BioAtivo - 10ª Edição

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BioAtivo


editori al

2 editorial Olá Leitor Lançamos a primeira edição do segundo semestre com grandes mudanças não só na revista como também na empresa. Durante as férias de julho, a empresa passou por um replanejamento estratégico que ocorrea cada três anos para avaliarmos nosso desempenho mediante as ações que tomamos e quais rumos a empresa deve seguir; passamos o fim das férias trabalhando de modo a cumprir algumas pendências do primeiro semestre e começamos o segundo desobstruídos. Após um mês de agosto um tanto turbulento devido a algumas questões que foram surgindo com alguns membros da empresa, já estamos nos reorganizando para a retomada das atividades em ritmo acelerado; com a realização de plantões no decorrer da semana, pretendemos fazer com que trabalhemos de forma mais unida e uniforme, e a empresa toda atinja seus objetivos. Esperamos que gostem do novo modelo do BioAtivo e até a próxima edição.

bioativo Institucional Farma Jr tem novas parcerias em vista Notícias Governo anuncia mudanças no tratamento da Aids

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Primeiro remédio para endometriose é aprovado no Brasil

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Produção nacional de remédio contra tuberculose depende de resolução da Anvisa

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Pílula anti-HIV continua a trazer surpresas

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Vacina mais avançada contra a dengue tem apenas 30% de eficácia

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Pesquisa & Inovação Liofilização aprimora a conservação de válvulas cardíacas

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Especial Plástico biodegradável: uma alternativa eficaz e sustentável

Tarik K. Andrade Consultor de Marketing Gestão de 2012 Farma Júnior

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Mercado Os vigilantes da farmácia

FARMA JÚNIOR - Diretoria: Jéssica Rocha, Jessyca Kuba, Juliana Medeiros, Marcos Moretto, Paulo Souza, Thais Mikami, Vivian Borali. Responsável pela BioAtivo: Marcos Moretto. Presidente: Vivian Borali. Endereço: Av. Prof. Lineu Prestes, 580 - Centro de Vivência, sala 14, Cidade Universitária. Contato: (11) 6901-5926 // farmajr@usp.br. JORNALISMO JÚNIOR - Edição: Bruna Romão. Equipe: Arthur Deantoni, Fernando Oliveira, Gabriela Malta, Hugo Luiz Araújo, Sophia Kraenkel e Vitor Hugo Moreira. Diagramação e Projeto Gráfico: equipe de Comunicação Visual da Jornalismo Júnior. Contato: (11) 3091-4085, jjr@usp.br, @ jornalismojr

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Farma Jr tem novas parcerias em vista

Com os novos parceiros , empresa pretende promover cursos e palestras sobre gestão e liderança

Fernado Oliveira Combinar interesses em comum, ganhar experiência mútua e realizar bons negócios: estes são alguns dos objetivos de uma parceria de sucesso. Visando esse tipo de resultado, a Farma Júnior quer expandir seus horizontes. Recentemente, a empresa está negociando uma parceria com a RL&Associados, para trabalharem juntas na realização de futuros eventos na empresa. A RL&Associados é uma empresa que conta com 15 anos de experiência em sua área de atuação. No mercado, desenvolve vários projetos com foco nas áreas de qualidade e produtividade. Através de treinamentos, a empresa investe na melhoria da performance de organizações. Com a parceria, Farma Júnior e RL&Associados irão oferecer palestras e cursos relacionados a gestão e liderança.

Segundo a presidente da FJ, Vivian Borali, fechar esta parceria “seria muito importante, pois ofereceríamos cursos de ótima qualidade aos alunos da FCF e a toda comunidade USP”. Segundo a presidente da FJ, Vivian Borali, fechar esta parceria “seria mui o importante, pois ofereceríamos cursos de ótima qualidade aos alunos da FCF e a toda comunidade USP”.

