BioAtivo
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2 editorial Caros leitores, As empresas juniores da USP estão passando por um processo de regulamentação. No Institucional deste mês, você conhecerá algumas das atuais exigências para o funcionamento das EJs e quais as maiores dificuldades que a Farma Jr., a Bio Jr. e a Jornalismo Júnior estão enfrentando com as novas regras. Nesta edição, trazemos as seções “Pesquisa&Inovação” e “Mercado”. Na primeira, o leitor conhecerá uma formulação vacinal trivalente capaz de combater os agentes do HIV, do HPV e do HSV, desenvolvida pelo biomédico Vinícius Canato Santana. Você também entenderá a diferença entre a vacina profilática e a vacina de DNA. Já na segunda, saberá mais sobre o ramo de cosméticos, em plena expansão no Brasil e promissor mercado de trabalho para o estudante de Farmácia. A partir da próxima edição, a BioAtivo será publicada bimestralmente. Assim, a próxima edição sairá em agosto. Com um tempo maior para apuração e para a redação das reportagens, esperamos trazer uma revista com cada vez mais conteúdo e qualidade. Boa leitura! Gabriela Fachin Diretora de Jornalismo Científico Jornalismo Júnior
bioativo Institucional Bio Jr. é a nova parceira da BioAtivo
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Notícias Primeira usina de reciclagem de fraldas é inaugurada
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Teste desenvolvido no Brasil diagnostica a leptospirose em 24 horas
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Plantio de cana na Amazônia é autorizado pelo Senado
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Adesivo microscópico é nova tecnologia para aplicação de vacinas
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Sabão em pó que absorve a poluição do ar é criado
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Projeto de lei que trata do piso salarial dos 6 farmacêuticos é analisado na Câmara PESQUISA pESQUISA E INOVAÇÃO Vacina contra AIDS, câncer de colo de útero e herpes é testada por pesquisadores da USP 7 MERCADO Ramo de cosméticos cresce no Brasil Especial
BIO JÚNIOR - Diretoria: Edmar Oliveira, Gabriela Christine Santos, Larissa Assis, Mathias Jorquera. Suplentes: Bruna Bombarda e Tiago Esteves Carvalhaes. Presidente e Responsável pela BioAtivo: Priscilla Shiota Fedichina. Contato: biojr.usp@gmail. com. FARMA JÚNIOR - Diretoria: Jéssica Rocha, Jessyca Kuba, Juliana Medeiros, Marcos Moretto, Paulo Souza, Thais Mikami, Vivian Borali. Responsável pela BioAtivo: Marcos Moretto. Presidente: Vivian Borali. Endereço: Av. Prof. Lineu Prestes, 580 Centro de Vivência, sala 14, Cidade Universitária. Contato: (11) 6901-5926 // farmajr@usp.br. JORNALISMO JÚNIOR - Edição: Bruna Rodrigues, Bruna Romão e Gabriela Fachin. Equipe: Arthur Aleixo, Camila Berto Tescarollo, Hugo Araújo, Mauro Barbosa Júnior. Diagramação e Projeto Gráfico: equipe de Comunicação Visual da Jornalismo Júnior. Contato: (11) 3091-4085, jjr@usp. br, @jornalismojr.
