BioAtivo - 11ª Edição

BioAtivo

EDITORI AL

2 editorial Caros leitores, A BioAtivo volta com uma nova proposta editorial por causa da atual parceira: a Bio Jr. USP, a empresa júnior do IB – USP. Assim, as matérias terão um enfoque mais biológico, sem deixar de abranger o universo farmacológico. Continuaremos com o mesmo layout, e ao longo das edições mesclaremos essas duas áreas.

Nessa edição, a BioAtivo traz a “Pesquisa & Inovação” e o “Especial”. A primeira introduz um estudo realizado no Instituto Butantan a respeito da utilização de um composto do veneno de um peixe brasileiro em drogas contra a esclerose múltipla.

Já o “Especial” é sobre a discussão gerada a partir das novas normas criadas pela Anvisa para a comercialização dentro das drogarias.

A partir do próximo número, a equipe da Jornalismo Júnior será completamente diferente. Como as editoras, Bruna Rodrigues e Gabriela Fachin, e os novos repórteres. E para finalizar, aqui fica o agradecimento à antiga editora, Bruna Romão, que em 2012 foi responsável por gerenciar e fazer crescer esse projeto.

Boa leitura!

Bruna Rodrigues Diretora de Jornalismo Científico Jornalismo Júnior

bioativo INSTITUCIONAL Bio Jr. é a nova parceira da BioAtivo

3

NOTÍCIAS Governo anuncia mudanças no tratamento da Aids

5

Primeiro remédio para endometriose é aprovado no Brasil

5

Produção nacional de remédio contra tuberculose depende de resolução da Anvisa

5

Pílula anti-HIV continua a trazer surpresas

6

Vacina mais avançada contra a dengue tem apenas 30% de eficácia

6

PESQUISA & INOVAÇÃO Peptídeo encontrado na peçonha de peixe tem propriedades antiinflamatórias

7

ESPECIAL As intervenções no funcionamento de farmácias e drogarias

BIO JÚNIOR - Diretoria: Edmar Oliveira, Gabriela Christine Santos, Larissa Assis, Mathias Jorquera. Suplentes: Bruna Bombarda e Tiago Esteves Carvalhaes. Presidente e Responsável pela BioAtivo: Priscilla Shiota Fedichina. Contato: biojr.usp@gmail. com. FARMA JÚNIOR - Diretoria: Jéssica Rocha, Jessyca Kuba, Juliana Medeiros, Marcos Moretto, Paulo Souza, Thais Mikami, Vivian Borali. Responsável pela BioAtivo: Marcos Moretto. Presidente: Vivian Borali. Endereço: Av. Prof. Lineu Prestes, 580 Centro de Vivência, sala 14, Cidade Universitária. Contato: (11) 6901-5926 // farmajr@usp.br. JORNALISMO JÚNIOR - Edição: Bruna Rodrigues, Bruna Romão e Gabriela Fachin. Equipe: Bruna Rodrigues, Camila Berto Tescarollo, Hugo Araújo, Juliana Pinheiro Prado, Ricardo Kuraoka Martins. Diagramação e Projeto Gráfico: equipe de Comunicação Visual da Jornalismo Júnior.

Contato: (11) 3091-4085, jjr@usp.br, @jornalismojr.

10

bioativo

institucional 3

Bio Jr. é a nova parceira da BioAtivo

Gabriela Fachin A Bio Jr., empresa júnior do Instituto de Biociências da USP (IB - USP), é a nova parceira da Farma Jr. e da Jornalismo Júnior na realização da revista BioAtivo. Fundada em 2011, ela conta com uma equipe formada exclusivamente por graduandos do IB – USP. Dentre as metas dessa empresa júnior estão a expansão das possibilidades de atuação do biólogo e o desenvolvimento dos membros, tanto no aspecto empreendedor quanto pessoal.

Um dos projetos da Bio Jr. é a organização de exposições científicas, ligadas à temática biológica, com o intuito de transformar o conhecimento acadêmico em materiais que possam ser utilizados em museus, escolas e outros espaços. Outro serviço prestado pela empresa é a sinalização de flora, que permite aos clientes

sinalizar a vegetação de uma área e vir a conhecer diversas informações sobre as plantas de um local.

