Revista Pensar(es) 22 - Junho de 2017

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Revista Escolas | João de Araújo Correia

Nº 22 - Junho 2017



Índice Editorial A. Marcos Tavares Pensamentos de um... Carlos Carvalhosa Só Eu Ana Fernandes Dois corpos unidos Bárbara Queirós Liberdade política Inês A. e J. Montenegro Poeta da Lua Mariana Clérigo Um corte mais profundo Joana Machado Direitos dos animais B. Trindade, H. Marques, S. Augusto Coisas do destino Carlos Santana Igualdade e justiça João Morgado A hora prateada João Pedro Pereira Quero ser eu Cátia Coutinho Andar negro José Pedro Fonseca Clarim da Verdade Pedro Babo Talvez Ariana Lopes Devia olhar-te Fernando Fidalgo Especial Centro Escolar Alagoas Especial Centro Escolar Alameda Soltam-se as Palavras João Rebelo

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João Lobo Antunes Pedro Miranda Quarto Azul Luísa Mamede A dimensão religiosa do humano A. Marcos Tavares Eutanásia Patrícia Fernandes About Today José Artur Matos Quem sou eu? Conceição Dias A vida - conto de fadas? Daniela Silva Quero tempo Manuel Ferreira Amar Diana Ferreira Pensamentos noturnos Gabriela Pinto Pensamento Luísa Chambel Gonçalves Grande edifício Rafaela Gonçalves Estás a olhar por mim Joana Santos A influência da imprensa Sandra Peres Dezembro Halys Meu Douro, meu rio Ana Raimundo Altos e baixos Ana Xavier Biodiversidade no Douro Sónia Lopes Homem do cesto Isabel Babo


Editorial President-elect Donald Trump ( Photo Credit: Gage Skidmore via Flickr CC)

Em defesa da dignidade humana

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. Assiste-se nos nossos dias a situações e a movimentos muito preocupantes. Quando se pensava que nas democracias ocidentais a interculturalidade tinha aprofundado a tolerância, vemos triunfar o populismo e os nacionalismos exacerbados. Mais preocupante ainda é que toda esta movimentação acontece no seio de democracias de referência, como são a americana, a inglesa e a francesa – todas elas historicamente abertas e cimentadoras de diálogo e de valores como a liberdade e a tolerância. Os argumentos de Trump, dos defensores do Brexit e da extrema-direita francesa de Marine Le Pen assentam em três eixos fundamentais: a identidade nacional, a segurança e o emprego. E para todos eles a perda da identidade, a insegurança e o desemprego devem-se aos imigrantes. Com estas premissas, a conclusão é logicamente avassaladora: há que fechar as fronteiras, construir muros, fechar-se na própria concha, abandonar compromissos com outros povos. Estamos muito próximos dos monstros de séc XX: o nazismo e o fascismo. Também agora se criam bodes expiatórios, que são sempre os outros – os diferentes, aqueles que não encaixam nos esquemas dominantes. Se antes eram os judeus ou os ciganos ou simplesmente os «não arianos», agora são os refugiados que procuram a Europa para fugirem das atrocidades da guerra e da fome, ou até os mexicanos que vêm «conspurcar os angélicos trumpianos». Parece-me que os donos do mundo não estão a compreender suficientemente esta situação paradoxal e alarmante: quem verdadeiramente desvirtua a identidade e atenta contra a segurança são aqueles que as querem preservar à sua maneira, por meios irracionais, insensatos e contrários à liberdade e à dignidade do ser humano. 2. Pela primeira vez, nos seus dezanove anos, a Pensar(es) integra no seu seio textos, trabalhos e atividades dos mais pequenos. São bem-vindos os alunos dos Centros Escolares das Alagoas e da Alameda! A. Marcos Tavares


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Pensamentos de um estudante de filosofia Carlos Carvalhosa . Aluno

do 11º E

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uase que já me considero um filósofo. Digo isto, porque às vezes dedico o meu tempo a raciocinar sobre algum tema, ou a navegar na internet à busca de perguntas filosóficas para tentar deixar o meu professor de filosofia sem resposta, o que é tecnicamente impossível, pois ele é um homem cheio de cultura! Eu, baseando-me nas aulas de filosofia que tenho, tento adquirir conteúdo essencial para argumentar contra ele. Por mais que tente argumentar de acordo com certos filósofos, como Kant, Descartes, David Hume, entre outros, existe sempre um argumento que me contraria. Talvez filosofia seja isso mesmo, argumentar e contra-argumentar, procurar novos argumentos, ir em busca de novas fontes de conhecimento. É um caminhar constante na busca do saber. Filosofia não é só aquela coisa “chata” de argumentar, estar 90 minutos numa sala de aula a dar matéria. Na minha opinião, é mais que isso, é ver para lá da matéria. É pensar que todos nós viemos ao mundo com um objetivo, e nem sequer temos a certeza de quem foi o criador desse mundo. É por tudo em dúvida para chegar à razão, a princípios claros e distintos, que se apresentem indubitáveis. É saber que daqui a 10 ou 20 anos, a filosofia nos ajudou a tomar decisões, a traçar rumos e rotas, é saber persuadir e dissuadir, acima de tudo, é olhar pra nós mesmos e pensar:” A filosofia ajudou-me a tornar-me mais culto, a

O Pensador, August Rodin (1840-1917)

tornar-me melhor do que já era.” Para concluir esta minha reflexão, deixo aqui uma frase presente na obra “Os Maias” de Eça de Queirós: “Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com imaginação”.


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Só EU Ana Fernandes . Aluna

do 10º E

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or vezes sinto-me numa luta constante comigo mesma, com os meus pensamentos e opiniões. Sem perceber, entro em desafios interiores e só eu entendo... e sinceramente gosto disso...”só eu”. Só eu me conheço, só eu me entendo. Nasci sozinha e vou morrer sozinha. Não que seja antissocial, até gosto bastante de uma mesa cheia de bons amigos, mas, quando chegamos a casa, paramos um pouco, somos só nós. Os amigos, a família, os colegas são importantíssimos, sem dúvida, no entanto, o nosso interior, por muito sociais que sejamos, não o podemos partilhar com ninguém. O amor próprio vai muito além de não ter complexos com o corpo (por exemplo)...é gostarmos de nós, trabalhar todos os dias para nos conhecermos um pouco melhor. Eu gosto de mim e gosto de gostar de mim, e não tenho de me julgar egocêntrica ou egoísta por causa disso. Enfim, gosto disto de ser “só eu”.

Me, Myself and I, Julija Jan


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Dois corpos unidos Éramos dois corpos que se amavam Éramos tudo que os outros sonhavam Mas não era bem assim Eu virava as costas e ficavas melhor sem mim Dava-te tudo, e esse tudo parecia nada Tu consegues mas para mim ainda é difícil manter a calma Passam-se minutos, horas e dias Cada vez é mais complicado saber o que sentias Nas aulas de português a ler Camões Escrevo a pensar em ti e a falar com os meus botões Mas será que mereces asssim tanta importância? Tu não queres saber e eu continuo na ignorância Mas pensa, eu posso desaparecer Mas tudo que eu fiz por ti vais demorar a esquecer Bárbara Queirós. Aluna do 10ºA

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Liberdade política e obediência à lei Desobediência civil e objeção de consciência Inês Arcanjo e José Pedro Montenegro . Alunos do 10ºB

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liberdade política é a liberdade construída na sociedade politicamente organizada. Supõe a participação do cidadão na vida política, o seu direito a participar nos assuntos que dizem respeito à comunidade. Contudo, a liberdade política restringe o direito de lberdade de ação do indivíduo àquilo que é permitido por lei. Deste ponto de vista, a liberdade e a justiça deverão ser garantidas pelo Estado. Para Aristóteles, polis é o local de realização da liberdade dos indivíduos e a cidade será justa se os homens livres forem capazes de criar leis justas. John Locke, por seu lado, considera que o indivíduo só se torna verdadeiramente livre a partir do momento em que o Estado, por consentimento dos cidadãos, estabelece as regras e as leis que garantem a proteção dos seus direitos. Segundo as teorias contratualistas, celebrado o contrato social, e uma vez criadas as leis, temos obrigação de lhe obedecer. As leis, por princípio, devem ser justas e garantir os direitos dos indivíduos na sociedade. Mas, na realidade, constata-se que nem sempre assim acontece. Será, portanto, possível que o Estado, legitimado politicamente, possa não ser um Estado justo e que algumas leis possam ser injustas. Neste sentido, devemos perguntar se existem situações que possam justificar a desobediência à lei. Quando pensamos, por exemplo, em Estados em

que impera a injustiça social, capazes de atentar contra os direitos fundamentais do ser humano ou de discriminar os seus cidadãos por motivos de género, de cor ou de religião, não temos dificuldade em aceitar como óbvia a desobediência civil. Uma outra situação pode acontecer quando determinada lei violenta claramente a consciência de uma pessoa, seja por convicções filosóficas, éticas ou religiosas. Neste enquadramento de relação entre liberdade política e obediência à lei, traçar-se-á uma breve reflexão sobre a desobediência civil e a objeção de consciência. A desobediência civil consiste na violação pacífica e pública da lei, com o objetivo de chamar a atenção para leis ou políticas injustas. Embora não seja reconhecida legalmente, a desobediência civil poderá, moralmente, justificar-se. Ela revela-se como um recurso adequado quando já não há meios legais para combater a injustiça e promover a mudança. Apesar de ser ilegal, não ameaça a maioria nem tenta coagi-la. Não praticando a violência e aceitando as sanções legais pelos seus atos, os que recorrem à desobediência civil manifestam tanto a sinceridade do seu protesto como o respeito pela lei e pelos princípios fundamentais da democracia. Mahatma Gandhi, Martin Luther king e Aung San Suu Kyi são, a este tema, exemplos paradig-


ensar(es) máticos da desobediência civil como resposta à injustiça e à desigualdade social. Mahatma, lutou pela independência da Índia, manifestando -se pública e pacificamente contra a dominação colonial britânica. Martin Luther King opôs-se, através da desobediência civil, à segregação racial nos USA. Aung San Suu Kyi, fundadora da Liga Nacional para a Democracia na Birmânia, ao longo das últimas décadas tem defendido uma política de não-violência e recorreu à desobediência civil contra o regime militar de Myanmar. Todavia, a desobediência civil tem sido bastante contestada. Eis algumas das principais críticas: - a mudança deve ser realizada por meios legais; - a desobediência civil constitui um ataque à democracia; - a desobediência civil pode conduzir à anarquia. A desobediência civil é, no entanto, o modo mais natural de os grupos marginalizados poderem manifestar o seu descontentamento. Em seu favor podem apresentar-se os seguintes argumentos: - os meios legais muitas vezes não são operacionais e prolongam-se bastante no tempo; - não é admissível que o governo da maioria (democracia) tenha o poder legal de marginalizar a minoria; - a desobediência civil, tal como os exemplos da história indicam, pode contribuir mais para a estabilidade da sociedade do que para a sua anarquia. Uma outra objeção pode apontar-se aos críticos da desobediência civil que partam do pressuposto contratualista de que o Estado é o resultado de um acordo ou contrato que legitima o poder e que, portanto, seria incoerente desobedecer-lhe. Se o contrato é realizado por todos os indvíduos que cedem alguns direitos para retirar outros benefícios, a questão que se coloca agora é: que benefícios retiram desse Estado os grupos marginalizados? Se não retirarem os benefícios esperados, então o contrato perde a sua legitimidade e nesse sentido já não se tratará, em última instância, de desobediência civil. A objeção de consciência, por seu lado, é a recusa de cumprir uma prescrição legal, cujas conse-