“Para a Farma Júnior, fechar essa parceria seria muito importante, pois ofereceríamos cursos de ótima qualidade aos alunos da FCF e a toda comunidade USP”


4 institucional “Além disso, é uma experiência que nos falta, já que não temos parceiros a algum tempo.” Como a RL&Associados cultiva parcerias com várias outras empresas juniores e, inclusive, com a Brasil Júnior (Confederação Brasileira de Empresas Juniores), outras oportunidades também podem estar por vir. Além disso, futuros acordos acrescentariam muito à FJ uma vez que a empresa não consolidou parcerias recentes. Outra parceria da FJ também está em andamento. O objetivo é firmar um acordo com a Química USP Jr., do Instituto de Química da USP. Assim como outras empresas juniores, a Química Jr. tem como principal objetivo complementar a formação dos estudantes de graduação com projetos desenvolvidos. A empresa oferece consultoria científica em química, bioquímica e meio ambiente, além de aulas particulares e montagem de laboratórios.

bioativo A proximidade acadêmica das empresas juniores facilita não só o contato, mas também o intercâmbio de experiências entre elas. Se for feita a associação, os cursos e as palestras realizados juntamente com a RL&Associados teriam também o apoio da empresa júnior do Instituto de Química. A parceria ajudaria a divulgação, infraestrutura e a organização dos eventos que estão por vir. Os benefícios, entretanto, não serão somente da FJ, a Química USP Jr. também ganhará com a cessão de pessoas interessadas e qualificadas para ministrar os cursos. De acordo com Vivian, a expectativa é de que ao menos um curso seja oferecido ainda esse ano.

“E vejo que também seria muito favorável a eles, já que ofereceríamos pessoas qualificadas e realmente interessadas em fazer os cursos.”

Foto: R Brasil Consultoria


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notícias 5

Bruna Romão

Governo anuncia mudanças no tratamento da Aids Em meio a série de críticas sobre o retrocesso do programa de Aids no país, o Ministério da Saúde anunciou, no fim de agosto, novas medidas no tratamento e combate à doença. O uso de antirretrovirais será ampliado para pacientes em estágio menos avançado da doença e soropositivos que tenham parceiros sem HIV poderão tomar os medicamentos independente de sua carga viral. Além disso, o governo planeja lançar combinações de drogas em um único medicamento e ampliar os testes para diagnóstico da doença. Também foi anunciado o aumento dos recursos para campanhas de conscientização.

Primeiro remédio para endometriose é aprovado no Brasil

Produção nacional de remédio contra tuberculose depende de resolução da Anvisa

A Anvisa aprovou a venda do primeiro remédio específico (Allurene) para o tratamento da dor da endometriose, doença que atinge cerca de 6 milhões de brasileiras. A principal vantagem da droga é a possibilidade de uso prolongado e por via oral, inexistente nos outros tratamentos. O medicamento atua na reposição hormonal, inibindo a produção do estrógeno no endométrio.O seu custo, porém, é alto (cerca R$ 170 a caixa de 28 comprimidos de 2 mg), dificultando o acesso de mulheres com menor poder aquisitivo. Entre os efeitos colaterais estão alteração no sangramento menstrual, dores de cabeça, desconforto nos seios e depressão. Há, ainda, grupos específicos de mulheres em que ainda não foram estudados os efeitos do remédio.

Três laboratórios brasileiros tem condições de fabricar um medicamento quatro em um contra a tuberculose, considerado o mais eficaz pela OMS. O desenvolvimento do quatro em um no território nacional é essencial para que o Brasil, um dos países com mais casos de tuberculose, tenha autonomia no tratamento da doença. A produção, no entanto, esbarra em uma norma da Anvisa, que não permite a combinação de quatro drogas em um único remédio. Há um ano, foi solicitada a revisão da resolução, a qual segue em processo sigiloso. A agência informa que recentemente pediu dados ao Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), laboratórios com condição de produzir o medicamento imediatamente.


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bioativo Divulgação : Thinkstock

Pílula anti-HIV continua a trazer surpresas

Vacina mais avançada contra a dengue tem apenas 30% de eficácia

Tendo gerado furor quando anunciada, a pílula de prevenção à Aids aprovada em julho nos EUA pode impedir a infecção mesmo sem uso diário. A conclusão é de um estudo com participação de três centros de pesquisa brasileiros, publicado na revista Science Translational Medicine no dia 13 de setembro. A pesquisa constatou que duas doses semanais diminuiriam os riscos da infecção em 76%, quatro doses protegeriam 96% e sete doses 99%. Os especialistas alertam, no entanto, que para a garantia de proteção, somente o uso diário é recomendado oficialmente.

Testes realizados na Tailândia com a vacina mais avançada do mundo contra a dengue, desenvolvida pela farmacêutica Sanofi, mostrou somente 30% de proteção. O esperado pelos cientistas era mais de 70%. Apesar disso, o teste com 4.000 crianças do país mostrou que a imunização é eficaz contra os tipos 1, 3 e 4 da doença, com proteção de 60% para a primeira e de 80% a 90% para as outras duas. São aguardados, agora, os resultados do estudo de fase 3 da vacina, com 31 mil pessoas na Ásia e América Latina. O teste tailandês, no entanto, adiou o lançançamento comercial da imunização para 2015, no mínimo.


