ensar(es) 1999-2015
Revista Escolas | João de Araújo Correia
Nº 20 - Maio 2015
Imagem: http://www.webdesignhot.com/
Escolas | João de Araújo Correia «Deparou-se-nos há dias (...) uma árvore feliz. Foi um acontecimento! Árvore feliz é coisa rara como homem feliz. (...) Ficaríamos a contemplá-la até ao fim do mundo se ninguém nos dissesse: vamos, que são horas.» João de Araújo Correia, Pátria Pequena (1961)
AS ESCOLAS TAMBÉM PODEM SER FELIZES
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Índice Editorial: A Solidariedade A. Marcos Tavares Ser Professor Conceição Dias A excessiva importância que... Carolina Monteiro A Família Nicole Vieira A adolescência Maria Catarina Magalhães Pátria do desejo Raia Serra O mundo pula e avança Ricardo Sequeira A propósito do Sermão de... Micaela Monteiro Liberdade de pensamento A. Marcos Tavares Carpe diem Diana Silva Ano novo vida nova Ana Gomes A complexidade do cérebro ... Rita Marques As malas, os homens e as... Fernanda Sousa Fundamentalismo Islâmico Tiago Alves As questões da participação... Manuel Ferreira As novas tecnologias Ana Rita Sequeira Tu! Carlota Pinto As palavras leva-as o vento Cátia Cardoso Violência Catarina Pimenta Subitamente, no horizonte... Agostinha Araújo Pedaços de Nada Ana Meireles Os dias e as palavras José Artur Matos
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Os homens comem-se uns... Clara Magalhães Desabafos de um aluno surdo Cristóvão Pereira Terrorismo, ismo, ismo, ismo... João Alves Memórias Ana Catarina Xavier Desabafos Diogo Miguel Será que a conversa cara a cara... Filipa Gonçalves Uma questão de perspetiva Guilherme Lopes A vida de uma vida João Pedro Pereira Siriza e a Cultura Europeia João Rebelo Reflexão José Guedes As TIC na aprendizagem dos... Lina Aires Saber perder José Pinto Um lugar estranhamente vazio... Margarida Almeida Sociedade Joana Oliveira Objetivo cumprido Rogério Faceira E quando...? Maria Inês Alves A paz Maria Inês Santos Poder da imagem Ana Fernandes Ninguém se entende Inês Mesquita Biblioteca Colorida Marta Alves O preço das palavras Sara Peres World Press Photo 2015 Mads Nissen
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Editorial
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Massimo Sestini in Sic Notícias
A solidariedade
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ois conjuntos de acontecimentos têm marcado os últimos tempos: o carrossel de atentados e a trágica morte de pessoas afogadas no Mediterrâneo. Ambos têm matado milhares de seres humanos e ambos resultam da insanidade de outros seres, que nem parecem humanos. Ou então são «demasiado humanos», como diria Nietzsche.
A fúria devastadora dos radicais fundamentalistas estende os seus atentados às vidas e às próprias raízes culturais da Humanidade. Ceifa vidas humanas e arrasa patrimónios culturais universais, como as cidades de Nimrud e Hatra, no Iraque. Não só mas também por causa disto, milhares de pessoas provenientes da África e da Ásia, encurraladas às centenas em pequenos e velhos barcos de pesca por máfias impiedosas, são tragadas pelas águas do Mediterrâneo. Fugindo à violência, à fome e à guerra, crianças, mulheres e homens procuram uma vida mais digna na Europa, mesmo sabendo dos imensos perigos que enfrentam. Como dizia um deles, «é preferível morrer nas águas do Mediterrâneo à procura da liberdade, do que viver subjugado pelos senhores da guerra». A União Europeia tem sido muito parca nos apoios que presta. Os ricos do norte têm deixado aos pobres do sul (Itália e Grécia, sobretudo) a responsabilidade de prestar auxílio e de receber toda essa gente escorraçada das suas terras. A solidariedade entre os povos, um dos principais objetivos da UE, e tão proclamada em fóruns internacionais, pouco se tem exercido na prática. Por toda a sua história, a Europa devia estar mais atenta e solícita. A revista Pensar(es) deixa ainda uma palavra solidária para todos aqueles que, no dia 25 de abril, foram atingidos por violento sismo, sobretudo no Nepal. A. Marcos Tavares
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Ser Professor… Conceição Dias . Professora de Inglês
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Preocupa-me esta sociedade permissiva, perniciosa, este faz de conta, este desleixo com que as famílias criam os mais novos, tão cheios de direitos e tão vazios de deveres.
É
duro ser professor! É tão duro… Por vezes, no corredor da minha escola, ao passar apressadamente pelos meus colegas de trabalho, sinto-os cansados, como que desencantados da profissão ingrata que tanto exige deles, de mim e que pouco ou nada reconhece a labuta diária de quem, por natureza do ofício e vocação pessoal, decidiu abraçar esta profissão acreditando estar a prestar um serviço imprescindível ao desenvolvimento de cada jovem, afiançando estar a contribuir para uma sociedade mais critica, dinâmica e equitativa. Ser professor para mim e muitos tantos como eu é mais do que ensinar conceitos, matérias, regras, orientar raciocínios. Ser professor é formar mentalidades, é tornar fecunda e inquiridora a mente de todos os jovens que connosco se cruzam, alguns ávidos de saber, outros nem tanto, diga-se, mas todos à procura de
novas experiências, novos desafios, de orientação, de carinho, de atenção… Um sábio ditado chinês profere que ao professor cabe abrir o portão do conhecimento, do discernimento, da lucidez mas é sempre, sempre ao aluno que compete atravessá-lo. Lembro constantemente este provérbio, constantemente o digo aos “meus meninos” na esperança que pelo menos alguns deles se esforcem por abrir e atravessar o dito portão… Há sempre alunos que o fazem, felizmente, que querem saber o que está para além dele, que querem sempre mais… São estes jovens que nos fazem caminhar nos corredores da escola, são eles que nos obrigam a dar sempre o nosso melhor, que não nos deixam desistir e colocam no nosso rosto um sorriso. São estes alunos que nos deixam mensagens carinhosas num registo de avaliação, que nos presenteiam com quadras, poemas, cartas de
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despedida e agradecimento, que nos desejam boas férias e por fim, agora que voos mais altos se avizinham nas suas tenras vidas, esperam que tenhamos alunos que apreciem o nosso trabalho porque” A professora merece!” Eu tive alunos assim, eu tenho alunos assim que guardo nas minhas memórias, que lembro com carinho, que me procuram na escola para saberem de mim, para me darem a saber deles… São filhos da alma… Hoje, fruto de vários condicionalismos económico sociais e constantes alterações politico educativas tudo parece ter mudado…. Frequentemente deparo-me com jovens sem expetativas, sem objetivos de vida, em crise emocional, que deambulam numa sociedade decadente que parece não acreditar mais nos valores morais que a fundamentam, nem nos créditos que um trabalho consistente e perspetivado poderá trazer aqueles que
diariamente labutam por “um lugar ao sol”. Tudo mudou em tão pouco espaço de tempo, tudo mudou e não foi para melhor, atrevo-me a dizer. Preocupa-me esta sociedade permissiva, perniciosa, este faz de conta, este desleixo com que as famílias criam os mais novos, tão cheios de direitos e tão vazios de deveres. Preocupa-me este “dolce far niente” em que a maioria dos nossos jovens vagueia, esta falta de visão e esforço que tanto os carateriza e que agem como se a sociedade lhes devesse alguma coisa, como se todos tivessem a obrigação de lhes assegurar alimentação, transporte e demais regalias sociais sem que eles tenham o dever de cumprir, minimamente, com as suas obrigações. Questionados sobre estes fatos as respostas são as mais variadas, pouco dignas mas variadas; uns acham que podem fazer tudo o que lhes apetece menos o que lhes é exigido. Que lhes
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poderá acontecer? Nada. Por mais que agridam com palavras e ações continuam a usufruir das benesses que o estado social lhes oferece, que o ensino para todos lhes proporciona. São estes os futuros adultos que querem viver do rendimento mínimo, tal como muitos dos seus progenitores e que chegam aos dezoito, dezanove, vinte anos sem curso e sem ofício. A escola é tida como um passatempo, um local de encontro de pares e os professores e demais comunidade educativa joguetes das suas vontades. Passou a ter graça medir forças, desafiar regulamentos, infringir ou não cumprir sanções; são os maiores da escola, é assim que se veem e sentem, “pequenos” déspotas que fazem valer a sua vontade ou pelo menos acreditam que sim. Pobres diabos inconsequentes, pobres diabos… Pergunto-me, como professora reflexiva que sou, se a culpa será só deles, dos genes que lhes não coube escolher, dos pais que fingem não ver, dos professores tão preocupados que estão em cumprir metas. Que metas, questiono-me? As metas do sucesso educativo imposto pela tutela ou as metas da formação integral do seu humano? Temo que as primeiras se sobreponham às segundas por imposição de um ministério alienado da realidade vigente e que sentado no conforto do seu gabinete legisla, determina, altera programas e adultera regras de jogo, sem qualquer consideração por aqueles que o servem. Também aqui os professores são joguetes da vontade ministerial; postos à prova apesar das provas dadas; humilhados publicamente; responsabilizados pelos fracos resultados escolares. É-lhes exigido que formem cidadãos responsáveis mas que o façam sem autoridade, sem ferir suscetibilidades, sem cadeia hierárquica, sem princípios orientadores do trato social. É desgastante ser professor. É assim que me sinto por vezes, desgastada e impotente perante situações que diariamente acontecem e que fogem ao meu controle…Sinto pena destes alunos “difíceis”, destes seres tumultuados que nascidos em estado bruto se foram, sucessiva e lentamente, tornando “civilizados selvagens”.
Sinto pena de mim por não saber mais o que fazer… Hoje ao chegar ao pavilhão C embato, literalmente, em duas ex-alunas, jovens lindas, de mente sã, olhar vivo e curioso… “Tenho saudades suas, professora”- diz uma delas. ”Dê-me um abraço”- diz a outra. E abraçou-me, a mim, à carteira, à pasta, à pressa com que me dirigia para a sala de aula… Ali fiquei abraçada por ambas, reconfortada no meu cansaço, apaziguada no meu desencanto, tonificada no meu desgaste. Como estava a precisar deste abraço…
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A excessiva importância que a sociedade dá à imagem Carolina Monteiro . Aluna do 11º A
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A procura da perfeição física pode ser tão intensa que as pessoas sentem mesmo necessidade de cirurgias para retocar partes do corpo que consideram imperfeitas.
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busca incessante da imagem perfeita é um assunto da atualidade. A sociedade faz de tudo para alcançar aquilo que considera a “perfeição”. O corpo magro é sinónimo de beleza, poder e sensualidade e esse ideal leva cada vez mais pessoas (adolescentes e adultos) a grandes regimes, sendo o principal foco estar bonito e ser aceite pela sociedade. Alcançar este ideal de beleza tornou-se, então, um objetivo, uma verdadeira corrida contra o tempo. Nos nossos dias, vemos homens e mulheres insatisfeitos com o seu aspeto e com o seu físico. De todos os lados - revistas, jornais, televisão, redes sociais… - nos chegam imagens que mostram corpos lindos e perfeitos. Na minha opinião, o aumento da publicidade focando modelos magras e esbeltas faz com que cada vez mais adolescentes desencadeiem transtornos
alimentares, colocando a sua saúde em risco. Por outro lado, mulheres e homens, com seus corpos gastos pela gravidez ou pelo trabalho e com a autoestima reduzida ou mesmo extinta, utilizam vários cosméticos para obterem uma imagem ideal, pois, no caso específico da mulher, esta, ao usar maquilhagem ou outros produtos de beleza e ao tomar comprimidos para emagrecer, sentese mais bonita, desejada, atraente e completa, não pensando que pode pôr a sua saúde em risco. A procura da perfeição física pode ser tão intensa que as pessoas sentem mesmo necessidade de cirurgias para retocar partes do corpo que consideram imperfeitas. É fácil encontrar na Internet fotos de várias celebridades que gastam muito dinheiro para se submeterem a cirurgias plásticas, mas que acabam por ficar com o rosto desfigurado. Concluindo, estamos a viver numa sociedade onde o consumo é muito valorizado e onde os valores materiais e estéticos governam as nossas vontades. Essa ânsia da perfeição faz com que homens e mulheres escravizem os seus corpos, contraindo, muitas vezes, doenças e, outras vezes, tendo baixa autoestima. A corrida para o “belo” leva as pessoas a não se importarem com as consequências, visando somente a beleza exterior.
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A Família… Família são laços…
Laços de sangue, laços de amor! É aquilo que nos faz viver,
Que nos faz o medo esquecer! É aquilo que nos une,
Que nos dá alegria e força!
Que nos faz os sonhos procurar,
E os verdadeiros caminhos encontrar! Família são aqueles que nós escolhemos, E que não queremos largar!