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quências são consideradas contrárias às próprias convicções ideológicas, morais ou religiosas. A objeção consiste na recusa, por parte do indivíduo, por motivos de consciência, de se submeter a um comportamento que, em princípio, seria juridicamente exigível (quer a obrigação provenha diretamente de uma norma, quer derive de um contrato). O objetor pretende omitir um comportamento previsto pela lei e pede que tal omissão lhe seja permitida. A objeção de consciência, entendida em sentido rigoroso, não põe em questão a lei enquanto tal, embora implicitamente denuncie a sua imoralidade, nem constitui um programa articulado de resistência ou contestação (dissensão ou desobediência civil). Característica saliente da objeção de consciência é o assumir, em primeira pessoa, sem envolver outros sujeitos, as consequências que derivam da objeção. A objeção de consciência consiste em afirmar o primado da consciência em relação à autoridade e à lei, o direito do indivíduo a avaliar se o que lhe é pedido é compatível com os princípios morais em que sente dever inspirar o seu comportamento. Juridicamente, a objeção de consciência prevê: - a obrigação de adotar um determinado comportamento previsto por uma lei; - a existência de um valor fundamental não respeitado pela mesma lei e que se encontra, relativamente à lei, numa relação de causalidade (conexão causal); - a isenção, por parte da lei, da obrigação de adotar tal comportamento. Tal estatuto aplica-se às normas jurídicas específicas que o prevêm e que, em geral, se referem: - à obrigatoriedade do serviço militar; - à experimentação animal; - à interrupção voluntária da gravidez; - às práticas de reprodução assistida. Podemos concluir que a desobediência civil é uma forma de protesto político, feito pacificamente, geralmente por uma comunidade de cidadãos que pretendem denunciar leis injustas, enquanto que a objeção de consciência consiste na recusa por parte do individuo. por motivos de consciência, de se submeter a um comportamento, que em principio seria juridicamente exigível.


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Concur cial so Lite rário

POESIA

Secund

ário

Poeta da Lua Podem chamar-me louca A verdade é que o sou. Só viver é uma loucura Mas eu nem no mundo estou….

Talvez poeta pintor, Ou então um pintor em verso… Um lunático, louco Em magia submerso.

Sinto-me um pouco estranha, Sinto que mal sei amar, Preciso de um copo de sonhos, Preciso do meu luar!

Alguém que realidade E sonho consiga distinguir Mas, que na sua verdade, Os prefira confundir.

Suspiro a falta de alguém, Suspiro pelo amor, Preciso de respirar paixão, Preciso de um sonhador

A lua é o meu céu, Lá, loucura é normal Por isso procuro «o louco» Pois da lua é natural… Mariana Clérigo. Aluna do 10ºC


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Um corte mais profundo Joana Machado . Aluna do 9ºB

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s cortes são o refúgio de muitos. Muitos se cortam, pois acham que a lâmina ou a faca são um alívio para os seus problemas. Acham que a dor e o sangue será a melhor solução. Eis a história de uma menina que nunca pensara observar o sangue a escorrer-lhe pelos braços, mas observou. Era uma tarde de verão, o sol brilhava por fora das persianas fechadas. Kristian estava na sala, olhando o sol pelas frinchas abertas da persiana. Kristian era uma rapariga de cabelos curtos e lisos, castanhos cor de chocolate, os seus olhos eram brilhantes, de igual cor, os lábios rosados e carnudos e o corpo magro. Kristian chorara a tarde inteira, e mantinha-se sem comer o dia todo. Muito fraca e frágil, e com pensamentos a atormentarem-lhe a mente, a pobre menina teve como primeira reação automutilar-se. Correu até à cozinha e pegou delicadamente numa faca. Caminhou novamente para a sala e fechou a porta, apesar de não estar ninguém em casa. Kristian observava a faca, as lágrimas escorriam-lhe pelo rosto. Fechou os olhos e passou a lâmina pelo braço. Abriu os olhos e viu o seu braço com o corte, sentiu-se aliviada e não sentia o ardor da abertura na pele. Passou novamente a faca no braço. Kristian parou de chorar, ficou no chão da sala, olhando o teto e imaginando a sua vida sem

aquele momento. A partir daí, a faca passou a ser a sua melhor companheira…


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Direitos dos animais Maria Beatriz Trindade, Helena Marques, Sofia Augusto . Alunas do 10º E

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defesa dos direitos dos animais ou da libertação animal constitui um movimento que luta contra qualquer uso de animais que os transforme em propriedades de seres humanos, ou seja, meios para fins humanos. A visão dos defensores dos direitos animais rejeita o conceito onde os animais são meros bens capitais ou propriedade dedicada ao benefício humano. O conceito é frequentemente usado de forma confusa com a posição do bem-estar animal (ou bem-estarismo), que acredita que a crueldade empregada em animais é um problema, mas que não lhes dá direitos morais específicos. Alguns ativistas sustentam a ideia de que qualquer ser humano ou instituição que modifica animais para alimentação, entretenimento, cosméticos, vestuário, vivissecção ou outra razão qualquer vai contra os direitos dos animais se possuírem a si mesmo e procurarem os seus próprios fins. A defesa dos direitos dos animais fundamenta-se em diferentes pontos de vista filosóficos: a posição baseada em direitos tem como seu representante pioneiro o filósofo Tom Regan. A teoria de Regan sobre a inclusão de não-humanos na comunidade moral tem como base a noção de animais como "sujeitos-de-uma-vida". Segundo Regan, os direitos morais dos humanos são baseados na posse de certas habilidades cognitivas. Essas habilidades seriam certamente

compartilhadas por alguns animais não-humanos, tais como mamíferos com pelo menos um ano de idade. Sendo assim, ao menos estes animais deveriam ter direitos morais semelhantes aos humanos. Existe também um movimento, a que se pode


ensar(es) chamar um estilo de vida que respeita os direitos animais e ambientais: o Veganismo. Por razões éticas, os veganos são contra a exploração dos animais e do meio ambiente. Excluem da sua alimentação carnes e enchidos, lacticínios, ovos, mel e derivados, frutos do mar e quaisquer alimentos de origem animal. Podemos concluir que os animais são seres vivos e por isso têm direito à vida. Os animais têm direitos próprios, mas muitos não são respeitados. Não concordamos com o que as pessoas fazem aos animais, por exemplo no circo, onde domesticam os animais e os maltratam com chicotadas para seu benefício próprio. Também não concordamos com o abandono dos animais. Ninguém é obrigado a gostar de animais, mas todos devíamos respeitá-los. Para concluir apresentamos os seguintes direitos constantes da Declaração Universal dos Direitos Animais, formulada pela UNESCO em Bruxelas, no dia 27 de Janeiro de 1978: 1 - Todos os animais têm o mesmo direito à vida.

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2 - Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem. 3 - Nenhum animal deve ser maltratado. 4 - Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat. 5 - O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca ser abandonado. 6 - Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor. 7 - Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida. 8 - A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais. 9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei. 10 - O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.


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Coisas do Destino Não foi premeditado, Foi o destino que agiu, Naquela nossa amizade Algo mais forte surgiu. Até tentei mudar, O que sinto por ti, Mas por muito que eu tentasse Ainda não consegui. Não quero fazer má figura Mas paixão é assim, Não se escolhe nem esquece, Quando o coração falou que sim. Enquanto estou contigo Esqueço-me do resto do mundo, Apenas com um sorriso Fazes-me feliz num segundo. Tu dás-me tranquilidade A vida que sempre quis A sensação de novamente Voltar a ser feliz. Pode ser que o destino Nos junte novamente Para como num livro romântico, Vivermos felizes para sempre. Carlos Santana. Aluno do 11ºE


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Igualdade e Justiça João Morgado . Aluno do 10ºB

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desigualdade social é o fenómeno onde alguns indivíduos são privilegiados dependendo do seu género, etnia, religião, orientação sexual, etc. Apesar de terem sido feitos progressos significativos nas últimas décadas, este problema está bastante presente na nossa sociedade. Como é óbvio, os seres humanos não são todos iguais, possuímos todos características diferentes. Estas diferenças até acabam por ser vantajosas, dado que tornam a cooperação entre pessoas mais eficaz. Podemos definir a igualdade como um valor ético, que diz que todos os indivíduos possuem direito de se realizar enquanto pessoas, e como um objetivo político, onde todos os cidadãos são vistos como iguais perante a lei. No entanto, estes conceitos não são suficientes para compreender totalmente a definição de igualdade. Como é que é possível alcançar a igualdade se somos todos diferentes? Como é possível repartir bens, encargos e cargos políticos de forma justa? Uma distribuição absolutamente igualitária do dinheiro levantaria muitos problemas. As pessoas gerem o dinheiro de formas diferentes. Enquanto que umas iam gastar o seu dinheiro, outros guardariam o seu, voltando assim a criar-se uma situação desigual. Se houvesse uma distribuição igualitária do dinheiro, não haveria nenhum incentivo para as pessoas desempenharem as suas tarefas com eficácia, visto que receberiam o mesmo independentemente da quantidade de tra-

balho. Outro argumento contra este método de distribuição é que há indivíduos que necessitam mais do dinheiro. Uma pessoa que sofre de uma doença e precise de um tratamento caro precisa mais do dinheiro do que um indivíduo saudável. Um ponto de vista igualitarista defende que os cidadãos têm as mesmas oportunidades no mercado de trabalho. No entanto, ainda é comum as profissões de destaque serem ocupadas maioritariamente por homens. Para combater este problema, foi proposta a discriminação positiva. Este processo favorece as pessoas que anteriormente foram vítimas de discriminação, tentando assim tornar a sociedade menos desigual. Um exemplo da discriminação positiva é a lei da paridade, que obriga a que um terço dos membros de uma lista política seja do sexo feminino. A discriminação positiva tem sido alvo de algumas críticas. Há quem considere que promover a desigualdade é injusto e não deve ser praticado. Também pode causar ressentimento, pois isto permite que haja situações onde se dá prioridade a uma pessoa com qualificações inferiores pelo facto de ser do sexo feminino. Em conclusão, a nossa sociedade ainda apresenta vários problemas de desigualdade. A igualdade absoluta é um objetivo irrealista, havendo poucas ou nenhuma maneira de ser verdadeiramente aplicado. A discriminação positiva, apesar de parecer um bom método para tentar igualar a sociedade, apresenta alguns aspetos negativos.