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Regulamentação das EJs promove mudanças entre as juniores da USP
Por Bruna Rodrigues O Conselho de Cultura e Extensão Universitária (CoCEx), por meio de uma resolução de 2012, delimitou novas normas para o funcionamento e para a criação das Empresas Juniores (EJs) da USP. Essas regras entraram em vigor esse ano, e trouxeram algumas mudanças para essas empresas. Dentre os principais pontos estão o envio de relatórios, a cada 12 meses, com a prestação de contas das atividades financeiras realizadas pelas juniores para o CoCEx ou para algum órgão equivalente da Unidade. Nesse relatório, deverá haver as atividades programadas e desenvolvidas, o montante arrecadado no ano, o resultado financeiro, e ainda prever eventuais investimentos na empresa. Em
relação à USP, as EJs deverão, a partir de agora, incluir uma cláusula, em todos os contratos, de que a Universidade de São Paulo não é parte integrante do acordo, e que não se responsabiliza por qualquer problema que possa acontecer; e caso a empresa júnior crie alguma patente, parte dos ganhos econômicos que serão ganhos com isso deverá ser destinada à USP. Outra norma de grande importância é a obrigatoriedade de haver um docente que atuará como Supervisor Acadêmico, e ele deve possuir um credenciamento da Comissão Especial de Regimento de Trabalhos (CERT). Esse professor trabalhará no campo da consultoria como também será responsável pelos projetos
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desenvolvidos pela empresa. Devido a isso, a Farma Jr. está com uma iniciativa em progresso que consiste em organizar uma lista com diversos nomes de docentes da FCF com o objetivo de encontrarem professores que possam ajudá-los em seus projetos. As principais medidas tomadas pela Bio Jr. estão justamente na vinculação com o Núcleo USP Jr. e a confecção dos documentos necessários para regularização. Para ela, “a Regulamentação das Empresas Juniores da USP é uma boa forma de padronização e controle das empresas por parte da universidade, porém também restringe a atuação das mesmas, pois, além de diversos outros pontos bu-
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rocráticos, estabelece relações de retorno financeiro tanto com a universidade quanto com os orientadores”. Por fim, a Jornalismo Júnior trabalha com a prestação de contas para os órgãos superiores da USP e com a consolidação da cultura de relatórios. Para ela, um dos fatores de real importância nesse processo é que a “pró-reitoria conheça a realidade das empresas juniores e, assim, possa atuar de forma mais condizente às condições de trabalho destas. Isso também é importante para fortalecer a relação entre USP e empresas. O processo de regulamentação também aumentou o convívio e relações entre as EJs da USP”.
bioativo Por Bruna Rodrigues e Gabriela Fachin
Primeira usina de reciclagem de fraldas é inaugurada A empresa canadense Knowaste abriu, no Reino Unido, uma central que recicla fraldas descartáveis, bem como outros produtos de higiene absorventes. O objetivo dessa usina é esterilizar o plástico e as fibras que compõem os materiais e então transformá-los em novos produtos, como madeira plástica e telhas. Com essa iniciativa, a Knowaste pretende reduzir a emissão de 22 mil toneladas de gás carbônico por ano. Daqui a quatro anos, há a previsão da construção de mais cinco centrais como essa em todo o território britânico.
Foto: http://provisoriosp.blogspot.com.br
Fonte: http://planetasustentavel.abril. com.br/noticia/desenvolvimento/ru-abre-1a-usina-reciclagem-fraldas-descartaveis-639774.shtml
notícias 5 Teste desenvolvido no Brasil diagnostica a leptospirose em 24 horas Exame criado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro, reduz o tempo do diagnóstico da leptospirose para um dia, diferentemente de outros testes, que levam de cinco a seis dias para dar o resultado. Denominado PCR-Imunocaptura, realiza a análise por meio da identificação da leptospira, grupo causador da doença. Essa pesquisa foi anunciada na revista científica Diagnostic Microbiology and Infections Disease, no ano passado. Os resultados serão apresentados na Alemanha, durante o Congresso de Microbiologia, em julho deste ano. Fonte: http://portal.crfsp.org.br/ noticias/4355-diagnostico.html
Plantio de cana na Amazônia é autorizado pelo Senado A Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou em caráter terminativo o projeto que autoriza o plantio de cana-de-açúcar em áreas desmatadas e nos biomas cerrado e campos gerais da Amazônia. Segundo o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), autor da proposta, o objetivo é aumentar a produção de biocombustíveis no Brasil, principalmente de etanol. O projeto, criticado por ambientalistas, estabelece diversos critérios para o cultivo da cana, porém não traz regras de fiscalização nem prevê punições para quem desrespeitar as normas. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ ambiente/2013/05/1278504-proposta-de-plantio-de-cana-na-amazonia-e-aprovada-em-comissao-do-senado.shtml
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Adesivo microscópico é nova Sabão em pó que absorve a poluição tecnologia para aplicação de vacinas do ar é criado Desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Queensland, Austrália, a nova técnica consiste em um adesivo microscópico repleto de pequenos fragmentos. Ao ser colado à pele, as frações do adesivo entram em contato com as células da epiderme, permitindo que a vacina penetre no corpo. As vantagens em relação ao procedimento convencional são várias: o adesivo demanda uma quantidade de vacina 100 vezes menor do que a aplicação com a seringa, o que pode reduzir o preço em até dez vezes, e ele resiste a uma temperatura de até 23ºC.
