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OS DESAFIOS NA PRODUÇÃO DA CEBOLA

A cebola (Allium cepa L.) é uma das plantas cultivadas de ampla difusão no mundo. Faz parte das mais importantes olerícolas, juntamente com o tomate e a batata. A produção mundial é de 60 milhões de t/ano, variando conforme a área de cultivo, a qual se situa entre 3,0 e 3,5 milhões de ha/ano. Os maiores produtores mundiais são a China, Índia e Rússia. A cebola no Brasil é cultivada desde a região sul até o nordeste. As principais regiões produtoras são: SP (Piedade, Monte Alto e S. J. Rio Pardo), SC (Ituporanga, Alfredo Wagner, ...), RS (São José do Norte, Caxias do Sul, ...), BA (Juazeiro e Irecê), PE (Petrolina), PR (Irati e Guarapuava), MG (São Gotardo) e GO (Cristalina). As variações de preços são estacionais e ocorrem com certa frequência, o que pode ser resultado do efeito da “teoria da teia de aranha”: em determinada época do ano, o preço é alto e a produção é baixa, e no ano seguinte, o produtor, estimulado pela alta do preço, aumenta a produção, que com o aumento da oferta, tende a gerar queda dos preços.

Plantio

O planejamento da produção de cebola inicia pela escolha da cultivar adequada. Para um bom desempenho, é necessário utilizar cultivares de alto potencial genético para qualidade e produtividade. Uma cultivar ideal de cebola deve ser atrativa ao consumidor, resistente a doenças e pragas, de alto rendimento, livre de florescimento prematuro, com uniformidade no tamanho, forma, cor e maturidade. Se for para comercialização tardia deve, ainda, apresentar boa retenção de escamas e conservação. A escolha da cultivar ideal de cebola para cada região deve levar em consideração principalmente o ciclo e a respectiva época de plantio, de forma a propiciar o escalonamento e a melhor distribuição das atividades de plantio e colheita.

Plantas daninhas

O controle de plantas daninhas em cebola é muito importante, principalmente durante os estágios iniciais de desenvolvimento, pois as plantas têm baixo porte, crescimento lento e requerem boa luminosidade. A entrada e saída de herbicidas do mercado indica que o produtor deve atualizar as estratégias de controle do mato para obter sucesso. A rotação de culturas com uso de herbicidas de diferentes modos de ação é uma das maneiras de facilitar o controle do mato.

Pragas

Tripes - Thrips tabaci: é a principal praga, podendo causar prejuízos de 50%. Altas temperaturas e poucas chuvas favorecem o aumento populacional do inseto. Plantas muito danificadas não tombam por ocasião da maturação fisiológica, o que facilita a entrada de água até o bulbo, aumentando as perdas da produção por apodrecimento. Os tripes também podem transmitir viroses. Larva-minadora - Liriomyza spp.: As larvas formam galerias no parênquima foliar em forma de serpentina, reduzem a área foliar e podem disseminar doenças fúngicas. Mosca-da-cebola - Delia platura: as larvas perfuram a raiz na região da coroa, o que favorece o ataque de patógenos e o consequente apodrecimento. Podem causar danos às mudas na fase de canteiro e após o transplante. É uma praga que ataca também feijão, milho e soja.

Doenças causadas por fungos

Míldio - Peronospora destructor: Temperaturas amenas (12-21ºC) e alta umidade relativa (> 80%) favorecem a ocorrência da doença. Os sintomas

iniciam-se com uma descoloração nas folhas, que evolui para uma mancha alongada no sentido do comprimento da folha. Mancha púrpura - Alternaria porri: é uma das principais doenças da cebola em condições de clima quente e úmido. O sintoma da doença se manifesta nas folhas, que inicialmente apresentam pequenas pontuações brancas e de formato irregular. Antracnose (mal-de-7-voltas) - Colletotrichum gloeosporioides: há formação de manchas alongadas, deprimidas e de coloração parda nas folhas; lesões no bulbo e/ou enrolamento das folhas e formação de bulbos charutos em vez de bulbos normais. Queima-das-pontas - Botrytis squamosa: baixa temperatura e alta umidade relativa, principalmente a presença de nevoeiro, favorecem a doença. Os sintomas iniciam-se com pequenas manchas esbranquiçadas no limbo foliar e posterior morte progressiva dos ponteiros. Raiz-rosada - Pyrenochaeta terrestris: ocorre em praticamente todas as regiões produtoras de cebola. Os sintomas podem ser observados nas plantas em qualquer estádio de desenvolvimento, mas ficam mais aparentes na época de maturação. As raízes inicialmente apresentam coloração rosada, e com o tempo vão mudando para púrpura, parda e preta. Podridão-branca - Sclerotium cepivorum: é mais importante em locais com temperaturas amenas e alta umidade. O fungo produz estruturas de resistência (escleródios) que permitem sua sobrevivência por longos períodos no solo. Podridão-de-Phytophthora - Phytophthora spp: ocorre principalmente em condições de excesso de umidade. Os sintomas são queimas foliares, que geralmente se iniciam na base das folhas e, à medida que estas vão crescendo, deslocam-se para o centro e a ponta das mesmas.