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A hora prateada A noite, A noite é a hora prateada, A lua, o espelho O luar, a santa energia Que desde que a arte primeiramente emergia Movia a inspiração Dos homens que lhe sabiam Abrir o coração. O luar, Essa força misteriosa, A luz que ilumina a noite, Os montes enegrecidos, Torna os rios em prata, Que invoca o mundo dos esquecidos… E que ainda quebra o sono A quem sabe, que é sobre o manto estelar Que o corpo e alma se alinham, Dando à mente a divina força Que muitos chamam de profunda reflexão, Mas para mim, Responde também por pura inspiração. E é durante essa grandiosa hora, Hora prateada, Em que o coração dá voltas às memórias, Em que a mente procura a sábia compreensão, Em que o lurar fornece a louca inspiração, Que as grandiosas ideias, Aquelas com que Pessoas de grande reconhecimento Mudam os mares e as areias, Veem o momento do seu nascimento. E é durante esta hora de prata, Que me ilumina o corpo e coração, Que eu reflito sobro a estelar criação. João Pedro Pereira. Aluno do 11ºC


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Quero ser eu Cátia Coutinho . Aluna do 10ºE

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erá que sou apenas um corpo composto por células e partículas? Ou será que sou apenas um animal que nasceu com consciência? Sinceramente não sei, e a resposta também não me interessa, mas se for, a única coisa de que tenho a certeza é que quero ser mais que isso. Quero ser mais do que uma matéria viva complexamente organizada. Quero ser aquela pessoa que quando tudo acabar, não se arrependa de nada do que fez. Quero ser lembrada pela pessoa que realmente era. Quero fazer de tudo, experimentar de tudo, rir de tudo, quero transformar todas as situações em momentos inesquecíveis. Resumidamente… Quero ser feliz à minha maneira, digam o que disserem. Quero ser mais do que o que as pessoas acharam que eu pudesse vir a ser, passar por elas futuramente e poder mostrar-lhe a pessoa em que me tornei. Quero ser valorizada por aquilo que faço, apesar de saber perfeitamente que haverá sempre teorias que vão por isso em causa… -Será que fez aquilo só para ficar bem vista? -Será que só fez aquilo porque foi “obrigada”? É interessante como para grande parte das pessoas nada é feito com boa intenção, imaginam sempre o mal em tudo o que façamos.

Would You Let Me Be Myself, Floorbanger in Deviantart

Talvez porque comecem por julgar as outras pela aparência e não pelo seu interior. Há que aprender a levantar a cabeça e a sorrir nos piores momentos, mesmo que seja a coisa mais difícil de fazer. Há que aprender a manter-se sempre de pé, bem erguidos na nossa dignidade. Custe o que custar, doa a quem doer.


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ial EspecLiterário rso

Concu

IA POEnSdário Secu

Andar Negro Finjo ser pedra quando passo. Lança-se um beijo, lança-se um abraço E eu, fraquejo sem olhar... Com vontade de abraçar, de beijar. Se ando perdido em busca de mim É porque nada foi sentido. E se estou hoje assim É por toda a lágrima que terá escorrido. Minha alma foi pintada de incertezas. Minha felicidade, só tive imaginada... É este o caminho repleto de tristezas Que nunca me ligou a nada. As minhas feridas abriram a sua porta E a minha beleza por elas se enlaçou… E hoje já não sei o que mais me importa, Onde estou, onde pertenço, onde vou...

João Pedro Fonseca. Aluno do 12ºC


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“Clarim da Verdade”

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ARTE

O género visto por um jornal paroquial Pedro Babo . Professor de História de Arte

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aceite pela generalidade dos historiadores (Cruz 1998:15, Léonard 1998:117-113)1 que apesar do Estado Novo não ter sido um regime confessional existiu entre o regime salazarista e a Igreja uma grande cumplicidade na defesa de uma orientação moral essencialmente de inspiração católica. A leitura do jornal paroquial Clarim da Verdade permite-nos aceder ao discurso oficial com que ambas as instituições procuraram moldar a identidade de género em Fontelas. A forte implantação da Igreja no meio rural, composta na sua generalidade por um clero extremamente colaborador com o regime, com canais de comunicação perfeitamente estabelecidos e dire-

1 A quando da assinatura da Concordata, Salazar exprimiu a necessidade de uma separação estrita entre os poderes espiritual e temporal: «O Estado vai abster-se de fazer política com a Igreja, na certeza de que a igreja se abstém de fazer política com o Estado. Isto pode e deve ser assim. Pode ser, primeiro, em virtude de todas as razões derivadas da formação espiritual deste povo e da sua vocação histórica, e depois pelo facto de termos enfim um estado Nacional, ou seja, termos chegado à integração da nação no Estado Novo Português. Deve ser assim, porque a política corrompe a Igreja, quer quando faz quer quando a sofre, e para todos é útil que as coisas e pessoas sagradas as toquem o menos possível mãos profanas, e o menos possível também as agitem sentimentos, interesses ou paixões terrenas. Considero perigoso que o Estado adquira a consciência de tal poder que lhe permita violentar o céu, e igualmente fora da razão que a Igreja, partindo da superioridade do interesse espiritual, busque alargar a sua ação até influir no que o próprio Evangelho pretendeu confiar a César» (in Léonard 1998:63). Informações recolhidas na obra « Fontelas - Perfil Monográfico» do padre Alípio Martins Afonso edição do autor de 1971.

tos (Eucaristia, Jornais paroquiais e organizações religiosas), ofereceu ao Estado Novo um precioso sustentáculo para manter as províncias rurais numa ordem que era apresentada como imutável porque plenamente conforme à natureza das coisas. Se atendermos às suas reduzidas dimensões geográficas e populacionais, Fontelas apresenta uma tradição invejável no âmbito da imprensa local e regional, ao possuir jornais próprios desde 1925, saídos da oficina gráfica aí instalada na mesma data, da propriedade de Carlos Frias. O primeiro título Defesa do Douro foi publicado de 1925 a 1933, como semanário regional, sob a direção de Júlio Vilela. Seguiram-se-lhe respetivamente Voz de Fontelas (1930-33?) e Fontelense (1933) ambos mensários da responsabilidade do próprio Carlos Frias e, simultaneamente, Termas de Moledo (1930-33?) dirigido especificamente àquela estância termal sob a direção de Armindo da Conceição Pinto. Com a transferência das oficinas gráficas para a sede do concelho terminaram as publicações locais. Reapareceram passados 19 anos com a forma de boletins paroquiais, o quinzenário Clarim da Verdade e o mensário À Luz da Torre, recuperando assim a tradição jornalística de Fontelas. Graças ao cuidado dos sucessivos párocos em preservar estes documentos tive a possibilidade de consultar na íntegra a totalidade dos seus 164


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e 54 números respetivamente. Tal já não foi possível no que diz respeito às anteriores publicações, das quais se lhe perdeu o rasto por completo. Para o investigador das questões de género, o segundo título tem pouco interesse. Com ambições bem modestas, não passa de um típico boletim paroquial, surgindo só muito esporadicamente colunas com objetivos fiscalizadores da moral sexual dos jovens fontelenses. Por tal facto, dirigi preferencialmente a minha análise para o primeiro título, que se apresenta com objetivos bem mais alargados no que diz respeito à formação moral dos paroquianos. O primeiro boletim das Paróquias de Oliveira e Fontelas foi publicado na década de cinquenta, mais propriamente entre 10 de fevereiro de 1952 e 18 de janeiro de 1959, com o referido título de Clarim da Verdade. Sob a direção dos párocos José Ribeirinha Machado até 10 de Novembro de 1957 e Alípio Martins Afonso depois desta data até ao termo da sua publicação, o Clarim, mais do que um simples boletim informativo das atividades ligadas às suas paróquias, era um manual de formação, quer para os jovens, quer para as famílias, fornecendo de forma exaustiva modelos comportamentais considerados adequados “à natureza de cada sexo.” As relações entre homens e mulheres e a função atribuída “naturalmente” a cada um dos sexos na família e na sociedade foram objeto de colunas, com uma permanência de vários meses, como as intituladas «Sede Heróis!» e «Aos Jovens» destinadas aos rapazes e a rúbrica «A ti rapariga amiga» dirigida às raparigas, publicada com uma regularidade quase absoluta ao longo dos sete anos de sobrevivência do Clarim. Todas estas rúbricas foram publicadas utilizando a estratégia literária do pseudónimo, as duas primeiras com um simples «S» e a dirigida às jovens com a simbólica assinatura de «Maria». Pelo teor das mensagens e pela linguagem empregue, não seria de estranhar que o «S» fosse o próprio pároco. Quanto à «Maria», a única pista que deixou cair foi o facto de se intitular uma “Jacista” , termo que designava os membros da Acção Católica, organização que formava um grupo muito ativo nos anos cinquenta, em Fontelas e que, a julgar pelas palavras desta sua ativista, mais não fez do

que perpetuar o tradicional conservadorismo da Igreja em matéria de relações entre os sexos. fórmula «devendo sempre abster-se de toda a atividade política» o Estado Novo impediu a livre organização política e eleitoral dos católicos (cf. Cruz 1998:69-78). Sem afastar a possibilidade de o Clarim não atingir de todo os seus propósitos em matéria de regulamentação das relações de género, penso ser de toda a importância, numa época em que as relações entre o Estado e a Igreja eram tão es-


