OS TRÊS IRMÃOS — Conto tradicional da Galiza (Espanha)
Em tempos que já lá vão, havia um homem muito pobre que tinha três filhos. Um dia, sentindo que a morte se aproximava, chamou-os: — A minha hora está a chegar, meus filhos. Toda a vida trabalhei de sol a sol, ao calor e ao frio, com saúde e doente, com vontade e sem ela. Apesar disso, morro tão pobre como nasci. De mim ficam as lembranças e esta manta pequena e velha. Dividam-na como puderem. Finou-se o pai e os irmãos continuaram a trabalhar e a viver juntos. Até que chegaram os primeiros frios do outono. Certa noite, os rapazes foram-se deitar e cobriram-se os três com a manta. Como esta era pequena e mal chegava para os três, passaram a noite puxa para aqui, puxa para ali. Então o mais velho decidiu enganar o mais novo e, de manhã, foi ter com ele e propôs-lhe que lhe vendesse a sua parte da manta. — Vendo, sim senhor. Só ponho uma condição. Todos os dias me hei de deitar entre vocês os dois. — Negócio fechado! — exclamou o mais velho que só queria, aos poucos, tornar-se no único proprietário da herança paterna. E logo ali chegaram a acordo. À noite foram-se deitar e, como combinado, o mais novo deitou-se entre os irmãos. Ao fim de pouco tempo, os das pontas começaram a puxar pela manta. O mais novo, muito encolhido entre os dois, limitava-se a dizer: — Coitadinho do que vende que não puxa nem estende! Coitadinho do que vende que não puxa nem estende! [Fonte: Messeder, J. P. & Ramalhete, I. (2016). Contos e lendas de Portugal e do mundo. Porto Editora.]
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