Sarilhos a triplicar

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Turma do 6ยบ B Externato Nossa Senhora do Rosรกrio - Cascais


Sarilhos a triplicar Conto de aventura realizado no âmbito do Passatempo Biblioteca FNAC Kids – 2014

Escritores e ilustradores Turma do 6ºB Ano letivo 2013/2014

Externato Nossa Senhora do Rosário Rua Maria Auxiliadora, nº53 Bairro do Rosário 2750 – 616 Cascais Telefone: 21 486 82 67

Professores responsáveis: Sara Reis (professora de Português) saraalexreis@hotmail.com Sérgio Ventura (Diretor de Turma) sergio.dtensr@gmail.com


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Alexandre, Alex para os amigos, Joana e André eram os melhores amigos de todos os tempos. Andavam juntos na escola desde o tempo da “Geração fraldinhas” em que mal se tinham de pé, aprendendo tudo juntos. Conheciam-se melhor do que os próprios pais ou irmãos. Tinham agora catorze anos de idade e estavam a entrar na idade da curiosidade extrema e da procura do conhecimento infinito. Frequentavam a mesma escola e andavam na mesma turma. Apesar de serem os melhores amigos, eles não podiam ser mais diferentes. Alex eram um rapaz introvertido, de poucas palavras, mas era muito simpático e estava sempre pronto a ajudar os outros. Dos três era o que tinha melhores notas, não apreciando as disciplinas ligadas às artes e ao movimento. Era alto como uma torre, louro como uma espiga e adorava andar de chapéu e com um casaco que mais parecia uma gabardina. Os colegas da escola até lhe chamavam o Inspetor Gadget. Joana, por sua vez, era uma rapariga muito simpática, bonita, mas era uma Mariarapaz, estando sempre pronta para subir árvores e correr com os seus cães e com o André. O Alex nunca compreendeu esta fixação pelas correrias… Era uma verdadeira desportista, praticava surf desde pequena, pois o seu pai era um surfista australiano que tinha vindo viver para Portugal na década de 90 para abrir uma escola. Ela adorava as aulas de Educação Física, mas tudo o resto era um tédio e uma perda de tempo na sua opinião. André era um aluno mediano, mas muito esperto. A leitura era o seu passatempo preferido, principalmente livros de mistério que envolvessem espiões e complicadas tramas, mas que acabavam sempre da mesma forma, o bem vencia o mal. Rapaz alto, mas não tão alto quanto o Alex, moreno e que acompanhava Joana na maioria das atividades, tanto que o pai desta o deixava usar as pranchas de surf sem pagar qualquer mensalidade. Enfim, três jovens adolescentes que viviam em função uns dos outros e que, apesar de terem muitos amigos, não faziam nada sozinhos e esperavam sempre pela agradável e cordial companhia dos restantes. Os colegas da escola até tinham alguma inveja deste companheirismo que durava há uma eternidade. Os professores gostavam muito dos três e eram da opinião que esta amizade levaria os três amigos a altos voos, pois apoiavam-se mutuamente e auxiliavamse sempre que necessário, de modo a atingir os seus objetivos. A professora de inglês, a Miss Blueberry, achava-os uns patuscos e admirava aquela longa amizade e era comum

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ela comentar com os seus colegas, com aquele sotaque estranhíssimo de Bristol, na sala de professores: - Aqueles meninos ser muito bons!!! Eu não ter amigos assim!! É tão bonito! A verdade é que aquela amizade tinha levado a uma convivência dos seus próprios pais. O pai da Joana tinha sido um surfista profissional na Oceânia, percorrendo o mundo inteiro à procura da melhor onda, era amigo íntimo do Kelly Slater e do Andy Irons e tinha um futuro promissor na área até apanhar um susto enorme nos mares do Havai, acabando por se afastar da alta competição. Aborrecido com a vida e com as dores no joelho, resolveu vir a Portugal, pois tinhamlhe falado dos grandes tubos da praia Nazaré, procurar uma nova oportunidade de vida. Um dia, estava na

praia

de

Carcavelos,

onde

entretanto tinha aberto a sua escola de surf, a “World Surf Adventure”, quando avistou no areal uma jovem lindíssima que estava agarrada a um pé e, Dane, pai da Joana, logo se apercebeu mordida

que por

ela uma

tinha

sido

caravela

portuguesa e contorcia-se com dores. Ele levou a jovem rapariga para o hospital, onde ficou a saber que ela se chamava Antónia, era de Leiria, mas vivia em Lisboa, pois andava a estudar na faculdade. Deste modo, começou um namoro que dura até aos dias de hoje. Os pais do André tinham uma vida complicada, pois passavam imensas horas no trabalho e estavam sempre cansados quando chegavam a casa. O Sr. Carlos era funcionário público no Ministério da Agricultura e a Sra. Rosa Maria era empregada de balcão num grande armazém de tecidos. O André tinha dois irmãos mais velhos, um deles havia ganho uma bolsa para estudar engenharia em Viena, na Áustria, e o outro vivia com a namorada em Braga, onde trabalhavam numa famosa empresa de telemóveis no seu call center.