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treitas, conhecer em pormenor e na forma escrita, o ideário moral com o qual a Igreja local procurava moldar a identidade de género em Fontelas. Ao fazer chegar o boletim paroquial a todas as residências obrigando à sua devolução no caso de o paroquiano não estar interessado na sua leitura, o pároco assegurava a chegada do seu “manual” de organização familiar a todos os lares de Fontelas. A leitura do Clarim permite, por outro lado, ultrapassar, pelo menos parcialmente, o lamento de tantos investigadores das questões de género que nos seus trabalhos não podem contar com o testemunho escrito de mulheres por causa da milenar prisão da mulher à palavra escrita do homem: «Há assim uma longa história do corpo, fascinantemente contado através de um olhar masculino e espantado» ( Joaquim 1997:53). O olhar feminino transmitido pelas mulheres que escrevem no Clarim não difere em nada, como veremos mais adiante, da visão masculina; antes, pelo contrário, inscreve-se perfeitamente nos modelos de género preconizados pelo boletim de Fontelas. A dominação masculina contou pelo menos parcialmente com a colaboração feminina. A mulher foi, e ainda o é, ao mesmo tempo vítima e corresponsável pela perpetuação da sua submissão ao homem. Não restam dúvidas que a construção da identidade de género se faz, em primeiro lugar, dentro da família e esse papel educativo foi culturalmente assumido fundamentalmente pela mulher. Como afir-

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mou De Beauvoir (1976:28): «Uma das maldições que pesa sobre a mulher está em que, na infância, é abandonada às mãos das mulheres». A visão que a mulher transmite é assim, muitas vezes, uma visão dominada, em resultado da incorporação de princípios tornados naturais pela educação (cf. Bourdieu 1995:58). Não se espere pois encontrar no Clarim uma visão feminina desviante. Essa, se a houver, terá de ser procurada fora dos discursos oficiais, na oralidade ou no âmbito das atitudes observáveis do trabalho de campo. (continua no próximo número) Afonso, Alípio Martins, Fontelas - Perfil Monográfico, Chaves, Edição do Autor,1971. Beauvoir, Simone, O Segundo Sexo, Amadora, Livraria Bertrand,1976. Bloch, Marc, Introdução à História, Men Martins, Publicações Europa América, s/d. Bourdieu, Pierre, “Observações sobre a História das Mulheres” in Duby e Perrot (org.) As Mulheres e a História pp 57-59, Lisboa, Publicações Dom Quixote,1995. Bourdieu, Pierre, La domination masculine, Paris, Éditions du Seuil, 1998. Cruz, Manuel Braga da, O Estado Novo e a Igreja Católica, Lisboa, editorial Estampa,1998.


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Talvez Ariana Lopes . Aluna do 9ºB

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udo é uma questão de talvez. Talvez eu vá, talvez não. Talvez mude, talvez não. Tudo na vida é feito de incerteza. Talvez a minha vida mude agora, talvez mude daqui a uns dias ou talvez apenas daqui a alguns anos… Nada é certo ao ponto de podermos dizer “sim” ou “não”. Será que talvez é sempre a melhor resposta às perguntas que nos são feitas? Talvez… Talvez é sempre a melhor coisa a dizer, porque nós não temos a certeza de nada. Nada é certo na vida. Talvez eu me livre de um vício, talvez não. Talvez eu viva até aos cem anos, talvez não. Nada é certo nesta nossa vida. A única coisa que temos como verdadeira é que vamos todos morrer, mais cedo ou mais tarde, sabemos que irá acontecer, deixaremos a vida que levamos hoje em dia, porque um dia tudo irá acabar. Talvez eu faça isto, talvez não. Talvez eu morra amanhã, talvez não. Talvez esta seja sempre a coisa certa a dizer, porque ninguém sabe o que irá acontecer amanhã ou depois, porque nada aqui é uma certeza, mas sim uma questão de talvez. Talvez sim, talvez não, talvez esta seja a resposta certa.


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Devia olhar-te Existe algo que se desprende de ti suspiros que não seguras metaplasias que largam lastro em almas alheias devia olhar-te na ausência das palavras concluir do alinhamento do sol na imaterialidade do teu rosto e dançar para ti. Fernando Fidalgo

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A minha aventura em Marte Lisandro Mendes . Aluno da turma 3.1 - CE Alameda

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o dia 28 de janeiro de 1975 aterrei, com o meu foguetão supersónico, no planeta Marte. Era um planeta deserto, cheio de areia vermelha e com algumas casas. Comecei a explorar as redondezas e de repente saiu de trás de uma duna de areia um marciano. Tinha três olhos pretos, o maior era na testa, tinha a pele verde e tinha duas antenas. Apesar de muito amedrontado, resolvi falar com ele e disse-lhe: - Não me faças mal, por favor. Eu sou amigo. Ele respondeu numa língua estranha que eu não percebi nada. Foi então que resolveu carregar num botão vermelho e verde que tinha no seu cinto e, como se fosse magia, começou a falar português. - Eu não te vou fazer mal. Nós aqui não gostamos de violência. Diz-me, o que vieste fazer a este planeta? - Eu trabalho para a NASA e vim explorar os planetas. Queremos saber se aqui há vida, em quais é que há água, se respiram como nós e comem como nós. Foi assim que iniciámos um alonga conversa e ficámos bons amigos. Agora espero que ele também me faça uma visita ao planeta Terra.


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O Simba

Afonso Araújo . Aluno da turma 3.2 - CE Alameda

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eitado à frente da sua casota, o Simba encontra-se a dormir a sesta após um almoço recheado. De repente, abre o olho verde por cima daquele focinho comprido ao ouvir-me a chegar: - Au, au – ladrou ele com voz mansinha. - Ainda queres comer mais? Já te dei uma tijela de biscoitinhos para te pôr o pelo castanho tão luzidio. Este meu cão é um mamífero muito espetacular, só come e dorme, mas ainda tem tempo de namorar uma cadelinha que passa ali por perto. Parece-me que querem formar uma família! Eu até queria mas depois vão ser muitas bocas para alimentar. Eu estimo muito o meu cão e vou querer tomar sempre conta dele, pois ele é um bom companheiro.


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Soltam-se as Palavras Prendem-se as nuvens João Rebelo . Professor de Filosofia

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ntigamente era para mim um suplício ver o mundo lá das nuvens. Tinha pavor a andar de avião. Relembro a minha primeira viagem. Lisboa- Madrid- Cairo. Agora, aos poucos tenho mudado. Cada vez mais aprecio estar acima da nuvem. Sinto uma espécie de apelo divino. A participação com o Criador. E de repente tudo pode acabar. Ver a cidades lá tão em baixo fervilhantes de seres e de espíritos. Serão as nuvens as misturas dos espíritos dos mortos? Todas as lutas, todas as ambições, os anseios os desgostos e as alegrias se desvanecem neste espaço. Estão concentradas lá em baixo nas vidas de todos. Aqui é

o silêncio que imagino fora do avião. Gosto mais das descolagens. O mundo não gira ao meu redor. Eu é que giro com ele. Vou nele com o tempo. Sou uma ínfima parte do planeta, que faz parte de um todo, que faz parte de uma inteligência cheia de amor e profundidade. Isto lembra-me que pertenço a esse todo, apesar das minhas mundividencias me levarem para outros mundos. Sou um minúsculo ser sentado neste avião, agora, e lá fora o mundo e o tempo vivem com outras realidades, com milhões de seres. Sou parte de um todo eterno e infinito, mesmo que me pareça apenas este instante. Lembro-me de um filme que vi recentemente,


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apesar de já ter seis anos. Medianeras, que fala da vida nos dias de hoje, nas complicações de viver numa cidade, no século XXI. A nossa construção da realidade depende das nossas escolhas e elas dependem de um conjunto aleatório de factores que relacionam as pessoas e as inserem em organizações próprias. Vivemos os tempos dos hologramas, daquilo que é disparado pelas redes ditas sociais como o Facebook, o Twitter ou o Instagram. São tempos em que a subjectividade individual prevalece sobre a subjectividade geral. O que marca a notícia é o instante. Amanhã já ninguém pensa como foi ontem, o que aconteceu. Vivemos dominados por algoritmos que não entendemos e que fazem tudo para nos espiar sem no entanto nos conhecer. Eles são os criadores deste estado das coisas, da dita realidade. Filtram limitam e mostram aquilo que supostamente queremos ver e pensar. Estas novas plataformas são representações de realidades fabricadas sob um paradigma que está muito longe da realidade em si. Aldous Huxley viu isto muito bem.

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Há uma espécie de real, pré-fabricado (e mal) que resulta simplesmente do excesso de repetição com muito de sensacionalismo. Volto a subir nestes voos sobre as nuvens, para me tentar encontrar comigo mesmo e participar na realidade em que acredito, cristã, universal. Podemos sempre ser mais do que agora somos desde que tenhamos a tenacidade suficiente para contrariar as tendências e ver o mundo pelos nossos olhos, com as nossas emoções. Não há como escapar ao paradoxo. Hoje, estes voos baratos levam a mais consumo mas dão-nos outra liberdade para sermos mais nós, com toda a alma e mente. Olha só...


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João Lobo Antunes* - O médico humanista Pedro Miranda . Professor de EMRC

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oão Lobo Antunes não é, apenas, um dos mais consistentes seguidores da máxima de Abel Salazar, segundo a qual quem só sabe de medicina, nem de medicina sabe. O facto de ser um proficiente cultor dessa verdade permite-lhe testemunhar em favor dela e arremeter contra uma medicina, mais, um sistema de ensino, que dela se terá afastado. No ensaio O consolo das Humanidades, publicado no livro que acaba de sair do neurocirurgião (Ouvir com outros olhos, Gradiva), concretiza, com especial acuidade, o que pretende estabelecer quando considera que a ignorância da literatura, da filosofia, da história, da religião, por parte de quem tem a medicina por ofício, faz desse profissional menos excelente. A questão, não se julgue, não se prende com qualquer adorno, uma erudição que combinaria bem com uma profissão prestigiada. Bem mais do que isso: na mais prosaica interpretação do que o doente conta acerca de si mesmo e sua doença, na frase que lhe sai aparentemente tão cristalina, escondem-se interstícios, zonas obscuras, sentidos outros que o desconhecimento de outras vozes - que se expressam na poesia, na filosofia, no grande romance, nas grandes tradições religiosas - não permite entrever/encontrar/ descobrir. O grande médico é, assim, também, o grande leitor…para ser o grande ouvinte: "É

que a narrativa da doença - e é importante no meu ofício saber ouvi-la -, só é bem entendida quando já se escutaram outras vozes, na ficção, na filosofia ou na poesia, que ajudam a apreender o seu sentido mais profundo, oculto tantas vezes nos interstícios de um discurso que tanto pretende revelar, como ocultar. De facto, o encontro singular da clínica é feito de palavras mas, não raramente, também da eloquência de um silêncio igualmente revelador" (p.43). Daqui ao j'accuse, um pequeno passo: "a verdade é que não encontro nos médicos das novas gerações o mesmo vibrato emocional que me animou toda a vida, talvez porque desconhecem os dialectos do sofrimento, ou porque receiam mergulhar num mundo de emoções que só vagamente vislumbram ou, mesmo, penetrar no íntimo de uma solidão tão unicamente humana. Isto apesar da intervenção de uma pedagogia solicita, chamada a ensinar alíneas da comunicação entre médico e doente, formais, correctas, irrepreensíveis, mas que desdenham a compaixão"(p.43). Mas ensina-se, a compaixão? João Lobo Antunes abeira-se do próximo, munido dessa linguagem que nos religa, para responder: "Sempre duvidei que a compaixão fosse um sentimento ensinável, embora admitisse tal ser possível em relação a certos valores morais, usando, como


