BioAtivo
EDITORI AL
2 editorial Caros leitores,
A 17ª edição inaugura um novo ciclo da BioAtivo, com novos repórteres e equipes de edição e arte. No Institucional, você vai saber sobre a nova gestão da Farma Jr. e quais os planos para a próxima fase da empresa. Em Pesquisa&Inovação, conhecerá o novo exame de sangue, que foi desenvolvido por pesquisadores brasileiros da Universidade de Goiás, e fica pronto em 15 minutos, um grande avanço comparado ao teste tradicional, cujos resultados saem em 24 horas e tem custo muito mais alto. O Especial trata do milenar melhor amigo do homem: como começou a amizade entre homens e cães? Que influência ela teve no processo evolutivo do animal? Além disso, quais as implicações genéticas da preferência por cães de raça? Respostas para essas questões você encontra nas próximas páginas. Fechando a edição, a editoria de Mercado fala dos diferentes campos profissionais em que pode atuar o farmacêutico, mostrando que a carreira pode ser muito mais ampla do que se imagina num primeiro momento. Que com tantas novas etapas, a BioAtivo possa permanecer a mesma em termos de abordagem acessível e interessante. Boa leitura!
Ana Carolina Leonardi Diretora de Jornalismo Científico Jornalismo Júnior
bioativo INSTITUCIONAL Farma Jr renova gestão e busca novos projetos 3 NOTÍCIAS Pesquisa mostra que farmacêutico é a quinta profissão mais confiável do país
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Dilma anuncia mais 100 mil bolsas para o Ciências sem Fronteiras
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Cientista confessa que fraudou pesquisa nos 5 EUA Mosquitos geneticamente manipulados podem combater a malária
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Estresse eleva a taxa de glóbulos brancos e pode acarretar em infarto e AVC
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Pesquisadores sequenciam DNA do eucalipto 6 PESQUISA E INOVAÇÃO Pesquisadores brasileiros elaboram exame de 7 sangue que fica pronto em 15 min ESPECIAL Cães e ciência: a genética por trás do melhor amigo do homem
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MERCADO Demanda por farmacêuticos tende a aumentar
BIO JÚNIOR – Diretoria: Davi Martinelli, Edmar Oliveira, Gabriela Christine Santos, Larissa Assis, Mathias Jorquera. Suplente: Bruna Bombarda. Presidente e Responsável pela BioAtivo: Priscilla Shiota Fedichina. Contato: biojr.usp@gmail.com. FARMA JÚNIOR – Diretoria: Ana Mendes, Bárbara Faustino, Beatriz Bianchi, Bruna Kyota, Camila Felix, Carla Pazini, Carolina Rabaneda, Débora Savino, Flávia Gomes, Flávia Arimori, Gabriel Barbosa, Juliana Medeiros de Deus, Karoliny Araújo, Paloma Nascimento, Paulo Souza, Rafaela Fiorotto, Vivian Borali. Responsável pela BioAtivo: Paloma Nascimento. Presidente: Juliana Medeiros de Deus. Endereço: Av. Prof. Lineu Prestes, 580 – Centro de Vivência, sala 14, Cidade Universitária. Contato: (11) 6901 – 5926, farmajr@usp.br. JORNALISMO JÚNIOR – Edição: Ana Carolina Leonardi e Murilo Carnelosso. Equipe: Fernanda Guillen, Leandro Bernardo, Marcos Vinícius Nona, Maria Beatriz Gimbo Melero, Vinícius Almeida. Diagramação e Projeto Gráfico: equipe de Comunicação Visual da Jornalismo Júnior. Contato: (11) 3091-4085, jjr@usp.br, @jornalismojr.
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Farma Júnior renova gestão e busca novos projetos para o segundo semestre Por Murilo Carnelosso
Foto: Marcos Santos/USP imagens
A Farma Júnior, empresa júnior da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, está com gestão nova para o ano de 2014. Desde maio a empresa gerida pelos próprios alunos está com diretores novos e planeja tanto retomar projetos antigos, como a própria BioAtivo por exemplo, como dar início a novos trabalhos a partir do segundo semestre. Após completar vinte anos no decorrer do ano passado, a Farma Júnior agora conta com mais de quinze membros na nova gestão divididos na organização de quatro núcleos além da presidência. Atualmente existem os seguintes núcleos: o Administrativo - Financeiro, o de Marketing, o de Eventos, além dos de Projetos, Pesquisa e Desenvolvimento.
