Entrevista exclusiva com Armando Vilas-Boas

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E N T R E V I S TA Marรงo, 2015 ARMANDO VILAS-BOAS

www.vilas-boas.eu A. Vilas-Boas e designer visual, diretor de arte e fotografo desde 1987, com um historial de mais de 80 clientes. Tem vasta experiencia em design editorial, institucional e corporativo, tendo dirigido graficamente mais de 130 livros, 8 revistas e 60 eventos. Fez 7 exposiรงoes de design visual e 14 de fotografia. Ver mais informaรงao na pagina seguinte.


Entrevista | Março, 2015

A. Vilas-Boas E coordenador do Mestrado em Design e Cultura Visual do IADE·U, onde ensina design visual, direçao de arte, cultura visual e fotografia. E professor convidado no ISMT e professor visitante no IPAM/ Porto. Orientou 35 projetos finais e teses de mestrado (e 1 projeto de licenciatura), tendo integrado 127 juris de provas de mestrado e doutoramento (mais 14 provas de licenciatura). Obteve tres graus academicos pela Universidade do Porto: licenciatura (5 anos) em design de comunicaçao, mestrado (2 anos) e doutoramento (4 anos) ambos com teses sobre cultura visual desportiva. E investigador na UNIDCOM (Lisboa), tendo como interesses design visual, cultura visual e fotografia. Publicou sete livros, sendo o mais recente Para Acabar de Vez com o Design Gráfico (disponível gratuitamente em www.designvisual.eu). Outras publicaçoes incluem 3 capítulos de livros, 6 artigos e 8 resumos. As comunicaçoes incluem 15 comunicaçoes orais em congressos, 7 palestras, 9 posters em congressos e tambem 5 moderaçoes. Ultimamente tem-se dedicado a escrita de ficçao. Escreveu dois romances que aguardam publicaçao e começou um novo romance e um livro de contos. Atividades passadas incluem teatro (como ator e encenador), musica (DJ e bateria), design de luz e som (para teatro e desfiles de moda), e desporto (jogador federado de polo aquatico e dirigente federativo).

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BIPAM: Quais as fontes inspiradoras para um Designer num momento de desenvolvimento criativo? Armando Vilas-Boas (AVB): A vida. Parece evidente, mas um designer tem de ser antes de mais um cidadao, capaz de se aperceber a cada momento de tudo o que o rodeia, de quais sao as tendencias mas ao mesmo tempo possuindo uma consciencia historica de tudo o que esta para tras. A inspiraçao para um trabalho específico tem de partir sempre das características inerentes ao proprio trabalho. Ao contrario do que se possa pensar, um designer nao tem formulas magicas para arrancar criatividade do vazio, mas e antes uma cabeça pensante que estuda a questao que tem em maos e, usando as suas vivencias como pessoa, a sua cultura visual e o seu conhecimento específico das materias, desenvolve soluçoes que deem respostas a questao com a qual e confrontado.

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Entrevista | Março, 2015

BIPAM: Qual a importância do Design no cotidiano e de que forma é que está presente no nosso dia-a-dia? AVB: Se pensarmos em manifestaçoes concretas do design (industrial ou grafico, por exemplo), e facil constatarmos que o design nao so e omnipresente como tem tendencia a moldar cada vez mais as nossas vidas, atraves da forma como nos direcciona o acesso a cultura visual e material. Nesse sentido, e mais uma das peças de um grande mix que juntara muitas outras actividades na modelaçao dos cidadaos contemporaneos, como a política, a sexualidade, a alimentaçao ou a industria audiovisual. No fundo somos todos regidos por interesses economicos e o design — nas suas varias formas — e muitas vezes mais uma ferramenta ao serviço do capital. A parte mais rica, humana e interessante do potencial do design ainda esta largamente inexplorada, e consiste no uso das ferramentas intelectuais do design, entre outras o design thinking, nao para a optimizaçao do lucro mas para resolver problemas concretos de populaçoes desfavorecidas e ajudar a criar comunicaçao visual em todas as suas formas — nomeadamente ao nível do entretenimento ou do infotainment — que seja guiada por ideais que nao os comerciais.

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BIPAM: A evolução do mercado e a análise das tendências futuras indicam uma convergência de competências entre os profissionais do Marketing e do Design. No seu ponto de vista, como é que estas duas áreas do conhecimento se podem aliar? AVB: Na realidade elas ja estao aliadas ha muito tempo, ainda que subsistam diferenças fundamentais na formaçao dos respectivos profissionais, que os levam muitas vezes a aquartelarem-se em posturas territoriais. Creio no entanto que as novas geraçoes conseguem assimilar ja uma postura de compromisso, de entendimento, em que os marketeers percebem que necessitam dos designers como parceiros nao so pelas suas competencias tecnicas e culturais mas tambem pela sua capacidade de pensar os fenomenos de um modo nao linear, onde a relaçao causa-efeito pode nao ser directa se levar em conta as cambiantes imprevisíveis da condiçao humana. Por seu lado, os designers tem tambem evoluído no sentido de encararem os marketeers nao como clientes ditadores mas como parceiros cuja influencia nao e castradora mas sim inspiradora: o estabelecimento de balizas e objectivos pragmaticos e a maior parte das vezes um dos maiores facilitadores quando um designer inicia um processo criativo e o desenvolve. Acredito que ambos os profissionais tem vindo mutuamente a conceder territorio, por forma a poderem cooperar em harmonia ao longo de todo o processo, uma vez que ja esta mais que provado que a colaboraçao deve ser permanente.

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Entrevista | Março, 2015

BIPAM: O Mestrado em Design Management lecionado no IPAM e IADE surge na sequência desta convergência entre o Design e o Marketing. Estamos a formar um novo perfil de profissionais, quais as suas principais caraterísticas distintivas? AVB: Eu creio que a primeira sera precisamente esta, a de criar profissionais que tem um entendimento de ambas as facetas de um processo (a do marketing e a do design) e que, fruto de uma formaçao diversificada, conseguem instigar o design thinking nos meios a que a ele tradicionalmente estao alheios. No fundo, e possuírem uma visao transversal de todos os processos criativos e produtivos, da necessidade original ate a percepçao que o consumidor tem dos produtos ou serviços comercializados, com a capacidade de reiniciar o processo a cada momento por forma a optimiza -lo. A parte mais positiva, a meu ver, e que estes profissionais conseguem com igual facilidade e sem preconceitos encarar um processo totalmente comercial mas tambem um humanitario.

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BIPAM: Que desafios para o futuro para os profissionais de Design em geral e mestres em Design Management em particular? Que conselhos lhes quer deixar para a adaptação aos novos desafios? AVB: Acredito que o paradigma da incorporaçao do profissional numa grande empresa deixara de fazer sentido, e que as pessoas terao de estar prontas para serem free lancers em toda a linha, o que nao e necessariamente mau porque permite que cada profissional possa moldar-se de acordo com os seus princípios e valores, sem ter de interiorizar de forma definitiva aqueles da empresa a qual "pertence". Acredito tambem que a abundancia de profissionais qualificados e especializados no mercado levara a que cada vez mais cada um tenha de criar o seu proprio espaço, no sentido de gerar o seu proprio "emprego", nao so propondo novos serviços as empresas como tambem identificando novas necessidades que se propoe resolver numa vasta gama de actividades, usando as suas competencias muito proprias. Nesse ambito, penso que deverao ser consideradas nao so as actividades lucrativas convencionais (industria e comercio) como tambem uma gama vastíssima de serviços, sejam de base capitalista, mutualista ou solidaria.

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