razão
emoção prazer
A indústria automotiva evolui muito rápido
# 11 03 2010
devaneio
GUTO CARVALHO
A indústria automotiva evolui muito rápido
Mas nĂŁo se preocupe: estamos sempre um pouquinho Ă frente para garantir que vocĂŞ seja o primeiro a saber das novidades
GUTO CARVALHO
expediente Eurobike magazine é uma publicação do Grupo Eurobike de concessionárias Audi, BMW, Land Rover, MINI, Porsche e Volvo. Av. Wladimir Meirelles Ferreira, 1600, CEP 14021-630 - Ribeirão Preto - SP Tel.: (16) 3965-7000 www.eurobike.com.br | www.eurobikemagazine.com.br contato@eurobikemagazine.com.br
Ombudsman Patricia Braga www.eurobike.com.br/ouvidoria (11) 3627-3020
Editorial: Heloisa C. M. Vasconcellos, Eduardo R. da C. Rocha Direção de arte: Eduardo R. da C. Rocha Coordenação e produção gráfica: Heloisa C. M. Vasconcellos Administração: Nelson Martins Comercial: Eduardo Rocha Preparação e revisão: Denis Araki Produção: blue media
Foto da capa: Giacomo Favretto
colaboradores
Aires Vigo, Angelita Gonçalves, Carol Da Riva, Carol Ribeiro, Duzzek Alves, Eduardo Petta, Giacomo Favretto, Guto Carvalho, Marcelo Curia, Mariluza Costa, Marisa Cauduro e Percy Faro
Tiragem desta edição: 11.000 exemplares Impressão: Ipsis Distribuição: Eurobike Proibida a reprodução, total ou parcial, de textos e fotografias sem autorização da Eurobike. As matérias assinadas não expressam, necessariamente, a opinião da revista.
www.bluemediagroup.com.br
4 . Eurobike magazine
carta do editor
Caro leitor, 2010 será repleto de atrações nas concessionárias Eurobike: BMW série 5, série 5 GT e X1, Land Rover Discovery 4, novos Range Rover, Porsche Panamera, Cayenne, novo Volvo C30, e também os MINI Cooper. A Audi desembarca o novo A8 e o novíssimo A5 Sportback. Venha conhecer, fazer test drive, conversar com a gente. São muitas opções, para todos os perfis! Nesta edição gostaríamos de apresentar o Dr. Aires Vigo, o mais novo colunista da Eurobike magazine. Ele trará informações importantes ligadas à área de negócios, sob a ótica jurídica. Bem-vindo, Dr. Aires. E por falar em negócios, Evelyn Ioschpe – presidente da Fundação Iochpe, propõe uma nova forma de relacionamento entre o empresariado e o terceiro setor, baseada em eficiência e resultados. Prática fundamental em tempos de sustentabilidade. Ambientamos o Boxster S em meio à coleção de carros e “brinquedos” do Giacomo Favretto – e não é que harmonizou perfeitamente? Como disse o fotógrafo, esse carro já nasceu colecionável. Para o prazer, livros e vinhos. Dê uma olhada na livraria Lello, de Portugal, que é considerada uma das mais bonitas do mundo. Com toques de vinho e azeite então... E para devanear, belas fazendas do interior de São Paulo onde é possível se hospedar, ouvir histórias e desfrutar do “tempo da casa da avó”. Boa leitura. Um grande abraço, Henry Visconde Diretor Presidente magazine@eurobike.com.br
Eurobike magazine . 5
# 11 03 2010
10. razão 12. Olhar empreendedor 20. Eurobike MINI em Porto Alegre
24. Aires Vigo
6 . Eurobike magazine
26. emoção 28. Boxster S por
Giacomo Favretto
40. Fábrica de mitos 42. Eurobike Adventure Trip
52. prazer 54. Entre livros e vinhos
66. devaneio 68. Refazenda
Eurobike magazine . 7
empório
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MARISA CAUDURO
10 . Eurobike magazine
razão
Fazer valer todo e qualquer investimento Ampliar o alcance da ação Eficácia é preciso!
Eurobike magazine . 11
raz達o
12 . Eurobike magazine
Olhar empreendedor Investimento social com eficiĂŞncia POR MARILUZA COSTA | FOTOS MARISA CAUDURO
Eurobike magazine . 13
razão Não surpreendem as respostas e conceitos bem articulados da presidente da Fundação Iochpe e diretora do Instituto Arte na Escola, Evelyn Berg Ioschpe. Quero entender os princípios fundamentais para a boa gestão no Terceiro Setor, mas a conversa, numa casa de vila nos Jardins, em São Paulo, volta ao passado. Ela tinha entrado para o curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) quando passou, em primeiro lugar, no vestibular para Jornalismo da PUC/RS. “Até hoje gosto de escrever”, afirma a autora de inúmeros artigos. Aos dezoito anos, cursando duas faculdades, começou a trabalhar na área de comunicação: escrevia colunas em jornais, como Correio do Povo e Zero Hora, e foi produtora de televisão. Interesse, esforço e dedicação não eram novidades para a filha de judeus que fugiram da Alemanha nazista. Kurt e Elisabeth Berg chegaram a São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial e ele logo conseguiu emprego na fábrica de brinquedos Estrela. Pouco depois, foi transferido para Porto Alegre. Trabalho voluntário e filantropia faziam parte do cotidiano da família Berg, que ajudava idosos da comunidade judaica. Quando Evelyn se mudou para São Paulo, com o marido e os dois filhos, já tinha uma longa trajetória de realizações na área uma atuação marcante”, afirma. No es-
cursos”, conta. O terreno doado pela
tado carente de creches, ela lançou o
prefeitura de Viamão (RS), ao lado de
projeto para a construção de cem uni-
uma universidade, permitiria fazer da
dades. “Foi uma experiência rica, onde
creche um campo de estudos com a
Na equipe de assessores do Palácio Pi-
aprendi com os erros e acertos”, ad-
participação de alunos. Junto à socie-
ratini, no centro de Porto Alegre, Evelyn
mite Evelyn, que participou de todas as
dade civil, Evelyn angariou fundos para
percebeu que aquela primeira-dama iria
etapas. Quando o trabalho acabou, ela
construir o prédio do Lar da Criança
fazer a diferença. “Ecléia Guazelli sempre
decidiu criar uma instituição no padrão
Anne Frank, que abrigaria setenta crian-
foi uma mulher ativa, com luz própria,
desenvolvido. “Comecei constituindo a
ças. Mas, no dia da inauguração, ficou
mobilizada para o trabalho social e com
entidade, arregimentando forças e re-
chocada com a reação das mães. Em
social. Havia pedras no caminho
14 . Eurobike magazine
Um dos maiores desafios na área social é medir os resultados, a eficiência da ação. “Com avaliações e monitoramento é possível verificar o retorno.” O lucro social existe na medida em que as condições de vida melhoram.
vez de aplaudir, elas apedrejaram o edifício. A
comunidade e entender a cultura local. Tam-
de qualquer maneira. Quando entregamos
vontade de entender aquela atitude foi mais
bém foi um erro entregar o prédio concluído
uma obra perfeita, com qualidade, estamos
forte do que o ímpeto de desistir. Em reunião
para uma comunidade que construía suas
dignificando quem a recebe”, afirma. Com o
com o Clube de Mães ela descobriu que as
casas aos poucos. Evelyn constatou a im-
tempo, os moradores entenderam a propos-
mulheres queriam emprego, mas não havia
portância do apoio de uma entidade religiosa
ta, que incluía só aceitar filhos de mães que
vagas porque os funcionários eram cedidos
que já tem estrutura para cumprir sua mis-
trabalhassem, para incentivá-las a progredir.
pelo município. A experiência, em 1982,
são junto à comunidade. E percebeu como
“Um problema na educação brasileira é que
ensinou que para um empreendimento social
é importante seguir um padrão de projeto. “É
as crianças não conseguem sair da primeira
dar certo não basta ter localização perfeita e
equivocado achar que para os pobres vale
série, mas as que passam por uma creche
boas parcerias, é preciso entrar no espírito da
tudo, como objetos usados e serviços feitos
têm mais chances”, afirma Evelyn. Ela teve
Eurobike magazine . 15
razão certeza que seu trabalho ajudou a comunidade quando foi recebida durante visita à creche por uma professora que foi um dos primeiros alunos. Reflexões que geram mudanças Evelyn Ioschpe entrou para o mundo das artes conduzida pela artista plástica e amiga Zoravia Bettiol. Como voluntária da Associação Chico Lisboa ajudou a impedir que a Usina do Gasômetro fosse demolida. O edifício, à beira do Rio Guaíba, hoje se destaca como um dos principais pontos culturais da capital gaúcha. Em seguida, a Associação indicou seu nome para dirigir o Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs). Naquele museu enorme, com setenta funcionários, ela começou a entender o papel das artes na educação e a se perguntar de que maneira as crianças poderiam aproveitar melhor o local. E foi aprender sobre material didático num curso na Universidade de York (EUA). Quando participou da Comissão dos 300 anos das Missões Jesuíticas, no Rio Grande do Sul, a pergunta foi outra: como um patrimônio histórico poderia gerar riqueza para a região? Para os projetos que desenvolvia, Evelyn contava com o patrocínio de várias empresas, entre elas a Iochpe-Maxion. Em 1989, o grupo decidiu criar uma fundação e a chamou para participar. Depois de promover vários eventos, a Fundação Iochpe decidiu investir em programas de longo prazo que contribuíssem para o desenvolvimento do país. O desafio foi conseguir o apoio de outras instituições e empresas, vencendo a desconfiança.
