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Beira do Rio

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Setembro, Outubro e Novembro, 2020

Entrevista

Edmar Costa

O grande desafio do momento Período letivo emergencial põe inclusão digital em pauta   Walter Pinto

E

ste mês, os estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) retornaram às atividades acadêmicas interrompidas em março por causa da pandemia de covid-19. Para efeito de segurança, as aulas foram retomadas na modalidade de ensino remoto, o que se constituiu um desafio extraordinário para uma instituição localizada num estado de grande dimensão como o Pará, com mais de 50 mil alunos matriculados, dos quais

Ensino remoto A proposta de desenvolver o ensino na forma remota é, sem dúvida, um grande desafio, considerando o perfil socioeconômico dos alunos da UFPA e a dimensão geográfica do estado. A UFPA possui mais de 50 mil alunos, somos a maior universidade pública em número de discentes, 85% dos quais em situação de vulnerabilidade socioeconômica (renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo). Além disso, a Universidade atinge, com os seus 12 campi e dezenas de polos universitários, mais de 60 municípios paraenses. Esta combinação (muitos alunos, a maioria em situação de vulnerabilidade socioeconômica, espalhados em locais diferentes e distantes entre si – com características regionais próprias de acesso à informação digitalizada) nos leva a concluir por um grande contingente de discentes com dificuldades de acesso às informações que trafegam pela internet. Eles representam o elemento com o qual a Administração Superior deve ter mais atenção, sob a forma de uma política institucional de inclusão digital já em execução, a qual deve ser absorvida como pauta permanente, pelos impactos positivos que pode ter no aprendizado e no engajamento dos discentes em seus cursos de graduação.

Auxílios emergenciais Como parte das iniciativas para mitigar as dificuldades men-

85% estão em situação de vulnerabilidade. Mas a Instituição trabalha para mitigar as dificuldades por meio de iniciativas com concessão de auxílios emergenciais para estudantes da graduação, da pós-graduação e do ensino básico, além de capacitação e inclusão digital. Nesta entrevista, o pró-reitor de Ensino da UFPA, Edmar Costa, explica como a Instituição vem se preparando para esta situação emergencial e enumera os avanços no ensino de graduação, ressaltando que “o maior desafio da atual gestão foi investir na transformação qualitativa”.

cionadas anteriormente, a UFPA, por meio da Superintendência de Assistência Estudantil (Saest), publicou chamadas que autorizam a concessão de Auxílios Emergenciais de Apoio à Inclusão Digital para discentes de graduação, pós-graduação e ensino básico da UFPA, em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Um destes editais está endereçado especificamente aos discentes com deficiência, com possibilidade de auxílio financeiro para aquisição de tecnologias assistivas. Já temos a garantia, por parte do MEC, de que todos os discentes que se inscreveram no Edital receberão o auxílio sob a forma de pacote de dados. Além disso, já há comprometimento de recursos da Instituição que possibilitarão a compra de equipamentos para pelo menos 3.500 discentes, o que representa um investimento superior a quatro milhões de reais.

Inclusão digital Temos o entendimento de que este período letivo emergencial será marcado por desafios, não apenas para discentes, nossa maior preocupação pelo quantitativo e pela heterogeneidade, mas também para o corpo de docentes, habituados a cursos oferecidos tradicionalmente na forma presencial. Nossos docentes, em sua ampla maioria, não fazem planejamento de ensino voltado para ambientes distanciados dos alunos, não dominam as metodologias do ensino remoto e muitos deles mostram-se

resistentes ao entendimento de que essas metodologias são hoje imprescindíveis, para uma conjuntura muito específica e emergencial, sem que isso represente a transformação automática e definitiva de nossos cursos presenciais em cursos a distância. O uso correto das tecnologias, tanto por parte de discentes como de docentes, também representa um desafio importante, daí a necessidade de capacitação para o uso de tecnologias de informação e comunicação, sob forma de cursos e oficinas oferecidos pela UFPA.

Aulas práticas e internato A portaria que permite substituir ensino presencial por atividades não presenciais (Portaria MEC nº 544/2020) destaca que a substituição deve obedecer ao que está previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para cada curso. Por exemplo, no caso do curso de Medicina, as DCNs do curso permitem um máximo de 20% de atividades não presenciais na realização do internato médico, o que impede o cumprimento integral desse componente de modo remoto. Dessa forma, a Resolução aprovada na UFPA permite que a coordenação do curso avalie essa excepcionalidade e elabore, com os seus docentes e com a participação da representação discente, um plano de trabalho para que, nesse caso específico, seja possível realizar o estágio com momentos presenciais, resguardadas as condições de biossegurança


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