São aqueles que é difícil esquecer, E que momentos nos fazem lembrar. A família que queremos proteger…
A família que queremos surpreender… E que por tudo isso, É-nos tudo na vida.
A família que não queremos perder, Mas que algum dia irá desaparecer. A família que nos faz crescer, E nos faz pensar,
Em tudo o que vamos aprender! Nicole Vieira . Aluna do 11º C
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A adolescência Maria Catarina Magalhães . Aluna
do 7º B
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Durante a adolescência (…) tentamos sempre dar nas vistas Diambra Mariari in http://www.diambramariani.it/
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este texto, vou refletir um pouco sobre mim e sobre a adolescência, uma das piores fases da vida.
Durante a adolescência, tentamos sempre ser melhores que os outros, tentamos sempre dar nas vistas… Será assim para o resto da vida ou será só nesta fase? Todos os adolescentes tentam seguir as modas, são todos iguais, muito monótonos… Além disso, vão atrás dos “maiores”, só para serem mais conhecidos… Por mim, eu só quero é ser diferente deles todos! Gosto de me sentir especial, gosto de me sentir diferente, não ser igual a todos os outros, e fazer a diferença. Quando estamos na fase da adolescência, pensamos, também, as piores coisas acerca dos nossos
pais e não damos valor ao que eles fazem por nós… e não confiamos neles… guardamos sempre segredo de tudo, mas eles acabam sempre por descobrir e ainda é pior para nós… Eu aconselho todos os adolescentes a serem eles próprios, a não se importarem com a opinião dos outros e a fazerem aquilo de que gostam. E quanto aos pais, têm de se lembrar que, um dia, eles não estarão cá para nos ajudar, por isso aproveitem o seu apoio e sejam felizes!
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Pátria do desejo Rosa branca que rasgas a noite na invisível mão de um anjo A tua luz surge como o deslumbre de um parto Inunda a pulsante infância do amor
Sob a materna mudez de uma macieira na sombra
Alimenta a minha doce e vertiginosa mendicidade
Encanta-me com a tua suplicante lucidez de pássaro Uterina razão dos meus exilados dias
Traz-me lábios que a ninguém pertençam
Enquanto dura o delírio da absoluta pátria do desejo Acerta o teu corpo no relógio da incerteza Muda a genética cor dos meus olhos
Ou então celebra comigo a biografia do silêncio. Raia Serra
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O mundo pula e avança* Ricardo Sequeira . Aluno
do 12º C
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Devemos, por isso, aceitar que tentar nem sempre é sinónimo de conseguir, contudo quem conseguiu certamente arriscou.
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uperior a uma simples e bela ilusão, o sonho é deveras ‘uma constante da vida’ que pode ser encarado como o ponto fulcral de todas as conquistas da sociedade. Mais que a estulta base do ambiente que nos envolve, é o leme do progresso que não causa aborrecimento, conforme manifestou Fernando Pessoa: “De sonhar ninguém se cansa”. Num momento ou outro ao longo do nosso percurso, aspiramos seguramente a alcançar um determinado patamar, patenteando-se assim a avidez. E se porventura nos questionarmos sobre a motivação de tal objetivo, essa será sempre a necessidade de superação que se encontra latente em cada um dos mortais. Vejamos o caminho universitário por onde estamos a procurar enveredar: é decerto uma pretensão pela qual lutamos durante largos anos, e este pode ser o caminho para que o mundo acelere, para que cada um de nós viva e se transforme. Diversas são as conjunturas relatadas na História que fizeram a sociedade sofrer metamorfose.
Atentemos no caso do povo lusitano que, por cobiçar não só riqueza como também por buscar evidenciar-se como uma nação imperante, se lançou à conquista dos novos mundos, o que implicou reformas a diferentes níveis, não só aos habitantes do velho continente, como também aos dos povos dominados. Fixou-se um intercâmbio de saberes que abriu horizontes e se veio a traduzir em puro e irreversível progresso. Lamentavelmente, há objetivos nos quais receamos apostar, o que implica um descrédito das nossas capacidades. Devemos, por isso, aceitar que tentar nem sempre é sinónimo de conseguir, contudo quem conseguiu certamente arriscou. Escolher caminhos sinuosos, arquitetar planos açambarcadores e resguardar a sua concretização não significa necessariamente fracasso. Apenas neste sentido é possível atingir a tão apetecida realização pessoal, e só assim ‘O mundo pula e avança’. * ‘Sempre que o homem sonha O mundo pula e avança’ (António Gedeão)
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A propósito do Sermão de S. António aos peixes Micaela Monteiro . Aluna do 11º E
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Vivemos numa sociedade onde importa mais o ter do que o ser.
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ivemos num mundo cada vez mais consumista em que os tradicionais valores de respeito, solidariedade, e justiça, foram substituídos pelo desejo de poder sobre os mais pobres. Na minha opinião, a sociedade não está a desenvolver um trabalho de cooperação. Se houvesse cooperação não existiria tanta pobreza e tantas pessoas em situações extremas: sem habitação e sem rendimento. Haveria um equilíbrio entre a população e não tanta desigualdade, na medida que alguns são muito ricos e outros muito pobres. Para explicar como a ganância dos poderosos acaba com o sonho dos humildes, o Padre António Vieira dizia que “ Os grandes comem os pequenos”. Na utopia o consumismo é apresentado em segundo plano. Ora, como esperamos estabelecer uma aproximação aceitável da civilização ideal, quando nos dias de hoje, o Homem perdeu o domínio de consumo, e o consumo ganhou domínio sobre o Homem? Uma sociedade onde importa mais o ter do que o ser, onde as pessoas são influenciadas por marcas e o desejo infindável
de obtenção de objetos, onde o consumo é o combustível que polui tantas vezes as nossas vidas! Já dizia o grande filósofo Descartes: “Eu penso, logo existo”, não sabia ele que estas necessidades fúteis nos bloqueiam o pensamento. Atualmente a tão célebre frase seria “ Eu tenho, logo existo”: parece que são as necessidades fúteis que comandam a nossa existência. Vamos supor que o dono de uma loja convoca dez pessoas para uma entrevista. Há grandes possibilidades da pessoa que for escolhida ser aquela que se apresenta mais bem vestida, porque “ a aparência é a primeira ideia que temos sobre uma pessoa que não conhecemos”. Acho que se o trabalho fosse feito da maneira correta, como alguns dizem, de facto esses problemas já estariam resolvidos. Há algumas instituições, tais como a UNICEF, a ONU, a APAV (em Portugal), que se esforçam, mas não é o suficiente! Recentemente, o dono de uma marca de roupa de alta-costura, Abercrombie, declarou á impressa que preferia deitar os seus produtos ao lixo a dar aos mais carenciados. O mundo reagiu às desumanas declarações, com profunda perplexidade e reprovação, mas se pensarmos bem, quantas vezes não nos livrarmos de algo que poderia ser aproveitado por alguém? Para finalizar, acho que o mundo ainda precisa de muita mudança, talvez a utopia seja inalcançável, mas é preciso trabalhar mais nesse sentido, é necessário acabar com muitas injustiças, mesmo que não seja possível acabar com todas.
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Liberdade de pensamento A. Marcos Tavares . Professor de Filosofia
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Em circunstância alguma é justificável um ataque à liberdade de pensamento.
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. Neste ainda jovem séc. XXI, tem imperado um monstruoso carrossel de atentados, que já ceifou milhares de vidas. O ciclo do ódio não para, desde que dois aviões foram lançados contra as torres do World Trade Center, matando 3.017 pessoas e ferindo mais de 6.300. Um dos atentados mais mediáticos pelo seu simbolismo, por ter ocorrido na tradicional capital europeia da cultura e por ter juntado, em grandes manifestações de repúdio, intelectuais, artistas e políticos, foi o ocorrido naquela fatídica manhã do dia 7 de janeiro de 2015, em Paris, quando três homens armados entraram na sede da revista semanal “Charlie Hebdo” e mataram 12 pessoas. Este assalto assassino, que passou a simbolizar todo a tentativa de silenciar a liberdade de pensamento, é o mote para o presente texto, onde se procura apresentar uma leitura sobre a raiz e o significado de tanta violência. 2. Todo este terror, que se vem multiplicando,
parece questionar a racionalidade humana e faz pensar sobre se, de facto, o ser humano caminha para uma fase de realização superior ou estará a cavar a sua própria ruína. O séc. XVIII trouxe a afirmação do iluminismo, da racionalidade e da liberdade. O séc. XIX começou a circunscrever a racionalidade a uma mentalidade egocêntrica, totalizante, cientificista e positivista, abominando em certa medida o diverso e o diferente. No séc. XX, assistiu-se ao falhanço da modernidade como pretensão de fundamentação universal dos grandes valores: foi o século das mais destrutivas guerras de que há memória. Face a estas dolorosas experiências e confiando ainda na sensatez humana, esperava-se que, no século XXI, ressurgisse a interioridade, que o ser se impusesse ao ter; a esperança era tal que, nos finais do séc. XX, alguns pensadores falavam mesmo de um próximo século de espiritualidade. E ao que se assiste? Ao radicalismo, ao fundamentalismo, ao fanatismo, à mais insana
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irracionalidade. Os fanáticos do ódio não param.
Confesso que fiquei chocado com a posição de alguns, que procuravam justificar o atentado de 7 de janeiro, em Paris, com o principal argumento de que o hebdomadário, ao publicar as caricaturas de Maomé, teria violentado as convicções religiosas de outros. Dito de uma forma sem enfeites: a revista estaria mesmo «a pedi-las». Como se o invocado desrespeito pelas convicções religiosas de uns fosse motivo válido para destruir o valor fundamental em qualquer sociedade que se pretenda verdadeiramente humana: a liberdade de pensamento! Prefiro falar aqui de liberdade de pensamento em vez de liberdade de expressão; com efeito, julgo aquela mais ampla do que esta. Porque não há pensamento sem linguagem e porque o pensamento quer manifestar-se na vida e na realização das pessoas, a liberdade de pensamento concretiza-se na liberdade de expressão, na liberdade de opção, na liberdade de associação. Decerto que tanto a liberdade de pensamento como o respeito pelas convicções dos outros são valores. Mas o problema de fundo que aqui se coloca é este: numa situação de conflito, qual deles é mais valioso? Qual deles deve prevalecer? Todos os valores «valem», mas, em situações extremas de confronto, não será legítimo estabelecer uma hierarquia? Penso que a liberdade de pensamento, que no caso presente se materializa na liberdade de expressão, é a mais fundamental. Na verdade, é à sua luz que se explica o respeito pelos outros – pelas suas ideias, crenças, convicções. Como tal, e esta é a minha tese, em circunstância alguma é justificável um ataque à liberdade de pensamento. Por duas razões essenciais: em primeiro lugar, porque sem liberdade de pensamento
Helena Almeida, Ouve-me
3. Por muito que se queira compreender este ódio, por muito que se tente explicar pelos excessos do imperialismo ocidental, não é possível aceitar tais monstruosidades impiedosas.
também não seria possível respeitar as ideias dos outros, pelo simples motivo de que a força bruta (seja a de poderes instituídos, seja a de grupos fundamentalistas) se encarregaria de anular qualquer veleidade de ideias diferentes; em segundo lugar, porque atentar contra a liberdade de pensamento, por pretensamente não se estar a respeitar as crenças próprias, para além de contraditória, é uma atitude redutora, etnocêntrica e absolutista – é querer impor à força a própria opinião a todos os outros, tomando-a como superior e inquestionável. 4. Em suma, não se vê justificação eticamente aceitável para a atitude assumida por aqueles que, por não concordarem com o conteúdo das publicações da revista, intentaram silenciar pela violência mortífera a liberdade de pensamento/ expressão. É uma posição dogmática e totalitária, própria de quem considera que os únicos valores «valiosos» são os seus e que, portanto, todas as demais pessoas devem aceitar, nem que para tanto seja necessário impô-los pelo recurso à violência e à morte. Acresce que, sendo o «Charlie Hebdo» um semanário humorístico, mais ferve a fúria dos fundamentalistas. É que, como diria Umberto Eco, «O fundamentalista é desprovido de sentido de humor, porque o humor é um instrumento crítico».
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Carpe diem Diana Silva . Aluna do 12ºA
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É pena que só demos valor ao que temos de bom na vida quando o perdemos.
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ual seria a piada de viver o mesmo momento várias vezes, sabendo que em nenhuma delas iria reparar em todos os pormenores que o compõem? Se tivermos a noção de que teremos tempo de perceber algo mais tarde, nunca iremos tentar aproveitar ao máximo o momento em que aconteceu pela primeira vez... É um pouco como os filmes: da primeira vez que os vemos apenas reparamos naquilo que nos salta mais à vista e nem nos apercebemos que há certos pormenores que nos estão a escapar; mas qual é o problema se os podemos voltar a ver mais tarde e reparar em tudo o que nos escapou? Eis a questão que vos deixo: se apenas pudessem ver um filme uma única vez, preferiam repara nos pormenores ou nas partes que mais saltam à vista e por vezes são as mais banais? Bem, a minha resposta seria que se devia atentar nos pormenores, mas sendo que eu não sou uma pessoa muito atenta ao que me rodeia iria deixar escapar metade...
