16 | NEGÓCIOS Aplicativos para chamar táxis conquistam consumidor brasileiro
22 | INOVAÇÃO Com senha dinâmica, display card promete transações mais seguras
28 | PELO MUNDO Em Londres, pagamento sem contato já faz parte do dia a dia
# 03 08 | ECONOMIA O impacto da Copa do Mundo da FIFA para a indústria
Evolução constante
Dados mostram expansão da indústria e crescente maturidade do portador de cartões PÁG. 37
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# 03 uma publicação customizada da BIZU para a associação brasileira das empresas de cartões de crédito e serviços
Conselho editorial Bruno Rossi, Carolina Juzwiak, Elaine Santos, Ricardo de Barros Vieira, Sabrina Sciama e Comitê de Comunicação Abecs
Direção de criação Ana Starling e Roberto Guimarães
Diretor editorial Roberto Guimarães
Projeto gráfico Ana Starling e Teo Menna
Edição Roberto Guimarães
Direção de arte Ana Starling
Design Juliana Vomero
Colaboradores jornalistas Ahmed Hamdan, Carolina Freitas, Carolina Vaisman, Gabriel Ferreira, Kamila Hage, Maitê Casacchi e Rodrigo Durão Coelho articulista Denise Hills fotógrafos André Luppi, Daniela Toviansky e Fernando Cavalcanti ilustradoras Ana Starling, Brunna Mancuso e Juliana Vomero revisora Vivi Rowe
CTP & Impressão Gráfica Ipsis BIZU [estúdio e editora] Rua Carlos Comenale, 263, 3º andar Bela Vista 01332-030 São Paulo SP (11) 3284.6989 www.bizu.bz © todos os direitos reservados Para entrar em contato com a redação, envie um e-mail para panorama@bizu.bz
ILUSTRAÇÃO DE CAPA Ana Starling
#EDITORIAL
Números referenciais Conhecer o passado nos torna mais preparados para lidar com o presente e, assim, enfrentar os desafios do futuro. No campo profissional, uma das ferramentas mais adequadas para tomar decisões embasadas é dispor de dados consistentes, como os que trazemos em Monitor Abecs, seção que reúne números consolidados da indústria brasileira de meios eletrônicos de pagamento. Fruto do trabalho desenvolvido pela Associação em parceria com seus associados, esses números se tornaram referência para quem trabalha no mercado de cartões. Ao apresentá-los graficamente, e de forma didática, Panorama Abecs disponibiliza essa importante fonte de informação também para quem não é da área e deseja conhecer melhor um setor que, em 2014, deverá atingir 1 trilhão de reais em valor transacionado. Outro destaque desta edição é uma matéria sobre o impacto econômico da Copa do Mundo da FIFA para o país, em especial para as ações que envolvem a indústria de cartões. Sobre o nosso dia a dia, impulsionado pela tecnologia, falaremos dos aplicativos para táxi no Brasil e como Londres está na vanguarda do pagamento contactless, o cartão sem contato. Além de fazer cada vez mais parte da vida de todos nós, a tecnologia influencia os próprios hábitos de leitura. Não é por outro motivo que Panorama Abecs possui uma versão para iPad, a qual também contribui para ampliar o acesso ao conteúdo que publicamos quatro vezes por ano. Boa leitura.
Marcelo Noronha Diretor Presidente da Abecs
uma publicação customizada da BIZU para a associação brasileira das empresas de cartões de crédito e serviços
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#SUMÁRIO
Disponibilizar informações confiáveis sobre a indústria brasileira de cartões é uma das razões de existir desta revista. Na seção Monitor Abecs, apresentamos números consolidados do setor, a partir de dados fornecidos pelo Banco Central e pelas empresas associadas à Abecs. Esses números apontam que o mercado brasileiro de cartões deve atingir 1 trilhão de reais em valor transacionado em 2014.
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ABECS EM AÇÃO
Novo portal na internet é uma das iniciativas recentes da Associação ECONOMIA
A Copa do Mundo da FIFA movimenta a economia com grandes investimentos HISTÓRIA
Como foi a primeira Copa do Mundo disputada no Brasil, em 1950 NEGÓCIOS
Aplicativos para chamar táxis facilitam também na hora de pagar INOVAÇÃ0
Com senha dinâmica, display card torna mais seguras as transações na internet BENEFÍCIOS
Programa Vale-Cultura entra em operação, com a participação da indústria de cartões
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MONITOR ABECS
Números consolidados da indústria brasileira de cartões em 2013, apresentados em gráficos e tabelas e analisados em perspectiva
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PELO MUNDO
Londres está na vanguarda do cartão contactless EMPREENDEDORISMO
Aceitar cartões contribui para sucesso de locadora de bicicletas mineira FINANÇAS PESSOAIS
Universitário paulista usa o cartão de crédito para controlar as despesas OPINIÃO
A importância de saber com que se gasta o próprio dinheiro MEMÓRIAS DO CARTÃO
E pensar que a lista de fraudadores era impressa e distribuída todos os dias...
#Abecs em ação Algumas das principais iniciativas promovidas pela Associação
Novo portal traz mais informações Novos estudos sobre a indústria, fórum de discussão, biblioteca jurídica e o comparador de tarifas são algumas das novidades do novo site da Abecs, que entrou no ar em janeiro O site da Abecs mudou – para melhor. Além de um novo layout, que deixou a navegação ainda mais agradável e intuitiva, o site transformou-se num portal com mais serviços e informações, tanto para associados quanto para consumidores e estabelecimentos. Para os associados, foram disponibilizadas diversas novas informações sobre a indústria, como estudos especiais do mercado de cartões, clipping diário de notícias e a biblioteca jurídica. Também novo, o Fórum Abecs é um espaço para compartilhar conteúdos relacionados aos meios eletrônicos de pagamento. Ele foi desenvolvido para mediar um diálogo entre os membros inscritos, com o objetivo de divulgar iniciativas e promover a troca de ideias. Para manter o foco na discussão de mercado, todos os comentários são moderados pela Abecs. Cerca de 400 membros já estão cadastrados no site e, portanto, aptos a participar desse debate, que é aberto a todos os associados. Para se inscrever, basta utilizar uma conta de e-mail de empresa associada à Abecs (login do Associado). Com novas funcionalidades e serviços úteis aos portadores de cartão, a área de Consumidores é um dos destaques do portal, integrando o conteúdo de dois sites antes independentes: www.tarifasdocartao.org.br (que permite comparar as tarifas do cartão praticadas por até três instituições) e www.cartaoceap.com.br (central de atendimento aos Procons, que disponibiliza informações de contato dos emissores). Dentro do menu, ainda é possível encontrar uma página com as 6
principais iniciativas das associadas da Abecs (para ter a sua iniciativa publicada, basta enviar um e-mail para comunicado@abecs.org.br – o conteúdo será avaliado antes da publicação). Outro ponto forte são as informações relacionadas ao uso consciente do cartão e à educação financeira, que incluem cartilha sobre como usar melhor o cartão, dicas práticas, videoaulas e um amigável simulador de despesas. Orientações sobre segurança e como prevenir fraudes estão entre os principais conteúdos direcionados aos estabelecimentos.
#Abecs em ação
Campanha é sucesso de público Lançada em setembro de 2013, a campanha educativa da Abecs sobre o uso consciente do cartão de crédito ganhou popularidade na internet e, em seis meses, somou cerca de 3,5 milhões de visualizações no YouTube. Os oito vídeos, com média de três minutos cada, têm como protagonista o Professor Pachecão, que – com a experiência adquirida nas 70 mil aulas que ministrou em cursinhos – fala de forma descontraída e didática sobre temas como a melhor data para o uso do cartão, tarifas, encargos e planejamento financeiro. Após constatar que os mais interessados nas dicas são jovens entre 18 e 35 anos, a Associação criou o canal “abecsdicas” no YouTube, que já conta com mais de 1.200 inscritos. As videoaulas também podem ser vistas no portal da Abecs. Dando continuidade à ação, no início de março foram instalados banners em aeroportos, pontos de ônibus e estações de metrô para promover as videoaulas que já estão disponíveis na internet. No segundo semestre, devem ser lançados dois novos vídeos, com temas que serão definidos após uma pesquisa que identificará as maiores dificuldades do público jovem ao lidar com o cartão de crédito.
Abecs promove encontros com o Banco Central
Na manhã de 27 de fevereiro, cerca de 200 profissionais da indústria de cartões, de 59 empresas associadas à Abecs, se reuniram com representantes do Banco Central no Hotel Unique, em São Paulo, para esclarecer dúvidas relacionadas à nova regulamentação do setor de pagamentos no país. O segundo evento da série Audiência Abecs com o Banco Central do Brasil contou com a participação de toda a diretoria da Associação e foi mediado por Marcelo
Noronha, Diretor Presidente da Abecs. Dezenas de questões, formuladas previamente pelos associados, foram respondidas por executivos do órgão regulador, que vieram a São Paulo especialmente para a ocasião. O diretor de política monetária do BC, Aldo Luiz Mendes, participou do evento por videoconferência, diretamente de Brasília, ao lado de colegas da instituição. Além das Audiências Abecs com o Banco Central, a Associação editou uma série de três guias sobre a indústria de pagamentos chamada Sob o Olhar do Banco Central. As publicações, que têm o objetivo de orientar a indústria para os desafios e as oportunidades decorrentes da nova regulamentação do setor, serão disponibilizadas aos Associados, em versão digital, no portal da Abecs. 7
#ECONOMIA O impacto da Copa do Mundo da FIFA 2014 para o país
Brincadeira de gente grande Tudo é superlativo nos números que envolvem a Copa do Mundo da FIFA: maior evento esportivo do mundo exigiu grandes investimentos, gerou um impacto positivo de mais de 120 bilhões de reais na economia brasileira e trará ao país mais de meio milhão de torcedores estrangeiros POR
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Rodrigo Durão Coelho
ILUSTRAÇÃO
Ana Starling
Praticado em todos os rincões do planeta, o futebol é um entretenimento globalizado que desconhece fronteiras. Para se ter uma ideia do alcance do esporte, basta dizer que há mais países associados à FIFA (Federação Internacional de Futebol) do que ao mais importante organismo multilateral do planeta, a ONU (Organização das Nações Unidas) – 209 contra 193. São bilhões de telespectadores amantes da bola que fazem da Copa do Mundo da FIFA o maior evento esportivo do mundo, também em termos econômicos. Um estudo da consultoria BDO calcula que o Mundial de 2014 renderá à FIFA uma receita de 5 bilhões de dólares (cerca de 12 bilhões de reais), 36% a mais do que na África do Sul, em 2010, e 110% superior ao total arrecadado na Alemanha, em 2006. O fato de o volume de dinheiro movimentado pelo evento ter mais do que dobrado em apenas oito anos evidencia que o negócio do futebol não para de crescer – que o diga nosso maior craque: Neymar recebe salário anual de 10,8 milhões de euros (35,6 milhões de reais) no Barcelona. “A Copa do Mundo é a principal atividade da FIFA, e gera mais de 90% da nossa receita”, afirma o diretor de marketing da FIFA no Brasil, Jay Neuhaus, ressaltando que a entidade, sediada em Zurique, na Suíça, não tem fins lucrativos. “Nosso estatuto determina que precisamos investir todo o lucro no desenvolvimento do futebol e em eventos relacionados ao esporte, o que inclui o financiamento de competições, inclusive femininas, campanhas sociais, confederações continentais e federações dos países associados, muitas das quais não poderiam sobreviver sem esse apoio.” A maior parte da receita gerada pela FIFA com a Copa do Mundo está relacionada a direitos de transmissão e cotas de patrocínio. Para um espetáculo dessa magnitude acontecer, é preciso investir muito dinheiro, especialmente em estádios, infraestrutura e obras de mobilidade urbana. No Brasil, os gastos com a organização da Copa do Mundo da FIFA de 2014 são estimados em 28,1 bilhões de reais, sendo 80% de investimento público. Se esses valores, por vezes contestados, estiverem corretos, significa que o Estado brasileiro destinará 22,5 bilhões de reais para o evento, nas 12 cidades-sede. Ninguém gasta tanto dinheiro assim sem esperar retorno à altura. Apenas em turismo, a Embratur calcula que, em pouco mais de 30 dias, cerca de 3 milhões de turistas gastarão 25,2 bilhões de reais em produtos e, sobretudo, serviços. Considerando o 9
efeito indireto em toda a cadeia produtiva, o impacto do evento na economia do país será bem maior. “O restaurante vai demandar mais verduras do feirante, o vendedor ambulante vai demandar mais gelo, o dono de hotel vai contratar mais bebidas do distribuidor”, disse o presidente da Embratur, Flávio Dino, ao anunciar a projeção. Segundo um estudo da EY e da FGV, para cada real aplicado em investimentos diretos, o Mundial deve fazer circular outros 4 reais na economia do país – algo como 112 bilhões de reais, entre 2010 e 2014. Números tão expressivos beneficiam empresas de todos os portes, dos mais variados segmentos – segundo o Sebrae, apenas os pequenos negócios já faturaram mais de 280 milhões de reais com o evento. E esse movimento se reflete no mercado de trabalho. Ao lado de números grandiosos, como os 25.500 empregos diretos gerados pelas obras dos seis estádios utilizados na Copa das Confederações, há muitas oportunidades em negócios ligados ao turismo. Para qualificar esse pessoal, o governo lançou o Pronatec Copa na Empresa, parceria entre os ministérios da Educação e do Turismo que vem capacitando muita gente, gratuitamente, em 50 ramos ligados ao turismo, incluindo o ensino de idiomas. Quem se beneficiou de uma das mais de 150 mil vagas abertas pelo programa foi Jurandir Marques, garçom em Salvador. Desde fins de 2012, ele vem tendo três aulas semanais de inglês e fala com orgu-
