folheto god and science vol 2

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Sugestão de Leitura

~ Psicologia

McNAMARA, Patrick, Ed. (2006) – Where God and science meet: How brain and evolutionary studies alter our understanding of religion. V. 2: The neurology of religious experience. Westport, Connecticut: Praeger, 2006

Revisão e Arranjo gráfico Tatiana Sanches, Divisão de Documentação imagem Microsoft

Sugestão de Leitura— Psicologia Uma iniciativa da Divisão de Documentação Abril de 2012 Faculdade de Psicologia | Instituto de Educação Faculdade de Psicologia | Instituto de Educação

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A interface entre a psicologia, religião e espiritualidade tem despertado grande interesse em várias linhas de investigação, convergindo para a conclusão da associação entre a religiosidade e os processos biológicos. Uma das tendências desta abordagem é a neurologia da religião que faz uma reconceptualização das funções cerebrais quando formadas por impulsos religiosos, realçando os lobos frontais nas funções básicas com a religiosidade, tais como a capacidade humana para a empatia, o agir, a intencionalidade e o objetivo. Começa-se por realçar o papel que desempenham os lobos frontais tanto na cognição religiosa como no comportamento. Explica-se, que o sistema mesocortical dopaminérgico é um conjunto de fibras nervosas que se especializam no uso da dopamina como neurotransmissor e que projeta dos sítios mais baixos do médio-cérebro para os mais altos do córtex frontal. São eles que ativam as funções dos lobos frontais que, por sua vez, mantêm funções executivas de alto nível do cérebro, tais como ativar outras áreas cerebrais e orquestrar funções mentais complexas e motoras. É importante investigar os contributos dopaminérgicos com o comportamento religioso, porque ajuda a explicar a dupla relação da religião com os fenómenos de grande significado para a saúde pública, em associações religiosas com resultados individuais para alguns, com a adoção de um fanatismo perigoso e intolerância, para outros. Sabe-se que os circuitos de dopaminérgicos exercem influência reguladora do hipotálamo, dos sistemas neurohormonais autónomos, que têm impacto sobre a capacidade de responder ao stress e, deste modo, contribuírem indiretamente para a saúde. De igual modo, os efeitos negativos da crença religiosa podem ser clarificados por comparação com os sintomas neuropsiquiátricos associados com a disfunção nos circuitos dopaminérgicos estriatal-frontal. Tal disfunção pode, por exemplo, dar origem a sintomas da desordem do espetro obsessivo-compulsivo ou a uma adesão rígida a crenças mal adaptadas e rotinas comportamentais, assim como ameaças de violência, quando essas rotinas são ameaçadas. As práticas espirituais, tais como a meditação, são tarefas neurocognitivas usadas em várias tradições culturais, sendo os efeitos e mecanismos explorados pela ciência em atividades autónomas, tais como a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e as mudanças encefalográficas. Mais recentemente tem-se explorado essa relação com a função hormonal e imunológica, os efeitos clínicos das desordens físicas e psicológicas. No campo da neurociência, o termo neuroteologia estabelece a relação entre a religião e o cérebro, em investigações de base e função biológica, na história evolutiva da religião. Os cientistas creem que isto pode lançar luz na questão da existência de Deus. Newberg et al., afirmam existir correlação entre os neurónios e algo muito vago, dando exemplos de experiências musicais e místicas. Acreditar na existência de Deus não consiste em basear-se em provas evidentes, mas em algo que se sente. A crença religiosa é algo que está ao nível dos sentimentos vivos individualizados. Acreditar em Deus, não é colocar uma marca na frase “Deus existe”, porque estas afirmações são superficiais e articulações imperfeitas de uma convicção subjacente. As convicções que compreendem o sentido mais profundo de como é o mundo são constituídas por sentimentos metafísicos. O autor apresenta o caso de um antropólogo que conduziu uma investigação sobre a religiosidade do adolescente numa missão para jovens, fundada por um ministro, com o fim de juntar jovens de igrejas urbanas e suburbanas, observando ritos de passagem para a adolescência. Investigações antropológicas e arqueológicas indicam que a religião é um traço universal com uma longa história, que todas as culturas incluem crenças e comportamentos reconhecidos como religião. Como a música e a linguagem, admite-se que a religião parece ser uma capacidade dos humanos tanto neurofisiológica como genética, mas dependente das experiências socializantes para o seu desen-