Mas esta pergunta não se aplica apenas aos filmes, mas também à nossa vida em geral... Posso não ter vivido muito tempo por enquanto, mas o que vivi serviu para perceber o quanto temos de reparar naquilo que não está mesmo à frente dos nossos olhos e talvez por isso eu esteja sempre com as “antenas” no ar como muitos dizem. Simplesmente não quero perder as partes mais emocionantes de ser jovem e não é preciso sair até de madrugada, fumar ou até mesmo andar a fazer sexo com todos os rapazes que nos aparecem à frente para aproveitar o que há de melhor, simplesmente podemos encontrar outras formas de diversão e nenhuma delas tem de passar por algo desagradável. É pena que com o tempo e a evolução da sociedade algumas “regras” se tenham perdido entre os jovens, é pena que com o tempo os nossos próprios pais tenham passado para segundo plano em alguns casos, é pena que só demos valor ao que temos de bom na vida quando o perdemos...
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Ano novo vida nova O nascimento é vida
Fruto de quem é amado O ano novo a nascer É um tempo renovado Vamos também renovar
Tudo quanto seja amor Para poder ajudar
Fazer um mundo melhor Cesse a guerra no mundo Acabe a calamidade
Deus semeie o seu amor
Para enraizar a amizade Ana Gomes . Aluna do 12º C
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A complexidade do cérebro humano Rita Marques . Aluna do12ºA
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É através deste ritmo lento de crescimento que o Homem consegue adquirir autonomia e ultrapassar a sua imaturidade e dependência dos outros.
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té o Homem se tornar um ser tão complexo como é hoje, teve de sofrer transformações tanto ao nível físico como ao nível psicológico. Neste percurso, é importante destacar a complexificação do cérebro. O cérebro começou por assumir um papel importante nas relações competitivas entre indivíduos ou espécies, sendo eficaz no desempenho de funções ligadas à sobrevivência e nas atuações repentinas, nas quais não havia a intervenção do pensamento. É o chamado cérebro reptiliano, característico dos répteis. Com uma maior complexificação, surgiu o cérebro paleomamífero, característico dos mamíferos inferiores. Era relevante na coordenação entre memória e afetividade, o que resulta na organização das nossas lembranças associadas aos sentimentos e emoções.
O mais recente é o cérebro neomamífero, ou neocórtex, exclusivo do chimpanzé e do ser humano. Sendo o mais recente, é também o mais elaborado, o mais evoluído e o mais complexo. É dele que dependem as aprendizagens, a criatividade e todas as funções específicas dos humanos, tais como a capacidade de reflexão. Segundo a tese de Paul MacLean, o Homem possui todos estes três cérebros num. No entanto, esta tese não é aceite por todos e gera alguma controvérsia no campo científico. Assim sendo, o mais usual é que seja o cérebro neomamífero a agir na maior parte dos casos, visto que somos seres evoluídos com inteligência, criatividade e capacidade de reflexão. O desenvolvimento cerebral do Homem acontece muito mais lentamente do que em qualquer outro ser vivo. Da mesma forma, o desenvolvimento cerebral acontece muito mais
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Helen Pynor
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lentamente do que o de qualquer outro órgão. Do mesmo modo que a prematuridade do ser humano lhe permite aprender e adaptar-se ao meio, também a prematuridade do cérebro, que se mantém durante toda a vida, permite a adaptação biológica do homem. A lentificação no ritmo de desenvolvimento é de extrema importância, visto que possibilita a complexidade. É através deste ritmo lento de crescimento que o Homem consegue adquirir autonomia e ultrapassar a sua imaturidade e dependência dos outros. A lentificação está intimamente relacionada com a individuação. A individuação é o processo de singularidade e autonomia que permite a cada ser humano escapar à padronização específica, comportando-se de modo original. Este processo ultrapassa a programação genética, tendo influência das experiências do meio durante toda a vida.
O cérebro é um órgão maleável que se modifica consoante as experiências, as perceções, as ações e os comportamentos. Assim, a relação entre o indivíduo e o meio produz modificações cujo único objetivo é melhorar a adaptação e evoluir na aprendizagem. A plasticidade cerebral é essa capacidade do cérebro de se alterar, adaptandose, em função da aprendizagem, da memória e das experiências e necessidades do sujeito. As redes neuronais modificam-se em função das experiências vividas e é esta plasticidade fisiológica que confere flexibilidade ao ser humano, permitindo a aprendizagem ao longo da vida, o que leva a uma adaptação mais eficaz.
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As malas, os homens e as mulheres Fernanda Sousa . Professora de Inglês
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As malas são fiéis companheiras, testemunhas silenciosas de perdas e vitórias.
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ão objetos misteriosos para eles e frequentemente suscitam comentários de “olha lá, o que levas aí nessa mala tão pesada?” Ora, clarifiquemos este mistério do Universo, as malas das mulheres, qual programa de Morgan Freeman. As malas, quer de marca XPTO ou, passando pelo prisma todo até ao polo oposto, vindas dos nossos amigos do outro lado do mundo, são fascinantes e indispensáveis. Uma mala é um “wormhole”, uma passagem para outro mundo, onde as leis da Física do mundo natural não se aplicam. Ali está a Física Quântica, o mundo do muito pequeno, em que parece que se vê o que se vê, mas de repente já não está lá, está outra vez, não está. Os objetos escondem-se, fogem, quem sabe, para realidades paralelas… A mala é também uma máquina do tempo sem direção certa. São as fotos da comunhão do Francisco, do verão em que se ia de férias ou daquele familiar que já partiu, a conta da água, o porta-moedas, cada vez mais leve, o antibiótico da Maria, as chaves do carro, que nunca se
encontram à primeira, o telemóvel, que fiel à lei de Murphy irá tocar no trabalho no único dia em que não ficou em silêncio, o bilhete da última ida ao cinema, o pacote das bolachas, o iogurte líquido e até, num bolso lá do fundo, um sonho que um dia se pensou viver, há muito perdido ou desperdiçado. Guardando pequenos, grandes tesouros, segurando memórias juntamente com lixo reciclável, as malas são verdadeiros kits de sobrevivência em caso de catástrofe natural. Qualquer mulher, face a tal situação, abriria a sua mala e facilmente retiraria duas tabletes de chocolate, uma garrafa de água ou mesmo duas latas de atum e uma muda de roupa, truques aprendidos com o Sport Billy. Às vezes, maltratadas no chão, outras abandonadas numa cadeira ou mimadas ao colo, as malas são fiéis companheiras, testemunhas silenciosas de perdas e vitórias. Caminhamos aconchegando-as a nós como ente querido. Eles dirão que é moda, que facilita o andar ou que é hábito mas nós, mulheres, sabemos que elas nos dão um não-seiquê de segurança e, naqueles dias em que a alma parece ter caído para dentro de si mesma, isso não tem preço.
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Fundamentalismo Islâmico Tiago Alves . Aluno do 11º F
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Quando nos debruçamos mais sobre esta temática, descobrimos que vivemos num mundo cheio de contradições para as quais tem sido completamente impossível encontrar soluções. A nós dizemnos que devemos lutar pela paz e pela felicidade de todos, mas na realidade os responsáveis políticos criam cada vez mais conflitos.
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fundamentalismo é fundamental, fundamentalmente, para os fundamentalistas que fundamentam todos os fundamentos do fundamentalismo com fundamentações fundamentalistas. Fundamentalmente, a questão que se coloca é: será fundamental o fundamentalismo? Esta pode parecer uma forma de brincar com coisas sérias, mas a nossa intenção é tentar desdramatizar este tema e tentar encará-lo realisticamente, sem preconceitos e sem tabus. Todos nós sabemos o quanto se tem falado de FUNDAMENTALISMO, mesmo sem
sabermos ao certo do que estão a falar e com que intenções. Quem mais apregoa que o terrorismo é obra do povo fundamentalista islâmico são os políticos do Ocidente, mas as acusações têm retorno e o Ocidente é julgado como corrupto e fonte de muitos males. A verdade é que este passou a ser um tema obrigatório desde o ataque às Torres de Nova Iorque, em setembro de 2001, e ficou associado ao TERRORISMO. Neste atentado morreram cerca de 3000 pessoas, o que contribuiu para que os EUA iniciassem um movimento de luta contra os terroristas. Disso são exemplo a libertação do Afeganistão do domínio Talibã, desde novembro de 2001, e a invasão do Iraque, desde março de 2003, por se considerar que havia ligações entre Saddam e Bin-Laden e por se acreditar que nesse país haveria armas de destruição maciça. A estas ações norte-americanas juntaram-se outros países, Grã-Bretanha, Espanha, Itália e Portugal. Todos nós sabemos, agora, que nem uma coisa nem outra é verdade e entretanto já morreram muitas mais pessoas, por causa dessa guerra, incluindo muitos norte-americanos, ingleses e italianos, do que em todos os atentados terroristas
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Moises Saman (Magnum Photos). Iraque, 14 de Agosto de 2014
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contra o Ocidente. Isto, para já não falarmos dos milhões de refugiados da guerra que vivem em condições miseráveis há vários anos. Tudo isto justificará também esta invasão? Mas, por outro lado, há muitas outras questões que se colocam: teremos nós que estar sujeitos a estes ataques terroristas? Estes homens, que se julgam superiores ao Ocidente e que afirmam desta forma a sua religião, devem ter o nosso apoio? Não teremos direito a estar seguros na nossa terra? Vamos esquecer todos os exageros destes povos e achar que eles têm direito a viver como querem? Achamos que este povo precisa de viver em liberdade e em democracia. Para isso é necessária a intervenção de países mais evoluídos e desenvolvidos. Também há quem defenda que esta intervenção só ocorreu por razões económicas, assentando essencialmente no monopólio do petróleo, dado que se trata de um recurso não renovável e, por isso, limitado, que os Estados Unidos pretendem, desde há mais de três décadas, controlar a nível mundial. Neste momento, os campos petrolíferos iraquianos estão vedados, sob o domínio americano, continuando a haver exploração dos mesmos. Por que será? A nossa posição é a favor da luta contra o
terrorismo e contra o fundamentalismo islâmico, as maiores ameaças ao Ocidente, neste momento. Nunca mais vivemos com tranquilidade e para isso têm contribuído os repetidos ataques terroristas e as contínuas ameaças contra nós. Foi em Madrid e em Londres que estas mais se sentiram, no passado recente, e agora em França e na Bélgica, mas muitas outras foram evitadas pelas forças de segurança, quer de investigação quer de intervenção. O mundo nunca mais será o mesmo. Mas, se olharmos para a nossa História, podemos perceber que este FUNDAMENTALISMO não é novidade. O primeiro “fundamentalista” que houve em Portugal, por exemplo, foi D. Afonso Henriques. Não foi ele que expulsou e exterminou os Mouros deste território, justificando a sua ação por motivos religiosos, a Fé Cristã? E sempre foi visto como um herói. No tempo dele ainda não havia aviões nem Torres, mas também morreu muita gente. Fundamentalistas também foram os Inquisidores, durante a Idade Média, perseguiram, torturaram e mataram e, no entanto, a Igreja Católica continua a ter milhões de fiéis e consegue manter uma hierarquia muito respeitada e até venerada. Quando nos debruçamos mais sobre esta temática, descobrimos que vivemos num mundo cheio de contradições para as quais tem sido completamente impossível encontrar soluções. A nós dizem-nos que devemos lutar pela paz e pela felicidade de todos, mas na realidade os responsáveis políticos criam cada vez mais conflitos. A resposta que se impõe, na nossa opinião, é: nada pode fundamentar o fundamentalismo, nem mesmo os fundamentos dos fundamentalistas, sendo fundamental evitá-lo, em todas as circunstâncias da nossa vida. FUNDAMENTALISMO NÃO SE COMBATE COM MAIS FUNDAMENTALISMO.
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As questões da participação… Manuel Ferreira . Professor de Filosofia
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Necessitamos, assim, de recuperar a expressão aristotélica de “Homem animal político”. Homem que vive com os outros, um ser da cidade, que não pode ignorar a sua condição de ser social, de exercer a sua participação e de se envolver na concretização de objectivos comuns, de melhorar e dar dignidade à sua vida e à dos outros.
A
s questões da participação ou ausência desta, do envolvimento das pessoas na vida comunitária, são, hoje em dia, um dos grandes desafios de toda a sociedade e que deve merecer a atenção e a preocupação das elites políticas, intelectuais ou mesmo do homem comum. O tão falado défice cívico prende-se com a ausência, ou o afastamento das pessoas da vida pública, isto é, da vida comum ou política. Vida política que se prende com a actividade na polis – a cidade –, em que os indivíduos devem ter consciência e assumir, praticando, os seus deveres e direitos para com os outros.