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pesquisa e inovação 7

Liofilização aprimora a conservação de válvulas cardíacas Gabriela Malta Sophia Kraenkel

A liofilização é um processo de conservação na qual a água, ou qualquer outro solvente, é retirado por sublimação, restando apenas a substância desidratada. Trata-se de uma técnica antiga, que existe desde o final do século XIX e que vem avançando bastante. Ela teve grande aplicação durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, quando o plasma sanguíneo era liofilizado. Nessa época, a liofilização era vista como uma tecnologia de guerra, pois a conservação de partes do sangue era de extrema importância para os exércitos. Depois, já na década de 1960, quando ocorreram as primeiras viagens espaciais, houve outro auge: a comida dos astronautas era liofilizada. Atualmente, tem importância na conservação de tecidos e na produção de fármacos e vacinas, pois preserva a estrutura das proteínas que os compõem. O professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, Ronaldo Pitombo aplica em sua pesquisa a liofilização em pericárdio bovino, tecido utilizado em corações humanos cujas válvulas precisam ser substituídas. Ele coordenou um projeto temático da FAPESP, que, em conjunto com outros grupos de pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto do Coração (Incor), procurava desenvolver novos materiais a partir do pericárdio para produzir novas válvulas cardíacas. Quando o paciente apresenta sinais

de que precisará substituir uma de suas válvulas cardíacas, o médico tem a opção de utilizar uma mecânica ou uma bovina. As válvulas bovinas são utilizadas desde os anos 1970 e são mais baratas que as mecânicas, pois são obtidas do pericárdio do boi. “O pericárdio e higinenizado e passar por um tratamento com glutaraldeído, um composto orgânico do grupo dos aldeídos, que dá resistência e elasticidade ao tecido”, explica o professor. Mas essa última etapa apresenta um problema: muitos estudos apontam que o glutaraldeído acelera a calcificação da válvula, levando a uma perda de elasticidade e falha no funcionamento. Além disso, o médico, antes de abrir o paciente, não consegue precisar o tamanho da válvula que será implantada. Antes da cirurgia, a equipe médica, então, precisa preparar válvulas de diversos tamanhos para, ao final, utilizar somente uma.

Vermel Erwan

Pó de Dunaliella salina é o resultado da liofilização de sais de pântano


8 pesquisa e inovação A liofilização das válvulas cardíacas permitirá a criação de um banco de válvulas já desidratadas, que seriam escolhidas pelo cirurgião na hora da operação. “Seria só rasgar o saquinho e implantar, porque a hidratação seria feita pelo próprio sangue do paciente”, ilustra Pitombo. É um processo que exige muita pesquisa, uma vez que a liofilização altera o pericárdio. “Embora seja um processo de desidratação, para efeitos de implante, é como se fosse um material novo. Não é mais o pericárdio, é o pericárdio liofilizado”, diz o professor. O grupo de pesquisa da FAPESP, então, realizou testes para aferir propriedades nocivas das substâncias com que tratavam o pericárdo, como também ensaios clínicos e implantes em pequenos animais, tendo

Sophia Kraenkel

bioativo obtido uma nova patente.

Inibindo a calcificação

O objetivo dos testes era deixar o pericárdio rígido e elástico sem usar o glutaraldeído, o facilitador da calcificação. Assim as válvulas teriam maior durabilidade e se evitaria que o paciente fosse submetido a diversas cirurgias. Para isso os cientistas desenvolveram métodos para que as moléculas de colágeno, presentes no tecido do pericárdio, fizessem ligações cruzadas entre si, o chamado cross-link. O professor faz a analogia: “Uma vara você consegue quebrar, um feixe não”. Primeiramente eles desenvolveram um composto, chamado epóxido, substituto do glutaraldeído. E mais tarde, descobriram na literatura, a possibilidade de usar radiação para realizar o cross-


bioativo link. “Isso é melhor ainda, porque não é preciso usar composto nenhum”, diz Pitombo. O próximo passo é revestir o pericárdio com soluções de dois biopolímeros: quitosana e fibroína de seda. Apenas com a desidratação, o tecido continua propício a calcificar, já que, ao se retirar a água, ele se torna rugoso. Assim, esse tratamento protege a válvula cardíaca e dá maior sobrevida à ela. Para verificar a eficácia do novo tratamento foram testadas duas amostras de pericárdio: uma liofilizada e tratada e outra não. Os dois tecidos foram colocado in vitro com células, simulando o contato da válvula com o corpo. Na amostra tratada houve biocompatibilidade, ou seja, as células cresceram sobre ela e criaram uma camada que a protegeu do depósito de cálcio.

