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Beira do Rio

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Setembro, Outubro e Novembro, 2020

Carnaval e Devoção. Fé e Alegria O que diz o Círio de Nazaré sobre a religiosidade paraense?

ALEXANDRE DE MORAES

Flávia Rocha

P

ara muitas pessoas, a simples menção ao Círio de Nazaré traz à tona fortes memórias afetivas envolvendo devoção, cores e sabores. Também chamado de “Natal dos paraenses”, o Círio proporciona um sentimento festivo que é “palpável” durante todo o mês de outubro. Os termos “Círio de

Nazaré” ou apenas “Círio” designam a festividade religiosa como um todo, incluindo missas, procissões, peregrinações, festas, arraial, shows, autos e mais uma infinidade de acontecimentos que remetem à festividade. Com o passar do tempo, esses eventos multiplicam as formas de celebração. Assim, o Círio de Nazaré reflete vários aspectos da cultura paraense.

Na tese O Círio de Nazaré de Belém (PA) como fresta para a religiosidade paraense, a antropóloga Mariana Pamplona Ximenes Ponte afirma que o seu objetivo foi compreender a religiosidade considerando que o Círio de Nazaré de Belém tem representatividade regional na área estuarina do estado. Sendo assim, seria possível ter acesso ao ethos religioso paraense. A tese foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Sociologia (PPGSA/IFCH), sob orientação da professora Carmem Izabel Rodrigues. A tese mostra que o catolicismo é um dos elementos centrais da religiosidade no Pará e tem em seu centro o culto aos santos. A influência de práticas religiosas de matriz africana e indígena é inegável. “Ocorre que, de certa forma, todas essas práticas se relacionam e, juntas, compõem um ethos religioso amazônico”, explica a pesquisadora. É ainda

possível ver a influência portuguesa. Vários hábitos dos círios lusitanos do século XVII podem ser encontrados no Círio de Belém do Pará, por exemplo, o pé descalço como forma de penitência ou promessa e os ex-votos de cera. O Círio é composto por eventos de diversos formatos, que podem ser divididos em dois grandes grupos: os organizados e realizados pela Diretoria da Festa, com o apoio da Arquidiocese de Belém, os quais compõem a programação “oficial”; e os que não são organizados pela Diretoria da Festa. Este segundo grupo é composto pelo Auto do Círio, pela Festa da Chiquita, pelo Arrastão do Pavulagem, entre outras festas, e costuma ser chamado de “o lado profano do Círio”. No estudo, Mariana Ximenes discute os conceitos de “sagrado” e “profano” no campo da Antropologia e como eles se aplicam a esse outro grupo de eventos.

Nada é rotina quando se fala no “Tempo do Círio” De acordo com Émille Durkheim, a esfera do sagrado é aquela fora do tempo comum, na qual há efervescência, encontro, celebração do coletivo, enquanto o profano é o tempo comum, a rotina, o tempo do trabalho. “Neste sentido, todos os eventos e práticas do Círio de Nazaré de Belém, sejam elas oficiais ou não, são sagrados, pois

estão fora do tempo comum. Nada é rotina quando se está no ‘Tempo do Círio’”, revela Mariana Ximenes. “A pesquisa foi baseada na crítica ao paradigma da religião popular. No texto, nós a tratamos como ‘religião normal’, ou seja, a não institucional. Trata-se de analisar a religiosidade do devoto comum

em seus próprios termos, com suas práticas e dinâmicas, seus simbolismos e imaginário, e não como se fosse uma versão empobrecida da religião oficial”, explica a pesquisadora. A metodologia envolveu pesquisa de campo e observação participante com coleta de dados primários e entrevistas gravadas. A coleta de dados se-

cundários envolveu outras pesquisas, materiais veiculados na mídia e de divulgação produzidos por instituições, produções audiovisuais (filmes, vídeos, performances e fotografias) e literatura, além da revisão bibliográfica. “Participei de missas, shows, festas, procissões, romarias, peregrinações que fazem parte do Círio durante


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