lho do salto profissional. “Estudei só até o terceiro ano do ginásio e tinha medo de passar vergonha com os turistas na Copa. Mas, em pouco tempo, já aprendi a explicar o cardápio e, nesse meio tempo, tive chance de ter boas conversas com gente da Alemanha, China e Inglaterra.” Assim como Jurandir, muitos se preparam para a chegada de turistas estrangeiros. Apenas com ingressos na mão, a FIFA calcula que serão mais de meio milhão. “Temos 2,9 milhões de ingressos para os 64 jogos, e esperamos de 500 mil a 600 mil torcedores estrangeiros. Quase todos os países do mundo tentaram comprar entradas para as partidas. Recebemos cerca de 10 milhões de pedidos de ingressos”, afirma Neuhaus. Os ingressos foram sorteados, o que deixou muita gente de mãos vazias. Não foi o caso de Flavio Souza, carioca que mora na Espanha. “Tive sorte, dos quatro jogos que tentei, consegui três. Infelizmente, o que não deu certo foi o da final.” Indústria de cartões A expectativa da Embratur é que os turistas estrangeiros gastem 6,85 bilhões de reais durante o torneio, volume similar ao registrado em todo o primeiro semestre de 2013, período que incluiu a Copa das Confederações, disputada em junho. Ciente de que o país não estava adequadamente equipado para atender esses visitantes, o Banco Central tomou algumas medidas importantes, como a criação do equivalen-
{Quanto vale o show?} Confira os investimentos previstos e a estimativa de turistas nas 12 cidades-sede escaladas para abrigar as 64 partidas do torneio
MOBILIDADE URBANA (MILHÕES DE REAIS)*
ENTORNO DO ESTÁDIO (MILHÕES DE REAIS)*
Belo Horizonte
1.405,2
695
Brasília
44,2
1.403,3
Cuiabá
1.623,6
Curitiba
466,2
326,7
Fortaleza
575,2
518,6
95,8
Manaus Natal
400 15,9
Recife
858,3
Rio de Janeiro
1.582,2
Salvador São Paulo TOTAL
570,1
669,5 472,3
Porto Alegre
10
ESTÁDIO (MILHÕES DE REAIS)*
7.027,2
330 532,6
284,4
1.050
19,6
689,4
548,5
820
964,2
8.005,2
te ao “correspondente cambial”, permitindo que empresas como farmácias ou outras prestadoras de serviço troquem moedas estrangeiras – até agora, apenas bancos, agências de turismo e operadoras de câmbio tinham esse direito. Outra iniciativa foi autorizar o funcionamento de máquinas conhecidas como cambiadoras: similares aos caixas eletrônicos, elas trocam moeda estrangeira por reais. Já o app Câmbio Legal, bilíngue e disponível para iOS e Android, ajuda o viajante internacional a localizar onde pode negociar moeda estrangeira ou sacar reais. Boa parte dos gastos dos estrangeiros será realizada com cartões de crédito, o que – somado aos torcedores brasileiros munidos de cartões de débito e de crédito – impactará positivamente a indústria de meios eletrônicos de pagamento. Um estudo do Credit Suisse estima que, durante o torneio, as transações com cartões atingirão 5,9 bilhões de reais. Mas
Um estudo do Credit Suisse estima que, durante o torneio, as transações com cartões atingirão 5,9 bilhões de reais
AEROPORTOS (MILHÕES DE REAIS)*
PORTOS (MILHÕES DE REAIS)*
o efeito do evento não se limita aos 30 dias de competição. “A Copa deve gerar um crescimento adicional de cerca de 1,5 ponto percentual em um período de quatro anos [2011 a 2014]”, afirma o presidente da Rede, Milton Maluhy. “Durante o evento, imaginamos um aumento de fluxo de 3 milhões de turistas nacionais e estrangeiros com potencial de gastos de 2 a 3 bilhões de dólares. O principal impacto vai ser no setor de serviços e bens de consumo não duráveis.” Com a previsão de aumento no volume de transações, chegam também desafios para as empresas de cartões, que vêm se preparando para prestar um serviço de qualidade a consumidores e lojistas. “Aumentamos nossa capacidade tecnológica para dar conta de mais de 12 mil transações por segundo, o que significa mais de oito vezes o maior volume do mercado brasileiro”, afirma Dilson Ribeiro, vicepresidente comercial e de produtos da Cielo. Para atender turistas estrangeiros, a empresa planeja disponibilizar, a partir de abril, em mais de 200 mil terminais, um serviço de conversão cambial que permitirá ao visitante fazer pagamentos no cartão de crédito na moeda de seu país de origem. “São mais de 100 moedas aceitas pela plataforma. Os lojistas que terão acesso à tecnologia foram selecionados por já terem recebido pagamentos de turistas estrangeiros e são, em geral, dos segmentos de hotéis, companhias aéreas, locadoras de veículos, restaurantes e locais em atrações turísticas.
TURISMO (MILHÕES DE REAIS)*
ESTIMATIVA DE PRESENÇA DE TURISTAS **
430,1
8,3
627.328 (196.768 estrangeiros e 430.560 brasileiros, exceto locais)
551,4
4,4
608.984 (206.588 estrangeiros e 402.396 brasileiros, exceto locais)
101,2
4,1
313.593 (70.860 estrangeiros e 242.733 brasileiros, exceto locais)
157,3
18,2
508.334 (101.390 estrangeiros e 406.944 brasileiros, exceto locais)
171,1
202,6
22,1
717.892 (153.822 estrangeiros e 564.070 brasileiros, exceto locais)
445,1
89,4
8
278.713 (88.473 estrangeiros e 190.240 brasileiros, exceto locais)
572,6
72,5
19,3
493.888 (84.979 estrangeiros e 408.909 brasileiros, exceto locais)
12,8
542.492 (129.020 estrangeiros e 413.472 brasileiros, exceto locais)
15,7
405.852 (81.722 estrangeiros e 324.130 brasileiros, exceto locais)
87,8 28,1 443,7
19
1.253.758 (412.787 estrangeiros e 840.971 brasileiros, exceto locais)
112,9
40,7
23,5
708.316 (148.235 estrangeiros e 560.081 brasileiros, exceto locais)
3.107,6
154
25,2
1.441.572 (258.242 estrangeiros e 1.183.330 brasileiros, exceto locais)
6.180,8
587,3
180,6
7.900.725 (1.932.888 estrangeiros e 5.967.837 brasileiros, exceto locais)***
*DADOS: MATRIZ DE RESPONSABILIDADES DA COPA **DADOS: EMBRATUR ***ALGUNS TURISTAS VISITARÃO DUAS OU MAIS CIDADES
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Independentemente da opção escolhida, o lojista continua recebendo o valor de suas vendas em reais”, completa Ribeiro. Já o Santander direcionou esforços para ampliar o credenciamento de estabelecimentos. “Nas cidades que sediarão jogos, focamos, sobretudo, segmentos como hotelaria, bares e restaurantes, além do comércio no entorno dos estádios”, afirma Cassius Schymura, diretor de cartões e adquirência do Santander. “Com a proximidade da Copa, prevemos a realização de ações de incentivo e promoções que serão comunicadas à nossa base de clientes”, acrescenta ele. A Visa – patrocinadora da Copa – e a Rede, sua parceira para a adquirência nas áreas oficiais da FIFA, que incluem comida, bebida e merchandising, tiveram que se desdobrar para equacionar a logística da operação. “Cada estádio trabalha com uma infraestrutura diferente, com suas especificidades. Existe um padrão mínimo estabelecido, mas tivemos que fazer diversas adaptações para atender todos os pontos com a qualidade e a segurança por que sempre prezamos”, explica Maluhy. “Vamos atuar com uma estrutura robusta que contará com 233 técnicos e 13.600 terminais, sendo 75% deles ativos.” “Os 12 estádios receberão mais de 3 mil pontos de pagamento e 72 caixas eletrônicos, além de 26 quiosques de nossa parceria com o Itaú, também patrocinador do evento”, afirma Ricardo Fort, head de patrocínios globais da Visa. “Embora existam diferenças de maturidade entre os mercados, a experiência do consumidor no estádio em Cuiabá ou em São Paulo será muito parecida com a que ocorre em qualquer outro lugar do mundo, onde isso é mais desenvolvido, em termos de esporte”, explica ele. “Depois da Copa, a gente gostaria que parte disso ficasse.” Segundo Fort, a Copa também é uma oportunidade para uma mudança do nível de tecnologia oferecido aos clientes. “Isso pode ajudar no desenvolvimento do contactless, por exemplo, ideal para pagar pequenas despesas rapidamente, como no intervalo das partidas”, acrescenta ele, para quem o benefício de patrocinar a Copa se estende aos clientes da bandeira, como bancos e varejistas. “Eles podem desenvolver campanhas de marketing nas propriedades adquiridas pela Visa”, diz Fort, ressaltando que a ação da empresa inclui educar o consumidor a usar melhor o cartão, mostrando que é uma forma mais segura de pagar. Legado e críticas Desde 2007, quando foi anunciado que o Brasil sediaria o Mundial, muito se falou no legado do evento, especialmente em termos de infraestrutura de trans12
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CARLOS DELLAROCCA/DIVULGAÇÃO
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porte. Estamos diante de uma oportunidade única para mudar o país rapidamente, com investimentos bilionários que provavelmente não seriam realizados caso o torneio não fosse disputado aqui. Deve-se ressaltar que os investimentos nas 12 cidades-sede não se limitam às obras nos estádios. Um exemplo disso é a transformação pela qual passa o bairro paulistano de Itaquera. Por abrigar a arena que receberá cinco jogos do torneio, inclusive a partida inicial, a região vem recebendo investimentos superiores a meio bilhão de reais. O entorno do Itaquerão ganhará equipamentos culturais importantes, como o Museu da Criança (filial do museu La Villette, de Paris), um centro cultural e unidades do Senac e do Sesc. Os planos para urbanizar o bairro também incluem a construção de um centro empresarial “capaz de gerar 50 mil empregos nos próximos cinco anos”, segundo a prefeitura paulistana, que dará isenção fiscal de 20 anos aos empresários que se instalarem por ali. Por outro lado, a possibilidade de que sejam decretados feriados ou pontos facultativos nos dias de jogos, aliada à atenção que os brasileiros dedicarão ao torneio, impactará negativamente a economia do país e, por extensão, a indústria de meios eletrônicos de pagamento – tanto pela postergação de gastos quanto pela diminuição dos dias úteis no período da
FOTOS/DIVULGAÇÃO
1. Cassius Shimura, diretor de cartões e adquirência do Santander 2. Ricardo Fort, head de patrocínios globais da Visa 3. Milton Maluhy, presidente da Rede 4. Dilson Ribeiro, vice-presidente comercial e de produtos da Cielo
Copa. Deve-se ressaltar que, enquanto alguns setores da economia terão suas atividades aceleradas em função do evento, em outros segmentos o nível de atividade será bastante reduzido. Há no governo uma preocupação com a segurança do evento. Não foi divulgado oficialmente quantos policiais e soldados estarão envolvidos na segurança do Mundial, mas estimativas apontam para mais de 100 mil homens. Na Copa das Confederações, 54 mil agentes atuaram nas seis sedes. A FIFA, por sua vez, afirma estar tranquila com a situação. “Temos total confiança nas medidas de segurança implementadas pelas autoridades brasileiras”, diz Neuhaus. “O conceito de segurança funcionou bem durante a Copa das Confederações.” A torcida dos brasileiros será para que o país se saia bem dentro de campo, se possível com a conquista da taça pela sexta vez. E que essa vitória aconteça, sobretudo, longe dos gramados, para que os benefícios econômicos de sediar o torneio não se encerrem na tarde de 13 de julho, no estádio do Maracanã, data da final. Afinal, os empresários que investiram “para o Mundial”, em especial no setor de turismo, colocaram a mão no bolso pensando nos possíveis ganhos futuros gerados pela inédita exposição do Brasil na mídia internacional. 13
#HISTÓRIA Lembranças da primeira Copa do Mundo da FIFA disputada no Brasil
Em 1950, a Copa não teve final (feliz)
Marcado pela derrota do Brasil para o Uruguai, sob o olhar incrédulo de 200 mil pessoas, o torneio de 1950 foi o único que não teve uma partida final POR
Rodrigo Durão Coelho
Naquele 29 de junho, o adolescente Salvador tinha 16 anos e pouco dinheiro no bolso. O futuro advogado iniciava sua vida profissional como ajudante em uma fábrica de sapatos em Belo Horizonte, mas, mesmo com o salário baixo, não queria perder a chance de testemunhar o grande evento da cidade: o famoso English Team, um dos melhores do mundo, faria sua estreia em Copas no recém-inaugurado estádio Independência, bem perto de sua casa. “Fui a pé com amigos e irmãos. O estádio ainda estava sendo construído, havia partes não terminadas. Antes, nós costumávamos jogar peladas naquela área. Mas, naquele dia, lembro que era um clima de festa, tinha uma multidão por lá”, recorda ele, em depoimento a Panorama Abecs. O contraste entre a realidade da longínqua 14
tarde de 1950 e a atual fica mais explícito quando Salvador conta como conseguiu o ingresso. “Era sacrificado por causa do preço, especialmente para mim, moleque ainda, com renda limitada, mas nenhum dos meus amigos comprou com antecedência. Pegamos fila antes do jogo e pronto.” Salvador diz que, naquele dia, a expectativa era “ver o mito” do time inglês. Mas o que ele testemunhou foi a sua desconstrução: os amadores atletas dos Estados Unidos venceram o jogo por 1 a 0, resultado frequentemente apontado como a maior zebra da história dos Mundiais. O mineiro ainda voltaria ao Independência três dias mais tarde para presenciar o massacre do Uruguai contra a Bolívia: 8 a 0. Mas nem todo mundo se importava tanto com a Copa como ele. “Não me lembro. Na verdade, eu não tinha o menor interesse”, afirma um dos mais importantes narradores da história da TV brasileira, o jornalista Silvio Luiz – que imortalizou o bordão “olho no lance!” – então um adolescente paulistano de 16 anos.
