Sofia, Luana Fernandes, Maria Rita Ferreira, Mariana Guedes, Marta Queiroz, Rita Correia. Colaboradores/Professores Agostinha Araújo, A. Marcos Tavares, Conceição Dias, Elisa Guichard, Fernando Fidalgo, José Artur Matos, Manuel Ferreira, Pedro Miranda, Sónia Lopes Convidados Cândida Rosa, João Teixeira. Design paginação e imagem da capa José Artur Matos Impressão Imprensa do Douro Tiragem: 300 exemplares
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DOURO Património Mundial da Unesco “Douro verdejante de socalcos vinhedos, sustentam paixões de um Povo vigoroso que produz da sua terra sonhos e encantos.” António Barroso