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Já os pais do Alex eram pessoas mais reservadas, mas adoravam ir às reuniões promovidas pelos outros casais e também adoravam recebê-los em sua casa, pois sabiam que, apesar de levarem uma vida extremamente recatada, esse convívio era importante para os miúdos. Não podia haver casal mais diferente, o Sr. Nellu Luvizi era de origem italiana, era um cientista que trabalhava algures (ninguém sabia ao certo o que fazia e onde o fazia!) na zona de grande Lisboa e sabia-se que estava ligado ao ramo da eletrónica. A sua esposa, a Sra. Carla Pambianco Luvizi, era uma mulher belíssima, mas não perdia tempo com modas, vê-la e achá-la era no jardim a cuidar das suas orquídeas e na sua horta a cultivar alcachofra, entre outras coisas, que lhe faziam lembrar a sua saudosa Itália. Ela tinha sido professora de História da Arte na Universidade de Florença, mas desde que chegou a Portugal, nunca mais exerceu qualquer profissão, a não ser a de agricultora. Era muito dedicada aos filhos Alex e Paola, uma garotinha muito irritante, na opinião do irmão mais velho. Os dias de amizade decorriam normalmente, com muitas aulas e peripécias pelo meio. Um dia, estavam eles no início das férias da Páscoa, os três amigos resolveram sair de casa e decidiram dirigir-se até à escola de surf do pai de Joana. Apanharam o autocarro e foram até Carcavelos. Quando se dirigiam para a praia, Alex ouve o seu nome e vira-se para trás e vê uma senhora muito esquisita, mas com um ar engraçado, a acenar-lhe entusiasticamente. - Quem é? - pergunta o André. - Sei lá! Mas o melhor é ver o que se passa, porque a fulana parece conhecer-me. Vão indo que eu já vos apanho. – respondeu o Alex aliviado, pois não lhe apetecia nada fazer surf. Alex ia em direção à estranha mulher. André e Joana olharam para o amigo e reparam que a mulher tinha uma fita verde florescente nos cabelos de fogo e estava vestida com uma roupa psicadélica, uns collants laranja e umas sandálias. - Realmente, nunca entendi esta gente que usa meias com sandália. – replicou Joana – mas quem sou eu, não percebo nada de moda, percebo é de surf. Vamos André? - Butes lá. – respondeu o André que já não via nada, já só olhava para as ondas. Estavam os dois companheiros já na rampa que os levava ao areal, quando ouvem um grito familiar. Correm, já imaginando que algo de mal teria acontecido. No entanto, o cenário com que se deparam era inesperado e inquietante. Alex estava a ser empurrado pela mulher de cabelo de fogo e um brutamontes careca, com um casaco preto e calças de

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ganga azuis. O homem tinham uma tatuagem com algo que parecia uma rosa dos ventos no pescoço. amigos,

Alex gritava e os

aflitos,

começaram

a

correr na sua direção. Quando a estranha

mulher

aproximar,

os

viu

apontou-lhes

a

uma

arma e gritou: -

Vocês

afastem-se,

não

querrro magoarrrr ninguém!!! Só querrrro este aqui! Joana

e

André

ficaram

petrificados com a visão da arma e pararam de imediato. Sem reação,

os

dois

adolescentes

viram Alex a ser empurrado de forma violenta para dentro de uma carrinha preta, com uma matrícula estranha. A

carrinha

estacionamento

saiu da

praia

do de

Carcavelos, entrou na rotunda e partiu em direção a Cascais pela marginal. Os adolescentes, em pânico, ainda tentaram correr atrás da carrinha, mas esta ganhou velocidade e , num ápice, desapareceu perante o seu olhar atónito. - Vamos falar com o teu pai, ele saberá o que fazer. – disse André. Foram até à praia e encontraram Dane a dar aulas a uma turma de crianças animadíssimas. Este, ao ver a filha a correr pela praia, com lágrimas nos olhos, pediu a um monitor para o substituir. - Joana, que se passa? Vocês estão tão pálidos que parece que viram o McNamara. – disse Dane rindo, já um pouco preocupado. - Pai, o Alex foi raptado. – disse Joana começando a chorar copiosamente. - Raptado? Que conversa vem a ser esta? – replicou o pai de Joana.

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Joana estava descontrolada e muito nervosa, por isso foi André que contou tudo o que se tinha passado. De imediato, Dane telefonou à polícia, sentia-se responsável, pois eles tinham ido ali a Carcavelos para fazer surf e deviam estar ao seu cuidado. A polícia aparece pouco tempo depois e interroga os dois amigos e testemunhas do suposto rapto, observa o local onde decorreu o que eles contavam e, não vendo qualquer evidência de crime, pediram-lhes para os acompanhar até à casa do rapaz que tinha desaparecido. Chegaram a casa do Alex que era no Monte Estoril. A casa já datava dos inícios do século XX, mas tinha sido completamente recuperada pelos pais de Alex, quando chegaram de Itália para trabalhar em Portugal, anos antes. Dane tocou à campainha e foi recebido por uma Sra. Carla Luvizi sorridente e descontraída. - Olá Dane, não vos esperava! Que surpresa agradável. O Nellu ainda não chegou, mas se quiserem podem entrar. O que se passou, porque vem a polícia convosco? - Sra. Carla, o Alex foi raptado mesmo à nossa frente, há cerca de duas horas em Carcavelos. – disse o André quase a chorar. - Ridículo, o Alex foi hoje de manhã para Florença visitar a avó que já não o via há quase um ano. – respondeu a mãe de Alex um pouco irritada. - Meninos – disse o polícia – que brincadeira vem a ser esta? Vocês disseram que testemunharam um rapto e agora, a mãe do raptado diz que o jovem está em Itália? Eu posso obrigar os vossos pais a pagar uma multa choruda… Pensam que não temos mais nada que fazer? – disse o polícia vermelho como um tomate e claramente aborrecido. - É mentira, nós sabemos o que vimos. Sra. Carla, o que se passa? Ainda hoje aqui estivemos e saímos daqui de casa para apanhar o autocarro para Carcavelos. – choramingou Joana. - Devem estar a fazer confusão, isso foi ontem…- disse a Sra. Carla. - Carla, os miúdos não iam brincar com uma coisa destas…- disse Dane. - Dane, Sr. Polícia, é tudo? Agora, se me dão licença, tenho que tratar da minha horta e ir buscar a Paola à natação. – desculpou-se a mãe de Alex. Despediram-se e viraram costas. Apesar de Joana e André ainda terem olhado para trás e ter visto a Sra. Carla atrás de um cortina a chorar nada disseram, pois olharam um para o outro e decidiram naquele momento que teriam de ser eles a resolver esse problema. A polícia ainda lhes deu um sermão sobre abusar indevidamente das forças de autoridade que, provavelmente, estaria a acontecer um verdadeiro crime algures e eles ali