A júnior também realiza o cálculo de emissões de gases do efeito estufa, através de uma “calculadora” criada e adaptada por eles, e a mitigação, que é a remediação do impacto ambiental gerado pelas emissões.

Em relação à nova parceria, a Bio Jr. ressalta vários pontos positivos: ‘’Nós acreditamos na importância da parceria entre empresas juniores para desenvolver projetos interdisciplinares. No mundo atual é importante saber trabalhar com pessoas de várias áreas, assim, confiamos que haverá um crescimento mútuo tanto das empresas, quanto dos envolvidos na ela-

4 institucional

bioativo

boração da BioAtivo. Esperamos também contribuir de forma efetiva para a divulgação de jornalismo científico de qualidade! Além disso, nosso nome será veiculado junto com o de empresas juniores que já têm grande visibilidade dentro da USP e do mercado, nos conferindo renome, já que nossa empresa ainda é bastante jovem!’’.

farmacêutica. Também acreditamos que a qualidade das matérias poderá melhorar muito com essa parceria, pois ambas terão mais tempo para encontrar e sugerir conteúdos interessantes que rendam boas matérias. Esperamos que a entrada da BioJr. na BA seja um início de uma maior divulgação da revista e que ela atinja um público maior”.

A FarmaJr., por sua vez, se mostra animada com a entrada da BioJr. no projeto: “Acreditamos que os membros da BioJr. podem dar uma visão diferente para as matérias, assim como aumentar as áreas que as mesmas passarão a abordar, saindo um pouco só da pesquisa na área

Por fim, a Jornalismo Júnior acredita que a entrada da nova parceira no projeto irá expandir o público leitor, bem como a abrangência das pautas, proporcionando aos seus membros a possibilidade única de praticar jornalismo científico.

Foto: www.usp.br

bioativo

notícias 5

Bruna Rodrigues Gabriela Fachin

Pesquisa confirma a importância dos farmacêuticos nas farmácias

Várias pesquisas anunciam casos de “cura funcional” da AIDS

O Instituto de Pós-Graduação para Farmacêuticos do ICTQ (Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial), em conjunto com o Instituto de Pesquisas Datafolha, realizou a pesquisa “Primeiro Levantamento Nacional do Perfil dos Compradores em Farmácias”. Nela, 95% dos consumidores de medicamentos no Brasil acha importante a presença do farmacêutico nas farmácias e drogarias, enquanto que 90% acredita essencial a participação desse profissional na sua saúde.

Antes mesmo de ser anunciada nesse ano a “cura funcional” de HIV de um bebê, pelo laboratório MSD, diversos outros já trabalhavam com essa linha de pesquisa, e chegaram a resultados bastante significativos. Um exemplo disso foi o Instituto Pasteur, na França. No ano passado, o Instituto constatou 14 soropositivos que estão sem sinais da doença há sete anos, mesmo parando de tomar os remédios. Contabilizando todos esses casos, os relatos de “curas funcionais” da AIDS já somam, no total, 24 pessoas.

Fonte: http://portal.crfsp.org.br/ noticias/4130-confiabilidade.html

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ equilibrioesaude/1240712-pesquisas-ja-registram-24-casos-de-cura-funcional-de-hiv.shtml

Foto: www.portaleducacao.com.br

ANVISA discute uma maior flexibilização para fitoterápicos Medicamentos com princípios ativos derivados exclusivamente de plantas medicinais, os fitoterápicos, ganharão uma nova categoria pela ANVISA, a de “produto tradicional fitoterápico”. A partir disso, haverá a liberação de produtos que comprovem a segurança pelo uso tradicional registrado em artigos e livros, desde que os fabricantes cumpram as regras de higiene exigidas. Ainda não foi elaborada nenhuma regra a respeito, mas a lista de substâncias permitidas já foi preparada pela ANVISA. Fonte: http://portal.crfsp.org.br/ noticias/4128-nova-regra-para-fitoterapicos.html

6 notícias

bioativo

Produção de medicamento contra 68% dos brasileiros opta Parkinson será totalmente nacional pelos genéricos O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) começará a fabricar o dicloridrato de pramipexol em três anos.