Muita coisa mudou nesses 64 anos. Mudou o torneio, que chegava à casa das pessoas pelo rádio e se transformou num gigante do entretenimento televisivo global, o futebol brasileiro (que se tornou pentacampeão) e também o país, que, então com pouco mais de 70 milhões de habitantes (hoje somos 200 milhões), deixou de ser agrário para, aos poucos, se tornar menos pobre e desigual. Nessas seis décadas, entre outras conquistas não esportivas, o analfabetismo entre maiores de 15 anos caiu de 50,5% para 9,6%, e a expectativa de vida saltou de 46 para 73 anos. É evidente que o Brasil mudou para melhor, embora ainda tenha uma longa jornada pela frente para se tornar um país rico e mais justo. Mas, para além da frieza dos dados oficiais, há algo de mais abstrato separando as duas eras, como se, naquela época do pós-guerra, o mundo girasse mais devagar, com mais suavidade. Um episódio relatado em depoimento à TV pelo ex-craque Didi (autor do primeiro gol da história do Maracanã) ilustra bem como
o ritmo do país era outro naquele início de década. Então atuando no exterior, o jogador Heleno de Freitas, craque da seleção de 1944 a 1948, estava guiando tranquilo para matar a saudade do Rio de Janeiro quando encontrou por acaso outro amigo jogador, Carlyle, em uma das ruas mais movimentadas da cidade, em frente ao Palácio do Catete. Os dois não tiveram dúvidas: pararam seus carros, atravancando o trânsito por meia hora – e os policiais presentes aproveitaram para pedir autógrafos. “É bom não perder de vista que a Copa no Brasil foi o último evento no país antes da chegada da TV, que aconteceu poucos meses depois, mudando a cara da nação, a forma como os brasileiros lidavam com o mundo e se percebiam”, afirma o jornalista Geneton Moraes Neto, autor de um dos mais completos documentários sobre a primeira Copa no Brasil, Dossiê 50: Comício a favor dos Náufragos, que trata em especial da partida final, na qual o Uruguai venceu o Brasil, conquistou a taça e deixou uma nação traumatizada.
Foi a derrota por 2 a 1 naquele 16 de julho que fez nascer o termo “complexo de vira-lata”, cunhado por Nelson Rodrigues. A certeza da vitória (na verdade, bastava um empate) veio das duas vitórias anteriores, goleadas contra Suécia e Espanha. Mas, dias antes do jogo, começaram as trapalhadas. A concentração brasileira mudou de uma tranquila casa no Juá para São Januário, onde o movimento – principalmente político, em ano de eleição presidencial – era intenso. “Ninguém conseguia dormir depois das cinco da manhã, era um inferno”, declarou tempos depois o lateral Bigode. No dia do jogo, os jornais traziam pôsteres do “time campeão” e faixas comemorativas do título estavam por toda parte. Só não combinaram com os uruguaios. Perder aquele jogo (que entrou para a história como Maracanaço) foi um pecado sem perdão para os derrotados brasileiros. “No Brasil, a pena máxima é 20 anos, mas eu nunca fui absolvido”, costumava dizer o goleiro Barbosa. Em seu emocionante documentário, Geneton entrevistou os 11
jogadores que protagonizaram a tragédia, revelando os dramas dos ex-futuros heróis nunca anistiados. Porque não é fácil ser vice-campeão do mundo. Pelo menos para jogadores brasileiros. Basta lembrar que a derrota para a França, em 1998, quando Ronaldo “Fenômeno” quase não entrou em campo, causou revolta, gerou muitas teorias conspiratórias e terminou em uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as circunstâncias do resultado – 3 a 0 para os bleus, com dois gols de Zinédine Zidane. E quem viveu as duas “tragédias” diz que a frustração de 1998 não foi nada perto da comoção que varreu o país em 1950. Embora tenha decidido o campeonato, a dramática partida contra o Uruguai não foi uma final, como nas demais Copas. Isso porque a competição teve um número ímpar de participantes. O desânimo em relação ao torneio, o primeiro após a Segunda Guerra, começou já nas eliminatórias: apenas 34 países se inscreveram para buscar uma das 16 vagas. Mas só 13 equipes de fato concordaram em fazer a longa e cara viagem até a América do Sul. Um dos desistentes foi a Índia, em protesto contra a proibição da FIFA de seus jogadores atuarem descalços. Outra foi a França, reclamando que teria que cruzar milhares de quilômetros para disputar partidas em território nacional, enquanto a seleção brasileira jogaria apenas no Maracanã e no Pacaembu. Com os desfalques inesperados, o regulamento mudou, e o fatídico jogo entre Brasil e Uruguai foi válido pela última rodada do quadrangular final, disputado também por Suécia e Espanha. Ou seja: podemos dizer que não perdemos a final. Pena que isso não torne menos triste a experiência de quem viveu aquele doloroso momento. 15
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#NEGÓCIOS
Aplicativos para chamar táxis aumentam aceitação de cartões no segmento
Com o destino na palma da mão Aplicativos para chamar táxis conquistam clientes nas principais cidades brasileiras e ajudam a popularizar os meios eletrônicos de pagamento nas corridas POR
Gabriel Ferreira
ILUSTRAÇÃO
Brunna Mancuso
Todos os dias, quando sai para trabalhar, a primeira coisa que o taxista Cristiano de Souza, de 36 anos, faz é se conectar a quatro aplicativos que instalou em seu smartphone. Não demora muito e normalmente algum deles já começa a apitar e a mostrar um mapa. Em alguns instantes, Souza está no ponto indicado na tela de seu celular, pronto para atender o primeiro cliente do dia. A rotina se repete diversas vezes até o momento em que ele decide se desconectar e voltar para casa. Souza é um dos mais de 16 mil motoristas de táxi de São Paulo que têm usado os smartphones para conseguir mais clientes. “Desde que instalei o primeiro aplicativo, há cerca de nove meses, meu carro praticamente não fica sem passageiro”, afirma. A história de Souza é um claro reflexo da proporção que os aplicativos de táxi vêm tomando nas grandes cidades brasileiras. Essa onda começou a se consolidar há pouco mais de um ano – e vem crescendo tão rápido que não é difícil imaginar o dia em que um toque na tela do celular substituirá totalmente o velho hábito de esticar o braço na direção de um táxi na rua. Normalmente, quem usa os aplicativos para acionar os serviços de Souza e dos demais taxistas cadastrados nesses sistemas são jovens interessados em fugir de problemas como o trânsito caótico e o enrijecimento da Lei Seca, que pune severamente quem bebe e dirige. São pessoas como o corretor de títulos públicos Bruno Mota Gouvêa, de 28 anos, que pega táxis pelo menos três vezes por semana. “Tenho usado esses aplicativos desde que eles começaram a se popularizar e acho ótimo, porque é muito mais prático e seguro do que escolher um taxista qualquer na rua.” De olho em gente que pensa como Gouvêa, diversas startups disputam clientes em cidades de médio e grande porte espalhadas por todo o país, 17
como Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, João Pessoa, Joinville, Niterói, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Uberlândia. Quase todas essas empresas são brasileiras – startups estrangeiras que investem no país, como a americana Safertaxi e a grega Taxibeat, nunca tiveram a mesma força das marcas nacionais. As pioneiras surgiram há cerca de dois anos, mas foi no ano passado que o modelo de negócios começou a se popularizar e a atrair mais competidores – atualmente, os principais players brasileiros do mercado são 99 Taxis, Easy Taxi, GoJames, Resolve Aí, Táxi Aqui, Taxijá, Taximov, Vá de Táxi e Way Táxi. Por ora, parece haver espaço para todas essas empresas e até para a chegada de novos competidores. Embora o número de taxistas cadastrados nesses sistemas já supere a metade dos 33.900 táxis oficialmente em circulação na cidade de São Paulo, os chamados eletrônicos ainda representam pouco menos de 10% dos 450 mil passageiros que são transportados por dia na cidade. E as proporções não são muito diferentes das de outras cidades em que a tendência vem ganhando espaço, como Rio de Janeiro e Curitiba. “Esse modelo de negócios ainda não explorou 5% da capacidade que tem para crescer no Brasil”, afirma Tallis Gomes, CEO da carioca Easy Taxi, principal empresa do segmento na América Latina que, após receber aportes de grandes fundos de investimento, como o Rocket Internet e o Milicom, hoje oferece o serviço em mais de 90 cidades, de 26 países. No Brasil, a expectativa é que, com o avanço dos smartphones e dos pacotes de dados oferecidos pelas operadoras de telefonia celular, o número de clientes ativos suba rapidamente. 18
Facilidade para pagar A agilidade de encontrar um táxi com poucos toques na tela do smartphone também tem levado os clientes a buscarem ainda mais facilidades nas corridas. “Depois que instalei o aplicativo, notei que muita gente pedia para eu aceitar cartão”, diz Souza. O taxista resolveu alugar uma maquininha há pouco mais de cinco meses. Hoje, os pagamentos em cartão representam uma média de 30% do faturamento total de Souza. “Desde que fiz isso, não perco mais corrida.” Segundo as desenvolvedoras de aplicativos, a percepção do motorista faz todo sentido. “Os taxistas que aceitam cartão recebem muito mais chamados, em alguns períodos chega a ser o dobro, porque muitos usuários utilizam esse filtro no aplicativo”, afirma Paulo Veras, presidente da 99Taxis, líder de mercado na capital paulista. Apesar dessa possibilidade de
Muitos taxistas utilizam o próprio celular para “passar” o cartão do cliente, uma opção mais econômica do que o POS tradicional
{ O segredo é o GPS } Por meio dos sistemas de localização dos celulares, apps facilitam contato entre passageiros e taxistas Boa parte do funcionamento dos aplicativos de táxi está baseada no acesso ao GPS dos celulares, tanto do passageiro quanto do taxista. Quando um usuário abre o aplicativo, o sistema de localização encontra a posição exata do passageiro e já mostra se há táxis nas redondezas. O passageiro deve, então, informar como pretende pagar a corrida – normalmente é possível escolher entre dinheiro, cartão de crédito e débito diretamente ao taxista e, em alguns casos, pagar com cartão por meio do próprio aplicativo. Assim que o cliente confirma o interesse na corrida, os motoristas disponíveis mais próximos são acionados, com uma mensagem na tela informando sobre o local de partida da corrida e a forma de pagamento desejada pelo cliente. Uma vez que algum taxista aceita o chamado – o que costuma levar menos de 30 segundos –, o passageiro recebe informações de contato do motorista, a posição atualizada do carro e uma estimativa de tempo para chegada. Na maioria dos casos, os dois podem se comunicar por mensagens no próprio aplicativo, para combinar um ponto de encontro, por exemplo.
conseguir mais corridas quando se aceita o cartão, muitos taxistas ainda resistem à ideia. Em São Paulo, cerca de 40% dos carros, ou nada menos que 14 mil táxis, já recebem meios eletrônicos de pagamento. No Rio de Janeiro, por outro lado, apenas 10% dos taxistas estão credenciados para aceitar cartões de crédito e débito. Em todo o país, taxistas têm aderido a sistemas que permitem transformar o smartphone em POS. Quem usa o celular para “passar” o cartão do cliente comemora a iniciativa – o valor mensal gasto para permitir que o smartphone faça a leitura do cartão é bem menor do que o aluguel dos equipamentos tradicionais. As startups que criaram os aplicativos de táxi também vêm investindo nas próprias soluções para convencer clientes e taxistas a usarem mais os cartões. A Easy Taxi criou recentemente a possibilidade de o cliente fazer o paga-
mento utilizando o próprio aplicativo em que pediu o táxi. Basta a pessoa ter um cartão cadastrado no sistema da Easy Taxi e autorizar a cobrança no final da corrida. “Temos feito um forte trabalho para apresentar aos taxistas a importância de aceitar os cartões como meio de pagamento”, afirma o CEO da empresa. Outro sistema que permite ao taxista aceitar cartões mesmo sem ser credenciado é o adotado pela Taximov, que permite a determinação prévia do valor. “O sistema calcula o custo aproximado daquela corrida e, se o cliente aprovar, já realiza o pagamento previamente”, explica Natan Ribeiro, diretor executivo da Taximov. Também há quem esteja investindo em equipamentos mais modernos para conquistar os taxistas. É o caso da desenvolvedora de sistemas e dispositivos de POS Verifone, que, em meados de 2013, trouxe para o Brasil uma solução
que integra o sistema de pagamento a uma pequena TV, que passa informações e anúncios para os passageiros ao longo da viagem. “Fica tudo integrado ao taxímetro, então, no final da corrida, o valor aparece na tela e no POS”, afirma Renato Lage, diretor comercial da empresa no Brasil. O sistema é o mesmo utilizado em táxis de Nova York. No Brasil, a novidade foi adotada em um projeto piloto realizado em parceria com uma frota de Porto Alegre e, em breve, deve chegar a outras grandes cidades. “Queremos aproveitar a Copa para ajudar a popularizar a solução”, diz o executivo. A julgar pelo grande número de alternativas, as transações envolvendo cartões de crédito e débito devem ganhar mais espaço no curto prazo. “Hoje, um quarto de nossos chamados é pago com cartão. Acreditamos que até o ano que vem essa proporção alcançará os 50%”, diz Gomes, da Easy Taxi. 19
{ Vale mesmo a pena? } As maiores vantagens da adoção dos aplicativos de táxi
PARA O PASSAGEIRO Mais praticidade Por requerer só alguns toques no smartphone, os aplicativos exigem menos esforço e tempo do que buscar um táxi na rua ou ligar para uma cooperativa Forma de pagamento ideal Os sistemas costumam disponibilizar a opção de o cliente escolher a forma de pagamento mais conveniente Registro das corridas A maioria dos aplicativos envia para o e-mail do cliente o nome e o telefone dos taxistas, o que pode ajudar, por exemplo, na recuperação de objetos perdidos
Com cada vez mais gente usando o celular para chamar táxis, algumas empresas já começam a ver uma aproximação com esses aplicativos como uma forma de se divulgar ou até mesmo atrair novos clientes. Nos Estados Unidos, recentemente um time de futebol americano escolheu um aplicativo de táxi como o app oficial de seus fãs, fazendo promoções e eventos em datas especiais, como em dias de grandes jogos. No Brasil, esse tipo de parceria ainda é relativamente tímido, mas já começa a dar seus primeiros sinais. A seguradora Porto Seguro, por exemplo, se aliou ao aplicativo Vá de Táxi para oferecer benefício aos seus clientes, tanto aos taxistas (que precisam ter um produto da companhia para poder se 20
PARA O TAXISTA Movimento tende a crescer A maioria dos taxistas que se cadastraram nos sistemas afirma que as chances de ficar parado é muito menor quando se adota um desses aplicativos Custo conforme produção Aplicativos são remunerados quando o taxista faz uma corrida; cooperativas cobram adesão e mensalidade Mais segurança Como os clientes têm que se cadastrar, o taxista tem acesso a informações como nome e telefone, reduzindo o risco de assaltos
cadastrar no sistema) quanto aos passageiros (que pagam mais barato e juntam mais pontos se usarem o cartão private label da marca). Ainda mais ousada foi a fórmula encontrada pelo Santander, que, desde novembro de 2013, banca metade do valor da corrida dos clientes que utilizarem, em determinados horários, um cartão do banco para pagar os taxistas cadastrados no aplicativo Easy Táxi. “Vimos que, por uma série de fatores, o táxi tinha entrado no radar das pessoas e achamos que fazer algo ligado a isso seria uma ótima forma de nos mantermos conectados aos nossos clientes”, afirma Paula Nader, diretora de marketing do Santander. Segundo ela, o banco acredita que o maior uso dos cartões para o pagamento
das corridas pode ter outros impactos, como uma popularização do meio de pagamento para outras despesas de menor valor. A parceria entre o Santander e a Easy Taxi está prevista para durar até o fim deste ano. “Conforme a força dos resultados que forem obtidos, podemos analisar se vale a pena estender esse prazo”, diz Paula. O uso criativo das possibilidades tecnológicas oferecidas pelos aplicativos de táxi não se limita a ações de marketing. Atentas a bandeiras da moda, como redução do trânsito e dos impactos ambientais, algumas startups começam a fundir funcionalidades diferentes, como a busca de táxis e o compartilhamento de veículos. É o caso do Meia Bandeirada, que procura unir pessoas que trabalhem numa
Algumas empresas já começam a ver uma aproximação com esses aplicativos como uma forma de se divulgar ou até mesmo atrair clientes
mesma empresa e estejam indo para a mesma região. Segundo os criadores do aplicativo, além dos ganhos para a cidade, a ideia traz a vantagem de fazer com que as companhias reduzam seus gastos com deslocamento de funcionários. Também já há iniciativas voltadas para os clientes finais, como o site Meleva, que incentiva pessoas a dividirem táxis para ir a aeroportos, por exemplo. Nos dois casos, a vantagem para o taxista é que, ao invés de uma corrida mais curta, ele acaba fazendo uma mais longa, já que tem que passar por mais de um destino. Com tantas novidades surgindo, é bem provável que Souza e outros motoristas de táxi se tornem cada vez mais fãs desses aplicativos. Os clientes agradecem.