É que ser cidadão implica o assumir de uma liberdade e responsabilidade pessoal e social. Pessoal, porque se trata de um compromisso com os seus pensamentos, projectos, princípios e valores. E social, porque se trata do mesmo compromisso em relação aos seus semelhantes. O Homem não pode nunca esquecer que é um ser de relação e que a melhor forma de se realizar é no convívio com os outros. É aqui que está o nó górdio da questão e onde o homem, enquanto cidadão, tem falhado. São elevados o desinteresse e a apatia dos indivíduos face à vida pública, em geral, e à política, em particular. O diagnóstico está sobejamente realizado. Existe descrédito generalizado no sistema político, nomeadamente no sistema político democrático. E quais as razões para esta desconfiança e esta indiferença? São muitas. Contudo, convém realçar algumas, para que a eventual tomada de consciência possa levar à mudança de comportamentos. Algumas razões são de matriz social, outras entroncam nos comportamentos individuais. As primeiras têm a ver sobretudo com o mundo globalizado. A ideia de que as grandes decisões nos domínios político, social e económico são
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externas afasta as pessoas. Existe, face à realidade estrutural, um sentimento de impotência que mata o espírito crítico e de iniciativa. Acresce uma prática governativa e quotidiana que se guia em função de um modelo de pensamento neoliberal e excessivamente pragmático. Modelo este que domestica os indivíduos para seguir e dar primazia a valores utilitários e híperracionais, como sejam a competitividade, a eficácia, a eficiência, a produtividade, a qualidade, entre outros. O facto de este discurso demasiado tecnocrata e empresarial dominar as relações entre os indivíduos aniquila e faz “tábua rasa” de qualquer diferença, impedindo a problematização, pois é intolerante à crítica, pretendendo evitar qualquer tipo de reflexão. Caímos, deste modo, na despolitização do mundo, das pessoas e das instituições. E, por isso, encontramos expressões como “isto não é comigo, é com os outros”, ou “não tenho nada a ver com isso”. Trata-se de expressões que, no mínimo, são absurdas, contra naturam, uma vez que expressá-las é negar a essência gregária do Homem e equivale à morte da Democracia. Existe ainda uma contradição nítida entre o que as instituições que enquadram a organização social e política têm para oferecer e as expectativas dos indivíduos. As organizações tendem a garantir o discurso da estabilidade, a adoptar posições que levam a remediar as situações, são conduzidas com pouca transparência. Pelo contrário, os cidadãos esperam propostas originais e suficientemente diversas, anseiam por mudança, soluções novas e inovadoras e transparência na orientação das actividades do agir humano. Já a nível dos comportamentos individuais, o distanciamento resulta em parte de algumas razões sistémicas que já apontámos e que se reflectem a nível pessoal, nomeadamente na hierarquia das necessidades, desejos e valores. A falta de compromissos, de causas, tem muito a ver com a sociedade de conforto e bem-estar em que vivemos, que retira poder reivindicativo, de contestação e de crítica. Na verdade, se a pessoa está bem, porque se tem de incomodar, aborrecer
ou lutar seja pelo que for? A realidade demonstra que é mais difícil animar aqueles processos cognitivos quando os tempos são mais abastados, de abundância ou riqueza. Contudo, não podemos ficar paralisados face a esta situação. É necessário ter uma conduta de coragem e resiliência. Isto significa não fugir, não nos desviarmos do que exige luta, conflito, confronto e projecto. Também aqueles cidadãos conscientes da sua cidadania têm de ser exemplos e contribuir, contagiando os outros para uma maior e melhor participação. A nível da organização social, é importante uma nova maneira de fazer e de se estar na política. A política e os responsáveis políticos devem estar mais ligados à realidade e às pessoas. Tem de existir mais afecto, mais partilha e um modo de relacionamento mais afectuoso e de maior proximidade. É que, ao contrário do que se possa pensar, a eventual solução para o divórcio entre os líderes políticos e as pessoas é política. Necessitamos, assim, de recuperar a expressão aristotélica de “Homem animal político”. Homem que vive com os outros, um ser da cidade, que não pode ignorar a sua condição de ser social, de exercer a sua participação e de se envolver na concretização de objectivos comuns, de melhorar e dar dignidade à sua vida e à dos outros. É aqui que a educação também pode ajudar. Não resolve a questão, mas pode dar o seu contributo. A cidadania e a participação política podem beneficiar da natureza das políticas educativas e da acção dos seus actores, isto se se conseguir promover a existência de um sentimento de comunidade e de espírito social de cooperação. Trata-se não de anular o individuo, a liberdade, a autonomia, mas de sensibilizar para o facto de que os interesses individuais não podem ou devem sobrepor-se ao bem da totalidade dos cidadãos.
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As novas tecnologias Ana Rita Sequeira . Aluna do 11º A
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Por outro lado, existem milhares de jovens que se expõem diariamente na Internet sem quaisquer cuidados. Muitas vezes são assediados por desconhecidos nas redes sociais, o que pode conduzir a encontros na vida real, que, não raramente, acabam em raptos, violações, entre outros crimes.
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as últimas décadas, as novas tecnologias invadiram as nossas vidas. A grande maioria da população absorveu rapidamente todas estas inovações, especialmente os mais jovens. Hoje em dia, os jovens utilizam a Internet para tudo: trabalhos escolares, trocar mensagens e até namorar. Infelizmente muitos tornam-se dependentes desta rede de comunicação. Eles estão tão habituados a essa realidade virtual que, por momentos, se esquecem de como é viver no mundo real. Certamente que os computadores e a internet nos permitem muitas coisas como, por exemplo,
reduzir as distâncias no contacto familiar e entre amigos cujas circunstâncias da vida fizeram separar-se geograficamente. Vendo a questão por este lado, estas tecnologias ajudam, e muito, para que as pessoas se tornem mais unidas. Por outro lado, existem milhares de jovens que se expõem diariamente na Internet sem quaisquer cuidados. Muitas das vezes são assediados por desconhecidos nas redes sociais, o que pode conduzir a encontros na vida real, que, não raramente, acabam em raptos, violações, entre outros crimes. Segundo alguns estudos realizados em Portugal, dois terços dos jovens usam ativamente as redes sociais, 23% revelam o nome da escola no perfil, 58% publicam fotografias e vídeos pessoais e 20% publicam dados pessoais, entre os quais a morada de residência. Um outro dado preocupante é que mais de metade dos jovens afirmam que já responderam a contactos de estranhos. Concluindo, estas novas tecnologias, principalmente as redes sociais, são importantes para a comunicação das pessoas, sendo apenas necessário ter algum cuidado e não nos expormos a pessoas desconhecidas.
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Tu! Carlota Pinto . Aluna do 11º C
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Abre os olhos !!! Pensa no futuro que tens à tua frente, levanta-te, demonstra às pessoas quem tu és.
No mundo somos todos diferentes, por muito idênticos que aparentamos ser há sempre algo que nos distingue. Tu és diferente, és único, insubstituível, tens o poder de ser quem tu quiseres e as capacidades de alcançar tanto ou mais do que aqueles que tu consideras superiores a ti. Sabes bem que és capaz de realizar todos os teus sonhos, sabes que em ti existe potencial, carisma e uma personalidade inabalável. Porque insistes em esconder todas estas capacidades e te deixar ofuscar por outras pessoas? Fazes isto
Denis Darzacq, La Chute
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rovavelmente existem mais de 7 mil milhões de pessoas em todo o mundo, existem diferentes culturas, diferentes línguas, diferentes estilos, diferentes personalidades, diferentes pensamentos, diferentes comportamentos até mesmo diferentes olhares e sorrisos, mas lembra-te que no fim, tudo se resume a ti… Sim, a ti! Tu que és um ser humano que se julga incompreendido, maltratado, mal-amado, renegado, aquele ser que pensa que a opinião de terceiros tem que influenciar todas as suas decisões.
com medo das opiniões? Com medo da rejeição por parte daqueles que sabem que são inferiores a ti mas que fazem de tudo para que penses que eles são superiores para te sentires mal contigo mesmo? Abre os olhos !!! Pensa no futuro que tens à tua frente, levanta-te, demonstra às pessoas quem tu és. Segue o teu caminho e no fim de tudo tem orgulho em ti próprio e naquilo que conseguiste alcançar. Digo-te isto porque acredito que tu tens potencial e que quando te aperceberes da força de vontade incalculável que tens, nada nem ninguém conseguirá impedir o teu sucesso.
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As palavras leva-as o vento Doces palavras, Que partistes.
Querendo ou não, Ainda persistis. Doces, singelas
Queridas e belas. O vento
As levou.
E nenhuma delas Mais voltou.
Queria voar com elas, Conhecer o mundo. Mas, não posso,
E continuo a viver num negro fundo. Cátia Cardoso . Aluna do
10ºC
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Violência Catarina Pimenta . Aluna do 12º B
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O homem considera-se superior aos outros seres por conseguir manipular, intervir e mudar o meio a seu favor, mas será que a Natureza não se arrependeu de empregar tal inteligência em homens que, por vezes, se comportam como animais?
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violência é sinónimo de força e agressividade, que tem por base um comportamento que causa intencionalmente danos físicos ou psicológicos. É importante salientar que existem diversos tipos de violência: física, verbal, psicológica e até mesmo sexual, pois apesar da violência verbal e psicológica não deixar marcas corporais visíveis, ao contrário da violência física, esta pode ser muito mais difícil de ultrapassar, porque afeta diretamente a parte emocional, deixando cicatrizes para toda a vida. É notório que o uso de violência é cada vez mais frequente, nas mais variadas situações. Parece que o homem fez desta prática um hábito, esquecendo-se que é um ato vergonhoso e obsceno, que oprime e deprecia a raça humana, visto que todo o ser humano é dotado de
consciência, sendo capaz de atribuir significado às ações que executa, classificando-as como benéficas ou pejorativas. Até que ponto é que a violência pode destruir a humanidade? Muitos pensam que a violência deve ser usada quando a causa é justa, mas a violência nunca deveria ser permitida, mesmo em último recurso. Quando se recorre à violência, deixamos de ser seres racionais e acabamos por perder a razão, porque não há palavras ou atos tão terríveis que justifiquem a sua prática. Nesse momento em que a ira consome o nosso corpo, passamos de seres racionais a bestas irracionais, não somos melhores do que um simples animal, que rasteja na mesma terra que pisamos todos os
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Jerome Sessini, Ucrânia, Maio de 2014
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dias. O homem considera-se superior aos outros seres por conseguir manipular, intervir e mudar o meio a seu favor, mas será que a Natureza não se arrependeu de empregar tal inteligência em homens que, por vezes, se comportam como animais? Situações que advêm da violência são vividas todos os dias, em todo o mundo, pois cerca de 1,6 milhões de pessoas morrem a cada ano, ou seja, a cada minuto morre mais uma vítima de violência, seja ela física ou verbal, porque apesar de ignorarmos a violência verbal, esta já levou ao suicídio de milhares de pessoas. Tal morte foi justa? Será que o motivo que gerou
tal desumanidade foi assim tão legítimo para o agressor chegar ao ponto de matar a vítima? Se este tipo de comportamentos não cessar que será feito da raça humana e da sua genuinidade? São questões intrínsecas a este tema tão delicado que já não passa despercebido na nossa sociedade e que merecem uma resposta sincera, principalmente, daqueles que usam a violência ou já a usaram para sobrepor as suas apetências. Na minha opinião, a violência é o último refúgio dos incompetentes e dos fracos, pois ao contrário do que a própria palavra simboliza, a violência não representa força, mas sim fraqueza, que nunca poderá criar nada, mas, apenas, destruir.
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Subitamente, no horizonte... Agostinha Araújo . Professora de Português
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Melhor seria haver guindastes na vida. Se isso significasse na vida haver pontes e estradas e bocas e lábios e sorrisos e abraços.
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odem pensar que sou distraído, lunático, que ando ausente na vida. Mas não, eu reparei que: está sol; o céu é azul; há guindastes na paisagem. Não estavam aqui, mas agora há pontes que unem as margens, antes separadas. Há estradas que rasgam a carne das serras onde antes havia terra e pedras e ervas e flores e árvores e... e... e sossego. As pontes e as estradas são laços. Diria mais, são abraços. De uma margem à outra margem. De uma distância a outra distância, que deixa de o ser para se tornar aqui.
vida haver pontes e estradas e bocas e lábios e sorrisos e abraços.