Próximos Passos

O projeto temático da FAPESP foi encerrado em 2009, mas o assunto continua em estudo pelos grupos de pesquisa. O grupo do Incor tem realizado experiências in vivo com carneiros, sob a coordenação da pesquisadora Marina Maizato. Testes clínicos em seres humanos ainda não estão previstos no projeto. A pesquisa também evolui para outras áreas, com novas parcerias. Por exemplo, em conjunto com a doutoranda Roberta Polak, do Massachussets Institute of Technology (MIT), estão sendo desenvolvidos tecidos liofizados para entrega de drogas, ou drug delivery. Isto é, um sistema que carregue o medicamento até um local específico, como um tumor. Atualmente Pitombo também trabalha no desafio de liofilizar hemoglobinas, na qual a maior dificuldade é manter a capacidade das células do sangue

pesquisa e inovação 9 de captar oxigênio mesmo sem água. Utopicamente com a pesquisa seria possível obter sangue em pó, porém ainda não se sabe se é realmente um objetivo atingível. “Mas só os sonhadores conquistam alguma coisa” comenta.

Conheça as vasculares

doenças

Existem dois tipos de falha nas válvulas cardíacas. Ambas geram a necessidade de mais esforço do coração, porém por motivos diferentes. Elas podem surgir através de infecções, enrijecimento (calcificação) ou podem ser congênitas. Uma delas é a estenose vascular, ou válvula cardíaca estreitada, que significa que a abertura da válvula se torna menor necessitando que o coração trabalhe mais para bombear o sangue. O segundo defeito é a insuficiência vascular, ou válvula cardíaca com vazamento, que é quando a válvula não se fecha direito, fazendo que um pouco do sangue bombeado volte pela válvula .Assim o orgão precisa se esforçar mais, ao mesmo tempo que menos sangue circula no corpo. Os principais sintomas dessas doenças são falta de ar, fraqueza, rápido ganho de peso, dor no peito, palpitações e o mais perigoso: insuficiência cardíaca.


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Plástico biodegradável: uma alterna

gradável, obrigatoriamente “deve ser decomposta por bactérias”. Esta sacola, que é uma mistura de plástico e amido, tem Quinhentos bilhões. Um número gran- um tempo de decomposição muito mede, mas ainda inferior ao de sacolas plás- nor ao dos sacos plásticos comuns: cerca ticas produzidas anualmente. Cada uma de 18 meses. A pesquisadora atualmente desenvolve leva mais de cem anos para se decompor. Neste ritmo de produção, a longo prazo, um estudo de produção de plásticos bioa Terra terá um acúmulo imenso de sacos degradáveis, a partir de bactérias e açúcar plásticos. As alternativas para resolver (obtido da cana-de-açúcar). É o modelo este problema ainda são pouco claras, de sacola sustentável. As fontes são renomas se baseiam principalmente no uso de váveis e o processo de decomposição deisacolas biodegradáveis e sacolas reutilizá- xa como resíduos apenas gás carbônico e água. veis - ou ecobags. Maria Filomena Rodrigues, pesquisadoNo entanto, a aceitação das sacolas biora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas degradáveis pelo mercado encontra um (IPT), explica que a sacola, para ser biode- grande obstáculo: o alto custo de produFernando Olivera Hugo Araújo


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ativa eficaz e sustentável

ção. A estudiosa afirma que o novo proce- Filomena Rodrigues afirma que ambas dimento, além de alterar todo o processo têm seu espaço. “A biodegradável deveria de fabricação atual, já que a indústria não ser usada principalmente nas situações possui ainda os equipamentos adequa- de compras esporádicas, não planejadas. dos, seria mais custoso. “O grande proble- As compras do dia-a-dia poderiam ser ma é este: conseguir materiais competiti- perfeitamente feitas com a retornável”, diz. vos”, completa. No entanto, a pesquisadora destaca um O uso de sacolas reutilizáveis é outra opção que se tornou popular. É comum ponto essencial na questão das sacolas observar ecobags feitas de maneira arte- plásticas: o consumo consciente. Para ela, sanal, ou estilizadas com frases que pre- “não adianta usar a [sacola] retornável e gam a sustentabilidade. Assim como as ficar jogando fora o tempo todo”. Deste sacolas biodegradáveis, as ecobags são modo, o material acumulado apenas seria itens utilizados por quem deseja escapar substituído por outro. A questão central do excesso de sacos plásticos é repensar as pequenas ações cotidianas. Neste contexto qual delas traria um be- Pode-se estocar sacolas e reutilizá-las, dinefício maior ao meio ambiente? Maria minuindo, por consequência, a produção.


