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1 – VIVÊNCIAS E EXPERIMENTOS PESSOAIS EM TEATRO Quando crianças temos o poder de nos transformar em vários: de viver em vários tempos, de termos vários corpos, várias expressões. “A criança não é nem um ‘outro’ absoluto, nem ‘o mesmo’ que nós” (MACHADO, 2010, p. 19). Existe um nome científico para isso – a criança é polimorfa. Um lado maroto e saudoso meu prefere dizer que podemos nos transformar em vários, pois quando criança era assim que eu falava. Lembro-me de sempre procurar roupas e acessórios para fazer pequenas apresentações em casa. Essa parte da minha vida continua até hoje, mas o que antes era brincadeira se transformou em objeto de estudo. Tento traçar aqui, nesta introdução, um pequeno relato que traduz essa vontade de pesquisar a infância, as crianças, a brincadeira, o teatro, seus limites e suas interfaces. Ingressei na Graduação em Teatro da Universidade Federal de Minas Gerais no segundo semestre de 2007, vindo de outra cidade no interior do estado, com um apoio relativo dos maus pais e irmãos. Relativo, pois tinham em mente a ideia comum do teatro: não tem retorno financeiro, é uma área instável, nada séria e, o que era pior e inconcebível para eles, eu não queria entrar para a atuação televisiva global, fazer novelas e ser um rosto conhecido. Há, ainda hoje, uma grande confusão entre o processo/produto artístico televisivo e teatral. A televisão tornou-se um grande meio de comunicação e entretenimento de fácil acesso, onde se tem contato em qualquer parte do mundo. Com isso, o reconhecimento, a fama, tornou-se algo quase intrínseco à profissão artística. Comparativamente, o teatro caminha por outras trilhas: depende-se de recursos públicos, patrocínios, um público pagante. Ora, diriam meus pais, teatro é um caminho tão difícil. Veja quantos atores de teatro fazem novelas e são bem pagos por isso! Na minha cidade natal tive um contato feliz e juvenil com o teatro. Fazia parte de um grupo teatral que nasceu no Conservatório Estadual de Música Maestro Marceliano Braga, onde vivenciei algumas expressões artísticas, como a flauta transversal, o canto coral e as artes plásticas, mas foi o teatro feito e praticado ali dentro que mais me seduziu. A cada aula ia descobrindo coisas sobre mim, sobre os outros, sobre o mundo. Comecei, em decorrência desse primeiro contato artístico, a assistir