Faculdade de Psicologia | Instituto da Educação UNIVERSIDADE DE LISBOA
Sugestão de Leitura
~ Psicologia
LEMMA, Alessandra (2003) – Introduction to the practice of psychoanalytic psychotherapy. Chichester: John Wiley & Sons.
Revisão e Arranjo gráfico Tatiana Sanches, Divisão de Documentação Imagem Microsoft
Sugestão de Leitura—Psicologia Uma iniciativa da Divisão de Documentação Novembro de 2011 Faculdade de Psicologia | Instituto de Educação
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Este livro, inspirado pela experiência no ensino da psicanálise, reflete questões colocadas pelos alunos, procurando divulgar textos práticos para os profissionais da clínica, no campo de saúde mental, sem muita experiência. Estes esforços da autora dirigem-se ao desenvolvimento da orientação no processo clínico, baseado nas técnicas da teoria clínica de Sandler (1983). Afirmando que as teorias de Freud estão já ultrapassadas, não deixa de admitir o pioneirismo do grande psicanalista, que foi, durante anos, seguido por muitos outros. Reconhece também que as teorias freudianas sobre o inconsciente, mais do que quaisquer outras teorias psicológicas, assentam a análise individual através de um foco no desejo e na destruição, ou em síntese, no sexo e na morte. Explica como a psicanálise permaneceu, durante muito tempo, num mistério e hermeticamente fechada a outros campos de investigação mas, agora abertos, graças ao interesse e desenvolvimento da neurociência. A autora admite ter tido um certo comportamento “anti-cérebro” por tudo o que tivesse o prefixo “neuro”. Considerava a biologia e a neuropsicologia irrelevantes no conhecimento da mente humana. Sentia-se bem com a tradição hermenêutica, acreditando que a psicanálise procurava o significado, nada tendo a ver com a verificação científica nem com a anatomia cerebral. Do mesmo modo, admite que a psicanálise é uma interpretação do significado porque, para além de evocar narrativas, explica os eventos mentais. Porém constata que, para que a psicanálise possa sobreviver, deve aprender com outras disciplinas e envolver-se no diálogo com a biologia, a neurobiologia e a neurociência cognitiva, de modo a poder adquirir novas metodologias. Por exemplo, no diálogo entre a psicanálise e as neurociências, estão a tornar-se comum as discussões sobre a etiologia da psicopatologia e os fatores genéticos e experienciais na explicação dos processos inconscientes. Trilhando os caminhos do passado da psicanálise, a autora justifica as críticas a Freud que, inicialmente considerava a psicanálise uma “questão nacional judaica”, com uma longa e dolorosa história devido às suas raízes. Conta como Freud fugiu para Londres e sofreu perseguições que afetaram o movimento psicanalítico, após o interrogatório à sua filha Ana Freud pela Gestapo. Como a British Psychoanalytic Society integrava três grupos distintos: a dos Freudianos contemporâneos, dos Kleinianos e dos Independentes, obrigados a coabitarem, com toda a espécie de tensões associadas aos diferentes pontos de vista. Como ainda, na América do Norte, era forte a presença da psicologia do ego e do “self”. Julga a história da psicanálise como a dos “quismos”, que cobrem muitas escolas teóricas envolvidas no desenvolvimento da personalidade, com técnicas diferentes no tratamento dos problemas psicológicos. Prevalece a tendência para a hermenêutica, as abordagens subjetivistas e internacionais, que substituem as abordagens intrapsíquicas. Encabeçadas no grupo da psicanálise encontram-se múltiplas teorias divergentes do funcionamento mental do tratamento, sendo a teoria da transferência e contra transferência a mais convergente com a teoria clínica. A posição de Freud era clara no método de tratamento de populações de doentes específicos com estruturas de caráter neurótico, que facilmente podiam desenvolver uma relação de transferência, distintamente da população dos estabelecimentos de serviço de saúde pública que necessitava de ajuda. Defendese que cabe à psicoterapia psicanalítica este tipo de tratamento, por usar técnicas e estilos terapêu-
Sugestão de Leitura ticos, quer interativos e abertos quer usando o humor para envolver os pacientes, enquanto outras técnicas são vistas como uma aprovação no modo como a doença deve ser compreendida e interpretada. Os modelos da mente seguidos neste livro informam como se pratica a psicoterapia. Como a compreensão dos processos do inconsciente se tornaram mais sofisticados, esclarecendo como a mudança psíquica pode ocorrer e como a terapia psicanalítica pode intervir nesse processo, analisando a natureza da percepção inconsciente e as funções da memória na ação terapêutica da teoria psicanalítica. É exemplo disto a aprendizagem, que muitas vezes ocorre inconscientemente, embora muito do nosso conhecimento seja adquirido de modo consciente, através do condicionamento, bem como a recuperação das capacidades sensório-motoras e o processamento implícito da atividade mental, que é repetitivo e automático. Todas as atividades humanas devem ser modeladas no espaço físico e psíquico e segundo regras. No espaço físico, o terapeuta deve preocupar-se com o tempo da prática da psicanálise, porque este aspeto pode ser uma fonte de frustração e ansiedade, que pode originar a indiferença do paciente. Focaliza-se o direito à confidencialidade, ainda que os psicoterapeutas tenham necessidade de discutir os casos com os colegas e vários outros aspetos que importam na prática psicoterapêutica, tais como a obrigatoriedade da remuneração, as situações de interrupção ou cancelamento das sessões, a mentira na monitorização, a abstinência, o anonimato, o desprendimento e a neutralidade. Alerta-se para o procedimento da avaliação do sintoma que nem sempre é tarefa fácil, porque nem todos os pacientes revelam a sua história, sendo necessário serem encorajados e motivados a fazê-lo. O processo de transferência que se estabelece numa relação terapêutica é muito importante para a psicoterapia, quer seja numa psicoterapia individual ou em redes sociais, destinada a verificar ou reforçar o ego ou situações neuróticas, de borderline, e psicóticas. Acontece muitas vezes, os pacientes desejarem saber qual o seu estado psíquico, se estão “mal” ou se estão “loucos”, se ficarão melhor ou não. Apresentam-se os componentes de uma formulação psicológica, tais como a descrição do problema, do custo psíquico do problema, da contextualização e, o que é mais dominante no paciente, identificam-se as defesas e as finalidades do tratamento, para que se consiga um bom nível de audição dos problemas e dos veículos de comunicação entre o terapeuta e o paciente. Deste modo, o conteúdo será melhor interpretado, assim como as funções e os tempos da interpretação, que facilitarão a eficácia dos processos de transferência e contratransferência. Como conclusão, a autora indica os critérios de avaliação dos procedimentos finais do processo terapêutico, tanto da perspetiva do paciente como da do psicoterapeuta, aconselhando o contacto pósterapêutico, através de cartas, e-mails, encontros presenciais ou através das redes sociais.
Recensão de Edma Satar, Bibliotecária