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método, o exemplo. Podemos apenas apontar o que no outro - e aqui o conceito de próximo adquire uma admirável ressonância cristã - nos parece digno de merecer compaixão" (p.44). O Professor excelentíssimo, que por tanto se ter destacado no campo das ciências duras ganha especial autoridade quando não aceita o cientismo divinizado, ou a idolatria de uma tecnologia sem a densidade de rosto humano, prossegue na denúncia do esquecimento do complexo de textos que dão textura à experiência - médica também -, permanecendo, ainda, nos novos tempos admiráveis: "falando ainda das novas gerações dos meus companheiros de ofício, creio que, em certa medida, esta falta de curiosidade pela história do outro e a platitude da sua resposta emocional se devem, em parte, à incapacidade de descobrir e ser desafiado pelo mistério das narrativas que quase não chegam a ouvir, confinados ao mundo de um conhecimento científico cujas limitações ignoram, e cegos pelas maravilhas da tecnologia que lhes confere autoridade e poder. Alguns, os mais perigosos, nunca irão perceber que no cérebro desta Medicina Contemporânea se juntam, em inesperadas sinapses, incerteza, risco e erro. Ora, como alguém notou só as Humanidades reconhecem a incerteza como a emoção humana dominante" (p.44).

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Que aprendeste tu, afinal, com esses livros todos, com essas tertúlias entre literatos e filósofos, para que te serviram? João Lobo Antunes adivinha a pergunta e ilustra-a, percebe-se com que prazer, profusamente: "A maior conquista foi ter-me apurado o ouvido para captar outras vozes, compreender o significado oculto das palavras, e ter a competência para falar com qualquer pessoa num diálogo que nos eleva àquela altitude comum que permite o olhar horizontal, olhos nos olhos. Mas muito mais aprendi em obras de ficção. Em Moby Dick, por exemplo, encontrei o eco dos meus receios numa sala de operações, mas também o impulso de perseguir o inimigo até ao limite das minhas forças, e da necessidade de aquele impulso ser moderado pela mais negligenciada das virtudes, o bom senso. Não conheço elogio mais belo ao carácter pastoral do meu ofício, oficio agitado pelo heroísmo e pela cobardia, pelo orgulho e pela humildade, do que La Peste de Camus. Não existe talvez nenhum tratado de bioética que penetre o cerne do sofrimento físico e espiritual da doença mais profundamente que A morte de Ivan Ilitch de Tólstoi, a que repetidamente aludi. E muito mais poderia citar. Foi na filosofia, aprendida nos livros mas, sobretudo, tão socraticamente, no convívio com Fernando Gil, que descobri a importância de


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olhar para além das aparências e fazer perguntas cuja resposta, sabia de antemão, seriam outras perguntas. E, finalmente, muito me ensinaram os poetas, pois, como ensinou o genial Brodsky, a poesia é a forma mais concisa de transmitir a experiência humana" (p.45) A doença, sobretudo a doença que ameaça a vida humana "é a incisão mais forte na essência que somos" (p.35). De aí que no cuidado, na sageza com que o médico com ela lida, há-de nutrir-se de grande preparação e, como se vê, o estetoscópio não é o principal instrumento para conhecer o outro. Na doença, conclui de muitos anos de experiência João Lobo Antunes, acedemos, olhando finalmente o sol de frente - e "olhar para estas coisas de frente exige a coragem de um domador de leões", nas palavras de Virgínia Woolf -, provavelmente ao único momento lúcido de um exame do que foi a nossa vida. Nesse instante, em que se dá o "desdobramento da personagem que somos é um fenómeno fascinante: uma é fria, racional; a outra exuberante e emotiva; esta é movida pela esperança, aquela abatida pelo de-

salento; a primeira não ilude a verdade, a segunda faz-lhe ouvidos moucos" (p.39), regressam à cena actores esquecidos da nossa biografia, e a coragem é o que fica quando a esperança se foi. Talvez, nesses momentos, a solidão seja, de facto, iniludível e inultrapassável, mas até para a compreender é preciso alguém com antenas afinadas: "médico para ser perfeito devia sofrer todas as doenças, pois só assim podia formar o juízo exacto" (Francisco Sanches citado por J.Lobo Antunes). E ter a subtileza de intuir que isto é mais do que uma imagem. Uma espécie de carta - desencantada talvez - aos médicos de novas gerações, enquanto advertência; ao sistema de ensino, como proposta; às gerações que um dia querem praticar medicina como inciso para que sejam cumpridoras integrais da sua regra. * Neurocirurgião e escritor, falecido em 27.10.2016


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Quarto Azul Somos dois corpos frios vestidos das mesmas palavras. Bebemos da chuva intermitente que cai sobre a nossa pele, com medo que o desejo nos transforme em fantasmas. Finto-te com inocência no olhar, tão doce como o de uma criança. Observo a tua cândida face e, com medo, vou percorrendo-a com os meus dedos através de uma terna dança. Somos reféns deste quarto azul onde habitamos. O tempo urge e a felicidade esmorece num mundo onde o sonho é meramente uma representação ilusória de tudo o que fantasiamos. Luísa Mamede. Aluna do 12ºC

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A dimensão religiosa do ser humano* A. Marcos Tavares . Professor de Filosofia

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figura do argentino Jorge Mario Bergoglio, o atual Papa Francisco, é bastante consensual não só entre católicos, mas também entre outros cristãos e mesmo entre não crentes. Ouve-se muita gente dizer que não é crente mas que nutre especial admiração pela missão deste homem vestido de branco. Penso que este consenso não se deve apenas à simpatia, à ternura ou à proximidade do Papa. Francisco, de algum modo, apresenta um caráter de hierofania, ou seja, converteu-se numa manifestação visível do sagrado. Por outras palavras, o Papa Francisco tornou-se uma revelação palpável de transcendência, um símbolo de religiosidade no sentido mais radical do conceito. A opinião mais frequente dos linguistas é que o conceito «religião» vem do latim religare e traduz a dimensão de união, de ligação à transcendência. Esta religação mostra o caráter finito do ser humano, que procura ultrapassar a sua finitude e a sua fragilidade projetando-se numa dimensão mais profunda e mais completa. Neste sentido, todo o ser humano é um ser religioso, pois procura a plenitude não só em si mas também fora de si, na sua relação com o outro. Claro que ser religioso não significa necessariamente acreditar em Deus, nem que a transcendên-

cia que plenifica o humano seja a transcendência divina. A ânsia de realização última está presente no humano, seja ele crente, agnóstico ou ateu. Ora, a personalidade de Francisco é de tal forma abrangente e cativante que nela se reveem todos aqueles que procuram essa religação última, todos aqueles que procuram a transcendência. A preocupação pelos pobres, pelos pequenos, pelos mais frágeis, tão vincada em Francisco, representa nitidamente essa religação ao fundamental, revela a transcendência. É a dimensão religiosa na sua essência. Ao contrário do que alguns pensam, a religião por si não significa a fuga do mundo e das responsabilidades. A acusação de Karl Marx - «a religião é o ópio do povo» - só se poderá aplicar a falsas vivências religiosas, que projetam num qualquer deus os anseios mas nada fazem para os cumprir. A religiosidade no seu sentido autêntico exige compromisso com a humanidade e esforço constante de realização. O ser humano realiza-se na sua plenitude, liga-se à transcendência, lutando pelo bem de todos os seres humanos. Não há ser humano sem Humanidade. Claro que para os crentes, é em Deus que se alcança toda a realização e transcendência. Para os crentes, designadamente para os cristãos, a realização última do humano está em Deus. S.


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Foto: Pablo Cuarterolo

Agostinho dedicou grande parte da sua vida e obra a tentar compreender o mistério divino. A inteligência humana, por muito limitada, não atingindo a compreensão de Deus, pode ajudar no aprofundamento da fé. É o seu «Intellige ut credas; crede ut intelligas» (Entende para acreditares; acredita para entenderes). Razão e fé iluminam-se reciprocamente. Digo muitas vezes aos meus alunos, quando me questionam sobre se há provas da existência de Deus, que eu, que sou crente, deixaria de acreditar se fossem apresentadas provas de que Deus existe. É que se fosse possível provar filosoficamente ou cientificamente que Deus existe, isso significaria que Deus era tematizável, era abarcável, pela razão humana. Ora, sendo a razão humana finita e limitada, tudo o que ela possa abarcar é também necessariamente finito e limitado. Logo, a provar-se racionalmente que Deus existe este ser passaria a ser finito e

limitado, portanto, não Deus. Não há, então, qualquer possibilidade de chegar até Deus? Penso que há e o caminho é apontado por Francisco: a religação à transcendência (a Deus, para os crentes) realiza-se na abertura aos outros, no compromisso com os mais frágeis, na defesa da liberdade e da dignidade do ser humano, contra tudo o que o possa diminuir, denegrir ou escravizar. Esta é a religiosidade no seu sentido mais profundo. *A propósito da visita do Papa Francisco a Fátima em maio de 2017.