Para isso, a companhia farmacêutica alemã Boehringer Ingelheim repassará a tecnologia empregada na produção do medicamento, que é utilizado no tratamento da doença de Parkinson. A previsão é que em 2016 a Farmanguinhos atenderá metade da demanda nacional e que, em 2018, será capaz de abastecer todo o mercado brasileiro. O remédio é atualmente importado da Alemanha.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ equilibrioesaude/1246769-brasil-vai-fabricar-medicamento-contra-doenca-de-parkinson-em-tres-anos.shtml

Pesquisa realizada pelo Instituto de Pós-Graduação para Farmacêuticos (ICTQ), juntamente com o Instituto de Pesquisas Datafolha, aponta que 68% dos consumidores está habituado a comprar medicamentos genéricos. Isso significa que o genérico é a primeira opção de sete pessoas, a cada dez. O medicamento referência aparece como a segunda escolha.

Mais de 1600 pessoas foram entrevistadas em várias capitais brasileiras.

Fonte: http://portal.crfsp.org.br/ noticias/4141-medicamentos-genericos. html

Aspirina reduz risco de câncer de pele, aponta estudo

Fonte: http://portal.crfsp.org.br/ noticias/4142-aspirina-contra-o-melanoma.html

Foto: www.cienciahoje.uol.com.br

Um estudo realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, concluiu que o uso frequente de aspirina pode diminuir em média 21% o risco de melanoma em mulheres. A pesquisa foi baseada nos dados de cerca de 60 mil mulheres, com idades entre 50 e 79 anos. O trabalho, publicado no periódico Cancer, da Sociedade Americana de Câncer, também aponta que o efeito protetor da aspirina aumenta com o tempo de uso. Esse resultado é atribuído aos efeitos anti-inflamatórios do medicamento.

bioativo

pesquisa e inovação 7

Peptídeo encontrado na peçonha de peixe tem propriedades anti-inflamatórias Bruna Rodrigues

O início O estudo de peixes venenosos no Brasil começou no Instituto Butantan, com a pesquisadora Mônica Lopes Ferreira, em 1996. No início, a pesquisa era destinada à compreensão do envenenamento em humanos com base em estudos em camundongos. A partir daí, procurou-se compreender como ocorre o acidente, a patologia e, em conjunto, caracterizou-se cada subs-

Foto: silveiraroccha.blogspot.com

A partir de um estudo sobre o veneno de peixes peçonhentos, entre eles o Thalassophryne nattereri, conhecido como Niquim, a tese de doutorado da biomédica Evilin Komegae, do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, orientada pela pesquisadora do Instituto Butantan Carla Lima, conseguiu minimizar sinais agudos da esclerose múltipla. Com esses resultados, a pesquisa conquistou o prêmio de Honra ao Mérito durante a VII Reunião Regional da Federação de Socieda-

des de Biologia Experimental (FeSBE), realizada em junho de 2012, em Maceió.

Peptídeo da peçonha do peixe niquim tem propriedades anti-inflamatórias

8 pesquisa e inovação

bioativo

tância presente no veneno do Niquim.

Dentre elas, foram descobertas várias proteínas e peptídeos com ações muito particulares. As proteínas são responsáveis por causar a dor, a necrose e o edema. Já entre os peptídeos, foi observada a existência de um em particular, apenas encontrado nesse peixe, com uma característica anti-inflamatória. “O nosso objetivo, inicialmente, era descobrir quais os componentes existentes no veneno. Nós descobrimos alguns que causam ações nocivas e esse peptídeo”, diz Mônica Ferreira. Vários testes foram feitos, com a conclusão de que esse composto não apresenta nenhuma reação adversa ligada a peçonha.

