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Sugestão de Leitura
~ Psicologia
McNAMARA, Patrick, Ed. – Where God and Science met: How brain and evolutionary studies alter our understanding of religion. V. 1: Evolution, genes, and the religious brain. – London: Praeger, 2006.
Revisão e Arranjo gráfico Tatiana Sanches, Divisão de Documentação imagem Microsoft
Sugestão de Leitura— Psicologia Uma iniciativa da Divisão de Documentação Fevereiro de 2012 Faculdade de Psicologia | Instituto de Educação Faculdade de Psicologia | Instituto de Educação
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Este volume apresenta um estudo da interseção da teoria evolutiva com o estudo científico da religião, onde confluem em multidisciplinaridade elementos cognitivos, emocionais, psicológicos, sociais e comunicativos da religião, usando métodos das ciências naturais e sociais. É também feita uma ligação com a teologia, proposta por teólogos que pertencem a tradições religiosas teístas e não teístas. Nas últimas décadas, a interação entre a psicologia, a religião e a espiritualidade tem despertado muito interesse, embora Freud tenha considerado destrutiva a relação entre a psicologia e a religião, mas Jung tivesse uma opinião completamente contrária, considerando estes aspetos intrinsecamente ligados. Neste livro, registam-se as intenções do estudo multidisciplinar, com os objetivos de explorar o modo como a religião toma forma e é expressa, o modo como a espiritualidade se forma e funciona nas pessoas, e os modos de formação e expressão da religiosidade. Nestes modos, realçam-se os verbos “formar” e “expressar”, assim como as manifestações do comportamento religioso nas formas pessoais, nos atos de espiritualidade, nos rituais e nos aspetos funcionais humanos. As ideias estão reunidas em três volumes. No primeiro volume apresenta-se a evolução da psicologia da religião. O primeiro capítulo começa por questionar se existe um “gene de Deus” ou um “módulo de Deus”, visto alguns cientistas admitirem que o cérebro está equipado com o que chamam de “módulo de Deus”, um subsistema do cérebro, formado por evolução, que causa e pode afetar a intensidade da crença religiosa. Segundo os antropólogos, em todas as culturas humanas se acredita na alma e na vida depois da morte, que os rituais podem mudar o mundo físico, e que a doença e a infelicidade são causadas ou aliviadas por espíritos, fantasmas, santos, deuses, demónios, anjos ou Jesus, diabos ou deuses. O autor afirma que todas as culturas, sem exceção, acreditam nisso e noutros aspetos muito específicos da religiosidade, crença, ritualização ou espiritualidade. A religião expressa-se tridimensionalmente, podendo ser uma adaptação, conforto numa possibilidade de reunião em comunidade, e uma fonte de produções éticas. No entanto não devemos observar os escritos religiosos, nomeadamente a bíblia, como uma fonte de valores morais ou éticos, pois nela estão descritos vários episódios contrários a estes princípios, nomeadamente onde impera o rapto, o genocídio e a destruição. A religião tem sido palco das piores atrocidades, da caça às bruxas, das cruzadas, das inquisições, das lutas das “jihads”, e dos bombistas suicidas, muitas vezes com justificação nos seus escritos sagrados. Por isso, para compreender os valores morais, não é necessário ser-se religioso. Os psicólogos identificam sentimentos universais, tais como o amor, a compaixão, a generosidade, a culpa, a vergonha, e a indignação, independentemente da religiosidade. No que diz respeito à adaptação, a religião proporciona o contexto, a direção para a emoção e é considerável a influência dos sistemas da religião na experiência emocional e na expressão. No contexto das sociedades humanas, a cooperação requer “força e caráter”, contidos intrinsecamente nos valores universais. Para conhecermos a natureza humana, devemos começar por estudar as emoções. A questão do conforto e do sentimento de comunidade explica a perceção da religião como processo de socialização, no qual são irrelevantes as influências genéticas. Psicólogos, sociólogos e genéticos evidenciam a transmissão das atitudes sociais como inteiramente culturais. As influências nas atitudes sociais são reveladas nas dimensões de religiosidade, autoritarismo e conservadorismo, que formam um grupo correlacionado denominado síndrome da Tríade dos Valores Morais (TMVT), nos métodos genéticos quantitativos sociais, na variância do fenótipo, que se decompõe segundo uma forma interpretável e ilustrada em diagramas. Os comportamentos religiosos são, muitas vezes, comunicados em práticas rituais tortuosas