{ Um caminho cheio de polêmicas } O sucesso dos apps de táxi tem gerado reações negativas de antigos players desse mercado – as cooperativas Como toda novidade revolucionária, os aplicativos de táxi também causam controvérsia. No Brasil, as cooperativas de radiotáxi vêm criticando a forma de atuação dessas startups e pedindo que os governos municipais criem normas para os aplicativos, tornando a concorrência entre eles e essas cooperativas mais justa. Hoje, enquanto cooperativas de grandes cidades cobram valores de inscrição de até 30 mil reais e uma mensalidade média na casa dos 600 reais, os aplicativos cobram uma taxa máxima de 2 reais por corrida realizada pelo taxista, o que tem levado muitos motoristas a trocarem o sistema tradicional de radiotáxi pelas opções mais modernas. “A grande sacada desse modelo de negócio foi tornar um custo que era fixo para o motorista em algo variável, de acordo com a produção dele”, avalia Natan Ribeiro, da Taximov. Atualmente, a cidade de São Paulo conta com 5.360 taxistas operando no sistema de radiotáxi, três vezes menos do que os motoristas cadastrados nos aplicativos. Em Curitiba, que tem uma frota de 3 mil táxis, a disputa entre aplicativos e cooperativas chegou a um nível mais complicado. Por lá, taxistas que usam os aplicativos para conseguir clientes foram multados no início deste ano. A justificativa da Urbs (Urbanização de Curitiba), órgão da prefeitura responsável por regulamentar o trabalho dos taxistas, é que as empresas de aplicativos deveriam realizar o mesmo tipo de cadastro feito pelas cooperativas para poder operar na cidade. “Quando estávamos ajudando a resolver o problema de táxis da cidade, o poder público tomou a medida equivocada de intervir”, afirma Tallis Gomes, da Easy Taxi. “Em casos como esse, a pressão popular sempre ajuda a dobrar o poder público.” O governo da cidade e as empresas do setor têm discutido uma solução para o impasse. Nos Estados Unidos, cidades como Washington e Cambridge, passaram por situações parecidas. Em Nova York, os apps chegaram a ficar proibidos por determinação judicial durante boa parte do ano passado. Após alguns ajustes de conduta, que incluíram cadastramento das startups junto à prefeitura, os passageiros da cidade voltaram a poder encontrar táxis utilizando seus telefones. Apesar da disputa com as startups, há uma expectativa no mercado de que as grandes cooperativas se adaptem à tendência e criem também os próprios sistemas de chamada de táxi pelo celular. Como costuma acontecer com novas tecnologias, tudo indica que os aplicativos de táxi só serão uma ameaça para aqueles que não conseguirem se adaptar aos novos tempos. 21
#INOVAÇÃO
Última palavra em segurança, display card já é realidade em alguns países
Tela de segurança Ele gera duas senhas, sem necessidade de token ou qualquer outro dispositivo. Equipado com um visor e botões que acionam uma senha temporária, display card é promessa de mais segurança nas transações, em especial na internet POR
Maitê Casacchi
Houve a época em que a assinatura do titular do cartão bastava para “autenticar” uma compra. Mas o rio de dinheiro que se esvaía em fraudes nesses tempos motivou a implantação de tarjas magnéticas e chips nos cartões; hoje, no Brasil, a maioria deles só efetiva uma transação mediante senha. Com a sofisticação dos crimes, entretanto, uma segunda senha, também pessoal e intransferível, foi adotada por certos bancos, que enviam um número ao cliente, para que – aí sim – ele possa pagar uma conta, concluir uma compra ou transferir um valor. Aplicativos de celular e tokens em formato “chaveirinho” são as maneiras mais comuns de receber essa senha “instantânea” e dinâmica (chamada, na verdade, de OTP, ou one time password). Também existe um cartão, exatamente no mesmo formato dos que temos na carteira, com todas essas funcionalidades: tarja, chip, visor e gerador de senha. Ou seja, é o próprio cartão que gera as duas senhas sem necessidade de 22
nenhum outro objeto. A telinha de LCD que mostra a senha é o que lhe dá nome – display card –, e ele ainda conta com um botão on-off, que aciona a geração da OTP. Um outro modelo tem 13 botões, sendo os dez algarismos, clear, enter e o on-off (nesse caso, o usuário tecla um código de segurança que, uma vez reconhecido, gera a senha, sempre de seis dígitos). A inovação foi adotada comercialmente pela primeira vez em 2010, pelo banco Standard Chartered de Cingapura, com bandeira MasterCard. “A tecnologia foi desenvolvida antes de qualquer banco manifestar interesse e, então, fizemos uma análise de ambiente, ou seja, uma pesquisa para testar o nível de aceitação do produto”, explica Marcelo Tangioni, vice-presidente de produtos da MasterCard Brasil e Cone Sul. Ele informa que a bandeira tem hoje 250 mil display cards emitidos no mundo, em países como Bélgica, Tailândia, Turquia, Romênia e Polônia – neste último, o visor dos cartões é usado não apenas para
transmissão de senha temporária, mas para disponibilizar o saldo do correntista e exibir mensagens promocionais do banco. Várias funções A tecnologia representa uma evolução não apenas no quesito segurança: o visor é, afinal, um canal de informação. “Com o tempo, os display cards tendem a ficar mais atraentes e, a cada vez que o usuário conectá-lo à sua conta, ele poderá mostrar, por exemplo, pontos acumulados em programas de fidelidade ou o balanço do cartão de crédito”, afirma Samuel Hourdin, diretor de e-banking e autenticação on-line da Gemalto, empresa líder em segurança digital e uma das desenvolvedoras desse tipo de cartão, ao lado de NagraID Security e Smart Displayer. “Os display cards possuem três grandes vantagens: autenticação, consulta e ações promocionais, mas a autenticação ainda é a maior delas”, resume Marcelo Tangioni. “A fraude é um problema em pra-
{ Raio X do display card }
Visor Tela de LCD que exibe a senha dinâmica de seis dígitos gerada instantaneamente (a chamada OTP, ou one time password)
Número e chip Possuem as mesmas funções dos cartões “convencionais”. No verso, há, ainda, a tradicional tarja magnética
ticamente todo lugar, um desafio em todos os países, e acaba sendo o grande motivador de mudança, assim como aconteceu com o chip. Esse modelo de cartão transmite mais segurança para o banco e para o consumidor.” Para Percival Jatobá, diretor executivo sênior de produtos da Visa, o display card tem forte relação com o uso na internet. “Aproveitamos a Olimpíada de Londres, em 2012, um evento que impulsiona transações on-line, para fazer o mais notório lançamento do display card Visa”, afirma. A bandeira privilegiou, na ocasião, os cartões nas modalidades crédito e pré-pago, que ainda podiam ser levados como souvenir pelos turistas. De certa forma, ao simples toque de um botão, ou melhor, de alguns poucos, o usuário dessa nova tecnologia contribui para o combate às fraudes on-line praticadas por quem “conseguiu” os dados de um cartão e os utiliza ilegalmente. O alcance disso, para Samuel Hourdin, não é pequeno: “A confiança proporcionada pelo uso do display
Teclado numérico Sinônimo de segurança extra. Nos modelos com teclado numérico, o cliente deve inserir um código, enviado pelo banco por internet, celular ou caixa eletrônico, que, então, gerará a senha dinâmica
card deve ajudar a desenvolver ainda mais o e-commerce”. Mas e o Brasil? Ainda não há previsão para que o display card seja disponibilizado no país, em função, sobretudo, do alto custo da tecnologia. “O preço do cartão depende da quantidade adotada pelo banco. De toda forma, não é barato, e esse é um dos motivos pelos quais o display card ainda não é distribuído no Brasil”, atesta Tangioni, da MasterCard. Hourdin, da Gemalto, faz coro: “Teríamos que importar a tecnologia e o custo aumentaria; ficaria caro para o cliente”. Por enquanto, a Venezuela é o país mais geograficamente próximo do Brasil a adotar o display card. Em 2012, o Banco Bicentenário implantou a tecnologia e a distribuiu a todos os seus correntistas, sob o nome de Tera (Tarjeta Eletrónica Robusta de Autenticación). Com a inovação, a instituição financeira pretendia mais que gerar senhas seguras: “O objetivo foi passar uma imagem
Botão press Botão “liga e desliga”. Nos cartões que possuem somente esse botão, a senha aparece assim que ele é pressionado. Nos cartões que possuem também o teclado numérico, deve-se primeiro apertar o press e, então, inserir um código de segurança
tecnológica”, afirma Hourdin. Nos demais bancos em que é oferecida, a tecnologia costuma se restringir a alguns segmentos. O turco TEB, por exemplo, disponibiliza seu display card apenas a usuários de internet banking; o pioneiro Standard Chatered, de Cingapura, limita a distribuição a categorias como MasterCard Platinum e Visa Infinite; na Polônia, o Poland’s Getin Bank oferece o privilégio apenas para alguns de seus correntistas. Ainda é cedo para saber se o display card se tornará popular, mas a simples existência dessa nova tecnologia levanta uma questão de peso para a indústria de meios eletrônicos de pagamento. “O conceito de cartão presente ou não presente vem aos poucos se desconstruindo e dando lugar a transações autenticadas ou não autenticadas. A senha para isso poderá ser gerada de diversas formas – display cards, aplicativos de celular, ‘chaveirinhos’...”, analisa Jatobá, da Visa. “O formato não é tão importante quanto a questão da autenticação em si”, conclui. 23
#BENEFÍCIOS Vale-Cultura, o novo produto da indústria brasileira de cartões
Portando a bandeira da cultura Vale-Cultura, do governo federal, já tem adesão de 1.400 empresas e 360 mil trabalhadores. Operadoras de cartão veem programa como oportunidade de expandir portfólio e contribuir para o acesso a bens culturais POR
Carolina Freitas
ILUSTRAÇÃO
Brunna Mancuso
O ano de 2014 marca a première em teatros, cinemas e livrarias de uma atração promissora: o Vale-Cultura. O programa do MinC (Ministério da Cultura) institui o pagamento de 50 reais por mês a trabalhadores com carteira assinada para uso exclusivo em bens ou serviços culturais. Com foco em pessoas que ganham até cinco salários mínimos (3.620 reais), o funcionamento da iniciativa depende da adesão dos usuários e de seus empregadores, responsáveis por custear o benefício, tendo como contrapartida incentivos fiscais. O Vale-Cultura é pago por meio de um cartão eletrônico, recarregado de forma automática. Regulamentado em setembro de 2013, o programa está em fase inicial de execução, com a habilitação das operadoras, o credenciamento da rede e o convencimento das beneficiárias a participarem. Os números, no entanto, trazem uma perspectiva otimista. Até 14 de fevereiro, o sistema contabilizou o registro de 1.402 empresas e 360.361 trabalhadores. “A adesão superou nossas expectativas”, diz a secretária de Fomento e Incentivo à Cultura do ministério, Ana Cristina Wanzeler. Estudo do MinC aponta um quadro desafiador: 90% dos brasileiros nunca assistiram a um espetáculo de dança, 70% têm acesso a bens culturais apenas pela televisão e 80% nunca entraram numa sala de cinema. “O programa tem o objetivo de acabar com essa exclusão cultural”, afirma Ana Cristina. “O Vale-Cultura reforça o conjunto de políticas públicas destinadas a equilibrar a oferta e a demanda de bens e 24
serviços culturais.” O gasto médio mensal por família com recreação e cultura no Brasil é de 42,76 reais, de acordo com a última Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2008. Isso equivale a 1,6% do total das despesas do lar. Entre os mais pobres, com renda de até 2.490 reais, o gasto nem chega a 17 reais por mês (leia gráfico na página 27). É provável que o quadro tenha mudado um pouco nos últimos anos, o que poderá ser comprovado (ou não) em abril, quando o Sesc apresentará um censo inédito sobre o acesso dos brasileiros à cultura. Uma das forças motrizes do processo de adesão ao Vale-Cultura tem sido as entidades sindicais. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região foi o primeiro a incluir a questão na negociação de dissídio no ano passado e conseguiu garantir o Vale-Cultura como um direito assegurado pela Convenção Coletiva de Trabalho da categoria, com abrangência nacional. “Nossa conquista incentiva outros trabalhadores a reivindicar o cartão”, diz Juvandia Moreira, presidente do sindicato. Ela calcula que a política pública beneficie 200 mil bancários. O movimento já é realidade, por exemplo, no banco de investimento Petra, sediado em Curitiba (PR). Com 170 funcionários, sendo 80 na faixa salarial atendida pelo Vale-Cultura, a instituição comemora a adesão de 50% desse grupo em menos de um mês de programa e projeta ampliar o benefício para quem ganha mais do que cinco salários mínimos. “É uma satisfação ver os empregados falando pelos corredores sobre o filme ou a peça a que assistiram