Com essa descoberta, houve a necessidade de aplicar esse peptídeo do veneno do peixe em pesquisas relacionadas a doenças inflamatórias. “As doenças inflamatórias crônicas, que não matam, fazem parte do terceiro grupo de doenças de grande importância no Brasil, que acomete muitas pessoas e por muito tempo. Nesse rol de doenças inflamatórias temos também as autoimunes, como a esclerose múltipla”, completa Carla Lima, parceira de Mônica Ferreira na pesquisa.

A asma e a esclerose Na esclerose múltipla, o sistema imunológico agride a bainha de mielina (capa que envolve todos os axônios) que recobre os neurônios, assim comprometendo a função do sistema nervoso.

A imprevisibilidade dos surtos, ou seja, momentos em que há uma inflamação muito intensa no sistema nervoso, é a sua característica mais predominante.

Em geral, essa doença acomete pessoas jovens, entre 20 e 30 anos, e provoca dificuldades motoras e sensitivas, com sintomas como perda de sensibilidade tátil, fadiga muscular, além da degrada-

ção da capacidade cognitiva, depressão nervosa, humor instável, entre outros.

Outra doença inflamatória crônica que também possuí uma grande representação nacional é a asma. Ela foi estudada anteriormente pelo Laboratório de Imunorregulação do Instituto Butantan, a partir do mesmo peptídeo do Niquim, obtendo grandes resultados.

Segundo Carla, “Na asma, assim como na esclerose múltipla, mesmo com uma natureza patogênica diferente, vai existir um processo inflamatório crônico.

O início delas é desencadeado cada

bioativo

A posição do consumidor A inovação dessa pesquisa está justamente na descoberta de um novo peptídeo, sem nenhum semelhante já catalogado. Ainda mais interessante é o fato de ele ser encontrado apenas no veneno do Niquim, um peixe natural do Brasil, cujo habitat compreende-se em todo o litoral norte e nordeste do país. “Por isso a indústria farmacêutica consegue patenteá-lo e usá-lo como um produto”, diz Carla.

Já quando se fala na aplicação e recepção pelo mercado farmacêutico, o que é feito pelo Laboratório de Imunorregulação do LETA (Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada) do Instituto Butantan é somente o protótipo, que precisa passar pela indústria farmacêutica para virar um medicamento “Há um processo de transformação, onde o protótipo tem que ser avaliado quanto a efeitos adversos e quanto à toxicidade nas doses correspondentes ao uso em humanos. A indústria farmacêutica tem que avaliá-lo perante a melhor formulação, e para isso, ela vai mexer na molécula, colocar sais e grupamentos, transformar o protótipo em droga e, por fim, em medicamento”, afirma a pesquisadora, reiterando a parceria que deve existir entre o laboratório e a indústria.

Um dos motivos que trouxeram esse reconhecimento foi, justamente, a sua relevância. “No mundo todo, existem seis medicamentos que apenas minimizam a doença, não tratando-a. Então, quando apresentamos o conjunto de resultados desse peptídeo, em que se consegue adiar o pico da doença e o grau dos sintomas, isso se torna um grande avanço”, evidencia Carla.

Além dos Instituto Butantã, também contribuiu para os resultados da investigação uma parceria com a FAPESP e o laboratório Cristália, que detêm a patente do peptídeo.

O sucesso do estudo representa a importância do trabalho do cientista, que ao captar as minúcias de determinada substância vai adiante, buscando “intervir onde há uma crise. Essa é a nossa visão aqui, é um estudo básico com uma vocação aplicada”, complementa Carla Lima. O “ir além” torna-se um modo de trazer para fora do laboratório as consequências da pesquisa, e desse modo, auxiliar diversas pessoas.

Foto: Daniel Morbi

um com sua especificidade, mas no final o recrutamento de células para um órgão que não deveria ter essas células ali, funciona do mesmo jeito”.

pesquisa e inovação 9

A importância do trabalho O prêmio de Honra ao Mérito recebido na Reunião Regional da FeSBe em 2012 foi outra distinção para a pesquisa. Essa federação foi fundada em 1985 e congrega as Sociedades Brasileiras de Biofísica, Farmacologia e Terapêutica Experimental, Imunologia entre outras.