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a aturar adolescentes com a mania que eram vítimas de rapto. Foram embora muito aborrecidos. Dane, por seu lado, disse-lhes para não se preocuparem que iriam novamente a casa do Alex nessa mesma noite.     Enquanto Joana e André saíam de casa dos Luvizi, Alex passava por um mau bocado. Sempre fora uma pessoa pacata, pouco dada a aventura e não conseguia perceber porque lhe tinha acontecido isto. O seu primeiro pensamento levou-o à possibilidade de ter havido uma troca de identidades. O alvo era, certamente, o André, porque o pai trabalhava no Ministério da Agricultura e devia saber algum segredo de estado e que fosse importante para esta gente. No meio desta confusão, o que mais o aborrecia era ter perdido o seu estimado chapéu que lhe tinha sido oferecido pela sua avó na última viagem a Florença. Outro aspeto que o chateava era não saber onde se encontrava. A viagem na carrinha não foi muito longa e ele reconheceu as curvas da marginal, mas, de repente, como por magia, sentiu uma picada vinda, sabe-se lá de onde, e apagou completamente, voltando a acordar naquele local. Era um sítio curioso, bastante confortável por sinal. Tinha uma cama muito bem feita e a roupa era moderna, muito diferente daquela que a mãe o obrigava a colocar na sua própria cama, o quarto era pequeno, mas muito convidativo, até tinha uma consola de jogos, infelizmente os jogos eram de uma escolha muito duvidosa, pois só tinham aquela coisa da FIFA o que o levou a pensar, mais uma vez, de que o alvo era o André, afinal ele é que gostava daquelas coisas. Havia outra coisa que o melindrava que era um constante enjoo igual àquele que sentia sempre que ia com o André e a Joana andar de barco com o Dane, mas ele não sentia a ondulação nem ouvia o som das ondas ou da água, por isso concluiu de que sentia assim devido às drogas que lhe tinham dado na altura de o transportar. Ele tinha que perceber o que se passava… Ouviu uns passos e sentiu-se assustado. O som de sapatos a bater na madeira do chão, duas pessoas a falar numa língua que ele logo reconheceu como sendo alemão e, de repente, a porta do quarto abre-se e o homem deixa passar a mulher de cabelo vermelho e esta diz-lhe: - Meu carrrrro Alex! Podes chamar-me Zilque e sou eu que vou trrratarrr de ti enquanto aqui estiverrres. Só tens de cooperrrarrr e serrr um bom menino! - Que querem de mim? – questionou Alex. - De ti??? Ah! Ah! Ah! Tu tens imporrrtância nenhuma neste jogo. És uma espécie de incentivo parrra que o teu pai colaborrre connosco e com o nosso chefe.

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- O meu pai? Que querem do meu pai? Ele é um simples cientista que trabalha num laboratório sem interesse. - Já vi que não conheces o teu pai…     Joana e os pais, Dane e Antónia, e André e os seus pais, Carlos e Rosa Maria, dirigiram-se ao palacete dos Luvizi. Quando lá chegaram, o ambiente era tão pesado que eles logo se aperceberam que algo de grave se passava. A Sra. Carla começou a chorar mal viu Rosa Maria e Antónia e não conseguiu dizer mais nada. Paola não percebia muito bem o que se passava e brincava com as suas bonecas, entretanto Rosa Maria acabou por levá-la para sua casa. Foi o Sr. Nellu que acabou por confessar tudo. - Hoje, às 15h, recebi um telefonema no meu telemóvel. Uma mulher com um sotaque, talvez de origem alemã, disse-me que tinham o Alex em seu poder e que ele não corria perigo se eu fizesse tudo o que eles me mandassem, mas que não podia contatar as autoridades. Eu liguei à Carla a perguntar se o Alex estava em casa e contei-lhe o que se tinha passado. - Mas o que tem o Nellu assim de tão importante para que o Alex fosse raptado? – pergunta o Sr. Carlos. - Há uma coisa em que trabalho há muitos anos e pode mudar o rumo da história do mundo. – respondeu Nellu, um tanto receoso por contar um segredo tão importante para a segurança mundial. Eu lidero um projeto chamado AMEA. - AMEA? – admirou-se Joana – Que raio é AMEA? - AMEA é a sigla para a Agência Molecular Europeia e Americana. - Por favor, não brinques connosco Nellu. Uma associação desse gabarito em Portugal. Só podes estar a brincar! – exclamou Dane. - Claro que não estou a brincar… Aliás, Portugal é o espaço ideal para um projeto deste género, pois é a escolha menos óbvia… Ouviu-se um silêncio na sala e todos estavam ainda mais curiosos para saber o desenvolvimento daquela história. - A AMEA está a desenvolver um sistema com base num campo magnético forte que, usado numa pessoa, esta pode tornar-se um duplo de outra. Temos utilizado, ainda em forma experimental, em políticos e personalidades que acarretam grandes situações de

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risco e que tenham registo de ameaças concretas e prováveis de acontecer algo de mal. Ainda não há muito tempo, um destes nossos agentes duplos foi enviado para o norte de Portugal para uma inauguração… - Inauguração??? A única pessoa que tem inaugurado coisas importantes é o nosso Primeiro Ministro… - admirou-se o Sr. Carlos. - Exatamente, o vosso primeiro ministro recebeu ameaças de morte recentemente e a nossa a agência foi contatada para preparar um duplo e enviá-lo em vez do ministro. Nello Luvizi parou de falar e a esposa, muito calada, apenas ouvia a confirmação daquilo que sempre desconfiara. Todos os presentes naquela sala estavam incrédulos e nem queriam acreditar que algo de tão rebuscado e grave se passava mesmo debaixo dos seus narizes. André então quebrou o gelo: - Desculpe Dr. Luvizi, mas eu acho que isso é muito pouco provável, quase que parece um cenário do filme “Missão Impossível” em que as personagens usam umas máscaras para se fazer passar por outras pessoas… - O que vocês veem nos filmes é uma máscara feita de uma mistura de látex com silicone que se aplica na cara da pessoa, usando um molde a outra pessoa que se quer imitar e eu sei isso, pois também fomos nós que criámos esse conceito, mas era muito perigoso para os nossos agentes, pois só conseguíamos moldar a cara e o corpo dos agentes nem sempre eram exatamente iguais e acabavam por levantar suspeitas. Agora com o novo sistema, o corpo dos agentes sofre uma completa alteração molecular, ao ponto do grupo sanguíneo se tornar igual ao da pessoa que se substitui. - Isso é incrível!!!! E o estado português sabe disso? – perguntou estupefacto o Sr. Carlos. - Claro que sabe! Ao receber o projeto em território nacional, um dos requisitos era ter total conhecimento do que se passava nas instalações do laboratório. Tanto que já utilizaram o nosso serviços mais vezes do que vocês julgam… O telemóvel de Nellu começa a tocar e todos ficam estáticos a olhar para o aparelho que tocava uma música ridícula de um italiano. Carla olha para o marido e faz-lhe sinal para atender e para ter calma. Nello pega no aparelho. - Sim? Foi um minuto de silêncio que pareceu demorar meses. Nellu acenava a cabeça e ficou ainda mais sério. Desligou o telefone e levou as mãos à cabeça.