Os projetos que a Farma Júnior se propõe a fazer podem envolver desde a análise química de compostos primários - que é muito utilizada durante a fase de desenvolvimento de um produto, para analisar sua qualidade e entender a preferência do consumidor antes de lançar algo novo no mercado - até projetos de consultoria para cosméticos, alimentos ou em tecnologia farmacêutica. A Farma Júnior pretende iniciar novos projetos no segundo semestre e também organizar alguns eventos durante o período. Mas até o fechamento dessa edição os detalhes sobre os trabalhos atuais não foram revelados. Entretanto, o que os membros da empresa já confirmam é que um novo projeto na área de análise química quantitativa de matéria-prima para fabricação de suplementos alimentares já está na fase
Fachada da Faculdade de Ciências Farmacêuticas
4 institucional de realização e que novidades surgirão durante este período de férias em julho ou no começo do semestre letivo, em agosto. Uma das vantagens da prestação de serviços de uma empresa júnior é que todo o dinheiro arrecadado pela empresa é destinado para a sua própria sustentabilidade, com gastos em infraestrutura e capacitação dos membros. Dessa forma os preços cobrados por esse tipo de empresa são sempre mais baixos do que os praticados no mercado e a qualidade do serviço continua a mesma. Para os membros, por sua vez, é uma ótima oportunidade para que o graduando
bioativo se desenvolva profissionalmente e já vivencie o ambiente do mercado de trabalho para adquirir experiências que comumente não são transmitidas ao longo dos cursos da graduação. As gestões de uma empresa júnior se renovam anualmente, mas no caso da Farma Júnior, segundo Carla Pazini, diretora do núcleo AdministrativoFinanceiro, “provavelmente para a gestão do ano que vem não haverá grandes mudanças nas diretorias”. Diferente do que aconteceu este ano, já que quase todos os diretores entraram em suas funções há poucos meses. Foto: Divulgação
Nova gestão da Farma Júnior
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Por Ana Carolina Leonardi e Murilo Carnelosso
Foto: Marcos Santos - USP Imagens
Pesquisa mostra que farmacêutico é a quinta profissão mais confiável do país Uma pesquisa divulgada no final de maio pelo instituto alemão GFK Verein classificou o nível de confiança da população brasileira acerca de 32 profissões diferentes. Os farmacêuticos tiveram um bom aproveitamento e ficaram em quinto lugar, com índice de 76% de confiança. A profissão mais confiável para os brasileiros é a de bombeiro, com 92%. Logo atrás vêm os professores (82%), paramédicos (81%) e pilotos (80%) antes dos farmacêuticos. A pesquisa foi realizada em 25 países diferentes e entrevistou ao todo 28 mil pessoas. Fonte: http://portal.crfsp.org.br
Dilma anuncia mais 100 mil bolsas para o Ciência sem Fronteiras
Cientista confessa que fraudou pesquisa nos EUA
A presidente Dilma anunciou no dia 25 de junho que a segunda etapa do programa Ciência sem Fronteiras oferecerá 100 mil novas bolsas de estudo no exterior para estudantes brasileiros. O “Ciência sem Fronteiras 2.0” entra em vigor em 2015. A primeira etapa do programa ofereceu ao todo 83 mil bolsas para estudantes. Os critérios de seleção são a nota obtida no ENEM (que deve ser obrigatoriamente maior que 600 pontos) e o rendimento acadêmico do estudante em sua respectiva universidade no Brasil.
O pesquisador sul-coreano Dong-Pyou Han confessou a um tribunal federal na cidade de Des Moines, nos EUA, que adulterou amostras de sangue de coelhos em trabalhos que tiveram financiamento de US$ 19 milhões dos Institutos Nacionais de Saúde para pesquisas de vacina contra a AIDS. O estudo foi publicado em 2012 e sugeria que a proteína gp41 poderia ser usada como vacina contra a doença. Han reconheceu a falsificação em setembro do ano passado e foi preso no meio de junho para que confessasse em tribunal a sua fraude.
