«A violência familiar não pode ser analisada sem ter em conta um conjunto de valores, crenças, de estilos de vida, e do sistema sócio-político, característicos de uma determinada cultura e época. A sua expressão e o significado que lhe é atribuído, é claramente influenciado por estes factores, sendo, por isso, muitas vezes difícil de operacionalizar o que se entende por um comportamento de violência, variando este de acordo com a sua intencionalidade e com o significado que lhe é atribuído num contexto relacional alargado ou restrito. Encontrando-nos na transição do século vinte para o vinte e um, a violência familiar ainda existe. E é, justamente na família, onde se esperaria um contexto de amor e protecção necessário para a promoção do desenvolvimento da criança, que vamos encontrar mais abuso infantil, quer de uma forma directa quer indirecta. Isto é, muitas vezes a vitimização da criança acontece, não porque é o objecto directo dessa violência, mas porque sofre a que ocorre entre os seus pais, sendo triangulada nela. Paradoxal, também, parece ser a violência que se instala e mantém entre casais que decidiram construir um projecto de vida conjunto, apoiado numa relação de amor. Apesar desta realidade constrangedora e das suas consequências no desenvolvimento emocional, cognitivo e comportamental da criança e dos cônjuges, só recentemente tem sido objecto de estudo por parte da comunidade científica, o que acontece a partir da década de setenta. (…) A existência de diferentes formas de violência ou abuso (vulgarmente tidos como sinónimos na literatura da especialidade) torna mais complicada a tarefa de as definir, nomeadamente aquelas que poderão ter um enquadramento subtil, como a violência emocional ou o abuso verbal. (…) De facto, as fronteiras entre o mau trato e a violência, entre quem é a vítima e o agressor, podem ser tão ténues e tão relativas, por ser de significações e de relações que falamos, que, qualquer que seja a posição relativa destes intervenientes, ambos são vítimas inevitáveis de repercussões, a curto e a longo prazo, no seu bemestar psicológico. Finalmente, interessa atender ao significado do acto em questão, ou seja, a forma como é interpretado pelos participantes, estando, naturalmente, esta dimensão associada às normas culturais que influenciam as percepções dos indivíduos e que não são estáticas; ou seja, mais uma vez, nos referimos aos significados da violência, provavelmente tão diversificados quanto as dinâmicas conjugais e/ou familiares consideradas. Como vimos, a clarificação de conceitos é particularmente importante nesta área, dada a extraordinária ambiguidade com que são utilizados, existindo, por isso, uma diversidade enorme de definições de violência. Desta forma, consideramos que a definição apresentada pela American Psychology Association de 1996 é suficientemente abrangente: “Violência familiar é um padrão de comportamentos abusivos que incluem uma variabilidade de maus tratos possíveis, desde físicos, sexuais e psicológicos, usados por uma pessoa contra outra, num contexto de intimidade, em ordem a adquirir poder ou manter essa pessoa controlada.”» COSTA, Maria Emília; DUARTE, Cidália Violência familiar. - Porto : Ambar, 2000, pp. 12-19
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Mostra bibliográfica sobre Violência doméstica
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Violência doméstica
Uma iniciativa da Divisão de Documentação Junho de 2015
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