Sugestão de Leitura volvimento. É, portanto, uma construção individual e social. As áreas cerebrais que estão mais ativas durante certas atividades religiosas como a oração e a meditação, que são as mesmas que desempenham um papel significativo nas relações sociais. A teoria da vinculação (Bowlby, 1982) coloca o modelo motivacional no desenvolvimento da organização comportamental, cognitivo e afetivo do organismo. Segundo este modelo, o organismo possui sistemas comportamentais específicos, tais como a reprodução, a alimentação, a exploração e a vinculação (attachment) e os critérios de relacionamento nestes comportamentos denotam o envolvimento do sistema de vinculação na experiência religiosa. Do mesmo modo, pensa-se existir dependência entre a história da arte e a história religiosa. O que explica porque os seres humanos expressam as suas capacidades criativas e as suas necessidades religiosas, esforços e compromissos de uma forma interligada, tal como Solso (2003) defende que as capacidades mentais necessárias para a evolução da arte são inerentes às que surgem com o desenvolvimento do cérebro humano. Aliás, a criação da arte visual corresponde ao desenvolvimento da perceção visual que envolve estruturas e processos neurais, do mesmo modo que na busca da religião. Ao nível individual, a visão artística e a conversão religiosa podem ser neurologicamente semelhantes e podem refletir o mesmo processo psicológico de produzir significado. As investigações das relações entre a religiosidade e a função cerebral convergem nos lobos temporais e incluem estudos de pessoas com convulsões epiléticas. A epilepsia, considerada na antiga Grécia como “a doença sagrada” é uma desordem neurológica que afeta muitas pessoas, cuja origem inclui malformações cerebrais congénitas, erros inatos do metabolismo, trauma cerebral, tumores cerebrais, golpes, infeções intracranianas, malformações dos vasos sanguíneos cerebrais, e desordens que causam degeneração cerebral, tal como a doença de Alzheimer. Os que participavam nos ritos secretos celebrados na antiga Grécia como “culto de mistério” assistiam, pela primeira vez, a cerimónias simbólicas destinadas a comunicar significações escondidas. O simbolismo era entendido, não em termos de signos abstratos, mas como um sistema de pensamento. Assim, Sperber (cf. 2006: 208) encoraja a pensar acerca do simbolismo como método, etapa ou raciocínio, mais precisamente como componente resultante da interação entre a memória e a mente usada na compreensão dos objetos e das ações que não são explicadas por processos inferenciais normais. Pensamos nestes processos como parte da mente que aplica operações lógicas e compreensões do mundo psicologicamente intuitivas. Quando o pensamento racional não é suficiente para interpretar determinados dados, entra em jogo o esquema simbólico que tem a capacidade de usar a linguagem no desempenho dos rituais. A teoria cognitiva do ritual contribuiu para a compreensão da estrutura da mente humana, originando a neuroteologia ou teobiologia. O autor tece considerações sobre a relação existente entre a música, a linguagem e a religião como construções culturais aprendidas por transmissão social. Sugere-se, que a designação “neurologia da experiência religiosa” devia ser considerada uma frase resumida que se refere no que é, na realidade uma neurologia das contribuições cognitivas para os comportamentos e experiências específicas etiquetadas por um indivíduo como “religiosas”, devido ao contexto social. Estes comportamentos e experiências incluem a possibilidade que o “contexto social” implica a presença detetável de um Deus não material sem que, no entanto, se possa admitir ou não a realidade de Deus, cuja questão se centra no foro da teologia. Recensão de Edma Satar, Bibliotecária


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