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Beira do Rio

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Abril e Maio, 2020

Amazônia Engenharia

Conservação no nordeste do Pará Pesquisa analisa recuperação florestal entre agricultores familiares   Flávia Rocha

A

conservação ambiental é um tema que, há muito tempo, tem aparecido em discussões sobre a Amazônia. Em 2019, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais registrou aumento nos números de desmatamento da região, o que atraiu a atenção de diversos países para o local. Quando se fala de preservação da Amazônia, é necessário, primeiramente, controlar a situação do desmatamento. Depois disso, uma das alternativas é a recuperação dessas florestas. Na mesorregião do nordeste do Pará, grande parte de pequenos agricultores realiza essa prática. Dessa forma, o agrônomo Renan do Vale Carneiro desenvolveu a dissertação Experiências de recuperação florestal praticadas por agricultores familiares do Nordeste do Pará,

pelo Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA/ INEAF), sob orientação da professora Lívia de Freitas Navegantes Alves. “Nós tentamos observar as experiências dos agricultores familiares em relação à recuperação florestal. Não queríamos criar um modelo e levar para os agricultores, mas, sim, tentar aprender com eles”, afirma Renan Carneiro. A pesquisa também contou com o apoio do Projeto Refloramaz e da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). Segundo o pesquisador, recuperação florestal significa fazer com que uma área volte a ter suas características e funções ecológicas com certa intervenção. Não há possibilidade de retorno à mata primária, mas consegue-se voltar às funções ecológicas desse sistema por meio de inclusão de espécies vegetais. Para isso, é preciso ter certo nível

de diversidade de espécies. O estudo ressalta que políticas públicas e legislações existentes sobre o assunto tentam padronizar um certo número de diferentes tipos de árvores em um arranjo. Foi realizado um levantamento de 60 experiências em quatro municípios da mesorregião nordeste do Pará: Capitão Poço, Irituia, Bragança e Tomé-Açu. “Nós escolhemos esses municípios porque vimos que lá existem experiências interessantes de agricultores fazendo recuperação florestal. Como os municípios têm contextos sociais e históricos diferentes, as experiências não seriam tão parecidas. O nordeste paraense é uma das regiões mais antigas de colonização da Amazônia, existem pessoas que já residem lá há muito tempo, e isso traz características bem particulares”, explica o agrônomo.

Capoeira e quintal agroflorestal são comuns A dissertação está dividida em três partes. Na primeira, foi feita uma tipologia das recuperações. De acordo com o estudo, a Amazônia possui um nível de regeneração natural muito alto, isto é, quando uma área desmatada cresce sozinha, depois de um tempo sem ser mexida. Também chamada de capoeira, essa técnica de recuperação florestal é comum entre os pequenos agricultores. Outro tipo bastante comum é o quintal agroflorestal, no qual plantas são cultivadas ao redor da casa. Essa área tem a função de sombrear o local com espécies frutíferas, geralmente aquelas que a família gosta de consumir. Foram encontrados cinco tipos de recuperação ao todo. Os outros três são sistemas agroflorestais, ou SAF, que significa cultivar, numa mesma área, diversas espécies de plantas em um certo arranjo, diferente da monocultura, que propõe o plantio de uma só

espécie. O código florestal permite que florestas sejam recuperadas com o SAF. “Existem SAFs com três ou quatro espécies de plantas e outros com 70. Assim, o agricultor decidiu aos poucos onde ele ia colocar cada espécie, de acordo com a luminosidade, o espaçamento entre uma planta e outra. Os sistemas mais complexos (com maior variedade de plantas), do ponto de vista da biodiversidade, são mais interessantes. Porém, do ponto de vista da produção, nem tanto, porque você tem ‘um pouco de tudo’ e fica mais difícil de escoar a produção”, expõe o pesquisador. Na segunda parte, a dissertação busca entender quais são as maneiras de incentivo para essas experiências, como as políticas públicas existentes, e verificar quais experiências motivaram esses agricultores a fazer recuperação florestal. O estudo aponta que, quando

esses agricultores se organizam socialmente em forma de cooperativas ou de associação, há grande contribuição para que eles consigam avançar nessas experiências. Um exemplo é a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA), que é antiga e renomada, e vende produtos provenientes de áreas de recuperação florestal. O terceiro e último capítulo abordou a trajetória da recuperação florestal nos municípios, com base em uma análise espaço-temporal desses processos e como a incorporação dessas práticas afetou a área. Para isso, foram visitadas duas propriedades com tipos diferentes de recuperação para verificar o que elas tinham em comum e quais foram as suas trajetórias de reabilitação. Uma propriedade era em Bragança; e a outra, em Tomé-Açu. Foi feita uma caracterização da história de cada município e como o contexto influenciou essa experiência.


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