Desenvolvido pelo químico Tony Ryan, da Universidade de Sheffield, e pela estilista Helen Storey, professora no London College of Fashion, o sabão em pó, batizado de Catclo, faz com que, em contato com a luz, os tecidos absorvam e neutralizem as moléculas de óxido de nitrogênio, um dos principais gases poluentes na atmosfera. Ainda não comercializada, a tecnologia desenvolvida não possui patente, para que possa ser popularizada, e já despertou o interesse de uma fabricante britânica de artigos de limpeza, que já pensa em incluir a fórmula em seus produtos.
Fonte: http://portal.crfsp.org.br/ noticias/4369-vacinacao.html
Fonte: http://ciclovivo.com.br/noticia/ ingleses-criam-sabao-em-po-que-absorve-a-poluicao-do-ar
O Projeto de Lei 5359/09, que tem por assunto o piso salarial nacional para os farmacêuticos, se encontra em processo de análise na Câmara dos Deputados. Outros dois projetos, o PL 3539/12 e o PL 4156/12, que tratam do mesmo assunto, foram apensados a ele. No momento, o projeto com os apensados está na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), aguardando votação do deputado Paulo César (PSD-RJ), relator. Ele apresentou um substitutivo, que estabelece o piso salarial de R$ 4.650,00, elimina a fixação da jornada de trabalho e as prescrições sobre o exercício da profissão. Fonte: http://portal.crfsp.org.br/ noticias/4356-piso-salarial.html
Foto: http://www.sempretops.com
Projeto de lei que trata do piso salarial dos farmacêuticos é analisado na Câmara
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Vacina contra AIDS, câncer de colo de útero e herpes já é testada por pesquisadores da USP Por Mauro Barbosa Júnior e Arthur Aleixo
A importância da vacina É inegável o valor de vacinas como essa para o progresso da ciência médica, principalmente por representarem avanços no combate às Doenças Sexualmente Transmissíveis. Dados epidemiológicos revelam que, anualmente, ocorrem entre 10 a 12 milhões
Foto: Jornalismo Júnior
À medida que a ciência avança, doenças como a AIDS, o câncer de colo de útero e a herpes genital passam a ser desmistificadas, tornando-se menos assustadoras. Para tornar tais enfermidades ainda mais controláveis, o biomédico Vinícius Canato Santana desenvolveu uma formulação vacinal trivalente, ou seja, eficaz no combate aos agentes dessas três moléstias. Esse trabalho compôs sua tese de mestrado defendida em 2011 no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas (LDV) do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências
Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), sob orientação de Luis Carlos de Souza Ferreira, doutor livre-docente da USP.
Mestrado defendido por Vinícius Canato Santana em 2011, formulação vacinal trivalente congrega prevenção e ação terapêutica
8 pesquisa e inovação de novos casos de DSTs somente no Brasil e cerca de 340 milhões em todo o mundo. Especificamente, as DSTs causadas por vírus são as mais difundidas globalmente, causam o maior números de mortes e geram os maiores gastos ao sistema de saúde dos diferentes países. Além disso, os três patógenos virais que a vacina visa a combater possuem relevância epidemiológica acentuada devido ao seu alto grau de mortalidade dos indivíduos infectados. No último grande levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizado em 2009, estimou-se que há 33,3 milhões de pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) e contabilizou-se cerca de 1,8 milhão de mortes em decorrência da AIDS, além de 2,9 milhões de novos casos. Com o vírus do papiloma humano tipo 16 (HPV-16), responsável pelo câncer cervical (ou câncer de colo de útero), a situação também é grave. Segundo estudos conduzidos pelo médico alemão Harald zur Hauzen, constatam-se anualmente cerca de 200 mil óbitos de pacientes diagnosticadas com esse tipo de câncer e cerca de 500 mil novos casos. Estudos referentes à infecção pelo herpes simples vírus (HSV), causador da herpes bucal e genital, indicam que há relativa dificuldade de se afirmar ao certo o índice de presença do vírus entre as pessoas. Contudo, estima-se que as doenças associadas ao HSV afetem entre 60% e 95% da população adulta.