As pesquisadoras Mônica Lopes Ferreira, Evilin Komegae e Carla Lima

10 especial

bioativo

As intervenções no funcionamento de farmácias e drogarias

Juliana Pinheiro Prado colaborou Ricardo Kuraoka

determinações da Anvisa: a Instrução Normativa - IN nº 9, de 17 de agosto de 2009 (IN 09/09), que estabelece a relação Nos últimos cinco anos farmácias e de produtos permitidos para dispensação drogarias foram alvo de mais atenção do e comercialização em farmácias e drogapoder público com o objetivo de instituir rias; e a Resolução da Diretoria Colegiauma relação saudável e responsável entre da - RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009 consumidor e estabelecimento comercial. (RDC 44/09), que trata das boas práticas Entretanto, por vir aliada a resoluções, farmacêuticas e da prestação de serviços essa atenção levantou discussões acalo- farmacêuticos em farmácias e drogarias. radas e movimentações judiciais, enca- De acordo com a IN 09/09 os estabelecibeçadas especialmente pela Associação mentos ficam impedidos, por exemplo, de Brasileira de Redes de Farmácias e Droga- vender produtos de conveniência em suas rias (Abrafarma). Órgão normativo mais lojas e, segundo a RDC 44/09, os medicaatuante, a Agência Nacional de Vigilância mentos, mesmo os isentos de prescrição Sanitária (Anvisa) já teve questionada, in- (MIP), deverão permanecer em área de clusive, a sua competência no setor por se circulação restrita aos funcionários, não sobrepor ao legislativo, uma vez que suas sendo permitido o acesso de clientes aos resoluções não são submetidas a propos- medicamentos. tas de projeto de lei no Congresso.

Diante das determinações da Anvisa, a Os ânimos se exaltaram a partir de duas Abrafarma, ao mover uma ação na justiça,

bioativo

conseguiu, no dia 29 de outubro de 2009, uma liminar em que ficam suas associadas desobrigadas tanto da IN 09/09 quanto da RDC 44/09. O juiz Paulo Ricardo de Souza Cruz usou como argumentos para a decisão a Constituição Federal, que diz que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, bem como o argumento da dissociação da realidade dos propósitos da Anvisa. De acordo com os termos da liminar assinada pelo juiz: “dizer que ‘mesmo os produtos isentos de prescrição médica deverão ficar atrás do balcão para que o usuário faça a solicitação ao farmacêutico e receba o produto com a orientação necessária’ é desconhecer a realidade de que, nas farmácias e drogarias, quem está atrás do balcão recebendo pedidos não são farmacêuticos, mas simples balconistas, sem maior qualificação”.

especial 11

mente por possuir formação que o possibilita intervir.

Por sua vez, cabe às farmácias e drogarias darem condições para que essa atividade se realize satisfatoriamente, em lugar de empregar o farmacêutico unicamente por conta da obrigatoriedade e com vistas a evitar conflitos com a fiscalização. Ele acrescenta: “a população tem que tomar cuidado, deve sempre buscar uma farmácia em que o farmacêutico faça seu trabalho de intervenção. Mesmo quando quem atende o consumidor é um balconista, este deve ter sido orientado pelo farmacêutico e, caso existam dúvidas, o farmacêutico precisa ser consultado”.

Ano passado, por meio da Resolução RDC nº 41, de 26 de julho de 2012 (RDC 41/12), a Anvisa alterou a RDC 44/09, O farmacêutico Rodnei Vieira Veloso, permitindo que os MIP fiquem ao alcanconselheiro efetivo do Conselho Regional ce dos usuários, podendo ser obtidos de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF- por meio do autosserviço. Para Veloso, -SP), discorda desses argumentos. Ele diz apesar de não haver mais a obrigatorieque, além de a Anvisa possuir competên- dade, muitas farmácias e drogarias, por cia sanitária para tomar essas medidas, os já terem se adequado ao sistema, opMIP são “isentos de prescrição, mas não tam por manter os medicamentos atrás isentos de orientação”, o que torna essen- do balcão, especialmente porque isso cial a prestação desse serviço com vistas agrega valor ao estabelecimento, que à manutenção da saúde pública. Para ele, demonstra estar comprometido com a o famacêutico deve ser proativo, especial- saúde pública.