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Eutanásia: direito de matar ou direito de morrer? Patrícia Fernandes . Aluna do 10ºE

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utanásia (do grego eu + thanatos, - eu "bom", thanatos "morte") é a prática pela qual se abrevia a vida de um paciente em estado terminal ou que esteja sujeito a dores intoleráveis e sofrimentos físicos ou psíquicos, de maneira controlada e assistida por um especialista. A eutanásia é um tema bastante polémico, uma vez que interfere com determinados princípios éticos (bioética- que é uma disciplina relativamente nova no campo da filosofia e surgiu em função da necessidade de se discutir moralmente os efeitos resultantes do avanço tecnológico das ciências da área da saúde, bem como aspetos tradicionais da relação de profissionais desta área e pacientes.), religiosos, jurídicos…. De modo geral, a eutanásia implica uma morte suave e indolor, evitando o prolongamento do sofrimento do paciente, mas, por outro lado, também pode ser interpretada como o ato de matar uma pessoa ou ajudá-la a cometer o seu suicídio. O motivo de polémica consiste justamente no confronto entre essas duas constatações. São vários os fatores da não legalidade em Portugal, um deles é de cariz religioso “Só Deus tem o direito de tirar a vida”, outro é o Código Deontológico dos Médicos, em que no seu juramento de Hipócrates defendem a vida, um outro vem

das nossas tradições ancestrais, “morrer é a última etapa da vida” e deve ser entendida como tal e por último temos a Constituição da República, que não considera a sua legalidade. Existem dois tipos de eutanásia: a eutanásia ativa e a eutanásia passiva. A eutanásia ativa consiste em pôr término à vida, na medida em que é planeada e negociada entre o paciente e o profissional que vai praticar o ato. A eutanásia passiva por sua vez, não provoca deliberadamente a morte, no entanto, com o passar do tempo, conjuntamente com a interrupção de todos e quaisquer cuidados médicos, farmacológicos ou outros, o doente acaba por falecer. Em suma, a eutanásia é um tema muito falado e conhecido por quase todas as pessoas, por ser um tema que tem sido discutido em Portugal e em muitos outros países devido a decisão de a tornar legal ou não. Na minha opinião acho que a eutanásia deveria ser legal, mas, esta só deverá ser praticada por profissionais de saúde e em situação em que já não haja qualquer hipótese de vida com dignidade e sem sofrimento. Nestas circunstâncias, considero que ajudar a morrer é um ato de enorme coragem.


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About Today

José Artur Matos . Professor de Artes Visuais

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m amigo contou-me que na noite em que o pai morreu ouviu About Today*. Por alguma razão as palavras ficaram gravadas no centro do placard onde acumulo pensamentos, visões, citações e outros momentos mais ou menos importantes. Fragmentos que geram redes de pensamento, lógicas que não domino, pres-

supostos não estabelecidos, matérias fluídas e outras coisas líquidas e informes. São expressões de desejos que se esfumam e passam. Momentos precisos, imagens Instagram, a luz, o enquadramento, tempo, memória e olvido. * The National, EP Cherry Tree


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Quem sou eu?

Conceição Dias . Professora de Inglês

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ou mar, fogo, terra e ar. Sou os quatro elementos propulsores da vida, do movimento... Sou o trovão , a chuva copiosa, o retumbante relâmpago num dia de tempestade. Sou o Sol resplandecente e acolhedor numa manhã quente de Verão... Sou tudo e não sou nada. Sou uma folha em branco, um ponto minúsculo no universo, a imensidão do mar com os seus mistérios, as suas angústias, as suas incógnitas... Sou restolho numa seara acabada de ceifar, o canto da ceifeira e o trigo que ela delicadamente afaga nas suas mãos cansadas... Sou mil e uma coisas e coisa nenhuma. Sou tudo e não sou nada. Sou um poema inacabado, um verso que não rima, uma pegada quase invisível, de um passáro aturdido que não sabe que as asas lhe foram dadas para voar, para voar... bem pra lá do horizonte... Sou um grito aflito no silêncio da noite, um som quase inaudível, um ruido incómodo e indesejado... Quem sou eu? Sou uma colina verdejante, a Natureza no seu estado bruto, virginal, intocada pela nefasta mão do Homem...

Sou uma floresta densa, escura e impenetrável com criaturas estranhas e árvores medonhas. Sou uma gota de orvalho, a brisa morna, o fogo que aquece, conforta e fascina e que, na sua impetuosa voracidade, tudo destrói, tudo subjuga.... Sou um ser imperfeito e faminto de perfeição; uma escrava cativa e rendida ao seu Senhor. Sou carrasco e sou vítima. Sou o ar que respiro, sou aquilo a que respondo, sou tudo o que faço e tudo aquilo que ainda não fiz... Sou o que quero ser, sou o que sou, sou imagem do que já fui. Sou depositária de memórias, de histórias queridas, de personagens diversas que vão minuciosa e habilmente tecendo a manta de retalhos que me aconchega na cama. Sou um pouco disto tudo e um tudo deste nada.


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A vida: conto de fadas? Daniela Silva . Aluna do 10ºC

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rincipezinho? A bela e o monstro? Alice no país das Maravilhas? Amor efémero? Amar uma pessoa por dentro? O verdadeiro amor? Quanto dura o eterno? Talvez um segundo? Qual é o melhor caminho? A vida é assim… Vivemos dentro de uma redoma de vidro, com medo de sair. O amor efémero todos procuram. Poucos encontram. Talvez um dia os mortais tenham a sorte de encontrar o seu monstro. Talvez todos os monstros encontrem a sua bela. Amar o outro por dentro. Dançar ao som do amor. Ao ritmo da chuva. Cair por vezes nos buracos, entrar em universos paralelos que só nós entendemos e encontrar alguém tão maluco quanto o Chapeleiro e ser tão amado quanto a rosa! Será que na vida não somos o Chapeleiro? Somos “malucos” de uma forma saudável? Será que sabemos brincar sem magoar as pessoas? Será que somos puros como a Alice? Será que somos ingénuos em muitas situações? Ou será que nos dá jeito ser assim? Será que somos como a Bela? Que se apaixona pela verdadeira pessoa? Ou somos uma lagarta que um dia se irá tornar numa linda borboleta? Será que o ser humano não se transforma perante o mundo? Seremos tão autênticos e puros como o principezinho? Será que um dia vai haver algo para recordar?

Será que algum dia algo vai deixar a sua cicatriz? Uma cicatriz conta uma história que dura uma vida. Não necessariamente uma história negativa, mas sim uma positiva. Coisas simples na vida começam com um arranhão. Uma ferida. Uma cicatriz. Esta cicatriz vai estar pressente toda a vida. As pessoas têm várias cicatrizes superficiais que não foram por bons motivos: quedas, ligeiros acidentes…. Mas também têm aquelas que ninguém vê. Que ninguém sabe o porquê. Que ninguém sabe o motivo. E que é melhor ninguém saber. Esquecimento? O esquecimento é inevitável! Um dia, as pessoas podem não lembrar-se de mim. Do que fomos uns para os outros. O ser humano é inconstante. Faz-se de forte. Posso pensar que o esquecimento não me afeta. Será que não? Será que um dia não me vou revoltar por não saber quem fui? Ou quem vou ser? Ou se as pessoas se lembram de mim? O ser humano procura neutralizar os atos, os sentimentos, as ações, a própria vida… eu procuro não magoar alguém. Impossível? Muito provavelmente! Todos somos uma granada prestes a explodir, neutralizando os efeitos. Ouso-me a comparar a vida humana com uma semente! Nós somos a semente. A vida a terra. Um dia caímos na terra, somos regados, começamos


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Untitled (Triplo Igloo), Mário Mertz

a ganhar raízes. Começam a ficar mais fortes e profundas. A pequena semente transformou-se numa linda flor, que cresce a cada dia que passa. Claro que às vezes as folhas caem, mas com o renovar das estações tudo volta a ser como era até mais forte. A isto, chama-se crescimento. Cada ser humano vem com uma missão. Muitos podem ainda não saber qual é. Outros já a descobriram. Eu penso que todos marcamos algo, e que alguém nos marca. Um ciclo. Eu marco. Ele marca. Alguém nos marca. Nos marcamos alguém. É o propósito da vida. E um dia, a flor vai morrer. Mas aquela flor marcou o local onde esteve. Assim como a cicatriz marca e conta uma história.

Vivemos numa vida escabrosa. Numa montanha russa. Um dia tudo vai acabar. A flor vai morrer, a Alice regressa ao seu mundo. A Bela e o Monstro serão esquecidos. E o principezinho volta ao seu asteróide. Será que o ser humano é tão fraco para se basear em contos de fadas? Será que o ser humano procura a perfeição num sítio onde provavelmente nunca a vai encontrar? Será que nos que estamos a ler isto, e que um dia nos vamos transformar em pó iremos ser recordados? Será que um dia sairemos da redoma? Será?! Ser ou não ser, eis a questão!


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Quero Tempo...

Manuel Ferreira . Professor de Filosofia

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ão sou daqueles que gostam de ficar do lado de cá da janela. Gosto de olhar para além dela e atravessá-la em direção ao horizonte. Acordar do sono profundo com que a vida nos aliena. E saber mais... A vida nunca deixou de me impressionar, pelo que tem de irracional, de absurdo, de estranho, de rude, de incompreensível e de enigmático. Por isso, ao longo da existência, tenho feito muitas perguntas sobre a vida e o mundo. Que valor tem um futuro em que a sobrevivência é a curto prazo? Em quem confiar? Com que é que nos devemos preocupar? O que nos faz sentir bem? Por vezes, o coração está aos saltos, o suor cobre o rosto e sinto o frio que o medo do desconhecido traz. O meu ceticismo sempre foi evidente. Não aceito as soluções dadas pela cultura popular, porque são perigosas, as da religião, porque demasiado doutrinárias, e as dadas pela boa ou má ciência, porque são insuficientes. O mundo encerra maravilhas e prodígios, mas o mundo é bruto e cruel. Esta ambivalência sempre me estimulou e angustiou na reflexão sobre o conhecimento humano. Trata-se de perscrutar os segredos de uma vida cheia de ideias falsas, de confusões e imitações baratas. Assim, quotidianamente o pensamento está em contínua procura da luz e da perenidade e repudia a escala de tempo que nos é imposta.

Compreender a natureza da vida, indagar os interesses que servem a morte é o que tem colocado o meu intelecto mais nervoso. É com desconfiança que vejo que a morte não é o fim e que, no esquema da existência, o homem não é mais do que uma combinação de átomos particularmente complexa. A noção de que a vida é uma fraude leva a perguntar: qual o espaço para a esperança? Como atenuar a obsessão pela incompreensão? É constante o borbulhar do desespero da ignorância acerca do que cada um de nós é, face à manutenção dos problemas insolúveis que o mundo nos apresenta. E são estas limitações, o julgamento que faço das imperfeições e fragilidades humanas, o lugar pequeno que ocupamos no cosmos, que me obrigam a um exame crítico e a uma constante incredulidade. O melhor de que dispomos é pouco face ao que desejamos e ansiamos, face à grandeza do que podemos dar. A beleza e a subtileza da vida não cumprem as promessas de um futuro recheado de expectativas e a vontade de realização esplêndida daquela. Motiva-me, porém, a partilha de perplexidades e a vontade de as confessar à humanidade. A expressão de uma maneira de pensar, sentir, viver e dizer quanto à dor e à desilusão por não ser o elemento humano a ter o controlo das coisas e a sua existência em mãos.