O mecanismo de ação Voltada para o controle profilático e terapêutico de tumores induzidos pelo vírus HPV-16 e infecções pelos vírus HIV e HSV, a vacina ainda se encontra em fase de testes, mas tudo indica que, em breve, será lançada no mercado. Um dos pontos inovadores sobre a vacina é seu mecanis-
bioativo mo de ação: ela não se destina apenas à prevenção contra tais doenças, mas também à ação terapêutica de seus sintomas. O termo “vacina terapêutica” refere-se às vacinas gênicas (as de DNA), que podem estimular resposta imunológica eficiente, mediada por linfócitos T citotóxicos (CTLs) contra antígenos intracitoplasmáticos expressos na superfície das células. A vacina desenvolvida por Vinícius utiliza, como ferramenta de indução à resposta imunológica, a fusão da proteína específica gD do HSV a antígenos virais.
A vacina de DNA O que diferencia a vacina de DNA da vacina profilática é que esta é utilizada na prevenção da doença através da imunização do indivíduo, preparando seu sistema imunológico para combater futuras infecções, enquanto aquela é utilizada como resposta imunológica, visando à cura de uma infecção já estabelecida no indivíduo. Isso é possível porque a vacina terapêutica faz uso da resposta imunológica baseada em células, incitando a ação de linfócitos T e a liberação de substâncias citotóxicas que atacariam as células infectadas. Para que isso ocorra, o DNA do antígeno a se combater é inserido na célula do paciente e, a partir daí, ele começa a sintetizar proteínas específicas do agente etiológico ou até mesmo de uma célula cancerígena. Nesse contexto, pode ser utilizado um vetor bicistrônico, ferramenta que possibilita a expressão de duas proteínas de interesse a partir de uma única fita de RNA. Isso permite a reunião de partes do DNA viral que sintetizam as proteínas a se combater e, também, a utilização de promotoras para identificar as partes a serem decodificadas pelo mecanismo celular.
bioativo Quando a estratégia de produção de proteínas do antígeno é escolhida, prepara-se para alocar o DNA dentro da célula. Feito isso, a fita de DNA comporta-se da mesma forma que o nosso material genético, ficando suspensa no citoplasma sem se integrar ao DNA do hospedeiro, de modo a expressar as proteínas do antígeno que só seriam encontradas em células infectadas.
pesquisa e inovação 9 Além das proteínas específicas do antígeno, as células em que foram inseridos os agentes da vacina também podem vir a apresentar partes das proteínas virais no exterior da membrana plasmática e que, assim, podem ser identificadas por agentes do sistema de defesa. Dessa forma, essas proteínas são identificadas pelos linfócitos, facilitando o processo de reconhecimento das células alvo e a maior eficácia no ataque às células em questão.
Segurança e Eficácia
Infográfico: Camila Berto | Jornalismo Júnior
Para uma vacina ser efetivada, ela precisa passar por testes clínicos que comprovem sua segurança. Para que seja utilizada, contudo, ela precisa ser eficaz. Estes são os dois pontos opostos que os vacinologistas tentam unir: a segurança e a imunogenicidade. Vacinas que apresentam alto caráter imunogênico são, geralmente, pouco seguras, pois lançam mão de substâncias possivelmente danosas à saúde, como partículas virais inativadas. Vistas por esse mesmo ângulo, as vacinas de DNA podem ser vantajosas. Como são inseridas partes isoladas do DNA que codificam proteínas específicas, existem poucas chances de que ocorra a formação de um vírus dentro do organismo, diminuindo bruscamente o risco de infecção.
Desafios As vacinas de DNA são promissoras, mas ainda apresentam aspectos a serem melhorados e estudados mais detalhadamente, como o sistema de entrega do antígeno ao sistema imunológico, a ativação de processos inflamatórios - visando a uma ação do sistema imunológico inato entre as células infectadas - e o aprimoramento da resposta imunológica apresentada por essas vacinas.