12 especial

bioativo

Com relação à venda de outros produtos, o farmacêutico defende que não seria necessário proibir o comércio, contanto que sejam produtos que estejam relacionados à saúde do paciente. Discorda, porém, da venda de produtos de conveniência, como chocolates e sorvetes, e da venda de outros artigos, como brinquedos. Ele diz que existe a discussão de se fazer com que farmácias e drogarias ganhem contornos próximos aos das drugstores nos Estados Unidos, nas quais é permitida a venda de diversos artigos.

Veloso, porém, diz que o funcionamento desses estabelecimentos é diferenciado.

Ele explica que lá os medicamentos não ficam ao alcance do consumidor, sendo a sua venda submetida a uma série de restrições, como a exigência de receita médica inclusive para a compra de antiinflamatórios.

Foto: Ricardo Kuraroka

Brinquedos e outros produtos incomuns são vendidos em famácias

No Brasil a denominação drugstore foi incluída em 1995 na lei de Controle Sanitário de Medicamentos e Correlatos e, encarada como sinônimo de loja de conveniência, caracteriza um estabelecimento que comercializa diversas mercadorias, com ênfase para aquelas de primeira necessidade, dentre as quais alimentos em geral, produtos de higiene e limpeza e apetrechos domésticos.

Dessa forma, subverte-se uma terminologia oficializada ao confundi-la com um significado estrangeiro diverso. De acordo com a legislação brasileira, apenas farmácias, drogarias e postos de medicamentos ou unidades volantes podem comercializar medicamentos.

A posição do consumidor A equipe da BioAtivo conversou com alguns consumidores para saber como eles lidam com as mudanças. No que se refere à liberação da comercialização de artigos diversos em farmácias, houve quem se mostrasse em desacordo com a determinação: “Já vi farmácia vendendo pão. Eu me sentia em um supermercado!”, comenta uma consumidora. Para os clientes, farmácia é um estabelecimento diferente do supermercado.

Uma moradora do bairro Butantã em São Paulo resume bem seu ponto de vista: “Quando eu era criança, farmácia só vendia remédio.” Quanto aos MIP, disse, ainda, que não se incomoda em retirá-los no

bioativo balcão. Para ela isso é positivo, pois dificulta os exageros dos hipocondríacos.

Os farmacêuticos que trabalham diretamente com o consumidor comentam que já há dois anos os clientes reclamam das crescentes dificuldades na compra de medicamentos. A maior reclamação vem da obrigatoriedade de retenção da receita para a obtenção de antibióticos. A necessidade do procedimento surgiu com a Resolução RDC nº 44 de 26 de outubro de 2010. (RDC 44/10), que trata do controle de medicamentos à base de substâncias classificadas como antimicrobianos.

Uma opinião unânime entre os farmacêuticos entrevistados é a concordância com o veto da presidenta Dilma Rousseff, do dia 8 de maio, ao artigo 8º do Projeto de Conversão número 7 de 2012, derivado da Medida Provisória 549/2011 (MP 549-B) do Senado, que permitiria, se aprovado, a venda dos MIP em supermercados ou lojas de conveniência. Para os profissionais da área, isso constituiria uma irresponsabilidade, uma vez que por vezes o consumidor não sabe ministrar corretamente os medicamentos, utilizando remédios diferentes que possuem o mesmo princípio ativo, devendo, sempre que possível, serem orientados quanto ao uso das medicações.

Esse argumento, mais uma vez, está de acordo com a manutenção dos MIP atrás do balcão, o que também é amplamente

especial 13 defendida pelos farmacêuticos, apesar da sua não obrigatoriedade. Até o término dessa reportagem, a BioAtivo não conseguiu manter contato satisfatório com o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no estado de São Paulo (Sincofarma-SP) para que ele comentasse a partir de outro ponto de vista a evolução das últimas resoluções da Anvisa e o veto da presidência.