Agrupamento de Escolas Fernando Casimiro Pereira da Silva
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TEXTOS - Alunos da Escola Básica Integrada Fernando Casimiro Pereira da Silva – Rio Maior - Turma: 5ºD - 2013_2014 ILUSTRAÇÃO - Biblioteca Escolar - Profª Manuela Aranha FOTOCOMPOSIÇÃO Prof. Humberto Novais Profª Paula Lourenço PROPRIEDADE Agrupamento de Escolas Fernando Casimiro Pereira da Silva – Rio Maior
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© abril 2014
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FICHA TÉCNICA
A Marta, muito curiosa, perguntou:
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- Sim, já ouvi falar nisso. Mas, quem poderá ser? - Deve ser alguém da aldeia, mas quem? - disse o João.
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Num dia de primavera, um grupo de jovens amigos foi convidado a passar um fim de semana em casa do João, o mais velho do grupo. A sua casa situa-se no Pé da Serra, junto às salinas naturais de Rio Maior. No fim das aulas, a Marta, o Pedro e a Inês foram para casa do João. Ao chegarem, a mãe fez um lanche para o grupo. Depois, foram arrumar as malas nos quartos, as raparigas num e os rapazes noutro. Logo após, fizeram os deveres da escola e de seguida foram jogar às escondidas para o jardim da casa. No fim de jantar, já muito cansados, foram para um dos quartos falar sobre o que iriam fazer no fim de semana. No dia seguinte, logo de manhãzinha, quando a mãe foi preparar o pequeno-almoço, reparou que faltava alguma comida em casa. Então, decidiu acordar os jovens para irem ao minimercado comprar os mantimentos necessários. Ao entrar no minimercado da aldeia, o grupo reparou numa mesa onde estavam umas senhoras idosas a dizer que o sal das salinas andava a desaparecer, e eles pensaram logo que tinham ali um mistério para desvendar! Quem seria o responsável? A Marta, a Inês, o Pedro e o João, já esfomeados, voltaram para casa e foram tomar o pequeno-almoço que a mãe do João lhes preparou. Foi então que a Inês comentou: - No minimercado ouvimos uma senhora dizer que o sal das salinas anda a desaparecer. É verdade? A mãe do João respondeu:
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- Como se forma o sal destas salinas? De onde vem a água salgada? A mãe do João respondeu: - As salinas de Rio Maior são constituídas por talhos feitos de cimento para onde é conduzida a água salgada que se tira de um poço. - Ah! Então, como é que a água fica salgada se está tão longe do mar? – perguntou o Pedro. - Sabem – disse a mãe do João – existe aqui uma mina de sal-gema que é atravessada por uma corrente subterrânea de água doce que se torna salgada. - Parece um mistério… salinas sem mar! - disse a Marta. O João que já sabia muitas coisas sobre as salinas, acrescentou: - São mistérios da natureza. E sabem que a água das salinas é sete vezes mais salgada que a água do mar? E que estas são as únicas salinas de interior em exploração em Portugal? A Inês com ar pensativo exclamou: - Então, este sal, por ser único, é muito valioso… A mãe do João, ao aperceber-se da curiosidade dos jovens, disse: - Estas salinas são tão importantes que são consideradas Património Natural Português. Aqui podem ser apreciadas as pirâmides de sal e o conjunto das casas típicas de madeira, que fazem das salinas naturais um museu vivo com mais de oitocentos anos. - Hoje à tarde podemos ir dar um passeio pelas salinas? – perguntou a Marta? - Mãe, podemos ir às salinas e ao Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros? Eu posso ser o guia – disse o João.
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- Somos um grupo de amigos. Viemos passear até à serra, ouvimos uns ruídos e, como somos muito curiosos e gostamos de mistérios… - disse a Marta. O Pedro perguntou aos espantalhos: - E conhecem bem a serra? O Gil respondeu:
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- Sim, podem. O João conhece bem esta zona, mas tenham cuidado na serra! Andem devagar com as bicicletas e não se esqueçam dos capacetes, joelheiras e cotoveleiras. Vão encontrar caminhos com muitas pedras. Depois da visita às salinas, o grupo de amigos dirigiu-se para a serra. Fizeram um piquenique com o lanche que a mãe do João lhes preparou. E, durante o piquenique, foram surpreendidos por uns ruídos estranhos! Ficaram com curiosidade e seguiram os sons em silêncio. Entretanto, a chuva pregou-lhes uma partida, abrigaram-se numa gruta e decidiram ir espreitar… Dentro da gruta, havia desenhos de enigmas com plantas e números que mais pareciam fórmulas matemáticas! O grupo continuou a andar pela gruta e, de repente, viu umas criaturas estranhas que pareciam espantalhos! A Inês deu um grito aterrorizada e uma das criaturas disse: - Não se assustem. Não vos fazemos mal. Não fujam! - Quem são vocês e o que fazem aqui nesta gruta? – perguntou o João. - Somos um casal de espantalhos, a Filó e o Gil. E esta é a nossa filha, a Isa. Vivemos aqui nesta gruta há muitos anos. E vocês quem são e como descobriram a nossa casa?