Sugestão de Leitura e terríficas, com a finalidade de enviarem mensagens, em geral, do foro moral e sexual, comprometidos com as suas próprias vidas, que se traduzem em “placebo” de cura, nos mecanismos de auto-cura, como sistema de sinalização difícil de falsificar. A religiosidade manifesta-se por compromissos com os seres sobrenaturais, a que chamamos “deuses”, a poderes, lugares e disposições para formar essas crenças. Estas crenças e o bem relativo que proporcionam foram postas em dúvida por Dawkins [p. 89], que questiona o ponto de vista de que a religião é intrinsecamente saudável, quando observa os custos associados à religião, nomeadamente ao comprometerem a cura de certas doenças, por exemplo através da recusa de tratamentos. Adianta-se inclusivamente que a religião pode ser até uma forma de doença mental, causada quando o cérebro fica “infetado” com ideias irracionais, que facilmente se espalham e contagiam outros. Contrariamente a esta opinião, Koenig e colaboradores [ibd.], fizeram um estudo exaustivo que demonstra que o compromisso com a religião e a participação no ritual melhora o bem-estar físico, correlacionado com a felicidade, esperança, otimismo e outros bens psicológicos. Para entender as crenças sobrenaturais é necessário estudar os tipos de mentes e as teorias sobre a vida depois da morte. Existe a teoria do dualismo corpo-mente, o reducionismo, e há quem se considere extintivista. As crenças dependem de sistemas cognitivos. Uma vez desenvolvido o discurso e as sociedades, tipos de comportamentos como o egoísmo e a violência manifestam-se no ser humano e a punição deste comportamento tem um impacto físico e pode ser percebido de modo inteligente por indivíduos, que pensam estar a ser observados por fantasmas. Se as pessoas creem ser observadas pelos mortos, não se surpreende que procurem mensagens, nem que seja para lhes lembrar que estão a ser vigiados. A psicologia cognitiva defende que é possível um ser humano raciocinar acerca das vidas mentais de outros, o que a psicologia do desenvolvimento refere como teoria da mente. As pessoas e os animais comportam-se através das ações, ao passo que Deus “comporta-se” através dos acontecimentos. Dá-se como exemplo o furacão Katrina, que seria neste caso, a desaprovação de Deus em relação à guerra com o Iraque, o mesmo sucedendo com o terramoto em Haiti. Quando se trata de nós próprios, temos a tendência de nos questionarmos com a pergunta “porquê eu”? A teoria do ritual da cura explica em parte a origem da religião e defende que os rituais humanos faziam parte de um processo evolutivo denominado dissociação, como base fisiológica da religião. Esses rituais, praticados durante milénios conduziram a formas de experiências invulgares, tais como transes, aparições, sonhos paranormais, perceções extrassensoriais (ESP) e experiências extracorporais (OBE). Esses episódios criaram modelos de religião popular, gerando crenças nos espíritos, almas, vida depois da morte, capacidades mágicas... Os antropólogos observam que os processos psicológicos afetam os resultados da cura espiritual, argumento que coincide com as investigações nos campos da relação medicina-corpo e da psiconeuroimonologia, que estuda como os processos psicológicos afetam o sistema imunológico. Afirma-se ainda que algumas pessoas são mais religiosas do que outras devido às diferenças genéticas. Conclui-se que a ciência jamais substituirá a religião na vida da maioria das pessoas, em qualquer sociedade, e que a explicação da religião constitui uma problemática para a psicologia evolutiva, ao procurar explicar o pensamento humano e a sociedade. Constitui também um desafio, em especial para teólogos e religiosos, que tentarão encontrar explicações científicas para as crenças religiosas e espirituais.
Recensão de Edma Satar, Bibliotecária