Fonte: http://g1.globo.com
Fonte: http://www.folha.uol.com.br
6 notícias Foto: Marcos Santos - USP Imagens
Mosquitos geneticamente manipulados podem combater a malária Um grupo britânico injetou parte de uma enzima de DNA no código genético de machos de uma população de mosquitos-pretos, os vetores da malária. A alteração leva à destruição dos cromossomos X na produção de espermatozóides, fazendo com que as células sexuais funcionais contenham apenas cromossomos Y, gerando 95% de machos e levando à diminuição e eventual extinção daquela população. O projeto causa controvérsia entre ambientalistas, podendo abrir espaço para espécies concorrentes e potencialmente perigosas. Fonte: http://www.folha.uol.com.br
Estresse eleva taxa de glóbulos brancos Pesquisadores sequenciam DNA e pode acarretar em infarto eAVC do eucalipto Após sete anos de trabalho, 80 cientistas de nove países diferentes desvendaram o código genético da planta. A etapa é essencial para um entendimento mais profundo de sua fisiologia e da maneira como ela interage com o ambiente, podendo levar a manipulações genéticas, por exemplo, para a produção de mais celulose, uma vez que o eucalipto é a principal matéria prima da indústria do papel, entre outras melhorias como maior resistência a doenças e melhor adaptação a condições climáticas adversas.
Fonte: http://portal.crfsp.org.br
Fonte: http://blogs.estadao.com.br
Foto: USP Imagens
Pesquisa analisou amostras sanguíneas de médicos residentes na UTI de um hospital. Quando comparados a amostras dos mesmos médicos em dias de folga, os exames mostraram maior produção de células de defesa em momentos de estresse, fator que leva a um menor fluxo sanguíneo e maior propensão à formação de coágulos, precursores de infartos e derrames.
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Pesquisadores brasileiros elaboram exame de sangue que fica pronto em 15 minutos Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Pesquisa da Universidade Federal de Goiás utiliza materiais acessíveis para diagnóstico de doenças como diabetes e colesterol
Por Marcos Nona e Vinícius Almeida Uma pesquisa realizada por um ano e meio na Universidade Federal de Goiás tem como objetivo principal utilizar materiais acessíveis, como papel e toner, para fazer o diagnóstico de doenças como diabetes e dengue, além de detectar colesterol, proteínas totais, albumina, ácido úrico, lactato, dentre outras biomoléculas, tudo isso a um custo bastante reduzido. Vários
tipos de papel e reagentes químicos foram testados durante a pesquisa. A ideia inicial era utilizar esses materiais com apenas uma gota de sangue, deixando o exame mais rápido, barato e acessível. Atualmente os resultados saem em 24 horas, enquanto essa linha de pesquisa pode reduzir o tempo de espera para até 15 minutos. O pesquisador Wendell Coltro, doutor
8 pesquisa e inovação em química analítica e responsável pelo projeto, também está trabalhando em outro material a ser utilizado: os chamados μPADs (micro PADs), que são descartáveis, custam entre um e cinco centavos por unidade e possuem características que conseguem baratear o processo de análise dos fluídos. O novo mecanismo criado por esse grupo de pesquisa não requer instrumentação sofisticada, e sua simplicidade o torna bastante acessível. A visibilidade desse trabalho é tanta que acarretou ao grupo um prêmio do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT.