O Vale-Cultura é pago por meio de um cartão eletrônico, recarregado de forma automática
no fim de semana”, diz o gerente de recursos humanos do Grupo Petra, Alexandre Leonetti. “Nosso plano é incluir o Vale-Cultura no pacote de benefícios de todos os colaboradores.” A extensão é permitida, desde que seja assegurada a oferta do auxílio a todos que ganham salários mais baixos. Para Leonetti, o Vale-Cultura carrega um simbolismo diferente de outros benefícios. “Os vales de transporte e de refeição são usados dentro da rotina de trabalho, o vale-alimentação, para comprar alimentos para a família. Já o Vale-Cultura proporciona uma atividade nova e divertida.” O Petra conta com a operadora Alelo como fornecedora de VT, VR e VA e ampliou o contrato para incluir o novo cartão. A implantação levou menos de um mês. No fim de janeiro, os funcionários do banco receberam pela primeira vez o benefício. Por causa do acordo liderado pelo Sindicato dos Bancários, as operadoras de cartão vinculadas a bancos foram pioneiras também em oferecer o vale a seus colaboradores. Um exemplo é a Caixa Econômica Federal, que, em parceria com a Ticket, forneceu cartões para 19 mil funcionários – o número pode chegar a 27 mil se forem considerados todos os empregados com remuneração de até cinco salários mínimos que ainda podem aderir ao benefício. 25
Outra participante da cadeia do Vale-Cultura que engrossa as fileiras das beneficiárias é a Saraiva, maior rede de varejo de conteúdo e entretenimento do Brasil, com 6 mil colaboradores. “A educação, a cultura e o lazer devem estar disponíveis a todos, porque são essenciais para a construção de um mundo melhor”, diz o diretor de operações da Saraiva, Pierre Berenstein. A rede também está pronta para receber o Vale-Cultura em suas 112 lojas em 17 estados brasileiros e no Distrito Federal, com disponibilidade de todo o acervo de produtos que integram a relação de itens definidos pelo programa, como livros, CDs e DVDs. Na operação de loja, o meio de pagamento é administrado pelas bandeiras Alelo, Good Card, Policard, Sodexo e Ticket. O desafio da inclusão O auxílio estimula o contato com o universo cultural, mas, isolado, não é suficiente. A gerente de cultura do Departamento Nacional do Sesc (Serviço Social do Comércio), Márcia Rodrigues, conhece essa realidade de perto. “A maior parte da nossa programação é gratuita. Portanto, não é por falta de recursos que as pessoas deixam de acompanhá-la”, diz Márcia. “Há um conjunto de fatores que temos de trabalhar para reverter: o custo do transporte, a falta de hábito de ver exposições e espetáculos e até mesmo o desconhecimento a respeito da oferta de cultura. As pessoas precisam entender a cultura como algo bom para sua vida.” O Sesc estuda aceitar o Vale-Cultura como meio de pagamento – apesar de ter entrada franca na maioria de seus eventos – e aderir como empregador ao programa. “Nossa parceria com o MinC é da vida inteira”, afirma Márcia. A CNC (Confederação 26
{ Raio X } Quem tem direito a receber? Trabalhadores com carteira assinada empregados em empresas que tenham aderido ao programa, sendo o público-alvo do programa aqueles que ganham até cinco salários mínimos, ou seja, 3.620 reais Quanto custa para o trabalhador? Quem recebe até cinco salários mínimos tem desconto de 1 a 5 reais, de acordo com sua remuneração. Quanto mais baixo o salário, menor o desconto O que ganha o empregador? Empresas de lucro real poderão deduzir até 1% do Imposto de Renda para abater despesas com o benefício. Para corporações com regime de lucro presumido ou Simples, o valor do benefício não será tributado com encargos sociais nem terá natureza salarial Como é feita a recarga? Após a adesão, a cada mês, o crédito é automaticamente carregado no cartão Como empresas e operadoras podem se cadastrar? Por meio do site vale.cultura.gov.br FONTE: MINISTÉRIO DA CULTURA
{ O que comprar? } O valor mensal é cumulativo e a compra pode ser completada por outras formas de pagamento. Confira a seguir como o auxílio pode ser gasto Artesanato Cinema Cursos de artes, audiovisual, circo, dança, fotografia, música, teatro e literatura Disco, áudio ou música DVD de documentários, filmes ou musicais Escultura Espetáculos de circo, dança, teatro e música FONTE: MINISTÉRIO DA CULTURA
Materiais de artes visuais Equipamentos e instrumentos musicais Exposições de arte Festas populares Fotografia, quadros e gravuras Livros Partituras Revistas Jornais
{ O funil econômico da cultura } Quanto mais pobre, menos o brasileiro gasta com bens e serviços culturais (gasto mensal em função da renda) 300 239
250 200 133
150 86
100 50 0
8
14
Até 830
Mais de 830 a 1.245
27
51
Mais de 1.245 Mais de 2.490 Mais de 4.150 Mais de 6.225 Mais de 10.375 a 2.490 a 4.150 a 6.225 a 10.375
* valores em reais FONTE: IBGE – PESQUISA DE ORÇAMENTO FAMILIAR 2008
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) fará ao longo do ano um ciclo de eventos para estimular seus associados a se habilitarem no programa. Produto de nicho Em seis meses desde a regulamentação do programa, o MinC credenciou 23 operadoras. Dessas, 18 estão prontas para atuar. Quando analisado diante do mercado global de meios de pagamento, o Vale-Cultura tende a apresentar uma participação modesta, mesmo depois que o modelo se consolidar. A diretora executiva comercial e de marketing e produtos da Alelo, Ellen Muneratti, vê a situação como natural. “É um produto de nicho, diferenciado. Para a Alelo, produzir esse cartão significa ter um portfólio completo.” A executiva destaca, ainda, a função social do produto. “O programa é capaz de mudar o cenário cultural brasileiro. A beleza do pro-
jeto é, sem dúvida, um atrativo para nossa adesão.” O diretor da Banrisul Cartões, Janir Damiani, reforça a posição. “Assim que a iniciativa foi regulamentada, buscamos nos credenciar, pois acreditamos na sua força de transformação.” O diálogo do MinC com a indústria de cartões durante o processo de regulamentação da medida garantiu regras aderentes à realidade do mercado. A adaptação ao Vale-Cultura é rápida e prática. O programa veta a cobrança de taxa de administração negativa – de acordo com o ministério, para evitar a concorrência predatória – e fixou limite de 6% por operação. A Banrisul Cartões levou dois meses para adequar o sistema para a nova oferta e passar a emitir o plástico. “Foi uma adaptação tranquila”, afirma Damiani. “Acertado o credenciamento da operadora e definido o layout do produto, fizemos os ajustes, passamos as instruções para a rede e iniciamos as vendas.” A similaridade da operação do
Vale-Cultura com outros vouchers de benefícios acelerou a adequação, avalia Ellen Muneratti, da Alelo. “A regulamentação foi muito bem conduzida. Há mecanismos de segurança e controle das informações e geração de relatórios. Em um ano, teremos em mãos informações preciosas sobre os gastos dos brasileiros com cultura.” Projeções do MinC indicam que há 36 milhões de pessoas dentro do perfil de usuário do Vale-Cultura, com remuneração de até cinco salários mínimos. Dessa forma, o projeto tem potencial para injetar 22 bilhões de reais por ano na cadeia produtiva da cultura – algo como seis vezes o orçamento do ministério em 2014. O impacto do Vale-Cultura na economia criativa do país só poderá ser avaliado futuramente. Mas uma coisa é certa: seu êxito dependerá, em grande medida, da aceitação do cartão nos diversos estabelecimentos que comercializam produtos e serviços culturais. 27
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#PELO MUNDO A popularização dos cartões contactless no Reino Unido
Menos de cinco segundos para pagar Rapidez é o grande diferencial dos cartões sem contato, que já são utilizados pelos britânicos para realizar 12 milhões de transações mensais de até 20 libras cada POR
Carolina Vaisman, de Londres
Em um mundo cada vez mais permeado por tecnologia e comunicação instantânea, existem muitas formas inteligentes de fazer pagamentos de produtos e serviços por meio de transações eletrônicas. No Reino Unido, quem busca conveniência, segurança e, sobretudo, rapidez dispõe de uma boa opção para facilitar as compras do dia a dia. Trata-se da tecnologia contactless (literalmente sem contato), presente em mais de 38 milhões de cartões de crédito e débito em um país que conta com pouco mais de 63 milhões de habitantes. Considerado a evolução do cartão com chip, o contactless parece igual aos outros cartões – mas não é. Facilmente reconhecível do lado de fora pelo símbolo do contactless, é por dentro que ele se revela de fato diferente, devido à inclusão de uma pequena antena de radiofrequência e um microchip. Quando o cartão é colocado a uma distância menor que 10 centímetros de um POS adequado (identificado pelo mesmo símbolo do contactless que aparece no cartão), a antena e o microchip permitem processar uma transação sem que seja necessário digitar uma senha, procedimento usual em plásticos com chip, ou, ainda,
assinar um recibo, como era a regra até poucos anos atrás. Com o contactless, cujo uso é limitado a transações de 20 libras (cerca de 80 reais), todo o processo de pagamento é feito em menos de cinco segundos. No Reino Unido, a tecnologia é oferecida pelos principais players do mercado – MasterCard PayPass e Visa PayWave são as marcas mais difundidas. A grande agilidade na hora do pagamento torna o contactless revolucionário em situações com grande fluxo de pessoas, como na lanchonete de um estádio de futebol ou no transporte público. Em Londres, por exemplo, desde dezembro de 2012 é possível viajar nos icônicos double-deckers (ônibus de dois andares que, por lá, são vermelhos) apenas com um cartão sem contato a tiracolo, novidade que, em breve, será levada para o metrô. Contactless por todo o país Similar aos cartões recarregáveis utilizados no transporte público das principais cidades do mundo (como o Bilhete Único de São Paulo, por exemplo), o contactless existe como possibilidade tecnológica há vários anos. Comercialmente, ele foi lançado no Reino Unido em setembro de 2007, pelo banco
Barclays – e hoje está nas mãos de consumidores em todos os cantos do país. De acordo com a Associação de Cartões do Reino Unido, até o fim de novembro de 2013, havia 38,2 milhões de cartões sem contato em uso e mais de 171.500 terminais habilitados disponíveis. “A cada mês, são feitos 12 milhões de transações sem contato no Reino Unido. Juntas, elas correspondem a um gasto de 76 milhões de libras por mês”, afirma Giles Mason, relações públicas da associação. “Essa tecnologia significa que os consumidores não precisam mais ter dinheiro em mãos ou se preocupar em conferir o troco, quando se trata de pequenas compras diárias. As filas não ficam tão grandes, uma vez que o sistema sem contato acelera esse processo.” A possibilidade de fazer pagamentos sem contato já é uma realidade nas principais redes varejistas instaladas no Reino Unido – apenas no segmento de alimentação rápida, isso inclui gigantes globais, como Starbucks, McDonald’s e Subway, e também marcas de apelo mais local (e saudável), como Pret A Manger e Eat. Mas não é só comida que se pode pagar com cartões contactless. Um bom exemplo é a quase 29
{ Brasil está pronto para o contactless } Com cerca de 1 milhão de POS preparados para processar transações sem contato, o Brasil é um mercado promissor para essa forma de pagamento. Mas, ainda que os primeiros cartões com a tecnologia tenham sido entregues em abril de 2012 (para clientes premium do Bradesco), na prática o pagamento contactless ainda não está disponível no país. Isso não impede que a indústria siga se preparando: em novembro do ano passado, o Banco do Brasil, em parceria com a Visa, passou a incorporar a funcionalidade sem contato nos cartões múltiplos de seus clientes premium. A expectativa da indústria é que, com o novo marco regulatório do setor de pagamentos, anunciado em novembro de 2013, este ano o contactless finalmente saia do papel.