16 . Eurobike magazine
O ambiente de trabalho ensina A Fundação Iochpe mantém dois grandes projetos: cursos técnicos para adolescentes e formação de professores de artes da rede pública. O Formare nasceu espontaneamente, em 1988, quando o diretor de uma fábrica em Canoas (RS) decidiu dar uma oportunidade aos meninos da vizinhança e escalou um funcionário para dar aulas durante o expediente. “Me pediram para conhecer o programa e eu achei muito interessante. O funcionário ensinava todas as matérias para formar torneiros mecânicos”, conta Evelyn. Ela se cercou de consultores e formatou o modelo do curso para levar às outras fábricas do grupo, em São Paulo e Minas Gerais. Durante um ano, os jovens de 15 a 17 anos estudam, almoçam, lancham na fábrica, têm seguro de saúde e a opção de uma bolsa de meio salário mínimo. Eles devem estar matriculados na escola pública e ser de família com renda de meio salário mínimo. “Vamos às casas dos alunos e gravamos em vídeo a situação em que eles vivem, em barracos sem reboco, com certeza numa favela, mas não são miseráveis.” Com 30% de horasaula além do que exige o Ministério da Educação e apenas dez alunos por turma, o curso mantém a qualidade de ensino. “Se o aluno não sabe português e matemática não adianta dar o conteúdo técnico que ele vai ter dificuldades mais tarde”, explica Evelyn. As aulas são na fábrica porque o ambiente de trabalho ensina, segundo ela. Uma pesquisa verificou a eficiência: enquanto a média de empregabilidade da faixa etária é de 35%,
“É preciso substituir o assistencialismo pela promoção do desenvolvimento sem criar dependência.”
Eurobike magazine . 17
razão
medir os resultados, a eficiência da ação.
têm mais dinheiro, mas nós temos mais o
“Com avaliações e monitoramento é possível
que mostrar, como o voluntariado empresa-
verificar o retorno”, afirma. O lucro social
rial, em que o empregado colabora durante o
existe na medida em que as condições de
expediente”. Evelyn afirma que os brasileiros
entre os alunos do Formare sobe para 80%.
vida melhoram. No projeto Formare, a em-
são generosos, capazes de se doar para o
Além disso, eles se mantém no mercado,
pregabilidade é uma forma de avaliação.
trabalho voluntário sistemático, mas as em-
crescem profissionalmente e aumentam a
Já no Arte na Escola, a tarefa é mais difícil,
presas precisam se abrir mais para isso.
renda. Em 21 anos, o Formare capacitou 7
porque faltam critérios. “Os critérios usados,
mil alunos.
que avaliam se o aluno desenha bem ou
Sem criar dependência
mantém o material em ordem, estão longe Depois de dez anos nas fábricas da Iochpe,
de ser medidas científicas na arte”, declara.
Para melhorar as condições de vida das pes-
do ramo de metalurgia, o Formare foi expan-
soas é preciso substituir o assistencialismo
dido para outros setores como a primeira
pela promoção do desenvolvimento sem
franquia social do país. “Foi um grande
criar dependência. Evelyn acredita que não
pulo, saímos de três unidades para setenta”,
exista mais espaço para projetos que não
comemora Evelyn. São 130 tipos de cur-
sejam replicáveis, que não se sustentem
sos em empresas como Suzano, Ericsson,
em longo prazo. “Uma ONG, um instituto ou
Coteminas e Aché. A Fundação fornece o
uma fundação não devem ser criados com
modelo de curso e o material didático e cabe
o objetivo de doar, porque o conceito não é
às empresas oferecer espaço físico, profes-
mais ser um ‘doador’ mas um ‘investidor so-
sor e os outros itens. “O mais difícil é con-
cial’”, afirma. O dinheiro deve ser usado para criar riqueza, multiplicar ações e fazer a co-
seguir a liberação do funcionário em horário de expediente”, revela. O Formare não aceita
Nasce o voluntariado empresarial
munidade progredir e andar com as próprias pernas. A área de educação é a que tem
fábricas de cigarro, armamentistas ou que poluem. “Quando constatamos que o local
Evelyn Ioschpe foi a primeira presidente do
se mostrado mais capaz de mudar alguma
não é adequado, rejeitamos a empresa”, ex-
Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
coisa e é a que recebe mais investimentos. O
plica.
(Gife), criado em 1989, que mudou conceitos
volume poderia ser maior se houvesse uma
e definiu o universo do Terceiro Setor no Bra-
política de incentivos, como uma Lei Rouanet
sil. “Lutamos para estabelecer a diferença
para o social. O desembolso anual do grupo
entre o trabalho das Fundações e o marke-
Iochpe-Maxion, no valor de R$ 4,3 milhões,
O projeto Arte na Escola foi criado há dez
ting cultural”, explica. O marketing cultural
para os projetos da Fundação, não pode ser
anos e está em cinquenta universidades
serve para empresas que buscam benefícios
abatido do Imposto de Renda.
brasileiras. Evelyn acredita que é preciso for-
imediatos. Já as Fundações fazem um in-
mar leitores para a arte e a cultura — e a
vestimento social de longo prazo, sem visar
O espírito artístico e empreendedor de Eve-
capacitação dos professores é um desafio
lucros econômicos. Nos Estados Unidos o
lyn Ioschpe fez escola dentro da família. A
adicional. A arte estimula o pensamento
conceito é “filantropia”, com o caráter assis-
filha, de 34 anos, é design de joias. O filho,
lateral, uma das condições fundamentais
tencialista tradicional dos norte-americanos.
de 32 anos, é economista especializado em
para o desenvolvimento. “Entendemos que
No Brasil, sem muito dinheiro, era preciso
educação e escreve artigos sobre o setor. O
o trabalho precisa desse adicional de cria-
encontrar outras formas de envolvimento,
marido empresário, Ivoncy Ioschpe, é presi-
tividade para que a indústria brasileira possa
além das doações. Este caminho, segundo
dente do Conselho da Fundação Iochpe e
se desenvolver”, afirma. Ela cita a corrida es-
Evelyn, se revelou uma arma poderosíssima.
“superentusiasta dos projetos”, revela Eve-
pacial como exemplo: os russos tomaram a
Ela avalia que as empresas brasileiras ainda
lyn. Para esta apaixonada pelo conheci-
dianteira porque foram estimulados pela arte
não estão prontas para o empreendedorismo
mento e pelas transformações, a poesia de
a ter mais criatividade. Albert Einstein já dizia
social e muitas não têm sequer políticas inter-
um famoso conterrâneo diz tudo: “Se coisas
que “a imaginação é mais importante que o
nas para promover seus empregados. Mas,
são inatingíveis, ora! / Não é motivo para não
conhecimento”.
entre os países da América Latina, o Brasil
querê-las./ Que tristes os caminhos, / Não
está na frente. Em relação aos EUA, matriz
fora a mágica presença das estrelas.”
dessas ideias, há algumas diferenças: “Eles
Mario Quintana
A arte expande a mente
Um dos maiores desafios na área social é
18 . Eurobike magazine
BMW MOTORRAD
Sinfon ia d e A d ren a lin a K 1300 S
Duração: 2,8 s
Acelerando
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razão
Porto Alegre recebe a primeira concessionária Eurobike MINI FOTOS MARCELO CURIA
Em clima de festa brasileira para recepcionar os recém-chegados ingleses, o Grupo Eurobike inaugura mais uma concessionária e traz para os consumidores gaúchos os divertidos e cobiçados MINI Cooper Às vésperas da chegada de 2010, a Eurobike
Com suspensão estável, baixo centro de
MINI de Porto Alegre abre suas portas em
gravidade, caixa de câmbio curta e rápida,
grande estilo. Ao som de clássicos do rock
aceleração vigorosa, o MINI Cooper é um
britânico, show da banda Sunset Riders,
esportivo surpreendente.