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Joana e André não aguentaram, pois Alex era o seu melhor amigo e eles tinham que saber o que se passava. - Desembuche… - gritaram os adolescentes. - O Alex está bem… falei com ele agora mesmo. Quem o raptou quer que eu roube o sistema da AMEA e o vá entregar daqui a dois dias no Cabo da Roca. Tenho que ir sozinho e não posso avisar as autoridades, caso isso aconteça, eles farão mal ao meu filho. Carla estava quase desfigurada de tanto chorar, amparada por Antónia, começou a gritar. - Vais fazer tudo o que te pedem, o Alex tem que voltar para casa… Nellu nunca se tinha sentido naquela posição, ele era cientista e não sabia representar o papel de agente. Dane e o Sr. Carlos levantaram-se e disseram a Nellu: - Tu vais ao laboratório e tens de trazer o sistema até essa gente e o que foi dito aqui esta noite, morre aqui. - Coragem meu amigo, estaremos aqui para te apoiar. – continuou o Sr. Carlos. A noite passou a correr e tiveram que voltar com a sua vida ao normal para não levantar suspeitas. Por isso, no dia seguinte, os casais foram para o seu trabalho como se nada tivesse acontecido, Paola foi, de imediato, enviada no primeiro voo da manhã direto para Florença, onde estava a sua avó à sua espera. Nellu foi para o laboratório e Carla continuou a tratar da sua horta. Apenas Joana e André não conseguiam disfarçar que estavam arrasados com o acontecido e tinham decidido que iriam resolver este imbróglio. Marcaram às 9h na esplanada de uma cadeia americana de restaurantes que serviam uns pequenos-almoços muito pitorescos e baratos. Estavam sentados há cerca de dez minutos quando uma carrinha preta estaciona no parque. À primeira vista, parecia uma carrinha normalíssima, mas André reconheceu o chapéu de Alex no tablier. Chamou logo a atenção de Joana e esta ficou branca como a cal ao olhar para o homem que conduzia a dita carrinha. André tirou o telemóvel e fotografou a carrinha e a matrícula, reparando que era uma viatura com matrícula estrangeira. O homem saiu e nem reparou nos dois

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adolescentes sentados a tentar disfarçar o embaraço e o medo. Ele entrou no restaurante e comprou imensa fast food e sentou-se a empanturrar-se com os hambúrgueres. - Mas quem é que come aquilo logo pela manhã? – questionou-se Joana com olhar assombrado. - Quer dizer… o tipo tem o Alex em seu poder e tu estás preocupada com o seu colesterol? – André parecia incrédulo. - Ok, temos é de arranjar uma forma de seguir a carrinha… Temos de chamar um táxi enquanto ele come. – decidiu Joana. Dito e feito. Ela levantou-se e procurou uma praça de táxis. Por sorte, um táxi ia a passar em direção a uma praça que existia perto do Casino Estoril e ela quase se colocou no meio da estrada para o bloquear. - Tenha cuidado menina, quer morrer nova? – gritou o taxista. - Sr. taxista tem de nos ajudar… temos pouco dinheiro, mas se nos fizer esse favor, eu prometo que será bem recompensado. André assistia àquela cena de boca aberta e, repentinamente, apercebeu-se que o comilão já estava a acabar o terceiro hambúrguer e o taxista não se decidia. Mas Joana foi tão persistente que o pobre homem acabou por se deixar convencer. - Entre lá menina, afinal o meu dia ia ser um tédio… Joana chamou André e entraram no táxi, ficando a aguardar que o homem entrasse na carrinha e começasse a conduzir. E assim aconteceu. A carrinha percorreu a marginal, andaram às voltas por Cascais e o taxista reconheceu logo o caminho. - Meninos, este fulano vai para a marina de Cascais. Andaram mais algum tempo, pois algumas ruas eram de sentido único o que fazia o percurso mais longo e o André e a Joana disseram ao taxista para que não se aproximasse muito da carrinha, porque não queriam ser vistos. O Alex tinha que estar por perto, mas eles sabia que era impossível vencer aquele grandalhão e a mulher de cabelo de fogo que, muito

provavelmente, teriam armas e tudo. O taxista, a pedido dos

passageiros, abrandou e estacionou num local onde podiam ver onde a carrinha tinha parado. O homem saiu da viatura a falar ao telemóvel e dirigiu-se para dentro da marina. Parou um bocado e olhou à sua volta, mas nem reparou num táxi parado perto de onde estava. Avançou e entrou numa pequena embarcação a motor que estava atada a um barco maior. Os amigos do Alex saíram do táxi e foram ver até onde o homem ia.

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Seguiram o seu percurso com o olhar e com o coração apertado. O homem saiu de barco vagarosamente em direção a alto mar. O percurso não foi muito logo e, pouco depois, o homem parou junto de um grande iate que se encontrava no mar, não muito longe da Praia da Rainha que ficava perto da marina. Os olhares iluminaram-se quando se aperceberam que havia mais duas pessoas a bordo e uma delas era uma mulher de cabelo vermelho. - Encontrámos o Alex! – exclamou Joana. - Também acredito que sim… Temos de contar ao pai dele o que vimos e chamar a polícia. - Não, não podemos, eles foram muito específicos quando disseram que não queriam a polícia envolvida… - respondeu Joana. - Então como vamos resolver isto? Eu e tu não somos capazes de fazer isto sem um adulto e precisamos de um barco para chegar ao iate… - Tive uma ideia… - Já estou com medo do que vai sair daí… - suspirou André. Voltaram ao táxi e pediram ao taxista para os levar até à praia de Carcavelos, pois o pai de Joana teria de pagar a corrida. O taxista estava feliz, pois com a mania dos adolescentes, já tinha ganho a manhã. Ao chegarem a Carcavelos e após a corrida paga por uma funcionária de Dane, Joana e André correram para a praia, onde encontraram o pai dela a dar as aulas de surf. Começaram a falar os dois ao mesmo tempo e o pai de Joana não percebeu nada, até que disse: - Calma! André, conta-me o que se passou. André não teve meias medidas, narrou tudo o que aconteceu naquela manhã perante Dane que não sabia se havia de estar orgulhoso ou zangado com aqueles dois. O amigo de Joana terminou a narrativa e Dane questionou-os sobre se tinham alguma fotografia do homem ou da mulher para mostrar à polícia. - Pai, não!!! Sabes que não podemos ir à polícia, isto tem de ser resolvido por nós, ou o Alex pode sofrer as consequências. - Não estão à espera que eu permita que vocês corram ao encontro de um perigo desconhecido, pois não? – disse Dane um tanto aborrecido. - Dane, vais ter de nos ajudar se não quiseres que façamos tudo sozinhos. Um adulto de confiança até nos fazia um jeitinho agora.

