A Princesa dos pés grandes

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A Princesa dos Pés Grandes Turma do 7.º D do Colégio Marista de Carcavelos Professora responsável: Susana Teixeira


A princesa dos pés grandes

Há muito, muito pouco tempo, num reino vizinho, vivia uma rainha com o seu rei, ambos ricos, num palácio enorme, com paredes banhadas a ouro, com loiça feita de prata e até as banheiras eram cobertas de diamantes… Era muito ganancioso, este casal, e não pensavam noutra coisa senão na sua riqueza. Certo dia, no seu último momento de vida, o mais idoso de todo o reino, cujos conselhos eram respeitados e seguidos por toda a gente, alertou os reis: - Tende cuidado, Vossas Altezas, pois sobre vós e sobre a vossa ganância paira uma grande maldição! Escolham bem as vossas atitudes, pois se assim não for, os vossos herdeiros serão afetados pela ira de Deus!

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E foram estas as últimas palavras proferidas por este velho que toda a gente admirava e que, por isso, chorou muito a sua morte. Bem… nem toda a gente. Havia pelo menos duas pessoas neste reino que nunca lhe tinham dado ouvidos. Essas pessoas eram tão gananciosas, tinham tanto poder, que pensavam que apenas elas tinham o conhecimento absoluto, e não as pessoas com mais experiência de vida. Essas pessoas eram o rei e a sua bela esposa. E assim sendo, não deram ouvidos ao último conselho do pobre idoso. Os tempos passaram e os reis decidiram que precisavam de ter um filho, um herdeiro ao trono. E, assim, nasceu a bela princesa de que toda a gente falava, por ser bonita, com uns cabelos dourados mais brilhantes do que o sol e uns olhos mais azuis que o mar.

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Mas não era só sobre isso que as pessoas falavam. Havia um pequeno pormenor. Talvez não fosse pequeno . Digamos que era grande. Podem não acreditar, mas a princesa, tão bela e tão amável, tinha uns pés enormes, gigantes! Depressa se tornou óbvio que nenhum príncipe se iria casar com uma princesa que tivesse os pés enormes e como os reis já estavam velhos não poderiam ter outro filho. Por isso, no dia em que completou 18 anos, a princesa foi trancada na sala mais baixa da torre mais baixa do castelo mais baixo… para sempre! Isto para não ter de subir os degraus, pois cansava-se com facilidade. Até que um dia os reis compreenderam que não poderiam deixar o problema assim e por isso decidiram chamar uma enfermeira local. - Estes pés são uma aberração! – exclamou ela. – Minha princesa, o que é que lhe aconteceu para os seus pés terem tal tamanho? - Não sei! Ninguém sabe… Acho que nasci assim – disse a princesa. Assim sendo, a enfermeira nada mais pôde fazer, se bem que nada ela fez, e por isso os reis chamaram o médico do reino vizinho, pois a enfermeira era o mais próximo de um médico que este reino tinha. O médico demorou três meses a chegar, pois a altura das gripes e das constipações havia chegado e entre isso e o temporal que fazia, a viagem tinha sido complicada. Lamento muito, princesa, mas nunca na vida vi tal coisa – disse o médico – não sei qual a causa do seu problema e por isso não tenho cura, mas mesmo que soubesse, duvido que exista algo -4-


que a possa ajudar. Ai, este caminho todo para nada! – desabafou o médico.

Os reis entraram em desespero. Que mais podiam fazer? Tinham feito tudo o que era possível, mas nem isso chegou! Quem lhes dera agora ter alguém que soubesse o que fazer, alguém que lhes pudesse dar um simples conselho que fosse! Mas essa pessoa já morrera. Os reis nunca lhe tinham dado a devida atenção e agora não iriam receber a sua ajuda. Foi nesse momento que o rei se lembrou: - Já sei! É isso, já sei! - Que se passa, meu rei? – perguntou a aia. - Chamem a rainha, imediatamente! – exclamou o rei. -5-


A rainha não demorou a chegar ao local onde o rei a esperava. - Que se passa, querido? – questionou alarmada.