espetáculo circense, performance do YOU &
20 . Eurobike magazine
ME Liveonstage e a DJ Sabrina Tomé, que
Todos os modelos – Hardtop, Cabrio e
veio do Rio de Janeiro para o evento, mais
Clubman – possuem Sistema de Freio Anti-
de 300 convidados se encantaram com os
Bloqueio (ABS), Controle de Frenagem
novos inglesinhos. Objetos de desejo que
em Curva (CBC), Controle Eletrônico de
agora já estão disponíveis para os brasileiros,
Frenagem (EBD) e Assistente de Frenagem
loucos por uma novidade. E que novidade!
de série. Super seguros.
razão
“Não estamos apenas trazendo uma nova marca para o Rio Grande do Sul. Estamos apresentando um novo conceito de carro aos gaúchos”, diz o sócio-diretor da Eurobike, Aldo Biasetton, referindo-se ao conjunto de fatores que envolvem a fabricação e comercialização do veículo. Além de seguros, são carros totalmente adaptados para os novos tempos: bai-
O cardápio da festa – criação e produção do
xíssimas emissões de CO2. Nesse sentido,
Mule Bule – misturava sabores e referências
até o projeto da loja, assinado pelo ar-
brasileiras e inglesas. Entre scotches e
quiteto
caipirinhas,
Ricardo
Tramontina,
de
Porto
quitutes
como
mini
bocks
Alegre, foi concebido sob os preceitos da
recheados com purê de batatas, arroz
sustentabilidade.
negro com pêras, crostines e scones, doce de origem britânica. Tudo em perfeita
E as cores inusitadas, o design moderno de ar retrô? Em se tratando de modelos compactos, “não tem pra ninguém”.
22 . Eurobike magazine
harmonia.
razão AIRES VIGO
Estrutura societária
— holding controladora e holding patrimonial promover investimentos na empresa, pois é
penhora em razão de eventual dívida contraída
no bojo da controladora que se discute e se
pelo herdeiro. Reserva-se o usufruto em
Antes de adentrarmos no tema em questão,
desenvolve toda uma política de gestão da
favor do sócio ou acionista, que terá direito
permitimo-nos esclarecer que, doravante,
empresa e de boas práticas de governança
à administração da sociedade e participação
estaremos ocupando um espaço nesta
corporativa.
(total ou parcial) na distribuição dos lucros.
importante
revista,
onde
Neste caso, será importante também a
pretendemos
discorrer, através de uma linguagem simples,
Portanto, é também através do veículo
instrumentalização de acordo de quotistas
sobre diversos temas de natureza jurídica-
holding controladora, no bojo de acordo de
ou acionistas, pois é aí que se estabelece
empresarial.
quotista ou de acionista, que se estabelece
a forma de gestão que se pretende para
os ajustes que são feitos entre os sócios
a empresa, preparando-a para os futuros
Nossa responsabilidade, temos ciência é do
ou acionistas que definem as diretrizes da
donos, no caso, os herdeiros e sucessores.
tamanho da importância dos clientes Euro-
empresa, bem como os limites e parâmetros
bike, pessoas informadas, empreendedoras
dos seus executivos.
Outro ponto importante que decorre da holding patrimonial refere-se ao planejamen-
e exigentes. Esse modelo de gestão empresarial, aliás já
to fiscal que poderá ser levado a efeito, pois
É muito comum nos dias de hoje que
adotado pelo Grupo Eurobike, vem sendo
toda a receita auferida através do patrimônio
empresas, independente do porte ou de sua
utilizado com larga frequência, viabilizando,
da empresa sofrerá tributação menor se
natureza jurídica (sociedades empresariais
sobretudo, o acesso a capital de investidores
comparado a este recebimento pela pessoa
limitadas ou sociedades anônimas), utilizem-
nacionais e internacionais.
física do proprietário.
lado, é muito comum também que os sócios
Com relação à holding patrimonial, embora
Assim, a conferência do patrimônio da
ou acionistas, gestores que exercem cargos
a formatação seja parecida, o objetivo é
pessoa física do controlador ou gestor em
de administração, utilizem-se da figura da
completamente diferente. Aqui se procura
favor da sociedade é condição sine qua non
holding patrimonial.
separar e proteger o patrimônio do con-
para a formatação deste modelo.
se da figura da holding controladora. De outro
trolador-gestor, de forma a evitar que haja A formatação desses veículos é muito
risco futuro de comprometimento desse
Portanto, embora a formalização dos veículos
parecida, porém, a estrutura e a razão de ser
patrimônio pessoal. E mais, além do aspecto
seja parecida, constata-se que os objetivos
são muito diferentes.
da proteção patrimonial, aproveita-se o
são completamente diferentes.
veículo para preparação da sucessão, com No caso da holding controladora, temos um
a transferência de parte ou da totalidade do
Aires Vigo é advogado empresarial, com escritório
excelente instrumento de desenvolvimento
patrimônio (aqui representado por quotas
em Ribeirão Preto e São Paulo
de governança corporativa, que objetiva
ou ações) em benefício dos herdeiros ou
criar os mecanismos de segurança e
sucessores, com cláusulas que impedem
transparência para os sócios ou acionistas,
a comunicação do patrimônio ao cônjuge
principalmente para aqueles que pretendem
do herdeiro e, ainda, a incidência de futura
24 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 41
GIACOMO FAVRETTO
26 . Eurobike magazine
emoção
Qualquer coisa de cinematográfico Um quê de aventureiro Quem disse que carros não têm alma?
Eurobike magazine . 27
emoção
28 . Eurobike magazine
Já nasceu colecionável.
Boxster S, por Giacomo Favretto Quando entramos no espaço reservado para a coleção de carros e objetos de design americano dos anos 1950 de Giacomo Favretto, imediatamente imaginamos lá, como um item da coleção, o Boxster S. O carro chegou, se acomodou, se ambientou perfeitamente, tudo ficou homogêneo. Nasceu clássico, indiscutivelmente. Eurobike magazine . 29
emoção
30 . Eurobike magazine
Poderia ser a garagem
de
James Dean
Eurobike magazine . 31
emoção
Totalmente inspirado no 550 Spyder, o Boxster S evoca o clima de competição nas pistas, com sofisticação e desempenho de esportivo
32 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 33
emoção
34 . Eurobike magazine
genuĂno roadster : leve, ĂĄgil, motor central Um
Eurobike magazine . 35
emoção
O carro que veste o motorista
36 . Eurobike magazine
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emoção
Diversão de
gente grande 38 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 39
emoção
Fábrica de mitos
competições de carros esporte e depois adaptado para uso em ruas; o Boxster já
POR PERCY FARO
chegou com todos os requintes de sofisticação e desempenho que um passeio exige. Embora nascidos em épocas diferentes, o parentesco entre um e outro é evidente. Lançado no final de 1996, o Boxster fez rápido sucesso como clássico dos tempos modernos. Repetiu, portanto, o feito do Spyder 50 anos atrás que, aliás, foi comemorado com o lançamento da versão Boxster S, o mais potente da linha. Denominada “50 Anos de 550 Spyder”, a edição foi limitada a 1.953 AUTOBLOG
unidades — alusão ao ano de nascimento do homenageado. Equipado com caixa de câmbio manual de 6 marchas, o Boxster S acelera de 0 a 100 km/h em 5,9 segundos. A última geração do Há quem garanta que a Porsche prepara
por Ferdinand e Ferry Porsche em produzir
motor boxer de 3,4 litros, com injeção direta
para 2013 o retorno do mito, o 550 Spyder.
bólidos de prestígio. Prova da identidade
de combustível, gera 310 cv de potência que,
Respeitado mundialmente pelas vitórias nas
própria que a marca consolidou em mais de
combinados com a relação peso-potência
pistas, também ganhou fama por ter sido o
seis décadas de existência está estampada
de 5,2 kg/cv, oferece ao condutor máxima
carro em que o ator americano James Dean
na mensagem quando da criação de outro
dinâmica ao dirigir. Por isso mesmo, entre
faleceu em 1955, ao bater em outro veículo.
modelo: “O melhor exemplo de que na
aqueles que já dirigiram o Boxster S, uma
Desde que apareceu em público pela
Porsche é sempre possível melhorar é o
opinião é unânime: a posição de pilotar é
primeira vez, no Salão de Paris em 1953,
Boxster S, que interpreta o conceito roadster
típica dos Porsche, o carro veste o motorista
ele demonstra com competência, a exemplo
de uma forma mais atlética, intensiva e
com extrema facilidade, como se tivesse sido
dos demais modelos projetados na casa de
eficiente”, disse o construtor de esportivos
feito sob medida!
