SER DEMOCRÁTICO E LIVRE
— Porque quem manda sou eu!!
E quando a mãe fala assim, está o caldo entornado. Fui para o meu quarto, tal como ela mandou. Uma hora depois, a minha mãe, o meu pai e o meu irmão, Miguel, entram no meu quarto. Eu já esperava pela conversa.
Fingi estar a dormir.
— Benedita, não tens nada para me dizer? — começou a mãe.
— Achas, mãe? Depois da forma como falaste comigo?
— Bem, se calhar é melhor recapitular os acontecimentos deste dia.
Não gosto nada de recapitular acontecimentos porque, às vezes, isso não abona a meu favor.
— Escreve aí a forma como falaste comigo. Fiquei muito magoada.
— Isso foi um dano colateral — afirmou o Miguel.
— Eu tive um dia muito difícil na escola, fui a responsável e a turma é muito complicada!
— O quê? Tu é que só queres mandar e não te preocupas com ninguém!
O pai pegou no marcador, apagou tudo o que a mãe escreveu para registar uma única palavra: democracia.
A palavra democracia advém da junção de duas palavras gregas?
O que nos traz o significado de “poder do povo” ou “governo do povo”.
Diz-se que um regime é autoritário quando só uma pessoa é que pode exercer poder? Quando só essa pessoa é que toma decisões, a seu bel-prazer e sem consultar a opinião dos outros.
A censura é muito usada pelos regimes autoritários. Principalmente, para impedir que os meios de comunicação, como a televisão e a rádio, ou outras formas de expressão, como a pintura, a música, o teatro e o cinema, divulguem informação que possa pôr em causa a opinião das pessoas perante as ideias do regime.
— E como é que isso aconteceu? As pessoas foram para a rua com armas para lutar contra o chefe de Portugal?
— Não! Quer dizer, sim… foram para a rua. Mas não com armas! Foram com cravos vermelhos e a revolução foi pacífica. Posso-vos contar como tudo aconteceu. Só preciso da minha viola. Sabiam que tudo começou com uma canção proibida?
PEGA NUM CADERNO E REGISTA A TUA OPINIÃO!
O que poderia ter feito a Benedita para ser mais democrática para com os outros?
Damos-te uma ajudinha…
QUEM NOS AJUDA NA MISSÃO PELA DEMOCRACIA?
O Miguel acordou-me mais cedo do que era costume.
— É feriado — resmunguei.
— E sabes que feriado é? 25 de Abril, o Dia da Liberdade!
— Eu quero é usar a minha liberdade para ficar na cama!
— Eu cá prefiro ir para a rua e viver a festa. A mãe tem cravos vermelhos. A parte da festa convenceu-me.
Quando chegámos à avenida 25 de Abril, ficámos admirados com a presença de tantos polícias. O agente Silva aproximou-se de nós:
— Ora se não são a Benedita e o Miguel, os que revolucionaram a ementa da escola. Está a correr bem?
— Isso pergunto eu. Porque estão tantos polícias aqui?
Política, é verdade
Vais ver que é essencial
Não é um assunto chato
Para definir o Estado
Nós temos a Constituição
Não é tão complicado
É uma República
A nossa estrutura
Tem um Presidente para a representar
E é na Assembleia
O nosso parlamento
Que as leis vão nascer e se reformar
E eu vou crescer, mas sempre a saber
Que vou ter o poder de um dia sair para votar
O meu país tenho que defender
É um direito e dever, eu vou sair para votar
Por isso ouve-me bem
Eu tenho algo a dizer, oh-hey!
Também posso escolher
E vou saber quem
Vão ser as pessoas para me representar
Política, é verdade
Na escola também é normal
Não estou a inventar, não
Escolher um Delegado de Turma para confiar
Pode ser algo especial
Como o nosso Governo
É o responsável
Para no que estiver mal ver soluções
E para haver justiça
Em democracia
Nós temos juízes nos tribunais
E eu vou crescer, mas sempre a saber
Que vou ter o poder de um dia sair para votar
O meu país tenho que defender
É um direito e dever, eu vou sair para votar
Por isso ouve-me bem
Eu tenho algo a dizer, oh-hey!
Também posso escolher
E vou saber quem
Vão ser as pessoas para me representar
Benedita e Miguel são irmãos gémeos, mas muito diferentes. Benedita é orgulhosa e atrevida. Miguel é revolucionário e tem o dom da palavra.
Juntos, vão descobrir o que é a democracia. Tudo começa quando Benedita é eleita responsável de turma por um dia, mas… é muito poder! Benedita acaba por ser tudo menos democrática. Em casa, os pais contam-lhe sobre o dia em que a Liberdade chegou a Portugal: 25 de Abril de 1974. O seu coração mudou, ficou mais atento às pessoas à sua volta e, por isso, fez mais amigos, dentro e fora da escola. Aprender liberdade é uma história para levares contigo para a escola, para o parque, para guardares e nunca te esqueceres de que alguém, antes de 1974, não podia ter este livro nas mãos, como tu tens agora. A Benedita e o Miguel vão crescer e contar às suas crianças a história da Revolução dos Cravos, para que nunca fique esquecida.