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- Vamos lá ver, volto a perguntar… vocês que adoram tecnologia, lembraram-se de fotografar o raptor? - Por acaso, pai, o André conseguiu fotografar a carrinha… - Posso ver? André tirou o telemóvel e mostrou as fotografias que tinha tirado naquela manhã. Infelizmente, não tinha conseguido registar a cara do homem, apenas do veículo. - Muito bem, pelo menos sabemos que a matrícula da carrinha é alemã…- disse Dane. - Alemã? – perguntaram em uníssono André e Joana. - Sim, ora vejam BWM 2005 … esta matrícula é de Berlim. Ainda me lembro das matrículas do tempo em que fui visitar a cidade com a tua mãe… Os adolescentes ficaram com receio de que o barco que avistaram ao largo de Cascais servisse para transportar Alex para a Alemanha e Joana pediu ao pai para ir com eles à marina para confirmar se a carrinha ainda lá estava. Foram. E, efetivamente, viram a dita carrinha, confirmaram a matrícula e viram novamente o chapéu do amigo raptado. - Dane, vê aquele iate acolá? Foi para lá que o homem se dirigiu e pareceu-nos ver a mulher de cabelo vermelho e outra pessoa, mas não conseguimos perceber quem era. Dane, ao ver aquele cenário, pegou no seu telefone. - Nellu, temos que nos encontrar hoje sem falta.     A mulher esteve sempre no local, pois Alex conseguia ouvir a sua voz constantemente, ou cantava, ou falava com outra pessoa, que parecia ser outra mulher, ou falava ao telemóvel. O homem parecia não passar muito tempo no local. No final da manhã, a mulher trouxe hambúrgueres para o seu almoço e, por acaso, dentro dos sacos, encontrou o talão e qual não foi o seu espanto quando se apercebeu que estava tão perto de casa e, aí, teve a reconfortante sensação de que nem tudo estava perdido. A noite anterior tinha sido um choque para ele, quem diria que o seu pai estava envolvido num projeto megalómano e ele nunca tinha desconfiado. No meio de tantas revelações, ainda teve que falar com o pai ao telemóvel. Ouvir a voz dele foi um alívio e uma felicidade, pois também pensou que alguém lhe tivesse feito mal, mas logo se apercebeu que o pai não corria qualquer perigo enquanto servisse para lhes trazer o tal sistema molecular.

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Alex disse apenas o que lhe pediram, mas ainda teve tempo de dizer algo que acabou por ficar gravado na memória do seu pai, apesar de, na altura, não ter ligado muita importância. - Pai, estou bem. Ouve só e não digas nada. As pessoas que me raptaram querem que tu vás daqui a dois dias, ao Cabo da Roca, entregar o sistema molecular, caso contrário eles far-me-ão mal… a mulher tem cabelo vermelho e é…. A mulher a que ele se referia tirou-lhe o telemóvel das mãos e desligou-o. - Rrrrapaz, não voltes a brrincarr comigo. Ainda te arrrrrependes!! – avisou abruptamente a mulher. Saíram e Alex ficou novamente sozinho com os malditos jogos da FIFA, afinal como iria passar o tempo?     Joana e André, acompanhados dos pais chegaram a casa dos Luvizi mesmo a tempo de assistir ao telefonema dos raptores. Quando Nellu desligou, anunciou: - Querem que eu vá entregar o sistema molecular amanhã, pelas 22h no Cabo da Roca. - Ainda bem que a entrega é a essa hora, assim, eu tenho um plano. – disse André. - Desembucha! – resmungou Joana. - Pois bem, visto que a entrega será recebida, supostamente, por um dos elementos que raptou o Alex, haverá o segundo elemento que ficará de vigia. E como sabemos que entre sair do barco e chegar ao Cabo da Roca, ele precisará de pelo menos uma hora, podemos aproveitar o elemento surpresa e entrar no barco e, nós os dois, o Dane e o meu pai podemos ir de barco até ao iate e entrar de surpresa e salvar o Alex… - Isso é muito perigoso, André. – gemeu a Sra. Rosa Maria. - Mãe, tem calma… afinal, o pai vai comigo. – mas isso ainda enervou mais a mãe, pois conhecia o marido e sabia que ele não era dado a essas coisas aventureiras e perigosas. - André, há um problema nesse teu plano, a pessoa que está de vigia vai ver o barco a aproximar-se e acaba-se o elemento surpresa… - disse o Sr. Carlos. - Eu acho que há uma ideia melhor. – disse Joana – Podemos ir de prancha até lá com a ajuda do meu pai. - E se tudo correr bem, como vão trazer de volta o Alex numa prancha? Ele detesta todo o tipo de desporto. – Disse a Sra. Carla, que tinha estado sempre calada.