Como funciona? Leandro Santoro, mestre em ciências pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, explica o conceito por trás dos μPADs: “Eles são feitos em papel, que por sua vez é constituído por celulose, o polímero orgânico mais abundante na natureza e que, além de barato, é de fácil obtenção e biodegradável. Suas propriedades moleculares conferem a esse material uma estrutura porosa e caráter hidrofílico, sendo capaz de absorver amostras aquosas e reagentes que possam identificar substâncias presentes nas mesmas”. O fluído a ser analisado (sangue, plasma ou urina) é depositado no centro dos μPADs e conduzido até as extremidades através das chamadas barreiras hidrofóbicas, que são constituídas de parafina. As barreiras repelem os fluídos, que são ricos em água,
bioativo conduzindo-os até as extremidades, onde se encontram os reagentes. “Análogo a um labirinto, as regiões com parafina funcionam como os muros, ou barreiras”, explica Santoro. “Já as regiões sem parafina formarão a área central, onde são aplicadas as amostras, e os canais que estas percorrerão até chegar aos compartimentos finais, onde os reagentes estão impregnados. Esses canais precisam ter uma espessura bem pequena, da ordem de micrômetros (daí vem o micro, dos μPADs) para que funcione o princípio de capilaridade que conduzirá as amostras”. Por fim, a reação entre a amostra e os reagentes leva a uma alteração de cor visível a olho nu e que permite, por exemplo, a detecção de um nível elevado de açúcar no sangue. Para um resultado mais preciso, a alteração pode ser fotografada com um smartphone e a faixa de concentração é quantificada através de um software específico com base na intensidade da cor. A técnica, porém, está suscetível a erros que são minimizados em um laboratório de análises clínicas, como esclarece Santoro: “Em um ambiente de laboratório as condições são mais controladas, pois se tenta minimizar fatores que possam gerar contaminação ou erros nos resultados. O laboratório é projetado desde a planta para apresentar adequada disposição física das salas, higiene, descarte de resíduos contaminantes, treinamento dos funcionários, além de dispor de equipamentos modernos e maior variedade de reagentes, que poderão gerar resultados
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Foto: Divulgação
com maior precisão e confiabilidade”. O mestre em ciências também destaca outro fator que pode levar a uma alteração nos resultados: “Além da ausência de um ambiente controlado, a técnica proposta para os μPADs baseia-se em coloração, assim, deve-se considerar também a limitação e as variações na visão humana. Mesmo com a proposta de utilizar câmeras de smartphones com um software para análise, há a possibilidade de variação de acordo com o modelo, além das condições sob as quais essa foto será tirada, como a incidência de luz e a cor da luz ambiente”.
pesquisa e inovação 9 Apesar das limitações, a proposta oferecida pela pesquisa é realmente importante e inovadora, uma vez que leva tecnologias de saúde a pessoas que não têm acesso. Embora não possa substituir as técnicas tradicionais, ela oferece uma complementação barata, rápida, eficaz e portátil, como ressalta Santoro: “O conceito também possibilita que sejam realizados em casa testes que antes só poderiam ser feitos em laboratório, tornando as pessoas mais conscientes a respeito de seu estado de saúde. Muitas pessoas ainda não têm acesso às técnicas já disponíveis, como ao exame de diabetes, onde um diagnóstico tardio pode levar a lesões irreversíveis; ou ainda a um teste de gravidez. A partir do momento que a mulher fica ciente, ela pode passar a evitar hábitos nocivos antes de confirmar o resultado”. A detecção de doenças problemáticas como a dengue também será aprimorada: a técnica reduz o processo a apenas duas horas e custa R$0,08; enquanto hoje custa R$120,00 e necessita de dois dias para a conclusão. O pesquisador por trás do projeto, Weldell Coltro, está otimista e diz que, futuramente, “kits de diagnósticos” poderão ser distribuídos para a população que tem pouco acesso à saúde gratuitamente através do Ministério da Saúde. Com uma redução no tempo dos resultados e barateamento expressivo dos exames, a previsão é que haja melhor atendimento da demanda dos pacientes e uma redução do custo material aliada a maior acessibilidade.
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Cães e ciência: a genética por trás do melhor amigo do homem Por Fernanda Guillen Gomes e Leandro dos Santos Bernardo
Infográfico: Leandro Bernardo // Jornalismo Júnior
Dizem que o natural da vida é: morrem os pais e depois os filhos. Isso explicaria porque dói tanto para uma mãe e para um pai a perda de um filho. É isso que sentem os donos muito apegados aos seus animais, já que cada vez mais os animais domésticos são considerados membros da família. Infelizmente, um cão bem cuidado vive em média 14 anos (muito menos do que um ser humano), o que faz com que muitos donos percam seus “filhos de 4 patas”. O cão é conhecido como melhor amigo do homem devido a essa relação mile-
nar a partir da domesticação dos lobos e da seleção de animais mais dóceis. Um estudo feito pela revista científica PLOS ONE indica que a habilidade que os cachorros têm para fazer carinhas fofas foi muito importante para estreitar os laços entre os homens e os cães no passado. Apesar de os cães terem uma relação tão antiga com o homem e serem atualmente tão importantes para muitas famílias, eles são alvo de grande preconceito. Geralmente, os cães de raça são preferidos e, entre eles, algumas raças estereotipadas como “violentas” são discriminadas. A BioAtivo discutiu sobre como começou essa amizade e como ela se orienta, desde a questão afetiva até biológica.
