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OS DESAFIOS NA PRODUÇÃO DE CEBOLA FITOSSANIDADE

A cebola, Allium cepa L., é a terceira hortaliça mais produzida no Brasil, com cerca de 1,5 milhão de toneladas na safra 2021. Nos últimos 10 anos a produção nacional de cebola vem se mantendo praticamente estável, contudo, se verifica leve redução na área plantada, safra após safra, compensada por um incremento na produtividade média. A estagnação na produção brasileira fez com que caíssemos de 10º para 15º produtor mundial de cebola.

Desafios e oportunidades da cebola

O aumento nos custos de produção também atingiu os cebolicultores. Como muitos insumos vêm sendo reajustados em função da cotação do dólar, há dificuldades para os agricultores planejarem os investimentos necessários para a produção. Em São Paulo, por exemplo, mesmo com elevada produtividade, em muitos casos, não foi possível compensar o aumento dos custos na última safra. Para a safra 2022 os agricultores devem estar atentos aos custos de produção a fim de não ter prejuízos. Contudo, se espera que os preços da cebola se elevem, tentando acompanhar os aumentos nos custos.

Oferta x demanda

A demanda por cebola no Brasil é maior durante as festas de final de ano até o carnaval, pois o consumo da hortaliça está tradicionalmente associado à condimentação de carnes. Por outro lado, nas festas populares de inverno, como as comemorações juninas, a cebola não é um ingrediente de destaque nos pratos típicos. Além disso, o consumo do produto em sopas e tortas, bastante comum em outros países, ainda é incipiente no Brasil. A oferta de cebola permanece constante o ano inteiro devido a diferenças no período de colheita e comercialização entre as regiões produtoras. Os Estados da região sul costumam comercializar suas safras de outubro a abril. Minas Gerais e São Paulo iniciam as vendas em maio até meados de setembro. A região nordeste, especialmente Bahia e Pernambuco, pode produzir durante o ano inteiro, porém, costuma ofertar o produto após a região sul, a fim de obter melhores preços.

Fitossanidade

As pragas e doenças da cultura da cebola variam sua incidência devido a diversos fatores edafoclimáticas e de manejo da cultura. Desta forma, a importância da praga ou doença é dependente da região de cultivo. O tripes, ou piolho-da-cebola (Thrips tabaci), em todas as regiões produtoras do Brasil; a mosca-minadora ou riscador (Liriomyza spp.), especialmente na região nordeste e; na safra 2021, a mosca-da-cebola ou mosca-da-raiz (Delia sp.) na região sul, se destacam como os principais insetos-praga da cultura da cebola. Dentre as doenças, também se verifica alteração na importância em função da região de cultivo. A mancha púrpura, fungo Alternaria porri, prefere as condições tropicais e apresenta maior importância nas regiões sudeste e centro-oeste. No Estado de Santa Catarina, onde as doenças fúngicas foliares assumem maior relevância, se destacam os danos causados pelo míldio ou mofo (Peronospora destructor), principal doença da cebola no Estado, e a queima das pontas ou pinta-branca, causada por Botrytis squamosa. Além dessas doenças, a virose causada pelo Iris yellow spot virus (IYSV) é bastante destrutiva, porém, com ocorrência esporádica. O tripes T. tabaci é o principal inseto-praga da cultura da cebola no mundo. Os danos são causados pela alimentação de ninfas e adultos, que sugam as células do tecido vegetal e provocam sua morte. Visualmente, o ataque pode ser identificado por lesões esbranquiçadas nas folhas. Posteriormente, estas adquirem um aspecto prateado e, em seguida, as lesões secam. Essas lesões reduzem a área fotossintética das plantas, podendo causar redução no tamanho e peso dos bulbos. Além dos

Daniel Rogério Schmitt Engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador - EPAGRI danielschmitt@epagri. sc.gov.br