onipresente rede de farmácias Boots, que conta com nada menos do que 2.500 pontos de venda espalhados pelo país – algo como uma loja para cada 25 mil habitantes – e passou a aceitar cartões contactless em todas elas em outubro do ano passado. Os londrinos parecem ter aprovado a novidade. “No horário de pico, entre 13h30 e 15h30, passam por aqui cerca de 3 mil clientes, diariamente, e 20% das compras nesse período são feitas com cartões sem contato. O gasto médio é de 7 ou 8 libras por pessoa”, afirma Marco Tramontano, gerente de uma grande filial da Boots, localizada na Liverpool Station, movimentada estação de metrô e trem. Na vanguarda do cashless A cada segundo, cerca de cinco pagamentos com cartões sem contato são realizados no Reino Unido. Para atender a essa crescente demanda, bancos como HSBC, Barclays, NatWest, RBS (The Royal Bank of Scotland Group) e Lloyds Banking Group estão substituindo, pouco a pouco, os cartões antigos, apenas com chip, por outros com a nova tecnologia. Com a popularização do contactless, o 30
mercado britânico confirma sua posição de vanguarda na adoção de meios eletrônicos de pagamento. Seja em grandes cidades ou pequenos vilarejos, é possível pagar literalmente qualquer coisa, de qualquer valor, usando um cartão, seja ele de débito, de crédito, com chip e, agora, sem contato. Em 2007, o então CEO da Visa na Europa, Peter Ayliffe, causou furor ao afirmar que, em 2012, o Reino Unido seria todo cashless (sem dinheiro vivo). Sua previsão não se concretizou totalmente, mas caminha para isso – um estudo da consultoria Value Partner aponta que menos de 10% das transações no país são realizadas em espécie. E uma massificação do contactless, que hoje é responsável por apenas 1,5% do total de transações com cartões por lá, pode contribuir para que notas e moedas se tornem ainda mais raras em solo britânico. Os Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, foram um marco para os cartões sem contato. A Visa, patrocinadora do evento, lançou cartões contactless pré-pagos, que funcionavam também como souvenir da grande competição esportiva, e escalou ninguém menos que o ja-
maicano Usain Bolt, homem mais rápido do mundo, para estrelar sua campanha de cartões sem contato, com o primoroso slogan Flow Faster (corra mais rápido ou circule mais rápido). Resultado: um em cada seis pagamentos foi realizado com esse tipo de cartão nas arenas, estádios e ginásios. Se não chegou a fazer dos Jogos Olímpicos londrinos um evento “sem dinheiro vivo”, como sonhava a Visa, a estratégia contribuiu para tornar o contactless conhecido não apenas no Reino Unido. Na Europa, o total de transações sem contato aumentou seis vezes de agosto de 2012 a julho de 2013. Sem tempo a perder Com uma população de 9 milhões de habitantes, Londres é uma metrópole cosmopolita que pulsa em ritmo acelerado. Por ali, ninguém parece ter tempo a perder. Esse é um dos motivos pelos quais os pagamentos com cartões sem contato não param de crescer na cidade. Afinal, se uma transação com cartão com chip leva cerca de 40 segundos, por que não optar por uma em que o processo todo dura menos de cinco segundos? Na filial da rede Pret A Manger, na City, nervoso coração financeiro da capital britânica, 50% do movimento já vem de cartões sem contato. “Facilita, pois diminui as filas e a compra fica mais ágil. Isso é muito importante em uma cidade como Londres, onde todos estão sempre correndo e não querem perder um segundo”, afirma a gerente, Vanessa Cuesta, enquanto sorri para uma cliente que aproxima o cartão para pagar as 3 libras de seu apetitoso sanduíche natural. “Sempre compro o meu almoço dessa forma. É muito mais eficiente e não perco meus sagrados minutos de descanso”, explicou a cliente, que saiu da loja tão rapida-
mente quanto havia entrado. Não se trata de um caso isolado. Em regiões movimentadas como Oxford, Regent’s e Carnaby Streets, quase todos os estabelecimentos exibem o símbolo do contactless. No restaurante de “fast-food saudável” Leon e no café Costa, boa parte dos pagamentos é feita com cartões sem contato. “Além de ser mais rápido, acho mais higiênico, porque não preciso tocar nas teclas ou no monitor para pagar”, revela uma cliente, que havia comprado um croissant e um chocolate quente no Costa, na hora do almoço. Embora tenha caído no gosto dos londrinos, o contactless ainda gera controvérsia no quesito segurança – como toda inovação na forma de pagar. Quem é entusiasta da nova tecnologia argumenta que o sistema é mais seguro, pois, como não é preciso digitar a senha, não há perigo de algum funcionário no balcão ou de outro cliente na fila enxergar os números digitados. Já os desconfiados alertam para o fato de que, se o cartão for furtado ou perdido, qualquer um poderá utilizá-lo, uma vez que não é preciso digitar a senha. A indústria de cartões garante que não há motivos para se preocupar. “Os cartões contactless usam o mesmo sistema de criptografia dos demais. Para adicionar proteção contra fraude, de tempos em tempos, os clientes são solicitados a digitar sua senha, para verificar a transação”, explica Mason, da Associação de Cartões do Reino Unido. Para ele, o fato de as transações sem contato terem limite máximo de 20 libras ajuda na percepção de segurança por parte do consumidor. “De toda forma, é sempre uma boa ideia retirar o cartão da carteira na hora do uso, para ter certeza de que o débito foi feito no cartão certo – e não no do cliente ao seu lado na fila.”
{ Passo a passo } Como usar um cartão sem contato
1.
Certifique-se de que seu cartão possui a tecnologia. É simples: o seu banco lhe avisará e o cartão virá com o símbolo do contactless
2.
Certifique-se de que a loja aceita a tecnologia e que a sua compra está dentro do valor máximo permitido por transação. Para saber se o estabelecimento aceita, pergunte ao balconista ou verifique se a máquina de pagamento tem o mesmo símbolo que o seu cartão
3.
Tire o cartão da carteira ou do bolso. É recomendável que, na hora do pagamento, o cliente tire o cartão da carteira, para ter certeza de que o valor foi debitado no cartão certo, o que é ainda mais importante se o consumidor possui mais de um cartão sem contato
4.
Quando o valor aparecer na tela, posicione o cartão a, no mínimo, 10 centímetros do POS; em geral, encosta-se suavemente o cartão no POS, o que, na prática, faz com que mesmo o cartão contactless exija um mínimo de contato
5.
O pagamento será efetuado em menos de cinco segundos, assim que aparecer a confirmação na tela, como ocorre em qualquer outro pagamento com cartão
6.
Caso sua senha seja solicitada mesmo em transações dentro do limite, não se assuste. É um procedimento normal, padrão e temporário para garantir a segurança do cliente. Nesse caso, basta digitar a senha (código PIN) para a transação ser autorizada
FONTES: ASSOCIAÇÃO DE CARTÕES DO REINO UNIDO E CANADIAN BANKERS ASSOCIATION
{ Nos ônibus e (em breve) no metrô } Desde dezembro de 2012, os 8.500 ônibus que circulam por Londres já estão equipados com o sistema de pagamento sem contato. Hoje, a tecnologia é utilizada diariamente por mais de 10 mil passageiros. “Para mim, é uma ótima opção, pois pego ônibus todo dia e não preciso me preocupar se recarreguei o meu Oyster Card”, afirma um passageiro numa típica manhã cinzenta de inverno, fria e chuvosa. Além de ser prático como o famoso Oyster Card (o passe dos transportes em Londres), usar o cartão sem contato nos míticos ônibus vermelhos de dois andares é bom para o bolso: com ele, a viagem sai por 1,40 libra (5,60 reais) – se paga em dinheiro, custa 2,40 libras (9,60 reais). Segundo a Transport for London, que cuida do transporte na cidade, em 2014 será a vez de o metrô e os demais trens que operam na região metropolitana passarem a aceitar cartões contactless. Maior malha metroviária do mundo, com 402 quilômetros de extensão, o tube londrino transporta nada mais nada menos que 1,23 bilhão de passageiros anualmente. Com esse “empurrãozinho”, tudo indica que os pagamentos sem contato serão cada vez mais usados na capital e, provavelmente, em todo o Reino Unido. 31
#EMPREENDEDORISMO
Aceitar cartões contribui para fidelizar clientes de locadora de bicicletas em Belo Horizonte
Pedalando no ritmo dos negócios
Aberto há quatro anos como quiosque de locação de bicicletas, despojado empreendimento da capital mineira abriga lanchonete e planeja nova expansão POR
Ahmed Hamdan, em Belo Horizonte
FOTOS
André Luppi
A Lagoa da Pampulha, além de ser um dos principais pontos turísticos de Belo Horizonte, é um complexo de lazer com muitas opções tanto para visitantes quanto para quem mora na cidade. Um espaço ao ar livre povoado por parques, museus, bares, restaurantes, o repaginado Mineirão, zoológico e por gente disposta a dar uma espairecida, seja no começo da noite ou no fim da semana. Mesmo com os problemas 32
que envolvem a região – como a poluição da água, a falta de segurança e o excesso de veículos nas vias de acesso –, o lugar é muito agradável, com uma luz natural incrível. Você pode desfrutar parte dos 18 quilômetros da orla caminhando, correndo ou de bicicleta. Foi pensando nesta última opção que a Bike Mania, um quiosque de aluguel de magrelas, iniciou suas atividades há quatro anos, na altura do bairro Jardim Atlântico, bem junto à ciclovia que envolve quase todo o perímetro da Lagoa. “Tínhamos uma loja e oficina de bicicletas no bairro Floresta, região mais central da cidade. Aí veio a ideia de montar este espaço aqui. Deu tão certo que não fazia mais sentido manter a outra loja. Por um tempo, administramos os dois negócios,
mas o ambiente aqui é muito mais interessante e diferenciado”, diz Sormânia Lívia Costa, gerente financeira do empreendimento. Basta se aproximar da Bike Mania para perceber que se trata de um negócio diferente. Bicicletas penduradas no teto, formando desenhos surpreendentes, convivem com uma tenda de madeira coberta com lona, estilo caramanchão, onde há mesas com ombrelones, jornais e revistas à disposição e rede wi-fi. Nesse ambiente descontraído, o cadastro do cliente é feito em tablets. E cada bicicleta possui um chip de localização e um número de telefone para, caso aconteça algum imprevisto, o ciclista ligar para ser socorrido. Na devolução da bike, pode-se escolher a forma de pagamento, que
inclui cartões de débito e crédito – algo que chama a atenção, pois quase todos produtos vendidos em volta da Lagoa só podem ser pagos com dinheiro vivo. “A nossa opção de investir no recebimento com cartão se tornou um grande facilitador”, afirma Sormânia. Segundo ela, não é raro um cliente novo entrar no quiosque, perguntar sobre o aluguel e, se está sem dinheiro em espécie, dizer que voltará outro dia – até porque não há caixas eletrônicos por ali. “É quando comunicamos que o pagamento em cartão é possível e bem-vindo pela casa. Mesmo com as taxas, é muito mais vantajoso para todos. Inclusive, para os ciclistas é uma comodidade, pois a região não é muito segura em determinados horários. Mas também, hoje em dia, onde estamos seguros? Quanto menos eles andarem com dinheiro, melhor”, acrescenta. “Aceitamos cartões desde que obtivemos nosso registro. E acho que todo estabelecimento deveria fazer o mesmo. É muito mais garantido, confortável e, cá para nós, andar com talão de cheques não faz mais sentido”, afirma Sormânia, que aponta outra vantagem de trabalhar com os plásticos. “Por estarmos num ponto muito turístico, recebemos gente de todo o Brasil e também do exterior. E o pagamento com cartão atende todos esses públicos.”
{ Pampulha: um pouco de história } No início do século 20, a atual Pampulha era uma imensa região agrícola dividida em fazendas – entre elas, a Fazenda Pampulha, situada a 12 quilômetros do centro da ainda jovem capital (Belo Horizonte foi fundada em 1897). Até que, em 1940, Juscelino Kubitschek tomou posse como prefeito e transformou a Pampulha na principal vitrine do seu governo. Assinado pelo ainda pouco conhecido arquiteto Oscar Niemeyer, o plano de urbanização e ocupação da orla transformou a Lagoa da Pampulha num sofisticado complexo de lazer e turismo, com construções como o Cassino (atual Museu de Arte), o Iate Golfe Club, a Casa do Baile e a Igreja de São Francisco de Assis, integradas a intervenções do paisagista Roberto Burle Marx e do pintor Cândido Portinari. Na segunda metade dos anos 1940, a Pampulha recebeu um aeroporto e viu o surgimento de novos bairros. Em seguida, outras intervenções contribuíram para dinamizar a região, como a construção do câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais. Nos anos 1960, foram implementados espaços de lazer como o Zoológico, o Mineirão e o Mineirinho. Nos últimos anos, a expansão imobiliária no entorno acendeu um sinal amarelo acerca do equilíbrio ambiental da Lagoa da Pampulha.