Doenças causadas por bactérias

Podridão-mole - Pectobacterium carotovorum subsp. carotovorum: é comum na fase de armazenamento. As escamas internas apresentam manchas aquosas e amarelas pálidas a marrom claro, tornando-se moles com o progresso da doença. Todo o interior do bulbo pode apodrecer e o cheiro forte é comum. Podridão-bacteriana-da-escama - Burkholderia cepacia: ocorre com maior frequência em bulbos já maduros ou armazenados.

Doenças causadas por vírus

Mosaico em faixas ou nanismo amarelo (OYDV):

é causado pelo vírus do nanismo amarelo da cebola (OYDV), transmitido por pulgões. Os sintomas iniciam-se com estrias cloróticas e amareladas na base das folhas mais velhas. Em seguida, todas as novas folhas apresentam desde os sintomas de estrias isoladas até o completo amarelecimento.

Doenças causadas por nematoides

Galhas das raízes - Meloidogyne spp.: campos afetados apresentam reboleiras de plantas com crescimento lento. As plantas afetadas apresentam nanismo e sintomas de deficiência de nutrientes minerais. As raízes apresentam

Renato Agnelo Engenheiro agrônomo e consultor ragnelo@terra.com.br

galhas e muitas raízes secundárias. A planta tem dificuldade de absorver água e nutrientes do solo e os bulbos produzidos são pequenos em relação aos de plantas normais.

Doenças de pós-colheita

Mofo-preto (Aspergillus niger); Mcofo-verde (Penicillium spp); Podridãoaquosa (Botrytis spp.); Antracnose (Colletotrichum spp.); Podridão-basal (Fusarium oxysporum); Podridão-mole (Pectobacterium carotovorum subsp. carotovora); Podridão-da-escama (Burkholderia cepacia); Podridão-da-escama (Pseudomonas viridiflava).

Controle de pragas e doenças

Rotação de culturas; eliminação de restos culturais através de incorporação ao solo; nutrição equilibrada; utilizar de agentes biológicos para recompor o equilíbrio do ambiente e reduzir a população de organismos patogênicos; indutores de resistência; monitorar as pragas e doenças; aplicar os defensivos em épocas adequadas e nas doses corretas.

Maturidade

O ideal é que a colheita da cebola seja feita quando 40 a 70% das folhas estiverem amarelecidas ou secas. Para armazenamento prolongado, recomenda-se que a colheita seja feita quando 50 a 80% das plantas já estiverem estaladas e os bulbos maduros e com o pescoço fino. As produtividades são maiores quando as plantas são colhidas com as folhas totalmente secas, porém, a vida de prateleira tende a ser menor.

Cura

A cura é um processo importante para a qualidade pós-colheita. A função é remover o excesso de umidade das camadas mais externas dos bulbos e das raízes. A formação de uma camada de catafilos secos ao redor do bulbo em decorrência da cura bem feita promove uma barreira eficiente contra a perda de água e infecções.

Condições ótimas de armazenamento

Cebolas com pungência alta podem ser armazenadas por até 9 meses na temperatura de 0°C e umidade relativa de 65 a 75%. Umidades relativas altas induzem o crescimento radicular, enquanto temperaturas altas induzem o brotamento. A combinação de altas temperaturas e umidade relativa contribuem para o aumento de podridões e redução da qualidade. Cebolas produzidas a partir de sementes têm maior vida de prateleira quando comparadas com cebolas obtidas a partir de transplante. A vida útil da cebola é dependente da cultivar. Cebolas que possuem teor de matéria seca maior (grupo Baia, 7-12%) conservam-se melhor que materiais que possuem teores menores.

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