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- Carla, isso não é problema. – descansou-a Dane – eu sei manobrar um iate e trarei os nossos miúdos sãos e salvos de volta para casa. Os adolescentes ficaram animados com a perspetiva desta aventura. A partir daquele momento, passaram grande parte da noite a organizar os pormenores do resgate do Alex, acabando por concluir que o Sr. Carlos só iria atrapalhar se tivesse que andar numa prancha, daí que iria mais cedo para o Cabo da Roca, onde se esconderia, de modo a poder auxiliar Nellu na entrega de um falso sistema molecular, pois, para espanto de todos, ele tinha uma arma e ia dar uns tiros para aliviar o stress do dia-a-dia no ministério. Escusado será dizer que o dia parecia não ter fim para os intervenientes do assalto noturno que se aproximava. A noite acordou por volta das 19h45m. Por volta desta hora, já o Sr. Carlos se dirigia ao Cabo da Roca com a sua pequena beretta debaixo do banco do passageiro. Quando chegou ao local, escondeu o carro e fez o restante percurso a pé, escondendo-se num local perfeito para a emboscada. Estava frio nessa noite, mas ele foi bem agasalhado e fazia-se acompanhar por um tupperware repleto de croquetes que a sua Rosa Maria lhe tinha feito para o reconfortar nessa aventura inesperada. Nellu, por esta altura, também estava a sair de casa com um embrulho do tamanho de uma caixa de sapatos debaixo do braço e enfiou-se no seu carro e voou em direção ao local combinado. Carla e Rosa Maria estavam uma pilha de nervos, mas Antónia reconfortou-as: - Tudo vai correr bem, os nossos filhos são os melhores do mundo e os nossos maridos seguem a sua sabedoria! Deram as mãos e sorriram as três pensando que aquele plano tinha tudo para dar certo, ou não. André, Joana e Dane estavam, na Praia da Rainha, a vestir os fatos por volta das 20h30m e entraram na água pouco depois. Iriam chegar lá no tempo pretendido e o mar estava flat para ajudar a missão. Quando iam a meio do caminho, aperceberam-se que uma pessoa ia a sair do iate e Joana reconheceu-a logo… era a estranha mulher de cabelo vermelho e de sandálias. A rapariga até se riu ao relembrar a figurinha da mulher com meias coloridas e aquelas sandálias pavorosas. Ficaram parados por um momento até que o barco, onde seguia a mulher, chegou a terra e entrou na carrinha e seguiu caminho. A carrinha ainda estava estacionado no mesmo sítio em que a tinham visto no dia anterior. Por este motivo, puderam reconhecer as luzes do veículo. Depois deste acontecimento, Joana disse:

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- Se ela foi sozinha, é porque o homem e o Alex ainda lá estão dentro. O plano está correr como planeámos. - Eu acho que estamos com um problema… - disse André. - E então? – questionou Joana. - O grandalhão deve ter uma arma ou coisa parecida… e se ele começa aos tiros feito parvo? - Não se preocupem com isso agora… respondeu Dane – o importante é entrar no iate e, depois, logo se vê. Continuaram a dirigir-se para o iate nas suas pranchas. Tiveram sorte por não estar uma noite de lua cheia, caso contrário poderiam ser detetados e isso seria o seu fim. Está uma noite perfeita para um “assalto náutico”.

    O Sr. Carlos já tinha esgotado o seu stock de croquetes, quando apareceu uma carrinha que ele não conseguia identificar. Lá dentro parecia estar uma pessoa. Nesse mesmo momento, o carro de Nellu Luvizi apareceu no fim da estrada e vinha naquela direção. O Sr. Carlos estava a matutar na vida e pensou que agora compreendia por que motivo Nellu e a família tinham aquele palacete e os carros topo de gama. Pudera, a trabalhar em projetos secretos, só podia receber uma pipa de massa… Bem, ele tinha que se concentrar, o importante era salvar o Alex e também a pele de Nellu que, no fim de contas, era um bom amigo. Nellu sabia que podia contar com Carlos, pois tinha-o em alta conta e sabia que, com ele por perto, nada poderia correr mal. Estacionou o carro e saiu, avistando, com alguma dificuldade, a mulher de cabelo vermelho e, de repente, reconheceu-a, lembrando-se do que Alex lhe tinha dito ao telefone. Ela era uma cientista alemã muito conceituada, mas

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que tinha sido afastada do projeto por fuga de informação, enfim, os chefões desconfiavam que ela vendia informações secretas ao governo russo. Sabine Klaus era o seu nome, uma excêntrica alemã da zona de Nuremberga, tinha estudado nas melhores universidades alemãs e americanas. Quando chegou a Portugal, ela pensou que vinha para assumir o projeto da AMEA, mas, desde logo, houve incompatibilidades de personalidade entre ela e Nellu e os representantes dos governos responsáveis pelo sistema molecular, afastaramna, fazendo, deste modo, que o pai de Alex fosse promovido. Sabine nunca lhe perdoou. Contudo, Nellu não acreditava que ela fosse a cabecilha de uma trama como esta, pois no fundo, ela era muito inteligente e ambiciosa, mas em questões práticas, deixava muito a desejar. Aqui havia gato… A estranha mulher dirigiu-se a Nellu com um tom cáustico: - Carrro Nello, wie gehts? Como vês, eu vou destrrruir a tua vida… Aquele lugarrrr na AMEA errrra meu… Agorra vou-me vingarrrr. Onde está a minha encomenda? - Está no meu carro! Sabine, espero que o Alex esteja bem, caso contrário… - Caso contrrrárrrio? Descansa, eu não faço mal a crrriancinhas!!! Eu só querrrro o sistema molecularrrr e JÁ! – gritou Sabine. - Então, eu vou buscar o sistema ao carro… - Pensas que sou parrrva? Fica aqui. – Apontou uma arma a Nellu – Eu é que o vou buscarrr… Era o que Nellu queria ouvir. Por esta altura, o Carlos, certamente, já estava em posição. - Dá-me a chave!!! – ordenou Sabine. Nellu deu-lha e afastou-se, mas nunca saindo da mira da arma da alemã de fogo. Esta dirigiu-se ao carro, com um ar satisfeito, mas mal sabia o que a esperava. Quando chegou ao carro, imaginando que Nellu estaria sozinho, não se preocupou em olhar com cuidado, pois o desejo de ter o sistema molecular em seu poder cegou-a. Sem qualquer preocupação, pois era ela que estava na posse da arma, abriu a porta do passageiro e nem teve tempo de pestanejar… Carlos, num ápice, saiu de trás da viatura e fechou a porta com o máximo da força. Sabine deixou cair a arma e desequilibrou-se, caindo no chão de saibro do estacionamento do Cabo da Roca e começou a gritar: - Mein Gott… Hilfe!!! Nellu correu em direção ao carro e sorriu. Carlos estava sentado em cima da robusta alemã e tinha uma arma em cada mão. Olhou para Nellu e disse:

