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Beira do Rio

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Abril e Maio, 2020

Inovação

Da matéria bruta ao produto acabado Pesquisa transforma óleos amazônicos em bioprodutos odontológicos   Flávia Rocha

O

s óleos vegetais amazônicos são um elemento essencial da cultura paraense. Pode-se encontrá-los em farmácias, supermercados e, principalmente, em feiras livres. O conhecimento sobre a sua aplicação é passado de pais para filhos, de tal modo que é quase impossível não ter usado algum desses óleos pelo menos uma vez na vida. A maioria de nós conhece as propriedades inseticidas do óleo de andiroba, mas o que muitos ainda não sabem é o papel promissor que os óleos amazônicos têm no desenvolvimento tecnológico do Pará. O Grupo de Desenvolvimento Tecnológico em Biopolímeros e Biomateriais da Amazônia, pertencente ao Laboratório de Óleos da Amazônia (GDTec Biomazon/LOA), criou o Projeto Óleos

vegetais amazônicos: desenvolvimento sustentável e inovação tecnológica de bioprodutos via impressão 3D, o qual tem o objetivo de transformar óleos vegetais amazônicos em materiais que possam ser aplicados na área da saúde, especificamente, em resinas odontológicas. Segundo a coordenadora do projeto, professora Marcele Fonseca Passos, além de valorizar óleos pouco conhecidos na região, o estudo também possui foco em questões de sustentabilidade ambiental. O principal objetivo é, começando do material bruto, desenvolver uma resina que possa ser aplicada numa impressora 3D para, assim, obter bioprodutos de alto valor agregado, como guias cirúrgicos, implantes, entre outros. “Para esse processo, utilizamos o sistema catalítico verde, ou seja, nós usamos catalisadores que não trazem impactos

negativos ao meio ambiente. Além disso, os solventes que estão por trás desse tipo de processo são não tóxicos, quando descartados não trarão prejuízos à natureza. Então tudo foi planejado para que pudéssemos alcançar um processo de produção sustentável”, afirma Elcio Malcher Dias Junior, estudante de Graduação em Engenharia de Bioprocessos e aluno participante do projeto. Dessa forma, a água foi um dos solventes utilizados. “Ao utilizar água, você também reduz o custo. Geralmente, os solventes usados são extremamente caros. Hoje, as resinas existentes utilizam formaldeído (substância tóxica) na sua composição. Nós conseguimos eliminar a sua presença e obter uma resina com características adequadas, utilizando solventes que não prejudicam o meio ambiente”, acrescenta a professora.

Novo material pesquisado não apresenta toxicidade O estudante Elcio Malcher revela que as resinas utilizadas normalmente possuem um baixo grau de toxicidade. No entanto, com o tempo, os polímeros que compõem a resina se degradam, originando monômeros (pequenas moléculas) tóxicos. “Nós já realizamos alguns testes de viabilidade celular e vimos que o nosso material não apresenta toxicidade. Isso é um ponto muito importante”, afirma Elcio. “Com o passar do tempo, esses monômeros podem trazer algum efeito adverso no organismo, como inflamação ou alergia. Essa implicação pode acontecer sem que a pessoa saiba o que realmente se passa no seu organismo”, explica a professora Marcele Passos. No final de 2019, o projeto foi selecionado para o 8º Prêmio Instituto 3M para Estudantes Universitários, no qual recebeu

Menção Honrosa e Mentoria em Pesquisa e Desenvolvimento. “Foi uma forma de estabelecer um vínculo empresa/universidade. Esse edital é de empreendedorismo e proporciona uma nova forma de apresentar as pesquisas para o público, além de verificar a viabilidade do produto para o mercado. Às vezes, aqui, na região amazônica, nós fazemos a pesquisa básica e vendemos aquilo que temos de importante ou transferimos o conhecimento sem transformá-lo em produto e, quando volta para a região, já vem muito mais caro. Então, por que nós não valorizamos o que temos aqui? ”, questiona Marcele Passos. “Primeiro, tivemos uma capacitação sobre empreendedorismo para aprendermos a ‘vender’ a ideia, naquele molde de apresentação que não é tão familiar

para nós. No último dia, fomos para a sede da 3M para expor nosso produto. Foram apresentados cinco trabalhos de diferentes regiões do Brasil. Nós fomos selecionados para representar a Região Norte, levar o nosso conhecimento e apresentar a potencialidade dos nossos óleos”, conta Elcio Malcher sobre a experiência. “Inicialmente, a nossa apresentação estava no estilo dos seminários que fazemos em sala de aula, mas foram necessárias diversas adaptações. O mundo está mudando e é preciso que tanto os professores quanto os alunos se renovem. Nós ainda temos uma mentalidade voltada para o formato da sala de aula, fazendo com que os alunos apresentem seminários de 40 minutos, e isso é cansativo para todos”, avalia a professora.


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