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- Já há muitos anos que não saímos da gruta. Ninguém sabe que estamos aqui e não queremos que nos descubram, só vocês sabem da nossa existência e esperamos que guardem segredo. - Então se nunca saíram da gruta, não conhecem a serra nem o Parque Natural – disse o João. - Mas nem sempre foi assim. Quando protegíamos as sementeiras e as hortas, espantando os pássaros que as queriam comer, vivíamos no meio dos campos, de dia e de noite, até que um dia, não precisaram mais de nós! Foi então que nos escondemos aqui para não acabarmos como os nossos amigos espantalhos, que ficaram doentes com as chuvas e o vento do inverno. A Filó acrescentou: - Quanto ao Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, sabemos que é uma área protegida, não só pelos aspetos naturais, mas também pelo património arquitetónico da região. Mas se quiserem saber mais, têm que falar com um cientista que, de vez em quando, aparece aqui na gruta. - Ele é um pouco estranho – disse o espantalho – Entra sempre com uns sacos cheios de não sei o quê… - Ora, é cientista e os cientistas são todos estranhos! Deve andar a fazer alguma experiência – disse a Filó. Todos ficaram ainda mais curiosos e a pensar nos enigmas que tinham visto à entrada da gruta. O Pedro mostrou logo muita vontade de conhecer o tal cientista, mas o João disse que deviam sair de lá e voltar para casa antes que anoitecesse. Despediram-se dos espantalhos e prometeram guardar segredo. Já em casa do João, a mãe estranhou o silêncio e o ar pensativo dos jovens e perguntou: - Como é que correu o passeio? Gostaram da serra? Aconteceu alguma coisa? Estão com caras de mistério!!
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- Correu tudo bem. A tarde estava agradável e o piquenique foi ótimo – respondeu a Inês. No dia seguinte, acordaram muito cedo, tomaram o pequeno almoço, muito apressados e voltaram à serra. - Estou aqui a pensar que o roubo do sal e o cientista fazem parte do mesmo mistério – disse a Marta – enquanto observava algumas plantas da serra. - Pode ser – disse o Pedro. - Os espantalhos disseram que o cientista levava uns sacos para a gruta. O João acrescentou: - E nos sacos pode transportar o sal. Só não sabemos para que quer o homem tanto sal… - E já pensaram nos desenhos das plantas e dos números que encontrámos nas rochas da gruta? – perguntou a Inês. - É tudo muito misterioso! – concluíram todos. No meio das plantas da serra, a Inês reparou num saco e, curiosa, abriu-o. - Venham ver. Está aqui um saco cheio de plantas. Parece que alguém as apanhou e se esqueceu delas. Que coisa estranha! - Não se vê ninguém por aqui. Quem teria sido? – Perguntou o Pedro. -Olhem, lá ao longe anda um homem vestido de branco a apanhar qualquer coisa do chão – disse o João. - Deve ser o cientista da gruta. Está a afastar-se. Nem conseguimos falar com ele. - Vamos segui-lo e inventamos qualquer coisa para falar connosco. – sugeriu a Inês. - Boa ideia! – exclamaram todos. Já dentro da gruta, o João disse com ar espantado. - E agora? O homem desapareceu. O que fazemos? Deve ter ido para o fundo da gruta- disse a Marta- vamos falar com os nossos amigos espantalhos. Talvez eles saibam onde o cientista guarda os sacos. - Bom dia! Está alguém em casa? – perguntou o Pedro. - Olá meninos, então vieram visitar-nos? – perguntou a Filó – o que é que se passa? Estão com ar assustado. A Marta explicou:
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- Alguém anda a roubar o sal das salinas e pensamos que é o cientista. Agora precisamos da vossa ajuda. Seguimos o homem até à gruta, mas desapareceu. Podem ajudar-nos a procurá-lo? O espantalho respondeu: - Temos muita pena, mas não podemos sair do nosso esconderijo. Seria muito perigoso, se mais alguém nos visse. E se desconfiam que é o cientista que anda a roubar o sal deviam contar à polícia. Os meninos podem correr risco se forem para o fundo da gruta. Voltem para casa. - Não saímos daqui sem descobrir o mistério dos sacos e do enigma dos desenhos – disse o João. E lá foram avançando pela gruta, na esperança de encontrar alguma pista que os ajudasse a perceber aquela confusão! - Olhem estes desenhos aqui nesta folha de papel. Estão a ver? – perguntou o Pedro.- Estamos, mas não percebemos nada!! O que é que isso quer dizer? - O primeiro desenho é de uma planta muito parecida com uma que vimos lá fora, na serra – respondeu a Inês – e o segundo é de outra planta, só que tem uns números misturados. Continuo sem perceber… - E ali estão umas palavras sem sentido- disse a Marta – e começa a ler em voz alta - “Abra cadabra caganita de cabra”. Perante o espanto de todos, ouve-se um barulho esquisito! - Que foi isto? – perguntou o Pedro. - Não sei… - respondeu o João - parecia o barulho de pedras a cair… vamos ver. Acendam a lanterna. O João avançou para dentro de outra gruta, espreitando em volta. Os outros seguiram-no, cautelosos. Mas não se via nada de especial. As paredes