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bioativo Uma solução sustentável Garrafas, brinquedos, sacolas e tantas outras centenas de objetos do dia-a-dia são derivados do petróleo. Na indústria petroquímica, uma parte desse recurso não-renovável é destinada à produção de diferentes polímeros, como o plástico das sacolinhas. Maleável, resistente e versátil, o material faz parte do cotidiano e passa despercebido até virar um grave problema. Nos depósitos de lixo e no ambiente, o plástico pode demorar dezenas, até centenas de anos no processo natural de decomposição. A reciclagem é uma das soluções mais eficazes para o problema, gerando não só mais matéria-prima para a indústria de polímeros, como também empregos e renda. Outra saída para o acúmulo de lixo, não tão eficaz, é a incineração: o plástico é queimado em grandes fornos, liberando grande quantidade de gases poluentes à atmosfera. Desse modo, pode-se até produzir energia em usinas termelétricas, entretanto a um alto custo para o meio ambiente. Ao contrário do plástico comum, o plástico biodegradável, como o pesquisado por Maria Filomena, segue um ciclo sustentável. A matéria-prima para sua produção é o açúcar derivado da cana-de-açúcar, recurso renovável, de baixo custo e abundante no Brasil. Através da biossíntese, bactérias especiais metabolizam o substrato orgânico da cana e produzem os polímeros que serão utilizados como material plástico.

especial 13 Após o uso e descarte, o plástico biodegradável não agride a natureza, algo muito diferente do que ocorre com o plástico derivado do petróleo. Ao invés de acumular-se nos aterros sanitários, lixões e terrenos baldios, o material decompõe-se pela ação de bactérias em pouco tempo. Desse processo, são liberados gás carbônico e água, que serão novamente absorvidos pela cana-de-açúcar durante a fotossíntese, reiniciando o ciclo.

O dilema dos supermercados Abolir ou não abolir? Essa foi a grande polêmica do ano envolvendo as sacolinhas plásticas, distribuídas gratuitamente nos supermercados do estado de São Paulo. Alguns municípios do interior paulista, como Piracicaba e Sorocaba, já adotaram medidas restritivas desde 2011, mas uma decisão estadual só foi efetivada este ano. De 04/03 até 28/06, um acordo entre a Associação Paulista de Supermercados (Apas) e o Governo do Estado vetou a distribuição das sacolinhas nas principais redes de varejo. Durante esse período, algumas alternativas como bolsas reutilizáveis, biodegradáveis e caixas de papelão estiveram à disposição do consumidor. Alguns estabelecimentos também substituíram as sacolinhas convencionais pelas oxibiodegradáveis. Esse novo modelo de sacolas é composto de polímeros normais com aditivos naturais, como o amido de milho, que aceleram a quebra de ligações químicas das moléculas.


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bioativo tribuiríam mais sacolas gratuitamente. Além disso, terão também de oferecer uma alternativa de sacola reutilizável pelo preço de R$ 0,59 até o dia 15/04 de 2013. Porém, em 12/09, em informação divulgado pela Apas, essa decisão foi retirada e as sacolas continuarão a ser oferecidas sem se nenhum custo até o dia 15/10.

O saco ainda vai pro lixo Basta ir às compras para constatar: vivemos uma cultura do plástico. Armazenando frutas e legumes, embalando os mais diferentes produtos, carregando as compras, ele está presente, exercendo mil e umas utilidades. Material barato, seu uso acompanhou as demandas de uma sociedade industrial que preza pela eficiência do consumo. São muitas as soluções apontadas para os problemas do uso excessivo de plástiExistem alternativas à sacola plástica, e cabe co. Entretanto, uma questão ainda per ao consumidor fazer uma escolha consciente manece irresoluta. Comumente, as sacolas também são usadas no descarte do Entretanto, a conscientização não durou lixo doméstico. Mesmo suspensa a distrimuito tempo. Com pouco mais de 3 me- buição destas nos supermercados, sacos ses de veto, uma decisão da Primeira Vara plásticos ainda são usados para acomodaCentral da capital paulista obrigou gran- ção dos resíduos. des redes de supermercados a oferecer Questionada sobre as alternativas de novamente as sacolas plásticas de graça. descarte, Maria Filomena Rodrigues diz Enquanto o consumidor se adaptava às que “existem formas de melhorar e redualternativas, o apelo ambiental crescia, zir o consumo destas sacolas de lixo, fademonstrando uma necessidade não só zendo a reciclagem de outros materiais”. ecológica, mas também social. A pesquisadora afirma ainda que, com No dia 08/08, em recorrência da deci- pontos de coleta e depósito de material são anterior, o Tribunal de Justiça do Es- reciclável, seria possível diminuir tanto o tado de São Paulo deliberou que a partir volume de lixo quanto o uso de sacolas. do dia 15/09 os supermercados não dis-