Stuttgart, a paixão pela alta performance,
premium.
filosofia fundamentada no desejo do homem de ultrapassar, sempre, suas próprias
Spyder 550 e Boxster S são resultados de
conquistas.
um único desejo e compartilham alma e
Na realidade, os amantes da era moderna do
leve e ágil motor central traseiro — marca de
automóvel assistem a um refinado espetáculo
um genuíno roadster (conversível esportivo
que projeta o perfeito equilíbrio entre prazer ao
de dois lugares). A configuração de seis
dirigir, esportividade, velocidade e segurança
cilindros contrapostos cria um baixo centro
veicular, encenado numa fábrica de mitos.
de gravidade — característica marcante de
Com mais de meio século de vida, o 550
um Porsche. A principal diferença entre eles
Spyder é fonte permanente de inspiração, elo
está na função para a qual cada um nasceu.
de ligação da evolução do sonho idealizado
O 550 Spyder foi concebido a partir das
40 . Eurobike magazine
PORSCHE PRESS
energia similares. Isto é logo identificado pelo
Eurobike magazine . 41
emoção
Eurobike Adventure Trip Clientes da marca Land Rover percorrem as trilhas da Serra da Canastra, paraíso do ecoturismo
POR ANGELITA GONÇALVES | FOTOS DUZZEK ALVES
42 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 43
emoção
Partindo de Ribeirão Preto rumo à Serra da Canastra, no sul de Minas Gerais, 21 Land Rovers cruzaram de balsa o Rio Grande, na altura da Represa de Peixoto e chegaram em Delfinópolis, a 180 km de Ribeirão Preto e 424 km de São Paulo. O jantar de recepção, na sexta-feira, preparado na Estância Girassol, marcou o início do roteiro pela Serra Preta, ao redor do Parque Nacional da Serra da Canastra, por dois dias em meio às belezas naturais. naturais. Além do desejo de visitar cachoeiras e mais cachoeiras, que são as grandes atrações da região, a expectativa dos mais de setenta turistas era sentir o desempenho e conforto proporcionado pelos modelos Land Rover nas estradas esburacadas. Essa foi a proposta do 1º Eurobike Adventure Trip. Idealizado pela concessionária Eurobike 44 . Eurobike magazine
de Ribeirão Preto, o intuito do evento foi reunir os amantes da marca Land Rover e suas famílias para curtir um fim de semana descontraído no paraíso do ecoturismo. “Propusemos um roteiro com estradas esburacadas, em que um carro convencional não passa, para o cliente perceber a potência, conforto e tecnologia presentes no 4x4 mais luxuoso do mundo”, afirma Guilherme Passalacqua, gerente comercial da Eurobike de Ribeirão Preto. “Além do belíssimo visual do alto da serra e fácil acesso partindo de Ribeirão, escolhemos Delfinópolis por proporcionar um trajeto off-road, sendo uma oportunidade para curtir a natureza e orientar os clientes Land Rover sobre técnicas de conduta e recursos do carro, que é um ícone na história do automobilismo 4x4”, explica o organizador do evento, Sérgio Miranda. Ele destaca que atenção e segurança são fatores fundamentais para não danificar o veículo. Durante todo o trajeto
Fernando Torres e Fernanda Paixão
Eurobike magazine . 45
emoção
Miranda ressaltava: “é preciso controlar a ansiedade”. A manhã ensolarada do sábado convidava a todos para iniciar o trajeto do dia, tendo como destino final a Cachoeira do Ouro. Depois de um delicioso café da manhã, incluindo queijo fresco e pão de queijo mineiro, todos seguiram em comboio pelo campo cerrado. No caminho do Vale da Gurita o mirante com vista para a represa do Rio Grande, os paredões de pedras, as corredeiras do Santo Antônio e a vista privilegiada da Serra da Canastra instigava a tirar fotografias. Uma parada rápida na ponte pênsil Indiana Jones foi o suficiente para uma dose alta de adrenalina. Os que arriscaram a travessia tiveram oportunidade para testar o equilíbrio. A trilha continua e a estrada mostra algumas surpresas. Poças de lama, terreno defeituoso, descidas íngremes e riachos no meio da estrada deram mais emoção ao trajeto. Depois de rodar 30 quilômetros, a turma teve acesso a pé, por uma trilha pela mata, à Cachoeira do Ouro, que é formada por três quedas, cada qual com seu poço, totalizando 25 metros de queda d’água. Águas claras e geladas contrastam com o cerrado seco e suas árvores torcidas. E depois de muito sol e caminhada, nada melhor do que uma
46 . Eurobike magazine
comida caseira e quentinha que, por sinal,
rodar, transpor limites e utilizar os recursos
estava uma delícia.
eletrônicos disponíveis no 4x4. Por isso, não
Página anterior: Armelinda e Buzatto, experientes off-roaders
há nada melhor do que ver um carro atolado.
O Guia Jezo em entrevista à Vitório Pagliuso
Enfrentar trilhas esburacadas e trechos de
Todo mundo torce para ver isso aconte-
lama constituem um dos ingredientes essen-
cer porque é sensacional”, opina o piloto do
ciais do passeio off-road. Mas aqueles que
Range Rover Sport Diesel, Fernando Marin
se atrevem a passar por esses caminhos
Torres, que não poupou elogios à organiza-
estão sujeito a atolar, no entanto, não pense
ção do evento.
Acima, à esquerda: Fabiano Ruiz À direita: Edgar Laureano e Mariana
que isso é um incidente desagradável. Pelo contrário, é uma dose a mais de aventura.
Para delírio dos apaixonados por obstáculos, o Defender 2003 prata encalhou no lodo
“A ideia do off-road é colocar os carros para
e ficou com os diferenciais totalmente em
Eurobike magazine . 47
emoção
Acima, à esquerda: Wagner Rocha e Nilce; Rafael Bazzo e Aliane; Julio Biscegli e Roberto Manfrin do Sitio Cajú e Leonardo Cardoso, da Eurobike Land Rover
contato com a lama. Nada de desespero.
para ver o desfecho da história, que foi o
O piloto, José Eduardo Buzatto, tem vasta
melhor possível. O Defender foi retirado e
experiência — já participou inclusive do Rally
prosseguiu viagem rodando normalmente.
dos Sertões —, está acostumado com essas situações. “Meu carro é todo equipado
No jantar de confraternização, todos se es-
para passar por buracos, atravessar rios e
baldaram com a deliciosa comida caseira e
enfrentar situações como essa com total se-
com o chopp Colorado. A ocasião, com cli-
gurança”, afirma.
ma de festa, foi uma excelente oportunidade para todos se conhecerem e interagirem, es-
48 . Eurobike magazine
A operação de resgate se tornou um espe-
treitando os laços entre o grupo, criando um
táculo. Todos estavam ansiosos e na torcida
clima de muita amizade, alegria e diversão.
Mas o dia seguinte prometia e todos precisavam pular cedo da cama para o passeio. Nem é preciso dizer que todos desmaiaram logo após o jantar. No domingo bem cedo, mais uma vez, a fila de Land Rovers se formou para subir a serra. Em direção ao distrito Olhos D’Água, o comboio seguiu por um terreno ondulado até a encosta da serra. Lá iniciou a subida. Foram 30 quilômetros por um terreno pedregoso até uma altitude superior a mil metros, com paisagens deslumbrantes e cenários paradisíacos. Para alguns a dificuldade era maior, mas valeu cada momento da subida. Condomínio de Pedras, assim denominada a região de formação rochosa, chamou a atenção dos turistas por apresentar diversos tipos de piso: eram pedras soltas, travessia de riachos, estradão batido e terra branca. A Cachoeira do Luquinha, o destino final, tem um poço bem grande com uma praia de pedras igualmente grandes onde se pode descansar e apreciar a bela queda d’água. Após o banho de cachoeira, chegou a hora Eurobike magazine . 49
emoção
de deixar este paraíso natural. Uma breve
tiva dos clientes. “Fiquei muito feliz com ta-
parada na pousada e todos pegaram a es-
manha adesão ao evento e com o compan-
trada para retornar ao lar.
heirismo da turma, que se destacou quando muitos se mobilizaram para ajudar a retirar o
O intuito da Eurobike de reunir famílias foi
carro atolado. Isto nos aproxima dos clientes
alcançado com sucesso. Roberto Grassano
e permite mostrar a eles como realmente po-
saiu de Arapongas, interior do Paraná, para
demos usar um Land Rover.
participar do evento e revela que o fato de
Em sentido horário: Gessé, Flavia, Daniela e Alexandre Muniz; David Cordeiro, Filippe e Willian; Marcos Zangelmi e Marina; Andrea Biagi e Sérgio Miranda, organizador do evento
o concessionário ser o organizador dá se-
Produzido pela Blue Media, o 1º Eurobike
gurança para trazer a família. “Fomos muito
Adventure Trip foi patrocinado pela Coca-
bem recebidos e o sacrifício da viagem de
Cola, Nestlé Águas, Banco Alfa, Cervejaria
mais de quatrocentos quilômetros valeu a
Colorado e Sítio Caju. O próximo evento
pena quando nos deparamos com esse vi-
está previsto para junho. Fique ligado na
sual maravilhoso”, afirma. Já o casal de en-
agenda e não perca essa oportunidade
genheiros ambiental e integrantes da ONG
de participar com seu Land Rover de um
de Piracicaba Instituto Ambiente em Foco,
passeio off-road. Para mais informações,
Igor e Marcela Filippini, buscavam diversão.
acesse o portal www.eurobike.com.br. Se
“Já fizemos várias trilhas pelo mundo, mas
preferir, entre em contato com a Eurobike
esse lugar é incrível”.
pelo telefone (16) 3965-7000 ou com a organização pelos e-mails mirandalandover@
50 . Eurobike magazine
O gerente Passalacqua se mostra satisfeito
yahoo.com.br ou contato@bluemediagroup.
com o resultado do evento e a resposta posi-
com.br.
