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A POSIÇÃO DA BEJO NO MUNDO DAS CEBOLAS
Leon Boudens
LEON BOUDENS É MELHORISTA NO DEPARTAMENTO DE ALLIUM DA BEJO ZADEN, NA HOLANDA, ONDE INICIOU SEUS TRABALHOS HÁ 14 ANOS, E VEM TRABALHANDO COMO MELHORISTA NOS ÚLTIMOS OITO ANOS. MAS, A SUA CONEXÃO COM O BRASIL JÁ DURA MAIS DO QUE ESSE TEMPO. AS FLORES O TROUXERAM INICIALMENTE AO BRASIL, QUANDO ERA UM MELHORISTA DE LÍRIOS, ANTES DE SE JUNTAR À BEJO.
Cebolas são a principal cultura da Bejo, seguidas de repolhos e cenouras. A nível global, cebolas são uma das principais culturas olerícolas. “Há muitas oportunidades para expandirmos ainda mais a nossa presença nesse mundo da cebolicultura - para mencionar só dois segmentos, destaco as cebolas de dias curtos e as cultivares que atravessam o inverno”, diz Boudens.
Origem
A história da Bejo no segmento de cebolas se iniciou na Holanda, onde há mais de 50 anos ela comercializa híbridos de dias extralongos, do tipo Rijnsburger, líderes de mercado. Na Holanda se planta cerca de 30.000 hectares de cebolas por ano, das quais cerca de 90% são exportadas. A Bejo é líder de mercado em sementes de cebolas, tanto convencional quanto orgânico. Essa forte presença num mercado tão importante permitiu o crescimento em outros segmentos.
A Bejo tem um foco muito grande em sementes orgânicas e oferece as primeiras cultivares com resistência a míldio usadas não somente por produtores orgânicos, mas também por convencionais que, assim, aplicam menos fungicidas em suas cebolas.
As primeiras cultivares resistentes a míldio foram introduzidas no segmento de cebolas de dias extralongos há mais de 20 anos e agora a Bejo introduziu os primeiros híbridos com essa resistência em regiões de dias longos, com climas amenos e híbridos adaptados à produção de bulbilhos.
Influência do comprimento de dia
Leon Boudens explica que quando uma cebola começa a crescer, primeiramente ela desenvolve suas folhas, e em dado momento, precisa transferir a força das folhas para as raízes. “Cebolas de dias curtos começam a formar bulbos com 11 - 12 horas de luz por dia. Tipos de dias extralongos, como na Holanda, só iniciam essa transferência após o dia alcançar 15 horas de luz, o que significa que
as variedades devem ser adequadas ao local de plantio. Se um produtor brasileiro plantar uma variedade feita para a Holanda, ela seguirá em sua fase vegetativa até o fim da cultura, sem formar um bulbo”, esclarece.
Pelo mundo afora
A região de dias extralongos inclui parte da Europa Ocidental, Reino Unido e países escandinavos, onde os dias podem alcançar 16 horas de luz. Cebolas de dias longos estão presentes na França e Alemanha, na Europa, mas também numa importante região do Norte dos Estados Unidos. Nessa zona, as cebolas começam a bulbificar com 13 - 14 horas de luz. “A região de dias intermediários é formada por parte dos Estados Unidos, com o Oregon, por exemplo, boa parte da China e países europeus, como Espanha e Itália, grande parte do Leste Europeu, e ainda no hemisfério Sul, com parte da Argentina nessa zona. Essa região do globo concentra atualmente a maior fatia das vendas de sementes de cebolas da Bejo. Da Argentina, por exemplo, cultivares de dias intermediários, boas para armazenagem, são frequentemente exportadas para o Brasil”, informa o especialista. A região de dias curtos ocupa a maior parte do globo, começando no Sul dos Estados Unidos, cobrindo a América Central, quase toda a América do Sul, incluindo o Brasil, além do continente Africano e parte da Ásia.
Como escolher a cultivar certa
Além de conhecer as demandas do mercado, Leon Boudens deixa claro que o produtor deve se assegurar de que a cultivar tenha sido amplamente testada na sua região e na janela de semeio em que pretende plantar. “Aspectos de sua região, como latitude, altitude, solo e clima terão um enorme impacto nos resultados da cultura. E, evidentemente, o manejo para cultivares diferentes deve ser ajustado de acordo com suas necessidades”, ressalta. A Bejo conduz muitos ensaios com a sua genética em todas as importantes regiões produtoras, para poder bem recomendar o uso da cultivar ideal, na janela certa. Boudens segue com dois exemplos práticos: “Se um produtor no Brasil Central plantar Hacienda, um híbrido recomendado para o Nordeste do Brasil, ele terá uma variedade muito tardia. Como segundo exemplo, se um produtor na Bahia decidir plantar
Itaparica sob condições de calor muito intenso, a cultivar poderá sofrer com essas temperaturas. Provavelmente ela se adaptará melhor às épocas de clima mais ameno naquela região”, recomenda.
A presença das cebolas Bejo no Brasil
Leon Boudens se refere ao programa para o Brasil como ainda muito jovem, somando atualmente 20 anos. “Introduzimos nossos primeiros híbridos, mas há muito mais a ser explorado, com certeza. Um ponto muito interessante é que aparentemente essas cultivares se adaptam a outras regiões, como países na África e Ásia. No Brasil, basicamente trabalhamos com dois grupos de cebolas de dias curtos. Para o Nordeste, cultivares com um sistema radicular muito vigoroso, folhas brilhantes, bulbos ligeiramente menos firmes e de coloração um pouco menos intensa. Para o Brasil Central, os bulbos são extremamente globulares, têm uma casca mais escura, as folhas têm mais cerosidade, o ciclo é mais curto, tendem a ser mais firmes e ter um pós-colheita ligeiramente mais alongado”, define. Cultivares indicadas para o Nordeste do Brasil também costumam produzir bem no Sul dos Estados Unidos, com solos similares e demandas parecidas de mercado. Os híbridos desenvolvidos para o Brasil Central são apreciados na África do Sul e também na Austrália.
Incorporando firmeza nas cebolas
Segundo Boudens, há um grande desafio no Sul dos Estados Unidos, que faria a felicidade de muitos produtores também aqui no Brasil: o desenvolvimento de híbridos adaptados à colheita mecânica. Isso requer um maior teor de matéria seca nos bulbos, para torná-los mais firmes. O especialista acredita que cerca de 60 - 70% das cebolas de dias curtos no Sul dos Estados Unidos terão que ser colhidas na máquina num futuro próximo. Para escolher a mecanização da colheita, o produtor necessitará de equipamentos adaptados à genética e ao seu cultivo, porque nem todos os mercados aceitam cebolas com algum nível de dano provocado pela máquina. Portanto, Boudens destaca a importância de ajustar o manejo, escolher a genética adequada e conhecer as exigências do mercado atendido. A Bejo tem o teor de matéria seca como um de seus objetivos no melhoramento genético e tem feito extensos ensaios com esses novos híbridos.
Brasil como potencial exportador de cebolas
Leon Boudens comenta que, para que o Brasil se torne um futuro exportador, há diversos desafios a serem superados. “Além de identificar a genética adequada para cada mercado, é preciso reduzir os custos de produção. Isso pede altas produtividades a custos baixos, para se ter competitividade. Redução de custos certamente incluirá mais mecanização e redução nas pulverizações. Esse último ponto demandará novas cultivares mais resistentes, o que é um dos nossos principais objetivos no melhoramento”, completa o melhorista.