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ensar(es)

Amar Amar é gostar em demasia… Sinónimo é quase de loucura, É também uma torpe fantasia E, muitas vezes, mal que não tem cura. Se é certo que amar, amor cria, -E amor tem-no toda a criaturaMuita vez uma forte antipatia O transforma de Amor em sanha cura. Cautela, pois o amor é traiçoeiro, Fecha os olhos e fere o coração, Transforma-nos de honrado em bandoleiro Arrasta-nos do Bem à Perdição O Amor é ciúme- mal feiticeiro, O Amor, ai, afinal é aversão.

Diana Ferreira. Aluna do 10ºE


ensar(es) Especial

Concurso L

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iterário

POESIA

3º Ciclo

Pensamentos noturnos Encontro a minha força na solidão, Encontro a solidão na noite, Não tenho medo da chuva ou da ventania, Pois, também eu sou só mais um ponto no escuro da noite. As estrelas são as únicas que brilham na escuridão Elas guardam os segredos daqueles que esperam o dia, Vês o escuro a ser roubado pela luz do Sol Que faz recomeçar o nosso dia com medos. A consciência fecha-se para o mundo de novo Quando sonhamos com aquilo que queremos, Pois só possuímos uma vida E nela tens de fazer aquilo que desejas Se confiares em ti mesmo, podes até voar Porque mesmo em noite sem estrelas A lua transforma-se na tua realização, Na transparência da madrugada, Cada detalhe sem nexo conta. Quando os teus olhos fecham do nada Tu encontras-te com o teu mundo de sonho E pensas no temo perdido. Quando tudo na tua cabeça se acalma O silêncio não pode invadir As tuas lembranças, as tuas memórias E iluminada pelas estrelas, tu só pensas, “Os pesadelos vão passar com o sol de amanhã”. Gabriela Pinto. Aluna do 9ºC


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ensar(es) Especial

Concurs

o Literár

POESIA

3º Ciclo

Pensamento Penso nas palavras, Nas imagens, no momento, Nas belas figuras Que desaparecem com o tempo. Tudo se imagina! Sem pensar não há nada. Há um simples vazio Como uma vida acabada. Tudo se transforma Da maneira com queremos, Basta pensar e crer E conseguiremos! A vida é o pensamento, O pensamento que Hiberna na nossa cabeça, E na altura de este despertar, A vida começa! Luísa Chambel Gonçalves. Aluna do 9ºA

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ensar(es)

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Mais uma ida ao grande edifício Rafaela Cigarro . Aluna do 9ºB

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stava quase a chegar a casa, depois de um dia cansativo de escola. Já estava tão completamente sem energia que tive de parar, fazer uma pausa para me recompor. Sentei-me nas escadas de um grande edifício que me era familiar. Pois… era a biblioteca municipal. Quando olhava para ele lembrava-me de algo. Fiquei com os olhos postos no edifício durante alguns segundos. Não me recordava do que era, mas, de repente, lembrei-me de algo. Tinha que entregar os livros que tinha requisitado. Rapidamente pus-me em pé e fiz-me ao caminho com o passo acelerado. Ultrapassando as pessoas e pedindo desculpa por qualquer pequeno empurrão, cheguei a casa. Chegando a casa, coloquei as minhas coisas nos respetivos lugares, peguei nos livros e lá fui eu. Durante o caminho, ponho-me sempre a pensar sobre que livro requisitar e se irei gostar da sua história. Depois de terem passado cinco minutos da minha vida, deparo-me com um grande portão ornamentado. Ultrapasso-o, entrando no recinto. Subo as suas escadas de pedra e empurro a porta para conseguir entrar. Um silêncio “ensurdecedor” percorria a biblioteca… era de arrepiar a espinha. Continuei a andar. Cumprimentei as funcionárias com um simples e baixo “Boa Tarde” que mais pareceu um sussurro. Subi

outras escadas, mas estas davam acesso ao andar de cima, onde estavam eles, aqueles livros todos. Ainda a segurar os livros, “perco-me” naquele labirinto de enormes estantes repletas de livros. Sempre adorei ir àquela biblioteca, principalmente perder-me lá. É incrível a sensação que aqueles livros todos nos oferecem e aquilo que se sente quando se está lá no meio. Por vezes, penso que só queria ter aqueles livros todos em casa, mas, enfim… Continuemos a minha busca pelo livro. Todas as vezes que entro lá, parece que o tempo voa. É impossível eu não demorar mais do que uma hora. Só não demoro mais porque não posso. Durante essa hora, observo as capas dos livros com atenção, não falho nenhum detalhe, leio os pequenos resumos escritos na parte de trás e ando de um lado para o outro a “inspecionar” as estantes para ver se não escapou algum livro que me agrade. Sempre que venho em direção a ela, digo a mim mesma que não irei demorar muito tempo, mas é inevitável. Fico sempre mais tempo do que o previsto. E que outra coisa me podia ter acontecido senão isso? Foi o que aconteceu naquele dia. Às vezes, até as funcionárias me perguntam se preciso de ajuda, mas eu digo sempre que não, pois eu sei o que quero, simplesmente gosto de estar


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ali. É um sitio calmo e sossegado, onde as ideias fluem mais facilmente. É espantoso! Voltando ao assunto principal. Ainda andei um bom bocado, para lá e para cá, até o encontrar. Reparei naquele livro de capa preta, que o torna misterioso, e que tinha um título inquietante e cativante. Sem mais delongas, desci as escadas à pressa, entreguei os livros que tinha trazido e levei o livro que tinha tirado da estante. Saindo da casa onde os livros “moram”, rapidamente chego a minha casa e coloco-o em cima da cómoda.

É sempre uma surpresa quando se abre um livro. É uma explosão de emoções. Por vezes, quando leio um, o seu início não é muito interessante, mas é fundamental esta parte inicial para dar continuação à sua história. Por vezes, os pequenos detalhes fazem a diferença. Como pessoa curiosa que sou, não espero muito tempo, ou seja, sento-me na minha cama, abro o livro leio-o e leio-o, até que mate a minha curiosidade e até dizer “chega”.


ensar(es)

Estás a olhar por mim Ouço falar de ti, Mas nunca te vi. Conheço-te por outras pessoas, Infelizmente, é assim. Minha mãe sempre me diz Que, daí, estás a olhar por mim. Às vezes, não acredito, Mas tenho a esperança que sim. És o meu anjo da guarda, A estrela mais brilhante do céu. Gosto de olhar para ti, à noite, Imaginar que brinco contigo e com o teu chapéu. Minha mãe diz que eras bondoso, Mas muito exigente às vezes. Eras adorado por toda a aldeia, Adoravas todos e toda a gente. Ela não diz mais nada, Mas sente muito a tua falta… Até eu, que não te conheci Quanto mais uma filha por ti amada. Gostava que estivesses ao meu lado, Que a crescer me tivesses observado. Gostava de aprender coisas contigo, Que não fosses só a foto no meu quarto. Mas não te preocupes, Nunca serás esquecido. Serás sempre e sempre serás O meu avô muito amado. Joana Santos. Aluna do 9ºB

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A influência da imprensa Sandra Peres . Aluna do 9ºB

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em tudo o que vemos ou ouvimos é sempre verdade” é uma frase que eu sempre disse e em que sempre acreditei. De todas as várias capacidades que temos, eu acho que uma das mais importantes é conseguirmos distinguir aquilo que é verdade daquilo que não é. Muitas vezes, uma das razões de as pessoas acreditarem em certas coisas é o facto de as saberem através da imprensa, pela televisão, pelos jornais ou por uma revista. Mas será que tudo o que a imprensa nos transmite é o que acontece na realidade? Na minha opinião não, pois, muitas vezes, para terem grandes vendas de jornais e revistas ou para terem vários telespetadores a assistir aos programas de televisão, a verdade acaba por ser distorcida, para as noticias que estão a vender se tornarem mais apelativas e aliciantes. E o pior é o facto de, só para ganharem dinheiro, os jornalistas que publicam esses artigos são capazes de falar sobre a vida dos outros e mudar algo que aconteceu, sem pensarem nas consequências que essas mentiras poderão trazer. Além disso, através dos media, passa uma imagem errada que leva a vários casos de doenças, nomeadamente a anorexia. Os adolescentes, ao verem na televisão todos os modelos e atores elegantes, sentem-se mal consigo próprios

e, ao acontecer isso, acabam por recorrer a medidas extremas para conseguirem ter os corpos que veem. Concluindo, a imprensa tanto tem vantagens como desvantagens, mas, se for usada corretamente e com cuidado, contribui muito para a nossa sociedade.


ensar(es) Especi

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al

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Dezembro

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Halys . Aluna do Secundário

Q

uando soube saí de casa a correr, estávamos no início da estação fria. Voei geladamente pela neve que cobria a estrada, com as pernas a tremer, rumo à estação. Tarde de mais. Eu ainda corri, juro que corri. Mas o comboio em que seguias já tinha partido. As minhas lágrimas congelaram. O tempo parou naquele instante. Porque é que não disseste que te ias embora? Porque é que não me disseste adeus? Porquê? Na noite anterior sentei-me no banco de sempre, no bar de sempre à espera que o mundo viesse ter comigo, à espera que tu viesses ter comigo. A música estava alta, estávamos no auge da era do rock. Despi o casaco quente que me protegia naquela fria noite de inverno e ia dançando com a cabeça enquanto te esperava com os meus lábios pintados de escarlate e o vestido às flores. Já era madrugada, o bar estava perto de fechar. Eu era a única que ainda apreciava a música, desesperadamente suplicando que aparecesses. Mas não apareceste, e eu fui embora. Onde estás? Estou a morrer de frio, onde estás? A minha voz pequena nesta cidade grande, e tu do outro lado do mundo. Diz-me onde estás? É Dezembro, tenho frio. Foste voar? Está muito frio lá fora para anjos como tu voarem. Onde estás? Volta rápido, preciso das nossas conversas mornas de inverno. Aquece-me rápido ou a minha mente esquece-te rápido. Passaram eternidades, quando voltas?

Não vieste, mas não te esqueci. À medida que o inverno avançava, o meu amor por ti ia ficando congelado no tempo. Fui para o parque mais bonito da cidade, sentei-me no banco debaixo das árvores já despidas. Estava frio, muito frio. Estava a tremer, mas precisava de ali estar, precisava de te sentir. As lágrimas caiamme ao som do silêncio e tinha o olhar cerrado no horizonte. Lá longe, outra cidade. Será que te mudaste para lá? Por favor diz-me, estou a morrer neste inverno. Já nada sei de ti, esperar por ti é como esperar por sol neste inverno, é como esperar por chuva no lugar mais seco do mundo, é como esperar por flores no céu. Diz-me, por favor. É natal e tu não estás. Ter-te aqui seria o melhor presente que poderia receber. A ventania que faz lá fora é tão calma como a bomba relógio que trago no meu coração de vidro, prestes a despedaçar-se em mil bocados. Enfrentei a árvore sem ti, não sozinha mas sempre sem ti. É a mesma coisa.