O Oyster Perpetual Yacht-Master II é a referência máxima escolhida por profissionais que navegam pelo mundo. É o primeiro relógio a apresentar uma contagem regressiva programável com memória mecânica. Indispensável para a largada de qualquer regata, ele pode ser rapidamente programado e se necessário é capaz de voltar ao ponto inicial para sincronizar a contagem regressiva com o tempo oficial da competição. Originalmente projetado para atender a demanda de velejadores profissionais, o Yacht-Master II é a nova geração de relógios para todos navegadores e apaixonados pelo esporte. Visite rolex.com e descubra mais.
y ach t-master ii
CAROL DA RIVA
52 . Eurobike magazine
prazer
Boa ĂŠ a vida Mas melhor ĂŠ o vinho Fernando Pessoa
Eurobike magazine . 53
prazer
Entre livros e vinhos Da saga de uma uva criada nos terraços seculares do rio Douro, até tornar-se a essência de um Porto Vintage, celebrada no cálice do livreiro mais festejado de Portugal. E de todos os prazeres deste caminho
POR EDUARDO PETTA | FOTOS CAROL DA RIVA
54 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 55
prazer
Hoje é o meu grande dia. Após vinte anos, finalmente, a libertação do corpo terrestre, ou melhor, líquido. O etéreo, o eterno, me aguarda. Hoje cumprirei a sina de minhas antepassadas. O senhor sentado na poltrona de couro que me fita e me balança pelo cálice, admirando-me e sentindo meus aromas pronunciados, chama-se Antero Braga. Ele mira a minha cor, observame a textura. Posso vê-lo sorrir ao inalar meu perfume em forma de vinho. Toda a minha vida passa pela memória neste instante. Volto ao útero da mãe-videira, quando ainda era uma pequena uva. Minha mãe-videira lança suas raízes a
Todo o autor do Porto sonha um dia
casa — onde outro sonho começa. É o
mais de dez metros de profundidade no
ter a sua obra exposta aqui. O sonho
sonho de todo autor acomodar nome,
solo. Traz das profundezas da terra o
dos músicos é estrelar na futurística
sobrenome e obra junto aos grandes
alimento e a água do meu viver.
Casa da Música. A dos artistas plásti-
nas prateleiras da livraria Lello. Juntar-
cos no Museu de Serralves, com suas
se a Camilo Castelo Branco, Eça de
Antero Braga continua sentado. Os ol-
linhas em perspectiva — uma obra-
Queiroz, Camilo Pessanha, Fernando
hos de sonhador. Possui setenta e pou-
prima projetada por Siza Vieria (o Oscar
Pessoa — e passar a eternidade en-
cos anos e é um amante dos li-vros.
Niemeyer português), com jardins ao
carando a escada escarlate em cara-
Livreiro há mais de 40. Hoje é um grande
estilo de Versailles. Jardins perfumados
col, duas janelas, uma porta e quanto
dia para ele também. Sua livraria, onde
de eucaliptos, cidreiras e de amendoei-
sonho.
estamos neste momento, de nome Lello
ras em flor. Perfumadas como eu a girar
e Irmãos, faz 140 anos de histórias no
líquida neste cálice.
coração do Porto.
Tenho sorte de ter vindo encerrar minha história aqui. A garrafa que me carregou
Mas o sonho de quem escreve é ou-
foi manuseada com carinho pelo senhor
Hoje foi um dia agitado na Lello. Pela
tro: um dia estar aqui, na rua das Car-
Antero Braga, assim como toda a obra
escada barroca em forma de caracol
melitas 144, dentro da branca fachada
que chega à Lello. Este senhor ama os
e piso escarlate passaram muitas pes-
neogótica de anjos pintados à porta,
livros. Menino miúdo, cresceu lendo
soas, levando para casa os clássicos,
bem diante da Torre dos Clérigos — o
quadrinhos. Adolescente, fez a travessia
os novos sucessos, livros de arte, livros
ponto mais alto da cidade, onde tudo
aos livros. E nunca mais os abandonou.
de bolso. Vi gente de todas as idades.
se vê com olhos de pássaro ao bada-
Fez carreira na Bertrand: foi o mais jo-
Muitos estrangeiros. Tinha crianças
lar dos sinos. Todos querem estar aqui
vem vendedor, o mais jovem gerente
descobrindo mundos mágicos e pla-
na Lello, onde estou agora pela última
da casa, o mais jovem diretor admin-
netas invisíveis, senhores a buscar a
vez, neste prédio inaugurado em 1906.
istrativo. Até que um dia, certamente
última poesia de Walt Withman, jovens
Eu sei, todos querem ter seu nome lido
celebrado com alguma de minhas irmãs
deglutindo Umberto Eco.
mentalmente por desconhecidos, ser
em forma de vinho — como hoje está
embrulhado em presente e levado para
sendo — entrou para
56. Eurobike magazine
Eurobike magazine . 57
prazer a sociedade da Lello, a sua grande paixão. “São 42 anos dedicados aos livros” o escutei dizer a um repórter brasileiro que o entrevistou à tardinha. “Eu penso como o seu compatriota, o Monteiro Lobato” ele disse ao repórter: “um país se faz de homens e de livros”. Antero Braga bate ponto de segunda a sábado das 10h às 20h na Lello. Paletó e gravata, sempre a sorrir, vê-lo manusear um livro é ver um artista a criar. Atende ao telefone, aos clientes, confere as estantes, não descansa. Só tem tempo para os livros a noite, na cama, onde estica uma pilha deles junto ao criado-mudo. Não adormece nunca sem ler. E lê de tudo: de Joyce aos quadrinhos de sua infância (Asterix e TinTin), “a leitura ideal para os dias em que o estado de espírito não anda lá tão bem”, vi ele assumir ao repórter tupiniquim. Mas hoje não é o caso. É um dia especial para nós. São 140 anos de história da Lello. Antero celebra a sua vida. E eu me despeço da minha. A girar... Mas tive que ter paciência. Foram vinte anos de espera. “Quais seus autores lusos preferidos, senhor Antero?” E mais uma tarde de perguntas do repórter que nunca acabava. “Poesia? Eugênio de Andrade, Herberto Elder, Fernando Pessoa e Sofia de Melo
pergunta até justa, mas por que tanta per-
O pior para um artista é a indiferença.” Deste
Breyner. Prosa? Antonio Lobo Antunes, José
gunta senhor repórter? Isso lá não acaba!
veneno nunca sofri. Não houve enólogo ou
Rodrigues dos Santos, Miguel Torga — e
— pensei. Mas o Antero teve boa vontade
provador que resistisse aos encantos do
coloca o Saramago, vai.” “Internacionais?”
e paciência com o homem. “Brasileiros!
meu tom rubi, do meu roxo-vivo, da minha
“Olha o livro que me inspirou a vida literária
Adoro! Dos clássicos, vou de Machado de
lágrima viscosa, ou do meu aromático per-
foi O fio da navalha, de Somerset Maugham.
Assis. Dos contemporâneos, Chico (ele nem
fume de frutas. Meus atributos eram muitos.
Amo 100 anos de solidão, de Gabriel Gar-
disse Chico Buarque), das letras e música.
E ainda o são neste momento derradeiro.
cia Marques. Gosto muito também da Isabel
Também gosto e conheço pessoalmente o
Vejo o brilho nos olhos de Antero ao erguer-
Allende, Marguerite Yourcenar e de uma au-
João Ubaldo Ribeiro. Sua A casa dos budas
me no cálice.
tora chinesa fabulosa, chamada Jung Chang,
ditosos (A Luxúria da série Pecados Capitais)
autora de Cisnes selvagens”.
chegou a ser censurada numa rede de su-
A livraria do Antero é mesmo especial. Estou
permercados daqui. Foi o de melhor que po-
feliz de transcender aqui. A atmosfera é de
dia acontecer.” Polêmica e sucesso? “Claro.
boa onda. Deve ser a egrégora de amor
“Brasileiros?” — quis saber o repórter —,
58 . Eurobike magazine
aos livros. Ou a sua posição estratégica,
ladeiras repletas de história. Um aconchego
Passei a minha vida toda a frente do Douro.
bem no centro, na espinha dorsal da cidade
junto aos livros depois de flanar pelas gale-
O Douro é o rio mais belo do mundo. Pois
invicta, aquela que não se curvou aos fran-
rias de arte da Bombarda, manjar uma
é o rio que corre em minha aldeia, na terra
ceses, nem fugiu de mansinho para o Bra-
francesinha (sanduíche típico do Porto, ins-
onde nasci.
sil, como a turba de Lisboa comandada por
pirado na tosta francesa, servido de vários
Dom João com seus franguinhos debaixo
tipos de carne de porco) na praça Carlos
Assim como o senhor Antero, tenho muita
da casaca e da princesa maluca Carlota
Alberto, comprar as frutas exóticas da Mer-
história pra contar.