“É imprescindível (gosto muito desta palavra, toca a língua, os lábios e a boca toda como um beijo muito profundo), é imprescindível, dizia, que haja guindastes nesta paisagem” – dou por mim a refletir enquanto lanço para o ar argolas de fumo do cigarro...É um hábito que adquiri em África, para queimar o tempo, e que aos poucos me vai queimando os pulmões e tornando a minha voz grave ainda mais grave e rouca... Melhor seria haver guindastes na vida. Se isso significasse na
Haverá descoordenação, falta de lógica, loucura ou o que lhe quiserem chamar neste meu discurso, mas isso é porque, de repente, sinto um soco no estômago, uma falta de ar, uma tontura, uma vertigem, quando olho a paisagem e vejo coisas onde antes não havia nada, coisas que cresceram a um ritmo alucinante, da noite para o dia. Uma ponte, uma estrada, outra ponte, outra estrada, mais uma ponte, mais uma estrada, outra ponte, e isto só até ao horizonte, para lá dele não sei, não
Reflito de novo. Hoje decididamente estou virado para a filosofia. “A vida é tão simples.” Muito mais ainda se houver sorrisos e abraços e bocas, mas transparentes como a água que corre por debaixo das pontes, mas quentes como o sol que brilha por trás dos olhos iluminados por um sorriso cristalino como as águas que aquecem com o sol, ou corre livre como o vento que sopra mais forte na ponte mais alta.
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João Ramos, ex-aluno.
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vejo, mas deve continuar, porque toda a estrada a algum sítio vai dar, nada acaba subitamente no horizonte! Esta nova paisagem esmaga. Pela sua grandeza de betão e pilares como dedos cravados na terra... Na nossa vida também falta. Não betão, grandeza sim, grandeza de sermos nós, todo o ser que há em nós, em usufruirmos efetivamente da nossa humanidade (eu disse “humanidade”, não “ingenuidade”). Sim, faltam pilares que sustentem a nossa fragilidade, mas também a nossa felicidade. Pilares de tolerância, de empatia, de humildade, de simplicidade, do ser genuíno,
da nossa nudez primordial, do nosso lado animal. Há uma beleza agressiva, mas não há lógica, nesta paisagem construída pelo homem à sua imagem ilógica. Há grandeza, há laços, há pilares, o eliminar de distâncias, há beijos e bocas e abraços. Há. São beijos longos, carícias no rosto ou no cabelo, num dia de sol e vento suave. Pronto.Terminei o cigarro, apago cuidadosamente a beata. Ponho o carro a trabalhar e lá vou eu. Para onde? Sigo a estrada, em direção ao horizonte. A algum sítio há-de ela ir dar!
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Pedaços de nada Ana Meireles . Ex-aluna da ESJAC
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Não sou delicadeza, nem rispidez… Sou pedaço de um grito surdo e outro de um sussurro muito alto. Sou acidez coberta de açúcar, loucura atrás de decência, infantilidade madura…
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ou um pedaço de mim, outro de ti, outro do resto… Sou frio de verão, calor de inverno… Sou telhado sem lar, sítio de todos sem teto… Sou montanhas distantes, mar próximo… Sou chuva seca, vento hesitante, sol pouco radiante, nevoeiro sem densidade… Sou orvalho à noite, escuridão da manhã… Sou o mundo das avessas, sou luvas nos pés, meias nas mãos… Sou! Não sou minha, nem tua, nem de ninguém, nem mesmo do mundo… Mas sou as estrelas… Indiferentes na claridade do dia, despertas no negrume da noite… Sou sem saber ser, não sei se sou o bem ou o mal, se sou a luz ou as trevas… Sou um pedaço de cada, talvez… Não sou branca, nem preta, nem mesmo cinzenta… Sou ausência de cor! Não sou delicadeza, nem rispidez… Sou pedaço
de um grito surdo e outro de um sussurro muito alto. Sou acidez coberta de açúcar, loucura atrás de decência, infantilidade madura… Não sou livros lidos, não sou páginas ainda por ler, não sou textos com nexo, não sou frases feitas, nem sentimentos de todos… Não sigo ninguém, mas também não crio o meu próprio caminho… Não sou intuitiva, nem tão pouco calculista… Não sou gravura, sou tinta, sou tela, sou ideia… Não sou abstrata, nem real… sou ar palpável! Sou olhos cegos, ouvidos surdos, paladar sem gosto… sou a anulação do universo e a aprovação da insignificância… Sou o talvez, o leque de possibilidades… Não acredito no sempre, mas também não acredito no nunca! Sou ousadia envergonhada, timidez arrojada… Sou gelo que queima, fogo que arrefece… Enfim, sou um pedaço do tudo, um pedaço do nada…
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Os dias e as palavras José Artur Matos . Professor de Artes Visuais
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Hoje, que o medo parece estar instalado, e a liberdade cerceada em crescendo, aguento-me na exata medida de sempre. Tenho procedimentos precisos, lógicas que são só minhas, estratégias de sobrevivência.
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ivi muitos anos sem receio e sem esperança desmedida, ao sabor das coisas do mundo. Fui tão feliz e tão infeliz como alguém pode ser. Tive momentos muito bons e quase perfeitos e tempos de absoluto desastre. Viajei o que pude, amei o melhor que soube, fiz bons amigos, conheci gente boa, gente má e gente assim-assim. Cheguei a pensar que poderia ser um sem número de coisas. Tentei ser artista plástico, videasta, web-designer, designer, professor e até vitivinicultor. Entreguei-me a cada uma das atividades, muitas vezes em simultâneo, com a força disponível, com o desejo necessário. Iludi-me e aproveitei como sabia os auspiciosos tempos que nos prometeram. Muito cedo compreendi a falácia de muitas das promessas, dos desvarios e diletâncias em que
todos acabamos por ficar enredados. Não fui melhor nem pior que ninguém, sobrevivi. Hoje, que o medo parece estar instalado, e a liberdade cerceada em crescendo, aguento-me na exata medida de sempre. Tenho procedimentos precisos, lógicas que são só minhas, estratégias de sobrevivência. Sinto-me mais próximo da terra e da paisagem, mais conectado. Volto a viver sem receio e sem esperança desmedida, expetante, algo impreciso naquilo que desejo, nos caminhos que percorro, nos desafios que surgem. Nos últimos anos perdi o controlo das palavras... elas são agora autónomas e eu já não tenho que as dizer, elas soltam-se desmedidas e sem freio. Por vezes, fico calmamente a vê-las de fora, como se não fossem minhas. Noutras situações saem violentas e digo-as a quem não as merece. Digoas e depois tento apagá-las sabendo de antemão dessa impossibilidade. Nunca desenhei a vida a lápis, por isso esta dificuldade que sempre tive em apagar o que quer que fosse. Às vezes, com esforço, lá vou rasurando o que posso, mas a marca fica lá para me atormentar. Outras vezes, tento reescrever uma ou outra história triste, e então risco por cima, ou faço desenhos incompreensíveis, de uma geometria que nem eu compreendo. Hoje, que as palavras perderam valor e por isso a censura parece não existir, escrevo despreocupado para os que me quiserem ler. Conto-lhes as minhas histórias, mas eles nem sempre acreditam, julgam que as invento.
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Os homens comem-se uns aos outros Clara Magalhães . Aluna do 11ºB
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Vivemos numa sociedade dominada pelos exageros humanos, nomeadamente a ambição e a corrupção.
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padre António Vieira sustenta que os homens se comem uns aos outros. Esta afirmação é plenamente atual, uma vez que continuamos a viver numa sociedade caraterizada pela corrupção, exploração do mais frágil, ganância, ambição. No sermão vieirino, a principal crítica feita aos peixes é o facto de os mesmos se comerem uns aos outros com o objetivo de obterem o próprio sustento e sobrevivência. Com estas palavas, o orador pretende demonstrar e criticar a prática da antropofagia social, que está relacionada com o facto de os homens se “comerem” também uns aos outros. Atualmente, apesar de a escravatura ter sido abolida praticamente em todo o mundo, ela ainda continua a existir ilegalmente em alguns países, sobretudo em África e certas regiões da Ásia. Esta é uma situação exemplificativa do movimento incessante dos homens na sua intenção de explorar os outros. “Não só vos comeis uns aos outros, senão que
os grandes comem os pequenos”. Com esta expressão, o pregador efetua uma crítica feroz aos homens grandes que comem os pequenos, metaforicamente, no sentido de que os que têm mais poder, riqueza, importância e posição social e se acham mais imponentes, exploram, amesquinham, escravizam os mais pobres, os mais fracos e frágeis, ou seja, os que possuem menos poder. Podemos aplicar esta situação inclusive nos tempos de hoje. Por exemplo, em alguns países em desenvolvimento, a sua riqueza é utilizada apenas por parte da população, que a usa para fins próprios e interesses pessoais, sem se preocupar com a maioria das pessoas, que são brutalizadas, escravizadas, exploradas – “(…) os homens comem-se vivos (…)”. Concluindo, é indiscutível que vivemos numa sociedade dominada pelos exageros humanos, nomeadamente a ambição e a corrupção, que conduzem, inevitavelmente, à exploração do mais fraco, indo ao encontro de sustentação feita pelo Padre António Vieira de que os homens se comem uns aos outros.
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Desabafos de um aluno surdo Cristóvão Pereira . Aluno do 12ºA
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Por vezes sinto-me discriminado involuntariamente na escola.
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minha vida, antes de entrar para a escola referencial de surdos, era muito mais difícil e até mais cansativa. Tive sempre muitas aulas de apoio e nessas aulas nunca tive intérprete nem sabia LGP (Língua Gestual Portuguesa). Depois de entrar para a nova escola, a minha vida mudou. Comecei a ter menos apoios e intérprete nas aulas. Esta mudança fez com que eu tenha começado a perceber melhor a matéria dada nas aulas. Alem disso, fora da escola, também tinha dificuldades em perceber o que os meus amigos ouvintes diziam e não me fazia entender por eles. Até com a família as dificuldades eram muitas, tanto para eles me perceberem como para eu os perceber a eles. Hoje ainda tenho dificuldades em perceber o que os meus amigos ouvintes dizem, embora essas dificuldades agora sejam menores porque já tenho amigos que sabem LGP. Estou convencido de que quando entrar para a universidade vou ter outras dificuldades ao viver sozinho, porque quando viajo vou sempre acompanhado.
Por vezes sinto-me discriminado involuntariamente na escola. No meu dia-a-dia na escola, para a entrada para as aulas, quase sempre chego atrasado por não ter ouvido o primeiro toque. A escola necessita de uma grande mudança que consiste em instalar campainhas luminosas, porque os surdos usam a visão em vez da audição. E nas aulas, por vezes, os professores pedem ao aluno surdo com aparelho auditivo ou com implante para traduzir para os seus colegas surdos que não perceberam, o que se torna muito cansativo. Para impedir que os professores peçam essa ajuda a esses alunos, deviam fazer mímica ou escrever num papel. Ou então, os professores podiam inscrever-se em formação de Língua Gestual. Assim facilitava a comunicação entre professor e aluno.
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Terrorismo, ismo, ismo, ismo… Haverá loucura igual?
A morte levada ao extremo do banal. Os pais choram, as mães gritam,
Mas nada disto importa àqueles que o praticam. Matam por matar,
Não sabem amar, nem respeitar.
Uns obcecados, outros frustrados,
Não passam de tolos que se acham imaculados. Passam da adoração à obsessão
Esquecem tudo aquilo que vai no coração. Tolos! Procuram impor o respeito Com uma bala cravada no peito?
Melhor se ajoelhassem e, do fundo do coração, Se virassem para Alá e pedissem perdão. João Alves . Aluno do 12º C
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Memórias Ana Catarina Xavier . Aluna do 7º A
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Tenho memórias pequenas e simples, mas muito significativas…
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uando ando pela casa e olho para todas as fotografias que por ela estão espalhadas, penso que, por trás do objeto decorativo, há memórias de um, dois ou até mesmo de dez anos atrás. O tempo passa rapidamente, às vezes parece que nem sequer vivemos certos momentos da nossa vida, de tão rápidos que nem ficam na nossa memória. Penso que, se até aqui passou rápido, vai continuar a passar assim. Tenho muito receio disso: como será quando tudo isto acabar? Onde ficaremos nós? Será que existe mesmo outro mundo eterno? Às vezes, gostava que a vida fosse eterna, que nunca acabasse, mas, infelizmente, isso não é possível. Adorava poder andar no tempo e viajar para acontecimentos bonitos e felizes da minha vida, quando estivesse triste. Acho que, se isso pudesse acontecer, eu sorriria mais vezes para a vida. Gosto quando estou com a minha família, todos juntos, e recordamos histórias engraçadas, como as aventuras na casa da praia ou os Natais já passados. Gostaria de poder reviver tudo de novo!
Tenho memórias pequenas e simples, mas muito significativas, e, quando me ponho a olhar para as fotos, todas essas memórias, sejam tristes ou felizes, dão-me vontade de rir ou, por vezes, vontade de chorar. Se calhar, quem sabe, quando crescer e estiver a reler este texto, vou-me rir ao recordar o que estava a sentir quando o estava a escrever. Esta vida é muito curta e nós temos de viver como se cada dia fosse o último, temos de aproveitar cada pedaço dela até ao último minuto!