- Já sei o que é que aconteceu à nossa querida filha! - Então o que foi? - Lembras-te daquele homem velho, de que toda a gente gostava e pedia conselhos? Aquelas últimas palavras dele referiam-se a nós e à nossa filha e diziam que uma tal maldição afetaria não a nós, mas à nossa estimada princesa! - Mas, querido, uma maldição só se quebra com magia, e não há ninguém neste reino que nos possa ajudar! - Por acaso até há… - disse a medo. - Não te atrevas sequer a dizê-lo. – sussurrou a rainha. - Mas querida, é a nossa única opção! – gritou o rei. E depois de muitas horas de conversa, gritos e discussão, os reis chegaram a uma conclusão: - Está decidido. – disse o rei – vamos chamar Bruna, a feiticeira!

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E assim foi. Os reis e as aias trataram de todos os preparativos e enviaram-lhe 50 barras de ouro, um javali e um porco, com um bilhete a explicar o acontecimento: “Cara feiticeira,

Gostaríamos muito que nos pudesse ajudar num pequeno problema nosso. Acontece que a nossa querida filha nasceu com uma característica especial causada por uma maldição e estamos confiantes de que apenas uma feiticeira como a grande e poderosa Bruna, poderá quebrá-la. Como recompensa gostaríamos de lhe oferecer estes três pequenos presentes e uma casa nova, no centro da nossa vila. Cumprimentos do palácio real, Os Reis”

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Mesmo depois destas explicações e oferendas, os reis não receberam qualquer resposta da feiticeira e, por isso, enviaram mais vinte frangos, dois cavalos, os mais bravos do reino, e ainda muito ouro Aí sim, os reis tiveram sucesso e duas semanas após o pedido, a feiticeira foi recebida no palácio real.

- Vamos então, sem mais demoras, resolver esse problema de uma vez por todas. – disse despachadamente Bruna, com a sua voz aguda e desafinada. Os reis conduziram a feiticeira à sala onde se encontrava a princesa e depois deixaram-nas a sós. A feiticeira levou algum tempo, mas no final do dia abandonou o palácio, mas não sem antes dar um pequeno aviso: - Atenção suas altezas, não esqueceis que toda a magia tem um preço. -8-


- Sim, senhora, – disse o rei – quanto é que lhe devo pelo feitiço? - Não se trata de dinheiro, meu rei, mas sim de algo importante na vida. Será o que a magia escolher. Agora sim vou partir. Até sempre, suas majestades. E assim a feiticeira partiu, desaparecendo numa nuvem de fumo. Passaram dois meses e o resultado tornou-se visível. Todos ficaram maravilhados com aquilo que viram. Os pés estavam suaves e macios, brancos como o leite e belos como a flor mais bonita do prado. No entanto, havia um novo problema. As unhas não se tornaram assim tão belas e nenhum príncipe aguentaria tal visão. Quando completou vinte anos, a princesa apercebeu-se que iria passar o resto da sua vida sozinha e decidiu, então, fugir de casa deixando apenas um bilhete em cima da cama que dizia: “Queridos pais Esta situação não me permite casar e ser feliz! Não posso viver assim, por isso fugi… Fugi para bem longe onde ninguém me pode encontrar, onde ninguém sabe quem eu sou e talvez eu possa usar as minhas unhas para qualquer coisa! Grande beijo da filha que vos ama Princesa -9-


O que acontece é que a princesa era muito inteligente e por isso não fugiu para muito longe, como referira, mas fugira antes para a casa da sua aia que prometera nunca contar a seus pais que a acolhera. No jardim da casa da aia, a princesa falava com o gnomo de jardim como se ele respondesse a tudo… Como se ele tivesse, de repente, ganhado capacidades humanas… Como se ela tivesse finalmente um amigo… mas não… era só um gnomo de jardim… um dos velhos, de plástico, derretido pelo Sol e partido pelas crianças que se aproximavam para brincar com ele, e ainda assim a princesa, agora filha da aia, falava com ele contando-lhe as suas angústias, os seus desejos e os seus sonhos. Mas isso era durante o dia, pois de noite ela chorava pela loucura que lhe invadia a alma.