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- Sempre foi o meu sonho ser um cowboy! Só espero que o Dane tenha tanta sorte quanto nós… Nellu riu nervosamente e, depois de ajudar Carlos a imobilizar por completo Sabine, telefonou para o 112 para os informar do que se estava a passar. Mas Sabine fez uma última ameaça: - Isto não vai ficarrr assim. Tu não sabes com quem te meteste. A minha orrrganização é um grrande novelo e eu sou apenas uma ponta solta!     Tinha chegado o momento da prova dos nove. O iate estava perante os três aventureiros, montados nas suas pranchas, tinham que subir cautelosamente para apanhar de surpresa o gigante alemão que comia hambúrgueres ao pequeno-almoço. Subiram silenciosamente pelas escadas do portaló que estavam descidas, sem se preocupar com as pranchas, pois, se tudo corresse bem, iriam de iate até à marina de Cascais. Lentamente, percorreram o convés da popa e espreitaram pelas janelas dos vários camarotes e, subitamente pararam, pois ouviram passos no piso superior, no convés superior da popa. Era, certamente, o homem que eles procuravam. O som continuava e eles resolveram esconder-se. O som dos passos desciam as escadas e aproximava-se do local onde eles se encontravam. André procurou à sua volta por um objeto que pudesse ter na mão para se defender e tateou até encontrar um objeto estranho que pouco depois se apercebeu que era uma lanterna decorativa. Dane também teve a mesma ideia e conseguiu alcançar uma espécie de boia. Joana também queria ter algo na mão para se defender, no entanto, a única coisa que encontrou foi um objeto em forma de peixe pendurado numa parede do iate… enfim, prémios de outras caçadas. O homem descia tranquilamente e dirigiu-se mesmo em direção à emboscada. Joana, André e Dane agiram instintivamente, nem pensaram nas consequências, saltaram para cima do raptor, bateram-lhe onde calhou, pois não conseguiam ver muito bem, mas, apesar de combalido, o homem ainda tentou escapar na direção da escada. Dane, como era um homem atlético e cheio de genica, saltou para cima do tipo e dominou-o. Enfiou-lhe a boia nos pés e disse ao André para encontrar algo que servisse para o amarrar. Joana e André encontraram facilmente, no cabrestante, perto da saída da âncora, cordas de todos

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os tamanhos. Com aquelas cordas, Dane que conhecia a arte dos nós dos marinheiros, prendeu o homem de tal modo que este dificilmente se libertaria. - Pai, agora só nos falta encontrar o Alex… - disse Joana já a dirigir-se para os camarotes em busca do seu amigo. André seguia-a, bastante ansioso. Nem ouviram Dane a avisá-los de que poderia estar mais alguém no barco. Já tinham percorrido quase todos os camarotes, já só faltavam os camarotes inferiores que ficavam ao nível da linha da água e, de repente, ouviram um barulho como se fosse um corpo a cair na água e Joana grita: - Paiiiii! O André e a amiga correram para o convés e encontraram Dane debruçado sobre a amurada a tentar perceber o que tinha acontecido. Os adolescentes chegam perto dele e perguntam: - O que foi isto Dane? – perguntou André. - Acho que não estávamos sozinhos. – sussurrou Dane. O que eles não conseguiram ver foi alguém a percorrer o caminho que tinham feito nessa mesma noite em direção ao iate, mas em direção contrária. Só mais tarde, Dane comprovou isso, quando recolheu as pranchas e se apercebeu que faltava a da Joana. Percorreram todo o iate, Dane dirigiu-se para a ponte do barco e contatou a polícia marítima via rádio. Enquanto isso, André e Joana chegaram ao último camarote. - Tem de ser este, caso contrário, corremos perigo para nada. A chave está na porta. – disse André. Os dois amigos olharam um para o outro como que a fazer força para que o seu desejo se concretizasse e abriram a porta. Olharam lá para dentro e, de imediato, ficaram com um sorriso na cara. Alex estava concentradamente a jogar um jogo numa consola e, quando ouviu o barulho da porta a abrir, voltou-se para trás pensando que era o homenzarrão com o jantar. Primeiro ficou estupefacto quando viu os amigos, mas depois começou a rir descontroladamente e começou a dizer: - Estava a ver que nunca mais chegavam! Estava a ver que nunca mais chegavam! Abraçaram-se e André explicou-lhe por alto tudo o que tinha acontecido e perguntou a Alex se este sabia onde estava, como este respondeu negativamente, Joana disse-lhe que estava num iate ao largo da Praia de Rainha. - Ora bolas, estou num barco… eu bem senti que estava enjoado, mas pensei que era devido às drogas e, agora olhando para isto tudo, preferia que assim fosse… Bem, nem

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tudo é mau, André, arranjaste um companheiro para jogar aqueles jogos marados de futebol! – disse Alex. Riram-se os três e voltaram a abraçar-se. Entretanto, na ponte já Dane tinha pedido socorro e a polícia marítima já vinha a caminho. O homem que raptou Alex tentava soltarse e gritava por socorro em alemão, mas os nós feitos por Dane eram impossíveis de desatar.     A noite ainda foi longa. A polícia chegou ao Cabo da Roca e ficou muito admirada por ver aquele cenário em que dois homens tinham dominado uma bizarra mulher que afirmava com um sotaque estranhíssimo que era uma vítima. Mas Nellu e Carlos apressaram-se a explicar o que se estava a passar. Os polícias prenderam a mulher e pediram aos pais de Alex e de André para que os acompanhassem até à esquadra. Entretanto, a polícia marítima chegou ao local, onde estava o iate. Os três amigos tentaram explicar a situação, mas estavam tão excitados que foi Dane que tomou a palavra, esclarecendo tudo o que tinha acontecido nessa noite. A polícia marítima informou-os de que aquele iate estava registado em nome de uma conhecida marca alemã de champôs e que tinha autorização legal para permanecer estacionado naquela zona, pois não quiseram entrar na marina de Cascais, alegando que as águas não eram suficientemente profundas para permitir a entrada de um barco daquele tamanho. Depois de alguns minutos de conversa, os polícias levaram o homem para o seu barco e um outro polícia auxiliou Dane a recolher as pranchas e a deslocar o iate mais para peto de terra. Dane ainda comentou com o polícia: - Falta-me uma prancha e eu tive a sensação que alguém saltou para a água quando eu tentava dominar aquele tipo. No entanto o polícia sossegou-o, dizendo que talvez tivesse sido impressão sua e a prancha podia ter sido arrastada por uma pequena corrente. Dane calou-se e não falou mais nisso, mas ele tinha certeza daquilo que ouvira e sabia que as correntes naquela noite não arrastariam nem uma folha quanto mais uma prancha. A noite acabou em festa em casa dos Luvizi. Estavam todos tão felizes e aliviados por tudo ter acabado que ficaram todos a dormir no palacete no Estoril. No dia seguinte, quando acordaram, já tudo parecia um acontecimento longínquo. O mais positivo no meio desta aventura foi os laços de amizade que se tornaram muito fortes quer entre os