Joaquina, em 1807. Ou talvez seja por estar
cearia do Oriente, antes de descer pela rua
pertinho da estação São Bento e de seus in-
das Flores e sair na Ribeira, às margens do
Já faz vinte anos que atravessei a Serra do
críveis portais e azulejos, onde os comboios
Douro, na margem oposta às caves de vinho
Marão a bordo de um barco Rabelo — era
continuam a partir e a chegar. Ou talvez seja
do Porto, em Gaia. Foi numa destas caves
assim que nos transportavam antigamente,
o ponto de respiro, a busca de bibliografia
que passei tantos anos da minha vida.
nestes barquinhos de madeira que você vê
e fotografias depois de andar pelas ruas e
levar os turistas até a foz nos dias de sol
Eurobike magazine . 59
prazer — e cheguei à minha cave de destino aqui na beira do Atlântico. Você não conhece a Serra do Marão? Pois devia. É ela quem divide o Alto Douro Vinhateiro dos rigores do clima atlântico, mais homogêneo e úmido — coisas boas para as caves, não para os vinhais. Tive sorte de crescer numa quinta do vale do Douro, ali onde as cidades, serras e vales se sucedem. Terra de Moncorvo, Maceda do Cavalheiro, Vila Nova de Foz Côa, São João da Pesqueira, Pinhão, Peso da Régua. Não me recordo ao certo aonde foi — já faz tanto tempo. Mas lembro bem de crescer num terraço esculpido a pá e aterrado por muros de rochas — empilhadas uma a uma artesanalmente. Cresci ali, com vista para as margens escarpadas e rochosas do Douro, onde se cultivam as videiras desde os tempos préromanos. Sei que é a zona demarcada mais antiga do mundo, desde 1756, pela régia do Marquês de Pombal — este você conhece? E não faz muitos anos, nesta era em que os homens devem “tombar” as belas paisagens para protegê-las, que a minha terra foi nomeada Patrimônio Cultural da Humanidade — deve ser chique isso. Eu sempre tive sorte na vida. Cresci nessa paisagem selvagem e montanhosa de beleza austera, à beirinha de desfiladeiros que desafiam a geometria e onde o homem vai buscar com as mãos, na bendita vindima de cada
Tinta Barroca; e a inconfundível Tinto Cão,
vores milenares produzir durante o inverno,
ano, a nós, a uva santa de todo o vi-nho: do
das mais antigas do Douro. Uvas secular-
enquanto os vinhais descansam.
vinho do Douro, do vinho do Porto.
mente adaptadas ao solo de xisto — uma rocha laminada que constitui a base dos
Vou ter saudades das oliveiras, a árvore do
Cresci junto com uma grande variedade de
melhores terrenos do Douro — e ao clima
“pai” do simbolismo cristão, do bálsamo, do
castas tradicionais, como a touriga nacional
árido, de invernos severos e verões tórridos
unguento de Cristo. Sempre tive lembranças
e a touriga francesa — a matéria-prima per-
e secos.
meio nebulosas delas misturadas a caste-
feita para os grandes vinhos com alta con-
los de pedra, igrejas barrocas, a gente do
centração e potência aromática. Eram min-
Quem sempre acompanhou a minha infância
campo. Lembro-me bem de todo janeiro e
has vizinhas: a Tinta Roriz, rica em tanino e
foram as oliveiras — nossas grandes irmãs
fevereiro, quando as azeitonas pontilhavam
aromas de cedro; a delicada e aromática
de terraço. Gostava muito de ver essas ár-
os olivais. Os pastores e camponeses
60 . Eurobike magazine
Nas margens escarpadas e rochosas do rio Douro cultivam-se oliveiras e videiras desde os tempos préromanos. Nessa paisagem selvagem e montanhosa, de beleza austera, à beira de desfiladeiros que desafiam a geometria, o homem vai buscar com as mãos, na bendita vindima de cada ano, a uva santa de todo o vinho do Porto. Prazer bebido em cálice, quem sabe ao sabor de memorável companhia, quem sabe na companhia de uma obra memorável como tantas que desfilam na centenária Livraria Lello
Eurobike magazine . 61
prazer
saindo ao labore com as suas famílias, para
um prato de bacalhau à Braz, das sardinhas
crer que o homem possa subir e descer por
apanhar o fruto ao pé. Azeitonas à grande
dos meses juninos, dos leitões assados na
tão íngremes escadas com pesados cachos
lona, às cestas tingidas de preto e, depois,
brasa mansa, das vitelas cozidas com batata
de boa cepa nas costas. E pensar que nos
azeitonas nos baldes, para curar e comer in
ao murro, dos polvos à lagareiro regados em
tempos de vovó eram cinquenta quilos no
natura. Ou para jogar no lagar comunitário e
muito azeite. Azeite! Azeite! Lembro sempre
lombo. Hoje: vinte no máximo.
confeccionar o azeite. Azeite para a família,
dos olivais quando penso em minha infância.
por vezes, um pouco mais, para os amigos,
Crescemos juntos das azeitonas. E dos ho-
Tenho saudades desses tempos. De ver
para a vendinha. “Sem azeite não se pode
mens do campo que estavam sempre a repe-
as vinhas no inverno cobertas de neve.
viver. Sem azeite e sem vinho um português
tir: “Sem azeite não se pode viver. Sem azeite
Assisti-las ganhar verde e vida na primavera,
não existe” escutava os homens a falar.
e sem vinho um português não existe.”
florescer e frutificar no verão e serem apa-
Eles usam o vinho pra tudo. E pra nada
As paisagens do Alto Douro Vinhateiro onde
parreiras avermelhavam, amarelavam e de-
também. Vi vinhos mais suaves harmoniza-
nasci, e me criei também, não existem. Não
pois caíam, deixando-as nuas.
dos com frutos secos, com doces e com as
existem em nenhum outro lugar do mundo.
sobremesas conventuais regadas a clara de
Imensos terraços, seguidos de escadas
Cada vindima era uma festa. A minha não
neve, como a baba de camelo e os pastéis
que subvertem a geometria. Linhas desen-
me sai da memória. Foi uma vindima muito
de nata. Vi vinhos pronunciados a acompan-
hadas nos morros, ligadas ao Atlântico pelo
comemorada. Os homens da quinta, fami-li-
har uma mesa de queijos e embutidos como
cordão umbilical do Douro. E deste oceano
ares e amigos, sorriam a nos pisar e a cantar
chouriço de porco preto, morcela e alheiras
separadas pela Serra do Marão. Paisagem
por duas horas seguidas.
de caça. Vi vinho tinto, verde, branco e ma-
de terraços de trabalho humano hercúleo,
duro em cima da mesa, a brilhar ao lado de
erguido a alturas inimagináveis, onde custa
nhadas no outono, quando as folhas das
62 . Eurobike magazine
Daquele dia segui caminho diferente de mi-
De lá já lhe contei. Viajei pelo Douro, cruzei a
guerrear com a França e ficar sem o seu fa-
nhas irmãs. Sabe como é, cada uma com o
Serra do Marão e fui morar numa cave. Mais
buloso Bordéus, os ingleses vieram bater na
seu destino. Fui selecionada para encorpar
uma vez tive sorte. Era a Cave da Taylors,
porta dos portugueses. Levaram o seu vinho
um vinho do Porto. E depois de dois invernos
de todas, a de mais bela vista do Douro e
frutado para vossa majestade, mas muito se
de maturação numa cuba de carvalho, um
do Porto, com a ponte de ferro projetada por
estragou na difícil travessia. Passaram en-
enólogo da Quinta disse que tinha potencial
Gustave Eiffel ao fundo. Os donos da Tay-
tão a adicionar aguardente para protegê-lo.
para ser celebrada como um Porto Vintage
lors são uns ingleses muito sabidos e detém
Depois aprimoraram o saber e perceberam
— coisa que acontece cerca de três vezes
a técnica há mais de 300 anos. É até uma
como o sabor se realçava. Nascia o vinho
em cada década — o que deixou os homens
história interessante essa do vinho do Porto,
generoso do Porto. O meu destino enquanto
muito contentes.
você sabia? Vem lá do século XVII. De tanto
uva.