Numa certa noite, algo inesperado aconteceu. Apareceu à princesa a Fada Madrinha que, ao contrário do que acontece nos contos normais, se zangou com a rapariga por ter fugido de casa e, para a castigar por ter causado tal tristeza aos seus pais, a Fada levou o gnomo e com ele todos os segredos da princesa. Triste e sozinha, a menina entendeu a mensagem, entendeu que não fez a escolha acertada e que tinha que voltar para o palácio. - 10 -


- Aia! – chamou a rapariga – grandes notícias…! Vou voltar para o palácio! - Que alegria, mas o que é que vai fazer em relação às unhas? – intrigou-se a aia. - Ai delas que me atrapalhem! Vou já para o palácio e, se for necessário, corto-as para que voltem a crescer! - Ai! Não! Não! E se o seu pai lhe pergunta onde esteve até agora? A menina não pode mentir! E se o seu pai descobre que esteve aqui todo este tempo? Despede-me logo! - Não tema, aia! Não vou permitir tal coisa! O que aconteceu foi que, assim que chegou ao palácio, o pai não acreditou que era ela a sua filha, na verdade já nem se lembrava dela, pois a sua idade atacara-o com um tigre a presa indefesa. - Pai, que alegria voltar a vê-lo! - Quem és tu?! Que fazes aqui?! Guardas! - O quê? Querido pai, o que aconteceu…? Já não se lembra de mim?! A sua filha que por causa da bruxa ficou com umas unhas horrendas? - A minha filha tinha pés grandes e não umas unhas horrendas… - Pai… - Para si é Rei, tal como para todo o povo e por favor saia, porque essas roupas fazem-me lembrar a aia que a minha mulher tinha…

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- Mas pai… grita a rapariga enquanto é expulsa pelos guardas. Os anos passaram e quando a idade decidiu agarrar por completo o rei como um mosquito que não nos larga, quem ficou a governar foi o primo de Tasséria – país do norte da Reurropa – o primo odiado por todos. Enquanto aconteciam mistérios e desgraças no palácio, a vida da rapariga, que passara a viver no campo, era tranquila e calma, serena e sem problemas. A rapariga chegou mesmo a encontrar um rapaz bonito que não ligava às suas unhas grotescas mas olhava sempre para o seu coração de ouro. Um dia, fruto da sua bondade, a rapariga teve uma visita inesperada: o gnomo, que outrora fora seu ouvinte, foi visitá-la mas desta vez com capacidades mágicas! E para a compensar do destino que os pais lhe deram, tratou-lhes das unhas e, como cada magia tem o seu preço, a princesa ficou com umas mãos enormes… O que sempre era melhor do que ter unhas horrendas…

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A rapariga viveu o resto da sua vida com o rapaz (que antes não se importava com as unhas e agora muito menos com as mãos!).

Com elas, a outrora princesa de um reino podia acolher ao mundo os animais que nasciam, colher os melhores frutos das árvores e acima de tudo cuidar dos muitos filhos que tivera, tantos que três mãos cheias não chegavam para os contar, entrelaçando-os em carinhos e abraços, todos com lugar no calor das suas mãos.

FIM

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Conto elaborado pelos alunos da turma do 7.º D do Colégio Marista de Carcavelos

Afonso Silva Catarina Calé Catarina Falcão Cátia Pinho Daniela Mendes David Patrício Diogo Ferreira Diogo Mackay Francisco Lory Francisco Ferreira João Anjos João Ferreira João Lima João Dias Madalena Santos Madalena Franco Marcelo Chaves Margarida Mendonça Mª do Rosário Monteiro Mª Francisca Ramirez Marta Rosa Marta Girão Nuno Infante Pedro Ferreira Rodrigo Lopes Teresa Albuquerque Teresa Mendonça Tomás Cardoso Tomás Soeiro Tony An

Professora responsável

Susana Teixeira

Professor de Educação Visual

Miguel Rodrigues

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