Expansão e novos negócios Pouco antes da Copa das Confederações, em junho de 2013, a Bike Mania abriu, no mesmo ambiente, um trailer de comes e bebes. “Aquela época não foi boa para nenhum comerciante da região, por causa das manifestações. Mas, passada a frustração inicial, o casamento de esporte com alimen-
tação saudável já nos rende ótimos frutos”, afirma Sormânia. Decorado com fotos da construção da Capela de São Francisco e dos bons tempos em que era possível se aventurar de barco pela Lagoa, o trailer oferece bebidas e comidinhas. Entre os destaques do cardápio está o suco revigorante, que leva laranja, limão, gengibre, abacaxi e morango. A estratégia da Bike Mania de diversificar o negócio deu tão certo que a empresária já tem novos planos de expansão. “O aluguel de bicicletas trouxe público para a lanchonete. Em breve, vamos abrir um campo de minigolfe e um playground, tudo no mesmo espaço. E daí a família toda poderá se divertir”, conclui Sormânia, sem conter a empolgação. 33
#FINANÇAS PESSOAIS Universitário usa cartão de crédito para controlar despesas
A fatura como a melhor amiga da poupança
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Universitário descobriu que o cartão de crédito poderia ser um grande aliado para manejar o orçamento apertado POR
Gabriel Ferreira
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Daniela Toviansky
Quando o assunto é dinheiro, a vida dos estudantes universitários não tende a ser das mais fáceis. De um lado, uma bolsa estágio que não costuma ser alta. Do outro, uma série de gastos desnecessários e supérfluos – que nessa fase da vida também são necessários. No meio disso tudo, um jovem que, na maioria das vezes, ainda não tem experiência de vida suficiente para lidar com um orçamento tão apertado. Desde que passou no vestibular para o curso de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), há três anos, o sorocabano João Roberto da Silva Júnior, de 21 anos, vive essa situação na pele. Quando ainda não trabalhava, João mantinha uma planilha para organizar os gastos que fazia com o dinheiro que recebia dos pais para arcar com as despesas em São Paulo. “Não era muita coisa, então a planilha era bem simples”, afirma. Quando foi aprovado em um programa de estágios do Banco Santander, em meados de 2012, o universitário resolveu que era a hora de adotar uma forma mais elaborada de organizar suas finanças. E passou a usar o cartão de crédito como ferramenta para administrar melhor o salário. “No começo, dá um pouco de medo de perder o controle, mas com o tempo você vai conhecendo melhor o cartão e aprendendo a usar com segurança.” Hoje, aproximadamente 50% de seu orçamento é destinado para pagar a fatura. O restante se divide entre os gastos do dia a dia, pagos diretamente da conta-corrente, e o que guarda na poupança. “Ter aprendido a usar o cartão a meu favor tem me ajudado a economizar entre 10% e 20% do meu salário todo mês.” Segundo ele, um dos segredos por trás dessa economia é que a fatura do cartão ajuda a perceber quando um determinado tipo de gasto está muito alto. Assim, quando ele vê na fatura que em um mês gastou muito com baladas ou jantando fora com a namorada, procura se controlar mais no mês seguinte. “Quando a gente faz esses gastos no débito ou com dinheiro vivo, eles normalmente acabam
{ Como usar a fatura a seu favor } Muita gente tem o hábito de só olhar para o valor total da fatura e não dar muita atenção para a discriminação dos gastos. Combater esse costume é uma das melhores formas de começar a utilizar o cartão de crédito a seu favor. A fatura é um importante documento que pode contribuir – e muito – para o planejamento financeiro. Nela, é possível ver informações como quantos meses um parcelamento ainda vai durar, o que ajuda a tomar decisões futuras de compra, ou se algum tipo de gasto representa parte significativa do valor total, o que pode estimular ajustes no orçamento. Se consultada pela internet, muitas vezes a fatura mostra os dados graficamente.
passando despercebidos no extrato. Na fatura, eles aparecem mais agrupados, o que é ótimo.” Assim que resolveu utilizar o cartão de crédito, João tomou a decisão de ir se familiarizando com o produto. Uma das medidas que tomou para não correr o risco de se endividar além do orçamento foi definir um limite de gastos diferente do limite de crédito concedido pelo banco. “Achei melhor gastar apenas uns 30% do total que tinha disponível”, lembra. Para não se perder nas contas, decidiu não deixar para pensar nos gastos apenas quando as faturas já estivessem fechadas. Ele faz um controle periódico de como seus gastos estão evoluindo ao longo daquele mês, tanto pela fatura on-line quanto pelo serviço que envia um SMS para seu celular a cada transação realizada. “Vou vendo quanto ainda tenho disponível de limite e ajusto minhas compras com base nisso.” João lembra, ainda, que, por fazer faculdade, ele se beneficia de outra forma. “Acabamos tendo vantagens interessantes, que ajudam a lidar com o orçamento mais apertado”, afirma ele, referindo-se a condições diferenciadas que algumas empresas de cartões oferecem a clientes universitários. Os benefícios variam conforme o banco, mas, em alguns casos, chegam à isenção da anuidade do cartão. Um estímulo mais do que bem-vindo para um público que sente a diferença de cada centavo no orçamento. 35
#OPINIÃO
Articulista defende importância de saber quanto custa ganhar o dinheiro que se gasta
30 minutos para uma vida melhor Você sabe quanto tempo dedica ao trabalho para, no fim do mês, ganhar o seu dinheiro? E para escolher como vai gastá-lo? Provavelmente, a resposta para a primeira pergunta deve estar na ponta da língua. Mas é possível que a segunda questão faça você pensar mais ou, ainda, traga dúvidas e inquietações. Os brasileiros vivenciaram um longo período de inflação alta até meados dos anos 1990. Quem viveu essa época deve se lembrar do overnight, dos carrinhos cheios de compras no início do mês, das tentativas de fazer o dinheiro valer cada centavo antes que fosse corroído pela inflação. Esses hábitos contribuíram para que o brasileiro desenvolvesse uma cultura de curto prazo em relação ao dinheiro. A estabilidade econômica iniciada pelo Plano Real modificou esse cenário, com a primeira expansão de crédito e o surgimento de novos produtos bancários. Essa diversificação dos produtos financeiros ofereceu diferentes possibilidades às pessoas, além de estimular a economia. No entanto, hoje vivemos um período de maior oferta de crédito, num mesmo momento em que falta tanto conhecimento de gestão das finanças pessoais quanto experiência, já que, até meados 36
dos anos 1990, vivíamos num contexto de hiperinflação. Em média, o trabalhador brasileiro dedica 160 horas mensais para ganhar o salário no fim do mês. Então, por que não reservar alguns minutos por semana para sentar, escolher e planejar como gastar bem o que recebeu? A maioria das pessoas gasta todo o fruto de seu esforço sem saber ao certo como. Isso ocorre, em parte, por causa do consumo por impulso, com compras que nem sempre são necessárias ou até mesmo desejadas. Impera o popular: “se cabe no bolso, posso pagar”, sem considerar, na maioria dos casos, o total da dívida que se assume. Se cada vez que você for comprar alguma coisa fizer uma rápida conversão para entender quantas horas de trabalho são necessárias para adquirir aquele bem ou serviço, saberá quanto suor foi necessário para fazer aquela aquisição. E poderá avaliar melhor se o gasto realmente faz sentido para você. Fazer escolhas com essa perspectiva pode mudar o hábito de consumo, pois, com consciência e com perspectiva de presente e futuro, as decisões ficam mais equilibradas, é possível começar a guardar dinheiro e tornar-se uma pessoa mais satisfeita com as escolhas financeiras.
por Denise Hills
Superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco e responsável pelos programas de educação financeira da instituição
#monitor Abecs
Em 2013, o mercado brasileiro de cartões cresceu 17,8% em valor transacionado, no combinado entre crédito e débito, atingindo 853 bilhões de reais. Embora as despesas pagas com débito tenham subido mais de 22% pelo quarto ano consecutivo, os gastos com cartão de crédito ainda respondem pela maior fatia do mercado, com 64,8% de participação no faturamento total. Para 2014, as projeções da Abecs indicam um crescimento de 17,1%, influenciado pela expansão da renda, o que levaria o setor a alcançar a marca histórica de 1 trilhão de reais em transações – aumento de 150% em relação a 2009. “O Brasil deve continuar crescendo de forma acelerada nos próximos dez anos”, afirma o Diretor Presidente da Abecs, Marcelo Noronha. “Além de a substituição do dinheiro pelos meios eletrônicos de pagamento ser uma tendência mundial, no Brasil temos uma infraestrutura tecnológica preparada para absorver o crescimento”, acrescenta ele, destacando que a rede de captura deve crescer acompanhando a formalização da economia e a expansão do número de estabelecimentos credenciados. Alavancado pela inclusão digital e financeira, esse crescimento acontecerá também nas transações não presenciais, as quais, em 2013, somaram 94,4 bilhões de reais, ou 12% do total. Os números indicam, ainda, que o consumidor tem feito um uso mais consciente do cartão e do crédito. No fim de 2013, a inadimplência com os cartões atingiu níveis historicamente baixos, chegando a 6,4%. E isso num cenário em que o cartão de crédito desponta como a quarta principal carteira de financiamento a pessoas físicas no país. Além da possibilidade de financiar as compras sem juros, da comodidade e da segurança como meio de pagamento, o cartão gera serviços e benefícios aos usuários – em 2013, os programas de recompensa transferiram 2,4 bilhões de reais aos clientes.
Números consolidados do mercado brasileiro de cartões
Um mercado cada vez mais maduro
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Eficiência, modernidade e segurança Com a estabilização da economia, em 1994, o mercado de meios eletrônicos de pagamento no Brasil vem crescendo em torno de 21,5% ao ano – e ainda tem muito espaço para avançar. Um exemplo disso é que, no quarto trimestre de 2013, os pagamentos com cartão ultrapassaram pela primeira vez os 30% de penetração no consumo das famílias. Embora significativo, o número indica que há um longo caminho a percorrer antes de o Brasil alcançar níveis de economias maduras, como a americana, em que essa relação está em torno de 45%. Em valores transacionados, o mercado de cartões movimentou, em 2013, 853 bilhões de reais, o que corresponde a um crescimento de 17,8% em relação ao ano anterior. As transações com cartão de crédito somaram 553 bilhões de reais, um avanço de 15,3%, enquanto as com cartão de débito totalizaram 300 bilhões de reais, crescimento de 22,5%. As perspectivas da Abecs para o mercado apontam para um faturamento de 1 trilhão de reais em 2014, marco histórico que só confirma a importância que os cartões ganham na vida dos brasileiros, com reflexos positivos para o país, como o aumento da formalização da economia, empregos, mais impostos e menos custos com a emissão de papel-moeda – além da influência positiva sobre o próprio crescimento econômico. A solidez econômica de um país se mede muito pela estrutura de seu sistema financeiro, que tem papel de destaque na alocação de recursos e o maior equilíbrio entre seus agentes. A maturidade do Sistema Financeiro Na38
cional é confirmada pelos dados divulgados em dezembro de 2013 pelo Banco Central, como evidencia a forte expansão do Saldo Total de Crédito Pessoa Física (livre + direcionado), que atingiu 1,25 trilhão de reais, um aumento de 16,3% em 12 meses. Desse total, 745 bilhões de reais foram de Recursos Livres, crescimento de 7,6% em relação a dezembro do ano anterior, enquanto o direcionado contribuiu com 506 bilhões de reais e um forte crescimento de 32%, influenciado pelos programas governamentais. Dentro da Carteira de Crédito Pessoa Física, o segmento de cartões de crédito vem se destacando não só pelo crescimento nos últimos anos, mas também pela dinâmica que vem desenvolvendo, com a utilização cada vez mais consciente por parte dos consumidores. Em dezembro de 2013, o saldo total da Carteira Cartão de Crédito somou 145 bilhões de reais, crescimento de 14,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, fazendo dos cartões a quarta maior carteira (perdendo apenas para Crédito Imobiliário, Pessoal e Veículos) dentro do total de Crédito Pessoa Física, atingindo uma representatividade de 11,6% – no mesmo período de 2007, a participação era de 9,7%. Esse crescimento é fruto do incremento da base de clientes e da forte inclusão de pessoas no sistema financeiro, além da maior aceitação de cartões em nichos não tradicionais. Quando se analisa a dinâmica dessa carteira, os resultados também são bastante satisfatórios. Em dezembro de 2013, no total da Carteira Cartões, enquanto o não finan-
ciado (à vista e parcelado sem juros) cresceu 17,5%, atingindo 108,6 bilhões de reais, o total financiado pelo rotativo apresentou saldo de 25,5 bilhões de reais, com uma permanente queda de sua participação no total da carteira; o parcelado com juros completou a carteira, apresentando um saldo de 10,6 bilhões de reais. Quando analisamos a participação dessas carteiras no total de Crédito Pessoa Física, vemos que o total da Carteira Cartão teve participação de 11,6%, sendo 8,7% do não financiado, 2% do rotativo e 0,9% do parcelado com juros – em dezembro de 2007, essa participação estava em 5,7% para o não financiado, 3% para o rotativo e 0,9% para o parcelado com juros. O expressivo crescimento da carteira não financiada, em detrimento da financiada, atesta a utilização cada vez mais saudável desse meio de pagamento por parte dos consumidores. Analisando as proporções dentro da Carteira de Crédito Cartões, em dezembro de 2013, 75% da carteira era composta por crédito à vista e parcelado sem juros, enquanto a parte financiada era composta por 18% para o rotativo e 7% para o parcelado com juros. Em dezembro de 2007, o não financiado representava 59%, enquanto o rotativo tinha uma participação de 31% e o parcelado com juros de 10%. Esses dados do Banco Central confirmam a mudança de comportamento dos usuários que usufruem cada vez mais o parcelamento sem juros, enquanto o crédito rotativo vem perdendo força ano após ano dentro da carteira, destacando sua característica de ser uma opção de financiamento mais restrito
a uso emergencial – segundo o próprio BC, as pessoas ficam, em média, apenas 18 dias nesse tipo de financiamento. Os dados de inadimplência reforçam as expectativas positivas para a indústria, com recuos consistentes, alcançando, em dezembro de 2013, patamares mínimos da série histórica, iniciada em março de 2011. Apoiada na melhor qualificação das novas concessões de crédito dos bancos, a taxa fechou 2013 em 6,4%, abaixo dos 6,7% da Inadimplência Pessoa Física e bem abaixo dos 8,5% de 2011. O otimismo desse dado vem acompanhado da queda na parcela da renda mensal comprometida com a quitação de dívidas, que registrou expressiva redução nos últimos meses, atingindo 21,5%, menor valor desde maio de 2011, sempre segundo dados do BC. O cartão de crédito é uma realidade na vida das pessoas, tanto no que diz respeito à sua maior utilização quanto, principalmente, na melhor utilização, confirmada pelos dados consolidados de 2013. A indústria caminha a passos largos, investindo para atender às necessidades de um consumidor que utiliza cada vez mais o cartão e seus diversos benefícios, como o parcelamento sem juros, a possibilidade de realizar compras não presenciais e os programas de recompensas. Cada vez mais presente no dia a dia dos brasileiros, o cartão tende a refletir no país as suas principais características – eficiência, modernidade e segurança –, avançando continuamente para satisfazer consumidores com a praticidade que nenhum outro meio de pagamento pode trazer. 39
BALANÇO 2013 + PROJEÇÃO 2014 Valor transacionado
Em seis anos, o valor total transacionado cresceu 152%
Evolução 2008-2013 e projeção 2014 (em bilhões de reais)
17,1% 1 trilhão
17,8% 853 725 614 498 338 108 228 2008 crédito
401
300
245
203
débito
15,2%
15,3%
161 411
337
2009
Em 2013, o valor transacionado atingiu 853 bilhões de reais, com crescimento combinado de 17,8%. Para 2014, o débito deverá manter a alta anual de mais de 20,6%, ao passo que o crédito seguirá crescendo mais de 15,2%. Com crescimento combinado projetado em 17,1%, a indústria brasileira de cartões deverá atingir a marca histórica de 1 trilhão de reais em valor transacionado.