Cinco raças e suas principais doenças
bioativo A origem das raças Sérgio Greif, biólogo formado pela Unicamp e dono de dois vira-latas, esclarece várias dúvidas em relação às diferenças entre cães de raça e vira-latas. Ele explica como o lobo foi domesticado e acabou originando as raças que conhecemos. Inicialmente, há 18 mil anos, os lobos que tinham menos medo perceberam que os humanos produziam muitos resíduos aproveitáveis e começaram a rodear vilarejos para se alimentar. Após várias gerações, esse lobo manso e tolerante ao contato humano criou um vínculo quase de dependência com o ser humano. A partir daí, o homem passou a atuar na seleção de características genéticas mais agradáveis e úteis, dando preferência para animais mansos, caçadores e que mantivessem animais perigosos afastados das vilas.
especial 11 Há 10 mil anos, o cão já não tinha mais praticamente nada de lobo, mas, ainda assim, era um animal completamente diferente do que conhecemos hoje e em nada lembrava as raças atuais. Ele continuava sendo um companheiro de caçada, animal de guarda e também eram utilizado em guerras, para puxar trenós e pequenas carroças e até como objeto de sacrifício em rituais. “As raças mais antigas e que existem até hoje remontam à Idade Média, mas a grande maioria foi desenvolvida a partir do século XIX. Durante a Renascença, a nobreza europeia começou a selecionar animais que expressassem cada vez mais características desejáveis. O cão não era mais um animal de trabalho, mas um outro tipo de “objeto” com finalidade mais fútil”, conta Sérgio. “Com o tempo, não importava mais a seleção de animais fortes e saudáveis, mas sim cães pequnos
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e com deformidades físicas. Quando olhamos hoje um cão de raça, vemos um animal que foi selecionado para ser dependente eterno dos humanos, cujo abandono na natureza significaria a morte certa.”
Vira latas X Cães de raça Sobre a verdadeira diferença entre cães de raça e cães vira-latas, Sérgio explica que os cães de raça são derivados de uma seleção genética artificial, cujo objetivo é a manifestação de características fenotípicas (cor do pelo e altura, por exemplo) desejáveis. Dessa forma, buscando as “raças puras”, o homem acabou destruindo a variabilidade genética,
além de ter selecionado características que podem comprometer o bem-estar animal por meio do pleitropismo (quando um gene carrega, além das características desejadas, outras características que podem ser prejudiciais à saúde). Ao contrário do que se pensa, os vira-latas não são selecionados naturalmente, pois também são animais domésticos. Porém, eles apresentam uma variabilidade genética muito maior e geralmente não expressam características que comprometem seu bem-estar e longevidade. Devido à essa variabilidade, é raro que doenças genéticas comuns em cães de raça se manifestem nos chamados SRD (Sem Raça Definida), “mestiços” ou sem origem rastreada. Quando diminui a diversidade genética de qualquer ser vivo, a ocorrência de genes homozigotos recessivos aumenta e, consequentemente, doenças que antes eram raras vão se tornando cada vez mais comuns. É como se uma característica normalmente rara, por ser carregada por um alelo recessivo, se tornasse cada vez mais presente devido ao cruzamento seguido entre um grupo de animais que apresenta aquele alelo. É a mesma coisa que acontece quando, na espécie humana, primos se casam: a probabilidade de que o filho desse casal tenha alguma doença genética é muito maior devido ao afunilamento genético. Esse gene provavelmente já estava na família há muitas gerações, mas apenas a reprodução consanguínea criou condições propícias para
especial 13 que ele se manifestasse. Assim, todos os cães de determinada raça são, do ponto de vista genético, parentes próximos, como primos. Sérgio Gréif e vira-latas resgatados por ele
Daniel Arrais Biihrer, estudante de veterinária pela UFLA (Universidade Federal de Lavras), ressaltou outro possível sentido para vira-lata: “O termo pode se referir aos cães denominados errantes, ou seja, que não possuem algum responsável e sobrevivem como podem nas ruas. Frequentemente são animais abandonados, ou que já nasceram nesse meio. (..) Os cães errantes dependem sim de suas próprias capacidades para se reproduzir e muitas vezes até conseguir alimento. De certa forma são mais rústicos e quando nascem nas ruas sem qualquer auxílio veterinário, tendem a morrer no primeiro ano de vida.” Mas a expectativa de vida do animal não depende só de questões genéticas: “Varia principalmente com a situação na qual o animal vive. Um cão sem raça definida vivendo abandonado, com difi-
culdades para conseguir alimento, que tem maiores chances de ser atropelado e participa de disputas para acasalar terá uma expectativa de vida menor do que um cão que possui responsáveis que o levam frequentemente ao médico veterinário, independente da raça deste”, replica Daniel. “A expectativa média de vida dos cães varia muito com a realidade em que vivem. Alguns estudos apontam que a expectativa média dos cães no Brasil é de apenas 3 anos, enquanto nos Estados Unidos é de 10 anos, independente da raça. “