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Meu Douro, meu rio Nesta tarde de fim de Inverno O sol foge-me depressa E aqui estou A tristeza dói-me na alma E procuro a paz E venho a ti Meu Douro Meu rio Minha paz e meu remanso Buscar a tranquilidade nas tuas águas Que correm suavemente Na cantilena imprecisa Do teu marulhar.

Ensinaste-me a sonhar E aprendi a amar-te E a buscar-te para a minha paz. E quando Num assomo de liberdade Galgavas margens Vi-te chegar aos pés da minha casa E não tinha medo Porque vinhas visitar-me. E depois ias, de novo Para o remanso do teu leito Namorando as lindas margens Que encontravas no caminho.

Cresce-me a nostalgia Dos meus tempos de menina Quando acordava pela manhã E corria à janela para te ver Calmo Dum azul pintado a forte Reverberando centelhas Que o sol te acendia

Meu Douro Meu rio Olha-me ainda menina Dá-me a tua paz… Continua a ensinar-me Quero aprender contigo A lição dos teus segredos

Doía-me Sim, doía-me muito Ver os rabelos Rasgarem sem piedade A serenidade das tuas águas E tu deixavas E agradecias ainda Com a espuma branca da tua paz. Vinhas não sei de onde Vinhas do lugar donde vinha o sol Depois Depois via-te ir embora Suavemente Tão suavemente que mal dava por isso Mas ias. Eu sei que ias Mas via-te ficar também E ficava contente Porque gostavas de mim

Meu Douro Meu rio Mergulho nas tuas águas O meu olhar E o meu coração dolorido E minha alma inquieta Pedem-te por piedade A bênção da tua paz. Ana Raimundo. Professora de Matemática


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Altos e Baixos Ana Xavier . Aluna do 9ºA

À

s vezes, a vida troca-te as voltas. Num momento, estás sentado no sofá, rodeado de todos aqueles que te dizem algo, com todo o barulho que possas imaginar, no seguinte estás sentado no teu quarto, com as luzes apagadas, deitado na cama a olhar para o teto, o teto que desejarias que nunca tivesse sido pintado de branco, mas sim com alguma cor que pudesse trazer um pouco de espaço ao teu interior. Num momento, tens os teus planos, sabes o que queres, quando queres e quem queres contigo. Os teus sonhos estão a ser cumpridos. E logo depois, o tempo age e não sabes onde estás, o que estás a fazer e de que serve estar ali, naquele lugar, a viver. Ao teu lado, tens aqueles que dizem que vão ajudar, que vão estar sempre ali, que dizem que vão fazer de tudo para te sentires bem. Dizem. Se tudo se resumisse a esta palavra, seria tudo muito mais fácil! Mas dizer não é fazer e então tu ficas sozinho, afastas-te daqueles a quem um dia chamaste de amigos. Aqueles que antes eram conhecidos passam a ser desconhecidos… Perguntas-te se a vida está a ser injusta contigo ou se tu já foste injusto com ela e só estás a sofrer as consequências… Tens de encontrar respostas sozinho, porque ninguém sabe aquilo que

tu sentes, és tu que o estás a sentir. Aprendes a desfrutar da tua própria companhia, pois sabes que será a única durantes uns tempos. Tentas que tudo volte ao normal, embora saibas que o normal se encontra o mais longe possível de ti. A música e o papel passam a ser os teus refúgios, tu passas a ser tua própria companhia. Nada daquilo que tens parece satisfazer-te. Uma quantidade de perguntas passam pela tua cabeça e as respostas parecem estar a jogar a uma espécie de “escondidinhas” contigo, ignorando elas o facto de que já passou o tempo em que esse jogo significou algo para ti. E há também aquelas alturas em que pensas que tudo voltará ao normal, que te encontras, não num lugar, não numa pessoa, mas em ti. Encontras-te no meio de toda a confusão da tua cabeça. Mas tudo fica apenas pelo pensar, porque no meio do teu caminho encontra-se uma pedra que é suficiente para tropeçares. E depois reparas que nunca irás escapar sozinho, caíste num buraco que está a aumentar cada vez mais e só conseguirás sair dele se alguém te ajudar a escalá-lo. Todos nós temos destes momentos. Ninguém é construído de ferro, ninguém é tão forte assim. Sempre ouvi dizer que a vida tem altos e baixos e é exatamente destes baixos que eu estou falar. Destes baixos que existem, mas que sempre serão compensados pelos altos. Pelo menos, assim o espero…


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Biodiversidade no Douro Sónia Lopes . Professora de Físico-Química

A

pesar de se situar no norte do país, a Régua possui um clima mediterrânico por se encontrar encaixada no vale do Douro e protegida dos ventos atlânticos pelo maciço Marão-Alvão. O nosso microclima reflete-se na vegetação. A vegetação de porte arbóreo é sobretudo constituída por sobreiros e azinheiras (conhecidas na região como carrascos), mas também carvalhos e pinheiro bravo sintomas de alguma atlanticidade.

A cornalheira e o sumagre são arbustos de folha caduca, uma exceção na vegetação mediterrânica. Este último foi de grande importância económica para a região nos séc. XVI e XVII. De porte inferior encontra-se a esteva, estevão, sangalho, rosêlha, bela-luz, espargo bravo, giesta, tojo, urze e rosmaninho.

Rosmaninho, Lavandula pendunculata

Sobreiro, Quercus suber

A vegetação arbustiva é composta por zimbro, zêlha, medronheiro ou êrvedo, lentisco, trovisco, jasmineiro e madressilva.

Medronheiro, Arbustus unedo,com mais de um século

Podemos ainda encontrar: • 24 espécies de plantas bravias comestíveis entre elas: acelga brava, agrião, azedas ou vinagreiras, beldroega, chicória-brava ou Almeirão, espargo bravo, fiôlho ou funcho ou as urtigas.

Funcho, fiolho ou erva-doce, Foeninculum vulgar


ensar(es) • 16 espécies de plantas bravias de frutos comestíveis como o abrunheiro-bravo, a aveleira-brava, a cerejeira-brava, a framboeseira, a Groselheira-espim, o marmeleiro bravo, o medronheiro, o mirtilo, o morangueiro-bravo, o sabugueiro ou a silva.

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• muitas plantas medicinais como a urtiga ou a erva-de-São-Roberto;

Erva-de-S. Roberto, Genciana robertianum

Fruto da cerejeira brava, Prunus avium

• Mais de 100 espécies de cogumelos; • 3 endemismos, um deles só existe aqui na Régua, o Falso-trevo-de-quatro-folhas, Marsilia quadrifólia. Nas zonas ribeirinhas predominam os amieiros, salgueiros, freixos, choupos e o tamujo (um salgueiro espinhoso).

• 17 espécies de plantas condimentares: zimbro, tomilhos, rosmaninhos, funcho, Alecrim entre outras.

Rio Douro na cheia de abril de 2016

Alecrim, Rosmarinus officinalis


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Homem do Cesto Isabel Babo . Professora de Artes Visuais

O

de ao Homem que carrega o cesto. Esta obra descreve a natureza do trabalho e a emoção do trabalhador na vindima. As mãos estão em posição realista do ato de segurar o cesto e o rosto representa o esforço e o orgulho, traduzido nos lábios em tensão. O cesto é representado, sob a forma de uma caixa/tesouro, com a impressão real de um cesto, numa alusão à importância que o trabalho na vinha tem para o homem do Douro.

HOMEM DO CESTO. Escultura

Obra reproduzida em escala de cinzas


ensar(es) Coordenação Professores de Filosofia Redação A. Marcos Tavares José Artur Matos Manuel Ferreira Colaboradores/Alunos Ana Fernandes, Ana Xavier, Ariana Lopes, Bárbara Queirós, Carlos Carvalhosa, Carlos Santana, Cátia Coutinho, Daniela Silva, Diana Ferreira, Gabriela Pinto, Helena Marques, Inês Arcanjo, Joana Machado, Joana Santos, João Morgado, João Pedro Pereira, José Montenegro, José Pedro Fonseca, Luísa Chambel Gonçalves, Luísa Mamede, Maria Beatriz Trindade, Mariana Clérigo, Patrícia Fernandes, Rafaela Gonçalves, Sandra Peres, Sofia Augusto Colaboradores/Professores Ana Raimundo, A. Marcos Tavares, Conceição Dias, Fernando Fidalgo, Isabel Babo, João Rebelo, José Artur Matos, Manuel Ferreira, Pedro Babo, Pedro Miranda, Sónia Lopes Participação Especial Centro Escolar das Alagoas Centro Escolar da Alameda Design, paginação e imagem da capa José Artur Matos Impressão Imprensa do Douro Tiragem: 300 exemplares

ensar(es)

1999 . 2017


DOURO Património Mundial da Unesco “Douro verdejante de socalcos vinhedos, sustentam paixões de um Povo vigoroso que produz da sua terra sonhos e encantos.” António Barroso


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Articles inside

Meu Douro, meu rio

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page 54

Biodiversidade no Douro

1min
pages 56-57

Altos e baixos

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Dezembro

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page 53

A influência da imprensa

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page 52

Pensamento

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Estás a olhar por mim

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page 51

Grande edifício

3min
pages 49-50

Amar

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Quero tempo

2min
page 45

A vida - conto de fadas?

3min
pages 43-44

João Lobo Antunes

5min
pages 34-36

A dimensão religiosa do humano

3min
pages 38-39

Eutanásia

2min
page 40

Quem sou eu?

1min
page 42

Soltam-se as Palavras

2min
pages 32-33

Especial Centro Escolar

2min
pages 28-31

Devia olhar-te

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page 23

Quarto Azul

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page 37

Andar negro

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page 18

Talvez

1min
page 22

Clarim da Verdade

6min
pages 19-21

A hora prateada

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page 16

Quero ser eu

1min
page 17

Editorial

1min
page 4

Direitos dos animais

2min
pages 12-13

Coisas do destino

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Liberdade política

5min
pages 8-9

Poeta da Lua

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page 10

Igualdade e justiça

2min
page 15

Dois corpos unidos

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page 7

Um corte mais profundo

1min
page 11
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