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- Estou a ficar com medo – disse a Inês – Acham que aparece alguém para nos ajudar? - Acho que não – disse o Pedro - ninguém sabe que estamos aqui no fundo desta gruta. Já estamos a ficar com falta de ar. Naquele momento, Marta, com ar muito assustado, viu um monte de sacos cheios de sal e disse: - Estão a ver ali naquele canto? Lá está o que procuramos… o sal das salinas! - Sim, e agora o que fazemos? - Perguntou a Inês. Vamos à aldeia e avisamos a polícia – disse o João. O cientista escondido atrás de umas rochas ouviu toda a conversa e resolveu pregar-lhes um susto. - Não deviam ter entrado nesta gruta e daqui não sai ninguém! Não vão impedir que a minha experiência chegue ao fim. Vou ser um homem muito rico! O João, com a voz trémula, falou: - Sabemos que este sal é único e por isso muito especial, mas não percebemos como é que vai ficar rico com estes sacos de sal! O cientista, com ar um pouco assustador, resolveu contar o seu segredo… - Não percebem? Vou contar-vos o meu segredo, ficam aqui comigo e seremos todos ricos! - Não estou a gostar nada disto, o homem deve ser louco! Temos de fugir o mais depressa possível! – Disse o Pedro. - AGORA! – Gritou o João e correu em direção ao cimo da gruta. Mas os outros tropeçaram numas pedras, caíram e ficaram para trás, enquanto o homem, no meio de grandes gargalhadas, dizia: - Pensavam que podiam fugir? Enganaram-se. E ainda não sabem como vou ficar rico. Ora ouçam: Inventei uma fórmula, uma mistura de
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estavam cobertas de musgo. Continuaram pelo meio das rochas com a sensação esquisita de que alguém os espiava. - Sinto que estou a ser observado – murmurou o João. - Mas observado por quem? – perguntou a Inês, encolhendo-se com medo. Avançaram um pouco mais, olhando para todos os lados. - Ouviram outro barulho? Não há dúvida que anda aqui alguém… Venham comigo – propôs o João.
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plantas aqui da serra, folha de carvalho, alecrim, flor de narciso, de orquídea e outras, misturadas com uns líquidos, daqueles que deitam fumos, transformam os cristais de sal em pepitas de ouro. E agora já percebem como vamos ficar ricos? O Pedro cheio de medo, mostrou-se forte e disse: - O senhor cientista não sabe o que diz. Isso é impossível! O sal não se transforma em ouro. Deixe-nos sair daqui! Não queremos ser ricos! - Nem pensem. Vão ficar aqui comigo e ajudar-me na minha grande experiência. E, para não fugirem, vou atar-vos com umas cordas e não se armem em espertinhos! Entretanto, o João chegou à gruta dos espantalhos e contou-lhes o sucedido. O espantalho pensou e tomou uma decisão: - Olha João, vais já à aldeia contar à polícia e eu vou ficar alerta com o que se vai passando aqui nas grutas. Vai com cuidado! Os espantalhos tinham uma regra, que teria de ser sempre cumprida, de nunca descerem ao fundo da gruta. No entanto, ao saber que os seus amigos podiam estar em perigo, o Gil saiu do seu esconderijo e caminhou pela gruta para ajudá-los. No percurso para o fundo da gruta, o Gil começou a ouvir a voz de um homem e disse muito baixinho: - Deve ser o cientista. Então é aqui que estão os meus amigos. Tenho de fazer alguma coisa mas, primeiro, vou esconder-me e espreitar naquelas pedras. E, por entre as pedras, viu a Marta, a Inês e o Pedro atados com cordas! - Lá estão os miúdos e … atados com cordas. E agora? Tenho de libertálos. Mas como? Se entrar, o homem vê-me e aí estou mesmo perdido! E o João que não chega com os polícias… Tenho de pensar num plano… Ah! – exclamou o Gil – está ali um morcego. Dizem que nesta parte da gruta há muitos morcegos! Vou tentar pedir-lhe ajuda. De repente, o Gil viu uma nuvem negra de morcegos a voar na direção do cientista, que assustado, fugiu a correr para a saída da gruta. Então, o espantalho encheu-se de coragem, saiu detrás das pedras e começou a puxar as cordas que atavam as pernas do Pedro. Muito admirada com a presença do espantalho, a Inês exclamou: - Até que enfim! Parece que nos livrámos do cientista louco! Mas nunca pensámos que seriamos salvos por morcegos e um espantalho. O Gil, ainda com as palhas a tremer de susto, disse aos amigos:
- Não temos tempo a perder. Corram para a saída da gruta. Os polícias devem estar a chegar e não quero que me vejam! - Foste muito corajoso. – disse a Marta. – Obrigada. És um bom amigo. O Gil regressou à sua casa e à sua família, e o Pedro, a Inês e a Marta encontraram finalmente o João acompanhado por dois polícias.