RAÇAS VIOLENTAS? Sabemos que certas raças são obrigadas por lei, no Brasil, a só saírem às ruas com o uso de focinheira. Sérgio Greif conta que já resgatou das ruas um doberman de 7 anos, raça normalmente taxada como violenta. “Em termos de docilidade se igualava a um golden retriever [conhecida por ser amigável], e em termos de medo se igualava a um camundongo. Ela simplesmente não sabia que era uma doberman. Inclinações para docilidade ou violência são características herdades geneticamente, mas elas não são determinísticas”. Sérgio explicou que a grande diferença entre raças “violentas” e “dóceis” normalmente não tem relação com seu comportamento violento, mas sim com o seu “poder de fogo”: tamanho e força da mordida. Um poodle pode ser mais
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de”, defende Sérgio. Os seres humanos querem animais que expressem determinadas características e apenas por isso as raças existem. Para ele, se uma pessoa quer demonstrar status social ou compensar alguma deficiência, não deve fazê-lo em seres sencientes (com a capacidade de sentir), e sim em objetos como relógios de ouro, roupas caras e carros com diversos acessórios . Além disso, é importante lembrar que a venda de cães de raça em pet shop é tratada, pelos vendedores e fornecedores, como um serviço puramente comercial, no qual o animal é tratado como objeto de lucro, sem que ninguém pense em seus sentimentos. Por trás do cãozinho Foto: Fernanda Guillen
violento que um doberman, mas não nos assustamos com um poodle na rua pois sabemos que não causará grandes danos. Por outro lado, o simples olhar de um doberman solto já gera medo. A probabilidade de ataque pode ser a mesma, a diferença está no dano que o possível ataque causará. Além disso, o que realmente pode determinar o comportamento e o caráter de um cão são os fatores ambientais, como a sua criação. Por isso, os cães devem ser socializados desde os primeiros meses de vida, pois cachorros de todas as raças podem se tornar anti-sociais. Daniel realça: “A criação e adestramento são fundamentais nesse ponto. A questão da focinheira está mais relacionada com o tamanho e potencial dano que o animal pode causar. Além disso essas raças eram muitas vezes criadas com o propósito de participar de brigas, o que faz com que pessoas mal intencionadas perpetuem esses pensamentos (…). A criação pode facilmente sobrepor esses comportamentos e moldar a personalidade do animal.” Sérgio finaliza: “Crie um animal para atacar e ele atacará, crie-o privado de convívio social e ele será antissocial. A genética é importante, mas não é tudo.”
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BENEFÍCIOS DOS CÃES DE RAÇA? A manutenção de raças caninas não traz nenhum benefício para os animais em si, e tampouco para a “biodiversida-
Yoko, a vira-lata “moradora” do Crusp
especial 15 de raça que compramos no pet shop, também existe sua mãe, que muitas vezes é uma fêmea matriz, condicionada a viver engaiolada toda a sua vida, com o único propósito de ter o maior número de ninhadas. Além disso, animais que tenham características indesejáveis normalmente são sacrificados. Já Daniel tem uma visão um pouco mais otimista: “Acredito que algumas raças têm sua importância no convívio com o humano e desempenham sua função em benefício de ambas as espécies, como os cães de pastoreio (que efetivamente podem participar dessa realidade). Entretanto penso também que alguns extremos nessa seleção foram desnecessários, e prejudiciais para o bem-estar desses animais. O uso desses fatores para a criação desse mercado pet especializado é abusivo sim, mas vale lembrar que diversas raças são selecionadas justamente por fatores positivos, como ausência de doenças e facilidade de parição. Com isso, penso que cabe a cada pessoa que deseja ser um responsável por um animal, analisar o que busca com o mesmo, e o mais importante, assumir essa responsabilidade e garantir para seu companheiro bem-estar e qualidade de vida. “
SEJA UM AMIGO DE VERDADE Assim, nota-se que quem de fato gosta de cachorros e quer um melhor amigo canino, não deve fazer distinção entre
raças. Não escolhemos um amigo por sua cor, seu tamanho, sua descendência étnica, e um cão, como um amigo, também não deve ser escolhido por moldes preconceituosos. Quem quer um cão deve ter a consciência de que, ao longo da evolução e domesticação, eles se tornaram dependentes como filhos, não devem ser abandonados, e seu comportamento é moldado pela criação dada. Ao adotar cães de rua ou de abrigo, além de não incentivar o lucro com a exploração de animais, tem-se um cão que precisa de cuidados e carinho, que sabe amar e quer ser amado, como qualquer outro. Para saber mais: Bioativo nº 16 - Especial sobre testes e direitos dos animais. Você pode acessar a edição aqui.