362
22,5%
130 271
20,6%
2010
2011
480
2012
638
553
2013
2014*
*projeção
FONTE: ABECS
Participação dos cartões no consumo das famílias Evolução 2008-2013 (em percentual)
22%
18%
crédito
2012
2013
17%
16%
15%
2011
2008 total
40
13%
2009
12%
20%
2010
18%
28%
26%
24%
Em 2013, gastos com cartões corresponderam a 28% do consumo das famílias. No último trimestre do ano, a participação superou 30% pela primeira vez na história.
FONTES: ABECS E IBGE
A participação dos cartões nos gastos das famílias subiu 55% entre 2008 e 2013
Número de transações é 11,5 vezes superior ao de cheques compensados
Número de transações X cheques compensados Evolução semestral_ 1º semestre 2008-2º semestre 2013 (em milhões)
4,887 4,283 4,311 3,770 3,778 3,230 2,357 2,355
2,042
2,710
2,748
3,289
As transações com cartões continuam crescendo em função tanto do processo de substituição de cheques quanto da inclusão financeira no país.
701
694
618
616
560
559
508
503
458
456
416
422
1S08
2S08
1S09
2S09
1S10
2S10
1S11
2S11
1S12
2S12
1S13
2S13
número de transações
cheques compensados
FONTES: ABECS E BANCO CENTRAL
Valor das transações não presenciais
Número de transações
Evolução 2011-2013
(em milhões)
Evolução 2008-2013
(em bilhões de reais)
19,6% 21,4%
83,7
De 2008 a 2013, o total de transações aumentou 89%.
71,3
4.783 4.109
58,0
débito
crédito
2.905
10,7
2013
FONTE: ABECS
Compras não presenciais com cartões, com destaque para o e-commerce, somaram 94,4 bilhões de reais em 2013, ou 12% do total transacionado.
débito
crédito
2011
2012
3.522
2010
7,6
2.113
2.430
4.509
4.041 crédito 11,5%
crédito 11,6%
débito 16,7%
débito 16,4%
2013
débito 40,8%
2.684
3.150
2012
débito 8,6%
2.335
2009
2011
crédito 17,4%
2008
7,0
crédito 22,9%
3.624
FONTE: ABECS
Foram 9,3 bilhões de transações, 14% a mais do que em 2012 41
Tíquete médio deflacionado – cartão de crédito Evolução semestral_ 1º semestre 2008-2º semestre 2013 (em reais)
91,1
89,8
87,0
89,1 87,1
88,0
87,9
Dois fatores contribuem para a queda do tíquete médio: a inclusão financeira da classe C e a maior utilização do cartão de crédito para compras de itens de valor unitário baixo, como lanches e revistas.
84,6
1S08
2S08
1S09
2S09
1S10
2S10
1S11
2S11
1S12
2S12
1S13
2S13
FONTES: ABECS E IPCA-IBGE
Tíquete médio deflacionado – cartão de débito Evolução semestral_ 1º semestre 2008-2º semestre 2013 (em reais)
47,6
47,2 45,7
46,8
46,5
44,6
Com o forte crescimento do cartão de débito nas classes de baixa renda, ocorreu a efetiva substituição do dinheiro
44,3 43,6 1S08
2S08
1S09
2S09
1S10
2S10
1S11
2S11
1S12
2S12
1S13
2S13
FONTES: ABECS E IPCA-IBGE
Inclusão financeira contribui para a queda do tíquete médio Apesar do aumento do poder de compra do brasileiro, o tíquete médio deflacionado pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) vem caindo, tanto nos cartões de crédito quanto nos de débito. Isso é bom para o país e para o setor de cartões, pois reflete a maior inclusão financeira da população. “As pessoas ganharam renda e têm feito upgrades”, afirma Marcelo Noronha, Diretor Presidente da Abecs. Muita gente que estava fora do sistema bancário conquistou seu primeiro cartão, em geral de débito. Já quem tinha apenas cartão de débito passou a portar também um de crédito. E a frequência do uso
42
dos plásticos aumentou, como comprova a participação dos cartões no consumo das famílias, que atingiu 30% no quarto trimestre de 2013. “Hoje é comum pagar despesas de 10 reais ou menos com o cartão de crédito”, afirma Noronha, lembrando outro fator decisivo para a queda do tíquete médio: a maior aceitação de cartões em todo o país, sobretudo em empreendimentos de pequeno porte. Bancas de revistas, barracas de feira, lanchonetes e prestadores de serviço, como chaveiros, receberam boa parte dos 800 mil novos terminais de captura que as credenciadoras instalaram nos três últimos anos.
CREDENCIAMENTO Taxa de desconto – cartão de débito
Taxa mantém tendência decrescente. Valor por transação diminuiu, em linha com a queda do tíquete médio.
Evolução trimestral 2008-2013 (em percentual)
1,61%
1,60%
1,59%
1,59%
1,56% I
II
III
IV
I
2008
II
III
IV
I
II
2009
III
IV
I
II
2010
III
IV
I
II
2011
III
IV
I
II
2012
III
IV
2013
FONTE: ABECS
Taxa de desconto – cartão de crédito
A taxa de desconto no cartão de crédito apresenta queda consistente
Evolução trimestral 2008-2013 (em percentual)
2,98%
2,96%
2,91% 2,76% 2,79% I
II
III
IV
2008
I
II
III
IV
I
2009
II
III
2010
IV
I
II
III
2011
IV
I
II
III
IV
I
2012
II
III
IV
2013
FONTE: ABECS
Terminais de captura Evolução semestral 2011-2013 25
6,5 5,5 4,5 3,5
15,4 3,0
17,8
17,3
3.1
3,2
18,3
18,2
3,5
3,5
19,7 20
3,8
2,5
15
10
1,5 0,5 FONTE: ABECS
Alto investimento em infraestrutura gera modelo de negócio competitivo, inclusão financeira e oferta diversificada de produtos.
1S11
2S11
1S12
2S12
1S13
2S13
5
número de terminais (em milhões)
0
valor por terminal (em milhares de reais por mês)
43
CRÉDITO E CONSUMO Composição da carteira de crédito Pessoa Física Dezembro de 2013 (em percentual)
27,3%
Imobiliário
25,5%
Crédito pessoal
15,4%
Veículos
11,6%
Cartão de crédito
9,2%
Rural
Cartão de crédito (sem juros)
8,7%
Outros
8,0%* 3,0%
3,2%
Dez/2008
Dez/2007
3,0%
3,1%
*Cheque especial, arrendamento mercantil, desconto de cheques, crédito renegociado, microcrédito e outros direcionados. **Apenas com juros.
44
2,9%
2,6%
2,3%
FONTE: BANCO CENTRAL
2,0%
Dez/2013
0,9%**
Dez/2012
Cartão de crédito (parcelado)
Dez/2011
2,0%
Dez/2010
Cartão de crédito (rotativo)
Dez/2009
BNDES
Cartão de crédito é a quarta maior modalidade na composição da carteira de crédito
Carteira de cartão de crédito PF (sem juros X com juros) Evolução mensal março 2007-dezembro 2013 (em percentual)
Crescimento da carteira ocorre no total transacionado sem juros
52% 48%
75%
sem juros
com juros (inclui parcelado com juros e rotativo)
Dez/13
Mar/13
Jun/12
Set/11
Dez/10
Mar/10
Jun/09
Set/08
Dez/07
Mar/07
25%
FONTE: BANCO CENTRAL
Carteira de cartão de crédito Pessoa Física Evolução dezembro 2007 -dezembro 2013 (em bilhões de reais)
10,6 8,1%
9,8 25,5
8,9
4,6%
24,3
6,9
O crescimento da carteira de crédito de cartões se dá principalmente nas transações com pagamento à vista ou parcelado.
24,1 6,1
22,3 17,5%
5,2 4,0
19,6
108,6 92,4
16,9 70,9
13,1
81,0
54,1 37,3
24,7 Dez/07
Dez/08
carteira sem juros (à vista)
Dez/09
Dez/10
crédito rotativo
Dez/11
Dez/12
Dez/13
crédito parcelado
45
Inadimplência Pessoa Física (geral e cartões) Evolução mensal fevereiro 2011-dezembro 2013
Há um alinhamento da inadimplência geral e da de cartões de crédito a partir do fim de 2012
(em percentual)
8,9%
8,8%
8,7%
8,7% 8,0%
7,6%
8,2%
8,2%
8,0%
7,2%
7,8% 7,3%
7,4%
6,7%
inadimplência pessoa física
Out/13
Ago/13
Jun/13
Abr/13
Fev/13
Dez/12
Out/12
Ago/12
Jun/12
Abr/12
Fev/12
Dez/11
Out/11
Ago/11
Jun/11
Abr/11
Fev/11
inadimplência em cartões de pessoa física
Dez/13
6,4%
6,3%
FONTE: BANCO CENTRAL
Comprometimento de renda das famílias X endividamento Evolução mensal janeiro 2010-janeiro 2014 (em percentual) 48
26
46
24
44
22
42
20
40 18 38 16
36
14
34
endividamento
46
comprometimento
Jan/14
Jan/13
10 Jan/12
30 Jan/11
12
Jan/10
32
FONTE: BANCO CENTRAL
Reversão do comprometimento das famílias com crédito permite queda da inadimplência. Crescimento do endividamento prossegue com expansão de crédito habitacional e de veículos.
Tempo de permanência no rotativo Evolução mensal maio-dezembro 2013 (em dias) 27 24
21
21
18
18
Consumidor que entra no rotativo fica, em média, apenas 18 dias, comprovando que se trata de um crédito emergencial
15 12 9 6 3
Dez/13
Nov/13
Out/13
Set/13
Ago/13
Jul/13
Jun/13
Mai/13
0
FONTE: BANCO CENTRAL
Recompensas Evolução trimestral 2011-2013 (em milhões de reais)
2,4 bilhões de reais
631
578
669
580
Em 2013, programas de recompensa transferiram mais de 2,4 bilhões de reais para os portadores de cartão
530
515
565
464
554
480 445 381 I
II
III 2011
IV
I
II
III 2012
IV
I
II
III
IV
2013
FONTE: ABECS
47
#MEMÓRIAS DO CARTÃO
Crônica sobre um passado nem tão distante assim
Lista negra e morna Nos anos 1980, quando não havia comunicação instantânea, um dos principais instrumentos de combate à ação de estelionatários era a produção diária de um livreto com a relação numérica dos cartões de crédito fraudados POR
Roberto Guimarães
ILUSTRAÇÃO
Juliana Vomero
Sabe aqueles dias em que a gente acorda melancólico, reclamando da vida e com a certeza de que o Brasil e o mundo estão piores do que nunca? Nem tente se indignar, achando que isso só acontece com os outros. Todo brasileiro adulto relativamente letrado tem esses surtos depressivos, que também podem irromper durante o dia, às vezes nas ocasiões mais inoportunas. Um bom antídoto para esses momentos desagradáveis é acionar a memória ou perder uns minutinhos para fazer um breve tour ao passado. Como seria covardia retroceder a 1964 – quando o Ocidente cindido entre capitalistas e comunistas vivia sob a paranoia de uma terceira guerra mundial, nuclear e possivelmente definitiva, e o Brasil era sacudido por um golpe militar que privaria o país de democracia por longos 25 anos –, proponho um passeio pela década de 1980. Nas principais cidades brasileiras, a justificada alegria com a abertura política era solapada pelo protagonismo de um bicho que soltava fogo pelas ventas, o caricato dragão da inflação. Para coroar uma década de atuações inigualáveis, injustamente não premiado com seguidos Oscar de “defeitos especiais”, em abril de 1990 o IPCA acumu48
lado em 12 meses atingiu inacreditáveis seis mil, oitocentos e vinte e um por cento – isso mesmo, 6.821%! Não à toa, a trilha sonora mais popular no varejo era o batuque metálico das maquininhas de remarcar preços, que trabalhavam em regime análogo à escravidão. Como ninguém sabia o preço das coisas, a indústria brasileira de cartões de crédito se desenvolvia graças ao heroísmo quase quixotesco de profissionais abnegados. Algumas de suas mais árduas batalhas tinham como objetivo combater a ação de fraudadores. Na Credicard, por exemplo, todas as manhãs um pequeno exército de motoboys singrava as ruas de São Paulo para distribuir a edição diária da Lista Negra, livreto com a relação numérica dos cartões que tinham sido fraudados. Ainda morna por ter acabado de sair da gráfica, a Lista Negra atualizada era jogada por baixo da porta das lojas antes que o primeiro cliente (ou estelionatário) encostasse a barriga no caixa. Como existia um gap entre descobrir a fraude e imprimir os livretos, nem sempre o hercúleo esforço evitava a ação dos bandidos. Certeza, apenas uma: no fim do expediente, os livretos tornavam-se inúteis e iam direto para o lixo – que, obviamente, não era reciclado.
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