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Desabafos Nem símbolos nem sombras
nem amores nem penumbras. Só o sonho preenche a vida, a ilumina e a transcende da fugacidade triunfal. Nem princípio nem fim
nem eternidade nem finitude. A ilusão destrói o homem inibe-o de fruir
e criar a sua humanidade. Nem vozes nem poetas
nem silêncio nem suspiros. O improviso é rei e homem da filosofia
da vida em harmonia. Nem...
sou sempre o que vai na mente. Diogo Miguel . Aluno do 12º C
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Será que a conversa cara a cara perdeu o sentido? Filipa Gonçalves . Aluna do 12º B
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O nosso mundo está contemporaneamente dominado pelos gadgets: mais um jogo, mais uma aplicação, mais um novo programa na TV e acabamos muitas vezes por desvalorizar uma boa conversa.
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os primórdios da Humanidade, o Homem comunicava por sinais de fumo; mais tarde, pela linguagem e, atualmente, comunica, em grande parte, através das mensagens, via telemóvel ou rede social. Os SMS’s, chamadas e email’s estão a ter cada vez mais um papel preponderante, mas poderemos considerar este um facto positivo? A nível intelectual e social, não me parece. O nosso mundo está contemporaneamente dominado pelos gadgets: mais um jogo, mais uma aplicação, mais um novo programa na TV e acabamos muitas vezes por desvalorizar uma boa conversa. Por exemplo, em reuniões de família, vê-se frequentemente os mais novos entretidos com as consolas, com os smartphones ou tablets, desvalorizando uma boa conversa com os seus avós, desperdiçando a oportunidade de adquirir da forma mais genuína possível um maior grau de sabedoria, um melhor entretenimento e, sem
dúvida, um fortalecimento de laços. Tudo isto, muitas vezes, é negligenciado e deixado para segundo plano. Assim acontece quando saímos com os nossos amigos. Se olharmos para o lado toda a gente está com o seu smartphone. Eu também, confesso. São tantos os momentos de silêncio! Analisando a comunicação de um outro ponto de vista, podemos constatar que a conversa, muitas vezes, é subjugada pelo correio eletrónico. Por exemplo, nas pequenas empresas, o chefe envia email’s em vez de ir falar diretamente com os seus funcionários, quebrando, assim, a relação familiar que se podia estabelecer entre hierarquias. Por outro lado, a conversação é um meio importantíssimo de comunicação e que, em momento algum, deve ser desperdiçado, pois as grandes decisões, na ONU, nas cimeiras, no parlamento, são feitas em debate. Em virtude da reflexão elaborada, podemos concluir que, com o passar do tempo, temos de evoluir e utilizar os novos utensílios de comunicação, mas nunca devemos deixar uma boa conversa na gaveta, pois “Uma conversa é muito mais do que palavras: uma conversa é os olhos, os sorrisos, os silêncios entre as palavras.”
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Uma Questão de Perspetiva Guilherme Lopes . Aluno do 12ºB
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No mundo dos media, toda a gente quer expressar a sua opinião; toda a gente quer que as pessoas apreciem e valorizem os seus comentários, e a forma mais recorrente de obter isso é a partir do dito “ser diferente”, um diferente no sentido de criar impacto, de chocar as pessoas.
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o longo desta última semana, foram vários os ataques efetuados na cidade de Paris. Um dos ataques mais falados foi contra o jornal Charlie Hebdo, por parte de três muçulmanos. Como é óbvio, o resultado foi a morte de algumas pessoas, doze, para ser mais exato. Porém, o que verdadeiramente me prendeu a atenção foi o motivo do ataque, cartoons que abordavam de forma satírica o Islamismo. Aparte de todo o ocorrido, foquei-me, apenas, em duas questões: “Será que estes atos são justificáveis?” (óbvio que não!), e “Será que deveriam existir limites quanto à liberdade de expressão?”.
A meu ver, penso que sim. Estes limites, à liberdade de expressão, não proibiriam uma pessoa de formular uma opinião sobre algo, ou alguém, mas imporiam restrições a determinados assuntos, onde estas sátiras estão inseridas. No mundo dos media, toda a gente quer expressar a sua opinião; toda a gente quer que as pessoas apreciem e valorizem os seus comentários, e a forma mais recorrente de obter isso é a partir do dito “ser diferente”, um diferente no sentido de criar impacto, de chocar as pessoas. É aí que eu penso que a liberdade de expressão ultrapassa os (meus) limites. Como pessoa gosto de ler crónicas de variados jornalistas; gosto de ler críticas de cinema, de jogos, entre outras coisas;
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Arif Ali / AFP
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não gosto quando os media abusam da liberdade de expressão, utilizando críticas ou artigos escandalosos apenas para se tentar diferenciar dos demais. Para mim, o limite impõe-se quando a opinião de uma pessoa entra em conflito com as ideologias de outra, de maneira a fazer desacreditar as ideologias, pois aí não temos uma opinião. Temos sim uma agressão verbal, um insulto à pessoa. É diferente uma pessoa dizer “eu não acredito em Deus”, pois a sua opinião em nada afeta as restantes pessoas, já outra coisa é afirmar
“eu não acredito em Deus porque isso é tudo uma palhaçada”, uma vez que tal opinião esbarra nas crenças de outras pessoas, insultando-as). O jornal Charlie Hebdo, por exemplo, insultou não só uma única pessoa, mas sim todos os crentes do Islão. Este caso serve, não para desculpar a ação terrorista (pois o facto de terem morto pessoas tira-lhes de toda a razão), mas para criticar a atitude por parte do jornal, abusando da liberdade de expressão para, disfarçadamente, insultar o Islão e o Estado Islâmico.
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A vida de uma vida Presas na memória
Estão as recordações De outra vida,
De outros momentos, Que já passaram
E que, no entanto, ainda vivem… Histórias das minhas histórias, Contos dos meus contos…
Das brincadeiras da solidão,
Das felicidades das tristezas, Do conhecimento da ignorância, Do choro de um sorriso, Da escuridão do céu E do nascer do sol… Da vida da minha vida,
Vida que nem vou recordar… Das horas acordado
Que passei a dormir,
Das correrias sentado, Dos desenhos apagados,
Das paisagens esquecidas
E das viagem imobilizadas…
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Dos sonhos a dormir
E dos pesadelos acordado… Das vitórias derrotadas, Das vistas cegas,
Dos livros ilegíveis, Das paredes caídas,
Da frescura do calor
E dos caminhos desviados… Histórias dos meus amores odiados, Das raparigas abandonadas
E que nunca hão-de voltar… Das carícias magoadas, Das cartas remetidas, Das palavras surdas…
Esta é a odisseia da minha Vida, Vida da minha criação,
Arrependimento da minha tentação, Escolhas do meu coração…
Dos ponteiros que andam para trás, E das felicidades que ela traz! João Pedro Pereira . Aluno do 9ºD
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Siriza e a Cultura Europeia João Rebelo . Professor de Filosofia
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Os outros gregos de que me fui tornando amigo defendem cada vez mais esta questão: a dignidade. Dizem: temos de ser “bravos” e não emigrar. Somos patriotas. Nascemos aqui e aqui queremos viver. É, sem dúvida, uma posição corajosa e algo utópica. Mas essencial.
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á alguns anos, em Budapeste tive uma discussão acesa com uma colega grega. Eu tinha tido conhecimento deste Movimento Cívico (Siriza), do seu líder (Alexis Tsipras) e queria saber a opinião grega. A colega, contrariamente às minhas expectativas, era profundamente contra. Disse-me que eles eram uns miúdos, irreverentes, e sem mais que a Utopia. Esclareceu-me… Estamos formatados para que só exista um caminho, a austeridade, e que as soluções passem por cortes salariais e desemprego pois fomos “gastadores em demasia”. Só uns tantos, mais informados e ligados ao Poder, podem desfrutar dos bens que a Comunidade Europeia proporciona. Qualquer ideia que surja em oposição é perigosa e desmotivadora.
Em Dezembro encontrei-a de novo, e voltámos a falar disto. Continuava sem perceber o que se estava a passar… Afinal, ela beneficiava do sistema vigente. Talvez eu tivesse mais razão, apesar de não ser grego. Estive em Atenas em Abril, e pude constatar o estado policial e o medo que o poder tinha da população. Presenciei várias manifestações e falei com pessoas anónimas. O sofrimento deles era medonho. Por exemplo, aqui, enquanto professores queixamo-nos muito, mas na Grécia é mil vezes pior. Fomos todos atirados para uma espécie de limbo, sem o mínimo conhecimento da realidade escolar e respeito pela dignidade, quer humana, quer profissional. Os outros gregos de que me fui tornando amigo defendem cada vez mais esta questão: a dignidade. Dizem: temos de ser “bravos” e não emigrar. Somos patriotas. Nascemos aqui e aqui queremos viver. É, sem dúvida, uma posição corajosa e algo utópica. Mas essencial. Agora as coisas mudaram, e acredito que a Grécia vai, como na antiguidade e em 43, a seguir à 2ª Grande Guerra, dar uma lição à Europa. O Siriza,
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Fonte: http://www.gazetadorossio.pt/
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é um conglomerado de pessoas cuja União reside nesta palavra: Dignidade. Ao contrário do que a propaganda neoliberal apregoa não é um partido extremista. Nasceu apenas de forma diferente dos partidos tradicionais do século passado. Nasceu na rua, nas manifestações e cresceu com as redes sociais. O seu líder é um jovem visionário, carismático, cuja simpatia, polimento e coragem, arrastam as pessoas. Vamos ver do que será capaz… Mas para começar, começa bem. Reintegrou o pessoal da limpeza e despediu os assessores, pois é mais barato a limpeza do que aqueles que vivem num ciclo de pareceres. Os partidos tradicionais foram legalizados logo a seguir ao 25 de Abril, mas rapidamente se transformaram em caixas de compadrio, trocas de influência, corrupção. Criaram aliás, através das respetivas juventudes partidárias formas de se perpetuarem no poder ou contra poder. Deixaram, há muito, de representar correntes de opinião e anseios das populações. Estão totalmente fora
do dia a dia do povo e persistentemente tentam confundi-lo, pois sabem que dominam os meios de comunicação, em particular a TV, que é o meio ainda hoje dominante. Mas descuraram a NET e os novos produtos sociais. E isso vai serlhes fatal! A descrença nos partidos não é a descrença na liberdade. Não é, como possa às vezes parecer, a ambição e a inveja. Toda a gente sabe que para ter hoje sucesso e dinheiro basta filiar-se ou ter “amigos” nos partidos do “arco do poder”. Mas as pessoas têm dignidade, e a maioria rejeita rebaixarse. Talvez daí as gigantescas taxas de abstenção… O que as dinamiza é a confiança, é saber que não estão a ser enganadas. E os fenómenos como o Siriza ou o Podemos (Espanha) vão acontecer e crescer. De nada vale algumas figuras ligadas aos partidos tradicionais tentarem mascarar-se (vide Bloco de Esquerda). O que se almeja são caras novas, gente em quem já se possa confiar. Por isso a Europa tem de mudar e vai mudar, tal como nós por cá….
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Reflexão José Guedes . Aluno do 12º B
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Sendo assim, podemos dizer que uma das maiores infelicidades do ser humano é crescer, e consecutivamente, a infância é o momento mais belo da vida, por tão inocentemente aproveitarmos os momentos sem nenhuma preocupação.
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uitas vezes o ser humano é confrontado voluntaria ou involuntariamente com algumas questões e dúvidas que poderão por em causa a razão de ser da nossa espécie, ou então a importância que o ser humano atribui a determinadas coisas. Esta situação acontece conforme a maturidade que uma pessoa possui, isto é, normalmente só quem pensa de uma forma mais madura é que começa a questionar o que, até então, era uma dádiva. Sendo assim, podemos dizer que uma das maiores infelicidades do ser humano é crescer, e consecutivamente, a infância é o momento mais belo da vida, por tão inocentemente aproveitarmos os momentos sem nenhuma preocupação. Depois da nossa infância haverá muitas ocasiões
que nos irão fazer pensar para além da nossa realidade, como por exemplo assistir a um filme… Digo isto como um exemplo próprio, pois o último filme que vi, intitulado “Sniper Americano”, fez-me refletir um pouco sobre a maneira como aproveitamos a vida. Ao ver retratada a história de um herói americano que se sacrificou pela pátria, deixando um pouco de parte a família e a sua vida normal, comecei a perguntar-me se aproveito a sorte que tenho, pois tenho família, amigos e saúde, e muitas vezes acontece que o stress torna-se um dos meus piores inimigos, enquanto existem dificuldades muito maiores e pessoas que passam por coisas que não se conseguem imaginar, para uma pessoa com um quotidiano comum como eu. Mas se abordarmos esta temática de outra perspetiva, podemos realçar pontos positivos que permitem que o ser humano se questione sobre o propósito da sua vida. Em tudo que fazemos há que ter um objetivo, um sentido, porque caso contrário sentiríamos que estávamos a agir “só porque sim”, e poderia levar ao descontentamento e perderíamos assim o rumo necessário para alcançar o que pretendemos. Sendo assim, e na minha opinião, é importante que uma pessoa se conforme interiormente com o que faz ao longo da sua vida, mas que aproveite ao máximo a réstia de infância que persiste no seu interior, pois só assim conseguimos viver e usufruir de tudo de bom que a vida nos pode oferecer, uma vez que tudo tem um propósito, e citando uma das mais brilhantes mentes nacionais, “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” (Fernando Pessoa).