10 pesquisa e inovação Entrevista Vinícius Canato Santana BioAtivo – Qual inovação essa pesquisa traz ao conceito clássico de vacina? A concepção clássica de vacina, arraigada na consciência de todos, é que uma vacina seja capaz apenas de prevenir um processo infeccioso, gerando uma resposta de anticorpos para bloquear a ação de um patógeno no organismo. Com o desenvolvimento das pesquisas em vacina, nós aprendemos que é possível gerar uma resposta imunológica capaz de curar uma infecção pré-estabelecida. Essa resposta é baseada em células. A vacinação terapêutica contra uma infecção viral ou contra um processo tumoral, como o câncer cervical desencadeado pelo HPV16, remete aos Linfócitos T do tipo CD8, células citotóxicas capazes de reconhecer e destruir células infectadas. Por meio da vacina, é gerada, por imunização, grande quantidade desses linfócitos, que detectarão especificamente o tumor e destruirão o processo tumoral.
“Ao entrar no nosso organismo, a vacina se comportará como o nosso próprio DNA” Dessa forma, o poder terapêutico da vacina será restrito ao câncer cervical, induzido pelo HPV-16? Não há essa restrição. Se for possível
bioativo gerar linfócitos citotóxicos específicos em grande quantidade, eles irão combater as lesões causadas pelo vírus da herpes, o HSV, bem como as consequências da infecção pelo HIV. Os três vírus são capazes de infectar o organismo de forma crônica. A partir dessa infecção crônica, é criada uma “janela” através da qual será possível atingir as células infectadas por meio da indução de respostas imunológicas de linfócitos T citotóxicos, que atacarão tanto os processos tumorais induzidos pelo HPV-16 quanto as células infectadas pelo HSV e HIV.
“Embora sejam três os alvos de nossa vacina, eles estão fusionados” O que é o vetor bicistrônico, presente no mecanismo de ação da vacina? Nosso material genético é transcrito em uma molécula de RNA. Por meio da ação dos ribossomos, esse RNA é traduzido em uma proteína. Naturalmente, cada fita de RNA origina uma proteína. O vetor bicistrônico auxilia o mecanismo da vacina de DNA, que é uma fita dupla de DNA na forma circular [o plasmídio] que, ao entrar no nosso organismo, se comportará da mesma forma como o nosso próprio DNA, originando um RNA que traduzirá uma proteína. O plasmídio ficará na forma epissomal [livre no citoplasma da célula], não integrado ao nosso DNA. O vetor bicistrônico, a partir de uma fita única de RNA, gera duas proteínas separadas,
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possibilitando que mais de uma proteína de interesse seja expressa. Embora sejam três os alvos de nossa vacina, eles estão fusionados: o antígeno do HIV está fusionado com o da herpes, e o do HPV também está fusionado com o da herpes. Portanto, através da expressão de duas moléculas, tem-se três proteínas virais sendo produzidas.
“Dentro de alguns anos, esperamos dar início a alguns testes de segurança, os ensaios clínicos de fase 1.” O que são os ensaios clínicos? Em que fase deles encontra-se a presente formulação vacinal? Os ensaios clínicos são os testes aos quais qualquer formulação vacinal deve submeter-se antes de se transformar em uma vacina utilizada pelas pessoas. Eles subdividem-se em ensaios pré-clínicos, que envolvem pesquisas com animais em laboratório, e estudos de fase clínica. Estes, por sua vez, dividem-se em três etapas, a saber: os estudos de fase 1 envolvem as análises de segurança da formulação vacinal; os de fase 2 destinamse a atestar a eficiência dessa formulação em pacientes saudáveis, medindo a resposta imunológica contra os antígenos ministrados na vacina; já os ensaios clínicos de fase 2-b e 3 visam a testar, por vias de fato, a formulação vacinal, que será ministrada a pessoas pertencentes a grupos de risco, expostas a altas taxas
Vacina tríplice de Vinícius pretende revolucionar combate às DST’s de infecção, e o resultado será analisado a longo prazo. Quando se trata de uma formulação vacinal terapêutica, é possível pular algumas partes. Pode-se iniciar os ensaios clínicos já na fase 2-b, tentando avaliar tanto a segurança quanto a eficácia. A formulação vacinal que nós desenvolvemos no ICB-USP acabou de concluir os ensaios pré-clínicos, em modelo animal. Dentro de alguns anos, esperamos dar início a alguns testes de segurança, os ensaios clínicos de fase 1.
