Bruno Pontes - O BRINCAR E O TEATRO: relações e interfaces na Educação Infantil

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não adotá-la em seu conceito original, de 1836. Para tal precisamos entender o sentido da palavra estética – ela nasce do grego e tem por sentido percepção, sensação. Ela julga o que é tradicionalmente entendido como belo. Se na Grécia antiga, por volta de 300 a.C. tinha-se a ideia da estética como tudo que fosse bom e belo que resultava em valores morais, hoje em dia questiona-se o que é beleza. O olhar sensível é o olhar curioso, descobridor, olhar de quem olha querendo ver além. Ver cores, luzes, formas, matérias, detalhes, diferenças. Olhar sensivelmente requer o exercício do olhar aberto a perceber, esmiuçar, desvendar, buscar o belo. E o belo está em toda parte, bem perto e a distância, dentro de casa e nas ruas, nas telas do cinema e nas páginas dos livros, na obra-prima do grande artista e na obra desconhecida do artista anônimo. O processo de sensibilização (...) começa exatamente pelo exercício de buscar o belo acessível a todos nós. A descoberta do belo é o ponto de partida, e se tornará mais rica à medida que pudermos contemplar, comparar, perceber em suas diversas facetas, reinterpretar o belo (DIAS, 2011, p.179).

O cuidar e o brincar, focados na preocupação estética se tornam então uma ação social coletiva, que por meio de situações cotidianas trabalham a sensibilização do olhar, uma educação crítica. A ação social neste caso envolve as pessoas da instituição infantil através de vivências diárias artísticas /educacionais. Ela parte da lógica da cultura, da construção de um mundo rompendo com a reprodução como produto. O espaço público da escola reconhece então a pluralidade dos sujeitos com direito à cultura onde a arte privilegia a manifestação das diferenças. Assim, realizando uma prática teatral que siga essa lógica, realiza-se também o senso estético, ampliando a visão de mundo, da nossa individualidade, transformando a realidade a partir de experiências sensíveis, artísticas. Torna-se necessário “criar oportunidades de ampliação e enriquecimento da expressividade, da curiosidade e da sede de descobertas” (DIAS, 2011, p.178). Isso se torna uma educação através do cuidado ao focar a palavra, o gesto, a expressão. O potencial criador. 2.3 – A diferença Neste item, as diferenças focadas são as de gênero, etnia e deficiência física. Estamos chamando de “diferentes” aqueles que, de alguma forma, estão inseridos em algum grupo que historicamente passou por um processo de exclusão, no qual foram


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