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Demanda por farmacêuticos tende a aumentar Graças ao impulso da indústria, profissionais são cada vez mais requisitados Por Maria Beatriz Melero Ninguém gosta de ficar gripado. A sensação de mal estar atrapalha toda rotina que devemos seguir em nosso cotidiano. Para que isso não aconteça, sempre utilizamos medicamentos específicos, que combatem essa sensação e nos auxiliam a ficar em pé. Mas afinal, quem é o responsável pela elaboração desses e outros remédios que podem até mesmo fazer parte do conjunto de drogas que auxiliam a retardar os efeitos da AIDS? Trata-se do farmacêutico, profissional que pode atuar tanto no setor da indústria de remédios e cosméticos (produzindo-os e testando seus efeitos no organismo humano), quanto na área laboratorial e alimentícia, realizando análises clínicas e toxicológicas e participando do controle de qualidade microbiológica, físico-química e sensorial, respectivamente. Há ainda a possibilidade de se trabalhar em perícia criminal; contudo, essa área ainda não é amplamente explorada no Brasil. A indústria, porém, é o setor que oferece maior possibilidades de emprego para quem é formado em farmácia. Diversas opções de emprego Ana Helena Rodrigues, 30, é formada em farmácia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP). Concluiu sua graduação em dezembro de
2009, mas atualmente não exerce a profissão. Trabalhou na indústria química, na parte de saúde, segurança e meio ambiente após sua graduação até o início de 2013. Ana acredita que o campo de opções para quem é formado em farmácia é muito extenso, pois há a possibilidade de se trabalhar em diversos ramos. “O campo de trabalho para farmacêuticos é muito grande, desde drogarias, indústrias de medicamentos e cosméticos, químicas, petroquímicas, alimentícias, de saneantes, até laboratórios de análises químicas e hospitais”, relata. Ana ainda inclui em sua fala que o trabalho do profissional deve estar relacionado com a saúde. “O melhor campo de atuação para o farmacêutico está em áreas intrinsecamente relacionadas à saúde. Apesar da atenção farmacêutica não ser muito valorizada, é grande a responsabilidade do farmacêutico: garantir que o medicamento promova a saúde e seja utilizado da maneira correta”. Outros horizontes Para quem deseja ter a oportunidade de trabalhar fora do país, a profissão é uma escolha certa. Bruna Sumi, 24, se formou na Universidade Anhembi Morumbi e começou a trabalhar no segundo ano do curso como estagiária no setor de manipulação
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Foto: iAulas
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de medicamentos estéreis e não estéreis de uma empresa multinacional de embalagens farmacêuticas. Após o período de estágio, Bruna permaneceu na empresa e posteriormente foi posicionada na área de embalagens, na qual foi convidada para implantar/ revisar a produção de embalagens na China durante dois meses. Bruna crê que o setor industrial é uma ótima opção para um farmacêutico, uma vez que o setor vem crescendo rapidamente nos últimos tempos. Numa comparação en-
tre Brasil e China, ela diz que o país asiático está com uma taxa de crescimento maior do que a brasileira e que por esse motivo a demanda por profissionais qualificados é muito grande, sendo que muitas vezes são contratados estrangeiros para trabalhar nas indústrias chinesas. Ela ainda acrescenta que esse crescimento da indústria farmacêutica traz consigo novos desafios para o setor, como aperfeiçoamento de técnicas nas áreas de gerenciamento industrial e melhorias nos processos industriais.