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adolescentes, quer entre os pais destes. E a vida retomou a normalidade e as férias da Páscoa foram ainda mais divertidas do que tinham imaginado.     Foram divertidas, mas foram curtas e as férias depressa terminaram. Quando chegaram à escola, já todos tinham conhecimento das aventuras de férias e todos, colegas e professores, queriam saber pormenores. Claro que Alex, André e Joana não podiam contar toda a verdade, pois o sistema molecular tinha de se manter secreto. Respondiam a todas as perguntas, mas quando lhe perguntavam a razão do rapto, todos diziam que era para pedir um resgate, pois a avó do Alex era uma italiana endinheirada. Claro que todos acreditaram. A primeira semana passou depressa e na sexta-feira, Nellu resolveu aproveitar a noite agradável e dar um jantarinho para os miúdos e para os amigos. Todos acharam uma excelente ideia, pois queriam voltar-se a reunir sem pensar em perigos, apenas estar juntos a comer boa comida e a aproveitar a companhia uns dos outros. Para além disso, Nellu queria voltar a combinar com Carlos uma saída para fazer tiro ao alvo que se tinha tornado agora o seu novo passatempo e o pai de André apreciava esta nova companhia. Toda a gente se reuniu no quintal. Os homens estavam de volta do churrasco, enquanto as mulheres estavam a ultimar os preparativos na cozinha. Entretanto, reuniram-se todos numa mesa no quintal, falaram da escola, Paola falou da visita à avó e nas prendas que esta lhe comprou, falaram na escola de Dane, nos respetivos trabalhos e na horta de Carla. A noite ia animada, quando ouvem a campainha da porta. Alex levanta-se e diz: - Estejam descansados que eu vou abrir. – dito isto, levantou-se e foi à porta. A reunião de amigos continuou e ouvia-se que estavam muito animados, por isso ficaram petrificados quando viram surgir Alex com uma arma apontada às costas e ficaram ainda mais admirados quando se aperceberam de que quem a apontava era Miss Blueberry, a professora de inglês dos miúdos. - Estar quietos e nada de mal vos acontecerá… SR. Luvizi eu querer, imediatamente, o sistema molecular… falhei uma vez, mas hoje prometo que isso não irá acontecer… - Então sempre era verdade que estava mais uma pessoa no iate naquela noite… disse Dane entre dentes.

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A inglesa sorriu e respondeu que tinha escapado por pouco, mas que naquele dia não ia falhar. - Afinal quem é você verdadeiramente? – questionou Joana. - Bem, parece-me que não há mal em dizer quem ser, visto que hoje ser o último dia das vossas vidas e levarão o meu segredo para o túmulo. Quando ouviram aquilo, as mulheres que até aqui tiveram um papel secundário, entreolharam-se e souberam, de imediato, que era a sua vez de proteger a família. - O meu nome ser Abby Carter e o meu namorado voluntariou-se para fazer a experiência piloto do sistema molecular e algo não correu bem. Quando ele voltou para casa, estava completamente mudado e, um dia desapareceu. Foi encontrado dias mais tarde morto numa praia. Foi a AMEA que o matou. Nellu lembrava-se de Collin Young, ele era um dos voluntários para integrar a lista de agentes da AMEA, mas, ao fazer exames de rotina, os cientistas descobriram que ele tinha uma doença muito grave e que já estava em estado avançado. Pagaram-lhe a viagem de volta aos E.U.A e nunca mais tiveram notícias dele, pois Collin desligou o telefone. - Foi então que vim para a Europa à procura da sede da AMEA e o meu ponto de partida foi Berlim, onde conheci Sabine que era uma cientista frustrada, devido ao despedimento, e ela contou-me tudo, onde era a sede e quem era o responsável. Foi quando eu arquitetei este plano e até já arranjei uns compradores muito simpáticos para o sistema molecular que vos vão fazer a vida num inferno e eu assistirei de camarote. A vinda para Portugal foi fácil, arranjei trabalho no colégio para controlar o Alex e deixei o tempo passar até que chegou o momento certo. A Sabine trouxe o iate que pertence à empresa onde ela estava a trabalhar e o parvo do namorado dela veio para Cascais na sua carrinha, por isso não havia nada

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desta história que pudessem ligar a mim. Todos estavam a ouvir atentamente e a tentar perceber como é que nunca tinham desconfiado daquela mulher. Ela parecia tão simpática, pensava Joana. - Vá, Sr. Luvizi… Onde está o sistema molecular? Não temos a noite toda… - gritou Abby. Mas ela não teve hipótese contra três mulheres desesperadas. Carla, Antónia e Rosa Maria saltam para cima dela. Esta nem teve tempo de raciocinar. Rosa Maria pega na arma, Antónia pega-lhe nos braços e Carla dá-lhe um tabefe, dizendo-lhe: - Meteste-te com a família errada. Agora vais pagar caro pelo que fizeste. Alex, Joana e André estavam abismados com a transformação da pacata mulher que passava a vida na horta e no jardim. A confusão foi enorme, tiveram que chamar a polícia que chegaram prontamente com um sorriso na cara, pois ainda tinham presente as aventuras das semanas anteriores e queriam saber o que se passava agora. Já a polícia estava no palacete quando chegam uns homens que falavam inglês e que foram eles que levaram Abby. Um polícia acabou por confessar que estavam a trabalhar em parceria para caçar a cabecilha do grupo, pois aqueles homens, que afinal eram americanos, intercetaram comunicações entre a mulher e um grupo perigoso de chineses. Desde que Alex tinha sido libertado, nunca deixaram de vigiar Abby, pois sabiam que ela entraria em ação a qualquer momento. Quando a confusão acabou, os amigos voltaram a reunir-se no quintal a comentar tudo o que se tinha passado. - Acho que agora tudo terminou. – disse André. - Assim espero, já não aguento mais emoções. – desabafou Rosa Maria. Nellu olha para a mulher e brinca com ela: -Carla, afinal tens um monstrinho dentro de ti… - Nellu, nunca ouviste dizer que por detrás de um grande cientista está sempre uma mulher corajosa? Todos riram às gargalhadas, fizeram brindes e a vida continuou pacata e sem perigos. Alex, André e Joana foram amigos para toda a vida.

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