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As TIC na aprendizagem dos alunos surdos Lina Aires . Professora de Educação Especial
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[...] que a dificuldade maior dos surdos está exatamente na aquisição de uma linguagem que subsidie seu desenvolvimento cognitivo, os estudos que envolvem a condição de pessoa surda são revestidos de fundamental importância e seriedade, visto que a surdez, analisada exclusivamente do ponto de vista do desenvolvimento físico, não é uma deficiência grave, mas a ausência da linguagem, além de criar dificuldades no relacionamento pessoal, acaba por impedir todo o desenvolvimento psicossocial do individuo. (SÁ, 1999, p. 47).
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oderá a utilização das tecnologias da informação e comunicação ser um recurso facilitador na aprendizagem dos alunos surdos? O impacto da utilização das TIC na sociedade atual é inegável. Ao longo dos últimos anos, a revolução nas tecnologias da informação e comunicação conduziu a inovações
com efeitos cada vez mais visíveis na vida da maior parte dos seres humanos, e os surdos não foram exceção, tornando-se cada vez mais premente o uso das TIC’S na sala de aula. Os resultados encontrados mostram que de facto a aprendizagem da LGP nas escolas de referência para a educação bilingue de alunos surdos (EREBAS) é já uma realidade em algumas escolas do nosso país de norte a sul, que a aprendizagem da LGP é uma necessidade, considerando-se, por isso, necessária a criação de recursos informáticos que facilitem o ensino dos alunos surdos. Temse verificado, ultimamente, que os alunos evidenciam uma grande motivação pelo uso do software disponível tornando-os mais próximos e ao mesmo tempo mais autónomos nas suas tarefas de pesquisa e aprendizagem. Todavia os recursos existentes ainda são considerados muito
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elementares, talvez mais direcionados para faixas etárias mais baixas. Deparamo-nos diariamente com a falta de ferramentas informáticas que nos permitem um maior desenvolvimento das aprendizagens nos alunos surdos. Atendendo a que a comunicação nos surdos é essencialmente visual, parece-nos de grande utilidade o uso de ferramentas específicas, pois a interação com softwares específicos nas diferentes áreas do conhecimento é indutora de acréscimos de sentimentos de auto competência e de auto estima, com reflexos tanto nas suas
aprendizagens como em outras vertentes da sua vida em sociedade. Daí a especial necessidade da construção e implementação de recursos informáticos específicos que facilitem e promovam as aprendizagens dos alunos surdos e, consequentemente, dos ouvintes, permitindo um maior sucesso pessoal, académico e social. Não basta a LGP ter sido reconhecida como uma língua, língua maternal dos surdos, torna-se necessário criar mecanismos e instrumentos que permitam o seu desenvolvimento entre pares.
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Saber perder José Pinto . Aluno do 11º A
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De facto, perder nunca é fácil. Somos apegados à nossa imagem, ao que os outros pensam de nós. Queremos ganhar sempre. A derrota magoa, incomoda. Mas vale a pena esforçarmo-nos por aceitá-la, pois, se ela existe, não adianta fugir dela.
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m dos valores fundamentais que temos que trazer connosco ao longo das nossas vidas é saber perder. Para muitos, isto é um problema, porque arranjam sempre desculpas para justificar a sua derrota e sentem raiva, frustração, sentimentos que os levam, por vezes, a fazer algo que não querem. Não se pode ganhar sempre, aliás, ninguém ganha sempre! Uma das virtudes mais nobres que podemos possuir e desenvolver é saber perder. A derrota, por mais estranho que pareça, não é sinónima de fracasso. Pelo contrário, impulsiona-nos a novas vitórias. É mais feliz, e vive mais “leve”, quem aceita um “não”, quem aceita que nem tudo é sempre como nós desejamos. É preciso saber perder, levantar a cabeça e esperar as oportunidades seguintes.
Por exemplo, quando o árbitro apita e o jogo acaba e a tua equipa perde, acabou. Não é possível reiniciar o jogo. Quando as luzes do placar se apagam e os sócios vão embora, acabou. É preciso saber perder, voltar a treinar e esperar o seguinte jogo para superar as dificuldades. De facto, perder nunca é fácil. Somos apegados à nossa imagem, ao que os outros pensam de nós. Queremos ganhar sempre. A derrota magoa, incomoda. Mas vale a pena esforçarmo-nos por aceitá-la, pois, se ela existe, não adianta fugir dela. Devemos viver a nossa vida e aceitar que esta é feita de derrotas e vitórias e que o mais importante é saber dar valor a quem foi melhor que nós. Se agirmos deste modo mostremos que somos humildes e que temos bom carácter!
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Um Lugar Estranhamente Vazio Desde Que Te Foste Embora Da última vez que te vi não tinhas o cabelo tão comprido O céu caiu-me aos pés
Mas a fugacidade da tua vinda partiu-me Mais uma vez
Querias fugir dali, de encontro ao mar
E falavas com um certo brilho que não te conhecia E sorrias com frases soltas elípticas vagas Claro que era um sonho
As palavras ficam sempre entrecortadas nos sonhos
E as caras difusas apenas mostram o suficiente para nos reconhecermos Mas afinal eras tu, não podias deixar de ser tu E quando desapareceste na estrada O mar atrás de ti
O meu olhar perdido
Deixas-me sempre com demasiado por dizer Margarida Almeida . Aluna do 11º F
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Sociedade Joana Oliveira . Aluna do 12º B
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A verdadeira personalidade, as ideias, os pensamentos e opiniões é que torna os indivíduos únicos e insubstituíveis e, muitas vezes, toda esta beleza está encoberta por aquilo que a sociedade espera que sejamos.
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sociedade gira em torno da opinião dos outros. Muitas vezes, ou melhor, a maioria das vezes as pessoas não cometem uma determinada ação pelo facto de elas próprias gostarem ou se sentirem bem com isso, mas para que os outros aceitem ou aprovem. Esta necessidade de ser aceite e não fugir à normalidade afeta pessoas de todas as idades, mas, principalmente, os jovens. Mais do que agradar a si próprios querem agradar ao grupo de pessoas em que estão ou gostariam de estar inseridos, e isto acontece mesmo que as pessoas não tenham consciência disso, e acontece em situações bastante habituais do quotidiano, como, por exemplo, na maneira como as pessoas se vestem, na forma como comem ou como falam. A aceitação do indivíduo, na sociedade em geral
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ou em certos grupos de pessoas, é realmente bastante relevante, pois é um fator essencial no que toca à autoconfiança e autoestima das pessoas, já que, caso não sejam “aprovadas” pela comunidade, acabam, muitas vezes, por se inibir ou ficarem constrangidas e não conseguem manter uma vida social saudável. Nos dias de hoje, embora pareça que a sociedade aceita razoavelmente bem os que escapam um pouco à normalidade, o preconceito relativamente ao que foge ao ideal estabelecido pela sociedade em que vivemos mantém-se, e as pessoas continuam a querer ser aceites pelos outros, mesmo que afirmem o contrário. Tudo isto faz com que as pessoas valorizem e se preocupem mais com a sua aparência, que acaba por se sobrepor ao essencial das próprias pessoas, ao que as torna interessantes. A verdadeira personalidade, as ideias, os pensamentos e opiniões é que torna os indivíduos únicos e insubstituíveis e, muitas vezes, toda esta beleza está encoberta por aquilo que a sociedade espera que sejamos. Podemos, então, dizer que o facto de as pessoas tenderem para a normalidade, o facto de serem o que a sociedade pretende lhes oculta o que as torna especiais, o que as distingue de todos os outros. A sociedade necessita de compreender que, antes de agradarmos ao próximo, devemos gostar de nós próprios e comportarmo-nos da forma que achamos melhor, para que nos sintamos bem connosco mesmos e não somente que os outros se sintam bem connosco, pois a nossa autoconfiança é capaz de conquistar a sociedade, mesmo que fuja ao modelo pré-definido da normalidade.
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Objetivo Cumprido Rogério Faceira . Professor de Informática
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Esta mobilidade [à Turquia] foi enriquecedora para todos […}. É uma experiência inigualável. Que o digam quantos já participaram neste tipo de mobilidades. Os testemunhos andam por aí.
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mobilidade a Gaziantep no âmbito do Projeto Erasmus+ foi um sucesso, sendo que os nossos alunos classificaram a experiência como fantástica e inesquecível. A equipa que representou o AEJAC era constituída pelos alunos Carlota Figueiroa Rego, Diogo Teixeira, Fábio Seixas e Sérgio Luz acompanhada pelos Professores Miguel Madureira e Rogério Faceira. Os nossos alunos apresentaram o culminar do árduo trabalho de todos os elementos envolvidos no projeto, nomeadamente dos alunos que se dedicam fora dos seus horários a estas atividades extracurriculares na busca da valorização pessoal, que muito louvamos e incentivamos. Deslumbraram com um vídeo da nossa região, realizado e produzido pelo Sérgio, vencedor do logótipo do projeto,
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e também com uma reflexão sobre formas de poupar, racionalizando os recursos naturais, através de uma súmula de vídeos e apresentações produzidas quer por este quarteto quer pelos outros grupos de alunos que se dedicaram a este propósito. Por fim ainda se exibiu um vídeo de apresentação do site do projeto que o Sérgio está a desenvolver em conjunto com o Prof. Miguel e que em breve irá ficar online. Assistiu-se aos trabalhos dos nossos parceiros Turcos, Gregos, Húngaros e Polacos. Os nossos jovens ficaram alojadas junto dos alunos Turcos. Ficaram em casa da Serdem, do Kursad, do Mehmet e do Furkan, respetivamente. Foram recebidos como família e o espírito de amizade e camaradagem, sem nacionalidades, que se estabeleceu foi gratificante enchendo-nos, mais uma vez, de orgulho ao ver voar a quem asas se deu. A cidade de Gaziantep fica no sul da Turquia, que é um país fabuloso bem como as suas gentes. É uma região em franco crescimento até pelo grande número de refugiados Sírios. Sem desemprego, sente-se o frenesim do dinamismo, da economia numa cidade de mais de 2 milhões de habitantes, de quase 300 escolas e muitas mais mesquitas. Fomos acolhidos pelos colegas
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da Escola Gaziantep Sabahattin Zaim Sosyal Bilimler Lisesi de forma franca e que fizeram questão de nos mostrar orgulhosamente a sua cidade que combina o ancestral com elegância e com tecnologia, que mistura o oriente e o ocidente. Visitaram-se importantes Museus mas também infra estruturas tecnológicas ambientais das quais se destaca, claramente, o único aterro sanitário da cidade, gigantesco, cujo princípio de funcionamento é em tudo semelhante ao método cá utilizado com a diferença de em Portugal terem sido implementados em 1998 com recurso a financiamento europeu enquanto que o de Gaziantep já em 1993 estava em funcionamento. Lá como cá faz-se o aproveitamento do Metano para produção de energia elétrica com recurso a grupos geradores com motores de combustão. Outro marco importante da mobilidade foi a visita à casa autossustentada, modelo, cujo objetivo é não desperdiçar energia e ser autossuficiente. Esta mobilidade foi enriquecedora para todos, dando contributos a inúmeros níveis, quer para os alunos quer para os professores. É uma experiência inigualável, de valorizar. Que o digam quantos já participaram neste tipo de mobilidades. Os testemunhos andam aí.
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E quando…? E quando deixamos de ter força nos nossos pés para suportar o nosso próprio peso?...
E quando as nossas costas parecem carregar toneladas de chumbo?...
E quando nos parece que estão dois pratos a bater um contra o outro constantemente e esse eco permanece dentro da nossa cabeça?...
E quando deixamos de nos importar com o nosso corte de cabelo?...
E quando deixamos de ter sonhos?...
E quando cozinharem-nos o nosso prato favorito passa a não fazer-nos qualquer diferença?...
E quando deixamos de ter tempo para ver repetidamente o nosso filme favorito como antes fazíamos?... E quando tudo o que vemos à nossa frente é apenas trabalho?...
E quando até deixamos de gostar de ir às compras?...
E quando já nem apreciamos o aconchego dos nossos lençóis? E quando deixamos de ter um jantar só a dois?... E quando não toleramos coisas que nós próprios já fizemos?...