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Ramo de cosméticos cresce no Brasil O mercado brasileiro já é o terceiro do mundo e continua em crescimento Por Camila Berto Tescarollo e Hugo Araújo
Foto: Ambro
O Brasil é o terceiro mercado consumidor de produtos de beleza do mundo, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). Se mantido o ritmo, o país ultrapassará o segundo colocado, Japão, perdendo apenas para os Estados Unidos. Os cosméticos, em parte responsáveis por esse desempenho, possuem uma definição flexível nas farmácias. O profissional farmacêutico que quiser trabalhar neste ramo tem pela frente o desafio de se aprimorar continuamente e buscar desenvolver novos produtos. Maria Valéria Robles Velasco, professora de Cosmetologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, explica que cosmético é o produto que é aplicado topicamente, na pele. “Nada que você vai ingerir ou injetar é cosmético”, afirma. O que acontece hoje é que muitos produtos têm efeito
O mercado de cosméticos está em ascensão no Brasil
cosmético, embora não possam ser considerados como tal. Exemplos disso são alguns suplementos alimentares, que, entre outros efeitos, prometem uma melhora na aparência da pele. A professora explica que esse efeito garantido “não é errado, porque tudo o que se come passa por um processo de biotransformação” chegando, por exemplo, até a pele. No entanto, apesar de prometer uma melhoria estética, esse tipo de produto não pode ser rigorosamente definido como cosmético. “Ele tem função de cosmético, mas não se pode esquecer que ele é ingerido”, explica.
A situação do Brasil O Brasil representa mais de 10% de todo o consumo mundial no setor dos produtos de beleza. Uma pesquisa do IBOPE estima que, em 2012, o brasileiro gastou R$ 36,24 bilhões com produtos de beleza. A classe C foi a maior consumidora. Uma conjunção de fatores explica esse crescimento do consumo. A professora Maria Valéria afirma que “a expectativa de vida do brasileiro aumentou. Com isso, temos pessoas com idade mais alta e que estão exigindo mais”. Ela ainda destaca a presença de produtos em uma faixa variável de preço, “para ricos e pobres”, contemplando, portanto, todos os estratos sociais. Deste modo, os cosméticos estão a preços mais acessíveis a grupos como a classe C. Além disso, a ascensão da mulher no mercado de trabalho contribuiu para que seu poder de compra aumentasse. Outro fator importante é o culto à ima-
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gem, bastante vivo no Brasil. A presença de ideais de beleza, que criam parâmetros rígidos a serem seguidos, incentivam a constante busca por uma melhora da aparência e dos cuidados, fazendo com que haja o aquecimento desse mercado. A professora Maria Aparecida Nicoletti, responsável pela Farmácia Universitária da USP, concorda com a professora Maria Valéria nesse aspecto. Nicoletti reforça que “a busca pela beleza transcende gerações”. Dessa forma, a diversificação dos produtos, bem como de sua faixa de preços, possibilitou que todos pudessem ter acesso aos cosméticos.
O mercado
Foto: Kittikun Atsawintarangkul
Tanto Maria Valéria quanto Maria Aparecida afirmam que esta é uma área bastante próspera para o estudante de Farmácia. “O campo é extremamente promissor e em expansão contínua”, lembra Nicoletti. Os dados da ABIHPEC confirmam a perspectiva das professoras. No Brasil, hoje existem mais de 2200 empresas que atuam no
Cosméticos são produtos aplicados na pele
Foto: Marcos Santos. USP Imagens
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“A busca pela beleza transcende gerações”, diz a professora Nicoletti ramo de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. Dessas, a maioria se encontra justamente no sudeste do país. O faturamento dessas empresas representa cerca de 10% do faturamento mundial no ramo cosmético, ilustrando um mercado bastante rentável e em expansão. Em 2001, a renda estava na casa dos R$ 8,5 bilhões. Dez anos depois, essa receita subiu vertiginosamente para R$ 29,4 bilhões. Nesse panorama, o profissional de farmácia encontra boa aceitação. Para Nicoletti, isso se dá graças à formação do farmacêutico contar tanto com um viés teórico como técnico. Justamente por causa do ótimo momento para o farmacêutico no setor, o mercado costuma ser bastante competitivo. As novidades são frequentes, o que demanda uma constante atualização de quem está no segmento. Esse dinamismo, portanto, exige certa dedicação do profissional. Maria Valéria finaliza: “É preciso estudar sempre, saber o que já foi e o que está sendo estudado”.