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Os vigilantes da farmácia

Saiba mais sobre o trabalho e a rotina dos profissionais da farmacovigilância Arthur Deantoni Vitor Hugo

Em junho de 1848, na Grã-Bretanha, James Simpson aplicava uma anestesia em uma mulher em trabalho de parto. Minutos depois, a paciente, Hannah Greener, morria na frente do médico. Em decorrência da medicação, a menina de 15 anos sofreu uma fibrilação ventricular, que levou a uma parada cardiorrespiratória. Médicos de toda a região foram

convocados para dar pareceres de casos parecidos. Nasceu ali o marco-zero da farmacovigilância. No Brasil a história é mais recente. Em 1954 os laboratórios Chemie Grünenthal, influenciados pelo boom dos antibióticos no pós-guerra, sintetizou a ftaloilisoglutamina, que mais tarde seria apelidada de talidomida. Sete anos mais tarde, dois cientistas, McBride e Lenz, relacionaram o uso do medicamento com a má forma ção fetal. Esse episódio repercutiu no Brasil, acre-


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dita-se que mais de 300 bebês sofreram os efeitos colaterais da talidomida e nasceram com má formação dos membros superiores. O incidente trouxe ao primeiro plano, pela primeira vez, a discussão sobre os cuidados com medicamentos. Mas ainda hoje a farmacovigilância é uma área de trabalho pouco conhecida, mesmo pelos alunos da FCF. O que se faz, na prática, nesse ramo? Do que é aprendido teoricamente na universidade, o que é usado? É uma profissão difícil? Essas são perguntas comuns. Para respondê-las, a BioAtivo conversou com Rafaela Amorim, estudante do segundo ano de farmácia na FCF e aprendiz na Sanofi-Aventis.

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Segundo a estudante, a rotina de um profissional da farmacovigilância é bastante variada e envolve decisões rápidas. Em geral, o consumidor recorre ao SAC a fim de informar alguma reação indevida resultante do uso do medicamento. É tarefa da aprendiz informar à matriz e ao Centro Vigilância Sanitária do estado de São Paulo sobre o ocorrido. Amorim exemplifica com um caso emblemático: um dos medicamentos da empresa tinha o frasco parecido com um de colírio, porém deveria ser usado para tratar micose de unha. Isso acarretou vários relatos de pessoas usando nos olhos ao invés de nos pés, o que, naturalmente, não era uma boa ideia. Depois de certa pesquisa, ela


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e seus colegas repararam na semelhança inusitada e requisitaram intervenção na bula do remédio. Hoje, a bula claramente indica que é proibido usá-lo nos olhos. O uso dos conhecimentos da graduação na profissão é raso. Rafaela diz que aprende mais em seu trabalho do que nas próprias aulas. Ainda assim, a nomenclatura dos fármacos, algumas reações mais comuns entre os componentes dos remédios e outros conhecimentos elementares como esses podem ser retirados da aprendizagem teórica. Sobre a dificuldade do trabalho, a estudante alerta: “Como é uma área muito rápida, você tem que passar as informações

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o mais rápido possível. (...) Se a pessoa não sabe se organizar e trabalhar sobre pressão ela enlouquece”. “Pra tudo tem prazo”, resume. Ela também brinca: “estagiário tem feriado”. Porém só os estagiários. Devido ao caráter mundial da profissão e à exigência de relatórios para as matrizes dos laboratórios, os analistas efetivados acabam não tendo folgas, pois alguns feriados no Brasil simplesmente não os são em outros países. Entretanto, uma das coisas que mais interessam, o salário médio inicial de um analista de farmacovigilância varia de mil e quinhentos até quatro mil reais.



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