E quando queremos adormecer e nesse momento a
única coisa que realmente não temos é sono?...
E quando tudo o que queremos é estar sozinhos?... E quando não temos ninguém que nos dê a mão e nos
ajude a levantar, sem antes nos perguntar porque caímos? E quando já não apreciamos os planos em família?...
E quando já nem mesmo consideramos o nosso aniversário motivo para celebrar?...
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E quando a pessoa que nós mais queremos está longe?...
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E quando a velha amizade deixar de ser o que sempre foi?... E quando tudo é motivo para originarmos uma discussão?... E quando nos dizem que nunca é tarde de mais e só nós não conseguimos ver isso?...
E quando achamos que a vida é injusta, mas só para o nosso lado?
E quando a nossa vida não passa mesmo de uma rotina?... E quando o nosso corpo nos deixa de obedecer?... E quando cometemos erros?
Isso é a única coisa permissível que aqui está escrita. Nós temos o direito de errar. Até porque na maior parte das vezes é com os erros que aprendemos mais. Mas nunca podemos deixar que a nossa vida nos pareça um erro.
Nós temos o direito de sermos felizes e só nós podemos fazer com isso aconteça; só nós controlamos a nossa
felicidade. Quando as coisas não estão bem tudo o que
temos a fazer é mudar de vida; mudar o rumo à nossa vida. Viver não é um castigo. E a ser feliz, aprende-se!
Cometer certas loucuras é bom e saudável! Somos nós
os responsáveis por dar o significado à nossa vida e de nos motivarmos a vivê-la.
Maria Inês Alves . Aluna do 12º B
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A Paz Maria Inês Santos . Aluna do 11º A
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A paz que salve o mundo de todas as injustiças e de todo o sofrimento.
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Se pensarmos na fome, na guerra, no desrespeito pelos outros, na segregação racial, na xenofobia, na violência a vários níveis, enfim em muitas outras coisas que infelizmente imperam no mundo em que vivemos, vem-nos à ideia o sofrimento de que tanta gente é vítima. Por tudo isto, é urgente a paz. A paz que salve o mundo de todas as injustiças e de todo o sofrimento. A paz em que todos se sintam livres. Foi por esta liberdade quem um dia Martin Luther King Jr. fez o famoso discurso “I Have a Dream” ( Eu tenho um sonho), durante a chamada “marcha pelo emprego e pela liberdade”. Muitos como Martin Luther King Jr. têm lutado contra todas as injustiças, muita coisa já se conquistou, mas, infelizmente, não tem sido o suficiente. A diferença entre raças, ideologias,
Jigme Wangchuck
az” é a palavra que mais se ouve na boca da maioria das pessoas em todo o mundo mas, paradoxalmente, assistimos diariamente a notícias de guerra, ódio e violência.
credos, a ambição do poder têm comprometido a paz, tão ansiada por alguns, mas completamente desprezada por outros. Será que algum dia tudo isto acabará? Será que o bem reinará sobre o mal e que todos os povos vivarão na tão desejada “PAZ”? São perguntas de resposta difícil. Contudo, precisamos de acreditar num mundo melhor e perceber que a verdadeira mudança deve começar em cada um de nós. É espalhando o amor e a fé que reina em nossos corações, é respeitando o espaço de cada um, é levando o sorriso ao rosto das crianças, é é acreditando, querendo, é chamando por ela, que ela virá ao nosso enconto: “Paz”.
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Poder da Imagem Ana Fernandes . Aluna do 11º F
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De facto, esta obsessão pelo alcance da imagem perfeita é-nos de tal modo imposta, que a importância da aparência se torna notória até no local de trabalho.
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os tempos que correm vivemos no seio de uma sociedade autodenominada desenvolvida. Mas até que ponto nos podemos realmente considerar tal quando, a cada dia que passa, a ideia de beleza acima de inteligência é mais e mais perpetuada? Enquanto somos novos, os nossos pais e encarregados educam-nos para sermos trabalhadores, alegando que o exterior não é relevante, que apenas o esforço e beleza interior nos proporcionarão os meios para alcançar os nossos objectivos. No entanto, à medida que vamos crescendo, apercebemo-nos de que esse não é bem o caso. Os media, nomeadamente os programas e revistas de moda, aliados à publicidade, criaram um modelo de beleza a que devemos corresponder em ordem a sermos alguém na vida. Somos contante e exaustivamente bombardeados com mensagens que transmitem como devemos parecer, o que devemos vestir, como devemos
andar, basicamente controlando quem nós somos e como vivemos a nossa vida. De facto, esta obsessão pelo alcance da imagem perfeita é-nos de tal modo imposta, que a importância da aparência se torna notória até no local de trabalho. Aquando de uma entrevista de emprego, cada vez mais o empregador toma a aparência do indivíduo como um grande fator a considerar. Temos que nos perguntar: queremos de facto viver numa sociedade em que as grandes corporações preferem empregar uma pessoa bem-parecida a uma inteligente e apta para o trabalho, mas que, infelizmente, não se enquadra num padrão pré-definido de beleza? Assim, concluo que o poder da imagem é realmente sobrevalorizado, algo que tem que ser alterado, começando por pôr um fim à constante alimentação desta por parte da comunicação social.
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Ninguém se entende Inês Mesquita . Aluna do 12º B
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Tempo de aproveitarmos a nossa juventude como deve ser, sem ter aquela constante preocupação do “O que vai ser de mim?!”, como se todo o santo passo que damos, fosse condicionar algo que acontecerá 10 anos depois.
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artindo do tema da discriminação, ocorreu-me o caso dos ideais profissionais que nos são transmitidos ao longo da vida. É um caso de grande euforia, preocupação e principalmente stress e paranóia, tanto para filhos como para pais. Existe um sistema, igual para todos, o problema é, precisamente, que não assenta a todos. “Que queres ser quando fores grande?” “Quero ser bombeiro!”, oh a doce e inocente felicidade das crianças quando respondem aquela pergunta, quer com “bombeiro”, “veterinário”, “cantor” ou até um simples e modesto encolher de ombros e um “Não sei” despreocupado. Os anos passam, o tempo escasseia, demasiado depressa, diria eu. Brevemente, já não temos o usual riso enternecedor quando ouvem a nossa resposta, já é apenas um sorriso preocupado e um “É melhor
começares a pensar nisso”. Quando damos por nós, já é o dia do juízo final, o tic-tac parou e o tempo para decidir esgotou. Passamos grande parte da nossa adolescência a pensar na nossa vida adulta, e grande parte da nossa vida adulta a pensar na adolescência. Enquanto somos jovens e a transbordar de energia e entusiasmo, tentamos dividir o tempo entre divertirmo-nos e refletir sobre o futuro, e quando finalmente chega essa altura, dividimos o tempo entre pensar nas preocupações do presente e lamentar as oportunidades perdidas do passado. Nunca chegamos a um consenso, nem nos permitem que cheguemos. Quando atingimos a adolescência “é esperado que comecemos a agir como adultos, mas tratam-nos como crianças”, mas isso é porque…bem, é o que nós somos! Somos um fantástico híbrido de uma criança
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Thayer Gowdy
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despreocupada que se quer divertir e um adulto paranóico que nem sabe para onde se virar. Temos, no entanto, algo em comum: queremos chegar a algum lado. Faz parte da nossa mentalidade, como seres humanos, querermos deixar a nossa marca, ser relembrados, ter a certeza que aproveitamos bem a nossa estadia neste mundo dos que respiram. E fazemos projetos e temos ambições e ideias e ficamos assustadoramente entusiasmados com elas, como se corrêssemos o Mundo apenas para as concretizar…! Mas barram-nos o caminho logo no início. Atenção que o que vou dizer a seguir não é contra a educação, muito pelo contrário. É apenas contra a lavagem cerebral. Há uma grande diferença entre ambas. Somos obrigados a escolher o nosso futuro demasiado cedo. Somos jovens, ingénuos, estúpidos e inocentes! Como é que esperam que façamos a escolha acertada?! O mais provável é acabarmos, 20 anos mais tarde, a detestar todas as manhãs porque nos espera um trabalho e uma vida que não queremos e com a qual não nos identificamos.
E porquê? Porque escolhemos demasiado cedo. Num dia podemos querer ser astronautas e ir à lua, no outro já podemos querer desenhar prédios e ser arquitetos, na semana seguinte ter aquela vontade de pegar na guitarra e tocar para milhões de pessoas, e, quem sabe, no mês seguinte, querer, somente, pegar na bata e ir ver como estão os pacientes. Gostava que tivéssemos tempo. Tempo de nos explorarmos, de encontrarmos algo que podemos dizer com toda a segurança “Faria isto para o resto da minha vida!”. Tempo de aproveitarmos a nossa juventude como deve ser, sem ter aquela constante preocupação do “O que vai ser de mim?!”, como se todo o santo passo que damos, fosse condicionar algo que acontecerá 10 anos depois. Principalmente, tempo de nos conhecermos e de escolhermos. Tenho a noção que nem todos os caminhos vão dar a um belo jardim, mas se não tentarmos, nunca sabemos, e se nos guiarem na direção oposta, também nunca mais chegamos lá.
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Biblioteca Colorida No vitral da biblioteca, Há silêncio, há barulho,
Há descobertas, há invenções, Há prateleiras com livros, Modernos e antigos.
Há banda desenhada, anedotas Para rir e dar cambalhotas!
Dando cor, vida e mais cultura
A biblioteca, nos saberes, é pura! Marta Alves . Aluna do 10ºC
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O Preço das Palavras Sara Peres . Aluna do 11º C
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Ninguém nasce odiando uma pessoa pela sua cor de pele ou religião. As pessoas são ensinadas a odiar. E se elas aprendem a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.
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Apesar de mais direitos e uma maior igualdade entre géneros e raças, continua a haver restrições. No passado houve vários movimentos, por parte de muitas pessoas de diferentes estatutos, raças e ideais, que pretendiam promover a liberdade. Exemplo disso foi Nelson Mandela, que lutou contra o apartheid na África do Sul. Ninguém nasce odiando uma pessoa pela sua cor de pele ou religião. As pessoas são ensinadas a odiar. E se elas aprendem a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.* Será que esse ódio voltou, ou será que nunca desapareceu! A verdade é que ele hoje está
Guinnessyde in Deviantart
s tempos mudaram. As pessoas mudaram. Tudo está diferente, mas muita coisa permanece igual. Será a liberdade uma das coisas que não se alterou? Será que a liberdade que temos hoje é a mesma de há uns anos atrás?
presente. Prova disso são os atentados que ocorrem em todo mundo contra pessoas que, de uma maneira ou de outra são postas de parte e vistas como diferentes, tal como acontecia durante o regime de apartheid. Afinal temos de repensar a nossa liberdade, pois ela não é assim tão abrangente. Na verdade nunca se sabe quando alguém nos interpreta mal, nem mesmo qual será o preço a pagar pelas nossas palavras. * Nelson Mandela (1918-2013)
WORLD PRESS PHOTO 2015
in World Press Photo Website | http://www.worldpressphoto.org/
Jon and Alex, a gay couple, share an intimate moment at Alex’s home, a small apartment in St Petersburg, Russia. Life for lesbian, gay, bisexual and transgender (LGBT) people is becoming increasingly difficult in Russia. Sexual minorities face legal and social discrimination, harassment, and even violent hate-crime attacks from conservative religious and nationalistic groups.
JON AND ALEX Mads Nissen, Denmark
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ensar(es) Coordenação Professores de Filosofia Redação A. Marcos Tavares Manuel Ferreira José Artur Matos Colaboradores/Alunos Ana Catarina Xavier, Ana Fernandes, Ana Gomes, Ana Meireles, Ana Rita Sequeira, Carlota Pinto, Carolina Monteiro, Catarina Pimenta, Cátia Cardoso, Clara Magalhães, Cristóvão Pereira, Diana Silva, Diogo Miguel, Filipa Gonçalves, Guilherme Lopes, Inês Mesquita, Joana Oliveira, João Alves, João Pedro Pereira, José Guedes. José Pinto, Margarida Almeida, Maria Catarina Magalhães, Maria Inês Alves, Maria Inês Santos, Marta Alves, Micaela Monteiro, Nicole Vieira, Ricardo Sequeira, Sara Peres, Tiago Alves. Colaboradores/Professores Agostinha Araújo, A. Marcos Tavares, Conceição Dias, Fernanda Sousa, João Rebelo, José Artur Matos, Lina Aires, Manuel Ferreira, Raia Serra Design e paginação José Artur Matos Imagem da capa José Artur Matos Impressão Imprensa do Douro Tiragem 300 exemplares
ensar(es) 1999 . 2015
DOURO Património Mundial da Unesco “Douro verdejante de socalcos vinhedos, sustentam paixões de um Povo vigoroso que produz da sua terra sonhos e encantos.” António Barroso