Eurobike magazine . 63
prazer Mas a vida não foi fácil. Durante dez anos fiquei no tonel. Retirada, higienizada e reintroduzida a cada ano. Fui provada centenas de vezes. Ganhei corpo, caráter, até o dia em que meu provador disse algumas palavras como: “sabor sublime e opulento”. Fui engarrafada. Ganhei um rótulo, e o status de safra especial: Porto Vintage, 20 anos. Vesti de paletó de vidro a minha alma e fui dada de presente ao senhor Antero, que me guardou para um momento tão especial. Hoje, meu dia chegou. Liberta da rolha de cortiça, flutuo pelo cálice enquanto toda a minha vida passeia pela memória. Antero está sentado no sofá de couro da Lello escutando música e relaxando, como faz todos os dias após fechar as portas ao povo. É o momento do seu prazer. Ele, a boa música e todos os grandes nomes da literatura como companhia. Hoje também é um dia especial para ele. Sua vida inteira também passa em flashback. Por isso me trouxe com ele. Antero toca-me com os lábios. É quase um beijo sagrado. Ele volta a respirar meu buquê pronunciado. Uma respiração curta, outra longa. A sedução chegou ao clímax. Antero não pode mais esperar. Fecha os olhos e deita os lábios no cálice a me sorver. Um último ato, um último gole em meu corpo de vinho e me juntarei a tantos daqueles nomes escritos nos livros. Chegou o meu grande dia. Virarei memória. Lembrarei de minha vida enquanto uva. Ele, talvez de mim, enquanto vinho. E a memória de um bom vinho é como a de um bom livro. Quanto melhor, maior, eterna, enquanto dure o homem da memória, ou a memória do homem. Ainda me lembro de escutar um último estalo de prazer. Mas não houve tempo para um último desejo.
64 . Eurobike magazine
foto ilus tr a tiva
Eurobike magazine . 51
CAROL RIBEIRO 66 . Eurobike magazine
devaneio
transversal do tempo o passado se revela de olho no futuro
Eurobike magazine . 67
devaneio
68 . Eurobike magazine
Refazenda História, pioneirismo e tradição reescrevendo a antiga fronteira agrícola de São Paulo
POR CAROL RIBEIRO E GUTO CARVALHO
Antigo lago
com moderação. Silêncio e tranquilidade. Os vidros fechados para ruídos externos.
Pista dupla, estrada bem traçada, caminhos
Falamos baixo. O ar condicionado mantém
abertos. Pelo retrovisor nossa casa, os filhos,
a temperatura agradável e o sol de verão,
os compromissos. À frente, o destino insólito
suavizado pelo teto solar, ilumina. Seguimos.
de revisitar a fronteira agrícola de São Paulo no século XIX. Passear por antigas fazendas
Castelo Branco, Raposo, Itapetininga. Uma
e genealogias. Descrever um arco de sul a
serra ao longe. Ali, onde Paranapiacaba,
norte, do Paranapanema ao Rio Grande.
Paranapanema começa. Trava-línguas, pista
Partimos.
simples, estrada velha, Raposo ainda. Seguir até a placa que indica: Campina do Monte
Destino traçado, caminhos arcaicos. Rumo
Belo, zona antiga, falta pouco. Imponentes
sudoeste, São Paulo se espalha em pistas
eucaliptos na entrada, uma guarita ao lado:
bem asfaltadas. Entre pedágios e radares,
Casa do Lago. Chegamos.
o poderoso motor desenvolve seus cavalos
Eurobike magazine . 69
devaneio O sol poente transborda do lago, algumas poucas nuvens coloridas de mudança climática. Estamos na Casa do Lago. Uma casa ao lado do lago. Uma mulher à frente da casa. É Diva quem nos recebe com um largo e familiar sorriso. De cara percebemos que não é uma casa qualquer num lago qualquer. Espaço de charme e requinte. Lugar de lendas, mitos e sabores aperfeiçoados pelo tempo. Nossa anfitriã, dona de um carisma inspirador, nos deixa logo à vontade; a sala ampla, decorada com especial bom gosto, é bastante acolhedora. Diva Nassar apresenta sua casa, o lago, os detalhes delicados e discretos que compõem a magia do lugar. Pede três caipirinhas, uma receita especial. Até a mesa tem história própria. Um brinde! A brisa que sopra do lago se mistura com o frescor das pedras de gelo e do limão — folhas verdes secretas —; algo mais, tento adivinhar o que é. Um pedaço de parmesão sobre a mesa e a conversa voa. Aceito uma segunda dose. Reconheço o toque do manjericão. Pouco açúcar. Perfeita. Na casa perfumada os ruídos da noite se acomodam, estamos no mato. do cresce segundo Fibonacci. Nem todo Rimos. Lembramos. Celebramos
passarinho está nos livros. A noite foi longa e o céu estrelado. Pleiades... Onde cai o raio
O bom “papo” se transfere
para a sala
nasce uma pedra... No quarto arrumado, um
de jantar. De entrada, um caldo verde
chá de cidreira. Detalhes de renda. A cama
de bacalhau, inventado pela Diva, divino!
convida. Dormimos e sonhamos.
O serviço impecável revela atenção a cada detalhe, o resultado surpreende. Bons
Acordamos com os passarinhos, a tempo
vinhos, boa companhia. Jantamos.
de fotografar o movimento das sombras na paisagem. O dia amanhece. Aos poucos as
Diva é a filha mais nova de imigrantes
imagens no lago vão ficando mais nítidas.
libaneses. Observa a natureza com olhar
Reconhecemos o território. Refletimos.
de quem viveu a metrópole, Diva é exurbana. Aqui, inteligência urbana encontra
Tomamos o café da manhã típico da fazenda,
a sabedoria rural. A casa de marimbon-
recheado de delícias preparadas ali mesmo.
70 . Eurobike magazine
Casa do Lago, do amanhecer ao entardecer, hospitalidade e bom gosto nas mãos de Diva Nassar
Pão de queijo crocante e um destaque para o caccio cavalo. Logo depois caminhamos nas trilhas da mata e visitamos uma paineira multicentenária. A árvore é cercada de lendas, dizem que o Brigadeiro Tobias ali enterrou um burro carregado de ouro, mas a gente prometeu não dizer nada sobre esse assunto. A paineira agradece. A região toda é cheia de historias, fez parte da antiga fazenda Cruzeiro do Sul, reduto integralista nos anos 1930, lugar de veraneio da lendária família Krupp. Mas isso não nos impressiona tanto quanto o carinho com que Diva recebe os visitantes, legado da cultura árabe. Voltaremos. Eurobike magazine . 71
devaneio
72 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 73
devaneio
piso úmido ao sub-bosque, até o dossel. De alto a baixo, do solo ao topo. E um veado grande atravessa nosso caminho. Paramos de respirar por um segundo. E prosseguimos
A floresta histórica
em silêncio.
Deixamos pra trás o Vale do Paranapanema, pistas duplicadas, pedágios, rumo ao Tietê,
Perobas-rosa crescem altaneiras, árvores
destino Anhembi. De repente nem parece
raras. Musgos e líquens se espalham
São Paulo. Seguimos pela estreita estrada de
lentamente em suas cascas. Obras-de-arte.
terra que avança mata adentro. Quilômetros
Muriquis, bugios, sauás, pregos, sauins.
no meio da floresta. No alto da colina, as palmeiras imperiais indicam que a sede está por perto. As fazendas do século XX já tinham as casas erguidas no alto, estratégia para manter a terra ao controle dos olhos. Até onde a vista alcança há invernadas, mandioca, mata e cana. No vale, rio Tietê e Piracicaba se encontram em represa, a serra de Torrinha desenha o horizonte. Fazenda Bacury, com sua sede avarandada, seus gramados e jardins ainda seguem o paisagismo desenhado por Dierberger, nos tempos da construção. Na entrada, cinco palmeiras plantadas pelo próprio Burle Marx, daquelas que morrem depois da florada. No lado esquerdo a capela, no direito a pisicina, ao fundo a antiga casa do administrador é hoje a pousada. Tudo em ordem e bem cuidado. Fruto de uma beleza estudada. Casa grande. Esculturas. Durante o jantar, Carlos Leôncio, neto do fundador da fazenda, nos conta sobre o lendário Rei do Café, de quem herdou o nome e parte das terras. Chegou a ter seis milhões de pés plantados. Visionário, vendeu a fazenda aos ingleses poucos anos antes da derrocada da bolsa de 1929. As histórias são muitas, de um tempo de pioneiros. Boa comida, boa prosa e boa noite. Pela manhã visitamos a floresta. O sol abrasador aquieta, enquanto a estreita trilha adentra a mata de maneira tímida e respeitosa, por algum motivo nos sentimos abrigados e protegidos. A pele respira. Do 74. Eurobike magazine
Fazenda Bacury: conjunto arquitetônico e paisagístico se espalha por um gramado bem cuidado Macacos de todo jeito, duzentas espécies de aves. Porco do mato e queixadas, onças com certeza. A última anta, Carlos nos conta, desapareceu ainda nos anos 1970. Apesar de enorme, a floresta acusa o golpe. Tempos modernos. Após o saboroso almoço, quase em família, nos despedimos, subimos a serra deixando para trás o Tietê. Enquanto completo o tanque, de novo no asfalto, entendo melhor o que se diz do aquecimento global. Sem floresta resta somente o sol inclemente. Combustíveis fósseis. O motor eletrônico a diesel bem regulado. Silêncio. Lembranças da trilha coberta, onde a vida respira aliviada. Lembranças de um passado a reconstruir, fragmentos florestais. Eurobike magazine . 75
devaneio
Turismo do café com leite
à tradição dos tropeiros que nestas terras amarraram suas mulas para o descanso
Mococa, esse pedacinho de Minas que é
merecido. Tempos das minas de Goiás.