Edivânio Rodrigues Araújo Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e pesquisador - EPAGRI edivanioaraujo@epagri. sc.gov.br

danos diretos, o tripes é vetor da virose do Iris yellow spot virus (IYSV). A mosca-minadora, no Brasil, tem registros da espécie L. trifolii e L. sativae, embora estudos sejam necessários para a confirmação das espécies que ocorrem nas diferentes regiões produtoras de cebola. As fêmeas colocam seus ovos no interior das folhas e após cerca de três dias as larvas eclodem e se alimentam do parênquima foliar, abrindo galerias no seu interior. A alimentação das larvas causa redução da área foliar, diminuindo a atividade fotossintética das plantas e, por consequência, a produtividade. A mosca-da-cebola se assemelha à mosca-doméstica. Apresenta ocorrência esporádica nos Estados do Sul do Brasil. As fêmeas colocam os ovos no solo junto às plântulas recém-transplantadas ou recémgerminadas. As larvas eclodem e se enterram no solo para se alimentar das raízes, impedindo a absorção de água e nutrientes. Com o crescimento, as larvas perfuram o colo da plântula e abrem galerias, que se assemelham a uma broca. Inicialmente, as plântulas atacadas murcham e amarelecem, causando sua morte em infestações severas. A mancha púrpura causa lesões amareladas nas folhas que evoluem para coloração lilás-avermelhada. Em condições de alta umidade, podem apresentar anéis concêntricos marrons a cinza escuro. Em geral, as folhas mais velhas são as mais suscetíveis. Ferimentos, especialmente aqueles causados pela alimentação de tripes, também favorecem a penetração do fungo. O míldio ocorre em qualquer estádio de desenvolvimento da planta. Os sintomas podem ser observados com a formação de uma massa acinzentada, semelhante a pequenos fios de veludo nas folhas. À medida que a doença evolui, observa-se a descoloração da parte atacada, as lesões aumentam de tamanho e se alongam no sentido das nervuras, tornando-se necróticas. A queima-das-pontas ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento das plântulas, especialmente em canteiros de produção de mudas. Inicialmente surgem pequenas manchas isoladas nas folhas, porém, em condições favoráveis, com temperaturas amenas (em torno de 20ºC) e grande período de molhamento foliar, a doença evolui rapidamente em forma de queima descendente. A diagnose da doença em campo não é simples, devido ao confundimento com fatores causadores de estresses, por isso, se recomenda o envio de amostras para laboratório. O vírus IYSV é transmitido por tripes, teve surtos verificados em Santa Catarina no ano de 2017 e se mostrou altamente prejudicial à lavoura. As plantas atacadas parecem ter sido queimadas com fogo, devido à seca intensa das folhas, por isso, é também conhecido como sapeco-dacebola. O manejo de tripes é o método mais eficaz para evitar a ocorrência dessa virose.

Controle

O primeiro passo para o controle é o bom manejo da lavoura, com a escolha da cultivar mais adequada, irrigação e adubação equilibradas. Desta forma, muitos problemas fitossanitários não causarão danos significativos.

O monitoramento também é uma etapa importante, pois permite ao agricultor aplicar o método de controle somente quando necessário, reduzindo os custos de produção e diminuindo os riscos de seleção de populações resistentes.

O controle químico é, ainda, o método mais utilizado para o manejo das principais pragas e doenças da cebola. Há cerca de 56 produtos inseticidas registrados para controle de tripes, muitos dos quais com ação sistêmica/ translaminar, que também apresentam ação para controle da mosca-minadora.

Contudo, especialmente para tripes, a eficiência destes produtos pode variar bastante devido à possível presença de populações resistentes. Por isso, é imprescindível que o agricultor, quando necessária a pulverização de inseticidas, realize a rotação de inseticidas com diferentes modos de ação. Não existem cultivares totalmente resistentes a todas as doenças no Brasil, logo, o manejo é realizado com aplicações frequentes de fungicidas. Em algumas regiões, chegam a duas aplicações por semana. Novamente, chamamos a atenção dos agricultores terem cuidado em não selecionar populações resistentes de patógenos.

Leandro Delalibera Geremias Engenheiro agrônomo, doutor em Entomologia e pesquisador - EPAGRI leandrogeremias@ epagri.sc.gov.br

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