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Enquanto os amigos se abraçavam, um dos polícias perguntou-lhes como tinham conseguido desprender-se das cordas. O Pedro respondeu, com ar de riso, que foi por magia. A caminho da aldeia foi contando ao João o susto que o cientista apanhou com os morcegos e a coragem do amigo Gil. Quase a chegar à aldeia, a Inês exclamou de satisfação: - Olhem! Já vejo a casa do João. Que aventura! O João, a Inês, a Marta e o Pedro, sempre prontos para descobrir mistérios, não se esquecerão deste fim de semana, nem da aventura na Serra de Aire e Candeeiros e dos encontros que tiveram – os bons e os menos bons!
NOTA EXPLICATIVA Esta é uma história de ficção, que faz referência às Salinas de Rio Maior, bem como ao meio onde estas estão situadas, nomeadamente o Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros. Esta foi elaborada por um grupo de alunos do Agrupamento, motivado pela pesquisa de assuntos e de informação relacionada com o património natural e as tradições locais. Além da divulgação do seu património, os alunos também quiseram
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promover, nesta narrativa, os valores da amizade e da solidariedade.
CURIOSIDADES As salinas de Rio Maior têm mais de oito séculos de história e são das poucas salinas de origem não marinha existentes em Portugal. Na Torre do Tombo em Lisboa encontra-se arquivado um documento comprovativo, de 1177, em que Pêro Baragão ou D’Aragão (?) e sua mulher Sancha Soares, venderam aos Templários “a quinta parte que tinham do poço e Salinas de Rio Maior”. No século XII, Lisboa e Santarém foram conquistadas aos Mouros por D. Afonso Henriques quando este ainda não tinha sido reconhecido Rei pelo Papa, o que aconteceu só em 1179. As Salinas Naturais de Rio Maior, também conhecidas como Salinas da Fonte da Bica, estão situadas no sopé da Serra dos Candeeiros, a três quilómetros de Rio Maior, e fazem parte do património do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, em Portugal. Estas salinas produzem atualmente 2000 toneladas, anuais, de sal.
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O símbolo do parque é o morcego, dada a quantidade de grutas e galerias existentes na região. Este parque tem 39 900 hectares distribuídos pelos distritos de Leiria e Santarém, concelhos de Alcanena, Alcobaça, Porto de Mós, Rio Maior, Santarém, Torres Novas, Vila Nova de Ourém e tem uma altitude máxima de 679 metros. Dois terços do Maciço Calcário Estremenho encontram-se neste parque. Aqui não se encontra facilmente água à superfície, mas sim vários cursos subterrâneos, que muitas vezes resultam em grutas e galerias. É o habitat de várias espécies que devem ser protegidas. Quanto à Flora, existem 450 espécies no total, 100 das quais devem ser protegidas. Dez existem só em Portugal, dezanove na Península Ibérica e onze na Europa. O carrasco, o sanguinho, a aroeira, o zambujeiro, o trovisco, o carvalho português, o rosmaninho e o alecrim são algumas das espécies existentes na zona do Parque. Das espécies a proteger, destacam-se o rosmaninho, a carvalhinha, a bela luz, o tomilho peludo, a erva do homem enforcado, a salepeira grande, a canafrecha, o funcho, a arruda dos muros, a serralha, a globulária valentina, a salva brava, a erva besteira, o abrunheiro bravo, a dedaleira, etc. Na fauna, sobressaem as rapinas e passeriformes. A gralha-debico-vermelho, várias espécies de morcegos, o texugo, a doninha, o toirão, a raposa, o gato-bravo, o lince-ibérico, o sacarrabo, o gineto, a lebre e a perdiz .