São Paulo, foi parte da Fazenda Nova um dia. Marina nos recebe com sorriso generoso, já
Laura fala de ouro enquanto alguns se
no início da noite. Nova? Pergunto ao me
aventuravam nas lavras e garimpos, outros,
deparar com o casarão. Fazenda Nova, de
mais prudentes, investiam no abastecimento,
1864. Depois soubemos que ela, a mãe e
logística e na infraestrutura. Assim era Diogo
a irmã, Laura, assumiram a propriedade há
Garcia da Cruz, açoriano que nos idos
bastante tempo. Herança da avó, da bisavó,
de 1700 desembarcou no Brasil, para se
do trisavô. Dez gerações e um punhado
estabelecer em Porto Alegre. Quando o navio
de terra. Primos aos milhares. Mulheres
encalhou próximo a Paraty, não teve dúvida,
ímpares.
embrenhou-se nas Minas Geraes. Destino.
Chegaram cheias de energia e novas ideias.
Estamos em Mococa. Jantar delicioso
Primeiro a escola de equitação. Inventaram
servido no fogão a lenha, conversa pra mais
então roteiros de cavalgadas que remontam
de metro. Cheiro de café dourado. Cheiro
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da fazenda da avó. Viagem que se estende na noite em lençóis brancos. Outro dia amanhece. Os dias na fazenda começam mais cedo. O dos fotógrafos também. Uns tiram fotos, outros tiram leite. O sino toca o café da manhã, a luz é divina, últimos cliques. Depois, dividir o bolo de pão de queijo dos deuses, receita de família. Amém! O papo continua durante a cavalgada, que prevê três dias pelas fazendas do ciclo do café. Dessa vez optamos por enfrentar a trilha montanhosa com cavalos a mais e dias a menos. Seguimos com o Range Rover. Suspensão elevada, tudo eletrônico. Cada trilha tem sua trilha, paisagem sonora. Assim, descobrimos um mundo à parte, encravado Fazenda Nova: cavalgadas, aventura, história, de uma geração a outra móveis, modas e modos do passado
nas encostas suaves da Mantiqueira. Terra de café especial, terra de gente especial. Terra fértil.
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devaneio
João Louco e Bobolink
Hoje o gado capina o mato e aduba a terra. O café, saudável, continua a produzir. As
João Neto, proprietário da Fazenda Santo
vacas roçadeiras aprenderam a berrar na
Antônio, foi um grande produtor convencional
hora de trocar o pasto. Tempos de mudança.
até se desiludir com o mundo “biocida”.
Intuitivo, João observa a natureza e aprende
Um belo dia largou o café, literalmente.
com ela. Tecnaturalista, converte inteligência
Abriu a porteira e soltou o gado no meio da
natural em tecnologia rural. É um mestre à
plantação, passando por cima de quatro
moda mineira.
gerações de cultivo e tradição. Virou João Louco na mesma hora. Deixou o tempo
João pode ser louco, mas não é bobo; testou
passar e viu a mata crescer junto com o café,
seu café com floresta e hoje exporta para o
como é na Étiópia.
Japão. Pureza, sabor e origem garantem
Fazenda Santo Antônio: uma vida e uma varanda voltadas para a natureza
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um valor meia dúzia de vezes maior que o padrão. Café doçura, sombreado certificado
Fazenda Fortaleza: produção de café orgânico e destino no roteiro de cavalgadas
pela mãe natureza. Tomamos o café mais doce que existe, sem açúcar, torrado no ponto, expresso e quente como o sol do meio-dia. Energia pura. Cafeína. Goiabada cascão com queijo, minha sobremesa favorita. Complementos. As plantas são amigas uma das outras, algumas não se dão tão bem assim. Eurobike magazine . 79
devaneio
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Contrastes. Não é o nosso caso. Na mesa da
Histórias de sucesso e de sucessão, famílias
Infinitas paisagens em um mesmo estado,
cozinha, enquanto o entardecer se alonga,
e fazendas tradicionais que inovam e recriam
São Paulo é exemplo de fartura. Mobilidade,
com torradas de pau-d’alho, comungamos.
a paisagem produtiva.
rapidez, segurança, malha viária. Os trens
A natureza é simples assim.
já não passam como no passado. E a É hora de ir embora, meio atordoados com
paisagem é fruto da história; a história, fruto
Boas ideias em solo fértil. Bobolink é nome de
tanta informação, intimamente transformados
da influência das famílias que transformam a
uma ave migratória americana, que mora em
pelas ideias colhidas no pé. Ideias são
paisagem, tempos modernos. Num piscar de
Chicago e passa o inverno no Brasil. Assim
sementes que a natureza espalha cada
olhos estamos em Itapira, de novo no morro,
como a ave, Marcos Croce e Silvia Barretto,
uma a seu modo, ideias de vento, ideias
divisa com Minas, mais próximo da capital.
os proprietários da Fazenda Ambiental
de peso... Cada uma viaja do seu jeito, as
Fortaleza, vivem lá e aqui. Inspirados por João
nossas, agora, viajam velozes, com conforto
Sábio, produzem e exportam café orgânico.
e segurança.
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devaneio
Águas Claras
colonial; a fresca da tarde é antecipada pela construção sábia e adequada. Bem
Entre os vales encontramos as águas claras
acomodados, temos tempo para uma ducha
da antiga fazenda de café, hoje integrada
rápida antes do almoço. Águas fartas.
a um confortável hotel de charme. Bem assim mesmo, fazenda com ares de hotel,
Ao lado do quiosque bem montado, a pis-
hotel com ares de fazenda. Bons ventos nos
cina convida para um mergulho. Tudo de
acompanham. O verde intenso, alimentado
bom. Antigas margaridas contornam a
pela chuva, brilha ao sol do meio-dia. No
escada de pedra que leva ao chalé. Rede na
céu de um azul infinito imaculadas nuvens
varanda, papo de caboclo que fica de papo
brancas deslizam suavemente.
pro ar, sem internet. Celular nem pensar, nem pensamento. Encerramos a sesta.
O carro segue tranquilo pela estradinha de terra, ao lado do cafezal, orgânico ou
Mais tarde visitamos o terreirão de café,
convencional... Uma casinha branca da
onde o maquinário aguarda a safra que vai
colônia, crianças, gansos, cavalos... Olhares
de maio a agosto. Aqui, o charme encontra o
curiosos. As águas calmas da represa
trabalho, a lida convive com o ócio criativo.
refletem um estado de espírito. Hora de
A agricultura é um bom negócio. Preservar a
relaxar.
natureza também.
Na hospedaria, o piso de madeira corrida
No fim da tarde, uma caminhada até o topo
espelha o sol que esgueira pela janela
do morro, para as despedidas, paisagens
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cafeeiras pelo caminho, montanhas, vales, pôr do sol. Definitivo. Uma chuva corta o horizonte, a nuvem grande passa longe. Escurece. Terminamos nossa viagem voltando ao ponto de partida, matutando. A história, o tempo, a natureza — a vida também tem seu ciclo — já não somos mais os mesmos. Por estradas de pistas duplas, onde pensamentos vão e vêm, tradições se reinventam. Fazemos planos para o futuro.
Fazenda Águas Claras: a sede bem cuidada e a antiga colônia refletidas nas águas abundantes
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devaneio
Tel./Fax.: (19) 3892-3475 / (19) 3942-7249 Reservas: (11) 5044-3301 www.fazendaambiental.com.br aguasclaras@fazendaambiental.com.br Acomodações 8 apartamentos com móveis de época e azulejos pintado à mão. CC: Cartões Personnalité e Visa Associação Fazendas Históricas Paulistas
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